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COSTA_Introdução ao Estudo da Emancipação Política do Brasil

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Introdução ao Estudo da Emancipação Política do Brasil
Emília Viotti da Costa
Tradicional e Nova Historiografias
A autora inicia o texto fazendo uma pesada crítica à historiografia tradicional sobre a emancipação política do Brasil, cuja literatura, apesar de farta, é composta com acontecimentos quase exclusivamente políticos e que vão sendo apresentados como um jogo de circunstâncias individuais, no entrechoque de interesses pessoais, paixões mesquinhas, em suma, sob a forma de uma pretensão de ciência que não passa de uma lenda histórica do movimento de Independência (sujeito a interpretações objetivas e muitas vezes contraditórias).
A nova historiografia (datada de meados do sec XX), porém, buscava explicações para os acontecimentos, e, particularmente, na contradição interna do processo histórico brasileiro a explicação para sua Independência.
Enfoques como o de Caio Prado Jr e Werneck Sodré mostram as relações entre o desenvolvimento industrial e suas conseqüências para a colônia, as transformações ligadas à ideologia burguesa, os impactos que surgem a partir das contradições entre os vários grupos sociais e entre estes e a metrópole e que culminam na Independência do Brasil.
Estado atual das questões
Os estudos atuais procuram responder como a Independência se insere dentro de um contexto amplo, marcado pela crise do sistema colonial, relacionado às lutas liberais e nacionalistas européias (fins do séc XVIII) e em que medida o processo teve a influência da própria consciência dos grupos políticos e sociais dominantes de que já não era mais conveniente o vínculo forçado com a metrópole.
A crise do sistema colonial
Desde os descobrimentos, época de capitalismo incipiente, estabelece-se uma aliança entre mercadores e Estado para desenvolvimento do comércio internacional (por meio de monopólios e privilégios concedidos aos mercadores). Um Estado forte permitia o rompimento de barreiras que se opunham ao comércio, e a expressão da aliança entre comerciantes e o Estado é o mercantilismo, que via no lucro entre a compra e a venda de mercadorias a fonte comercial para acúmulo de metais preciosos (o lucro do comerciante é condição para o engrandecimento do Estado - na opinião dos próprios burgueses). Neste contexto se desenvolve o comércio colonial, pois as colônias, vistas como fonte de riqueza mineral ou agrícola, são subordinadas a um conjunto de regulamentos de compra e venda de produtos da/para a metrópole que as prendiam a monopólios e privilégios que promoviam o efeito mercantilista desejado na metrópole.
O desenvolvimento do capitalismo industrial, por meio de uma burguesia que ansiava cada vez mais por maior representação política, se mostra incompatível com os preceitos do sistema colonial. Deseja-se o livre-cambismo e o aumento sem precedentes da produção evidencia a necessidade de expansão dos mercados. Na literatura, surgem defesas cada vez mais veementes ao liberalismo e ao trabalho livre. Essencialmente, a crítica atingia os monopólios, os privilégios e a escravidão (ou seja, a própria idéia tradicional de colônia).
A crítica ao sistema colonial corresponde a mudanças políticas e comerciais nas relações entre metrópole e colônia. A Inglaterra (em processo de industrialização e cuja principal colônia conquista a independência) é pioneira na nova orientação comercial, e irá apoiar as colônias americanas em seus próprios processos de independência.
Situação marginal de Portugal e Espanha e persistência do sistema colonial tradicional
Diferentemente da Inglaterra, Portugal e Espanha permanecem atrasados industrialmente. Apóiam-se ainda nos vínculos e processos produtivos tradicionais coloniais. Assim, a crise do sistema colonial acabaria por atingir a nação portuguesa e a sua colônia.
A face interna da crise do sistema colonial: a luta contra os monopólios
Os monopólios e privilégios sempre encontraram adversários (interna e externamente). No plano externo, a disputa dos países para quebrar monopólios de tráfego e comercialização de produtos levou a invasões (holandeses no NE, por exemplo) e amplo contrabando. Internamente às colônias, a população que crescia e desenvolvia o comércio local desejava mais liberdade de manobra (revoltas por todo o Brasil).
