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Disciplina: Perícia Forense - Genética Forense Aula 10: Estudos de casos Apresentação Nesta última aula, apresentaremos uma série de casos reais, ocorridos mundialmente ou no Brasil, que foram elucidados ou confirmados com a utilização de ferramentas da genética forense, a fim de que se compreenda com mais clareza as aplicações dessa área da ciência forense. Ainda serão simulados casos novos para que as diferentes abordagens apresentadas durante a disciplina possam ser aplicadas ou testadas em cenários distintos. Objetivos Analisar estudos de casos ocorridos na área forense; Descrever situações reais com base nas técnicas de genética forense; Construir situações ou cenários em que as técnicas de genética forense possam ser aplicadas. A partir de agora apresentaremos alguns estudos de caso criminalísticos resolvidos ou complementados com base em ferramentas de genética forense. Primeiro Estudo de Caso Começaremos com o primeiro caso mundial em que foi possível inocentar um suspeito utilizando ferramentas de análise de DNA. No ano de 1986, em Leicestershire, na Inglaterra, nas proximidades do hospital psiquiátrico Carlton Hayes, uma menina de 15 anos de idade foi estuprada e morta, após ter permanecido desaparecida. A análise forense de amostra de sêmen mostrou que era um tipo encontrado em apenas 10% dos homens, e que pertencia a alguém com sangue tipo A. Até então não se tinha nenhum suspeito. Contudo, alguns meses depois, em Enderby, um abuso sexual semelhante relevou amostras de sêmen do mesmo tipo sanguíneo que aquele de Leicestershire. Foi assim que Richard Buckland, 17 anos, funcionário do Carlton Hayes e que já era suspeito por estar perto da cena do crime em Enderby, confessou o assassinato, mas não aquele de Leicestershire. Porém, o teste de DNA mostrou que ambas as garotas tinham sido abusadas e mortas pelo mesmo homem e que não era Richard Buckland! Foi o primeiro caso no qual uma pessoa foi inocentada com a utilização das técnicas da genética forense. A partir dessa situação e a fim de que o autor dos crimes fosse descoberto, a polícia e os cientistas forenses passaram a coletar amostras de sangue e saliva de 4000 homens entre 17 e 34 anos de idade, residentes dos arredores de Leicestershire e Enderby. Nada foi descoberto, até que, em 1987, uma mulher ouviu um colega, Ian Kelly, dizer que doou amostras se passando por um amigo, Colin Pitchfork, que alegara que já tinha concedido uma amostra a um amigo que estava sendo acusado de outro crime. A polícia, então, prendeu Pitchfork e, ao coletar uma amostra com DNA, provou que o material genético encontrado nas cenas dos crimes era dele. Em 1988, Colin Pitchfork foi condenado a um mínimo de 30 anos de prisão. Saiba mais DNA fingerprint Na década de 1980, basicamente a única técnica disponível para elucidar esse tipo de investigação era o DNA fingerprint. Dessa maneira, o caso mostrado acima foi solucionado comparando o perfil de bandas do material genético encontrado na cena do crime e com o de homens que foram considerados suspeitos. A imagem a seguir apresenta uma imagem de DNA fingerprint hipotética que simula o que deve ter sido encontrado pelos peritos, após análise de DNA, naquela ocasião. Legenda: Código de barras do DNA encontrado na cena do crime e nos possíveis suspeitos. A análise se dá pela comparação da concordância entre as bandas (cada tracinho preto), considerando a altura e a intensidade da banda. 1- Perfil encontrado na cena do crime ocorrido no Carlton Hayes; 2- Perfil encontrado na cena do crime em Enderby; 3- Perfil do suspeito Richard Buckland, que foi inocentado; 4- Perfil do suspeito Colin Pitchfork, que foi condenado pelos crimes. Segundo Estudo de Caso Este estudo de caso, relatado por Chassot et al. (2008), ocorreu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Um homem de 43 anos foi encontrado morto em sua residência, vítima de homicídio. Houve a apreensão e encaminhamento de uma camisa com manchas de sangue encontrada na residência do suspeito. Por meio da análise de DNA foi realizada comparação do sangue encontrado na camisa com amostra de sangue do irmão da vítima, único familiar, que estava evitando a exumação. O grupo de pesquisa que analisou o caso apresentou a seguinte resolução: Inicialmente, como é de rotina do referido laboratório, foram utilizados marcadores autossômicos. Porém, tratando-se de caso de irmandade entre homens, amplificaram-se regiões microssatélites do cromossomo Y, com o uso de um kit comercial específico. O resultado apontou um baixo índice de irmandade e perfis haplotípicos divergentes entre o irmão da vítima e as