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Direito Eleitoral Luísa Martins – 7º período - UFMA O Direito Eleitoral O direito eleitoral constitui-se como um ramo do direito público, que se classifica enquanto ramo da Justiça Federal, no tocante à sua organização. Dessa forma, a competência exclusiva para legislar sobre direito eleitoral é da União, é esta quem organiza o ramo da justiça eleitoral, não sendo possível a delegação de tal competência para os Estados e Municípios. Constitui-se como um dos ramos jurídicos que mais possuem jurisprudências (consuetudinário), acerca de suas aplicações, por isso, é o que mais se aproxima da tradição jurídica do Common Law. No entanto, devido a essa característica, que se alia à característica de temporariedade de permanência dos juízes, o ramo do direito eleitoral acaba por se definir como mutável. Dessa forma, por não possuírem mandato fixo, os juízes acabam por alternar-se dentro do poder da justiça eleitoral, o que faz com que as jurisprudências acabem sendo renovadas com o passar máximo de 2 anos. Fontes do Direito Eleitoral As fontes primordiais do Direito eleitoral constituem-se como a Constituição Federal e o Código Eleitoral. Ademais, por não possuir uma consolidação de suas normas em uma única legislação, o Direito Eleitoral possui ainda como fontes normativas as demais legislações infraconstitucionais que versam sobre a matéria. O código eleitoral formalmente se define como uma lei ordinária, no entanto, a CF, ao falar sobre a organização e competência da Justiça Eleitoral, estabeleceu que essa matéria seria reservada ao âmbito de Lei Complementar. Dessa forma, o Código Eleitoral, que fora construído em momento anterior à CF de 88, também traz, por sua vez, matérias de competência e organização relativas à justiça eleitoral. Dessa forma, o citado Código fora apenas parcialmente recepcionado pela CF vigente, em que parte de sua estrutura se define como Lei Ordinária, no que diz respeito à forma, e também como Lei complementar, no tocante à sua materialidade. Isso significa que uma parcela do Código Eleitoral somente poderá ser alterada através de Lei complementar, mesmo que a outra parcela seja lei ordinária. A parte que se constitui como lei complementar, é aquela que trata acerca da organização e competências da Justiça Eleitoral. Essa matéria, conforme a CF de 88, será reservada à Lei complementar. Assim, para que ocorra qualquer alteração no Código Eleitoral, é necessário que o legislador inicialmente verifique a matéria relativa à modificação. O que é o Direito Eleitoral? O direito eleitoral é o ramo jurídico que estuda e regulamenta as eleições estaduais, municipais e gerais, ou seja, eleições para Presidente da República e Vice-presidente, Governadores e vice-governadores, prefeitos e vice-prefeitos, senadores da república, deputados distritais, federal e estaduais e vereadores. OBS! Ao se tratar de eleições internas – ou construção de Estatutos – relativas a partidos políticos deve-se deixar claro que tal matéria não pertence ao ramo de regulamentação da Justiça Eleitoral, tampouco corresponde à matéria de afetação do Direito Eleitoral. Assim, não será competência da Justiça Eleitoral processar e julgar causas que não sejam relacionadas diretamente às eleições, ainda que envolvam partidos políticos. Dessa forma, a exemplo de tal afirmação, as causas que se Direito Eleitoral Luísa Martins – 7º período - UFMA relacionam à filiação em partido político ou destituição de agentes políticos devem ser direcionadas à Justiça Comum Estadual, e não à Justiça Eleitoral. OBS! As matérias acima citadas também não serão de competência da Justiça Federal, haja vista que os partidos políticos são caracterizados enquanto pessoas jurídicas de direito privado. A única exceção a esta afirmação, encontra-se nas causas relativas às prestações de contas referentes aos partidos políticos, que constituem como de competência da justiça federal. O processo eleitoral, que se constitui como matéria de afetação da regulamentação do Direito Eleitoral, envolve não somente a realização das eleições per