Ao fim do séc XVIII, o sistema de monopólios está em plena crise, diante de uma concorrência estrangeira impossível de ser detida. Nas colônias, a população cresce, o ouro é encontrado, a demanda européia por produtos coloniais aumenta e a persistência do rígido controle comercial cria um ambiente receptivo a revoluções. Rompem-se os interesses mútuos entre colônia, metrópole e comerciantes. O pacto colonial passa a ser visto como imposição unilateral da metrópole.
O processo de tomada de consciência (por parte dos agentes) da falência do sistema é, no entanto, lento. Inicialmente, disputas de vassalos contra reis se tornam disputas de colonos contra metrópole. Pensamento ilustrado, crítico do absolutismo na Europa, toma a forma de crítico do sistema colonial, nas colônias. Quando a Coroa tenta assegurar a vigência do sistema, os colonos associam o interesse da metrópole ao da Coroa, e anticolonialismo passa a ser também crítica do poder indiscriminado dos reis.
No Brasil, há uma contradição entre o pensamento liberal e as propostas anticoloniais apresentadas, pois, de um lado, desejava-se (por parte dos colonos) a liberalização e flexibilização do comércio (fim dos monopólios e privilégios). O modo de produção (escravista), os laços coloniais e a continuidade da proibição de produção interna de produtos manufaturados refletiam os interesses de uma aristocracia de grandes proprietários rurais. Na maioria das populações coloniais, entretanto, os princípios do liberalismo agradavam aos colonos (e despertavam a oposição dos monopolistas e da Coroa). Daí a tentativa até o último estertor de manter o sistema funcionando. Entretanto, as guerras napoleônicas e a fuga de D. João para o Brasil (patrocinada pela Inglaterra) vieram a precipitar os acontecimentos.
A política liberal de D. João VI e suas limitações
Uma vez a família Real no Brasil, deram se a abertura dos portos, medidas revogando antigos entraves à produção e comércio na colônia, permissão para o estabelecimento de manufaturas, além de várias outras ações de liberalização da economia, culminando, em 1815, com a elevação do Brasil à categoria de Reino. Ficavam, assim, expressos os princípios de liberdade e de livre concorrência e a intenção de abolir os monopólios e privilégios. As disposições que tinham garantido o funcionamento do pacto colonial iam sendo revogadas uma a uma.
 As medidas restritivas ao comércio estrangeiro (não está tão enfocado nos outros textos)
A política liberal, porém, não implica uma mudança completa de todo o sistema. D. João, paralelamente às medidas liberalizantes, expedia outras visando a proteger o comércio português, principalmente depois de 1810, quando o tratado de comércio (que beneficiava os ingleses) causou descontentamento entre produtores e comerciantes portugueses.
Isenção de impostos de importação de manufaturas portuguesas, dispensa de taxas de produtos importados da China pertencentes a vassalos portugueses, favorecimento fiscal de gêneros ingleses importados "por conta de portugueses" (equiparação dos comerciantes portugueses e ingleses), proibição dos estrangeiros de exercer o comércio de cabotagem e um longo etc. caracterizam a atitude de D. João de rebater as ações liberalizantes ao comércio estrangeiro com medidas de proteção ao comércio português.
A política econômica de D. João, expressa no alvará de 25/04/1818, caracteriza-se por uma seqüência de absurdas contradições: em dado momento, alegando a necessidade de melhorar a arrecadação, suspende as liberdades e isenções concedidas. Em seguida, impõe impostos de exportação sobre produtos brasileiros até então isentos. Suspende a proibição de importação de vinhos no Brasil, mas, ao mesmo tempo, concede tarifas muito favoráveis ao vinho de Portugal, e repleto de medidaspara agradar os portugueses, segue o alvará. Proposições e determinações de mesma natureza visam a proteger a marinha portuguesa. É evidente que D. João consegue desagradar não apenas comerciantes e produtores estrangeiros, mas também comerciantes e produtores portugueses e brasileiros. 
O descontentamento dos portugueses (rebaixados a condição secundária no Império), além do receio de insurgência semelhante à espanhola (que acabava de eclodir) intensificam as medidas de favor dos portugueses (sobretudo a partir de 1820). Para compensar a queda na receita do Estado, D. João impunha taxas em artigos de interesse de brasileiros e estrangeiros. Conseguia, portanto, o descontentamento destes. As ações favoráveis aos portugueses não impediram, entretanto, a revolução liberal em Portugal, iniciada no Porto em 24/08/1820.
