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FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL
Celso Furtado
CAP VII – Encerramento da Etapa Colonial
A evolução do Brasil como colônia portuguesa está profundamente ligada aos rumos que Portugal toma a partir da segunda metade do século XVII. Débil, perdidos os melhores dos entrepostos Orientais (durante o período de dominação da Espanha, país que constituía ameaça aos lusitanos por ainda não reconhecer sua independência), não havia meios para Portugal defender sua soberania como metrópole colonial em um período de crescente imperialismo. Daí a atitude de se aliar à Inglaterra (o que provocou uma situação de semi-dependência a partir de meados do séc XVII).
Extensos privilégios econômicos e comerciais obtidos pelos ingleses (jurisdição extraterritorial, comércio com as colônias portuguesas, controle sobre as tarifas das mercadorias importadas da Inglaterra) tinham como contraparte inglesa promessas e garantias políticas (cláusulas de proteção do território português pelos ingleses faziam todo o sentido em um cenário em que a Espanha ainda não tinha reconhecido a independência portuguesa e a paz com a Holanda ainda estava sendo negociada).
O problema fundamental da metropóle (decadência da colônia pela crise do açúcar), porém, não era resolvido pelos tratados. Entre dificuldades econômicas e desvalorizações monetárias, conclui-se que novas políticas devem ser adotadas e considera-se substituir importações por meio de um fomento manufatureiro (medidas do Conde de Ericeira). O procedimento tem algum efeito por cerca de 20 anos, quando o desenvolvimento da produção aurífera no Brasil altera o panorama. Neste novo contexto, o tratado de Methuen (1703) foi decisivo na renúncia de Portugal ao desenvolvimento manufatureiro, transferindo para a Inglaterra os benefícios do ouro. Por outro lado, consolidou-se politicamente a posição de Portugal sobre sua colônia americana (influência inglesa na conferência de Utrecht, na qual Portugal garantiu que a França desistisse de reclamações sobre a Foz do Amazonas, e também o reconhecimento de seus direitos sobre a colônia do Sacramento – garantia inglesa nesses acordos).
A economia inglesa (em rápida expansão) tinha como articulação fundamental a economia luso-brasileira (Portugal era simples entreposto do ouro brasileiro), tendo como resultado para a Inglaterra um forte estímulo à manufatura, flexibilidade à capacidade de importar e grande concentração de reservas (desenvolvimento do sistema bancário inglês). Para o Brasil, o ouro permitiu financiar grande expansão demográfica (alteração fundamental da população, os escravos passando a ser minoria em relação aos europeus). A Portugal, entretanto, o ouro proporcionou apenas uma aparência de riqueza (até os escravos eram vestidos com tecidos ingleses). Mesmo Pombal, ciente da situação de dependência portuguesa, não conseguiu alterar profundamente as relações com a Inglaterra (que, afinal, explicam a manutenção de Portugal como potência colonial da época).
Ao final do séc XVIII, escasseia o ouro brasileiro, a Inglaterra já está em pleno desenvolvimento industrial (necessidade de mercados mais amplos, impondo o abandono progressivo dos princípios protecionistas) e o tratado de Methuen passa a ser criticado sob o ponto de vista liberal. Inglaterra firma com a França acordos comerciais que, na prática, acabam com os benefícios aduaneiros de que gozava Portugal.
Com a transferência da corte portuguesa para o Brasil sob proteção da Inglaterra e ocorrendo a independência sem descontinuidade de governo, os privilégios econômicos ingleses sobre Portugal se transferem automaticamente para o Brasil independente. Os acordos comerciais firmados já em solo brasileiro (dentre eles o acordo de 1810, profundamente favorável aos ingleses em termos de tarifas e ações extraterritoriais), com contraparte inglesa de não reconhecer governos impostos por Napoleão em Portugal, levam a crer que a intenção do governo português era a continuidade da casa reinante na Europa. Para os ingleses, entretanto, era muito mais interessante firmar presença comercial com o Brasil especificamente. E assim se processou a independência brasileira, mediada pela Grã-Bretanha, reconhecida pela ex-colônia como potência privilegiada em 1827 (limitando, pois, sua própria soberania econômica).
A primeira metade do séc XIX é marcada pela consolidação do território e da independência política, mas também pelas limitações econômicas em relação à Inglaterra (dificuldades que reduziam a ação do poder central e que geravam descontentamentos pelo território). Apenas na metade do séc surgem fatores propiciarão o desenvolvimento da economia do país (café, fortalecimento das relações com os EUA – crescente solidariedade continental, impulsionando a independência em relação à Inglaterra). A estrutura produtiva interna permaneceu praticamente imutável (escravismo) e a ausência de tensões decorrente são responsáveis pelo atraso industrial. Com o desenvolvimento da cafeicultura, há afinal o impulso necessário para o país do torpor econômico e encerrar, por fim, sua etapa econômica colonial.
CAP XVI – O Maranhão e a Falsa Euforia do Fim da Época Colonial
Nas últimas décadas do séc XVIII, novas dificuldades se apresentam para a colônia (queda nas exportações de açúcar, ouro etc e aumento populacional). A renda per-capita, na virada do século, provavelmente teve o nível mais baixo (50 dólares de 1957) em todo o período colonial.
Isolados dos pólos econômicos principais (açúcar no NE e ouro no Centro), estavam os centros autônomos do Maranhão e do Pará (economia extrativa, com mão de obra indígena organizada por jesuítas, que entrou em decadência que estes últimos sofreram com Pombal).
