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ALECRIM_DENYR_MONOGRAFIA_28_11_14(1)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 
FACULDADE DE FARMÁCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Perfil das travestis que realizam trabalho sexual em Belo Horizonte e utilizaram 
hormônios para a transformação do corpo: um estudo transversal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2014 
 
 
 
DENYR JEFERSON DUTRA ALECRIM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Perfil das travestis que realizam trabalho sexual em Belo Horizonte e utilizaram 
hormônios para a transformação do corpo: um estudo transversal 
 
 
 
 
Monografia de Trabalho de Conclusão de Curso, como 
requisito parcial, para obter o título de Bacharel em 
Farmácia apresentada ao Colegiado de Coordenação 
Didática do Curso de Farmácia da Universidade 
Federal de Minas Gerais. 
Orientadora Profa. Maria das Graças Ceccato – UFMG 
Coorientador Prof. Marco Aurélio M. Prado – UFMG 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Alecrim, Denyr Jeferson Dutra. 
A366p 
 
 Perfil das travestis que realizam trabalho sexual em Belo Horizonte e 
utilizaram hormônios para a transformação do corpo: um estudo 
transversal / Denyr Jeferson Dutra Alecrim. – 2014. 
 82 f. : il. 
 
 Orientadora: Maria das Graças Ceccato. 
 Co-orientador: Marco Aurélio M. Prado 
 
 Trabalho de Conclusão de Curso - Colegiado de Farmácia, 
Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais. 
 
 1.Travestis - Hormônio 2. Travestilidades. 3. Transformação 
Corporal. 4. Hormonioterapia. I. Ceccato, Maria das Graças. II. 
Prado, Marco Aurélio M. III. Universidade Federal de Minas Gerais. 
Faculdade de Farmácia. IV. Título. 
 
 
 CDD:307.76 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço à Professora Orientadora Maria das Graças, por compartilhar seu 
conhecimento, sabedoria e elegância. Nos momentos que me senti mais perdido, 
ela, com as palavras certas, indicava os caminhos. 
 
Ao professor Marco Aurélio e aos integrantes do NUH/UFMG por me auxiliarem a 
conhecer um novo mundo que é o campo do gênero e da sexualidade. Suas 
contribuições foram muito importantes para a realização deste trabalho quanto para 
o meu crescimento teórico e pessoal. 
 
À minha mãe Joana Dutra, que em todo este tempo esteve ao meu lado como uma 
grande amiga e companheira. Com ela compartilhei todas as minhas angústias e 
anseios revolucionários e de forma paciente ela soube lidar, se propondo a 
desconstruir antigos paradigmas e contradições. Agradeço também ao meu pai 
Antônio, e espero que um dia, ele possa ler esta monografia e entender que a 
liberdade deva ser direito de todo e qualquer ser humano. 
 
Aos meus amigos Luiz Henrique e Anne Borges, que sempre estiveram ao meu 
lado. Compartilhamos sonhos, ideais, alegrias, incertezas e tristezas. A companhia 
destas pessoas foi muito importante para meu crescimento. 
 
Agradeço a todas e todos os companheiros que construíram e constroem a 
Executiva Nacional de Estudantes de Farmácia. Neste espaço do movimento 
estudantil, enxerguei as contradições desta sociedade injusta e que precisa ser 
transformada para garantir a equidade e liberdade dos seres humanos. 
 
Agradeço a todas as amigas e a todos os amigos que estiveram comigo nesta 
jornada. Às amigas e amigos que fiz nesta universidade, no movimento estudantil, 
na militância. Aos amigos que sempre estiveram em minha vida, que souberam 
compreender as ausências. 
 
Agradeço a todas e todos que de alguma forma contribuíram com a construção 
deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Por um mundo onde sejamos 
 socialmente iguais, 
 humanamente diferentes e 
 totalmente livres.” 
 
 (Rosa Luxemburgo) 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
ACO – Anticoncepcionais orais 
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
COEP – Comitê de Ética em Pesquisa 
DSM-V – Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais 5ª Edição 
EJA – Educação de Jovens e Adultos 
GM – Gabinete do Ministro 
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana 
LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais 
LSD – Dietilamida do Ácido Lisérgico 
MS – Ministério da Saúde 
NUH-UFMG – Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da UFMG 
SNC – Sistema Nervoso Central 
SUS – Sistema Único de Saúde 
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
1 Variáveis selecionadas a serem analisadas - Projeto TRANS 
(NUH/UFMG), Belo Horizonte, MG. 
31 
2 Características descritivas da amostra de travestis que utilizaram 
hormônios para transformação corporal e realizam trabalho sexual, 
Belo Horizonte, 2013 (n = 130). 
39 
3 Problemas decorrentes da utilização de medicamentos 
anticoncepcionais (hormônios femininos) para a transformação do 
corpo. 
48 
4 Principais diferenças entre a utilização de hormônios, silicone industrial 
e prótese de silicone para a trasnformação corporal 
56 
 
 
 
 
 RESUMO E PALAVRAS-CHAVE 
 
A diversidade de sexualidade e identidade de gênero se associa às tecnologias de 
modificações corporais e a uma ampliação do debate para além das 
heterossexualidades e binarismos. As travestilidades podem ser consideradas como 
processos de construção ou reinvenção do gênero feminino. O início da utilização de 
hormônios para a transformação do corpo marca a decisão de incorporar e dar 
visibilidade à identidade travesti. A escassez de estudos publicados sobre a 
hormonoterapia em travestis evidencia como este tema é pouco abordado por 
grupos de pesquisa em saúde. Este estudo tem como objetivo descrever o perfil das 
travestis que realizam trabalho sexual em Belo Horizonte e utilizaram hormônios 
para a transformação do corpo e é um estudo observacional do tipo corte 
transversal, quantitativo, descritivo realizado com 130 travestis adultas que realizam 
trabalho sexual no município de Belo Horizonte e utilizaram hormônios para a 
transformação corporal. Observou-se que a média de idade de inicio de uso de 
hormônios é de 16,8 (±3,8) anos e 98% obtiveram conhecimento sobre eles com 
colegas. Cerca de um terço relata ter algum problema decorrente da utilização dos 
hormônios. Dentre as participantes, 63,8% utilizaram silicone industrial, 37,2% 
utilizaram próteses de silicone para as transformações do corpo. Observou-se que 
75,4% não possuem plano privado de saúde e 25% não realizaram consulta médica 
nos 12 meses anteriores à pesquisa. A utilização de hormônios, na forma de 
anticoncepcionais, normalmente se inicia sem a orientação de profissionais de 
saúde e os agravos à saúde são causados, em grande parte, devido ao uso 
indiscriminado destes medicamentos em grandes quantidades ou em intervalos 
reduzidos de tempo. A dificuldade de acesso a serviços de saúde ainda tem como 
fundamento o preconceito e a intolerância às diversidades. Mesmo com os diversos 
avanços, o acesso à hormonioterapia pelas travestis e suas consequências 
continuam não correspondendo a real demanda brasileira. 
 
PALAVRAS-CHAVE: TRAVESTI, TRAVESTILIDADES, HORMÔNIO, 
HORMONIOTERAPIA, TRANSFORMAÇÃO CORPORAL 
 
 
 
ABSTRACT AND KEYWORDS 
 
The diversity of sexuality and gender identity is associated with body transformation 
technologies and a broadening of the debate beyond heterosexuality and binarism. 
The travestilites can be considered as a process of construction or reinvention of the 
female gender. The early use of hormones for body transformation marks the 
decision to incorporate and give visibility to the travesti \identity. The scarcity of 
published studies on hormone therapy for travestis shows how this topic is rarely 
addressed by health research groups. This study aims to describe the profile of 
travestis who perform sex work in Belo Horizonte and used hormones for the 
transformationof the body and it is an observational descriptive study was cross 
sectional, quantitative, conducted with 130 adult transvestites who perform sex work 
in the city of Belo Horizonte and used hormones for body transformation. It was 
observed that the average age of initiation of hormone use was 16.8 (± 3.8) years 
and 98% heard about them from colleagues. About a third reported having some 
problems arising from the use of hormones. Among the participants, 63.8% used 
industrial silicone, and 37.2% used silicone implants for the body transformations. It 
was observed that 75.4% don't have private health insurance and 25% didn't attend 
medical visits in the 12 months preceding the survey. The use of hormones in the 
form of contraceptives, usually begins without the orientation of health professionals 
and health problems are occur, in large part, due to the indiscriminate use of these 
drugs in large amount or in short time intervals. Poor access to health services is still 
due to prejudice and intolerance with gender diversity. Even with many advances, 
access to hormone therapy by travestis and its consequences still does not 
correspond to Brazilian real demand. 
 