O dilema diante de D. João, desde 1808, era a liberalização da economia (que, se total, destruiria as bases sobre as quais se apoiava a Coroa) ou manter intacto o sistema colonial, impossível nas novas condições. Daí as contradições de sua política econômica. Colonos percebiam cada vez mais as vantagens da liberalização e os metropolitanos se convenciam da necessidade das restrições. A crescente divergência levava a um inevitável rompimento entre metrópole e colônia.
Reações à política de D. João VI
Quando da abertura dos portos e do tratado de 1810, a ação do governo ia no sentido de defender o princípio da livre empresa, o capital estrangeiro e a vocação agrária de nossa economia. Daí, após a independência, a presença preponderante de representantes das classes agrárias (associadas ao imperialismo inglês) nos quadros do governo.
Na área do comércio externo, houve manifestações de desagrado à abertura dos portos: comerciantes e produtores portugueses alegavam que a navegação e indústria local seriam aniquiladas, com terríveis implicações sociais. Internamente, conflitos entre detentores de privilégios e os que desejavam eliminá-los. Não havia a intenção do governo de acabar com os monopólios, embora contribuíssem para liquidar o sistema colonial. Permanecia o oneroso sistema fiscal, emperrada máquina administrativa etc. 
Na política de D. João há um outro lado, mercantilista e colonial, igualmente importante para a compreensão do movimento da Independência. Por exemplo, na Rev Pernambucana de 1817, o sistema de privilégios e monopólios contribuiu para a discórdia e disposição revolucionária de agricultores e comerciantes.
Opiniões de estrangeiros davam conta da "almoeda de favores e graças",absurdos entraves aduaneiros e etc, que caracterizavam o reinado de D. João VI.
As contradições da política de D. João VI criaram, na metrópole e na colônia, um clima favorável a idéias liberais (inclusive formas representativas de governo). Porém, se para os colonos as idéias eram genuinamente livre-cambistas, na metrópole a intenção era cercear as liberdades comerciais promovidas pela coroa (feriam os interesses metropolitanos). Assim, em Portugal o fundamento era antiliberal.
Fundamentos ideológicos do movimento da Independência: Influência do pensamento Ilustrado
No Brasil, os movimentos liberais, que deram origem a revoluções (conjura Baiana, Inconfidência Mineira etc) tiveram como fonte de inspiração o pensamento ilustrado. Os ideais da rev. Francesa, o exemplo dos EUA etc serviam de inspiração nas colônias da América, particularmente no Brasil. Em algumas agitações, havia a explícita proclamação dos princípios de liberdade, igualdade e comércio livre com todos os povos; por vezes, críticas religiosas.
As idéias francesas eram influentes, porém eram consideradas mais perigosas (pelo governo) obras sobre o pensamento inglês, considerado altamente subversivo. A Inglaterra era uma das mais interessadas na Independência naquele momento. A tentativa de impedir a entrada de livros e idéias revolucionárias, contudo, falhou sempre. A censura, por outro lado, sempre permanecia alerta. 
Sociedades secretas e movimentos revolucionários
Lojas maçônicas eram os pontos de encontro da maioria dos revolucionários, desde o Nordeste até o Rio de Janeiro, e imprimia um caráter de elite aos movimentos da época. Reunia em seus quadros professores, comerciantes, funcionários e numerosos padres.
Limites do liberalismo e do nacionalismo no Brasil
Na "importação" de idéias revolucionárias européias deve-se verificar, criticamente, a pobreza ideológica. Além dos textos filosóficos serem lidos mais com entusiasmo do que com crítica, a grande massa populacional, inculta e atrasada, não chegava a tomar conhecimento dos pensamentos. Ademais, boa parte da ideologia não se aplicava ao Brasil: era, sim, na Europa, a manifestação burguesa no sentido de revisão de valores tradicionais (europeus, naturalmente), como o absolutismo da monarquia, a religião etc. No Brasil, os conceitos "revolucionários" seriam defendidos por uma burguesia incipiente, altamente dependente do Estado e das classes rurais. Foi entre os quadros ainda limitados das populações urbanas que se recrutaram os principais adeptos das idéias liberais. O setor mais importante burguês, entretanto, era constituído por comerciantes portugueses, refratários às reivindicações emancipadoras (como já comentado, a revolução "liberal" do Porto tinha um caráter eminentemente conservador!).