O Maranhão (região pobre cujos colonos eram tradicionais adversários dos jesuítas) se beneficiou da companhia privilegiada de comércio altamente capitalizada criada por Pombal, que ajudou a promover o desenvolvimento da região. Seus capitais foram concentrados na produção de algodão (produto cuja demanda estava explodindo e cujo principal fornecedor – EUA – estava envolvido na guerra de sua independência) e arroz (produto tropical não submetido a regras do pacto colonial, permitindo assim seu amplo comércio), o que levou a uma prosperidade excepcional da região ao final do período colonial.
As demais regiões do país, entretanto, passavam por dificuldades, conforme já comentado. A prostração da região mineira afetava também a pecuária do Sul. Um conjunto de circunstâncias (independência dos EUA, transferência das Cortes para o Brasil, Revolução Francesa – com conseqüente desestabilização nas suas colônias produtoras de artigos tropicais -, bloqueio continental etc) veio a alterar o mercado mundial de produtos tropicais.
A independência do Haiti abriu espaço para o açúcar do Brasil conhecer uma nova fase de prosperidade (exportações duplicam durante as guerras napoleônicas). O algodão, impulsionado pela demanda inglesa, influenciou a produção em outras regiões do NE. Mesmo outros produtos conhecem, neste período, uma elevação de preços animadora. A prosperidade, porém, é temporária, fundando-se em condições anormais do mercado de produtos tropicais. Superada esta etapa, o Brasil encontraria sérias dificuldades para defender sua posição nos mercados dos produtos que tradicionalmente exportava.
CAP XVII – Passivo Colonial, Crise Financeira e Instabilidade Política
Os acontecimentos na Europa do final do séc XVIII implicaram para o Brasil, por um lado, uma aceleração de sua independência política, mas, por outro, devido aos acordos com a Inglaterra (1810, 1815 e 1817) uma dependência econômica que se estenderia por meio século. Como já comentado, a emancipação política, sem maiores desgastes (uma guerra de independência, por exemplo, provavelmente teria fragmentado todo o território), implicou o passivo colonial que Portugal legou ao Brasil.
Seria um erro, entretanto, supor que aos privilégios comerciais concedidos à Inglaterra cabe a principal responsabilidade pelo fato de que o Brasil não sehaja transformado numa nação moderna já na primeira metade do século XIX. Inexistia, na colônia, uma classe comerciante importante, cabendo o poder a única existente (a dos senhores de terra – o que aconteceria independentemente do processo de emancipação). A eles interessava a liberdade de comércio (Portugal era um entreposto custoso), não havendo possibilidade para uma integração completa com o Reino português como havia entre Inglaterra e as Antilhas (total identificação entre os interesses dominantes na economia central e periférica).
Os conflitos entre os ingleses e agricultores brasileiros (primeira metade do séc XIX) são causados pela aplicação unilateral dos princípios liberais pela Inglaterra (tratados de 1810), exatamente quando a classe de grandes agricultores começa a governar o país. Neste contexto os britânicos pretendem impor o fim do tráfico negreiro, baseando-se em sólidas razões morais e impulsionados pelos interesses antilhanos (que viam na persistência da escravatura brasileira o principal fator de depressão do mercado do açúcar).
O conflito entre ingleses e os agricultores dominantes não constituía, entretanto, uma contradição séria de interesses, daí não se poder afirmar que a falta de liberdade de ação do governo brasileiro causou o atraso no desenvolvimento. A queda na receita do governo devido aos privilégios tarifários ingleses implicava a necessidade de taxar as exportações, causando o descontentamento da classe dominante. O governo central, logo, enfrenta, além da extraordinária escassez de recursos financeiros, descontentamentos internos que eclodem em todas as regiões. Além disto, os preços do açúcar caem, e dificuldades econômicas se acumulam e se refletem em conflitos armados. É no meio deste cenário que começa a surgir no país a nova fonte de riqueza do país, o café, que formará um núcleo sólido de resistência contra as forças de desagregação do país.
Considerando a quase inexistência de um aparelho fiscal no país, cabia às aduanas a arrecadação da receita governamental. A eliminação do imposto português possibilitou um aumento da receita, mas um novo aumento de arrecadação se mostrará impossível até o vencimento, em 1844, do tratado de 1827 com a Inglaterra. Até lá, o financiamento do déficit se dará por meio de emissão de papel moeda, acarretando um violento efeito depreciador na taxa de câmbio (afetando mais as populações urbanas). Conseqüentemente, a inflação empobreceu essas classes, que direcionaram seu ódio aos comerciantes portugueses, responsabilizados pelos males que acabrunhavam o povo.  VER PRÓXIMO CAPÍTULO PARA COMPARAÇÃO COM OS EUA
CAP XVIII – Confronto com o Desenvolvimento dos EUA
 
Com o que foi visto no capítulo anterior, concluímos que a crítica aos tratados de 1810 e 1827 como sendo causas do não desenvolvimento industrial no Brasil é infundada. A época foi de baixa de preços nos produtos exportados, de uma tentativa do Governo de aumentar o gasto público e de um aumento das importações (exclusão do entreposto português, maiores facilidades de comercialização e transporte etc) gerou um déficit no balanço de pagamentos cujo financiamento, na ausência de uma corrente substancial de capitais estrangeiros, se deu por uma desvalorização cambial (aumentando fortemente o preço relativo dos produtos importados). O interessante, portanto, é notar o efeito protecionista da depreciação, superior, comparativamente, a adoção de taxas de 50% nas importações. Haveria, portanto, um “incentivo” à produção interna. A crítica aos tratados, sob esta óptica, portanto, não faz sentido (CONCLUSÃO MINHA).
