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AULA MARCs Arbitragem Slide 3

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Profª Drª Maria Teresa de Souza Barboza 
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO 
DE CONFLITOS: Arbitragem 
Convenção arbitral e Cláusula arbitral 
As partes podem escolher entre as 2 espécies de arbitragem: 
 Arbitragem institucional ou administrada: quando existe uma instituição especializada que 
administra a arbitragem, com regras procedimentais acerca de acordo com a Lei de 
Arbitragem (Lei n. 9.307/96), como: 
Prazos. 
Forma da prática dos atos. 
Forma de escolha dos árbitros. 
Custos para a realização da arbitragem. 
Forma de produção de provas. 
 Arbitragem avulsa ou “ad hoc”: a arbitragem se realiza sem a participação de uma entidade 
especializada, podendo as partes dispor sobre a nomeação do árbitro (contratação) e sobre 
o procedimento a seguir no processo arbitral. 
 
 
 
 
Espécies de arbitragem 
 As instituições permanentes de arbitragem são organismos dos mais variados matizes que propiciam o 
desenvolvimento da arbitragem, seja através da edição de regras de procedimento, seja através do 
estabelecimento de tribunais arbitrais, seja favorecendo a pesquisa científica, também voltadas para o 
comércio internacional. 
 As atividades estão ligadas à organização de arbitragem, à pesquisa, à formação de árbitros, à 
divulgação dos meios alternativos de solução de controvérsias, dentre outras. 
 Órgãos arbitrais institucionais (citamos alguns): 
 Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional, International Chamber of 
Commerce (ICC), London Court of International Arbitration (LCIA), International Centre for Dispute of 
Resolution (ICDR): atua na organização e na tramitação do processo arbitral. 
 Juízo Arbitral da Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo, do Tribunal de Mediação, 
Conciliação e Arbitragem da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo ou Câmara de 
Mediação e Arbitragem do Instituto Brasileiro de Estudos do Direito da Energia (IBDE): órgãos de 
natureza corporativa, zelam por interesses de um setor, ramo ou profissão, que resolvem por meio 
da arbitragem. 
 Câmara de Comércio Brasil-Canadá, Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem Ciesp/Fiesp, 
Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil, Câmara de Arbitragem no Mercado (CAM), 
Câmara FGV de Conciliação e Arbitragem, Câmara de Arbitragem AMCHAM: atuam na arbitragem 
comercial de toda ordem. 
Órgãos arbitrais institucionais 
 Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem (CONIMA): sociedade civil, 
sem fins lucrativos, cujo principal escopo é o de agregar instituições de mediação e 
arbitragem, acompanhando o desempenho de tais instituições, promovendo e coordenando 
estudos e debates e promovendo o uso responsável e adequado das técnicas de solução 
extrajudicial de conflitos. 
 Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBAr): fundado em 2001, associação sem fins lucrativos, 
cuja principal finalidade é o estudo da arbitragem e dos métodos extrajudiciais de solução de 
controvérsias. 
 
Órgãos arbitrais institucionais de caráter científico 
 A convenção de arbitragem ocorre no âmbito contratual, quando as partes interessadas 
livremente convencionam que a solução para determinado litígio será pela via arbitral, isto é, 
as partes estabelecem a possibilidade alternativa e privada de solução de conflitos pela via 
da jurisdição arbitral. 
 Há duas espécies de convenção de arbitragem (Lei nº 9.307/1996, art. 3º): 
Cláusula compromissória e 
Compromisso arbitral. 
 Natureza jurídica de cláusula compromissória e compromisso arbitral, segundo Carlos 
Alberto Carmona 
 
“[...] a cláusula arbitral é um negócio jurídico processual, eis que a vontade manifestada pelas 
partes produz desde logo efeitos (negativos) em relação ao processo (estatal) e positivos, em 
relação ao processo arbitral (já́ que, com a cláusula, atribui-se jurisdição aos a árbitros). Com 
efeito, após o advento da Lei, cláusula e compromisso podem, indistintamente, instituir a 
arbitragem, deixando a primeira de ser mera promessa de celebrar o segundo, de modo que 
uma e outro são acordos mediante os quais renuncia-se à solução estatal de conflitos, em prol 
da atuação do juiz escolhido pelos litigantes: se na celebração do compromisso tem-se em 
mira um conflito atual, já́ existente, definido, na cláusula aponta-se para um litígio futuro, 
eventual, definível” (Arbitragem e processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. 3ª edição. São Paulo: Atlas, 2009, p. 69). 
Convenção de arbitragem (1/6) 
 Essas modalidades de negócio jurídico têm força vinculante para as partes e plena eficácia 
de eliminar a sujeição do litígio à Justiça Estatal. 
 
