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ARTICULAÇÃO POT I - GABRIEL ELYFRAN OLIVEIRA BONFIM

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH 
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA 
CURSO: PSICOLOGIA
GABRIEL ELYFRAN OLIVEIRA BONFIM
ARTICULAÇÃO DO FILME VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI (2020) COM OS TEXTOS APRESENTADOS NA DISCIPLINA
 DISCIPLINA: PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO I 
 PROFESSORA: CARLA VAZ 
São Luís 	
 2021
 
 UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH 
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA 
CURSO: PSICOLOGIA
GABRIEL ELYFRAN OLIVEIRA BONFIM
ARTICULAÇÃO DO FILME VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI (2020) COM OS TEXTOS APRESENTADOS NA DISCIPLINA
 DISCIPLINA: PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO I 
 PROFESSORA: CARLA VAZ 
	Trabalho apresentado à disciplina de Psicologia Organizacional e do Trabalho I do curso de Psicologia, como requisito para a obtenção de nota da primeira unidade.
Orientadora: Profª Drª Carla Vaz Dos Santos Ribeiro.
São Luís 	
 2021 
O sistema capitalista de produção incorporou novos mecanismos de controle e, consequentemente, transformações no mundo do trabalho. Desse modo, neste modo de produção capitalista o trabalhador e sua relação com o sistema é visto como uma relação desigual, no qual o convívio entre proprietário e trabalhador se dá mediante a compra e a venda da força de trabalho, sendo que diariamente às situações causam estresse, ansiedade e problemas psicológicos, pois a busca incessante por mais produtividade é um fator preponderante para o adoecimento no trabalho. Demandas urgentes, prazos cada vez mais curtos e a pressão por bons resultados são uma constante no ambiente corporativo. Além disso, somado aos problemas pessoais e familiares, pode ser um agravante para a perda de produtividade e, por consequência, vínculos conflituosos na família e a redução da motivação do funcionário.
É nesse contexto que nos é apresentado o filme Você Não Está Aqui (Sorry We Missed You), um retrato triste, cruel, melancólico e real sobre o mundo do trabalho. Um mundo de aplicativos, startups e profissionais terceirizados que aborda o discurso de libertar o trabalhador: “você faz o seu próprio horário e é seu próprio chefe”. Como resultado, o funcionário trabalha mais, sem perspectiva de crescimento na função e não há garantia, tanto de direito ou proteção. Nessa perspectiva, segundo Dardot e Laval:
Contudo, do ponto de vista da relação conflituosa entre capital e trabalho, característica do capitalismo, entende-se que o empreendedorismo consiste em uma ideologia depositária de uma racionalidade neoliberal, cuja forma de disseminação por meio de discursos, imperativos e normas de conduta, acaba por naturalizar sua forma de dominação. A racionalidade neoliberal destrói regras, instituições e direitos para produzir certas formas de viver e de se relacionar com os outros e, por meio disso, fabricar um novo sujeito. (2016, p.19-20)
É desse modo que o filme nos guia para acompanhar o novo emprego de Ricky, ou melhor, um subemprego, ou ainda, uma uberização. Uberização que atravessa a todos, seja a Ricky e seus amigos, seja sua mulher no emprego de cuidadora. Aos poucos, vamos acompanhando a rotina e a degradação da vida proporcionado por essas novas formas de modalidades de trabalho, os conflitos na família, a desestabilização do casal e, principalmente, a corrosão do futuro, como, por exemplo, o filho que se convertia cada vez mais em um protótipo de marginal, pelo desamparo absoluto e pela falta de perspectiva. De acordo com Dardot e Laval:
 A subjetividade dos trabalhadores passa, então, a ser vista como uma
dimensão fundamental para a maximização da produção – sendo objeto
de tentativas de apropriação por parte da organização. Se, nos modelos
taylor-fordistas, os afetos, desejos e emoções eram negados, nos modelos
pós-fordistas passam a ser entendidos como ferramentas poderosas.