A comparação de condições que apresentavam o Brasil e os EUA (no decorrer do séc XIX) também leva a conclusão que não estava ao alcance do primeiro adotar a mesma política do segundo (crítica a Simonsen). A começar pelo protecionismo interno americano (muito menor do que o brasileiro), que surgiu após a indústria têxtil já estava consolidada. A composição da população, à época da sua independência, era completamente diversa da brasileira. É possível, nesta sociedade, a disseminação da idéia de industrialização, enquanto no Brasil um grupo de agricultores e comerciantes dominava o país (o máximo de liberalismo se manifestava na crença na mão invisível, ou seja, liberalizar o comércio).
Devido ao caráter peculiar das colônias do Norte, foi possível a criação de indústrias não concorrentes com as da Metrópole, permitindo a essa reduzir suas importações de outros países. As medidas coercitivas começaram quando estas colônias passaram a concorrer com a Inglaterra na exportação de mercadorias. Por outro lado, desde cedo as colônias desenvolveram suas manufaturas e indústria naval, devido à dificuldade em importar (dificuldade acentuada durante a guerra de independência – outro forte estímulo à produção interna, já possível devido à base estruturada).
A experiência técnica acumulada desde a fase colonial, a percepção desde cedo da revolução industrial em curso, e a grande acumulação de capitais na fase das guerras napoleônicas, porém, não explicam totalmente as transformações deste país na primeira metade do séc XIX. Por muito tempo ainda as exportações serão de produtos primários, e o algodão terá papel preponderante no desenvolvimento do país. Em uma época em que a indústria têxtil estava alterando a fisionomia da oferta de tecidos do mundo, a substituição da lã pelo algodão causou uma tendência à ocupação de novas áreas para plantio nos EUA. Deu-se, pois, a expansão para o meio-oeste americano, abrindo espaço para grandes correntes de colonização européia.
À semelhança do que ocorreu com o Brasil, a balança comercial americana apresentava déficit nas primeiras décadas do séc XIX. Diferentemente, porém, este foi financiado não por depreciações cambiais, mas por emissões de títulos de dívida pública de médio e longo prazos. Formou-se, assim, quase automaticamente, uma corrente de capitais que seria de importância fundamental para o desenvolvimento do país.
CAP XIX - Declínio a Longo Prazo do Nível de Renda: Primeira Metade do Século XIX
A condição básica para o desenvolvimento do Brasil na primeira metade do séc XIX seria o aumento das exportações. Não havia base técnica para fomento da industrialização sem grande capacidade de importação (de bens de capital - conclusão MINHA) - daí o fracasso da tentativa de siderurgia, pois não havia mercado interno para produtos siderúrgicos. O pequeno consumo decaía com a crise aurífera, mas se espalhava pelas províncias, exigindo nova organização comercial. 
O preço internacional dos tecidos estava em forte queda, o que afugentava o pequeno artesanato têxtil brasileiro. Tarifas para proteção não seriam suficientes diante de tal declínio, e, mesmo que implantadas, representariam uma queda na renda real (já baixa) da população, além da Inglaterra certamente manobrar para impedir a instalação de indústrias modernas em solo brasileiro.
A causa principal do grande atraso relativo da economia brasileira no início do séc XIX foi o estancamento das suas exportações. Neste período, o valor em libras das exportações aumentou 0,8% aa, enquanto a população crescia a 1,3% aa. Se considerarmos que o café (fortemente concentrado no RJ na época) é o principal responsável pelo aumento das exportações, o cenário se torna mais dramático para os demais produtos: excluído o café, podemos estimar que as exportações em 1850 eram inferiores aos níveis de 1800.
O açúcar, por exemplo, cujo valor das exportações aumentou a taxa média de 1,1% aa, teve que ter sua quantidade exportada mais do que duplicada para ter seu valor de exportação aumentado em 24%.
O algodão promoveu uma queda de 50% no valor, com apenas 10% de queda na quantidade.
Se os preços das importações estivessem também em queda, poderíamos imaginar que o poder de compra real se mantivesse. Ocorre, porém, que, em média, os preços das exportações brasileiras entre 1821-30 e 1841-50 cairam aproximadamente 40%, enquanto uma estimativa das importações revela uma estabilidade de preços.Assim, dado que o valor médio anual das exportações subiu 40%, conclui-se que o esforço produtivo no setor exportador aproximadamente dobrou. 
Constata-se, pois, a queda da renda real no período. Para não depender das exportações, a economia brasileira teria que passar por transformações (desenvolvimento de algum outro setor) que, obviamente, não ocorreram. Cresceu a importância relativa do setor de subsistência (de produtividade menor, em comparação com o setor exportador). A tendência da renda real, na primeira metade do séc XIX foi declinante, atingindo o ponto mais baixo do que qualquer outro período da colônia.
Cap XX - Gestação da Economia Cafeeira
Em meados do séc XIX, havia pouca evidência da transformação a ser operada. Estagnação nos últimos ¾ de séc, surtos apenas locais e temporários de desenvolvimento, estrutura do sistema produtivo imutável e, sobretudo, o problema da força de trabalho caracterizavam a economia brasileira.
