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ANÁLISE DE CUSTO Iraneide Azevedo Custos indiretos de fabricação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a definição de custos indiretos. � Listar os custos indiretos utilizados na indústria. � Demonstrar os custos indiretos no comércio. Introdução Os custos indiretos de fabricação (CIF) são os gastos identificados com a função de produção ou a elaboração do serviço a ser comercializado e que, como o próprio nome já revela, não podem ser associados direta- mente a um produto ou serviço específico. Os problemas da contabilidade de custos consistem na forma de transferir os custos indiretos de fabricação aos produtos, processo ge- nericamente denominado de rateio. É preciso ter cuidado no momento de escolher e definir a base do critério de rateio a ser usado, pois, dependendo da definição, este poderá provocar um resultado equivocado que não reflete o valor real desse custo, afetando, assim, a avaliação dos estoques, bem como para fins gerenciais (tomada de decisão) e de controle do sistema de custos. Neste capítulo, você vai conhecer os custos indiretos de fabricação e ter conhecimento dos custos indiretos utilizados na indústria e no comércio. Conceito de custo indireto Os custos indiretos são os que dependem de cálculos, rateios e estimativas para serem divididos e apropriados em diferentes produtos. Esses gastos são assim denominados por ser impossível uma identificação segura de seus valores e suas quantidades em relação ao produto, uma vez que são utilizados, devido aos gastos, em vários produtos ao mesmo tempo. O custo de fabricação é composto por três elementos de custo: � material direto; � mão de obra direta; � custo indireto de fabricação. Os dois primeiros, por regra geral, segundo Carioca (2012), são aqueles que apresentam relevância em relação ao custo do produto e que podem ser adequadamente quantificáveis. Ou seja, sua alocação ocorre de forma fácil e direta, sem necessidade de rateio. Entretanto, o terceiro, o CIF, em razão de suas características, requer procedimentos adicionais para ser quantificado e lograr uma adequada distribuição. Custo indireto de fabricação Os CIFs são formados por aqueles custos que não podem ser iden tificados no produto final, ou seja, não se pode mensurar quanto, desse custo, realmente pertence a determinado produto ou serviço final. Por essa razão, para alocar esses custos, são utilizados critérios de rateio. Segundo Martins e Rocha (2010), todos os custos indiretos só podem ser apropriados, por sua própria definição, de forma indireta aos produtos, isto é, mediante estimativas, critérios de rateio, previsão de comportamento de custos, entre outros. Todas essas formas de distribuição contêm, em menor ou maior grau, certo subjetivismo. Portanto, a arbitrariedade sempre vai existir nessas alocações, sendo que às vezes ela existirá em nível bastante aceitável, enquanto em outras oportunidades só a aceitamos por não haver alternativas melhores. Os CIFs podem receber, também, a denominação de despesas indiretas de fabricação (DIFs), gastos gerais de fabricação (GGFs) ou despesas gerais de fabricação (DGFs). Custos indiretos de fabricação2 Exemplos: � aluguel da área ocupada pela fábrica (setor produtivo); � depreciação das máquinas e ferramentas industriais; � energia elétrica consumida pela fábrica; � mão de obra indireta (demais funcionários da fábrica); � materiais indiretos (lubrificantes, lixas, colas); � demais custos fabris. Os critérios de rateio são uma divisão proporcional por uma base que tenha dados conhecidos em cada uma das funções em que se deseja apurar custos. Os custos indiretos de fabricação são os custos considerados comuns entre vários departamentos, entre eles, podem ser citados os aluguéis, os seguros e a energia elétrica. Departamento Departamento é a unidade mínima administrativa para a contabilidade de custos, a qual é representada por homens e máquinas (na maioria dos casos), desenvolvendo atividades homogêneas. Diz-se unidade mínima administrativa porque sempre há um responsável para cada departamento ou pelo menos deveria haver. São exemplos de departamento: a) indústria — corte, costura, tingimento, estamparia, entre outros; b) comércio — administração, financeiro, contabilidade, pessoal, vendas, compras, entre outros; c) serviços — administração, financeiro, contabilidade, pessoal, atendi- mento ao cliente, desenvolvimento, etc. 3Custos indiretos de fabricação Os departamentos podem ser genericamente divididos em dois grandes grupos: Departamento de serviços: corresponde à parte essencial da organização. Existe para prestar serviços aos demais departamentos, portanto, não ocorre nenhuma ação direta sobre os produtos. Sua função consiste em atender às necessidades dos departamentos de produção ou de outros departamentos de serviços. São exemplos de departamento de serviços referentes à indústria de camisas: � manutenção; � almoxarifado; � suprimento; � controle de qualidade; � administração. Departamento de produção (ou produtivos): atuam diretamente na industria- lização do produto ou na presta ção do serviço. Como os departamentos de produção recebem os benefícios executados pelos departamentos de serviços, os custos desses últimos devem ser também incorporados à produção. Logo, o custo de produção será a soma dos custos dos departamentos de produção e dos departamentos de serviços. São exemplos de departamento de produção referentes à indústria de camisas: � preparação do tecido; � corte; � costura; � acabamento; � embalagem. Os custos indiretos apropriados aos departamentos produtivos podem ser rateados aos produtos sem muita dificuldade, o que já não ocorre com os departamentos auxiliares, visto que não trabalham diretamente no processo produtivo, apenas auxiliam na sua fabricação, atendendo às necessidades dos diversos departamentos da empresa. Além disso, não há uma base de rateio para a apropriação dos custos desses departamentos aos produtos. Custos indiretos de fabricação4 Departamentalização Departamentalização é a divisão da empresa em centros de custos, nos quais são atribuídos os gastos não identificáveis ao produto. O objetivo da departamentalização é alocar, em cada um desses departa- mentos, os seus respectivos recursos produtivos (máquinas, equipamentos, pessoas e gastos por eles provocados), visando a apurar diversos parâmetros de desempenho por centro (custos, tempo de produção, produtividade, resultado, eficiência, eficácia), possibilitando, entre outras coisas, calcular o custo das atividades produtivas e dos produtos fabricados e avaliar a gestão administrativa do responsável de cada centro de custo. Contabilidade de custos versus departamentalização A contabilidade de custos se utiliza da departamentalização para que possa ocorrer uma correta alocação dos custos indiretos de fabricação aos produtos. Cada custo é agregado, primeiramente, ao departamento e então ao produto, diminuindo, assim, a margem de erro da lucratividade de cada produto. A margem de erro é comumente usada em pesquisas, como as de opinião, de marketing ou de rastreamento. A margem de erro é uma estatística que indica a probabilidade do resultado da amostra ser próxima de 1 se toda a população for pesquisada. Centro de custo É a unidade de controle em que alocamos exatamente os custos ocorridos em um determinado período, espécie por espécie. Os CIFs incluem todos os custos relacionados com a fábrica como um todo, sendo assim, é preciso que sejam distribuídos entre os departamentos que a compõem. 5Custos indiretos de fabricação A departamentalização dos CIFs permite um controle mais detalhado dos custos de fabricação e também uma determinação mais precisa do custo dos serviços e dos produtos. O controle mais íntimo é possível porque a depar- tamentalização implica responsabilidade a um encarregado ou supervisor.As despesas originadas em um departamento são identificadas pela pessoa responsável. Os custos dos departamentos de serviços, por outro lado, são os que podem ser relacionados com a operação desses departamentos, tais como escritório da fábrica, departamento de manutenção, etc. A departamentalização se faz necessária sempre que encontramos dificul- dades na apropriação dos custos indiretos. Critérios de rateio de custos indiretos Todos os custos indiretos só podem ser apropriados, por sua própria defini- ção, de forma indireta aos produtos, isto é, mediante estimativas, critérios de rateio, previsão de comportamento de custos, etc. Todas essas formas de