KEYWORDS: TRAVESTI, TRAVESTILITES, HORMONES, HORMONETHERAPY, 
BODY TRANSFORMATION. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO 12 
2 OBJETIVOS 14 
2.1 Geral 14 
2.2 Específicos 14 
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 15 
3.1 Travestis, identidade de gênero e abjeção 15 
3.2 Transformação corporal e construção do corpo travesti 16 
3.3 Hormonoterapia 17 
3.3.1 Aspectos farmacológicos 17 
3.3.2 Aspectos epidemiológicos 19 
3.3.3 Influência da hormonioterapia na saúde das travestis 21 
3.4 Aspectos políticos 22 
3.5 Considerações metodológicas em estudos envolvendo travestis 24 
4 MATERIAIS E MÉTODOS 28 
4.1 Delineamento e local do estudo 28 
4.2 População e critérios de elegibilidade 28 
4.3 Critérios éticos 29 
4.4 Instrumento para coleta de dados e procedimentos 29 
4.4.1 Instrumentos 30 
4.4.2 Procedimentos 30 
4.4.3 Variáveis 31 
4.5 Análise dos dados 38 
5 RESULTADOS 39 
5.1 Características sociodemográficas 42 
5.2 Assunção identitária 43 
5.3 Trabalho sexual e renda 44 
5.4 Saúde 44 
5.5 Uso de preservativo 45 
5.6 Violência 46 
5.7 Transformação do corpo 46 
5.7.1 Utilização de hormônios 47 
 
 
6 DISCUSSÃO 49 
6.1 Trabalho sexual e renda 50 
6.2 DST/AIDS e uso de preservativo 51 
6.3 Transformação do corpo 52 
6.3.1 Hormônios 52 
6.2.2 Silicone industrial 54 
6.2.3 Prótese de silicone 55 
6.3 Saúde 56 
6.3.1 Acesso à saúde 57 
7 CONCLUSÕES 60 
8 REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS 61 
9 ANEXOS 66 
ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Projeto TRANS 
– NUH/UFMG 
68 
ANEXO B – Questionário aplicado às participantes do Projeto TRANS – 
NUH/UFMG 
70 
ANEXO C – Ata de defesa de monografia 81 
 
12 
 
1 
 
A diversidade de sexualidade e identidade de gênero se associa às tecnologias de 
modificações corporais e a uma ampliação do debate para além das 
heterossexualidades e binarismos. Nesta perspectiva de multiplicidade e fluidez de 
identidades sexuais e de gênero (BUTLER, 2002) encontramos as experiências de 
travestis no cenário social brasileiro. As travestilidades podem ser consideradas 
como processos de construção ou reinvenção do gênero feminino, ou seja, 
reconstrução das posições de gênero e sexualidade implicadas culturalmente na 
construção do feminino em corpos designados pela medicina como masculinos ao 
nascer. 
 
Entre as travestis, as possibilidades de (re)construção do feminino trazem diferentes 
implicações identitárias e torna os corpos ainda mais plásticos na construção e 
desconstrução do que se deseja para si (DUQUE, 2012). Segundo Lourenço (2009), 
“as travestis vão modificando seus corpos de maneira permanente, de forma mais 
intensa na juventude, sacrificando muitas vezes a saúde e a própria vida em busca 
da aparência feminina perfeita”. Os riscos são potencializados pela dificuldade de 
acesso a serviços de saúde de qualidade e seguros, bem como a escassez de 
políticas públicas de atenção à saúde desta população. Para a construção da 
pessoa travesti, o hormônio aparece como elemento fundamental, pois é um dos 
primeiros passos nos que se refere aos processos de transformações corporais, 
sobretudo na juventude devido à facilidade de acesso. Além da utilização dos 
hormônios, a aplicação de silicone industrial é uma etapa importante no processo de 
construção da identidade travesti. “A etapa mais radical e irreversível” (KULICK, 
2008), pois diferente da hormonioterapia, o silicone industrial não pode ser removido 
do corpo após ser aplicado, além de apresentar resultado imediato, diferente da 
hormonioteraipia que demora meses ou ate anos. O imediatismo na busca por 
resultados torna a utilização do silicone um rito de passagem sem volta na 
metamorfose da travesti (LOURENÇO, 2009). 
 
As travestis desestabilizam as fronteiras de gênero tradicionalmente construídas, 
enfrentando dificuldades em múltiplos cenários, sendo um deles os serviços públicos 
de saúde (SOUZA, 2014). Elas representam a maior parcela das pessoas 
13 
 
transgênero, as quais incluem todas as pessoas que assumem socialmente 
posições de gênero diferente daquela designada pela medicina no nascimento 
(BORGES, 2012) e “a influência do gênero nas questões referentes à saúde e 
doença pode ser percebida em muitas dimensões, entre as quais a definição de 
itinerários terapêuticos e o acesso aos serviços e políticas públicas” (SOUZA, 2014). 
Diante desse contexto, a POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DE 
LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS - LGBTs (BRASIL, 
2011) traz que um “grave problema para a saúde de transexuais e travestis é o uso 
indiscriminado e sem orientação de hormônios femininos. Há reconhecida relação 
entre o uso de hormônios femininos e a ocorrência de acidente vascular cerebral, 
flebites, infarto do miocárdio entre outros agravos, resultando em mortes ou 
sequelas importantes.” Essa política reafirma o compromisso do Sistema Único de 
Saúde (SUS) com a universalidade, a integralidade e com a efetiva participação da 
comunidade e coloca, dentre seus objetivos, o fomento à realização de estudos e 
pesquisas, envolvendo estudos populacionais, e desenvolvimento de serviços ou de 
tecnologias, voltados às necessidades de saúde das e dos LGBTs e, embora ela 
exista, o principal desafio é a por em prática. 
 
Estudos sobre travestis ainda são poucos, uma vez que somente na década de 1990 
começaram estudos e pesquisas a fim de distinguir as diferentes identidades e 
orientações sexuais. (BOMFIM, 2009). A escassez de estudos publicados sobre a 
hormonoterapia em travestis evidencia como este tema é pouco abordado por 
grupos de pesquisa em saúde. 
 
Este trabalho justifica-se, pela relevância social do tema, focando sua atenção para 
a utilização de hormônios femininos pela população de travestis, bem como a 
abordagem no SUS, e pela relevância científica, contribuindo com as novas 
pesquisas na área da hormonioterapia. De forma geral, esta pesquisa pode 
colaborar no embasamento de políticas públicas que garantam direitos às travestis. 
 
14 
 
2 OBJETIVOS 
 
2.1 Geral 
 
Descrever o perfil das travestis que realizam trabalho sexual em Belo Horizonte e 
utilizaram hormônios para a transformação do corpo. 
 
 
2.2 Específicos 
 
2.2.1 Caracterizar as travestis participantes quanto aos aspectos sócio 
demográficos, socioeconômicos, auto percepção da saúde, assistência à 
saúde, assunção identitária, comportamento sexual, uso de drogas lícitas e 
ilícitas, história de violência e transformação do corpo. 
 
2.2.2 Descrever a utilização de hormônios pelas travestis, como o acesso, a idade 
de início, o conhecimento e problemas decorrentes do uso. 
 
 
 
15 
 
3. REVISAO BIBLIOGRAFICA 
 
3.1 Travestis, identidade de gênero e abjeçãoAs identidades de gênero e sexuais são compostas e definidas por relações sociais 
que implicam na instituição de desigualdades, de ordenamentos, de hierarquias, e 
estão, sem dúvida, estreitamente imbricadas com as redes de poder que circulam 
numa sociedade (LOURO, 2000). A sexualidade e o gênero são materializados nos 
corpos por normas regulatórias que são constantemente reiteradas, repetidas e 
ratificadas e que assumem o caráter de substância e de normalidade em um 
processo que visa disciplinar formas de masculinidades e de feminilidades possíveis 
e complementares entre si (BUTLER, 1993). Essa realidade é regida pelas regras da 
heteronormatividade, que determinam a heterossexualidade como natural e, por 
consequência, se apoiam em um sistema de identificação de gênero biologicista e 
binário, baseado na anatomia do corpo, nos órgãos sexuais (BUTLER, 2003). 
Seguindo essa lógica, um indivíduo, ao nascer com pênis, seu gênero deverá ser 
masculino, heterossexual e sua prática sexual ativa, enquanto que, caso nasça com 
vagina, seu gênero será feminino, heterossexual e prática sexual passiva. Conforme 
Miskolci e Pelúcio (2008), 
“hoje, o conceito de heteronormatividade sintetiza o conjunto de normas prescritas, 
mesmo que não explicitadas, que marcam toda a ordem social e não apenas no que 
concerne à escolha de parceiro amoroso; alude, também, ao conjunto de instituições, 
estruturas de compreensão e orientação prática que se apoiam na 
heterossexualidade. É toda esta ordem social que mostra como no par 
heterossexualidade/homossexualidade não há simetria, pois ele engloba díades como 
norma/desvio, regra/exceção, centro/margem. A heterossexualidade só pode existir 
fixando o periférico e, a partir dele, se definindo como central.” 
Qualquer expressão fora do padrão binário heteronormativo tende a ser 
invisibilizada, considerada anormal e a pessoa como abjeta. Segundo Judith Butler 
(2002), os corpos abjetos são desapropriados de qualquer reconhecimento ou direito 
que um ser humano possa ter por inexistir para a compreensão lógica das 
determinações normativas. Sem visibilidade não é reconhecido como sujeito, se não 
é sujeito não existe, logo não pode ser tomado como ser de direitos. Fazendo a 
leitura de forma aplicada, Larissa Pelúcio (2009) descreve que 
16 
 
“essa não existência acaba por colocar as travestis no plano do abjeto, corpos cuja 
existência parece não importar. De fato, importam, pois os abjetos precisam estar lá, 
ainda que numa higiênica distância, para demarcar as fronteiras da normalidade”. 
 
