Buscar

Celso Furtado Cap XXCafeeira001

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil, cap. XX (gestação da economia cafeeira).
Furtado é direto quando fala da amplitude das transformações da primeira metade do século XIX e quando fala do crescimento vegetativo lento que esse período enfrentou depois da rápida expansão populacional impulsionada pela imigração nos primeiros três quartéis do século XVIII. O autor cita a criação do pequeno sistema administrativo e do banco nacional como reações às grandes dificuldades e como ferramentas para preservar a unidade nacional e na última parte da sua introdução, afirma que a Revolução Industrial não afetou a estrutura do sistema produtivo brasileiro que passava, nesse momento, por dificuldades para obter mais mão-de-obra (escravos), e para se reintegrar às linhas de expansão do comércio mundial. 
As importações estagnadas e a impossibilidade de aumentar os impostos de importação causaram sérias dificuldades fiscais impedindo a expansão do crédito público e impossibilitando o investimento externo. Não bastassem as dificuldades fiscais, os preços dos gêneros exportados continuaram a sofrer duros golpes: o açúcar antilhano dominava o mercado inglês, o açúcar de beterraba encantava a Europa e o açúcar cubano abastecia o mercado dos Estados Unidos. Com o algodão não era muito diferente, a quantidade abundante de terras produtivas, a mão-de-obra quase inesgotável e os baixos fretes que os Estados Unidos conseguiam praticar findaram por liquidar a produção brasileira. Por último, o fumo, o arroz, o couro e o cacau eram produtos menores cujos mercados não permitiam grande possibilidade de expansão. 
Em suma, o problema brasileiro era encontrar um produto de exportação capaz de reintegrar o país às linhas de expansão do comércio mundial e que em cuja produção a terra entrasse como fator básico. Só que, de fato, já existia no Brasil um produto com essas características, mas sua importância só foi notada com a desorganização do Haiti, o principal produtor, e com a alta dos preços causada por essa desorganização. Esse produto era o café. Com a produção concentrada na região montanhosa próxima ao Rio de Janeiro, o café pode contar com a abundância de mão-de-obra decorrente da desagregação da mineração. Além disso, a proximidade do porto permitiu a adoção de mulas para resolver o problema de transporte. Sinteticamente, o café aproveitou recursos pré-existentes e subutilizados em sua fase embrionária.
Os segundo e terceiro quartéis do século XIX correspondem ao verdadeiro período de gestação da economia cafeeira que utilizou, similarmente à economia açucareira, a mão-de-obra escrava, mas com um grau de capitalização muito mais baixo. Assim, a empresa cafeeira se caracterizava por custos monetários ainda menores que os da empresa açucareira decorrentes de suas menores necessidades monetárias de reposição e aos seus equipamentos mais simples. Dessa forma, somente uma forte alta nos preços da mão-de-obra poderia interromper o crescimento do café e, como isso não aconteceu, o desenvolvimento do café foi intenso, mesmo com uma tendência pouco favorável dos preços no início.
Na parte final do texto, o autor comparou as classes dirigentes da empresa açucareira e da empresa cafeeira e inferiu que o grupo que controlava o açúcar era submetido aos monopólios portugueses e holandeses e que, por causa disso, todas as decisões partiam da fase comercial. Assim, os homens da produção não puderam desenvolver uma consciência clara de seus próprios interesses pois estavam isolados e se tornaram rentistas ociosos fechados num pequeno ambiente rural. Já o grupo que controlava o café era formado por homens com experiência comercial e cujo interesse estava voltado tanto para a produção quando para a comercialização de seu produto e, além disso, para a luta pela aquisição de novas terras, pelo recrutamento de mão-de-obra, pela organização e direção da produção, pelo transporte interno, pela comercialização nos portos, pelos contatos oficiais e pela interferência na política financeira e econômica. Esses homens da vanguarda cafeeira tinham a visão do governo como instrumento econômico e a subordinação do governo a esse grupo significou a clara consciência dos próprios interesses cafeicultores.

Outros materiais