 O Código de Processo Civil obriga as partes a respeitarem a convenção de arbitragem. 
Se não respeitada a convenção de arbitragem e uma das partes ajuizar uma ação judicial 
permitirá à parte contrária requerer a extinção do processo sem resolução de mérito, em 
preliminar de contestação (CPC, arts. 337, X, e 485,VII). 
 
 A renúncia a justiça estatal em favor da justiça arbitral convencionada, somente ocorrerá se 
ambas as partes concordarem por esta última (CPC, art. 337, § 6º). 
 
Convenção de arbitragem (2/6) 
 Caso as partes, por livre e espontânea vontade, optarem por contrato, por escrito, pela 
solução arbitral, que substitui a via judicial, quando o objeto do conflito tratar de direitos 
patrimoniais disponíveis, fundamentada no princípio da autonomia da vontade das partes, 
que também poderão escolher a legislação à solução do litígio. 
 A Arbitragem poderá ser de direito ou de equidade (Lei n. 9.307/96, art. 2º). 
O árbitro autorizado a julgar por equidade pode mitigar a severidade da norma quando em 
dado caso concreto ocorra situação não prevista pelo legislador, tornando a incidência da 
norma injusta ou inadequada. 
Equidade “parecer coerente e justo ao árbitro” (SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Manual de Arbitragem: mediação 
e conciliação. 7ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 11). 
Para Miguel Reale explica equidade, “Há casos em que é necessário abrandar o texto, 
operando-se tal abrandamento através da eqüidade, que é, portanto, a justiça amoldada à 
especificidade de uma situação real” (Lições Preliminares de Direito, 27ª edição. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 326). 
 A arbitragem que envolva a administração pública será sempre de direito e respeitará o 
princípio da publicidade (Lei n. 9.307/96, art. 2º, § 3º). 
Convenção de arbitragem (3/6) 
 As partes têm liberdade de escolher o procedimento e a norma de direito material que serão 
aplicadas pelo árbitro na solução do litígio, desde que não haja violação aos bons costumes 
e à ordem pública (Lei n. 9.307/96, art. 2º, § 1º). 
 Limitação à escolha da regra aplicável: 
Bons costumes: são “princípios de conduta impostos pela moralidade média do povo 
(considerada indispensável para a manutenção da ordem social e para a harmonia nas 
relações humanas)” (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. 3ª edição. São Paulo: 
Atlas, 2009, p. 68-69). 
Ordem pública: norma cogente, aquela que não pode ser derrogada pelas partes, vez que 
sua aplicação interessa a toda a sociedade. São normas que “estabelecem os princípios 
cuja manutenção se considera indispensável à organização da vida social, segundo os 
preceitos de direito” (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. 3ª edição. São Paulo: 
Atlas, 2009, p. 69). 
o Exemplo: CF, art. 5º, “caput”, que determina a igualdade entre as partes. Logo, a 
solução arbitral não pode afrontar a igualdade. 
 Se as partes não escolherem o direito material a ser aplicado pelo árbitro, será utilizado o 
direito nacional, como determina a LINDB, art. 9º. 
Convenção de arbitragem (4/6) 
As partes também poderão convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de 
direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio (Lein. 9.307/96, art. 2º, § 2º). 
 Princípios gerais de direito: são “enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a 
compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de 
novas normas (REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito, 27ª edição. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 
304). 
 Usos e costumes: direito consuetudinário, ou melhor, “práticas reiteradas de agir que se consolidam com o 
tempo” (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. 3ª edição. 
São Paulo: Atlas, 2009, p. 72). 
 Leis internacionais de comércio. 
 “Lex mercatoria” é uma ordem jurídica singular, autônoma e aplicável especificamente nos negócios e 
transações internacionais, que possibilita adequadas soluções para as expectativas do comércio 
internacional. 
 Irineu Strenger apud Luiz Antonio Scavone Júnior, define “lex mercatoria” como “o conjunto de regras 
emanadas de entidades particulares, organismos internacionais, ou de origem convencional, de natureza 
‘quase legal’, que atua desvinculada das jurisdições específicas ou de sistemas legais de qualquer país” 
(Manual de Arbitragem: mediação e conciliação. 7ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 11). 
 Leis internacionais. 
 Leis corporativas. 
Convenção de arbitragem (5/6) 
 Segue jurisprudência sobre escolha das regras de direito aplicável à arbitragem: 
 
1º Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo 
Agravo de Instrumento nº 1.111.659-0 
Relator: Juiz Souza José 
Julgamento: 24.09.2002, v.u., 7ª Câmara. 
 
