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MULTICULTURALISMO E DIREITOS HUMANOS

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULTICULTURALISMO E DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4 
2 CULTURA E MULTICULTURALISMO ................................................................ 5 
2.1 Cultura e tradição ................................................................................................ 7 
3 MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALIDADE ........................................ 9 
3.1 Ser humano: produto e produtor de cultura ...................................................... 11 
3.2 Pluralismo Cultural ............................................................................................ 12 
3.3 O diálogo e o respeito às diferentes culturas .................................................... 13 
4 A CULTURA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE ............................................... 15 
4.1 Manifestações culturais no desenvolvimento educacional da humanidade ...... 16 
4.2 A relação entre as culturas ............................................................................... 18 
4.3 Universalismo, relativismo e multiculturalismo .................................................. 20 
4.3.1 Universalismo ................................................................................................... 20 
4.3.2 Relativismo.... ................................................................................................... 21 
4.3.3 Multiculturalismo ............................................................................................... 21 
4.4 As manifestações concretas e os aspectos principais da cultura ..................... 22 
5 O QUE É IDENTIDADE DE UMA CULTURA? ................................................. 24 
5.1 Conceituando a ideia de identidade nacional ................................................... 26 
5.2 Refletindo sobre a identidade brasileira ............................................................ 27 
6 DESIGUALDADE, DIVERSIDADE E DIREITOS NO BRASIL 
CONTEMPORÂNEO ................................................................................................. 30 
6.1 A desigualdade no acesso aos direitos no Brasil do ponto de vista histórico ... 30 
6.2 A conquista de direitos no Brasil ....................................................................... 33 
6.3 Conquistas e retrocessos nos direitos .............................................................. 36 
7 O PROCESSO HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS 
HUMANOS.................................................................................................................38 
7.1 A constituição dos direitos humanos ................................................................. 39 
7.2 Direitos humanos .............................................................................................. 41 
7.3 Direitos humanos e senso comum .................................................................... 44 
8 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS .............................. 47 
8.1 Principais garantias ........................................................................................... 47 
8.2 A importância da Declaração dos Direitos Humanos ........................................ 49 
8.3 A Declaração e a legislação educacional brasileira .......................................... 51 
 
3 
 
9 DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA ...................................................................... 54 
9.1 Direitos Culturais ............................................................................................... 55 
9.2 A tolerância em um mundo cada vez mais conectado ...................................... 57 
10 CIDADANIA ...................................................................................................... 58 
10.1 Dimensões da Cidadania .................................................................................. 58 
11 DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO ......................................................................... 62 
11.1 Diversidade e educação de qualidade .............................................................. 65 
11.2 Diversidade nas leis e secretarias .................................................................... 68 
11.3 Práticas de diversidades: escola, sociedade e cultura ...................................... 69 
11.4 Políticas de inclusão ......................................................................................... 70 
12 COMO PROMOVER UMA EDUCAÇÃO MULTICULTURAL? .......................... 73 
12.1 Práticas possíveis para a sala de aula .............................................................. 73 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 CULTURA E MULTICULTURALISMO 
O estudo sobre a cultura e o multiculturalismo é fundamental para 
compreendermos o ser humano, as suas interações e o seu desenvolvimento nas 
diferentes sociedades. Como cultura, podemos identificar tudo aquilo que é produzido 
pelo ser humano, entendido como ser cultural; já o multiculturalismo remete à 
existência de diferentes culturas. 
O que caracteriza o homem — o ser humano — e o diferencia dos demais 
animais? Como podemos defini-lo? O aspecto cultural, a partir das interações e 
manifestações humanas, é, sem dúvida, a sua principal característica. Mas o que é 
cultura? 
Segundo o autor François Laplantine, antropólogo francês, na obra Aprender 
antropologia (1989), a cultura pode ser compreendida como o próprio social 
considerado a partir das diferenças: 
 
O social é a totalidade das relações (relações de produção, de exploração, 
de dominação [...]) que os grupos mantêm entre si dentro de um mesmo 
conjunto (etnia, região, nação [...]) e para com outros conjuntos, também 
hierarquizados. A cultura, por sua vez, não é nada mais que o próprio social, 
mas considerado dessa vez sob o ângulo dos caracteres distintivos que 
apresentam os comportamentos individuais dos membros desse grupo, bem 
como suas produções originais (artesanais, artísticas, religiosas [...]) 
(LAPLANTINE, 1989, p. 120) 
 
Nesse sentido, o autor afirma que a cultura distingue o ser humano dos demais 
seres, como, por exemplo, os animais. Enquanto sociedade, os animais também 
podem conviver e ter sociabilidade, mas a produção cultural, a comunicação, a troca 
e o trabalho são especificamente humanos, como citado a seguir: 
 
[...] o que distingue a sociedade humana da sociedade animal, e até da 
sociedade celular, não é de forma alguma a transmissão das informações, a 
divisão do trabalho, a especialização hierárquica das tarefas (tudo isso existe 
não apenas entre os animais, mas dentrode uma única célula!), e sim essa 
forma de comunicação propriamente cultural que se dá através da troca 
não mais de signos e sim de símbolos, e por elaboração das atividades rituais 
aferentes a estes. Pois, pelo que se sabe, se os animais são capazes de 
muitas coisas, nunca se viu algum soprar as velas de seu bolo de aniversário 
(LAPLANTINE, 1989, p. 121). 
 
O ser humano é cultural, pois há uma comunicação que é cultural, isto é, 
produzida pelos homens e entre eles, que transforma a natureza, o seu meio, 
aperfeiçoa meios de sobrevivência, desenvolve técnicas, como o direito, a arquitetura, 
 
6 
 
a tecnologia, a música, a ciência, a arte, entre outros, por meio do uso da razão, do 
trabalho e da lógica. O desenvolvimento da cultura e do homem como ser cultural se 
dá, eminentemente, por meio da interação, das manifestações culturais, da 
linguagem, do processo de ensino e das tradições, que são passados entre gerações 
e grupos em um determinado contexto social. 
 
Várias formas de diferença e desigualdade convivem na sociedade 
contemporânea. Ao longo de suas trajetórias de vida, os indivíduos se 
identificam e se diferenciam dos outros das mais diversas maneiras. [...]. Os 
marcadores sociais da diferença são sistemas de classificação que 
organizam a experiência ao identificar certos indivíduos com determinadas 
categorias sociais (ZAMBONI, 2015, p. 13). 
 
Diversas ciências se ocupam do estudo do homem enquanto ser cultural, das 
suas manifestações, distinções, interações e dos seus comportamentos, como é o 
caso da antropologia, da sociologia e da psicologia. Outras áreas — como arquitetura, 
letras, pedagogia e Direito — têm como objeto manifestações próprias do ser humano, 
como a linguagem escrita e falada, o processo de ensino e aprendizagem, o 
desenvolvimento de técnicas, estruturas e ocupação, bem como o universo jurídico, 
tomando o Direito como manifestação de uma cultura e sociedade, que se modifica 
ao longo do tempo. No campo de estudo da antropologia, que é uma ciência que 
considera o homem em todas as suas dimensões, há uma área, ou ramo específico, 
que se ocupa de estudar as manifestações culturais dos seres humanos. Trata-se da 
antropologia cultural, que estuda as características que distinguem as condutas dos 
seres humanos e os faz identificar ou pertencer a uma mesma cultura, considerando 
os diferentes tempos e espaços de presença humana. 
 
 
Fonte: http://www.justificando.com/ 
 
7 
 
2.1 Cultura e tradição 
A partir da compreensão do ser humano como ser cultural, verificamos que o 
conceito de cultura é de fundamental importância, assim como o de tradição. Isso 
porque ambos se relacionam no que diz respeito à transmissão de conhecimento, 
práticas e comportamentos entre gerações. No entanto, há diferenças conceituais 
importantes na forma como se compreende cada categoria e as suas manifestações. 
(Barroso, 2018). 
O Quadro a seguir elucida a distinção entre cultura e tradição. 
 
CULTURA TRADIÇÃO 
O QUE É 
Do latim cultura, culturae, que 
significa “ação de tratar”, “cultivar” ou 
“cultivar a mente e os 
conhecimentos”. A palavra culturae 
se originou a partir de outro termo 
latino: colere, que quer dizer “cultivar 
as plantas” ou “ato de plantar e 
desenvolver atividades agrícolas”. 
A palavra tradição é mais dinâmica 
do que parece à primeira vista. 
Traditio, em latim, é a ação de 
entregar, de transmitir algo a alguém, 
de confiar algo valioso a outra 
pessoa. Uma pessoa tradicional é 
aquela que recebeu (e precisar 
transmitir depois) um conhecimento, 
uma herança ou uma 
responsabilidade do passado. 
COMO PODE SE 
MANIFESTAR 
Com o passar do tempo, a palavra 
cultura foi colocada de modo análogo 
entre o cuidado na construção e 
tratamento do plantio, com o 
desenvolvimento das capacidades 
intelectuais e educacionais das 
pessoas. Cultura popular, cultura 
organizacional e antropologia 
cultural. 
A tradição revela um conjunto de 
costumes, crenças, práticas, 
doutrinas, leis, que são transmitidos 
de geração em geração, em dado 
grupo social, e que permite a 
continuidade de uma cultura ou de 
um sistema social. No direito, a 
tradição consiste na entrega real de 
uma coisa para efeitos da 
transmissão contratual da sua 
propriedade ou da sua posse entre 
pessoas vivas. A situação jurídica 
resulta de uma situação de fato: a 
entrega. Entretanto, a tradição 
poderá não ser material, mas apenas 
simbólica. Tradição religiosa. 
Fonte: Carolina Bessa Ferreira de Oliveira, SAGAH – Soluções Educacionais Integradas, 2018. 
 