3.2 Transformação corporal e construção do corpo travesti 
 
Torna-se evidente que não há uma maneira única de se construir as expressões de 
gênero. Segundo Louro (2000), “os corpos são significados pela cultura e, 
continuamente, por ela alterados”. A construção desta identidade pode ser resultado 
do processo histórico, social e cultural que vivem os seres humanos. Simone de 
Beauvoir (1967) diz que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, trazendo uma 
importante reflexão sobre a construção social, cultural e histórica da identidade de 
gênero. Da mesma forma que não se nasce mulher, não se nasce homem, travesti, 
trangênero, dentre infindáveis expressões de gênero. Todas são guiadas pelos 
processos de construção de gênero individuais e coletivos dos seres humanos. 
 
Nesta construção, podemos evidenciar os processos de transformação corporal. 
Segundo Larissa Pelúcio, (2009), “as travestilidades não podem ser sem um corpo 
transformado, marcado, por um feminino que procura borrar, nesses corpos, o 
masculino, sem apaga-lo de todo”. As experiências que constituem a travestilidade 
tem na transformação do corpo e do gênero um fator que desestabiliza a ordem 
binária dos sexos e dos gêneros. O corpo para as travestis é um aspecto-chave no 
processo de sua identificação de gênero, esse corpo se modifica ao longo do tempo 
desafiando sua condição biológica e física do universo tido como masculino. As 
formas retas que caracterizam o corpo masculino necessitam ser readequadas para 
adquirir formas arredondadas inerentes ao corpo tido como feminino. O hormônio e 
o silicone, próteses ou o industrial, aparecem como ferramentas fundamentais na 
construção da pessoa travesti. Com a utilização dos hormônios femininos, as 
mudanças corporais se mostram mais visíveis e mais definitivas. São com os 
hormônios que se adquirem novas características nas formas do corpo, bem como 
novas particularidades de uma ordem moral que dizem respeito ao comportamento 
feminino na sociedade (BENEDETTI, 1998). 
 
17 
 
A rua também é um espaço importante na construção da experiência das travestis. 
Na noite, nas relações sociais é que se aprende a se tornar travesti. É um lugar 
onde conhecem novas pessoas, fazem novas amizades, compartilham as regras e 
experiências, conhecem as novas técnicas de transformação corporal, conhecem 
seus clientes, compram roupas. Benedetti (2005) complementa que “Nas esquinas 
testam o sucesso de suas próprias transformações em busca do feminino”. 
 
3.3 Hormonoterapia 
 
Segundo Peres (2012), “um dos artifícios essenciais na vida de uma travesti é iniciar 
o uso de hormônios”. Observam-se, com a hormonoterapia, as mudanças corporais 
como o desenvolvimento dos seios, arredondamento dos quadris e das pernas, 
afinamento da cintura e diminuição da produção de pelos, especialmente os da 
barba, peito e pernas. Os hormônios (anticoncepcionais orais ou injetáveis) são 
normalmente o primeiro instrumento que as travestis recorrem com este objetivo e 
para algumas, é o único meio. 
 
A utilização de medicamentos hormonais orais parece estar associada à própria 
decisão de incorporar e dar visibilidade à constituição de uma identidade travesti. 
Para Benedetti (1998), “o hormônio é como um alimento para o corpo”. A utilização 
de anticoncepcionais orais (ACO) parece ser este veículo que integra e exterioriza 
as dimensões físicas e morais no universo das travestis (PERES, 2012). 
 
3.3.1 Aspectos farmacológicos 
 
Segundo Wanmacher (2003), os anticoncepcionais orais podem ser combinados 
(estrógenos e progestógenos), mono, bi e trifásicos ou só conter progestógeno 
(minipílulas). Os combinados são ditos monofásicos quando as concentrações de 
estrógeno e progestógeno são a mesma em todos os comprimidos da cartela. Os bi- 
e trifásicos possuem duas ou três variações nas concentrações dos princípios ativos 
nos comprimidos da cartela. Ao longo das últimas décadas, as doses hormonais 
contidas nesses medicamentos têm sido bastante reduzidas, o que acarreta em 
melhor aceitação dos anticoncepcionais pelo organismo, devido à diminuição dos 
eventos adversos. 
18 
 
 
Os anticoncepcionais orais são classificados em gerações, de acordo com a dose de 
estrogênio. Os da Primeira Geração com 0,150 mg de etinilestradiol, os da Segunda 
Geração com 0,050 mg de etinilestradiol, Terceira Geração com 0,030 mg de 
etinilestradiol e Quarta Geração com 0.020 mg de etinilestradiol (MUKAI, 2012). 
 
Outra categoria de medicamentos hormonais contraceptivos são os 
anticoncepcionais injetáveis mensais que são colocados numa classificação 
intermediária entre os anticoncepcionais orais combinados e os com somente 
progestógenos. 
 
Os estrógenos produzidos de forma endógena são responsáveis pelas alterações 
puberais nos organismos biologicamente XX. Proporcionam o crescimento e 
desenvolvimento da vagina, útero e tubas uterinas. Contribuem também no 
desenvolvimento dos quadris, aumento das mamas e contornos do corpo. Eles 
também atuam no desenvolvimento do organismo biologicamente XY. Nestes, a 
deficiência de estrógenos diminui o estímulo ao crescimento puberal e a maturação 
esquelética. Nos homens biologicamente XY, a deficiência de estrogênio pode levar 
ao aumento dos níveis de testosterona e afetar o metabolismo de carboidratos e 
lipídeos (GRUMBACH e ACHUS,1999apud BRUNTON, 2010). 
 
Os estrogênios afetam muitos tecidos e possuem várias ações metabólicas, mas 
ainda não está totalmente elucidado se os efeitos resultam diretamente das ações 
do hormônio no tecido em questão ou se são secundários (BRUNTON, 2010). Eles 
possuem uma importante ação sobre o metabolismo de lipídeos, elevam os níveis 
de triglicerídeos e diminuem os níveis séricos de colesterol total, aumentam os níveis 
de algumas proteínas e alteram algumas vias metabólicas que afetam o sistema 
cardiovascular, além do pequeno aumento de alguns fatores de coagulação, bem 
como a redução dos fatores de anticoagulação, podendo levar a um desequilíbrio na 
coagulação. 
 
Os progestógenos são compostos com atividades biológicas similares à 
progesterona, que embora possuam atividade progestacional, em mulheres 
biologicamente XX, também exibem atividades androgênicas. Dentre as diversas 
19 
 
ações no aparelho reprodutor feminino a progesterona aumenta a resposta 
ventilatória dos centros respiratórios, no Sistema Nervoso Central (SNC), ao dióxido 
de carbono, pode ter ações depressoras do SNC, relacionando à relatos de 
sonolência após a administração do hormônio. Os progestógenos possuem 
inúmeras ações metabólicas, amentado os níveis basais de insulina, pode diminuir a 
tolerância à glicose, parece aumentar os níveis de LDL sem alterações no HDL, 
também pode levar à aumento da pressão arterial devido à diminuição dos efeitos da 
aldosterona (BRUNTON, 2010). 
 
Os principais eventos adversos são descritos para os anticoncepcionais orais 
combinados. Destacamos os efeitos cardiovasculares, como o tromboembolismo 
(CASTELLI, 1999 apud BRUNTON, 2010), devido às altas doses utilizadas pelas 
travestis. Também estão relacionados à hipertensão nas formulações de primeira e 
segunda geração. Apesar de raros, há um aumento no risco de câncer hepático. 
Náuseas, edema e dores de cabeça também são potenciais efeitos adversos 
causados pelos ACO e supõe-se que acne seja mediada pela atividade androgênica 
de alguns progestógenos. 
 