distribuição contêm, em menor ou maior grau, certo subjetivismo. Portanto, a arbitrariedade sempre vai existir nessas alocações, sendo que às vezes ela existirá em nível bastante aceitável, enquanto em outras oportunidades só a aceitamos por não haver alternativas melhores. Há recursos matemáticos e estatísticos que podem ajudar a resolver esses problemas, mas nem sempre é possível a sua utilização. Os critérios que são bons em uma empresa podem não ser em outras devido às características especiais do próprio processo de produção. É absolutamente necessário que a pessoa responsável pela escolha dos critérios conheça bem o processo produtivo. As etapas para rateio dos custos indiretos aos produtos podem ser resumidas da seguinte forma: Primeira etapa: separar os gastos em custos e despesas. Todos os custos que são ou foram gastos se transformam em despesas na entrega de bens ou serviços a que se referem. Muitos gastos são automaticamente transformados em despesas, outros passam primeiro pela fase de custos e outros ainda fazem a via sacra completa, passando por investimento, custo e despesa. Todas as despesas são ou foram gastos, porém, alguns gastos muitas vezes não se transformam em despesas (p. ex., terrenos que não são depreciados) ou só se transformam nestas no momento da sua venda. Custos indiretos de fabricação6 Segunda etapa: separar os custos em custos diretos e indiretos. Custos diretos são, principalmente, os que incorrem determinado produto, identificando-se como parte do respectivo custo. Já os custos indiretos são custos necessários à operação da fábrica, mas de natureza genérica demais para se lançar dire- tamente no custo do produto. Terceira etapa: inserir os custos indiretos no Mapa de Localização de Custos (MLC) para serem rateados nos departamentos que os utilizaram, ou seja, nos departamentos auxiliares e nos de produção. O MLC é uma ferramenta para o lançamento dos custos e das despesas da empresa, os quais são classificados por grupos, centro de custos e contas, permitindo, assim, uma melhor visualização dos gastos, o que auxilia a tomada de decisão do administrador. Você pode saber mais sobre o MLC acessando o link ou o código a seguir. https://goo.gl/ZhtirT Quarta etapa: ratear os custos indiretos aos departamentos auxiliares e pro- dutivos da empresa conforme critérios preestabelecidos. Exemplos: aluguel — conforme a área ocupada por departamento, setor ou atividade. Quinta etapa: cabe aos departamentos auxiliares que não trabalham diretamente com o produto dar o suporte para que a produção aconteça com sucesso e estes repassem seus custos aos departamentos de produção, conforme critérios esta- belecidos a partir de discussões com os gestores dos departamentos envolvidos. Exemplos: o almoxarifado pode repassar os custos do seu departamento para os departamentos de produção, de acordo com o critério de número de requisições solicitadas pelos departamentos produtivos. Os custos do departamento de administração podem ser rateados aos departamentos de produção, conforme o tempo despendido no gerenciamento de cada departamento produtivo, ou conforme o número de colaboradores. 7Custos indiretos de fabricação Sexta etapa: nessa etapa, os custos são somente os departamentos de produção. Para dis tribuir os custos indiretos de cada departamento de produção aos seus produtos, é necessário definir mais um critério de rateio, o qual pode ser pelo número de unidades produzidas, pelo tempo total de produção, pela matéria- -prima, pela mão de obra, ou outros, ou seja, cada empresa vai de finir o critério mais adequado ao seu tipo de produto e processo de produção. Sétima etapa: juntar ao custo indireto de cada produto os custos diretos de matéria-prima, mão de obra e embalagem para formar o custo total de produção. Oitava etapa: com base no custo total de produção, você pode montar o preço de venda orientativa, mas é preciso verificar também o preço de mercado e o preço praticado pela concorrência e avaliar a composição do custo, do volume e do lucro desejado e se é exequível a sua aplicação. Observe, no Quadro 1, alguns tipos de gastos e critérios de rateio utilizados para a sua distribuição. Gastos Critérios usuais Material indireto Consumo de material direto Aluguéis Metros quadrados de cada