A camada rural, por sua vez, não estava disposta a renunciar à propriedade escrava. A escravidão constituía o limite do liberalismo no Brasil (invocava-se o direito de propriedade para preservá-la, com vistas a acalmar os proprietários temerosos que a "liberal" revolução de 1817 pretendesse "a emancipação indistinta dos homens de cor e escravos").
Outra peculiaridade do liberalismo brasileiro desta fase é a conciliação do liberalismo com a Igreja (numerosos padres se associaram aos movimentos revolucionários). Ocorria o contrário da Europa, pois, no Brasil, o clero, sentindo-se lesado pela Coroa (a quem cabia uma interferência direta na vida da Igreja), tornou-se francamente revolucionário (Frei Caneca, em 1824, foi acusado de guerrilheiro).
Em resumo, a presença de comerciantes burgueses portugueses, a preponderância dos grupos agrários (interessados na permanência do trabalho escravo) e a disponibilidade revolucionária do clero imprimiram um cunho todo especial aos movimentos liberais e nacionalistas no Brasil. Liberalismo significava, nesta fase, a liquidação dos laços coloniais, não uma reforma estrutural da sociedade, das formas de produção. Em outras palavras, a preocupação era livrar o país dos entraves opostos ao livre comércio (menos antimonárquico do que anticolonial, menos nacionalista do que antimetropolitano). A solução da independência monárquica é aceita quando este atrito não é mais contornável.
Em um país sem uma burguesia plenamente formada, o nacionalismo também não teria condições para se desenvolver, daí o receio do desmembramento do território em várias províncias (inclusive, praticamente todos os movimentos revolucionários anteriores à independência tiveram caráter local).
A representação brasileira em Portugal se faria com deputados das províncias (e não do Brasil em si), e a unidade territorial seria mantida não por um ideal nacionalista (como comentado acima), mas sim pela necessidade de se preservar a Independência (os planos de Portugal para a recolonização se aproveitavam da reconhecida falta de união entre as províncias).
As limitações do pensamento liberal e nacionalista tinham limites correspondentes na prática revolucionária, como vemos abaixo:
Além das dificuldades das distâncias geográficas, os movimentos revolucionários sofreriam pelas distâncias sociais entre os letrados e a plebe (composta pela sua maioria de negros e mestiços, a qual, temia-se, poderia se insurgir contra os primeiros - este receio compunha a principal fraqueza dos movimentos ocorridos antes da Independência). 
Entretanto, pouca diferença fazia entre branco, mestiço ou negro, se eram todos pobres. A luta racial, na realidade, era uma luta de pobres contraricos, entre categorias dominantes e o povo (que se manifesta também como entre brasileiros contra portugueses). Os objetivos, na visão do povo e na dos privilegiados, eram obviamente diferentes: para os despossuídos, a revolução implicava subversão da ordem, enquanto para a classe dominante, a preservação da ordem (de seus privilégios). O temor, portanto, da população culta diante de uma agitação das massas explica realizar a Independência com o apoio do Príncipe: permitiria emancipar a nação do jugo metropolitano sem que para isso fosse necessário recorrer à rebelião popular.
As várias faces da Revolução
Como vimos, a Revolução apresentou várias faces: para os negros, proposta de emancipação; para os senhores, a manutenção do escravismo e liberalização do comércio; para os miseráveis urbanos, a eliminação das diferenças de cor, sociais e econômicas. 
É interessante notar que, enquanto nos núcleos urbanos, pequenos comerciantes e prestadores de serviço acompanhavam atentamente o andar da revolução, nos grotões rurais a população permanecia alheia aos acontecimentos, acompanhando passivamente os chefes locais. Dos paulistas não se percebe nenhuma agitação nem posição a favor das idéias liberais ou republicanas: reconheciam apenas que a eventual volta do sistema colonial deprimiria os preços dos produtos exportados.
A ignorância popular em relação à administração pública e aos acontecimentos que agitavam a capital se refletem nas atitudes políticas, geralmente desconhecidas ou mal-assimiladas. O juramento da Constituição de 1821, por exemplo, encontrou representantes de vilas que a viam como uma impiedade, um atentado contra a religião. Em vilas próximas, posições totalmente contrárias.