3.3.2 Aspectos epidemiológicos 
 
A maioria dos estudos que abordam a utilização de medicamentos hormonais pelas 
travestis possui cunho qualitativo e expressam de forma muito detalhada aos hábitos 
sociais e culturais desta população. Devido à escassez de estudos quantitativos que 
abordem os hábitos e condições das travestis e os eventos em saúde, a 
extrapolação dos resultados encontrados na literatura para toda a população em 
questão possui certa limitação. 
 
A dificuldade principal na mensuração dos riscos relacionados à utilização de 
anticoncepcionais orais pelas travestis é o número extremamente reduzido de 
estudos quantitativos que avaliam a eficácia, efetividade e segurança destes 
medicamentos neste contexto. Utilizaremos, então, como referência os estudos 
realizados com mulheres que utilizaram as preparações anticoncepcionais orais. Em 
um estudo de coorte que teve tempo de acompanhamento de 25 anos, Beral (1999) 
constata que nas usuárias correntes de anticoncepcionais orais havia um aumento 
20 
 
de mortalidade por doença cerebrovascular e, em mulheres que pararam a utilização 
há mais de 10 anos, as taxas de mortalidade foram semelhantes às que nunca 
usaram anticoncepcionais orais. Em um estudo da Organização Mundial de Saúde 
(OMS), o “Venous thrombolic disease and combined oral contraceptives: results of 
international multicenter case-control study”, foi encontrado um risco de se ocorrer 
tromboembolismo venoso (casos hospitalares de trombose venosa profunda e 
embolia pulmonar) quatro vezes maior em mulheres usuárias de anticoncepcionais 
orais da terceira geração em comparação às não-usuárias. 
 
Em um estudo realizado com mulheres cisgênero com idade entre 18 e 24 anos e 
fazem uso de anticoncepcionais, os eventos adversos mais relatados são cefaleia, 
enjoo, mudança de humor, sensibilidade nas mamas, e não se evidenciaram efeitos 
colaterais maiores (GOMES et al. 2011). 
 
O evento adverso mais preocupante em relação à hormonioterapia com estrogênos 
em mulheres transgêneros é o tromboembolismo venoso, especialmente durante o 
primeiro ano de tratamento, quando a incidência deste evento é 2-6% caindo para 
0,4% no segundo ano. Esta incidência é importante quando comparada com a 
incidência desse evento na população jovem em geral, 0,005 para 0,01% ao ano. A 
alta incidência de eventos tromboembólicos em mulheres transgêneros parece mais 
associada ao etinilestradiol de medicamentos de uso oral ou transdérmico. A atual 
recomendação é que o uso de etinilestradiol deva ser evitado e, dada preferência 
aos estrogénios naturais ou conjugados, especialmente em pacientes com mais de 
40 anos de idade (COSTA, 2014). 
 
Observa-se uma elevada prevalência de utilização de altas doses em 
automedicação com o objetivo de maior velocidade na obtenção dos resultados, 
porem altas doses de hormônios não são necessárias para atingir os efeitos 
desejados, e são frequentemente associados a efeitos colaterais indesejáveis 
(COSTA,2014). 
 
 
 
 
21 
 
3.3.3 Influência da hormonioterapia na saúde das travestis 
 
Observa-se, na literatura, que “nas travestis os agravos à saúde são causados, em 
grande parte, devido ao uso abusivo de hormônios femininos, siliconização 
inadequada, dieta hipercalórica e pouco balanceada, sedentarismo e consumo de 
drogas” (LOURENÇO, 2009). Para Souza (2014), todas as travestis conhecem os 
“riscos” e “problemas decorrentes da utilização de hormônios e do silicone industrial, 
pois estas informações são amplamente abordadas em suas conversas sobre o 
tema”. 
 
Os hormônios femininos são ingeridos em grandes quantidades e sem orientação de 
profissionais de saúde. Muitas travestis são orientadas por suas “mães” ou 
madrinhas sobre o uso de hormônios femininos que, em geral, são utilizados em 
grandes quantidades por meses seguidos ou intervalados em períodos de uso 
contínuo e tempo de pausa do uso do medicamento. 
 
Segundo Pelúcio (2009) as “mães” ou madrinhas são travestis mais velhas e 
experientes que a elas cabem 
“ensinar à sua filha as técnicas corporais e a potencializar atributos físicos, a fim de 
se tornar mais feminina. Elas ensinam a tomar hormônios, sugerem partes do corpo a 
novata deve bombar e quantos litros colocar. Indica a bombadeira, instrui quanto aos 
clientes e sobre as regras do pedaço.” 
 
Para ROMANO (2008), o maior benefício do uso dos hormônios descrito pelas 
travestis é a feminilização, a exemplo de aumento dos seios, mudanças no timbre de 
voz, diminuição dos pelos no rosto e corpo. O anseio por resultados rápidos pode 
levar a um consumo exacerbado deste grupo de medicamento (LOURENÇO, 2009). 
 
O consumo indiscriminado de hormônios orais ou injetáveis pode levar distúrbios 
metabólicos, náuseas, dores fortes de cabeça, tonturas, problemas hepáticos, 
câncer de próstata e óbito (LOURENÇO, 2009) entre outros efeitos. 
 
 Bombadeiras são pessoas, geralmente travestis, que aplicam o silicone industrial no corpo de outras 
travestis que visam a transformação do corpo (Sampaio, 2011). O filme Bombadeira é um 
documentário dirigido por Luis Carlos de Alencar, lançado em 2007, ambientado em Salvador, retrata 
a relação ente algumas travestis e a prática de “bombar” o corpo. Disponível em: 
vimeo.com/6653323. 
http://vimeo.com/6653323
22 
 
 
Os primeiros anticoncepcionais orais criados possuíam elevadas doses de 
etinilestradiol, o que proporcionava aumento do risco de eventos tromboembólicos 
(STEGEMAN,2013). À partir da década de 1960, houve diminuição gradativa das 
doses deste principio ativo, estando associada com a redução do risco de trombose 
venosa (INMAN,1970; VESSEY,1986; LIDEGAARD, 2002). 
 
Considerando os potenciais eventos adversos decorrente da utilização de 
hormônios, principalmenteem altas doses sem acompanhamento, “a travesti vai ter 
sempre que estar em tratamento para controlar essas consequências” (LOURENÇO, 
2009). Um dos principais problemas das travestis é o acesso aos serviços de saúde 
devido à vergonha e o próprio receio de serem discriminadas nos centros de saúde 
e hospitais. Elas evitam buscar ajuda e quando o fazem o problema já está em 
estágios avançados. A utilização do nome social – como são conhecidas e não o de 
registro civil - nos cadastros do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2008) é uma 
medida que objetiva amenizar o preconceito e favorecer o acesso de todas as 
cidadãs e todos os cidadãos aos serviços públicos de saúde. Outra medida 
implantada em 2004 pelo Ministério da Saúde foi uma campanha de sensibilização 
dos profissionais de saúde com o intuito de diminuir o preconceito em relação às 
travestis, utilizando-se de folders, cartazes e panfletos distribuídos nas unidades de 
saúde básicas (LOURENÇO, 2009). 
 
3.4 Aspectos Políticos 
 
Baseando-se no discurso biomédico e biopolítico, transexuais seriam aqueles 
indivíduos que foram considerados afetados por um transtorno envolvendo a sua 
identidade de gênero, o que significa, nessa linguagem diagnóstica, que eles não se 
reconhecem no corpo com o qual vivem, podendo apresentar, inclusive, aversão 
intensa ao seu sexo biológico. No âmbito do referido discurso, indivíduos 
transgêneros poderiam ser considerados como “falsos transexuais” ou travestis, 
porque estes indivíduos, apesar de manifestarem o que, ali, se reconhece como 
incongruência entre sexo e gênero, constroem seus corpos de acordo com o gênero 
desejado e vivem como homens e/ou mulheres, ou atravessam constantemente 
estas fronteiras, sem almejar a cirurgia de transgenitalização (PETRY, 2011). 
23 
 
No sentido da regulação à população a que se destina contemplar, o “Processo 
transexualizador” tem sofrido inúmeras críticas. Essas críticas se devem ao fato de 
que a possibilidade de atendimento está alicerçada no diagnóstico psiquiátrico de 
Transtorno de Identidade de Gênero (TIG), conforme critérios estipulados pelo DSM-
V – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and 
Statistical Manual of Mental Disorders – DSM), publicado oficialmente em 2013. Se 
por um lado a despatologização da identidade trans é importante na garantia de 
direitos, por outro existe receio de parte dos movimentos trans com a retirada do TIG 
do rol de patologias mentais e que o SUS passe a não se responsabilizar pelos 
procedimentos que atualmente são oferecidos gratuitamente no processo 
transexualizador (CASSEMIRO, 2013). Para Cassemiro (2013), “qualquer teoria que 
isole a categoria transexualidade ou mesmo transexualismo sem levar em conta que 
esta definição surgiu principalmente para regulamentar o acesso às modificações 
corporais [...], corre o risco de produzir um conceito deveras artificial, um molde 
vazio de conteúdo e experiência”. Portanto, o que se reivindica é a despatologização 
da identidade trans sem a perda de direitos, como os procedimentos de 
homonioterapia, a redesignação sexual e a atenção à saúde. 
 