8 
 
A relação entre cultura e tradição coloca-se a partir de uma visão de 
manifestação humana e comportamento tipicamente do homem, como as lendas, as 
crenças e os costumes. Os elementos da tradição — como formas de se vestir, ritos 
de passagem, organização de trabalhos, cerimônias e religiões — podem passar a 
fazer parte de uma dada cultura. Por isso, a cultura se refere, de modo geral, aos 
modos de vida de uma sociedade ou grupo, pois inclui tanto os aspectos materiais e 
tangíveis (como símbolos, objetos e tecnologias) quanto imateriais ou intangíveis 
(como crenças, valores e ideias). 
Além disso, o costume é considerado uma fonte do Direito, ao lado de outras, 
como a lei e a jurisprudência, lembrando que o Direito se modifica à medida que a 
sociedade e o homem também são modificados. Assim, no campo do Direito, os 
fatores culturais e da tradição estão relacionados à evolução do Direito e às suas 
fontes. 
De acordo com Sergio Cavalieri Filho (2015), ao considerar a concepção 
sociológica do Direito como produto de múltiplas influências sociais, vivenciamos 
regras sujeitas a constantes modificações, porque se originam dos grupos sociais, que 
também se transformam ao longo do tempo. Assim, entre os principais fatores que 
concorrem para a evolução do direito, o autor elenca: 
 fatores econômicos; 
 fatores políticos; 
 fatores culturais; 
 fatores religiosos. 
 
Em relação aos fatores culturais, o autor afirma que: 
 
Cada povo tem sua peculiaridade, sua tendência ou dom natural. A Grécia, 
por exemplo, notabilizou-se pela arte, pela cultura; os hebreus pela religião; 
os fenícios pela navegação; Roma pelo direito. Pois o direito de cada um 
desses povos reflete o aspecto cultural em que mais se desenvolveram, e 
quando a cultura de um é colocada em contato com a do outro, há influências 
recíprocas sobre o direito de cada um. A conquista da Grécia, como é sabido 
por todos, exerceu influência decisiva, não apenas nas artes e na literatura 
romanas, mas também nas suas instituições jurídicas. [...] A maior evidência 
de ser o Direito uma manifestação de cultura social, um fenômeno cultural, 
está no fato de surgirem novos ramos do Direito à medida que se expande o 
mundo cultural do povo. Falamos hoje em Direito Espacial, Nuclear, das 
Telecomunicações etc. [...] (CAVALIERI FILHO, 2015, p. 56-57). 
 
 
 
9 
 
3 MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALIDADE 
A sociabilidade e a socialização são dois temas clássicos da Sociologia, mas 
que são muito importantes para compreender como o ser humano se relaciona com a 
sociedade na qual está inserido e com a cultura dessa sociedade. Logo, também é 
uma preocupação da Antropologia compreender como o ser humano estabelece 
relações sociais. A sociabilidade é uma característica intrínseca ao ser humano, sendo 
quase uma necessidade para se viver em sociedade. É graças à sociabilidade que 
temos essa ânsia pela vida em grupo, já que o ser humano não é dado ao isolamento. 
No entanto, é a socialização que nos integra à cultura em que nascemos, inculcando-
nos os valores e hábitos dela, que adotamos como nossos, por meio dos diversos 
agentes de socialização. São esses agentes de socialização que nos transmitem as 
normas que regem a nossa vida. 
A sociabilidade e a socialização são responsáveis pela característica dos 
seres humanos enquantoseres sociais e pela necessidade da vida em grupo. Nesse 
sentido, considerando a nossa vida social, é importante destacar que, embora outros 
animais (como os lobos, os macacos, as formigas e as abelhas) também sejam 
considerados animais sociais, pois vivem em grupos, “[...] somente os seres humanos 
têm culturas completamente elaboradas — tradições e costumes específicos 
transmitidos pela aprendizagem e pela linguagem ao longo de gerações”, conforme 
leciona Kottak (2013, p. 43). 
Nesse sentido, o conceito de cultura se torna fundamental tanto para a 
Antropologia quanto para a Filosofia, pois nos possibilita compreender melhor os 
seres humanos e a sua vida social. Você, provavelmente, está se perguntando: afinal, 
qual é o conceito de cultura? Bem, o antropólogo, escritor e ex-ministro da educação, 
Darcy Ribeiro (1999), com muita simplicidade, afirma que a cultura é tudo o que resulta 
do trabalho humano, tudo o que é feito pelos homens ou resulta do trabalho deles e 
dos seus pensamentos. 
Temos também a definição amplamente citada de cultura enquanto objeto da 
Antropologia, elaborada por Tylor (2000, p. 1, grifo nosso): “A cultura [...] é o todo 
complexo que inclui conhecimentos, crenças, artes, regras morais, leis, costumes e 
quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da 
sociedade”. Ou seja, para Tylor (2000), a cultura trata daquilo a que o ser humano 
 
10 
 
está exposto por crescer em determinada sociedade, ficando exposto a uma tradição 
cultural específica. Por exemplo, os indivíduos que nascem no Rio Grande do Sul são 
apresentados aos elementos de sua cultura, aquilo que é da tradição gaúcha. 
Portanto, o indivíduo poderá ou não aprender a tomar chimarrão, falar “bah” ou “tchê”, 
etc. Ao ser exposto a determinada cultura, ao nascer, o ser humano adquire seus 
hábitos e costumes, e, portanto, estes passam a ser seus hábitos e suas culturas. 
De acordo com Kottak (2013, p. 44): “Enculturação é o processo pelo qual 
uma criança aprende sua cultura”. O processo de enculturação é possibilitado pela 
facilidade de aprendizagem das crianças. Acerca disso, Kottak (2013, p. 44) afirma: 
“A facilidade com que as crianças absorvem qualquer tradição cultural reside na 
capacidade humana singularmente sofisticada de aprender” 
Outra definição de cultura bastante conhecida e referenciada é a do 
antropólogo Clifford Geertz. Para Geertz (1981), as culturas se caracterizam como um 
conjunto de mecanismos de controle — planos, receitas, regras, instruções, aquilo 
que os engenheiros de informática chamam de programas para comandar o 
comportamento. Logo, a cultura é por ele definida como ideias baseadas na 
aprendizagem e nos símbolos culturais. Essas ideias são passadas não apenas às 
crianças, embora elas assimilem e aprendam de forma mais fácil; mas nós, adultos, 
podemos também receber novos hábitos e costumes — isso se dá a partir dos fatos 
sociais. A cultura também é aprendida por meio da observação, segundo Kottak. As 
crianças observam os adultos e acabam repetindo os seus hábitos. Cabe ressaltar 
que essa aprendizagem nem sempre se dá de forma consciente. 
 
 
Fonte: CRStudio/Shutterstock.com. 
 
11 
 
3.1 Ser humano: produto e produtor de cultura 
Como vimos anteriormente, a cultura pode ser definida como tudo aquilo que o 
ser humano produz ou que sofre a sua intervenção, de forma que, segundo Ribeiro 
(1999), até uma galinha pode ser considerada cultura. Portanto, tudo o que vemos ao 
olhar ao nosso redor é cultural e foi produzido pelo ser humano, pois a realidade, como 
afirmou Freire, é a realidade humana, produzida pelo ser humano. 
Você deve concordar que o trabalho é muito importante para o ser humano, 
pois lhe dignifica, o torna útil e capaz de modificar a realidade, desde que não seja um 
trabalho em que seja explorado. Logo, não há exagero nenhum em dizer que o ser 
humano é produtor de cultura. Além disso, somos seres sociais que vivem em grupo, 
dotados de sociabilidade, ou seja, uma necessidade intrínseca de viver em grupo e/ou 
comunidades, pois não somos dados ao isolamento. Ainda, nossa educação, ou seja, 
as nossas aprendizagens, desenvolvidas ao longo da vida, são fruto dos processos 
de socialização que estabelecemos nos diferentes grupos sociais que integramos ao 
longo da nossa vida. Há também a enculturação, como vimos, por meio da qual 
aprendemos os hábitos da nossa cultura e tradição. 
Segundo a professora Aranha (2010), o processo de socialização tem início 
pela influência da comunidade sobre os indivíduos. É conhecida a história das 
meninas-lobo encontradas na Índia, em 1920, vivendo em uma matilha. O 
comportamento delas em tudo se assemelhava ao dos lobos: andavam de quatro, 
comiam carne crua ou podre, uivavam à noite, não sabiam rir nem chorar. Só iniciaram 
o processo de humanização quando foram encontradas e passaram a conviver com 
pessoas. O mundo cultural é, dessa forma, um sistema de significados já 
estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra um mundo de 
valores dados, onde ela se situa. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o 
jeito de sentar, andar, correr, brincar, o tom de voz nas conversas, as relações sociais, 
tudo, enfim, se acha estabelecido em convenções. Até a emoção, que é uma 
manifestação espontânea, sujeita-se a regras que dirigem de certa maneira a sua 
expressão. A condição humana resulta, pois, da assimilação de modelos sociais: a 
humanização se realiza mediada pela cultura. 
Se, como afirma Aranha (2010) no excerto acima, a humanização se realiza 
mediada pela cultura, não é possível dissociar a sociabilidade e a socialização da 
cultura e dos processos de enculturação, pois é por meio delas que nos tornamos 
 