departamento Energia elétrica Quantidade produzida Mão de obra indireta Tempo de utilização da mão de obra direta Depreciação de máquinas Quantidades produzidas ou tempo de utilização das máquinas Quadro 1. Exemplos de gastos e critérios de rateio. Segundo Martins e Rocha (2010), apesar de conter certo grau de subjetivi- dade, a escolha do critério de rateio mais adequado e eficaz para cada empresa, pelo profissional de custos, baseia-se, principalmen te, no conhecimento que o profissional tem do processo produtivo em questão, bem como da necessidade e da utilização das informações resultantes. Custos indiretos de fabricação8 A utilização de um ou outro critério de rateio poderá provocar alterações no custo dos produtos, mesmo que não ocorram mudanças no processo produtivo. Assim, segundo Martins e Rocha (2010), se todos os produtos feitos forem vendidos no mesmo período, o efeito da alteração do critério de rateio não será sensível na avaliação do resultado global da empresa. Determinada empresa tem três departamentos: financeiro; administrativo e comercial. Mensalmente é pago um aluguel no valor de R$ 4.000,00. Cada um desses departamentos ocupa, respectivamente, 20m2, 40m2 e 100m2. Para que a empresa possa fazer o rateio do gasto com aluguel, ela poderá dividir o valor total do aluguel pela área total do imóvel, assim: R$ 4.000,00 ÷ 160m2 = R$ 25,00 por m2. Após, multiplica-se o valor do aluguel por metro quadrado pela área de cada departamento, conforme o quadro a seguir. Financeiro 20m2 x R$ 25,00/m2 = R$ 500,00 Administrativo 40m2 x R$ 25,00/m2 =R$ 1.000,00 Comercial 100m2 x R$ 25,00/m2= R$ 2.500,00 Total R$ 4.000,00 É preciso ter cuidado para que não sejam registradas as diferenças nos custos dos produtos em virtude dos enganos na disposição (estrutura) das bases de rateio. Quando a empresa é pequena, não se faz rateio de custos indiretos, exatamente porque o trabalho é dispendioso e seu custo não vai ser compensador quando comparado com os benefícios advindos da distribuição em termos de informações gerenciais. Quando a empresa começa a crescer e atinge determinado padrão, a sua administração precisa fazer rateio para apurar os custos. A escolha da base utilizada deve ser feita em função do recurso mais utilizado na produção. 9Custos indiretos de fabricação Na distribuição no valor do custo de R$ 5.000,00 para dois produtos, em uma montadora altamente mecanizada, o critério mais adequado é horas/máquinas. Se a mão de obra direta fosse o fator mais importante, o critério usado poderia ser horas de mão de obra direta ou custo da mão de obra direta. Supondo que o produto A consuma 1.800 h/máquina, por exemplo, e o produto B 700h/máquina. O rateio ficaria desta forma: Taxa de absorção do CIFs = Valor dos CIFs (Critério de Rateio) = R$ 5.000,00 (1.800 + 700)h = R$ 2,00 por hora � Produto A = R$ 2 x 1.800 h = R$ 3.600 de CIF � Produto B = R$ 2 x 700 h = R$ 1.400 de CIF Critério de rateio de custos na indústria Rateiode custos é um processo necessário para que a precificação dos produtos seja feita corretamente, principalmente porque acrescentar os gastos indiretos no preço dos produtos não é uma tarefa fácil devido ao cuidado maior que é exigido. Para ajudar nisso, existem alguns métodos de rateio que podem ser utilizados conforme for mais adequado para cada indústria. Entre eles, podemos destacar dois tipos: Rateio por faturamento: nesse método, calcula-se a participação de cada produto no faturamento mensal da indústria. O objetivo é calcular o percentual que ele representa em relação ao todo. Por exemplo: cada carro popular produzido pela montadora do nosso exemplo anterior pode representar 2% do faturamento mensal da indústria. Rateio por custos indiretos: como o próprio nome sugere, trata-se de aplicar parcelas proporcionais dos custos indiretos no valor de cada produto. Mas atenção! Esse processo deve ser feito de acordo os cálculos corretos dos custos indiretos da empresa para garantir que o rateio seja realizado com precisão. Além disso, este é um processo que exige muito cuidado para que os cálculos não sejam feitos de forma errada. Custos indiretos de fabricação10 Imagine que uma fábrica de calçados tenha um total de R$ 185.000,00 de custos indire- tos e deseje ratear esse valor para