Ementa: 1) Arbitragem – constitucionalidade – contrato de agência contendo cláusula que 
impõe a resolução dos conflitos no juízo arbitral, segundo o direito francês – validade – 
inteligência do art. 2º da Lei nº 9.307/96 – incidência do princípio da autonomia da vontade – 2) 
Inépcia da inicial – ilegitimidade passiva – inocorrência – inicial que preenche os requisitos 
legais – alegação de existência de contrato verbal de representação comercial – cabimento – 
recurso parcialmente provido. 
 
 
Convenção de arbitragem (6/6) 
 Cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é convenção através da 
qual as partes, por escrito, comprometem-se a submeter à arbitragem a solução de um litígio 
eventualmente derivado do contrato (Lei 9.307/96, art. 4º). 
 Nasce no momento inicial da celebração do negócio principal, como medida preventiva dos 
interessados, com a intenção de assegurar e garantir as partes de um eventual 
desentendimento. 
 Característica: o momento de seu surgimento é anterior à existência do conflito. 
 A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito (pressuposto de validade da 
cláusula), no mesmo contrato principal ou como seu anexo (em documento apartado) (Lei 
9.307/96, arts. 4º, § 1º, e 11). 
 Pode prever uma arbitragem institucional ou avulsa (“ad hoc”). 
 Esta cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato, de modo que mesmo 
ocorrendo nulidade ou outros vícios não implica, necessariamente, nulidade da cláusula 
compromissória (Lei 9.307/96, art. 8º). 
 
Cláusula compromissória (Lei nº 9.307/96, arts. 4º a 8º) 
 
 Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a 
iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde 
que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto 
especialmente para essa cláusula (Lei 9.307/96, art. 4º, § 2º). 
 
 Modelo de cláusula arbitral em contrato de adesão: 
 
Cláusula X – As partes estipulam que quaisquer conflitos que possam surgir do presente 
contrato serão dirimidos através da solução arbitral, nos termos da Lei n. 9.307/96, em língua 
portuguesa, pela Câmara Arbitral..... , na cidade de ... e de acordo com as regras institucionais 
do órgão ora eleito, inclusive os critérios para escolha dos árbitros. 
 
_________________________________ 
Assinatura do aderente 
Cláusula arbitral em contrato de adesão 
 Ao convencionarem a cláusula compromissória para submeter à arbitragem a solução do 
litígio existente, as partes podem dispor sobre a forma de instituir a arbitragem, regras e 
procedimentos a serem observados no processo arbitral (Lei n. 9.307/96, art. 21). 
 
 Na cláusula compromissória, as partes podem decidir pelas regras de algum órgão arbitral 
institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de acordo 
com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em outro 
documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem (Lei n. 9.307/96, art. 5º). 
 
 Há 2 tipos de cláusula compromissória ou cláusula arbitral: 
Cláusula arbitral cheia. 
Cláusula arbitral vazia. 
 
Cláusula compromissória (Lei nº 9.307/96, arts. 4º a 8º) 
 
 Luiz Antonio Scavone Junior define a cláusula arbitral “cheia”, a seguir: 
“A cláusula arbitral cheia é aquela que contém os requisitos mínimos para que possa ser 
instaurado o procedimento arbitral (as condições mínimas que o art. 10 da Lei de Arbitragem 
impõe para o compromisso arbitral), como, por exemplo, a forma de indicação dos árbitros, o 
local etc., tornando prescindível o compromisso arbitral. 
Sendo assim, ao surgir o conflito, as partes não precisam firmar compromisso arbitral e 
qualquer delas pode dar início ao procedimento arbitral” (Manual de Arbitragem: mediação e conciliação. 9ª 
edição. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 91). 
 
 Há 2 formas de cláusula arbitral cheia: 
Cláusula arbitral cheia em que as partes ajustam todas as condições para a instauração da 
arbitragem (Lei 9.307/1996, art. 10). 
Cláusula arbitral cheia que as partes decidem por uma instituição da arbitragem, entidade 
especializada que já contém regras e condições formais previstas. 
 