12 
 
quem somos. É claro que não cabe exclusivamente ao processo de enculturação nos 
definir; somos constituídos pelos grupos sociais dos quais fazemos parte, pelas 
experiências que vivenciamos e por aquelas culturas com as quais temos contato. 
3.2 Pluralismo Cultural 
O multiculturalismo, ou pluralismo cultural, dá-se por meio da convivência com 
diferentes grupos sociais de diferentes culturas em um mesmo território. Por meio do 
contato com outros grupos culturais, ocorre o processo de aculturação. A aculturação 
é o processo pelo qual os sujeitos adquirem traços ou se adaptam às outras culturas 
com as quais têm contato. O processo de aculturação permite o sincretismo cultural e 
religioso, uma vez que, a partir do contato com outras culturas e religiões, o sujeito 
acaba adquirindo os hábitos e costumes daquela sociedade ou grupo social, dando 
origem, muitas vezes, a novos hábitos e novas práticas culturais. 
No Brasil, a aculturação permitiu às culturas indígenas e africanas adquirirem 
traços das outras culturas. Houve também a aculturação religiosa, por meio da qual 
as religiões de matriz indígena e africana adquiriram traços das outras religiões. Essa 
troca entre as culturas é conhecida também como interculturalidade, que nada mais 
é do que o intercâmbio cultural entre as sociedades — é quando sociedades com 
culturas diferentes interagem, e uma acaba assimilando os hábitos da outra, sem 
perder os seus hábitos culturais. Alguns autores trabalham o conceito de 
interculturalidade como sinônimo de multiculturalismo. (ARANHA, 2018). 
Em uma sociedade globalizada como esta em que vivemos, é comum que 
exista o que os antropólogos chamam de assimilação, que nada mais é do que o 
processo de mudança que um grupo étnico pode experimentar quando se muda para 
um país no qual uma outra cultura é dominante. Porém, essa mudança não é inevitável 
e nem necessária, desde que o grupo não se sinta ameaçado ou constrangido por agir 
conforme a sua cultura. (ARANHA, 2018). 
Em situações em que as pessoas são pressionadas ou questionadas acerca 
dos seus hábitos e culturas, é mais comum que exista a assimilação cultural, até comouma forma de autodefesa. Uma sociedade multicultural não só socializa os indivíduos 
na cultura dominante (nacional), mas também cria uma cultura étnica e permite, assim, 
a compreensão das semelhanças e diferenças entre as culturas, sem fazer qualquer 
 
13 
 
julgamento. Contudo, em uma sociedade tão plural culturalmente, é necessário 
aumentar a vigilância contra os preconceitos e as intolerâncias. E, para isso, o diálogo 
e o respeito são imprescindíveis. 
3.3 O diálogo e o respeito às diferentes culturas 
Nos cenários atuais, temos várias culturas convivendo em um mesmo território, 
graças à globalização, e as pessoas interagem via redes sociais com pessoas de 
diferentes culturas, tanto do seu próprio país como dos demais. Alertar para a 
necessidade do diálogo e do respeito às diferentes culturas se torna ainda mais 
necessário. Segundo Kottak (2013, p. 62): 
 
O termo globalização abarca uma série de processos que operam em nível 
transnacional para promover transformações, em um mundo no qual as 
nações e as pessoas são cada vez mais interligadas e mutuamente 
dependentes. Promovendo a globalização estão as forças econômicas e 
políticas, juntamente com modernos sistemas de transporte e comunicação. 
 
Como já vislumbrava o Papa João Paulo II, em sua Encíclica Redemptoris 
Missio (JOÃO PAULO II, 1990, documento on-line): 
 
Encontramo-nos hoje diante de uma situação religiosa bastante diversificada 
e mutável: os povos estão em movimento; certas realidades sociais e 
religiosas, que, tempos atrás, eram claras e definidas, hoje evoluem em 
situações complexas. Basta pensar em fenômenos tais como o urbanismo, 
as migrações em massa, a movimentação de refugiados, a descristianização 
de países com antiga tradição cristã, a influência crescente do Evangelho e 
dos seus valores em países de elevada maioria não cristã, o pulular de 
messianismos e de seitas religiosas. É uma alteração tal de situações 
religiosas e sociais, que se torna difícil aplicar em concreto certas distinções 
e categorias eclesiais, a que estávamos habituados. 
 
As redes sociais, ao mesmo tempo que aproximam as pessoas das diferentes 
culturas, familiarizando-as com as práticas culturais dos diferentes povos que estão 
presentes nessa grande aldeia global ou casa comum que é a Terra, acaba 
distanciando-as também, devido à incompreensão e à falta de diálogo e respeito. A 
cada dia, vemos as pessoas se sentindo autorizadas a escreverem e dizerem o que 
querem, como se as redes sociais fossem uma “terra de ninguém”. Talvez, aqui, o 
ponto nevrálgico seja que as pessoas escrevem e dizem o que pensam. Portanto, 
cabe questionar: como mudar esse pensamento? Como diminuir ou mesmo erradicar 
 
14 
 
a intolerância, a falta de respeito, a falta de empatia e de alteridade com relação ao 
outro? Esse outro que é estranho a mim, mas que, ao mesmo tempo, é meu irmão e 
criado por Deus também. 
A atitude de julgar a cultura e os hábitos do outro a partir da minha própria 
cultura é o que os antropólogos chamam de etnocentrismo. O etnocentrismo pode 
ser compreendido como uma visão do mundo na qual a própria cultura é tomada como 
superior e se aplicam os próprios valores culturais no julgamento dos comportamentos 
e das crenças de pessoas de outras culturas. No plano intelectual, pode ser visto como 
a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, ocorre na forma de 
sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. Como alternativa aos 
comportamentos etnocêntricos, há quem defenda a perspectiva do relativismo 
cultural, que é a visão de que o comportamento de uma cultura não pode ser julgado 
pelos padrões culturais de outra, conforme aponta Kottak (2013). 
O problema com o relativismo cultural é que ele pode nos conduzir ao 
relativismo moral, fazendo com que tenhamos de abrir mão de alguns valores e 
princípios fundamentais porque não podemos julgar as práticas culturais e religiosas 
das outras sociedades. Nesse sentido, para evitar esse relativismo moral, se existe 
alguma atitude a ser tomada, ela envolve sempre o diálogo e o respeito, pois se tratam 
de questões complexas e polêmicas, como o caso do infanticídio em tribos indígenas, 
a mutilação de mulheres na África, a proibição ou não do aborto e tantas outras 
questões. 
De acordo com Dupré (2015, p. 210), “O relativismo em ética ou relativismo 
moral é a perspectiva de que o acerto ou o erro das ações é determinado pela cultura 
e pelas tradições (ou relativo a elas) de comunidades ou grupos sociais específicos”. 
Assim, como recomendou o Papa João Paulo II (1990, documento on-line), é 
importante que a Igreja atue como missionária e que tenha uma missão ad gentes. 
 
Torna-se necessário, porém, precaver-se contra o risco de nivelar situações 
muito diferentes, e reduzir ou até fazer desaparecer a missão e os 
missionários ad gentes. A afirmação de que toda a Igreja é missionária não 
exclui a existência de uma específica missão ad gentes, assim como dizer 
que todos os católicos devem ser missionários não impede — pelo contrário, 
exige- -o — que haja missionários ad gentes, dedicados por vocação 
específica à missão por toda a vida. 
 
 
15 
 
Nesse sentido, talvez seja importante, em vez de “relativizar”, dialogar sobre 
essas práticas culturais e religiosas que são distintas das nossas. Deve-se buscar 
encontrar uma forma de manter não apenas a memória e a história dos povos, mas 
seus adeptos, com uma visão mais atual e compreensiva acerca da humanidade e, 
também, não ferindo os direitos humanos. Isso, de fato, é bem difícil. 
4 A CULTURA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE 
Desde os primórdios da história, o homem e a mulher se confrontam com a 
necessidade de conhecer, a fim de explicar os fatos e fenômenos, dominar a natureza 
ou facilitar sua existência. A humanidade construiu conhecimentos a partir dos 
desafios necessários à sua sobrevivência. O conhecimento surgiu e foi acumulado em 
decorrência das experiências vividas (FREIRE, 1984). 
A dimensão histórica e social do tempo permite a compreensão da história 
como produção do ser humano, na dinâmica das relações sociais e de diferentes 
conjunturas, em épocas diferentes. Trabalhar a noção de tempo nessa dimensão 
possibilita analisar o contexto de diferentes épocas e localizar, no tempo, o modelo de 
sociedade no qual está inserido; permite ao indivíduo o esclarecimento da sociedade 
atual como uma evolução histórica de um processo político, social, cultural e 
econômico que se originou no passado e que continua a ser construído no seu dia a 
dia, por meio da ação dos sujeitos na história. 
De acordo com Freire (1999), o homem cria a cultura na medida em que, 
integrando-se nas condições de seu contexto de vida, reflete sobre ela e dá respostas 
aos desafios que encontra pelo caminho. A construção da Cultura é todo resultado da 
atividade humana, do esforço criador e recriador do homem e da mulher, de seu 
trabalho por transformar e estabelecer relações de diálogo com outros homens e 
mulheres. 
Nessa expectativa, cultura é tudo que resulta da criação humana, o sujeito cria, 
transforma e é afetado por essas transformações. O sujeito, ao produzir cultura, 
produz-se a si mesmo, ou seja, ele se autoproduz. Logo, não há cultura sem o sujeito, 
como não há sujeito sem cultura. A cultura, pois, não somente envolve o sujeito, mas 
penetra-o, modelando sua identidade, personalidade, maneira de ver, pensar e sentir 
o mundo. 
 