A reivindicação da despatologização da transexualidade tem sido pauta de 
movimentos internacionais, como o Stop Trans Pathologization – STP e o GATE: 
Global Action For Trans*, que tem tomado grande importância nos movimentos trans 
nacionais (CARVALHO,2011). Estes movimentos pautam que sejam feitas 
mudanças na próxima edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças 
e Problemas Relacionados com a Saúde, o CID-11. Na versão beta do CID-11, a 
Organização Mundial de Saúde propõe que “Incongruência de Gênero de 
Adolescentes e Adultos” e “Incongruência de Gênero na Infância” façam parte do 
novo capítulo: Capítulo 6 “Condições relacionadas à saúde sexual” (GATE, 2014). 
Da mesma forma que a gravidez não é tida como patologia e tem acesso garantido 
aos serviços de saúde, a incongruência de gênero garantiria este acesso sem 
patologizar a identidade trans uma vez que a identidade de gênero deixa de ser um 
transtorno. Desta forma, é necessário considerar a construção da proposta de um 
novo capítulo para avançar na direção da despatologizaçao da diversidade de 
gênero e desconstruir a associação entre saúde trans e outras categorias 
patologizantes (GATE, 2014). 
24 
 
3.5 Considerações metodológicas em estudos envolvendo travestis 
 
Algumas variáveis podem apresentar singularidades quando se refere à população 
travesti brasileira numa ótica da análise epidemiológica da utilização de 
medicamentos. 
 
Idade 
O significado e a importância de variáveis como idade e sexo na 
farmacoepidemiologia não é tão direto como pode parecer à primeira vista. A idade 
pode ser um indicador de um estágio biológico, como a resistência ou não à 
toxicidade de determinados fármacos, ou um processo histórico, utilização de 
medicamentos que se tornaram obsoletos ou psicossociais, por exemplo, a fluidez 
que o conceito de saúde tem na construção cultural do nosso país e a percepção 
das pessoas sobre esse conceito. A importância social da idade cronológica pode 
variar de acordo com o tempo, sexo e o gênero; e a relação entre a idade 
cronológica, social ou psicológica também pode variar historicamente e 
culturalmente. 
 
As travestis mais velhas perdem espaço no mercado da prostituição, um dos 
mercados dos trabalhos, ficando muitas vezes desamparadas pelos familiares, 
namorados ou namoradas e amigas, terminando a vida em hospitais e abrigos 
(ANTUNES, 2010; NUH/UFMG, 2014). Além disto, a dificuldade de acesso aos 
serviços de saúde e a elevada violência cotidiana contribuem para que se registre 
um fato preocupante: a morte precoce. As estatísticas revelam que a expectativa de 
vida média das travestis gira em torno dos cinquenta anos (ANTUNES, 2010; 
LOURENÇO, 2009). 
 
Gênero e sexualidade 
O gênero pode ser analisado de acordo com aspectos físicos, culturais, sociais, 
psicológicos e comportamentais. Estes aspectos podem variar histórica e 
culturalmente. Assim, apesar de ser possível fazer a mensuração, da mesma forma 
que a idade, a identidade de gênero e sexualidade são de difícil conceituação 
quando se pretende traduzir sua relação quanto aos indicadores sociais e os 
resultados da saúde. 
25 
 
Etnia 
O termo etnia deve ser diferenciado de raça para a pesquisa epidemiológica e 
social. O termo se refere a uma herança cultural, econômica, linguística e as 
tradições religiosas assim como a forma em que a norma social lida com a sua 
inclusão ou marginalização; não é necessariamente o mesmo que nacionalidade, 
status de imigrante e/ou raça. É importante distinguir entre os vários elementos de 
diferenciação social e biológica que podem ser inferidas da categoria étnica ou 
racial. Muitas condições que de início foram assumidas como genéticas, depois de 
alguns estudos, demonstraram ser resultados da exposição ao ambiente, entenda 
ambiente como físico, psicológico e social, ou da interação entre genes e ambiente. 
 
Há vários problemas com o uso da “raça” na epidemiologia. Estes envolvem 
dificuldades de mensuração, heterogeneidade da população estudada, falta de 
clareza nos objetivos da pesquisa e uma interpretação etnocêntrica dos dados sem 
levar em consideração todos os fatores consequentes desta condição étnica. 
 
Segundo Crenshaw (2002), é importante ressaltar que a conexão de conjuntos 
identitários pode ou não gerar um empoderamento dos sujeitos, mas podem também 
relacionar feições raciais à discriminação de gênero. Há, por este motivo, uma 
necessidade de compreendermos como algumas categorias como raça, gênero e 
sexualidade se interseccionam. 
 
É proposto, neste aspecto, que a concepção básica do termo interseccionalidade 
produza formas de entender os reflexos de duas ou mais maneiras de subordinar 
pessoas. Decifrar esta subordinação tornaria possível asuperação do que podemos 
chamar de sobreposição de opressões. Assim, a travesti negra, neste caso, sofre 
por fatores que agem concomitantemente: racismo, discriminação de gênero e de 
sexualidade. 
 
Condição socioeconômica 
A condição socioeconômica é também uma variável importante para a 
farmacoepidepidemiologia, pois está relacionada ao acesso a serviços de saúde e 
qualidade de vida da população estudada. Como o termo “raça”, a variável classe 
26 
 
social pode ser mensurada de várias formas e a falta de um padrão pode prejudicar 
a avaliação exata dos objetivos e a clareza do conceito. 
 
Existem vários problemas com o uso desta variável, principalmente a dificuldade de 
comparações através do tempo por causa das mudanças nas habilidades exigidas, 
queda de prestígio de algumas ocupações e o aparecimento/desaparecimento de 
algumas ocupações. Além destes aspectos, temos que compreender que no 
contexto das travestis, observa-se na literatura que o gasto com a “produção da 
feminilidade” é elevado, sendo responsável por tornar ainda mais complexa a 
análise desta variável neste grupo social. Qualquer análise neste momento, mesmo 
que de forma mais completa e estruturada, seria uma simplificação grosseira da 
complexidade socioeconômica que é a realidade das travestis que realizam sexual.. 
 
Segundo Lourenço (2009), “o mercado de trabalho para travestis é muito limitado. 
Praticamente só são bem aceitas no ramo da estética, onde ocupam lugar como 
cabeleireiras e maquiadoras ou na moda como estilistas. Como esses mercados são 
sempre limitados, a prostituição acaba sendo o único meio de vida das travestis”. A 
falta de oportunidades é um dos principais problemas das travestis. Muitas 
abandonam os estudos por vergonha, devido ao preconceito enfrentado nas 
escolas. Um dos graves problemas da prostituição é que ela não oferece às travestis 
renda permanente e direitos trabalhistas. 
 
Unidade doméstica 
Unidade doméstica é definida como sendo pessoas que vivem juntas e 
compartilham hábitos de vida cotidiana, o que tem grande relevância para a 
epidemiologia. É considerada diferente de família ou de corresidentes, excluindo 
aqueles com comportamentos fora do padrão ou muito complexos. Há uma variação 
na estrutura das unidades domésticas entre os grupos étnicos, culturais e sociais. 
 
As travestis saem da casa dos pais muito jovens, na maioria das vezes expulsas. 
Após situações que envolvem a expulsão ou mesmo a rejeição da família biológica, 
as pensões ou casas de travestis são as mais procuradas. Segundo Lourenço 
(2009),“devido ao abandono das famílias, muitas travestis buscam apoio em suas 
amigas, que também são travestis ou madrinhas”. Raramente residem com 
27 
 
familiares, principalmente as que exercem a função de profissionais do sexo. A 
maioria divide aluguel com outras travestis. É uma constante a migração das 
travestis, de um município para outro, em busca de moradias. Ao buscarem formar 
“casas” de convivência entre travestis, elas criam novos laços muitas vezes 
ampliando a noção de família: ali elas constroem relações de afeto (SOUZA, 2014). 
 
Existem também as cafetinas, que podem ser as “mães” das travestis. Estas 
gerenciam casas ou pensões que “se coloca em oposição à casa paterna muito mais 
do que em contraste com a rua” (PELÚCIO, 2009). Larissa Pelúcio (2009) diz que a 
casa pode ser tanto um espaço de aprendizado dos cuidados que as “mães” tem 
com as “filhas”, de destensionamento do cotidiano da noite, quanto um ambiente de 
conflitos e duras cobranças. 
28 
 
4 MATERIAIS E MÉTODOS 
 
4.1 Delineamento e local do estudo 
 
Estudo observacional do tipo corte transversal, quantitativo, descritivo realizado em 
travestis adultas que realizam trabalho sexual no município de Belo Horizonte no 
período de abril de 2012 a julho de 2014 e utilizaram hormônios para a 
transformação corporal. 
 