Em um país sem desenvolvimento técnico, sem influxos de capitais, sem mercado interno importante, a única saída era a reintegração no comércio internacional. Havia ainda, o problema do crédito externo, estrangulado devido às poucas perspectivas da economia de então. Remota era a possibilidade de retomada do dinamismo nas exportações dos artigos já tradicionais. Como comentado anteriormente, a tendência de preços destes produtos era declinante, e culturas importantes, como a do açúcar, enfrentavam pesada concorrência (beterraba na França, produção em Cuba, Luisiânia, além da Inglaterra ser abastecida pelas Antilhas). O algodão sofria com a concorrência americana (só iria se recuperar temporariamente durante a Guerra de Secessão). Fumo, couro e arroz tinham participação diminuta nas exportações, e seus mercados não permitiam expansão. Cacau era apenas uma esperança. O problema era encontrar algum produto de exportação que se adaptasse a um país cuja força de trabalho era composta na quase totalidade por escravos e no qual o fator de produção abundante era a terra.
O café, cuja produção já ocorria desde meados do séc XVIII, ganha importância comercial com o desmantelamento da produção do Haiti e, além de tudo, se adaptava às restrições de produção brasileiras. Como vimos, já na primeira metade do séc XIX a importância do café nas exportações brasileiras aumenta continuamente, até alcançar o primeiro lugar pela metade do século.
Na primeira fase da produção, as fazendas se concentraram na região montanhosa, próxima ao RJ e aos portos, onde abundava a mão de obra resultante da desagregação da mineração (aproveitamento de recursos subutilizados). Mesmo diante de uma queda internacional de preços, os produtores não se desanimam e a exportação dispara na primeira metade do séc XIX.
O segundo e principalmente o terceiro quartel do século XIX são basicamente a fase de gestação da economia cafeeira. Em comparação com o açúcar, esta cultura utiliza intensamente o fator terra, necessitando, portanto, de um menor grau de capitalização. Embora empregue mão-de-obra escrava nesta primeira fase, aproveita-se do excedente disponível, de modo que apenas um aumento muito forte no preço do escravo poderia impactar a produção (custos monetários menores).
Desenvolve-se nesta etapa uma nova classe empresária no país, formada por comerciantes experientes da região onde o mercado consumidor era mais desenvolvido (RJ). Diferentemente dos rentistas aristocratas do açúcar (que se envolviam apenas com a produção, não com o comércio – etapa onde o lucro era de fato obtido, principalmente pelos redistribuidores europeus), os cafeicultores levavam em conta ambas as etapas (comércio e produção), e estiveram envolvidos em todas as fases da atividade: aquisição de terras, recrutamento de mão-de-obra, organização e direção da produção, transporte interno, comercialização com os portos, interferência na política financeira e econômica (o que, desde cedo, foi percebido como de importância capital). Ou seja, esta classe tem consciência clara de seus próprios interesses, o que a diferencia dos demais grupos dominantes.
Surge, enfim, o produto que permitiria ao país reintegrar-se nas correntes em expansão do comércio mundial. Concluída a gestação, a economia cafeeira encontra em condição de autofinanciar sua expansão. Resta, porém, o problema da mão-de-obra.
Cap XXI – O Problema da Mão-de-Obra
I – Oferta Interna Potencial
Pela metade do séc XIX, a mão-de-obra da economia era composta por uma massa de escravos que talvez não chegasse a 2 milhões de indivíduos (mesmo com a intensa importação da primeira metade do século). Este contingente apresentava uma taxa de mortalidade provavelmente superior à de natalidade, o contrário do observado em outra grande nação escravista, os EUA. Com populações escravas numericamente parecidas no início do século, a escravaria americana vivia em grande parte em pequenas propriedades. Condições de alimentação e trabalho deveriam ser mais favoráveis do que no Brasil. Havia, além, o interesse na criação de escravos para suprimento de outros estados, o que apresentava vantagens inúmeras (integração à cultura, ao trabalho, à língua etc).
Uma atitude oposta ocorria no Brasil. Além do regime alimentar deficiente, o aumento de demanda por mão-de-obra pela cafeicultura e a redução no abastecimento de escravos (com seu conseqüente aumento de preços) devem ter resultado numa intensificação do trabalho (maior desgaste).
Diferentemente da expansão industrial na Europa (a qual resultava em desagregação de economias pré-existentes, exercia pressão sobre os salários, intensificava o processo de urbanização e aumentos populacionais), no Brasil o crescimento era puramente em extensão das terras e sua ocupação por escravos (utilização mais intensa do fator abundante – terra – pela escravaria). O problema econômico se resumia, então, ao problema de mão-de-obra.
Mas, e quanto ao setor de subsistência? Não poderia suprir a crescente demanda?