16 
 
Para Brandão (2002), a cultura existe nas diversas maneiras por meio das quais 
criamos e recriamos os tecidos sociais de símbolos e de significados que atribuímos 
a nós próprios, às nossas vidas e aos nossos mundos. Criamos os mundos sociais 
em que vivemos e só sabemos viver nos mundos sociais que criamos ou onde 
reaprendemos a viver, para sabermos criarmos com os outros os seus outros mundos 
sociais – e isso é a cultura que criamos para viver e conviver. 
A culturanão é, pois, algo que existe fora do sujeito; ela faz parte do seu íntimo. 
Se somos o que somos é porque temos contato com outros seres humanos, dentro 
de uma realidade específica que se torna nossa verdade, mas que se desenvolve 
apenas na interação entre os indivíduos. O ser humano não nasce “ser social”, ele se 
torna um “ser social” em contato com outras pessoas (DALLARI, 1984). 
O grande desafio da escola, hoje, é contribuir para a formação de cidadãos 
críticos, conscientes e atuantes (TRINDADE, 2000). Trata-se de uma tarefa complexa 
que exige da escola um movimento que ultrapasse temas, conteúdos e programas. 
Nessa realização, percebemos o verdadeiro sentido da palavra cidadania. 
 
 
Fonte: https://factrem2s.com.br/ 
4.1 Manifestações culturais no desenvolvimento educacional da humanidade 
A cultura é histórica; pensar em cultura é pensar em conhecimento, significado 
e formas de interpretar o mundo e nosso cotidiano. A construção de uma cultura é 
baseada no que fomos agregando ao longo da história para transformar e transmitir 
 
17 
 
nosso pensamento, nossas formas de ser e sentir. Conhecer, aprender, ver as 
diferenças, como somos e como nos relacionamos é se apropriar do conhecimento. 
Para entender o conhecimento, tem-se que refletir sobre os inúmeros fatores 
pelos quais somos influenciados, tais como: o que assistimos na TV, o que temos 
como hábito de leitura, de saberes adquiridos, de técnicas corporais incorporadas, 
entre outros. 
As manifestações culturais se apresentam de diversas formas. De uma forma 
clara e objetiva, a cultura pode se manifestar de diferentes maneiras, ela é complexa 
e dinâmica e pode ser compreendida de acordo com a origem de quem a produz. 
Podemos conhecê-la como, conforme Coelho (1986): 
 Cultura erudita: é produto da leitura, do estudo e da pesquisa. É a cultura 
aprendida nos ambientes formais de educação. Para que se produza cultura erudita, 
é necessário que se tenha vasto conhecimento sobre um determinado assunto. 
 Cultura de massa: é a cultura produzida e /ou transmitida pelos meios de 
comunicação a um grande número de pessoas, por meio de intermédios impressos 
ou eletrônicos, como jornais, revistas, televisão e internet. 
 Cultura popular: pode ser compreendida como a soma dos valores 
tradicionais de um povo, expressos em forma artística, como danças, ou em crendices 
e costumes gerais. A cultura popular é coletiva, marcada pelo anonimato. 
O conceito de cultura é amplo, de maneira que é interessante estabelecer 
conhecimento entre os conceitos de cultura erudita, de massa e popular. Essa 
diferenciação tem objetivos apenas didáticos, até mesmo porque existem articulações 
e relações entre os “tipos culturais”, e estabelecemos contato com elas o tempo todo, 
pois são mutáveis e dinâmicas, ou seja, as manifestações acompanham as 
sociedades onde se expressam, transformando-se, permanecendo ou adaptando-se 
a cada realidade. 
Outro aspecto importante a destacar é que convivemos com as diferentes 
manifestações culturais, pois a cultura é variável no tempo e vai transformando-se na 
vivência e no processo de comunicação e transmissão de sua existência. Elementos 
como modo de agir, vestir, caminhar, comer se alteram diante das novas 
necessidades constituídas entre as gerações, localizadas em um tempo e espaço de 
vivência, produzindo bem-estar para alguns e, para outros, uma metamorfose imposta 
e, portanto, de grande violência simbólica. 
 
18 
 
Ribeiro (1987) insiste na ideia de que, embora a cultura seja um produto da 
ação humana, ela é regulada pelas instituições de modo que se lapida a ideia a ser 
manifestada segundo os interesses ou valores de crenças de determinado grupo 
social. A cultura, para Ribeiro (1987), também é uma herança que se resume a um 
conjunto de saberes que são passados a partir das gerações, saberes manifestados 
e experimentados pelo ancestral. 
Quando se trata de cultura e educação, podemos dizer que são esses 
fenômenos intrinsecamente ligados, a cultura e a educação, que, juntos, tornam-se 
elementos socializadores, capazes de modificar a forma de pensar dos educandos e 
dos educadores; quando adotamos a cultura como uma aliada no processo de ensino-
aprendizagem, estamos permitindo que cada indivíduo que frequenta o ambiente 
escolar se sinta participante do processo educacional, pois ele nota que seu modo de 
ser e vestir não é mais visto como “antiético” ou “imoral”, mas sim como uma forma 
de ele socializar com os demais colegas. Alguns autores defendem a ideia de que a 
educação não pode sobreviver sem a cultura e nem a cultura sem a educação. 
Candau (2003, p. 160) afirma que: “A escola é, sem dúvida, uma instituição cultural 
[...]” 
4.2 A relação entre as culturas 
O avanço das tecnologias permite ultrapassar fronteiras de modo mais rápido 
e em maior frequência. Se você for de São Paulo a Porto Alegre de ônibus, o percurso 
levará por volta de 24 horas, mas se você for de avião, a duração da viagem é menor 
do que duas horas, o que facilita e oportuniza o deslocamento. Ainda que diferentes 
lugares do mundo estejam mais acessíveis, em grandes metrópoles, você pode 
escolher conhecer culturas que estão mais próximas, e isso não significa que elas 
sejam tão semelhantes às suas. 
Esse contato pode evidenciar elementos culturais que você considere 
estranhos, causando certo estranhamento sobre o modo de vida do outro. Às vezes, 
pode até mesmo achar engraçado o modo como as pessoas de outras sociedades 
falam, se vestem ou mesmo dançam. Estranhar, em um primeiro momento, é como 
não entender direito o porquê a pessoa age de determinada forma, fala diferente ou 
mesmo come algum tipo de prato típico da região. 
 
19 
 
 
A diferença entre as culturas acarreta em diferenças conceituais. 
Fonte: Ruas (2012). 
 
Isso acontece por que somos etnocêntricos, ou seja, entendemos que o nosso 
modo de vida é o certo, correto, adequado, já que, para nós, é a nossa cultura e o que 
faz sentido nela é o que está no centro do nosso entendimento. Assim, a referência 
do que é certo e errado é dada pela cultura na qual nascemos. Então, podemos dizer 
que nascemos etnocêntricos e, com o passar do tempo, podemos aprender a 
relativizar o que temos como referência. Nesse sentido, o comportamento etnocêntrico 
pode até ser depreciativo em relação aos padrões culturais diferentes dos seus, 
julgando-os como imorais, aberrações ou equívocos. (BARROSO, 2018). 
Deste modo, temos de cuidar para que não apreendamos atitudes 
discriminatórias de diferentes ordens com a cultura do outro. Entendemos que, em um 
mundo que possibilita cada vez mais encontros, temos de saber conviver, relativizar 
e entender os diferentes modos de vida. Nem todos vão ter o mesmo certo e o mesmo 
errado, e, então, para que sejamos respeitados nos nossos pensamentos é preciso 
que respeitemos o certo e o errado do outro. Com o tempo e com o convívio cultural, 
o que era diferente pode se tornar compreensível quando analisado a partir de outros 
modos de vida. O meu certo e meu errado podem ser diferentes do certo e do errado 
do outro. Por isso, o nosso contato pode permitir uma negociação de sentidos, 
entendimentos e leituras sobre a sociedade que nos possibilite ampliar a formas de 
ver o mundo. (BARROSO, 2018). 
 
20 
 
4.3 Universalismo, relativismo e multiculturalismo 
Temos algumas correntes de pensamento que elucidam possibilidades de 
encontrar acordos universais, e outras que entendem que esses acordos devem 
considerar as diferenças culturais. Vamos tentar entender o que propaga cada uma 
delas e como podemos nos apropriar de suas discussões, para pensarmos a relação 
entre as culturas. 
4.3.1 Universalismo 
 
Em um cenário pós-segunda guerra, depois das crueldades cometidas pelo 
nazismo, o Movimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos se organizou 
para instituir alguns parâmetros éticos daordem internacional. Coube, assim, 
evidenciar alguns direitos considerados universais que perpassassem a condição 
geral da pessoa humana, independente de especificidades culturais. Desse modo, a 
Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, foi o documento adotado pela 
Organização das Nações Unidas (ONU) e que reconheceu a dignidade humana de 
todos os seres humanos, sem levar em consideração as diferenças entre as culturas. 
A partir deste contexto histórico, o universalismo ganhou adeptos, 
principalmente, através de um discurso de proteção do homem, como diz Silva e 
Pereira (2013, p. 500): 
 
Com a universalização, portanto, buscou-se proteger o indivíduo 
simplesmente por ser um ser humano, independe de seu país, de sua cultura. 
Apenas a condição de ser humano é que interessa ao universalismo cultural, 
já que tais direitos decorrem inescusavelmente da própria dignidade humana, 
entendida como valor indissociável da condição de ser humano. 
 