Este trabalho faz parte do projeto intitulado “Direitos e violência na experiência de 
travestis e transexuais na cidade de Belo Horizonte: construção de um perfil social 
em diálogo com a população” tem como foco a população de Travestis e 
Transexuais que exercem trabalhos sexuais no município de Belo Horizonte. Esta 
pesquisa é do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (Nuh) da 
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), financiado pelo CNPq e Fapemig e 
está sob a coordenação do Prof. Marco Aurélio Maximo Prado. 
 
4.2 População e critérios de elegibilidade 
 
Dentre as 141 travestis que participaram do Projeto “Direitos e violência na 
experiência de travestis e transexuais na cidade de Belo Horizonte: construção de 
um perfil social em diálogo com a população – Projeto TRANS” foram selecionadas 
130 participantes que cumpriam todos os critérios de inclusão estabelecidos para 
este estudo. 
 
Os critérios de elegibilidade deste estudo incluem as travestis com idade igual ou 
superior a 18 anos, que realizem trabalho sexual em Belo Horizonte, no estado de 
Minas Geais, tenham feito uso de medicamento hormonal (anticoncepcional oral ou 
injetável) para transformação corporal e que aceitem participar e assinar o Termo de 
consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A). 
 
 
 
 
29 
 
4.3 Critérios éticos 
 
O projeto “Direitos e violência na experiência de travestis e transexuais na cidade de 
Belo Horizonte: construção de um perfil social em diálogo com a população” foi 
submetido à aprovação, inclusive em seus aspectos éticos, ao Comitê de Ética em 
Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (COEP-UFMG). 
 
Nos termos dos artigos 196/96 e 251/97 do Conselho Nacional de Saúde, este 
projeto preservou todos os aspectos éticos da legislação supracitada. Cumprindo 
esses requisitos, dados como nome do paciente, CPF, dentre outros, foram 
substituídos por um identificador único na base de dados para garantir a 
confidencialidade dos indivíduos. O princípio de confidencialidade foi rigorosamente 
cumprido e providências foram tomadas para evitar quebra de sigilo das informações 
relativas aos participantes do estudo. Os formulários contendo os dados coletados 
foram mantidos em arquivo fechado e estiveram disponíveis somente para a equipe 
de investigação. Os entrevistados foram esclarecidos a respeito dos objetivos da 
pesquisa. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme a 
Resolução 196/96, foi entregue aos pacientes e foi solicitada assinatura deles se 
concordarem com a participação no estudo. Somente foram coletados dados 
relativos àqueles que concordaram em participar e assinar o TCLE (Anexo A). 
 
O indivíduo foi informado sobre os benefícios do estudo e que poderia interromper 
sua participação no momento em que desejasse fazê-lo. 
 
Os dados analisados são apresentados de forma agregada e nenhuma 
característica de identificação de qualquer participante consta na descrição dos 
resultados. 
 
4.4 Instrumento para coleta de dados e procedimentos 
 
Foram realizadas entrevistas às participantes que cumpriram os critérios de 
elegibilidade do Projeto “Direitos e violência na experiência de travestis e 
transexuais na cidade de Belo Horizonte: construção de um perfil social em diálogo 
30 
 
com a população” realizado pelo Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da 
Universidade Federal de Minas Gerais (NUH-UFMG). 
 
4.4.1 Instrumentos 
 
Utilizou-se um questionário com questões abertas e fechadas, que teve como 
objetivo obter informações referentes às características sociodemográficas, 
escolaridade, família, religião, migração/moradia, trabalho sexual, outros trabalhos, 
transformação do corpo, saúde, uso de preservativo/camisinha, política pública, 
violência, uso do tempo/lazer e cotidiano. Também foram aplicadas questões para 
avaliar a utilização de medicamentos hormonais para a transformação do corpo das 
entrevistadas, tornando a resposta positiva um critério de seleçãopara este estudo 
específico. 
 
4.4.2 Procedimentos 
 
A técnica da coleta foi baseada em entrevista estruturada à participante durante o 
período de abril de 2012 a julho de 2014. O grupo de pesquisadores se reuniu 
sistematicamente para familiarização, discussão e treinamento com os instrumentos 
e todos os procedimentos para a coleta de dados. Os dados necessários ao 
desenvolvimento deste estudo foram obtidos, especificamente, a partir da utilização 
dos seguintes instrumentos: 
 
 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A) 
 Questionário contendo 243 questões (Anexo B) 
 
Após o treinamento inicial, os entrevistadores realizaram a coleta de dados nos 
ambientes das áreas de trabalho sexual das travestis como ruas, praças, hotéis, em 
suas residências ou outro ponto de encontro. A seleção dos indivíduos que seriam 
convidados a participar do estudo foi por conveniência. 
 
 
 
 
31 
 
4.4.3 Variáveis 
 
O questionário foi previamente testado e padronizado e as variáveis investigadas 
foram agrupadas a saber: 1) dados sociodemográficos (e.g. idade, raça, estado 
conjugal, filhos, escolaridade (e.g. frequência à escola, aprovação, abandono 
escolar), família (e.g. Moradia conjunta com os pais, saída da casa dos pais), gastos 
mensais com estética; 2. Assunção identitária (identidade de gênero, atração 
sexual); 3) trabalho sexual (e.g. idade da primeira relação sexual a trabalho e renda); 
5) transformação do corpo (e.g. idade que se utilizou roupas femininas pela primeira 
vez, idade de inicio do uso de hormônios, forma de conhecimento sobre os 
hormônios, problemas relacionados à utilização dos hormônios, uso de silicone 
industrial, idade de inicio de uso de silicone industrial, modo de acesso ao silicone 
industrial, uso de prótese de silicone, idade de inserção de prótese de silicone, forma 
de acesso à prótese de silicone,); 6) saúde (e.g. plano privado de saúde, consulta 
médica nos últimos 12 meses, uso de drogas lícitas e ilícitas, morbidades, auto 
percepção da condição de saúde, processo de transexualização) 7); Uso de 
Preservativo/Camisinha (e.g. uso durante o trabalho, teste para HIV e outras DSTs,); 
8) violência (e.g. vítima de violência física, sexual, psicológica). 
 
As variáveis selecionadas para este estudos estão organizadas e descritas na 
Tabela 1. 
 
Tabela 1 – Variáveis selecionadas a serem analisadas - Projeto TRANS (NUH/UFMG), Belo 
Horizonte, MG 
Variáveis Descrição Categorias de análise 
Sociodemográficas: 
1. Idade Número de anos completos no 
momento da entrevista 
Contínua 
2. Etnia/Raça Etnia ou raça autodeclarada 1 = Branca 
2 = Preta 
3 = Parda 
4 = Amarela 
5 = Indígena 
32 
 
Tabela 1 – Variáveis selecionadas a serem analisadas - Projeto TRANS (NUH/UFMG), Belo 
Horizonte, MG 
Variáveis Descrição Categorias de análise 
3. Situação conjugal Existência ou não de relação estável 
por parte da participante no 
momento da entrevista 
1 = Casado/união 
2 = Parceiro fixo 
3 = Solteiro 
4. Filhos Existência ou não de filhos declarado 
pela participante no momento da 
entrevista. 
1 = Sim 
0 = Não 
5. Naturalidade Cidade e Estado onde a participante 
relata ter nascido 
1 = Belo Horizonte 
0 = Outras cidades 
6. Migração Obtido de acordo com a cidade 
relatada de nascimento e a cidade 
de residência atual relatada. 
1 = Imigrante 
0 = Emigrante 
Escolaridade 
 
7. Acesso à escola Ter frequentado ou não a escola até 
o momento da entrevista 
0 = Não 
1 = Sim 
8. Escolaridade Número de anos completos da 
educação formal até o momento da 
entrevista 
1 = Ensino Fudamental 
completo ou incompleto 
2 = Ensino Médio completo 
ou incompleto 
3 = Ensino Superior 
completo ou incompleto 
4 = Pós Graduação 
5 = Educação de Jovens e 
Adultos (EJA) 
Família 
 
9. Vive com a família Viver ou não com a família 0= Sim 
1= Não 
10. Idade que deixou de viver 
com a família 
Idade que a participante deixou de 
viver com sua família. 
1 = ≤ 15 anos 
2 = > entre 15 e 17 anos 
3 = ≥ 18 anos 
Média e desvio padrão 
 Assunção identitária 
 