Cláusula compromissória “cheia” (Lei nº 9.307/96, arts. 4º a 8º) 
 
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 
Apelação Cível 
Autos do processo 296.036-4/4 
Relator: Des. Sousa Lima Julgamento: 17.12.2003, v.u., 7ª Câmara de Direito Privado. 
Ementa: LEI DE ARBITRAGEM – Inconstitucionalidade afastada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal 
– consideração a respeito da questão – Não cabimento – Recurso não provido. CONTRATO – 
Compromisso arbitral – Cláusula “cheia” – Nulidade – Inexistência – Contratantes que elegeram o órgão 
arbitral e se obrigaram a aceitar as normas por ele impostas – Aplicação do art. 5º da Lei no 9.307/96 – 
Intervenção judicial desnecessária – Art. 7º da mesma lei que trata de cláusula “vazia” – Arbitragem já 
instituída – Tentativa de paralisação da solução da controvérsia – Inadmissível descumprimento de 
cláusulas contratuais – Reserva mental – Caracterização – Cláusula compromissória que fixa o objeto da 
arbitragem – Cientificação do alegado descumprimento de cláusulas – Ocorrência – Regulamento da 
Câmara de Comércio – Nulidade da cláusula 5.9 – Não verificação – Regulamento que assegura, em 
qualquer hipótese, o contraditório – Recurso não provido. 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – Sentença – Aplicação de multa – Acerto – Argumentos já́ usados – 
Repetição – Intuito manifestamente protelatório – Caracterização – Recurso não provido. 
Jurisprudência sobre cláusula compromissória a cheia: desnecessidade de 
intervenção judicial 
 As partes firmam cláusula arbitral e não estabelecem as regras para instauração da 
arbitragem, indicação dos árbitros, local etc., tem-se uma cláusula compromissário ou 
cláusula arbitra “vazia”. 
 Luiz Antonio Scavone Junior define a cláusula arbitral “vazia”, a seguir: 
“A cláusula arbitral vazia (ou em branco) é aquela em que as partes simplesmente se obrigam 
a submeter seus conflitos à arbitragem, sem estabelecer, contudo, as regras mínimas para 
desenvolvimento da solução arbitral e, tampouco, indicar as regras de uma entidade 
especializada, tornando necessário, aosurgir o conflito, que as partes, antes de dar início à 
arbitragem, firmem, além da cláusula arbitral, um compromisso arbitral” (SCAVONE JUNIOR, 
Luiz Antonio. Manual de Arbitragem: mediação e conciliação. 9ª edição. Rio de Janeiro: 
Forense, 2019, p. 92). 
 Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a parte interessada 
manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via postal ou por outro 
meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento (aviso de 
recebimento), convocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar o compromisso arbitral 
(Lei nº 9.307/96, art. 6º). 
Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo, recusar-se a firmar o 
compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda perante o órgão do Poder 
Judiciário a que, originariamente, tocaria o julgamento da causa (Lei nº 9.307/96, art. 6º, § 
único). 
Cláusula compromissória “vazia” (Lei nº 9.307/96, arts. 4º a 8º) 
“Ação de cobrança. Contrato de parceria agrícola. Cláusula compromissória sujeitando 
qualquer demanda decorrente do contrato a arbitragem. Cláusula vazia. Submissão à vontade 
contratual. Extinção do feito, sem o exame de mérito. Cabimento. Art. 267, VII, do Código de 
Processo Civil [atual art. 485, VII] apelação provida” (TJSP, Apelação 0005221-
51.2009.8.26.0356, Rel. Eros Piceli, 33ª Câmara de Direito Privado, j. 27.08.2012, Data de 
registro: 29.08.2012. Outros números: 52215120098260356). 
Jurisprudência sobre cláusula compromissória “vazia” (Lei nº 
9.307/96, arts. 4º a 8º) 
 Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da arbitragem, 
poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer em juízo a fim 
de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal fim (Lei nº 
9.307/96, art. 7º). 
 
 Na existência de cláusula arbitral desrespeitada por uma das partes que ajuíza ação perante 
o Poder Judiciário para dirimir conflito oriundo de tal contrato, a outra parte poderá impugnar 
o ajuizamento da referida ação, em preliminar, na contestação, requerendo a extinção da 
ação sem resolução de mérito (CPC, art. 337, X). 
 