É delicado o tema de adoção de princípios universalistas para que não seja 
tomada de forma radical, impondo que alguns países possam decidir pelos outros o 
que é considerado universal ou não. Ainda mais em um contexto de imperialismo, de 
globalização e de disputa por hegemonia econômica o argumento universalista pode 
ser utilizado como um pretexto para interferência nas práticas culturais diversas 
visando a dominação e até a aculturação dos povos. 
 
 
 
21 
 
4.3.2 Relativismo 
 
O relativismo cultural aposta na manutenção das diferenças culturais, 
preservando as identidades e a diversidade das inúmeras sociedades existentes. 
Neste pensamento, cabe considerar como parâmetro o respeito à autonomia de cada 
nação ou povo para definir sua forma de vida, conforme seus valores e crenças. E 
assim, opõe-se à criação de um parâmetro do universalismo, porque entendem que, 
se defini-lo como tal, pode buscar se sobrepor aos princípios e fundamentos de 
sociedades que não consideram esse parâmetro como legítimo. A intepretação de 
Silva e Pereira (2013, p. 506) sobre os relativistas é que, para eles: 
 
[...] assim como há diversas culturas, há diversos sistemas morais, pelo que 
restaria impossível o estabelecimento de princípios morais de validade 
universal que comprometam todas as pessoas de uma mesma forma 
(PIOVESAN, 2006, p. 45). Ou seja, os que aderem a esta posição, a cultura 
é a única fonte válida do direito e da moral, capaz de produzir seu próprio e 
particular entendimento sobre os direitos fundamentais. 
 
Logo, não haveria como propor um princípio universal entre os povos e 
sociedades existentes. A cultura torna-se preponderante para acessar, conhecer e até 
questionar práticas culturais consideradas absurdas. 
 
4.3.3 Multiculturalismo 
 
Para sair dessas correntes de pensamentos dicotômicos, uma nova proposta 
se apresenta: o multiculturalismo. Esse conceito entende que deve haver harmonia na 
convivência da pluralidade cultural. Boaventura de Sousa Santos (1997, p. 19) propõe 
uma definição mais aprofundada: 
 
O multiculturalismo, tal como eu entendo, é pré-condição de uma relação 
equilibrada e mutuamente potenciadora entre a competência global e a 
legitimidade local, que constituem os dois atributos de uma política contra-
hegemônica de direitos humanos no nosso tempo. 
 
Deste modo, deve-se levar em consideração os princípios de igualdade e o 
reconhecimento das diferenças, para pensar em uma concepção de direitos humanos 
aglutinadora, híbrida e agregadora. Assim, não se deseja opor universalismo e 
relativismo, mas compor um diálogo entre essas teorias para defesa dos direitos 
humanos, sem descaracterizar as particularidades das diversas culturas. 
 
22 
 
4.4 As manifestações concretas e os aspectos principais da cultura 
O antropólogo Mércio Pereira Gomes (2008, p. 36) nos ensina que: 
 
[...] cultura é o modo próprio de ser do homem em coletividade, que se realiza 
em parte consciente, em parte inconsciente, constituindo um sistema mais ou 
menos coerente de pensar, agir, fazer, relacionar-se, posicionar-se perante o 
absoluto, e, enfim, reproduzir-se. 
 
Durante muito tempo, lidou-se com a ideia de que era a capacidade de 
desenvolver trabalho que distinguia o ser humano como produtor de cultura; no 
entanto, animais desenvolvem essa atividade e alguns grupos realizam trabalhos de 
alta complexidade. Por outro lado, as sociedades humanas desenvolveram uma 
capacidade sofisticada de linguagem — que não se repete nas demais espécies 
animais — marcada por reprodução instintiva no decurso de sua existência. 
A linguagem constitui um sistema simbólico, sendo o ser humano o único 
animal capaz de produzir símbolos e, por isso, cultura. Desse modo, devido ao amplo 
universo da linguagem, o aparato cultural é formado tanto por elementos tangíveis, 
que são materiais (caso das máquinas, galpões, automóveis, geladeiras, entre tantos 
outros que fazem parte da vida material de uma sociedade), quanto intangíveis, ou 
seja, imateriais e abstratos (como o próprio sistema simbólico de uma sociedade, a 
arte e os sistemas de valores, entre outros). 
Diante de uma gigantesca profusão de aspectos e práticas culturais, elencá-los 
seria deveras extensivo, de modo que se optou aqui por reproduzir uma lista enxuta e 
muito eficaz elaborada por Reinaldo Dias (2004), em um texto didático e fluente: a 
cultura é transmitida pela herança social e compreende a totalidade das criações 
humanas; é exclusiva das sociedades humanas e interfere no modo de ver o mundo; 
trata-se, portanto, como já dito, de um mecanismo de adaptação. 
Dentro de um gigantesco e incontável número de manifestações concretas da 
cultura, destacamos alguns, tendo como eixo o mundo da estética, tal qual a arte, a 
arquitetura e a moda. A moradia constitui uma manifestação subordinada à 
organização da vida material de uma sociedade. Tomemos como exemplo a cozinha 
da casa brasileira: se no início do período colonial, em São Paulo, a cozinha 
bandeirante em geral se localizava apartada do corpo da casa, no Brasil 
contemporâneo, esse cômodo ganhou centralidade, funcionando como lócus de 
convívio e integração socioespacial. 
 
23 
 
A estética, ou seja, os conceitos do belo, corresponde a uma das manifestações 
mais fundamentais da cultura. Assim, a fachada de uma edificação, por exemplo, é 
diferenciada ao longo do tempo e do espaço, estando associada a variáveis como 
economia, natureza e praticidade. O conteúdo estético, porém, que é intangível, faz-
se sempre presente. (DIAS, 2004). 
Hábitos alimentares são traços culturais constitutivos e distintivos das 
sociedades humanas. Em tempos de globalização, com o aumento e a diversificação 
da produção do alimento, em virtude de recursos tecnológicos, surgem cozinhas high-
tech, ocorrendo uma “gourmetização” da prática social de se produzir o alimento. 
Além de se tratar de um traço cultural fundamental, a arte é uma manifestação 
que, de algum modo, permeia todas as sociedades. Trata-se de uma prática 
complexa, carregada de materialidade e imaterialidade, a qual, ao mesmo tempo, 
sofre modulações no tempo e no espaço, sendo uma manifestação estética por 
excelência — a despeito de seu conteúdo técnico e tecnológico, a própria arquitetura 
contempla a arte em sua constituição. 
Outra manifestação cultural muitíssimo significativa é a vestimenta, um hábito 
social recorrente na esmagadora maioria das sociedades. A prática é embasada por 
diversos fatores, como os julgamentos morais, no caso do sentimento de pudor (no 
Brasil, o “atentado ao pudor” é uma atitude desviante socialmente); o fator estético-
mercadológico, no caso da moda, e o psicossocial, no caso de tratar-se de uma forma 
de ser externada a individualidade — vale a pena lembrar que, no caso da moda, o 
corte de cabelo ou a maquiagem são desdobramentos práticos da manifestação 
estética da cultura. 
 
 
Fonte: https://www.netmundi.org/24 
 
5 O QUE É IDENTIDADE DE UMA CULTURA? 
No planeta em que vivemos, somos todos diferentes. Porque cada um de nós 
ocupa um espaço no mundo, tanto geograficamente como socialmente. E isso nos 
permite acessar certos elementos culturais que, se estivéssemos em outro lugar de 
outra forma, não acessaríamos. Assim, vamos construindo a nossa identidade na 
sociedade, e nos percebendo como parte da cultura, ao mesmo tempo em que 
alimentamos essa própria cultura. 
Para o sociólogo Manuel Castells (2008), a identidade é fonte de significados 
e experiências de um povo, de uma nação, de uma etnia, de um grupo social que se 
arquitetam por meio de atributos culturais partilhados, como, por exemplo: língua, 
dança, música, alimentação, crenças, valores, entre outros. Todos esses elementos 
configuram o modo de um grupo social ser e se apresentar para o mundo, podendo 
ter algumas características específicas os quais caracterizam ou ainda mesmo 
dividem alguns desses elementos com outras sociedades. 
Portanto, a identidade se refere à como você é identificado em uma 
determinada cultura, ou seja, ela apresenta suas características em termos do seu 
reconhecimento no mundo. Deste modo, você é percebido pelos outros a partir dos 
elementos culturais que manifesta ao mundo, e, por isso, você é reconhecido. 
Assim, não é sempre que temos o controle sobre como as pessoas nos rotulam. 
Podemos dizer que esses rótulos são dados a partir de características as quais os 
outros reconhecem em nós. Em relação a um time, a um gosto musical ou mesmo a 
estilo de vestimenta, podemos tomar decisões conscientemente de como gostaríamos 
de ser reconhecidos, entretanto, em relação a outras características nossas, como a 
altura, a cor da pele ou mesmo condição social, talvez não tenhamos o mesmo 
controle. Muitas vezes, não vamos simpatizar com os rótulos que são identificados em 
nós. 
Ao mesmo tempo, a identidade pode ser partilhada com quem vive da mesma 
forma que você, seja quando assuma certas posições, seja por conviver em uma 
mesma situação de faixa etária, de gênero, ou mesmo vivenciando a mesma 
enfermidade. Essa partilha se realiza por meio dos elementos culturais que o indivíduo 
divide, conscientemente ou não, com a sociedade a qual ele pertence. Assim, a 
identidade individual se constrói em meio a identidade coletiva e vice-versa. 
 