três produtos, de acordo com a seguinte proporção: � A produção do sapato X gasta R$ 15.000,00. � A do sapato Y gasta R$ 5.000,00. � A do sapato Z gasta R$ 5.000,00. O primeiro passo é somar o valor total da matéria-prima utilizada nos três produtos, que, neste caso, dá R$ 25.000,00 (15.000 + 5.000 + 5.000). O custo da matéria-prima será o critério de rateio. Para descobrir o rateio, é essencial calcular a porcentagem de participação de cada produto no consumo total da matéria-prima para que esta seja aplicada nos custos indiretos. Portanto, é preciso dividir o valor unitário pelo total: � Para o produto X (15.000/25.000) = 60%. � Para o produto Y (5.000/25.000) = 20%. � Para o produto Z (5.000/25.000) = 20%. Essa porcentagem, que representa a participação do produto no uso da matéria- -prima, será a mesma proporção utilizada na relação dele com os custos indiretos. Por isso, para encontrar o valor desses gastos referentes à produção de cada item, basta multiplicar a porcentagem encontrada pelo valor total de custos indiretos. O resultado vai dizer qual é o valor da matéria-prima que a produção de cada produto deve considerar. Neste exemplo, depois de feito o rateio para cada produto X, Y e Z, tivemos os seguintes resultados: � O produto X gasta (60% x 185.000) = R$ 111.000,00. � Os produtos Y e Z gastam (20% x 185.000) = R$ 37.000,00. Aplicação do rateio por custos indiretos em uma indústria Embora seja bastante utilizado, o rateio por custos indiretos costuma levantar dúvidas em relação ao cálculo. Mas vamos mostrar que é mais simples do que parece. Antes de tudo, é importante entender que o cálculo é feito com base em um critério de rateio, ou seja, tendo como base algum dos custos diretos, o qual deve ser escolhido de acordo com o contexto de cada empresa. Portanto, é partir desse cálculo que os custos indiretos devem ser rateados para os produtos. 11Custos indiretos de fabricação Custos indiretos no comércio Utilizar as informações para saber sobre os custos é mais importante do que simplesmente registrar os valores gastos. No comércio, comprar, estocar e vender são as principais atividades e os gastos que ocorrem são entendidos como os custos totais da empresa. Para obter o valor de custo total das mercadorias, é preciso separar os gastos totais em três situações: custos das mercadorias despesas fixas e despesas variáveis. Custos das mercadorias São os valores gastos com as compras de mercadorias. Para chegar ao valor do custo da mercadoria, o pensamento tem que ser assim: quanto a empresa paga para ter as mercadorias que serão vendidas? Note que esse valor varia todos os meses em função do volume que é comprado e de alterações nos valores de compras negociadas com os fornecedores. Por isso, é preciso sempre anotar e avaliar, mensalmente, o valor total gasto com as compras. Vamos exemplificar o cálculo do custo das mercadorias considerando, além do valor de compra das mercadorias, outros valores relativos ao ICMS (Impostos sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), ao IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e ao frete. Pagamento da diferença do ICMS: se no estado em que as mercadorias foram compradas, por exemplo, a alíquota do ICMS é de 12% e no estado de origem essa alíquota é de 18%, a empresa tem que pagar mais 6% sobre o valor da compra como diferença dessas alíquotas de ICMS. Essa diferença deve ser considerada, integralmente, como custo da mercadoria comprada. Acréscimo do IPI: algumas mercadorias podem estar sujeitas ao pagamento desse imposto. A empresa contribuinte do ICMS deve considerar o valor do IPI de cada mercadoria como um dos seus custos. Pagamento de frete: quando ocorrer o pagamento de frete sobre alguma compra, esse valor deve ser somado ao valor de compra das mercadorias para o cálculo do custo. Custos indiretos de fabricação12 Vamos considerar a seguinte situação: uma empresa compra mercadoria em outro estado, onde a alíquota de ICMS é menor que a do estado do Rio Grande do Sul, com IPI e frete. Como achar o custo da mercadoria? Supondo que o valor das mercadorias compradas tenha sido de R$ 1.500,00 e que tenham sido compradas: � 10 unidades da mercadoria A por R$ 630,00 � 10 unidades da mercadoria B por R$ 870,00 � O total será: R$ 1.500,00 