se, mas também envolve os pedidos de filiação dos militantes, os domicílios eleitorais, os registros eleitorais (que correspondem à devida inscrição eleitoral dos eleitores, a partir das retiradas de títulos eleitorais), registros de candidaturas. Destarte, o processo eleitoral envolve domicílio, filiação partidária, convenções, propagandas eleitorais, realização do sufrágio, apuração dos votos, até a proclamação e declaração dos eleitos. Perguntas • O que significa processo eleitoral e qual a Justiça competente para processar e julgar causas durante esse processo? Justifique de forma fundamentada. Resposta: No Brasil, o processo eleitoral corresponde às fases organizativas das eleições federais, estaduais, distritais e municipais, bem como determinadas fases posteriores inerentes à consolidação dos resultados eleitorais. Nesse sentido, o processo eleitoral é composto pela distribuição de fases que organizam, com um todo, o procedimento, desenvolvimento e organização das eleições brasileiras. Dentre as fases que integram tal processo encontram-se: o registro dos candidatos, o cadastro dos eleitores, a realização da logística eleitoral e preparação das eleições, a votação, a prestação de contas, a totalização dos resultados das eleições, a divulgação dos resultados das eleições e a diplomação dos candidatos eleitos. À vista disso, o processo eleitoral, que se constitui como matéria de afetação da regulamentação do Direito Eleitoral, envolve não somente a realização das eleições per se. Conforme dicção do Código Eleitoral e da própria Constituição Federal vigentes, a Justiça Eleitoral será competente para o processamento e julgamento de causas durante a realização do processo eleitoral. Assim, a Justiça eleitoral será competente para organizar, fiscalizar e realizar as eleições, sendo ainda responsável pelo exame das contas de partidos e candidatos durante a realização das campanhas, controle do cumprimento legislativo relativo ao período eleitoral, assim como o julgamento dos processos relacionados às eleições. Direito Eleitoral Luísa Martins – 7º período - UFMA A natureza Jurídica do Código Eleitoral O Código Eleitoral (Lei 4.737/65) constitui-se enquanto Lei ordinária. No entanto, deve-se pontuar que, a partir da entrada e vigor da CF/88, passou-se a considerar que o Código Eleitoral possuiria caráter de Lei complementar, no tocante às disposições sobre as matérias de organização e competência da Justiça Eleitoral. Assim, conforme disciplina o artigo 121 da Constituição Federal de 88: Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais. Dessa forma, o Código Eleitoral fora recepcionado em partes como lei ordinária, em partes como lei complementar, a depender da matéria sobre a qual encontra-se dispondo. Organização da Justiça Eleitoral no Brasil A Constituição Federal, especificamente no tocante ao seu artigo 118, dispõe acerca da organização que a Justiça Eleitoral deverá possuir, in verbis: Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral: I - O Tribunal Superior Eleitoral; II - Os Tribunais Regionais Eleitorais; III - Os Juízes Eleitorais; IV - As Juntas Eleitorais. Logo, conforme disposto pelo artigo em comento, a organização da estrutura eleitoral judiciária, dar-se-á da seguinte forma: O Tribunal Superior Eleitoral A composição específica relativa aos juízes que integram o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encontra-se disposto no Art. 119, e incisos, da CF. Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos: I -Mediante eleição, pelo voto secreto: a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal; b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça; II - Por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice- Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça. Nesse sentido, é importante mencionar que a composição dos TSE será formada por 7 ministros, podendo, entretanto, ser alterada para mais, sempre obedecendo um número ímpar, através de Lei complementar, haja vista Direito Eleitoral Luísa Martins – 7º período - UFMA que o artigo mencionado possui disposição implícita em relação