Cláusula compromissória (Lei nº 9.307/96, arts. 4º a 8º) 
 
 O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com o documento 
que contiver a cláusula compromissória (§ 1º). 
 Comparecendo as partes à audiência, o juiz tentará, previamente, a conciliação acerca do 
litígio. Não obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à celebração, de comum 
acordo, do compromisso arbitral (§ 2º). 
 Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o juiz, após ouvir o 
réu, sobre seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de 10 dias, respeitadas as 
disposições da cláusula compromissória e atendendo ao disposto nos arts. 10 e 21, § 2º, 
desta Lei (§ 3º). 
 Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros, caberá ao juiz, 
ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único para a solução do litígio 
(§ 4º). 
 A ausência do autor, sem justo motivo, à audiência designada para a lavratura do 
compromisso arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito (§ 5º). 
 Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor, estatuir a respeito do 
conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único (§ 6º). 
 A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral (§ 7º). 
 
Cláusula compromissória e resistência na instituição da arbitragem 
– Procedimento perante o Judiciário (Lei nº 9.307/96, art. 7º e §§) 
 
 Definição de compromisso arbitral: é contrato ou cláusula em contrato, cujo conteúdo é a 
obrigação recíproca de resolver controvérsia mediante arbitragem, ou seja, é convenção 
bilateral pela qual as partes renunciam à jurisdição estatal e se obrigam a se submeter à 
decisão de árbitro ou árbitros por elas indicados, ou ainda o instrumento de que se valem os 
interessados para, de comum acordo, atribuírem a terceiro (denominado árbitro) a solução 
de pendências entre elas existentes. 
 Logo, o compromisso arbitral é um contrato em que as partes se obrigam a remeter a 
controvérsia surgida entre elas no julgamento de árbitros. Pressupõe, portanto, contrato 
perfeito e acabado, sem que as partes tenham previsto o modo pelo qual solucionarão as 
discórdias futuras. 
 O compromisso é específico para a solução de certa pendência, mediante árbitros 
regularmente escolhidos. 
 A Lei n. 9.307/96, art. 9º, dispõe: “O compromisso arbitral é a convenção através da qual as 
partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou 
extrajudicial”. 
 Característica: o momento de seu surgimento é posterior à existência do conflito. 
Compromisso arbitral (Lei nº 9.307/96, arts. 9º a 12) 
 Compromisso arbitral pode ser de duas espécies: 
 
 Judicial: refere-se à controvérsia já ajuizada perante a justiça ordinária, em as partes 
decidem colocar termo no procedimento judicial em andamento, para submeter o conflito à 
arbitragem, por meio da celebração do compromisso arbitral por termo nos autos, perante 
o juízo ou tribunal por onde corre a demanda (Lei nº 9.307/96, art. 9º, § 1º). 
o Tal termo será assinado pelas próprias partes ou por mandatário com poderes especiais 
(CC, arts. 851 e 661, § 2º; CPC, art. 105). 
o Feito o compromisso, cessarão as funções do juiz togado, pois os árbitros decidirão. 
 
Extrajudicial: firmado depois do conflito e antes de ajuizada ação judicial, poderá ser 
celebrado compromisso arbitral por escritura pública ou instrumento particular, assinada 
pelas partes e por duas testemunhas (Lei n º 9.307/96, art. 9º, § 2º; CC, art. 851). 
Espécies de compromisso arbitral 
 Requisitos obrigatórios do compromisso arbitral (Lei nº 9.307/96, art. 10): 
 o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes; 
 o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso, a identificação 
da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros; 
 a matéria que será objeto da arbitragem; e 
 o lugar em que será proferida a sentença arbitral. 
 Jurisprudência - Nulidade do compromisso arbitral: 
Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais 
Apelação Cível no 413.094-5 
Relator Juiz José Affonso da Costa Côrtes 
Julgamento: 16.9.2004, v.u., 7ª Câmara Cível. 
Ementa: LEI DE ARBITRAGEM – OBJETO DO LITÍGIO – VALIDADE – LAUDO 
IMPRESTÁVEL – SENTENÇA – FUNDAMENTAÇÃO. O compromisso arbitral que não 
contenha os requisitos do artigo 10 da Lei nº 9.307/96 é nulo, assim como o é a sentença 
arbitral carente dos requisitos do artigo 26 combinado com o artigo 32, inciso III, da mesma lei. 
Requisitos essenciais do compromisso arbitral 
 Requisitos facultativos do compromisso arbitral (Lei nº 9.307/96, art. 11): 
 local, ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem; 
 a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por equidade, se assim for 
convencionado pelas partes; 
 o prazo para apresentação da sentença arbitral; 
 a indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem, quando 
assim convencionarem as partes; 
 a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das despesas com a 
arbitragem; e 
 a fixação dos honorários do árbitro, ou dos árbitros. 
Requisitos facultativos do compromisso arbitral 
 Fixando as partes os honorários do árbitro, ou dos árbitros, no compromisso arbitral, este 
constituirá título executivo extrajudicial (Lei nº 9.307/96, art. 11, § único). 
Não havendo tal estipulação, o árbitro requererá ao órgão do Poder Judiciário que seria 
competente para julgar, originariamente, a causa que os fixe por sentença. 
 A arbitragem obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na convenção de 
arbitragem, que poderá reportar-se às regras de um órgãoarbitral institucional ou entidade 
especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao próprio árbitro, ou ao tribunal 
arbitral, regular o procedimento (Lei nº 9.307/96, art. 21). 
Não havendo estipulação acerca do procedimento, caberá ao árbitro ou ao tribunal arbitral 
discipliná-lo (Lei nº 9.307/96, art. 21, § 1º). 
 A extinção do compromisso arbitral que liberam as partes para buscar solução perante o 
Poder Judiciário: (Lei nº 9.307/96, art. 12): 
Escusa de qualquer dos árbitros, antes de aceitar a nomeação, desde que as partes 
tenham declarado, expressamente, não aceitar substituto. 
Falecendo ou ficando impossibilitado de dar seu voto a algum dos árbitros, desde que as 
partes declarem, expressamente, não aceitar substituto. 
Tendo expirado o prazo para apresentação da sentença arbitral. 
 