manchas de sangue da camisa, indicando a possibilidade de exclusão. Nesse caso, os amplicon gerados do processo de amplificação por PCR foram analisados no sequenciador automático ABI com auxílio de softwares específicos. Porém, na rotina criminalística os casos de exclusão devem ser rotineiramente repetidos, visando à confirmação dos resultados. Dessa forma, também foram analisadas as regiões hipervariáveis 1 e 2 (HVI e HVII) do DNA mitocondrial, apresentando perfis idênticos, incluindo assim o suspeito na cena do crime. No caso em questão destaca-se, portanto, a importância dos marcadores uniparentais na resolução de casos em genética forense. Atividade 1. Proponha um método para analisar este caso ocorrido em Lisboa- Portugal utilizando técnicas da genética forense. “A experiência de Mário Ferreira como agente da Polícia Judiciária portuguesa não foi suficiente para enganar o judiciário português. O homem acabou preso seis meses depois de assassinar o cunhado à pancada com uma chave de fenda, e colocar o cadáver em um carro, que despencou na serra de Montejunto, para simular acidente. Os investigadores da seção de homicídios da Polícia Judiciária de Lisboa encontraram sangue com DNA da vítima na ferramenta utilizada na cena do crime, que estava na casa do suspeito. Além disso, apanharam o homicida em conversas ao telefone e na internet.” Terceiro Estudo de Caso Este é um caso hipotético onde o suposto pai afirma que a criança não é a sua filha, porém a mãe tem certeza de que essa relação de parentesco existe. Por isso, solicita um teste de DNA para confirmar que a informação do suposto pai não é verdadeira. Neste caso, é necessário realizar uma análise de DNA, em que são coletadas amostras da mãe (mother), da criança (child) e do suposto pai (father) para que seja feita uma análise de parentesco. Para isso, pode-se usar diferentes marcadores, especialmente aqueles do tipo microssatélites. Nos casos de confirmação de vínculo familiar, é fundamental analisar diferentes regiões gênicas, para avaliar as diferenças alélicas presentes nas mesmas. Quanto maior o número de regiões analisadas, maior será a confiabilidade, em termos probabilísticos, da obtenção de um resultado verdadeiro. Na imagem a seguir, é apresentado o resultado da amplificação de três regiões gênicas, após realização de eletroforese capilar para confirmação dos alelos presentes em cada um dos envolvidos no caso (criança, mãe e suposto pai). Legenda: Resultado obtido do eletroferograma para amplificação dos alelos 6, 7 e 9. Observando os alelos da criança (child), o eletroferograma mostra que ela apresenta o alelo 6, herdado da mãe (mother) e o alelo 7, provavelmente herdado do suposto pai (father), já que ele apresenta esse alelo. Na prática forense, para que essa análise pudesse ser conclusiva seria necessário analisar outras regiões gênicas. Quarto Estudo de Caso Trata-se agora da análise de um caso de investigação de paternidade pelo DNA mais complexa pois o suposto pai já é falecido. Neste caso, veremos que uma das alternativas para obtenção do material genético do suposto pai envolve a exumação do cadáver. O fêmur do possível pai, falecido há 12 anos, foi recebido para análise pela metodologia de STRs, além de amostras da possível filha e de sua mãe. Foram investigados onze lócus diferentes de STRs, sendo eles: D1S1656;D7S1517; D20S156; D3S1545; D12S391; THO1; FES; FOLP; vWA31; CD4; e Amelogenina (para confirmação do sexo dos indivíduos). A tabela a seguir apresenta os resultados encontrados para todos os lócus analisados, bem como o valor do índice de parentesco: Participantes Mãe Filha Ossos dopossível pai Locos Alelos Alelos Alelos Índice de paternidade D1S1656 6 5 e 6 5 e 6 4,89 D7S1517 5 5 5 e 10 4,55 D20S156 3 e 6 3 e 5 5 e 12 2,28 D3S1545 5 5 e 5 5 e 6 1,40 D12S391 19 e 21 17 e 21 17 e 19 2,26 THO1 8 17 e 10 10 3,27 FES 11 e 12 12 e 13 10 e 13 14,98 FOLP 2 e 4 4 2 e 4 1,98 Vwa31 14 e 17 14 e 15 15 e 17 1,81 CD4 9 4 e 9 4 e 5 1,25 Amelogenina XX XX XY Índice cumulativo de paternidade 35.221 Legenda: Resultado para cada um dos lócus de STRs estudados nessa análise. Os alelos identificados na cor vermelha são aqueles presentes na mãe e compartilhados com a filha. Já aqueles alelos identificados na cor azul são do suposto pai e compartilhados com a filha. Consideramos que a probabilidade do suposto pai ter um vínculo de paternidade com a filha é trinta e cinco mil e duzentos e vinte e um maior (35.221) do que se considerarmos que aquela amostra seja oriunda de uma outra pessoa qualquer da população. (Fonte: Ebah <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuk0AG/genetica-forense> ) Observe que a filha apresenta