a tal modificação. OBS! Vale lembrar que, no caso dos TER’s, tal composição somente poderá ser alterada frente à hipótese de Emenda à Constituição (não se tratando de cláusula pétrea, podendo qualquer EC realizar a modificação). Atualmente, a composição do TSE é formada por 7 integrantes, sendo destes: • 3 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que deverão ser indicados pelo próprio STF, a partir de eleição (dos 11 integrantes do STF), por rodízio. Desses 3 integrantes, 1 deles deve ser o Presidente e 1 o vice-presidente do TSE, obrigatoriamente; • 2 ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que deverão ser escolhidos pelo próprio STJ. Obrigatoriamente, um dos 2 indicados deverá ocupar a função de Corregedor geral do TSE; • 2 ministros, dentre 6 indicados da advocacia brasileira (duas listas tríplices), que deverão possuir ilibado saber jurídico e idoneidade moral, devendo 1 destes ser escolhidos pelo Presidente da República e os outros pelo STF. Ademais, cumpre informar que a OAB, posteriormente, estabeleceu também outros critérios para tal escolha, tais como tempo de atuação na área, experiência, ausência de parentalidade com os demais ministros e etc. É importante mencionar que cada ministro do TSE somente poderá executar o mandato de ministro por, no máximo, 2 anos admitindo-se a recondução por apenas 1 vez. Os Tribunais Regionais Eleitorais Cada capital dos Estados brasileiros, incluindo-se aqui o DF, é composto por um TRE. Os TRE’s são compostos por 7 desembargadores eleitorais (juízes), sendo estes lugares ocupados por: • 2 desembargadores do Tribunal de Justiça (TJ); obrigatoriamente estes dois deverão ocupar os cargos de presidente e vice- presidente; • 2 juízes de direito (vinculados ao TJ do Estado); • 1 juiz federal (importante ressaltar aqui que, nos locais em que também houver sede de TRF – ou seja, em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Recife – esse juiz deverá ser escolhido dentre os desembargadores federais. Assim nas demais 22 capitais as vagas serão ocupadas pelos juízes federais das respectivas seções judiciária); • 2 advogados, preenchidas pelo edital da respectiva seccional da OAB, sendo selecionados 3 pelo TJ, conferido pelo TSE e mandado para o Presidente da república escolher 1; Assim, a composição dos TRE serão assim realizadas, conforme expressa dicção do texto Constitucional Federal. Direito Eleitoral Luísa Martins – 7º período - UFMA O tempo de judicatura dos juízes que compõem o TRE também são máximos por 2 anos. Os Juízes Eleitorais É importante evidenciar, antes de tudo, que, no Brasil, não há a formação de carreira de juiz eleitoral, não havendo, portanto, concursos públicos para tal função. Os juízes eleitorais, portanto, são os juízes de direito que são designados para a função de juízes eleitorais. Essa designação é realizada pelo Presidente do Tribunal Regional Eleitoral. O juiz eleitoral recebe uma função gratificada, que é pago pela justiça eleitoral, sobre o seu subsídio. Os juízes eleitorais somente podem permanecer nessa função por 2 anos, prorrogáveis pelo máximo de mais 2 anos, dentro de uma mesma comarca. É importante mencionar que a Justiça Eleitoral se organiza através das chamadas seções eleitorais. Assim cada lugar de votação compõem uma seção eleitoral, que, por sua vez, se organizam em Zonas eleitorais. Cada Zona eleitoral possui um juiz eleitoral responsável. Perguntas • A figura do juiz auxiliar da propaganda eleitoral foi criada mediante lei ordinária? E, sendo assim, o juiz da propaganda eleitoral é constitucional? Justifique de forma fundamentada. Resposta: Os juízes auxiliares da propaganda eleitoral, instituídos pelos Tribunais Regionais Eleitorais, possuem como competência o processamento e julgamento das causas eleitorais que digam respeito à propaganda eleitoral ilícita, bem como são responsáveis também pela fiscalização e regulamentação do cumprimento referente à Resolução nº 23.398 (especificamente no tocante aos artigos 16, 42 e 43), que dispõe sobre as representações, reclamações e pedidos de direito de resposta previstos na Lei nº 