25 
 
Conceituando cada termo, podemos dizer que a identidade individual alude aos 
aspectos culturais aos quais cada pessoa se reconhece como tal, seja por gosto 
musical, religioso, profissional, entre outros. Esses aspectos podem ser definidos 
pelas próprias pessoas ou serem percebidos pelos outros como algo que a diferencia 
do restante da sociedade. Portanto, um conjunto de pessoas pode constituir uma 
identidade coletiva, uma vez que se reconheçam com algo em comum, seja por ter 
nascido no mesmo estado, por partilhar a mesma língua ou por gostar do mesmo time. 
De qualquer modo, compreende-se que identidade de uma etnia, de um povo, 
de um grupo social é sempre relacional, como nos lembra Barth (1998). Pois o que é 
construído em uma nação se dá a partir de elementos culturais aceitos ou negados 
em relação a identificação de outros grupos, podendo modificar-se com o tempo ou 
até mesmo como é percebido em relação a outros indivíduos ou grupos. 
Assim, podemos dizer que a identidade de uma sociedade se dá justamente na 
relação que ela tem com outros grupos sociais a sua volta. Pois, dependendo de quem 
está por perto, são escolhidas características culturais para evidenciar como essa 
sociedade pode ser localizada, percebida e analisada. Pode-se destacar um prato 
típico, uma culinária específica, uma dança tradicional, componentes linguísticos 
próprios, as formas de se vestir, entre outros. 
Logo, os elementos que definem a identidade podem ser variados e complexos, 
de modo que o conjunto deles é que modelam e identificam os grupos e os indivíduos, 
como reforça Castells (2008, p. 23): 
 
A construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história, 
geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória 
coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de 
cunho religioso. Porém, todos esses materiais são processados pelos 
indivíduos, grupos sociais e sociedades, que organizam seu significado em 
função de tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura 
social, bem como em sua visão tempo/espaço. 
 
Assim, mostra-se que a identificação por meio da identidade se dá por um 
composto de elementos que, conjuntamente, definem aspectos culturais dos 
indivíduos ou grupos sociais. Ao mesmo tempo, alguns aspectos culturais que 
conformam a identidade podem ser modificados com o passar dos tempos pela 
dinamicidade em questão, como povos indígenas originários de determinado lugar e 
que mudam de local de moradia devido à escassez de alimento. 
 
 
26 
 
5.1 Conceituando a ideia de identidade nacional 
Falando mais especificamente das nações e da construção de identidade 
nacional, podemos dizer que o sentimento de um povo é construído com base em 
suas lutas sócio-históricas, evidenciando suas conquistas e os melhores feitos diante 
de disputa com outras nações como produto de uma memória coletiva e seletiva de 
fatos vividos que orgulhem seu povo. Esse sentimento de identidade de um povo une 
os membros de um mesmo grupo social, reproduzindo e reforçando suas práticas 
sociais, que os identificam entre outras partes do mundo. 
Assim, a língua, o local e a história podem consolidar a imagem que se tem de 
uma nação, fazendo com que os indivíduos que lá estão se sintam parte integrante de 
uma sociedade ou nação. Como nos lembra Reinheimer (2007, p. 166), “[...] a 
identidade nacional precisa ser observada a partir das situações específicas nas quais 
ela foi acionada como forma de escapar à naturalização e à reificação que o conceito 
pode acarretar.”. Ou seja, para pensar em identidade nacional, temos de pensar em 
que sentido ela foi acionada e como podemos elucidar os componentes que 
identificam a nação, de modo que os membros da sociedade em questão se 
reconheçam através desses elementos. 
Também podemos dizer que a identidade também pode ser disputada, já que 
o modo como as indivíduos e grupos são reconhecidos no mundo permitem diferentes 
acessos ao que está disponível no mundo. Ou seja, ser percebido como uma nação 
rica, segura e poderosa pode facilitar relações comerciais com outros países, 
enquanto que, ser considerada uma nação violenta e pobre, pode não ter a mesma 
facilidade. Todavia, como a identidade não é estática, a nação rica tem que continuar 
se esforçando para manter o modo como é vista, e a nação desfavorecida vai tentar 
transformar a forma como é percebida pelas outras sociedades. 
Interessa para Barth (1998) pensar essas “fronteiras étnicas” de um grupo 
social com o objetivo de compreender as dinâmicas do grupo que estão, 
constantemente, em interação com outros grupos, pois é por meio desse contato que 
a sua identidade é definida. Nesse sentido, cada grupo evidencia o que é diferente 
entre eles a fim de caracterizar e explicitar a especificidade que compartilha entre seus 
membros. Assim, essas características são como uma marca que rotulam o indivíduo 
ou grupo social. 
 
27 
 
Para além da questão econômica, há um conjunto de sentimentos que fazem 
com que seus membros se identifiquem com o seu país, favorecendo a integração 
nacional enquanto território reconhecido pela nação como tal. Nesse sentido, a união 
das partes territoriais integradas favorece que seus habitantes tenham consciência de 
unidade. Esse amálgama decorrente da convivência no mesmo território evidencia a 
nação. Como diz Moreno (2014, p. 18), a nação seria: 
 
[...] uma “comunidade imaginada” – como o são todas as sociedades, 
necessariamente, uma estrutura social e umartifício de imaginação 
(Balakrishnan, 2000, p. 216) – e alicerçada sobre as transformações geradas 
por novas relações sociais de produção que despontam com a modernidade. 
 
Nesse sentido, o que se entende por nação não é algo homogêneo e pronto, 
mas perpassa conquistas, disputas e contestações que o próprio povo vivenciou a 
favor da constituição e da construção de uma identidade comum. Também não quer 
dizer que todos os membros tenham uma identidade única. Eles partilham sobre o que 
é seu patrimônio cultural, os seus hábitos e modos de vida, o território em que estão 
aglutinados, entretanto, podem ter diferenças claras no que refere à gênero, raça e 
classe. Desse modo, vemos que um povo destaca sua semelhança quando é preciso 
lutar pelo bem comum, mas que os seus membros podem ser diferentes e ocupar 
posições sociais desiguais. 
Importa como falam de sua nação e como constroem a sua identidade nacional 
a partir do que tem em comum. Dependendo do que viverem juntos, esse discurso 
pode ser modificado, alterado e até mesmo corrompido. Logo, para refletir sobre 
identidade nacional, devemos analisar como diz Moreno (2014, p. 27-28): 
 
Na atualidade, há, portanto, que se considerar uma longa trajetória de 
discursos de identidade nacional, veiculados no decorrer do tempo, que 
funcionam como uma história incorporada a qual não se pode desprezar. [...] 
A eficácia discursiva, simbólica e política de novas representações 
identitárias dependerá do diálogo estabelecido com elementos de 
permanência de longo prazo, dentro das condições e limites dados por 
conjunturas específicas. 
5.2 Refletindo sobre a identidade brasileira 
No Brasil, a identidade nacional vem acompanhada de um sentimento comum 
entre os brasileiros. São aproximadamente 200 milhões de pessoas habitando um dos 
25 estados ou o Distrito Federal. Apesar das especificidades regionais, esses 
 
28 
 
habitantes dividem a mesma língua, a mesma história e alguns aspectos culturais, 
como vamos caracterizar adiante. 
A identidade brasileira é compartilhada entre quem habita, ou possui laços, com 
a cultura vivenciada no Brasil. Também aqueles nascidos no país e que imigram para 
outras partes do mundo se reconhecem como brasileiros, ou ainda estrangeiros que 
vieram para cá e compartilham da identidade dos brasileiros, por estarem aculturados. 
O território brasileiro foi ocupado pela colonização portuguesa a partir de 1500, 
em meio a disputas do espaço com povos indígenas e outros países que tentaram 
colonizar o local, como a Espanha, Holanda e França. Diante do poderio de armas de 
fogo dos portugueses e da organização político-econômica, escravizou-se os povos 
indígenas e ainda trouxeram negros escravizados do Continente Africano. Assim, a 
formação do povo brasileiro foi constituída por povos dessas três origens: indígenas, 
europeus e africanos. 
Entre disputas e conquistas, cada povo que firmou morada no Brasil colaborou 
na conformação do que hoje é entendido como o povo brasileiro, contribuindo, assim, 
com diversos elementos culturais que, atualmente, identificam a nossa cultura e a 
nossa identidade. Seja através da língua que falamos, da comida que comemos, do 
modo como nos vestimos, das religiões que temos, das músicas que escutamos, dos 
esportes que praticamos, partilhamos e dividimos aspectos comuns da cultura. 
Inúmeros exemplos podem definir o que faz o brasileiro um brasileiro, 
entretanto, podemos evidenciar alguns aspectos que Roberto Da Matta (1986, p. 14) 
elucida em um dos seus textos iniciais sobre o tema: 
 
Sei, então, que sou brasileiro e não norte-americano, porque gosto de comer 
feijoada e não hambúrguer; porque sou menos receptivo a coisas de outros 
países, sobretudo costumes e ideias; porque tenho um agudo sentido de 
ridículo para roupas, gestos e relações sociais; porque vivo no Rio de Janeiro 
e não em Nova York; porque falo português e não inglês; porque, ouvindo 
música popular, sei distinguir imediatamente um frevo de um samba; porque 
futebol para mim é um jogo que se pratica com os pés e não com as mãos; 
porque vou à praia para ver e conversar com os amigos, ver as mulheres e 
tomar sol, jamais para praticar um esporte; porque sei que no carnaval trago 
à tona minhas fantasias sociais e sexuais; porque sei que não existe jamais 
um “não” diante de situações formais e que todas admitem um “jeitinho” pela 
relação pessoal e pela amizade; porque entendo que ficar malandramente 
“em cima do muro” é algo honesto, necessário e prático no caso do meu 
sistema; porque acredito em santos católicos e também nos orixás africanos; 
porque sei que existe destino e, no entanto, tenho fé no estudo, na instrução 
e no futuro do Brasil; porque sou leal a meus amigos e nada posso negar a 
minha família; porque, finalmente, sei que tenho relações pessoais que não 
me deixam caminhar sozinho neste mundo, como fazem os meus amigos 
americanos, que sempre se veem e existem como indivíduos! 
 