Disperso pelo país, baseando-se na pecuária e em técnicas rudimentares de agricultura, o setor de subsistência tende naturalmente a crescer, havendo abundância de terras (diminuindo, por outro lado, a importância da faixa monetária). As roças são abertas na mata, os alimentos plantados entre os troncos abatidos, o que é suficiente para a alimentação de uma família. As técnicas rudimentares comumente são reputadas ao “caboclo”, quando, na realidade, independentemente das técnicas a serem empregadas, como não haveria reconhecimento econômico de seu esforço, ocorreu uma involução das técnicas de produção e organização do trabalho, originando, assim, o caboclo. Socialmente, estas atividades eram organizadas em uma propriedade privada, a cujo proprietário interessava que ali morasse o maior número de pessoas que cuidassem da própria alimentação, pois, assim, poderia dispor de seus trabalhos quando necessitasse. O recrutamento desta mão-de-obra para outras atividades (além de apresentar dificuldades logísticas, devido à sua dispersão), portanto, contrariaria a classe de grandes proprietários de terras.
Outras possíveis reservas de mão-de-obra, como as populações urbanas que não encontravam ocupação permanente, dificilmente se adaptariam à disciplina do trabalho agrícola e às condições da vida nas grandes fazendas. Criou-se, assim, a opinião de que a mão-de-obra livre disponível não servia para a “grande lavoura”. Considerou-se a importação de asiáticos, em regime de semi-servidão (opção rapidamente rechaçada pela Inglaterra, que via neste procedimento um renascimento do tráfico de escravos – conforme CAIO PRADO JÚNIOR).
CAP XXII – O Problema da Mão-de-Obra
II – A Imigração Européia
A grande corrente migratória européia em direção aos EUA parecia indicar que esta seria uma boa idéia para o Brasil também. De fato, o governo já havia incentivado a instalação de colônias de imigrantes, sem nenhum resultado econômico para o país. O problema era o suprimento de trabalho para a “grande lavoura”, e não havia precedentes de imigração européia para estefim.
No caso das Antilhas inglesas, os britânicos resolveram a questão “reexportando” como “trabalhadores livres” grande parte dos escravos apreendidos em navios que traficavam para o Brasil. Nos EUA, como já foi comentado, o crescimento da população escrava forneceu a solução necessária, e, além, a imigração européia não teve como fim o trabalho na grande lavoura – se bem que estava relacionada a esta (os europeus aumentaram a demanda interna por algodão). Os preços das passagens para os EUA estavam baratos (baixos fretes de retorno de mercadorias exportadas para a Europa), mas o que explica o movimento migratório é a existência de um mercado em expansão, que muito deve ao desenvolvimento das plantações do sul (à base de mercado escravo).
Diferentemente, no Brasil, as colônias européias (amplamente subsidiadas) tinham como fundamento idéias tais como a “superioridade da raça européia” no trabalho. Não havia razão econômica e, quando os subsídios cessavam, as colônias tendiam a involuir ao nível de subsistência (exemplo: colônia de alemães no RS).
 
O incentivo para a imigração deveria se basear na possibilidade do colono se envolver ou com a produção para o setor exportador ou para o mercado interno. O nível de capital requerido para montar uma fazenda produtiva impossibilitava a primeira opção (sendo que não encontraria simpatia entre a classe dominante a idéia de subsídio para formação de concorrentes). A produção para o mercado interno, por sua vez, pressupunha a expansão deste (que dependia do setor exportador, afetado pelo problema de mão-de-obra => retornamos ao ponto de partida).
A classe cafeeira, percebendo que a política de imigração promovida pelo governo em nada resolvia seu problema, decidiu preocupar-se diretamente com ele. Por volta de 1850, com o governo financiando as passagens, fazendeiros (inspirados pelo pioneirismo do Senador Vergueiro) trouxeram famílias alemãs e suíças (principalmente) para trabalho em regime de parceria (eram meeiros e vendiam seu trabalho futuro– a dívida onerava a família assim que saía da Europa). Apesar do Estado financiar a operação, o custo real da imigração corria por conta do imigrante. A degeneração deste sistema para um regime de servidão temporária (sem data certa para acabar, porém) gerou revoltas entre os colonos e reação na Europa (alguns países chegaram, inclusive a proibir a imigração para o Brasil).
A partir de 1860, o aumento do preço do café e do algodão (devido à Guerra de Secessão, restringindo ainda mais o trânsito de escravos do Norte para o Sul do Brasil) tornou crítica a questão da mão-de-obra. O sistema de parcerias foi sendo substituído por um mais próximo do assalariado (que garantia ao colono alguma renda). Sua tarefa era cuidar de certo número de pés de cafés, pelos quais recebia um salário monetário anual, cujo complemento era dado por uma parcela variável em função do volume da colheita.
A questão do custo da viagem era delicada, pois, se arcado pelo imigrante, suscitava nele medo de perda futura da liberdade; se o custo fosse totalmente assumido pelo fazendeiro, apenas os mais ricos poderiam fazê-lo. A solução, em 1870, foi o governo se encarregar dos gastos da viagem. Os fazendeiros ainda ficavam responsáveis pela cobertura dos gastos do colono durante seu primeiro ano de atividade, e, para o imigrante, havia poucas dúvidas quanto a sua ocupação futura. Este conjunto de medidas permitiu pela primeira vez na América a promoção de uma corrente migratória européia com a finalidade de trabalhar na grande lavoura.
Atuando do lado da oferta de mão-de-obra, a situação política e econômica na Itália gerou um excedente populacional e uma intranqüilidade social cuja válvula de escape natural foi a solução migratória.
Formou-se, portanto, uma corrente migratória que tornaria possível a expansão da produção cafeeira no estado de São Paulo.
CAP XXIII - O Problema da Mão-de-Obra
III - Transumância Amazônica
No final do séc XIX, além da grande imigração européia para o Brasil, internamente houve um outro grande deslocamento populacional: do NE para a Amazônia.