Deste modo, espera-se um trabalhador inteiramente implicado no
processo produtivo, não apenas com competência cognitiva, mas também
emocional. (2016, p.66)
Ao longo da trama, as promessas que dão uma ideia precipitada de ser seu próprio chefe, mas que por outro lado omite outra face, em que a pessoa se torna um escravo do sistema e que suas expectativas idealizadas não condizem com a realidade do ambiente corporativo. A desarmonização e desumanização, tanto na família e no ambiente de trabalho, respectivamente, reflete uma estrutura desumana, no qual pessoas trabalham de 12 a 15 horas por dia, numa situação irreversível sustentada por uma questão de sobrevivência. O tratamento humilhante corresponde à ideia de “funcionários são trocáveis”. Como explicam Dardot e Laval (2016), 
Este sujeito do desempenho governa-se de acordo com valores e princípios – competência, competitividade, capital humano maximizado, aprimoramento, eficácia, transformação contínua – como uma empresa de si mesmo, em um processo de racionalização até a dimensão mais íntima do sujeito: o desejo. Uma conciliação entre a subjetividade desejante e os objetivos da empresa, na identificação do sujeito psicológico com o sujeito da produção. (p.66)
Nesse viés, às condições de trabalho do proletário é ultrajante, degradante e indigno. Com a cidadania da maior parte da população mutilada pelos imperativos do mercado, a sociabilidade capitalista preconiza a ordem econômica desvinculada do tecido social. Assim sendo, o ser humano torna-se um mero resíduo de sua produtividade, isto é, uma preocupação secundária do sistema. A uberização, por exemplo, é um conceito que envolve e engloba os trabalhadores por aplicativo, setor em crescimento, já que em tempos de crise econômica e sem garantias de proteção social, como ilustrado no contexto do filme, impulsiona de maneira frenética e vertiginosa uma classe trabalha sem alternativas e perspectivas de melhores condições empregatícias. 
É fundamental termos em vista que a centralidade do trabalho na vida das pessoas torna mais fácil para os oligopólios da mídia burguesa e industrial cultural encobrirem a realidade material, banalizando e naturalizando os antagonismos de classe e omitindo às expectativas das massas populares. Sendo assim, não é incomum que a classe trabalhadora se identifique com o discurso burguês de classe dominante que fomenta o fetichismo da mercadoria, tal como as agências publicitárias que, do mesmo modo, infla o desejo da ascensão social individual, que incrementa poucos em detrimento do coletivo. Como sucinta Dardot e Laval (2016),
O capitalismo é indissociável da história de suas metamorfoses, de seus descarrilamentos, das lutas que o transformam, das estratégias que o renovam . A condição atual que sustenta o sistema capitalista é conhecida como neoliberalismo. Entendem o neoliberalismo como uma racionalidade, capaz de estruturar não só a ação dos governantes, como também as condutas dos governados. O neoliberalismo configura-se como um conjunto de discursos, práticas e dispositivos que determinam um novo modo de governo dos homens segundo o princípio universal da concorrência. A oposição entre Estado e mercado surge como um dos principais obstáculos à caracterização exata do neoliberalismo (p.16-17)
Tal afirmação, reflete nas relações interpessoais contribuindo diretamente no desgaste familiar. Assim é a vida do operário médio num mundo que substitui humanos por máquinas e desumaniza os que ainda garantem seus empregos. Há uma linha tênue entre observar o adolescente problemático como o centro dos problemas no filme, enquanto os que não visualizam que o desmonte do Estado do Bem Estar Social após sucessivos governos neoliberais na Inglaterra, que priorizam o trabalho, retiram direitos eburocratizam os serviços de assistência social para evitar “gastos”.
