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Adolescência Prof.ª: Marcella Passarelli EU, Adolescente… Em meu entender a adolescência é uma altura da vida muito bonita mas também das mais difíceis. Tenho muitos mais problemas agora na escola do que quando era mais novo. Esta é a iniciação ao tempo de adulto: começamos a guardar as nossas economias, a contá-las. É uma das grandes complicações que eu tenho. De manhã, quando acordo, só penso: para que é que a escola nos tira da cama?...; mas não há nada a fazer, tenho que me levantar e ir para lá! Depois é escolher a roupa que é sempre outra complicação; se a camisa não liga com as calças, se o blusão não liga com a camisa, enfim, uma confusão… e tudo para ficar o mais bonito possível. É uma fase c0mpletamente maluca. Com o penteado é a mesma coisa: fica-se imenso tempo a ver se a «pala» está bem feita, se se está muito bem penteadinho, enfim, é uma onda de grande vaidade. Uma das coisas que me atrai mais é a música, principalmente a música rock (quase tanto como o futebol). Esta é uma época da vida em que se vive a música! Mas será que, na roupa, no penteado, na escolha da música, estamos realmente a ser nós próprios ou é- se uma pessoa completamente diferente querendo apenas, que os outros gostem de nós? Não devia ser assim, mas há casos em que uma pessoa gosta de outra, não pela maneira como ela é, mas só pela maneira como se veste, como se penteia, como se apresenta. Eu, normalmente, tento ser EU e nada mais, mas, por vezes, sinto que faço coisas para agradar aos outros, coisas que por mim só nunca faria. A adolescência é uma idade de conflitos mas penso que para mim, e até agora, foi a melhor altura de toda a minha vida”. Adolescência A adolescência tem início com a puberdade, quando o indivíduo atinge a maturidade sexual e a capacidade de reprodução (Papalia, Olds & Feldman, 2001; Sampaio, 1993) e termina com a formação de valores e da identidade (Sampaio, 1993). É difícil estabelecer a idade cronológica para esta faixa, devido à grande variabilidade do desenvolvimento humano, no entanto, o intervalo mais frequentemente utilizado situa- se entre os 12 e 21 anos (Sampaio, 1991). Com início na puberdade, a adolescência começa com uma série de mudanças fisiológicas, cognitivas, emocionais e sociais. Fase crucial para o desenvolvimento da autoestima e do autoconceito. Adolescência Período de grande aprendizagem das normas, conceitos sociais e morais, mesmo que às vezes sejam contrariados e violados no sentido da experimentação dos limites. Também é uma fase de acentuadas mudanças biológicas e hormonais, que proporcionam, muitas vezes dúvidas, inquietações e mudanças de comportamento em relação aos pares sociais (amigos) e família. O adolescente requer um difícil equilíbrio entre os diversos aspetos da maturação, o que nem sempre é atingido. A maturação neuroendócrina em geral, avança de forma coordenada, porém nem sempre o mesmo ocorre com o desenvolvimento social e emocional (Serfaty, Andrade, Massautis & Foglia, 1995). Adolescência Caraterísticas da adolescência: Maior capacidade de reconhecer alternativas nas escolhas e encontrar soluções através deste reconhecimento; Tendência em questionar as principais figuras de autoridade; 7 Aquisição de independência dos pais e família; Desenvolvimento do sistema de valores e aquisição de identidade própria; Estabelecimento de relações afetivas com outros indivíduos da mesma idade; vi. Tendência para o egocentrismo nos interesses e objetivos; Preparação para a carreira profissional. Especificidades da adolescência Aspectos fisiológicos Aspectos psicológicos Cognitivos Emocionais Aspectos fisiológicos 19/08/21 Aspeto Fisiológico De uma forma geral, os rapazes parecem estimar uma maturação precoce. Adolescentes com este tipo de maturação revelam-se normalmente mais equilibrados e tranquilos, mais afáveis, populares e propensos a serem líderes, são menos