O valor do IPI de cada mercadoria, conforme destacado na Nota Fiscal, foi de: � R$ 31,50 para a mercadoria A � R$ 43,50 para a mercadoria B Portanto, o valor da compra de cada mercadoria com IPI é de: � Valor total da compra da mercadoria A = R$ 661,50, ou seja, (R$ 630,00 + R$ 31,50) � Valor total da compra da mercadoria B = R$ 913,50, ou seja, (R$ 870,00 + R$ 43,50) Essa compra foi realizada em um estado onde a alíquota do ICMS foi de 12%, sendo que no Rio Grande do Sul a alíquota do ICMS dessas mesmas mercadorias foi de 18%, tendo, portanto, a diferença de 6% do ICMS (18% - 12%). O valor dessa diferença sobre o valor da compra foi: � Diferença do ICMS na mercadoria A = R$ 39,69, ou seja, R$ 661,50 x 6% � Diferença do ICMS na mercadoria B = R$ 54,81, ou seja, R$ 913,50 x 6% O valor do frete dessa compra foi de R$ 45,00. Então, o valor do frete deve ser somado ao custo da mercadoria. Primeiro, é preciso saber o percentual que o valor do frete representa sobre o valor da compra e depois distribuir o valor do frete no valor de custo de cada mercadoria. � Valor da compra = R$ 1.500,00 � Valor total do frete = R$ 45,00 � % do frete sobre a compra = 3%, resultado da conta R$ 45,00 ÷ R$ 1.500,00 x 100 Então, o frete, neste exemplo, é de 3% do valor da compra. Como foram compradas duas mercadorias, usamos esse percentual para achar o valor de frete de cada uma delas. � Frete para mercadoria A = R$ 18,90, resultado da conta R$ 630,00 x 3% � Frete para mercadoria B = R$ 26,10, resultado da conta R$ 870,00 x 3% � Total do frete distribuído = R$ 45,00, ou seja, R$ 18,90 + R$ 26,10 Agora, para saber o valor total do custo das mercadorias, temos que somar ao valor da mercadoria, o valor da diferença do ICMS e o valor do frete, ou seja, valor da mercadoria + valor da diferença do ICMS + valor do frete: � Custo total da mercadoria A = R$ 720,09, ou seja, R$ 661,50 + R$ 39,69 + R$ 18,90 � Custo total da mercadoria B = R$ 994,41, ou seja, R$ 913,50 + R$ 54,81 + R$ 26,10 Assim, o valor unitário de custos das mercadorias é de: � Custo unitário da mercadoria A = R$ 72,01, resultado da conta R$ 720,09 ÷ 10 unidades � Custo unitário da mercadoria B = R$ 99,44, resultado da conta R$ 994,41 ÷ 10 unidades 13Custos indiretos de fabricação Despesas fixas São assim tratados todos os gastos que acontecem independentemente de ocorrer ou nãovendas na empresa. As despesas fixas são valores gastos com o funcionamento da empresa, ou seja, a estrutura montada para comprar, estocar e vender. Os gastos mais comuns, nesse caso, são: � aluguel; � IPTU; � salários fixos; � encargos sobre salários (férias, 13º salário, FGTS, INSS — parte do empregador, rescisões contratuais e outros que sua empresa tenha); � contas de telefone, água, gás e energia elétrica; � contador (inclusive 13º, se estiver acertado assim); � material de escritório (notas fiscais, impressos, etc.); � embalagens; � manutenções do prédio, de vitrines, de equipamentos, de veículos, etc.; � propaganda (ainda que feita só de vez em quando); � consumo de combustível e pedágios; � despesas bancárias; � serviços de apoio e proteção ao crédito; � associação comercial e sindicatos; � treinamento dos funcionários e do empresário, etc. Com tantos tipos de gastos, os quais são considerados como despesas fixas, o melhor é que se apure o montante anual desses gastos para, a partir daí, poder achar, com maior precisão, o valor médio mensal de despesas fixas. É importante ter isso anotado, pois assim você terá condições de visualizar o comportamento desses gastos na empresa, se estão aumentando, diminuindo ou o que mais está acontecendo, e aí tomar decisões que melhorem as situações percebidas. Vimos então que o controle e o conhecimento do valor das despesas fixas da empresa permitem o domínio quanto a: � apurar quanto esses gastos representam do valor das vendas; � definir quanto será preciso vender ao menos para pagar as despesas fixas; Custos indiretos de fabricação14 � rever sempre qual é a melhor condição para a empresa, a qual deve ser relativa aos valores totais de despesas fixas; � saber exatamente quanto o volume total vendido no mês apresentou de resultado e se isso foi lucro ou prejuízo; � considerar no preço de venda, juntamente com os custos das mercado- rias, um