Compromisso arbitral – Honorários do árbitro e extinção 
Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo 
Embargos de declaração em apelação cível 
Autos do processo no 024.05.901414-2 
Relator: Des. Samuel Meira Brasil Jr. 
Julgamento: 19.12.2006, v.u., 2ª Câmara Cível 
Ementa: Civil e processual civil. Falecimento e recusa dos árbitros. Nomeação personalíssima. 
Dissolução da comissão de arbitragem. Arguição em embargos de declaração. Admissibilidade. Ônus da 
prova. Fato extintivo. Encargo do demandado. Solidariedade ativa. Credor que recebe a dívida. Dever de 
responder perante os outros pela parte que lhes cabia. 
1. O falecimento de um dos árbitros e a recusa da participação dos demais constitui fato superveniente 
(CPC, art. 462) que invalida a cláusula compromissória em razão do caráter personalíssimo da 
nomeação. A alteração de situação de fato prevista no art. 462 do CPC pode ser arguida em embargos 
de declaração. 
2. A não efetivação da cessão do crédito de ICMS a ensejar a desobrigação ao pagamento constitui fato 
extintivo do direito do autor cujo ônus da prova pertence ao demandado, ora Embargado. 
3. Na inteligência do art. 272 do Código Civil, “o credor que tiver remido a dívida ou recebido o 
pagamento responderá aos outros pela parte que lhes cabia”. 
4. Embargos declaratórios acolhidos para anular o acórdão embargado e dar provimento ao recurso de 
apelação. 
Jurisprudência – Cláusula compromissória com indicação de árbitros em 
caráter personalíssimo 
Cláusula Arbitral ou Cláusula 
Compromissória 
Compromisso Arbitral 
Refere-se a litígio futuro e incerto. Refere-se a litígio atual e concreto. 
Medida preventiva, em que as partes 
simplesmente prometem efetuar um 
contrato de compromisso se surgir 
desentendimento a ser resolvido. 
Tem força vinculativa, obrigatória entre as 
partes, faz com que as partes se 
comprometam a submeter certa pendência 
à decisão de árbitros. 
Permite a solução somente de 
controvérsias contratuais. 
 
Permite a solução de qualquer 
controvérsia patrimonial disponível. 
Diferença entre cláusula arbitral e compromisso arbitral 
 Jurisprudência sobre a distinção entre cláusula compromissória ou cláusula arbitral e 
compromisso arbitral: 
 
Tribunal de Justiça do Distrito Federal 
Agravo de Instrumento 1999.00.2.001609-5 
Rel. Des. Vera Andrighi 
Julgamento: 25.10.1999, v.u., 1ª Câmara Cível 
 
Ementa: Juízo arbitral – Cláusula compromissória – Havendo convenção das partes para 
solução de eventuais conflitos através de arbitragem, e em sendo as mesmas capazes e o 
direito disponível, exclui-se a participação do Poder Judiciário na solução de qualquer 
controvérsia. Recurso provido. 
Diferença entre cláusula arbitral e compromisso arbitral 
OBRIGADA 
E 
ATÉ A PRÓXIMA!

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