impulsivos, preocupam-se mais em serem estimados, sendo também mais cautelosos e limitados por regras e rotinas. Relativamente aos rapazes cujo desenvolvimento é tardio, o quadro não é tão positivo, pois sentem-se mais inadequados, rejeitados e dominados: são mais dependentes, agressivos e inseguros, têm pior opinião sobre si e revoltam-se mais contra os pais (Berger &Thompson, 1997; Papalia, Olds & Feldman, 2001). Aspeto Fisiológico As meninas tendem a não apreciar o amadurecimento precoce. Adolescentes com este tipo de desenvolvimento tendem a ser menos sociáveis, menos expressivas e menos equilibradas; sendo normalmente mais introvertidas e tímidas, assim como mais vulneráveis à perturbação psicológica (Jones, 1958; Livson & Peskin, 1980; Ruble & Brooks-Gunn, 1982). A maior parte dos adolescentes preocupam-se muito com a aparência física, comparando-se constantemente com os demais. Mas muitos adolescentes não gostam do seu aspeto, uma vez que o desenvolvimento pode ser assimétrico. Os efeitos da maturação (precoce ou tardia) têm maior probabilidade de ser negativos quando há uma diferença significativa em relação aos pares; quando as mudanças não são vistas como vantajosas e quando eventos stressantes ocorrem em simultâneo (Petersen, 1993; Simmons et al, 1983). Aspeto Psicológico Do ponto de vista cognitivo, o adolescente atinge o último estádio definido por Piaget, o das operações formais. Nesta altura o adolescente adquire uma nova capacidade para manipular a informação, pois torna-se capaz de pensar de forma abstrata. Também nesta fase, o adolescente é muito egocêntrico e tem necessidade de estar constantemente em “cena como ator principal”. É como se aquilo que pensa, por ser tão importante para si mesmo, também tivesse de o ser para os outros. O sentimento que se origina desse egocentrismo leva-o a acreditar que é imune aos riscos que atingem os outros. As condutas de experimentação envolvendo risco advêm assim, habitualmente, de um sentimento de invulnerabilidade. Aspeto Psicológico A adolescência termina com a formação da identidade. Perante as transformações a que é sujeito, o adolescente vê-se confrontado com a necessidade de procurar e estabelecer a sua identidade, necessidade de entender o seu papel no mundo e de ter consciência da sua singularidade. A identidade do adolescente deve ser conseguida face aos seus pais de quem se afasta, e em relação à sociedade, de quem se aproxima (Luzes, 1980). Para a formação da personalidade e identidade do adolescente, primeiramente ele tem que se encontrar consigo mesmo, com as mudanças a que está sujeito. A relação com os pais e com os amigos é um contributo fundamental para fomentar a identidade. Os sintomas de uma crise surgem no momento em que o adolescente se confronta com uma série de experiências que exigem uma escolha e um empenho, como a escolha de um parceiro para partilhar a intimidade, uma escolha profissional, escolha de uma definição psicossocial de si mesmo (Marcelli & Braconnier, 2005). Aspecto emocional Estritamente relacionado com a cognição encontra-se a emoção. A capacidade de pensar de forma abstrata também tem implicações emocionais. As emoções desenvolvem-se com a idade, em harmonia com o desenvolvimento geral. No entanto, as emoções podem, por vezes, estar carregadas de uma violência e primitismo que exija controlo e interpretações especiais. As emoções têm um papel fundamental na formação da personalidade do adolescente. Os sentimentos comandam as ações do sujeito, influenciando a função psicológica (processos mentais e morais de percepção, julgamento, avaliação e decisão), mas também a fisiológica. Aspectos emocionais O Desenvolvimento da autoestima Autoestima é uma orientação positiva ou negativa em direção a si, uma avaliação global do seu próprio valor. “Sentimento positivo ou negativo, relativamente permanente, sobre si próprio, que pode tornar-se mais ou menos positivo ou negativo