alelos de DNA de origem materna (M), sendo que os demais são, obrigatoriamente, de origem paterna (P). O possível pai apresentou esses últimos alelos em todos os estudos realizados, não existindo nenhum alelo de exclusão. http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuk0AG/genetica-forense O estudo com a amelogenina demonstrou que o osso exumado era de origem masculina. A probabilidade de acerto neste caso é de 99,998%. Quinto Estudo de Caso O caso a seguir foi apresentado por Ciro et al. no VIII Encontro Latino- Americano de Pós-Graduação, realizado na Universidade do Vale do Paraíba. O caso ocorreu no Município de Macapá, no Amapá, onde foi realizado exame de DNA nos restos mortais (ossos e dentes) de um cadáver encontrado vítima de esquartejamento. Em 2006, no Laboratório Forense da Polícia Técnico-Científica do Estado do Amapá (POLITEC-AP), atendendo à solicitação de autoridade policial, foram coletadas amostras de sangue periférico por meio de punção venosa da OOS (suposta mãe) e de JBS (menor, suposto filho), com o intuito de se realizar exame de vínculo genético por meio do confronto dessas amostras com aquelas obtidas a partir de restos mortais (ossos e dentes) encontrados no município de Macapá. Os peritos criminais de posse das amostras de referência e da amostra questionada dirigiram-se até o Laboratório de Genética Forense do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal conduzindo: Amostra referência de OOS (suposta mãe) Amostra referência de JBS (suposto filho) Amostra codificada, dente 75 AQD, questionada Para resolver esse caso também foram utilizados marcadores genéticos: loci D8S1179, D21S11, D7S820, CSF1PO, D3S1358, TH01, D13S317, D16S539, vWA, TPOX, D18S51, FGA, D5S818, Penta D, Penta E e Amelogenina (PowerPlex16 Promega). Estes foram coamplificados pelo método da PCR e então submetidos à eletroforese capilar em analisador genético ABI. Atividade 2. Baseado nos resultados apesentados abaixo, obtidos do estudo de caso 5, qual seria a conclusão da análise de vínculo genético? Sendo: • 75AQD (amostra questionada); • 75OOS (suposta mãe); • 75JBS (suposto filho). Fonte das tabelas: (CIRO et al.) Resumo apresentando no VIII Encontro Latino-Americano de Pós-Graduação - Universidade do Vale do Paraíba. Sexto Estudo de Caso Nosso último estudo de caso trata de uma investigação de estupro, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Uma menina de 8 anos foi morta e estuprada. Depois de uma grande investigação, dois suspeitos foram presos e confessaram serem os autores do crime. Porém, existiam dúvidas, entre os dois, de quem teria sido o autor do estupro. Para solucionar isso, foram coletadas amostras da secreção vaginal da vítima e também um pouco de saliva, bem como sangue dos dois suspeitos. Neste caso, precisamos recordar que se trata de uma análise de mistura, pois na secreção vaginal da vítima existem tanto células masculinas quanto femininas. Legenda: Resultado obtido no eletroferograma. Cada pico representa a presença de um alelo. Picos semelhantes em amostras de origens distintas indicam a mesma origem daquele alelo e reforçam a associação entre as amostras. Nesse caso temos: vítima, porção feminina, porção masculina, suspeito 1 e suspeito 2, ladder (marcador padrão). Os gráficos acima mostram os resultados do eletroferograma dessa análise, onde há: O perfil da vítima (obtida da saliva) O perfil dos suspeitos 1 e 2 (obtido do sangue) O perfil da mistura com parte masculina e feminina (obtido da secreção vaginal) O resultado da análise indica que o suspeito 1 apresentava-se com o perfil molecular existente na porção masculina do DNA vaginal, já o suspeito 2 foi excluído do estupro. Atividade 3. No famoso caso de estupro de uma menina na cidade de Leicestershire, na Inglaterra, em 1986, o autor do crime foi confirmado pelas análises de genética forense. Qual foi a técnica utilizada para desvendar esse caso? a) DNA fingerprint b) PCR em tempo real c) Sequenciamento de DNA d) Análise de DNA mitocondrial 4. Com base nos padrões de fragmentos de DNA representados abaixo, qual dos casais pode ser considerado pais biológicos do bebê? a) Casal 1 b) Casal 2 c) Casal 3 d) Casal 4 Referências GARRIDO, R. G. & RODRIGUES, E. L Ciência forense: da cena do crime ao laboratório de DNA. 1. ed. Projeto Cultural, 2014. Explore mais Acesse esta página <https://forensicoutreach.com/library/5-real-life-cases- where-dna-profiling-changed-everything/> e veja cinco casos reais resolvidos com auxílio da genética forense. https://forensicoutreach.com/library/5-real-life-cases-where-dna-profiling-changed-everything/
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