9.504/97, bem como o citado instrumento normativo (lei nº 9.504/97). Nesse sentido, observando-se o teor dos supramencionados dispositivos, tem-se que a instituição dos juízes auxiliares da propaganda eleitoral é realizada através de Lei ordinária e pelos dispositivos com força de lei ordinária (resoluções do TSE). Após a vigência da Constituição Federal de 1988, o Código Eleitoral fora apenas parcialmente recepcionado, em que parte de sua estrutura se define como Lei Ordinária, no que diz respeito à forma, e também como Lei complementar, no tocante à sua materialidade. Isso significa que uma parcela do Código Eleitoral somente poderá ser alterada através de Lei complementar, mesmo que a outra parcela seja lei ordinária. De acordo com parte da doutrina nacional, a instituição dos juízes auxiliares da propaganda eleitoral têm se constituído como formalmente inconstitucional, haja vista que ao serem Direito Eleitoral Luísa Martins – 7º período - UFMA designados para a realização do poder de polícia sobre a propaganda eleitoral, os juízes acabam por executar a função dos Tribunais. Assim, tal figuração seria inconstitucional pelo fato de que a matéria de designação de competências seria reservada à Lei Complementar prevista no art. 121 da Constituição Federal. No entanto, as jurisprudências dos Tribunais superiores e de primeiro grau têm considerado a instituição do juiz auxiliar da propaganda eleitoral como constitucional, posto que consideram que, enquanto não advier a citada Lei complementar postulada pela CF, seria necessário acolher a competência fixada no Código Eleitoral, a fim de conferir concretude ao processo eleitoral. Logo, considerando-se estes posicionamentos, os juízes da propaganda são considerados como constitucionais. • Sobre competência da Justiça Eleitoral, aponte os artigos do Código Eleitoral que não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988. Fundamente. Resposta: Conforme dicção do Artigo 22, inciso I, alínea “d”, do Código Eleitoral, o processo e julgamento dos crimes eleitorais e os comuns que forem conexos ao TSE cometidos pelos seus próprios juízes e pelos juízes dos tribunais regionais, serão de competência do TSE. Tal dispositivo não foi recepcionado pela Constituição Federal, que prevê, em seu artigo 102, inciso I, “alínea” c, que a competência para o julgamento e processamento dos crimes comuns e de responsabilidade cometidos por membros dos Tribunais Superiores será do Supremo Tribunal Federal (STF). Ademais, o artigo 105, inciso I, alínea “a” da CF, estabelece que a competência para o julgamento dos crimes comuns e de responsabilidade cometidos pelos membros dos TribunaisRegionais Eleitorais será de competência do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ademais, conforme expresso no artigo 5º, inciso I, do Código Eleitoral, não poderão realizar o alistamento as pessoas que são caracterizadas como analfabetas. Ao analisar-se o disposto no artigo 14, parágrafo 1º, inciso II, alínea “a” da CF, o alistamento deverá ser facultativo aos analfabetos. Dessa forma, o dispositivo encontrado no Código Eleitoral não fora recepcionado pela CF. Igualmente, conforme a dicção do artigo 5º, inciso II, do Código Eleitoral, não poderão alistar-se as pessoas que não saibam exprimir na língua nacional. No entanto, ao observar-se o disposto no artigo 14 da Constituição Federal verifica-se a ausência de positivações a respeito de tal vedação. Assim, tal artigo não fora recepcionado pela CF. • Qual(ais) função(ões) ainda persistem para as Juntas Eleitorais? Explique. Resposta: Atualmente, conforme detalhado pelo artigo 40 da Lei nº 4.737/65, as Juntas Eleitorais são competentes para o desempenho das funções de: apurar, em prazo de 10 dias, as eleições realizadas nas juntas eleitorais que se encontrem sob sua jurisdição; resolver as impugnações, bem como demais incidentes, que foram verificados durante os trabalhos da contagem e apuração dos votos; expedir os denominados boletins de urnas; e expedir os diplomas aos eleitos para ocupação dos cargos municipais.
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