à medida que os sujeitos se confrontam e interpretam os sucessos e os falhanços das suas vidas quotidianas” . A autoestima baseia-se no quanto a pessoa sente-se adequadanos domínios que são para ela importantes. Nos adolescentes foram identificados oito domínios: 1) competência académica; 2) competência atlética; 3) igualdade com os pares; 4) aparência física; 5) conduta comportamental; 6) atração romântica; 7) amizade próxima; 8) competência no trabalho. O Desenvolvimento da autoestima Está relacionada com a interação social positiva. Desenvolve-se dentro do contexto social que envolve família, pares e professores. A existência de um baixo suporte emocional por parte da família está relacionado com uma baixa autoestima e autoconceito académico. A família enquanto contexto relacional, assume particular importância na formação do autoconceito e autoestima, uma vez que é no seu seio, mais concretamente nas interações que se estabelece, que o jovem vai construindo as primeiras representações em relação a si próprio Pais dos adolescentes com elevada autoestima preocupam-se e dão atenção aos filhos, estruturam o mundo dos filhos ao longo de linhas que acreditam ser apropriadas e permitem uma relativa liberdade dentro das estruturas que estabelecem Aspectos sociais A família na adolescência. O adolescente o grupo de pares A família e o adolescente 19/08/21 “Queridos Pais, Não sei se algum dia vos darei a conhecer esta carta, neste momento, preciso de conversar convosco, e comigo, como sinto que todos nós nunca temos coragem de o fazer. Talvez a culpa seja minha que me fecho em copas… mas também vocês só me questionam quando eu estou prestes a desfazer-me em lágrimas. Será que é tão difícil, assim perceber quando devem falar comigo?... No outro dia sentia-me uma vencedora: achava que podia enfrentar o mundo sem qualquer ajuda. Hoje sinto-me de rastos: sou tão estúpida quando penso assim! Realmente sou pouco inteligente mas adorava ter a vossa inteligência e a vossa capacidade de trabalho. Já sei que ides dizer que não é assim, que me ides demonstrar que sempre consegui fazer o que queria, etc… mas eu conheço-me bem e aos meus próprios limites. Burra não sou, realmente, mas falta-me bastante para ser inteligente. Feia, sou: estas horrendas borbulhas não me deixam em paz. Já sei que tenho que esperar que desapareçam…já sei que se as espremer nunca mais vou ficar com a cara direita! Mas bolas! Agora é que precisava de estar bonitinha. Ninguém me liga! Só me procuram para tirar dúvidas, para me pedir os meus cadernos. Será que ninguém se lembra que eu também tenho coração?... E vocês, pais, por que é que não dizem nada? Eu já sou grande mas ainda preciso de carinho 19/08/21 Preciso que me digam que acreditam em mim, que gostam de mim, que me digam como é que eu he ide fazer. Está bem, já sei que muitas vezes sou arisca e que vos digo que não gosto dessas coisas. Que vos digo que não preciso que me digam o que devo fazer. Mas não percebem que isso é só balela? Às vezes também estou com os azeites, já sei! Vá, não vamos começar com os sermões; o que mais detesto é que me estejam sempre a atirar à cara os erros do passado. Vocês também fazem sempre tudo bem? Claro! Já me esquecia que são uns super-heróis! Desculpem, foi o meu mau génio. Não era nada isto que vos queria dizer. Queria pedir-vos que não pensem que já não gosto de vós só porque gosto de outras pessoas e porque, por vezes, me sinto melhor fora de casa. Sei lá onde é que me sinto bem…às vezes, em lado nenhum! Dai-me espaço…mas não me fecheis a porta…Quantas vezes estou na cama à espera de vos sentir entrar…bom, já agora, só mais uma coisinha: batam sempre antes de entrar! Que confusão na minha cabeça…nem sei se era isto que queria escrever. Gosto muito de vós, mas às vezes, apetece-me fugir. Beijos da vossa filha”. 19/08/21 Prox. Aula…. CONTINUAÇAO 19/08/21
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