29 
 
 
Logo, é preciso dizer que não precisamos partilhar de todos elementos da 
cultura nacional para termos uma identidade brasileira. Não é por que somos 
brasileiros que gostamos de carnaval ou mesmo de futebol, mas ao compartilharmos 
nossa história, nossa língua e aspectos da cultura partilhamos de um sentimento 
nacional, de um discurso específico, de uma sensação comum que nos torna 
pertencentes a identidade brasileira. (BARROSO, 2018). 
A identificação e a valorização dessa identidade estabelecem uma integração 
nacional pela qual seus membros lutam e defendem suas fronteiras. Na escola, somos 
estimulados a cantar o hino nacional e a ter respeito pela bandeira que nos representa. 
Então, de forma consciente e inconsciente, vamos aderindo e adorando a pátria. 
A identidade individual é perpassada pela identidade nacional, de modo que, 
enquanto construímos a nossa identidade, estamos construindo essa identidade 
coletiva também. Assim, quando vamos para outros países, carregamos conosco a 
identidade nacional, e mesmo que não sejamos iguais a todos os brasileiros, 
reconhecemos elementos culturais comuns entre aqueles que tenham habitado 
qualquer parte do Brasil. (BARROSO, 2018). 
 
 
Fonte: https://baurutv.com/ 
 
30 
 
6 DESIGUALDADE, DIVERSIDADE E DIREITOS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 
A desigualdade sempre existiu na sociedade brasileira. Na atualidade, ela ainda 
se mantém muito presente e expressiva. Além disso, se configura como algo 
multidimensional, transversal e durável. Como você sabe, a desigualdade se 
manifesta de diversas formas. Uma delas é no acesso aos direitos. Nos últimos anos, 
muito se evoluiu em termos de garantias asseguradas constitucionalmente. No 
entanto, considerando a baixa aplicabilidade dos direitos, legislações complementares 
foram criadas a fim de preencher a lacuna entre o que está no papel e o que acontece 
na prática. 
6.1 A desigualdade no acesso aos direitos no Brasil do ponto de vista histórico 
Do ponto de vista histórico, a desigualdade está intimamente relacionada ao 
desenvolvimento da humanidade e às relações de poder. Inicialmente, os homens 
utilizavam a força e a inteligência para se sobressair por meio de atitudes de liderança, 
começando a estabelecer situações de desigualdade. Com o passar do tempo e a 
evolução da humanidade, as relações também foram sofrendo alterações. As 
desigualdades existentes passaram a refletir a forma como as sociedades se 
organizam. 
O tema ganhou mais complexidade com o advento do capitalismo e a 
consolidação da industrialização. Você deve notar que até então a desigualdade 
presente nas sociedades pautava-se, basicamente, nas relações entre os que 
detinham o poder e aqueles que estavam em uma condição de subalternidade. Com 
a industrialização (século XVIII), alteram-se essas relações, pois amplia-se o comércio 
em nível mundial. Assim, se define uma condição bastante solidificada no mercado de 
trabalho, que é a relação entrepatrão e empregado. 
Nessa perspectiva de industrialização, expandem-se o capitalismo e a 
necessidade de acumular lucro e capital a todo custo. Então, se estabelecem 
diferenças importantes entre os detentores do capital e os vendedores da força de 
trabalho. Os trabalhadores possuem apenas a força de trabalho e pouco acesso à 
renda, ficando na parte inferior da relação com os empregadores. A desigualdade 
social fica evidente nesse contexto marcado pela diferença econômica, uma vez que 
 
31 
 
os trabalhadores não acessam o capital. Marx (1988) considera a desigualdade como 
fruto da sociedade capitalista e da relação de classes. Nesse contexto, a classe 
empregadora utiliza a condição gerada pelas desigualdades para estabelecer ainda 
mais poder sobre a classe trabalhadora. 
Como você viu, a desigualdade basicamente sempre existiu. Na atualidade, ela 
é bastante expressiva, além de multidimensional, transversal e durável. Segundo 
Scalon (2011), é por essas razões que discutir a desigualdade na sociedade atual é 
essencial, considerando suas inúmeras dimensões e consequências. Ainda de acordo 
com Scalon (2011, p. 50): 
 
[...] sabemos que a desigualdade não é um fato natural, mas sim uma 
construção social. Ela depende de circunstâncias e é, em grande parte, o 
resultado das escolhas políticas feitas ao longo da história de cada 
sociedade. Mas também sabemos que todas as sociedades experimentam 
desigualdades e que estas se apresentam de diversas formas: como 
prestígio, poder, renda, entre outras — e suas origens são tão variadas 
quanto suas manifestações. O desafio não é apenas descrever os fatores e 
componentes das desigualdades sociais, mas também explicar sua 
permanência, e em alguns casos seu aprofundamento, apesar dos valores 
igualitários modernos. 
 
Scalon (2011) também diz que, no caso do Brasil, chama a atenção o fato de a 
desigualdade resistir ao tempo e ao processo de modernização da sociedade. A 
autora ainda esclarece que é preciso considerar a desigualdade como um problema 
político que mantém relação direta com a democracia, a justiça social e a igualdade 
de oportunidades. Nesse sentido, não haverá democracia se não houver uma atenção 
mais focalizada para o problema das desigualdades sociais. Afinal, “[...] a igualdade 
pode ser considerada um dos atributos básicos da cidadania, considerada em seu 
sentido mais amplo como acesso a direitos” (SCALON, 2011, p. 51). 
A igualdade está assegurada na Constituição Federal de 1988, entretanto “[...] 
a lei só pode ser garantida de maneira eficiente quando sustentada pela igualdade 
nas chances de vida, que assegura tanto a possibilidade como a liberdade de escolha 
e a utilização plena das capacidades dos atores sociais” (SCALON, 2011). A grande 
questão é que isso não acontece de fato, dada a dimensão que as desigualdades 
sociais assumem no Brasil, impactando questões essenciais, como a efetivação da 
democracia e da justiça social, e transitando por aspectos relacionados à ética e à 
moral. 
 
32 
 
Faleiros (2014) destaca que, na sociedade capitalista, as demandas por 
serviços sociais demonstram as desigualdades econômicas, as situações de 
inclusões ou exclusões. Para o autor, essas: 
 
[...] são demandas complexas tanto pela efetivação de direitos como por 
cuidados específicos que exigem dos profissionais a análise das relações 
gerais e particulares dessas condições e do poder de enfrentá-las, o que 
implica trabalhar a correlação de forças (FALEIROS, 2014, p. 708) 
 
Netto (2007) aponta que as desigualdades sociais se expressam basicamente 
nas variadas manifestações da Questão Social, área da qual surgem as principais 
atuações do Serviço Social. Do ponto de vista histórico, Netto (2007) registra que há 
poucos países na América Latina e no mundo tão desiguais como o Brasil. O autor 
afirma que, no Brasil, “[...] em 1999 os 10% mais ricos se apropriam de 47,4% da 
renda nacional, cabendo aos 50% mais pobres apenas 12,6% dela e, particularmente, 
que o 1% mais rico se apropria de mais que os 50% mais pobres” (NETTO, 2007, p. 
140). 
Ele ainda acrescenta outra informação: 
 
[...] o panorama da propriedade fundiária é emblemático dos suportes da 
desigualdade brasileira: há 10 anos, e este quadro não mudou em nada, 75 
propriedades rurais detinham 7,3% [...] das terras totais do país, enquanto 
75% das propriedades rurais permaneciam com somente 11% das terras 
agricultáveis (NETTO, 2007, p. 140). 
 