33 
 
Tabela 1 – Variáveis selecionadas a serem analisadas - Projeto TRANS (NUH/UFMG), Belo 
Horizonte, MG 
Variáveis Descrição Categorias de análise 
11. Identidade de gênero
&
 Gênero autoidentificado do indivíduo 1 = Travesti 
2 = Mulher 
3 = Transexual 
4 = Homem 
5 = Homossexual 
12. Gênero do Parceiro Gênero do atual parceiro declarado 
pela participante no momento da 
entrevista 
1 = Homem 
2 = Mulher 
3 = Travesti 
4 = transexual 
13. Gênero dos parceiros de 
uniões anteriores 
Se a entrevistada já teve 
relacionamento fixo com homem. 
0= não 
1= sim 
Se a entrevistada já teve 
relacionamento fixo com mulher. 
0= não 
1= sim 
Se a entrevistada já teve 
relacionamento fixo com travesti. 
0= não 
1= sim 
Se a entrevistada já teve 
relacionamento fixo com uma ou um 
transexual. 
0= não 
1= sim 
A entrevistada nunca teve 
relacionamento fixo. 
0= não 
1= sim 
14. Atração Sexual Independente do trabalho da 
entrevistada, ela tem mais interesse, 
atração física ou amorosa por 
homens. 
0= não 
1= sim 
Independente do trabalho da 
entrevistada, ela tem mais interesse, 
atração física ou amorosa por 
mulheres. 
0= não 
1= sim 
Independente do trabalho da 
entrevistada, ela tem mais interesse, 
atração física ou amorosa por 
travestis. 
0= não 
1= sim 
Independente do trabalho da 
entrevistada, ela tem mais interesse, 
atração física ou amorosa por 
transexuais. 
0= não 
1= sim 
34 
 
Tabela 1 – Variáveis selecionadas a serem analisadas - Projeto TRANS (NUH/UFMG), Belo 
Horizonte, MG 
Variáveis Descrição Categorias de análise 
Independente do trabalho da 
entrevistada, ela tem mais interesse, 
atração física ou amorosa por 
lésbicas. 
0= não 
1= sim 
Independente do trabalho da 
entrevistada, ela tem mais interesse, 
atração física ou amorosa por gays. 
0= não 
1= sim 
Trabalho Sexual e Renda 
 
15. Relação sexual por dinheiro 
pela primeira vez 
Idade declarada que a participante 
fez sexo por dinheiro pela primeira 
vez 
Contínua 
16. Renda com trabalho sexual Renda mensal proveniente 
exclusivamente do trabalho sexual 
Contínua 
Transformação do corpo 
 
17. Idade que usou roupas 
femininas pela primeira vez 
Idade relatada que a participante fez 
uso de roupas femininas pela 
primeira vez 
Contínua 
18. Idade de início do uso de 
hormônios 
Idade relatada que a participante 
relata ter iniciado a utilização de 
hormônios para a transformação 
corporal. 
Contínua 
19. Obtenção de conhecimento 
sobre os hormônios 
Forma relatada de tiveram 
conhecimento sobre a utilização de 
hormônios 
1 = serviço de saúde público 
2 = serviço de saúde privado 
3 = colegas 
4 = donas de casa 
5 = bombadeiras/mão de 
fada 
6 = farmacêutico 
7 = outro 
20. Problemas relacionados à 
utilização dos hormônios 
Relato de problemas relacionados ao 
uso dos hormônios. 
0= não 
1= sim 
Relato de quais foram os problemas 
relacionados à utilização dos 
hormônios. 
Resposta aberta 
21. Uso de silicone industrial, Se já fez ou não a aplicação de 
silicone industrial para transformação 
0= não 
35 
 
Tabela 1 – Variáveis selecionadas a serem analisadas - Projeto TRANS (NUH/UFMG), Belo 
Horizonte, MG 
Variáveis Descrição Categorias de análise 
corporal. 1= sim 
22. Idade de inicio de uso de 
silicone industrial 
Idade relatada que fez a aplicação 
de silicone industrial pela primeira 
vez. 
1 = serviço de saúde público 
2 = serviço de saúde privado 
3 = colegas 
4 = donas de casa 
5 = bombadeiras/mão de 
fada 
6 = por conta própria 
7 = outros 
23. Forma de acesso ao silicone 
industrial, 
Relato de como realizou a aplicação 
do silicone industrial para 
transformação corporal. 
1 = serviço público de 
saúde 
2 = serviço privado de saúde 
3 = Colegas 
4 = Donas de casa 
5 = Bombadeiras/mão de 
fada 
6 = Outro 
 
24. Uso de prótesede silicone Se já fez ou não inserção de prótese 
de silicone para transformação 
corporal. 
0 = não 
1 = sim 
25. Idade de inserção de 
prótese de silicone, 
Idade relatada que fez a inserção de 
prótese de silicone para 
transformação corporal 
Média e desvio padrão 
26. Forma de acesso à prótese 
de silicone 
Relato de onde fez a inserção de 
próteses de silicone para 
transformação corporal. 
1 = serviço de saúde público 
2 = serviço de saúde privado 
3 = colegas 
4 = donas de casa 
5 = bombadeiras/mão de 
fada 
6 = cirurgião clandestino 
7 = outro 
36 
 
Tabela 1 – Variáveis selecionadas a serem analisadas - Projeto TRANS (NUH/UFMG), Belo 
Horizonte, MG 
Variáveis Descrição Categorias de análise 
Saúde 
 
27. Plano privado de saúde Possui ou não plano privado de 
saúde. 
0 = não 
1 = sim 
28. Consulta médica nos 
últimos 12 meses 
Quantidade de consultas médicas 
realizadas nos 12 meses anteriores à 
entrevista. 
Contínua 
29. Uso de drogas lícitas e 
ilícitas 
 Se já fez ou não a utilização de 
álcool alguma vez na vida. 
0 = não 
1 = sim 
Se já fez ou não a utilização de 
tabaco alguma vez na vida. 
0 = não 
1 = sim 
Se já fez ou não a utilização de 
alguma droga ilícita alguma vez na 
vida. 
0 = não 
1 = sim 
30. Morbidades Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou depressão. 
0 = não 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou outras doenças 
psiquiátricas. 
0 = não 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou tuberculose. 
0 = não 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou hipertensão 
0 = não 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou “Colesterol Alto” 
– Hipercolerestemia. 
0 = não 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou doenças 
hepáticas. 
0 = não 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou problemas 
renais. 
0 = não 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou problemas 
cardíacos. 
0 = não 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou HIV/AIDS 
0 = não 
37 
 
Tabela 1 – Variáveis selecionadas a serem analisadas - Projeto TRANS (NUH/UFMG), Belo 
Horizonte, MG 
Variáveis Descrição Categorias de análise 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou gonorreia. 
0 = não 
1 = sim 
Se algum médico ou profissional de 
saúde diagnosticou sífilis. 
0 = não 
1 = sim 
31. Autopercepção da condição 
de saúde, 
Como a participante avalia a sua 
condição geral de saúde. 
1 = Muito boa 
2 = boa 
3 = razoável 
4 = ruim 
5 = péssima 
32. Já iniciou processo de 
transexualização no SUS; 
Relato de início ou não do processo 
de transexualização no Sistema 
Único de Saúde 
0 = não 
1 = sim 
33. Pretende iniciar processo de 
transexualização; 
Relato se pretende ou não do 
processo de transexualização no 
Sistema Único de Saúde 
0 = não 
1 = sim 
Uso de Preservativo 
34. Uso de preservativo nas 
relações sexuais 
Relato de uso de preservativos 
durante as relações sexuais nos 6 
meses anteriores à entrevista. 
0 = não 
1 = sim 
35. Realização de teste para 
HIV ou outras DSTs 
Realizou ou não exame diagnóstico 
para HIV e outras DSTs nos 12 
meses anteriores à entrevista. 
0 = não 
1 = sim 
36. Setor de realização de teste 
para HIV ou outras DSTs 
Serviço de saúde em que realizou 
exame diagnóstico para HIV e outras 
DSTs 
0= Setor privado de saúde 
1= Setor público de saúde 
 
Violência 
 
37. Vítima de violência física Se já foi vítima de violência física, 
entendida como tapa, pedrada, arma 
de fogo, arma branca, soco, puxão 
de cabelo, beliscão, assalto, ovada, 
cuspe, lixo ou similares. 
0 = não 
1 = sim 
38 
 
Tabela 1 – Variáveis selecionadas a serem analisadas - Projeto TRANS (NUH/UFMG), Belo 
Horizonte, MG 
Variáveis Descrição Categorias de análise 
38. Vitima de violência sexual Se já foi vítima de violência sexual, 
entendida como sexo 
forçado/estupro, práticas não 
previamente combinadas, assédio 
sexual. 
0 = não 
1 = sim 
39. Vitima de violência 
psicológica 
Se já foi vítima de violência 
psicológica, entendida como olhares, 
xingamentos, ameaças, ironia, 
assédio moral, chantagem ou 
extorsão. 
0 = não 
1 = sim 
 
 
4.5 Análise dos dados 
 
Foi realizada uma análise descritiva da população por meio de distribuições de 
frequências para as variáveis categóricas e medidas de tendência central e de 
dispersão para as variáveis contínuas estudadas. 
 