A maioria dos senhores de engenho que participou da revolução de 1817 não o fez por convicções liberais, mas por estar descontente com a administração (daí a contradição entre o que defendia o povo - inclusive a abolição dos escravos - e o discurso dos senhores que participaram - conclusão minha).
A idéia de Independência
Inicialmente, referia-se a "Independência" apenas no sentido administrativo (exceto dos elementos mais radicais, havia uma defesa da monarquia dual). Apenas com a tentativa de recolonização é que a separação se deu por completo.
A íntima união entre Portugal e Brasil (centro de poder de onde emanassem as graças e justiças) era o que desejavam os defensores do "Fico". Tal solução parecia ser capaz de neutralizar os partidos da Independência (ou seja, os que desejavam a separação total).
No próprio dia do "Fico", dia da desobediência à ordem das Cortes para que D. Pedro retornasse a Portugal, as próprias Cortes eram saudadas e proclavama-se a intenção de manter unidos os dois reinos.
Desejava-se, nos atos adicionais à Constituição que o Brasil deveria jurar, que a monarquia dual se desse com 2 congressos (um no Brasil, outro em Portugal), regente e tribunais brasileiros.
A pretensão de manter unidos os reinos, entretanto, não poderia se concretizar. O reconhecimento da autonomia administrativa do Brasil representava sua independência econômica em relação a Portugal, justamente o que os deputados portugueses pretendiam evitar.
 
Conflitos entre pontos de vista entre "portugueses" e "brasileiros"
Com a vinda das Cortes ao Brasil em 1808, a abertura dos portos e os tratados de comércio com a Inglaterra (1810, com a tarifa preferencial concedida aos britânicos, não aos portugueses), todo o esquema de privilégios portugueses pré-1808 desmantelou-se. As medidas de reparação não satisfizeram os portugueses, que levam a cabo uma revolução no Porto sob a bandeira liberal, mas cujos verdadeiros interesses eram o fim das regalias aos estrangeiros e a re-subordinação da economia brasileira a Portugal. 
O ponto de vista português
Culpando o rei e sua política de comércio em favor dos estrangeiros, os portugueses não enxergavam que suas mazelas provinham da debilidade de sua economia, de sua secular subordinação à Inglaterra e à falta do progresso industrial. A maior produtividade inglesa impedia a competição dos produtos portugueses, seja no mercado local, seja no internacional. 
Opiniões de que Portugal e Brasil deveriam se manter um só reino (ou seja, manter a subordinação brasileira) eram manifestadas claramente nas publicações após a revolução do Porto.
O ponto de vista brasileiro
Diametralmente oposta é a visão dos brasileiros, a quem interessa a liberdade de comércio. A idéia de manter relações de "irmãos", ou até mesmo "conduzir" Portugal, é simpática aos núcleos revolucionários (obviamente, não o era aos portugueses).
As discussões entre deputados brasileiros e portugueses nas Cortes, deixavam claro que o sonho de monarquia dual não seria possível. No Brasil, à exceção de alguns funcionários fiéis à Coroa, o manifesto geral era de repúdio às pretensões recolonizadoras. Para os ingleses, comercialmente o Brasil era mais importante do que Portugal, o que foi deixado suficientemente claro no aviso de que qualquer tentativa portuguesa de intervenção na América induziria a Inglaterra a reconhecer imediatamente a independência das ditas colônias.
A política das Cortes e o rompimento definitivo
A volta de D. João VI a Portugal parecia indicar a recolonização iminente. A série de medidas tomadas pelas Cortes, a partir de julho de 1821, tinha revelado uma mudança na orientação política, econômica e administrativa em relação ao Brasil, denunciando suas intenções.
Algumas tentavam anular as regalias que o tratado de 1810 e outros subseqüentes tinham concedido aos comerciantes ingleses. Anunciava-se claramente uma reviravolta nas relações entre o governo português e os comerciantes estrangeiros, aos quais as novas medidas não podiam agradar. Também aos brasileiros não seriam simpáticas.