O autor destaca ainda que a desigualdade é um problema recorrente na maior 
parte das sociedades. No entanto, ela apresenta características diferenciadas no 
conjunto das sociedades capitalistas. 
As desigualdades sociais há tempos estão presentes na sociedade brasileira. 
Scalon (2011, p. 52) destaca a relação entre a desigualdade e a pobreza. Embora 
tenham conceituações distintas, elas são fortemente relacionadas, “[...] na medida em 
que as disparidades nas chances da vida acabam por determinar as possibilidades de 
escapar de situações de privação e vulnerabilidade”. Scalon (2011) aponta ainda que 
é ingenuidade acreditar que pobreza e desigualdade podem ser eliminadas apenas 
com “interesse político” ou mediante redistribuição de recursos entre ricos e pobres. 
A melhor alternativa, segundo a autora, para enfrentar tais questões, é a educação, 
 
33 
 
pois somente ela permitiria o acesso a melhores condições de trabalho e melhor 
remuneração. 
6.2 A conquista de direitos no Brasil 
O Brasil possui um aparato legal que busca assegurar os direitos de todos os 
indivíduos residentes no território nacional. No entanto, o tema direitos é ainda 
bastante controverso, especialmente na sociedade neoliberal, marcada pela 
diversidade e pela desigualdade. Analisando o contexto histórico, se pode inferir que 
os direitos, mais especificamente os direitos humanos, têm sua origem nas lutas 
burguesas, com a Revolução Francesa, considerada o marco cronológico desses 
direitos. 
A Revolução Francesa é um marco para o advento do capitalismo. Ela 
representa a luta da burguesia pela liberdade, no sentido exclusivo de comprar e 
vender produtos com mais liberdade. Assim, os direitos que surgem estão vinculados 
à ideia de liberdade e de propriedade, em consonância com o sistema neoliberal. A 
liberdade defendida pelos burgueses não era para toda a sociedade, e sim limitada 
aos considerados cidadãos. Os direitos dessa época fazem parte da primeira 
geração de direitos e ficaram conhecidos como direitos individuais. 
No percurso histórico, mudanças foram ocorrendo no sistema capitalista. Com 
a Revolução Industrial, os trabalhadores também começaram a lutar pelos seus 
direitos, contrapondo-se à restrição dos direitos a uma classe. Nessa perspectiva, 
surge a segunda geração dos direitos humanos, os chamados direitos sociais e 
políticos. É o caso de direito à moradia, ao voto, à participação na vida pública, entre 
outros. 
Mediante o acirramento da luta de classes, os trabalhadores começaram a lutar 
por direitos mais específicos, aqueles das chamadas “minorias sociais”, ou seja, 
grupos considerados em situação mais desfavorecida. Como exemplos de minorias, 
você pode considerar: mulheres, pessoas com deficiências, grupos LGBT e outros. 
Tais grupos necessitavam que suas necessidades fossem, de fato, asseguradas. Os 
direitos das minorias são os mais discutidos na atualidade, recebendo uma atenção 
mais específica. 
 
34 
 
Os direitos não são pensados e construídos de uma única vez. Eles ganham 
forma conforme a sociedade humana vai se desenvolvendo e suas necessidades, 
surgindo. Assim, para compreender o significado que os direitos têm na atualidade, é 
essencial verificar como foram observados em épocas passadas. 
Isso posto, considere agora a evolução da legislação brasileira, tomando como 
ponto de partida a Constituição Federal de 1988, que apresenta os direitos e deveres 
dos cidadãos e pauta-seem valores de equidade e direitos universais. Além disso, a 
Constituição reafirma conquistas transformadas em direitos sociais nas áreas de 
saúde, assistência social, educação, previdência, trabalho, entre outras (PIANA, 
2009). Conhecida como Constituição Cidadã, recebeu essa denominação: 
 
[...] em virtude da inclusão, como direitos fundamentais, de uma série de 
direitos sociais que a colocaram em contemporaneidade com os anseios da 
sociedade brasileira, após 42 anos de vigência da Constituição Federal de 
setembro de 1946, última promulgada sob regime democrático (OLIVEIRA, 
2011, p. 6). 
 
Ainda segundo o autor: 
 
Criticada por uns, pelo detalhismo de suas disposições, justifica-se essa sua 
característica pela tradição de alto grau de descumprimento da legislação 
ordinária no país, a exemplo do que ocorre com a legislação trabalhista criada 
nas décadas de 1930 e 1940 e inscrita na Consolidação das Leis do Trabalho 
— CLT —, cujo cumprimento ainda é motivo de frequentes demandas 
judiciais por parte dos trabalhadores (OLIVEIRA, 2011, p. 6) 
 
Isso evidencia que o País possui um aparato legal muito completo e detalhado. 
No entanto, boa parte das leis ainda não são aplicadas como deveriam e como está 
expresso na Carta Magna. Por isso, tem-se verificado, nos últimos tempos, a 
necessidade de estabelecer leis complementares para garantir direitos já previstos na 
Constituição. Os avanços na legislação somente foram possíveis graças à 
organização e à mobilização de vários segmentos da sociedade, desde a década de 
1970 (OLIVEIRA, 2011). 
Vários grupos mereceram atenção na legislação posterior à Constituição 
Federal de 1988, mas destaca-se aqui a situação dos trabalhadores. Para esse 
grupo, foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1988) e outros direitos 
sociais assegurados constitucionalmente. É o caso do direito contra a dispensa 
injustificada (partindo do princípio de que o empregador possui superioridade em 
relação ao trabalhador), do seguro-desemprego, do fundo de garantia por tempo de 
 
35 
 
serviço e outros. Recentemente, algumas mudanças foram realizadas na legislação 
trabalhista, nem todas favoráveis ao trabalhador. 
Ao longo do tempo, outros grupos foram tendo seus direitos esmiuçados em 
leis complementares, mediante luta e mobilização dos grupos sociais. A Lei nº 8.069, 
de 13 de julho de 1990, é um exemplo de lei complementar, que detalha o art. 227 da 
Constituição Federal. Essa lei define os direitos das crianças e adolescentes, 
indicando quem deve aplicá-los e como são efetivados na prática. Assim, trata-se de 
um conjunto de normas que busca assegurar a proteção integral da criança e do 
adolescente. Entende-se como criança a pessoa com até 12 anos de idade 
incompletos, e adolescente, aquela que tem entre 12 e 18 anos de idade. Em seu art. 
3º, o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura que a criança e o adolescente 
gozem de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana (assegurados 
na Constituição Federal), mas sem os prejuízos da proteção integral de que trata essa 
lei. Isso implica dizer que crianças e adolescentes devem ser protegidos pelo Estado, 
pela família e pela sociedade com absoluta prioridade (BRASIL, 1990). 
Ao segmento idoso também foi assegurada atenção especial e houve evolução 
dos direitos ao longo do tempo. O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º de outubro 
de 2003) foi criado para regular os direitos das pessoas com 60 anos ou mais. Além 
de estabelecer os direitos e as responsabilidades na efetivação da proteção dos 
direitos dos idosos, o Estatuto assegura a prioridade do atendimento em órgãos 
públicos e privados, estabelecendo prioridade especial aos maiores de 80 anos. De 
forma geral, o Estatuto estabelece que o idoso goze de todos os direitos fundamentais 
da pessoa humana, sem prejuízo dos demais direitos previstos na lei (BRASIL, 
2003a). 
O Brasil também avançou na promoção dos direitos das pessoas com 
deficiência, por meio de políticas que as valorizam enquanto cidadãs, respeitando 
suas características e sua condição. Um desses avanços está materializado no 
Estatuto da Pessoa com Deficiência, a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146, de 6 
de julho de 2015). Essa lei se destina “[...] a assegurar e promover, em condições de 
igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com 
deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania” (BRASIL, 2015, documento on-
line). Para tanto, se considera pessoa com deficiência: 
 
 
36 
 
[...] aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, 
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras pode 
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de 
condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015, documento on-line). 
6.3 Conquistas e retrocessos nos direitos 
No que se refere aos direitos relacionados às diferentes etnias, você pode 
considerar que houve um avanço importante na legislação, especialmente no que se 
refere aos direitos dos negros e índios. Quanto aos negros, é preciso considerar as 
situações vivenciadas pelos seus antepassados na época da escravidão, bem como 
todo o sofrimento e as situações de precariedade enfrentadas. Somente séculos 
depois algo de efetivo começou a ser feito para essa população. Nesse sentido, Vieira 
(2013, p. 1) aponta: 
 
A situação da população negra na sociedade brasileira, vitimada em especial 
pela violência do preconceito histórico-cultural, pela discriminação sócio-
racial e pela exclusão econômica na sua interação com os outros segmentos 
da população brasileira, se baseia na hipótese de que as posturas racistas 
ainda existentes em nossa sociedade foram e ainda são reforçadas pelo 
desconhecimento da formação e das origens históricas, sociais e culturais 
que fundaram o Estado brasileiro e, sobretudo, do esquecimento por parte do 
Estado em relação à população negra brasileira. 
 
Nessa perspectiva, pequenos passos começaram a ser dados com a 
Constituição Federal de 1988, que assegura o direito à igualdade de condições de 
vida e de cidadania. Além disso, ela garante igual direito às histórias e culturas que 
compõem a nação brasileira, bem como o direito de acesso às diferentes fontes da 
cultura nacional a todos os brasileiros (BRASIL, 1988). Algumas legislações 
posteriores, especialmente na área da educação, buscam oferecer uma resposta à 
demanda da população afrodescendente por meio do desenvolvimento de ações 
afirmativas para reparar possíveis prejuízos sofridos ao longo do tempo, reconhecer 
e valorizar a sua história, a sua cultura e a sua identidade. 
Nessa perspectiva, a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabelece a 
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afrodescendente na educação básica 
(BRASIL, 2003b). Tal iniciativa se faz necessária para que o Estado e a sociedade 
adotem medidas para ressarcir os descendentes de africanos negros dos danos 
psicológicos, sociais, materiais, políticos e educacionais vivenciados no regime 
escravista. Sem a intervenção do Estado, dificilmente as desigualdades e injustiças 
 
37 
 
seriam rompidas. Elas permaneceriam fundadas em preconceitos e na manutenção 
de privilégios para poucos. 
Situação semelhante à vivenciada pela população negra é a da população 
indígena, que sofreu com o processo de colonização e até hoje se encontra muito à 
margem da sociedade e do acesso aos direitos. A Constituição Federal de 1988 
reconhece o respeito às formas de organização próprias dos povos indígenas, além 
de suas crenças, costumes, usos e tradições. Além disso, reconhece os direitos 
originários dos povos indígenas sobre suas terras. Além da Constituição Federal de 
1988, o Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004, da Organização Internacional do 
Trabalho, assegura o direito à autonomia dos povos indígenas no sentido de garantir 
o respeito às formas

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