Desde o desmantelamento do sistema de exploração elaborado pelos jesuítas (final séc XVIII, por POMBAL), a estagnação tomou conta da região, na qual se desenvolveram intermitentemente algumas culturas (arroz e algodão, que, ainda que passassem por algum período de prosperidade, não eram importantes no conjunto das exportações). O cacau figurava em destaque, embora o método de plantio também não permitisse maior significação econômica no todo exportado. A população escassa não permitia o aproveitamento adequado dos recursos naturais (como a borracha, produzida desde o início do século XIX e que estava destinada a se tornar, no final do século, a matéria prima de mais rápida expansão no mercado mundial).
Sendo a indústria automobilística um dos principais fatores dinâmicos dos países industrializados (final do séc XIX e início do XX), e sendo a borracha um produto extrativo (cujo estoque está na floresta amazônica), o atendimento da crescente demanda enfrentava dificuldades, pois, a longo prazo, o cultivo da seringueira em regiões mais fartas de mão-de-obra inviabilizaria a produção amazônica. Ocorre, porém, que se configurou a necessidade de uma solução de curto prazo, dada a rapidez com que crescia a demanda. 
A solução, em uma primeira etapa, foi a utilização dos recursos amazônicos através das grandes dificuldades apresentadas no meio. De metade do séc XIX até o primeiro decênio do XX o preço internacional da borracha decuplicou, indicando claramente uma insuficiência de oferta (após a Primeira Guerra Mundial, a borracha oriental derrubou o preço da matéria-prima).
A expansão da produção, mais do que no caso do café, dependia fundamentalmente do suprimento de mão-de-obra, e, de fato, o aumento verificado no final do séc XIX deveu-se exclusivamente a isso, uma vez que as técnicas em nada mudaram. Entre 1870 e 1910, estimasse que meio milhão de imigrantes (originários principalmente da região nordestina) deslocaram-se para a Amazônia.
Este movimento evidencia o reservatório substancial de mão-de-obra disponível no país pelo fim do séc XIX, indicando que seria uma possível alternativa para a lavoura cafeeira (a imigração européia, aparentemente, deixou disponível este contingente para a Amazônia).
Mas por que ocorreu este movimento? 
A população nordestina, desde o primeiro século de colonização, ocupava-se das atividades açucareira e pecuária. Com a decadência da primeira já em fins do séc XVII, a segunda tende a se transformar em economia de subsistência, na qual a população tende a crescer em função da disponibilidade de alimentos (em outras palavras, da disponibilidade de terras). Diferentemente dos Sul e da região central do país, já no séc XVII uma expansão vegetativa desta natureza ocorria, e os sintomas de pressão demográfica eram evidentes. Os raros períodos de prosperidade na região, pelo séc XIX (algodão), contribuíam para criar um desequilíbrio estrutural da economia de subsistência, à qual tornava sua população nos períodos seguintes (situação agravada por volta de 1880, quando uma prolongada seca dizimou o rebanho da região e de cem a duzentas mil pessoas morreram). O auxílio às populações e a propaganda rapidamente se conjugaram para facilitar a emigração (QUERIAM DAR UM FIM NO PROBLEMA MANDANDO TODO MUNDO EMBORA? - PERGUNTA MINHA) para outras regiões do país. Subsidiado o transporte pelos governos dos Estados amazônicos, estabeleceu-se a corrente transumante, cuja manutenção foi mais simples de operar (enquanto o mundo se preparava para uma solução definitiva para o problema da oferta de borracha).
O contraste com o contemporâneo imigrante europeu (salário e habitação garantidos para a família, disponibilidade de terras para o essencial de alimento etc) evidencia a precariedade da situação do emigrante nordestino (que, via de regra, já começava suas atividades endividado, para se alimentar dependia de um regime de estrito monopólio do esmo empregador- o que caracterizava um regime de servidão -, além das longas distâncias a serem percorridas na mata, da solidão das cabanas rudimentares e a insalubridade do meio - isolamento que talvez nenhum sistema econômico jamais haja imposto ao homem).
A queda nos preços provocou a generalização da miséria, pois, sem meios para regressar e desconhecimento o que acontecia no mercado mundial do produto, a população ia ficando pela floresta e regredia à forma mais primitiva de economia de subsistência (a do homem que vive na floresta tropical).
CAP XIV - O Problema da Mão-de-Obra
IV - Eliminação do Trabalho Escravo
Em paralelo com o problema de mão-de-obra (cuja solução na lavoura cafeeira e na Amazônia já foi vista), um outro debate ganhou destaque na época: a "questão do trabalho servil".
Relacionando intrinsicamente aspectos sociais e econômicos, a escravidão, base de toda a produção desde sempre, representava o sustentáculo de um sistema que desmoronaria social e economicamente (destruição da riqueza que representavam os escravos), na visão de alguns, quando abolida. Outros defendiam que haveria uma liberação de capitais para a dinamização da economia.
Na realidade, a abolição representa a redistribuição da propriedade (força de trabalho) dentro da coletividade, daí não ser a destruição de riqueza. Do ponto de vista econômico, a análise deve ser feita quanto às conseqüências desta redistribuição (organização da produção e drau de utilização dos fatores).