As decisões atentando contra a autonomia administrativa brasileira (volta do príncipe regente, subordinação às Cortes dos governos provinciais independentes do RJ etc) repercutiram como uma declaração de guerra, em uma situação na qual a representação numérica dos deputados brasileiros nas Cortes era totalmente insuficiente para defesa de seus interesses. 
No Brasil, crescia o partido da Independência, e circulavam dizeres persuadindo o príncipe a já se declarar D. Pedro I. Daí em diante, o protesto não fez senão crescer, com solicitações impressas para a permanência do regente. Paralelamente, procurava-se mobilizar o povo e oferecer uma retaguarda ao príncipe.
Pressões começaram a se fazer sentir de todos os lados. O príncipe era lembrado da "existência do Partido Republicano, desde 1817". A 09/01/1822, o príncipe desobedece às Cortes e decide ficar no país.
Lentamente, iam-se rompendo, na prática, os laços com Portugal: resoluções proibiam desembarques de tropas portuguesas, a divisão naval que deveria reconduzir o príncipe a Portugal retorna deixando 600 homens que aderem à causa do regente. Em representações dirigidas ao príncipe pelo povo (através do Senado), o tom era ousado e ameaçador ("a natureza não forma satélites maiores do que os planetas"). O Brasil não podia conservar-se colonialmente sujeito a uma nação remota e pequena, sem forças para defendê-lo, e ainda menos para conquistá-lo.
A idéia de Independência total, não mais apenas administrativa, ganha força. Passa a ser discutida adequação de sistemas eleitorais à realidade brasileira (que, cuidadosamente, seriam acessíveis apenas à elite).
Em junho de 1822, o príncipe convoca uma Constituinte "luso-brasileira" que, a despeito das declarações em favor da união com Portugal, configurava-se como o rompimento definitivo.
As notícias do RJ provocaram comentários disparatados em Portugal. Falava-se de revolta de negros contra brancos, de tomada de poder pelos negros, horrores contra europeus. Nas Cortes, o antagonismo entre brasileiros e portugueses se acentuou, medidas foram decretadas revogando a Constituinte e exigindo a volta imediata de D. Pedro a Portugal.
Ao saber das últimas notícias de Portugal, revelando inclusive propósitos deenvio de tropas ao Brasil, D. Pedro declara a Independência do país ao 07/09/1822.
Em seguida, José Bonifácio, líder dos conservadores no ministério, fundaria o Apostolado para fazer face ao grupo mais radical. D.Pedro, apesar de maçom e Grão-Mestre, fecha temporariamente a loja maçônica "Grande Oriente'" (sinal da vitória dos conservadores). 
Realizar a Independência com um mínimo de alterações possíveis na economia e na sociedade era o desejo dos componentes do Apostolado (no dizer de Frei Caneca, um "clube de aristocratas servis"), representantes da melhor sociedade da época. ==> MUDAR PARA NÃO MUDAR
Ocupa o governo um grupo de proprietários de terras, empenhados em "manter a ordem, evitar a anarquia e os excessos do povo".
A consolidação da Independência exigiu muito esforço do governo, e só foi conseguido após pagamento de indenização a Portugal e mediação da Inglaterra (que passaria a "tutelar" economicamente o Brasil até meados do século).
A característica de "muitas faces da revolução" garantiu a sobrevivência da estrutura colonial de produção e a organização política do país refletiria os anseios dos grupos sociais que empresaram o movimento - interessados em manter a estrutura de produção de trabalho escravo, destinada a exportação de produtos tropicais para o mercado europeu.
A Constituição de 1824 procurou assegurar ampla liberdade individual (artigo inspirado na Declaração dos Direitos do Homem feita pelos revolucionários franceses em 1789) e garantir liberdade econômica e de iniciativas. Entretanto, é flagrante a contradição entre o estatuto legal e a realidade brasileira (não importava aos legisladores se a maioria da nação se constituía de uma massa humana para a qual os preceitos constitucionais não tinham a menor eficácia - afirmava-se a liberdade individual, mas a maioria da população permanecia escrava!).
O único objetivo da Independência era, de fato, romper o sistema colonial no tocante à restrição à liberdade de comércio e à autonomia administrativa. A ordem econômica seria preservada, a escravidão mantida. A nação independente continuaria subordinada à economia colonial, passando do domínio português à tutela britânica.

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