Dardot e Laval (2016) compreende,
Diferentes técnicas e procedimentos visam capacitar os indivíduos a um maior “domínio de si”. Estão normalmente relacionados a histórias, teorias e instituições, mas têm como ponto em comum o objetivo de fortalecer o eu, adaptá-lo melhor à realidade, torná-lo mais operacional em situações difíceis. Apresentam-se como saberes psicológicos, com um léxico especial, em autores de referência, metodologias particulares, tendo em vista reforçar uma argumentação racional e transformar os indivíduos por meio de um conjunto de premissas básicas. Todos estes métodos estão vinculados e servem para excluir a responsabilidade das normas da empresa no desempenho individual do trabalhador, alocando-as exclusivamente nos indivíduos. (p.28)
Nessa conjuntura a autonomia de Ricky logo se mostra uma ilusão. Para compensar algum tipo de ganho, que minimamente sustente sua família, ele precisa trabalhar por horas a fio, distanciando-se de sua família. Tom Slee (2017) diz que a chamada Economia do Compartilhamento promete "ajudar" indivíduos vulneráveis a assumir o controle de suas vidas, tornando-os microempreendedores. Contudo ela entrega outra coisa, ou seja, propaga um livre mercado inóspito e desregulado em áreas que antes eram protegidas, que condiz com um dos dilemas da contemporaneidade. 
Com estilo direto, naturalista e sem arroubos melodramáticos às sequências mais duras são as que mostram as condições abusivas às quais Ricky tem de se submeter a fim de continuar trabalhando para a empresa de entregas, controlada com mão de ferro pelo insensível Maloney (Ross Brewster). O dia a dia de Abby também não é nada fácil pois a cuidadora tem que lidar com pessoas com temperamentos e limitações diversas e sempre com muita paciência. Conciliar os problemas familiares com o trabalho duro é o grande desafio de ambos.
A atmosfera pesada do filme raramente cede lugar a momentos de refresco, de paz ou de conforto. Há uma cena, por exemplo, delicada em que uma das idosas penteia os cabelos de Abby e outra em que essa compartilha fotografias com outra cliente. Ricky também tem um dia um pouco mais leve quando um dia vai trabalhar levando Katie. No entanto, o que predomina aqui é uma sufocante sucessão de adversidades. Hamann (2012) refere-se a essa sufocantes sucessão de adversidades, como:
Enquanto isso, as mazelas sociais se transferem para o domínio pessoal: pobreza, degradação ambiental, desemprego, falta de moradia, racismo, sexismo e heterossexismo – todos esses aspectos são reinterpretados como questões privadas que deveriam ser atendidas pela caridade voluntária, pela mão invisível do mercado, pelo cultivo de “sensibilidades” pessoais em relação aos outros ou pelo fortalecimento da própria autoestima. (p.28)
Portanto, a sensação que fica no fim é que nenhum personagem vislumbra uma possível revolta ou tentativa de alteração do mundo tal qual é - o que é mais um efeito da desigualdade que parece reservar para cada pessoa um lugar fixo para habitar o mundo, tal como previu Kafka ao dizer que “há muita esperança no mundo, mas não para nós”. A cena final do filme é crua, assim como todo o contexto que nos apresentado sobre esse drama aflitivo. Logo, a secura do filme é espelhamento dessa vida robotizada e sem energia ocasionada por essa nova economia.
REFERÊNCIAS FINAIS
1. CARMO, L. J. O.; ASSIS, L. B. DE; GOMES JÚNIOR, A. B.; TEIXEIRA, M. B. M. O empreendedorismo como uma ideologia neoliberal.
Cadernos EBAPE.BR, v. 19, n. 1, p. 18-31, 8 mar. 2021.
2. FACAS, E. P. Sociedade da Performance e a falácia da liberdade no discurso neoliberal. .In: Psicopolítica e psicopatologia do
trabalho. Fernanda Sousa-Duarte; Ana Magnólia Mendes; Emílio Peres Facas (Orgs.) -- Porto Alegre, RS: Editora Fi,
2020.
3. VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI. Direção: Ken Loach. Produção da BBC Filmes. Reino Unido: Village Films, 2020.

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