A hipótese de transformação do escravo em assalariado formal (como nas Antilhas, dada a total ocupação de terras e a impossibilidade de imigração - sem qualquer mudança no processo produtivo, por conseguinte) ou a do total abandono das propriedades em busca de novas terras (no caso de oferta totalmente elástica do fator terra, com conseqüente queda de produtividade - uma impossibilidade, na verdade, pois os empresários reteriam parte da mão-de-obra por meio de salários altos, ou seja, o efeito seria pró-mão-de-obra) não ocorreram no Brasil. A região açucareira (na qual as terras mais facilmente tratáveis já estavam ocupadas e a economia de subsistência se expandira, além de já haver um excedente populacional urbano) aproximou-se mais do primeiro caso, e a cafeeira do segundo. 
A abolição não teve efeitos sensíveis sobre a utilização de recursos e distribuição de renda na região açucareira. Na região cafeeira, a primeira fase da cultura se deu em regiões montanhosas, facilmente erodíveis, e baseadas no trabalho escravo. A destruição do solo e a possibilidade de utilização de terras mais distantes (devido à estrada de ferro) levava a crer uma intensa migração logo após a abolição. Nesta época se tem a imigração européia para São Paulo, cuja mão-de-obra, superior à escrava, é demasiado evidente para se insistir na escravidão. Os escravos da região cafeeira, no entanto, viram-se em melhor situação que os da região açucareira, pois havia oferta de terras para a subsistência. As possibilidades de trabalho promoveram uma distribuição de renda por meio de salários, se bem que, com necessidades materiais rudimentares, a produtividade da utilização dos fatores - força de trabalho - caiu (ex-escravos preferiam o ócio, trabalhando 2 ou 3 dias por semana, mesmo diante de salários mais altos).
O reduzido desenvolvimento mental da população ex-escrava provocará sua segregação social (CADEIA DE CAUSAÇÃO PRECONCEITUOSA? - PERGUNTA MINHA), retardando sua assimilação e entorpecendo o desenvolvimento econômico do país. Dados os efeitos verificados da abolição, conclui-se que esta tinha um caráter mais político do que econômico, pois era mais importante como uma base regional de poder do que como forma de organização da produção.
CAP XXV - Nível de Renda e Ritmo de Crescimento na Segunda Metade do Séc XIX
A economia brasileira parece ter experimentado uma alta taxa de crescimento a partir da segunda metade do séc XIX. No âmbito do comércio internacional, tudo parecia favorável: aumento na quantidade exportada, no preço médio das exportações e queda no preço médio das importações. O setor mais dinâmico da economia quintuplicou no período considerado. 
Analisando em detalhe este aumento de renda, verifica-se, contudo, que o desenvolvimento que a proporcionou não se estendeu a todo o território brasileiro. Verifiquemos os três principais setores principais da economia:
1) NE (excluída a Bahia), açúcar e algodão: 
 Área composta também por vasta zona de subsistência, sua população cresceu a uma taxa de 1,2% aa (censos de 1872 e 1890). Estendida para todo o meio século, obtém-se um incremento demográfico de 80%, bem superior ao aumento da renda real do setor exportador (54%). Considerando que deve ter havido movimento populacional do setor exportador para o de subsistência , apenas se admitíssemos que a este setor apresentasse um aumento de produtividade a renda per capita poderia ter aumentado. Esta hipótese, é inadmissível, pois nesta época já se tornara notória a pressão populacional sobre as terras agricolamente aproveitáveis. Conclui-se, pois, que houve declínio na renda per capita da região.
2) Economia de subsistência, principalmente a do Sul do Brasil: 
Encontrando mercado para seus excedentes dentro do país, este setor pôde expandir sua faixa monetária. Os colonos do interior do PR, por exemplo, se beneficiaram da renda da erva-mate, e os mais próximos ao litoral se beneficiaram da expansão do mercado urbano, impulsionado pelas exportações.
No RS a pecuária se desenvolveu, fornecendo charque para o mercado interno do país. Além disto, vinho e banha de porco também impulsionaram a economia rio-grandense.
O contraste com o setor de subsistência nordestino é evidente. No período considerado, estima-se que a população sulista tenha crescido a uma taxa de 3% aa, contra 1,2% do setor no NE. No meio século considerado, o aumento da população é de 332%, rivalizando com o crescimento absoluto do setor exportador (396%). Dada a crescente importância dos produtos produzidos no Sul (erva-mate, charque), é muito provável que haja aumentado a produtividade econômica média e, portanto, a renda per capita.
3) Região produtora de café:
Levando em conta a população global da região produtora (ES, RJ, SP e MG), verifica-se que o conjunto populacional cresce a 2,2% aa, superior à do NE e inferior à da Amazônia (2,6%). Os movimentos dentro da região, entretanto, são muito intensos. Nota-se um pequeno crescimento populacional nas antigas regiões produtoras (RJ e MG, com 1,6% aa) em comparação com o aumento populacional da nova região (SP e ES, que crescem a 3,6% aa). Estes dados supõem a transferência de mão-de-obra dos setores de menor produtividade (incluindo subsistência) para os de maior produtividade (o contrário do que ocorreu no NE). Dado o aumento na produção de café no período, é provável que a renda per capita não tenha aumentado em ritmo inferior a do setor exportador.