valor que contribua para pagar as despesas fixas. Uma forma de controle apropriada aos pequenos comércios é: 1. Distribuir (rateio) as despesas fixas no custo, utilizando como base o volume de vendas. Portanto, é preciso apurar quanto das vendas as despesas fixas representam. Dessa forma: Total anual de despesas fixas ÷ Total anual de vendas x 100 Essa conta indica a porcentagem que as despesas fixas representam das vendas. Quando aplicada sobre o preço de venda, encontra-se o valor em R$ que poderá ser somado aos demais custos e despesas para se chegar ao custo total das mercadorias. Supondo a seguinte situação: � Valor médio em estoque (anual) = R$ 200.000,00 � Valor médio das despesas fixas (anual) = R$ 36.000,00 � Despesas fixas sobre o valor de estoque = (R$ 36.000,00 ÷ R$ 200.000,00) x 100 � Despesas fixas sobre o valor de estoque = 18 % � Valor de custo da mercadoria + % das despesas fixas sobre valor de custo (valor em estoque). Aproveitando os valores do exemplo anterior: � Custo unitário da mercadoria A = R$ 72,01 � Custo unitário da mercadoria B = R$ 99,44 � Mercadoria A: valor das despesas fixas: 18% de 72,01 = 12,96 � Mercadoria B: valor das despesas fixas: 18% de 99,44 = 17,89 Então, custo da mercadoria = valor do custo + despesas fixas � Mercadoria A = 72,01+ 12,96 = 84,97 � Mercadoria B = 99,44+ 17,89 = 117,33 15Custos indiretos de fabricação Despesas variáveis São os valores gastos quando são realizadas as vendas. Normalmente, são considerados como despesas variáveis os impostos sobre a venda e a comis- são de vendedores. Porém, em cada empresa comercial, é preciso avaliar, dos valores gastos, aqueles que são pagos em função do valor da venda e considerá-los despesas variáveis. Por exemplo: taxa de administração sobre as vendas realizadas com cartões de crédito, com tickets, etc. Para saber o valor das despesas variáveis e considerá-lo no custo total das mercadorias, é preciso, antes, saber o preço de venda da mercadoria ou o valor das vendas realizadas. Isso porque as despesas variáveis, conforme explicado anteriormente, em geral representam uma porcentagem do valor de venda. Para sabermos o valor das despesas variáveis das mercadorias A e B, adotaremos um valor de preço de venda das mercadorias. Só é possível encontrar o valor em R$ das despesas variáveis depois de saber os preços de vendas das mercadorias. � Mercadoria A: preço de venda = R$ 103,00 � Mercadoria B: preço de venda = R$ 142,00 Supondo que sobre o preço de venda dessas mercadorias tenham que ser pagos os impostos sobre venda (federal e estadual) de 7% e a comissão de vendedores seja 3 %, temos um total de 10% de despesas variáveis, o qual é pago quando a venda é realizada. E isto, nas mercadorias A e B, proporciona um valor de: � Mercadoria A = R$ 10,30, ou seja, 10 % de R$ 103,00 � Mercadoria B = R$ 14,20, ou seja, 10 % de R$ 142,00 Custos indiretos de fabricação16 CARIOCA, V. A. Contabilidade de custos. Campinas: Alínea, 2012. MARTINS, E.; ROCHA, W. Métodos de custeio comparados. São Paulo: Atlas, 2010. 17Custos indiretos de fabricação Leituras recomendadas CREPALDI, S. A. Curso básico de contabilidade de custos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. DCC. C042 - Construção civil IV: Aula 4 exercícios - preço de venda e BDI. Depar- tamento de Construção Civil, 22 ago. 2014. Disponível em: <http://www.dcc.ufpr.br/ mediawiki/images/0/0d/Aula_4_or%C3%A7amento_exerc_BDI_e_PV.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2018. LEONE, G. S. G. Curso de contabilidade de custos: contém critério do custeio ABC. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1998. RIBEIRO, O. M. Contabilidade de custos fácil. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. TISAKA, M. Cálculo da taxa do BDI - Benefício e despesas indiretas. Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Taubaté (AEAT), [201?]. Disponível em: <aeat.com.br/baixar. php?arquivo=admin/arquivos/check/BDI.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2018. WK SISTEMAS. Rateio de custos na indústria: o que é e como calcular. WK Sistemas, 31 out. 2017. Disponível em: <http://blog.wk.com.br/rateio-de-custos-na-industria- -o-que-e-e-como-calcular/>. Acesso em: 24 abr. 2018.
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