A Bahia se beneficiou da produção do cacau, para fins de exportação. Entretanto, sua contribuição nas exportações era pequena (1,5% do valor exportado). O fumo apresentou alguma recuperação na segunda metade do séc XIX.Tudo indica, porém, que a melhora de algumas regiões teria ocorrido com o simultâneo entorpecimento de outras, a exemplo do que ocorreu no NE. Explica-se, assim, apesar do fluxo migratório para a região do cacau, que a população do Estado tenha crescido a apenas 1,5% aa. Comparativamente com o NE, sua renda per capita evoluiu menos desfavoravelmente (Furtado assumirá estabilidade na renda per capita).
Por fim, a Amazônia. Há um aumento espetacular de sua participação nas exportações ao final do séc (o dobro das exportações per capita da região cafeeira), se bem que grande parte desta renda não se revertia à região (mas era gerada lá, para fins de cômputo da renda nacional).
(Ver tabela na página 149 do livro)
Pode-se concluir que, na segunda metade do século, o crescimento anual da renda total é de 3,5% e o per capita de 1,5%, valores elevados para a época. Comparativamentecom os EUA, que tiveram taxa semelhante na renda total, devido a um aumento maior populacional o crescimento da renda per capita ficou inferior ao do Brasil. A diferença fundamental está em que, enquanto os EUA na segunda metade do século XIX mantiveram um ritmo de crescimento que vinha do último quartel do século anterior, o Brasil iniciou uma etapa de crescimento após três quartos de século de estagnação e provavelmente de retrocesso em sua renda per capita.
É interessante notar que, considerada uma renda per capita de 50 dólares por volta de 1850, aplicado o crescimento de 1,5% aa até 1950, obtém-se 224 dólares (próximo às estimativas da época): há uma certa estabilidade no crescimento da renda per capita entre 1850 e 1950 (se admitíssemos a mesma taxa de crescimento desde 1800, em 1950 a renda per capita seria comparável à da Europa Ocidental! 500 dólares!).
O exposto acima nos leva a concluir que o atraso brasileiro deve-se não ao período de desenvolvimento a partir de 1850, mas aos 3 quartos de século anteriores.
CAP XXIX - A Descentralização Republicana e a Formação de Novos Grupos de Pressão
A depreciação cambial no final do séc XIX afetava diferentemente a renda dos setores produtivos. Devido ao aumento das importações, o setor de subsistência acabava transferindo renda para o exportador, dada a relativa estabilidade de preços dos produtos de subsistência.Dentro do setor exportador, o assalariado, ainda que podendo cultivar seus alimentos, via-se premido a pagar mais caro por manufaturados importados. A população urbana era particularmente afetada pela depreciação cambial.
A situação fiscal também agravava o quadro. Os impostos da época eram cobrados a partir de uma taxa de câmbio fixa. Obviamente, em face de uma desvalorização, o imposto ad valorem em moeda local cai. A redução era maior para os produtos que pagavam maior imposto (1º efeito regressivo) e as emissões efetuadas para financiar o déficit causavam inflação que incidia particularmente sobre a camada assalariada urbana (2º efeito regressivo). 
As emissões também ocorriam devido à necessidade de manutenção dos serviços básicos (cujos recursos originários eram direcionados ao serviço da dívida externa, magnificada pela desvalorização cambial). Financiar os gastos públicos com receitas correntes se tornou cada vez mais difícil nas etapas de depressão.
É interessante notar que as quedas nos preços internacionais eram compensadas pela redução dos impostos em moeda local. O benefício, portanto, atingia apenas os exportadores. As emissões para financiamento do déficit, por outro lado, gerava inflação que incidia sobretudo sobre os assalariados urbanos. A deflação externa gerava uma inflação interna.
(O parágrafo seguinte acho meio contraditório com o anterior...inflação com escassez de meios de pagamentos deveria levar ao completo caos financeiro)
O período caracteriza-se por uma escassez nos meios de pagamento, justamente em um período de aumento sensível da atividade assalariada. O sistema monetário mostrava-se, portanto, totalmente inadequado para a situação em que estava. A incapacidade do governo de constituir um sistema monetário adequado e de resolver o problema de mão-de-obra reflete divergências crescentes de interesses entre distintas regiões do país (como a diferença entre a organização da mão-de-obra, que passava por transformações radicais no Sul).
O governo monarquista, guiado por homens ligados aos velhos interesses escravistas, não se mostra sensível às necessidades de ação administrativa no campo dos serviços públicos, e a proclamação da República adquire um caráter de reivindicação de autonomia estadual. 
A reforma monetária, que concede poder de emissão aos bancos estaduais, provoca uma súbita expansão do crédito, provocando uma febril atividade econômica. A expansão de renda monetária pressionou fortemente a balança de pagamentos, realimentando a desvalorização cambial.
Diversas medidas entre o último decênio do séc XIX e o primeiro do XX (empréstimo de consolidação - para diminuir o serviço da dívida -, cláusula ouro na arrecadação do imposto de importação, medidas deflacionárias etc) e um aumento das exportações promoveram uma recuperação do equilíbrio externo. Os exportadores, beneficiários da depreciação cambial, terão agora que enfrentar o interesse de outros grupos sociais, como a classe média urbana e os industriais (mais interessados em aumentar a capacidade produtiva, prejudicada, pois, pela depreciação).
A ascensão destes grupos (de rendas não derivadas da propriedade) reduziu substancialmente o controle que os exportadores agrícolas exerciam sobre o governo central.Tem início, assim, um período de tensões entre os dois níveis de governo (federal e estadual) que se prolongará pelas primeiras décadas do século XX.

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