As informações coletadas foram digitadas em banco de dados no software Statistical 
Package for Social Sciences® (SPSS®), que foi utilizado em um primeiro momento 
para a elaboração da máscara e extração dos dados dos questionários, havendo 
então migração do banco de dados gerado para o Epi Info™ 3.5.4, onde foram feitas 
a análise estatística e os dados foram organizados na forma de tabelas e gráficos. 
 
39 
 
5 RESULTADOS 
 
A Figura 1 ilustra o fluxograma de seleção e inclusão das participantes do estudo. 
 
Figura 1: Fluxograma das etapas de seleção e inclusão das participantes do 
estudo. 
 
Os principais resultados encontrados neste estudo estão sintetizados na tabelas 2 e 
3. A Tabela 2 traz os dados referentes às características sociodemográficas, família, 
assunção identitária, trabalho sexual e renda, transformação do corpo, saúde, uso 
de preservativo e violência. 
 
Tabela 2 – Características descritivas da amostra de travestis que utilizaram hormônios para 
transformação corporal e realizam trabalho sexual, Belo Horizonte, 2013 (n = 130). 
 
No. n (%) Média (±DP) 
Sociodemográficas 
Idade
&
:: 130 27,4 (± 6,6) 
Cor da pele/Raça (Não branca): 130 101 (77,7) 
Estado conjugal: 130 
 Não possui parceiro: 74 (56,9) 
40 
 
Tabela 2 – Características descritivas da amostra de travestis que utilizaram hormônios para 
transformação corporal e realizam trabalho sexual, Belo Horizonte, 2013 (n = 130). 
 
No. n (%) Média (±DP) 
 Relacionamento fixo, mas não vivem juntos: 35 (26,9) 
 Casada/Vive com algum parceiro: 20 (15,4) 
 Não sabe: 1 (0,8) 
Migração (imigrante): 130 91 (70,0) 
Acesso à escola (sim): 130 127 (97,7) 
Escolaridade 127 
 Ensino Médio completo ou incompleto: 76 (59,8) 
 Ensino Fundamental completo ou incompleto: 39 (30,7) 
 Ensino Superior completo ou incompleto: 11 (8,7) 
 Educação de Jovens e Adultos (EJA): 1 (0,8) 
 
Família 
Moradia conjunta com os pais (Não): 130 112 (86,2) 
Idade que deixou de viver com os pais
&
: 112 17,98 (± 4,63) 
 18 anos ou mais: 55 (49,1) 
 Entre 15 e 17 anos: 37 (33,0) 
 Menor que 15 anos: 18 (16,1) 
 Não sabe: 2 (1,8) 
 
Assunção Identitária 
Identidade de Gênero/sexual 130 
 Travesti: 79 (60,8) 
 Transexual: 37 (28,5) 
 Mulher: 11 (8,5) 
 Homossexual: 2 (1,5) 
 Homem: 1 (0,7) 
Identidade de gênero do parceiro atual (homem): 57 56 (98,2) 
Identidade de gênero de parceiros anteriores 
 Relacionamento fixo anterior com homem: 129 121 (93,8) 
 Relacionamento fixo anterior com travesti: 129 16 (12,4) 
 Relacionamento fixo anterior com mulher: 129 14 (10,8) 
 Não teve relacionamento fixo anterior: 129 7 (5,4) 
 Relacionamento fixo anterior com um(a) transexual: 129 2 (1,6) 
 
Trabalho Sexual e Renda 
Idade da primeira relação sexual por dinheiro
&
: 127 17,4 (±3,62) 
 Menor que 18 anos: 76 (59,8) 
Renda mensal
¶
 124 5174,31 (±3641,97) 
Gasto mensal com estética
¶
: 122 813,39 (±983,22) 
 Não gasta com estética: 5 (3,8) 
 
Saúde
 
 
Plano Privado de Saúde (não) 130 98 (75,4) 
Número de consultas médicas no último ano 128 2,67 (±3,61) 
Uso de drogas lícitas e ilícitas 
 Álcool 130 119 (91,5) 
 Ilícitas
1
 130 99 (76,2) 
 Tabaco 130 86 (66,2) 
41 
 
Tabela 2 – Características descritivas da amostra de travestis que utilizaram hormônios para 
transformação corporale realizam trabalho sexual, Belo Horizonte, 2013 (n = 130). 
 
No. n (%) Média (±DP) 
Morbidades 
 Depressão: 130 35 (26,9) 
 Sífilis: 129 21 (16,3) 
 Problemas renais: 130 20 (15,4) 
 Doenças hepáticas: 129 11 (8,5) 
 Outra doença psiquiátrica: 130 7 (5,4) 
 Hipercolesterolemila: 130 7 (5,4) 
 Hipertensão: 130 6 (4,6) 
 HIV/AIDS: 130 6 (4,6) 
 Diabetes: 130 4 (3,1) 
 Problemas cardíacos: 129 4 (3,1) 
 Gonorreia: 130 4 (3,1) 
Autopercepção da condição de saúde 130 
 Muito boa: 54 (41,5) 
 Boa: 55 (42,3) 
 Razoável: 21 (16,2) 
Iniciou processo transexualizador no SUS (não): 130 120 (92,3) 
Pretende realizar processo transexualizador (não): 126 101 (80,2) 
 
Uso de Preservativo e DSTs 
Uso de preservativo nas relações sexuais nos últimos 6 
meses 
130 
 Todas: 44 (33,8) 
 Maioria: 66 (50,8) 
 Menos da metade: 13 (10,0) 
 Poucas: 6 (4,6) 
 Nenhuma: 1 (0,8) 
Exame diagnóstico para HIV/AIDS e outras DSTs nos últimos 
12 meses (sim): 
130 85 (65,4) 
 Serviço Público 85 55 (64,7) 
 
Violência 
Já foi vítima de violência física
2
 (sim): 130 125 (96,2) 
Já foi vítima de violência sexual
3
 (sim): 130 128 (98,5) 
Já foi vítima de violência psicológica
4
 (sim): 130 129 (99,2) 
 
Transformação do Corpo 
Idade que começou a vestir roupas femininas
&
: 130 15,8 (±3,91) 
 15 anos ou menos: 66 (50,8) 
Uso de Prótese de Silicone (sim): 129 48 (37,2) 
Idade de inserção de Prótese de Silicone
&
: 47 22,40 (±4,73) 
 18 anos ou mais: 42 (89,4) 
Como obteve acesso à Prótese de Silicone 47 
 Serviço de Saúde Privado: 43 (91,5) 
 Cirurgião clandestino: 3 (6,4) 
 Colegas: 1 (2,1) 
Idade de inicio de uso de hormônios: 130 16,8 (±3,81) 
Conhecimento sobre os hormônios (colegas) 112 
42 
 
Tabela 2 – Características descritivas da amostra de travestis que utilizaram hormônios para 
transformação corporal e realizam trabalho sexual, Belo Horizonte, 2013 (n = 130). 
 
No. n (%) Média (±DP) 
 Colegas: 110 (98,2) 
 Serviço Público de Saúde: 2 (1,8) 
Problemas com os hormônios (sim): 130 43 (33,1) 
Uso de Silicone Industrial (sim): 130 83 (63,8) 
Idade de aplicação de Silicone Industrial
&
: 83 20,71 (±3,76) 
Como obteve acesso ao Silicone Industrial 83 
 Bombadeira 78 (94,0) 
 Serviço Privado de Saúde
*
 2 (2,4) 
 Colegas 1 (1,2) 
 Por conta própria 1 (1,2) 
 
1 
Maconha, Cocaína, Crack, Ecstasy, LSD ou 
2 
Tapa, pedrada, arma de fogo, arma branca, soco, puxão de cabelo, assalto, cuspe, lixo, ovada ou 
similares. 
3
 Sexo forçado ou estupro 
4 
Olhares, xingamentos, ameaças, ironia, assedio moral, chantagem ou extorsão. 
*
 A utilização de silicone industrial para fins médicos não é autorizada no Brasil. 
& 
 anos 
¶ 
reais 
 
5.1 Características Sociodemográficas 
 
Observou-se que as participantes do estudo possuíam a média da idade de 27,4 
anos (±6,6), com a idade mínima de 18 e máxima de 48 anos e 77,7% (101) 
declaram serem não-brancas (50,8% (66) parda, 17,7% (23) negra, 1,5% (2) 
amarela e 7,7% (10) indígena). 
 
Quanto ao estado conjugal, 74 (56,9%) relatam não possuírem parceiro fixo, 35 
(26,9%) possuem relacionamento fixo, mas não vivem com o parceiro e 15,4% (20) 
relatam serem casadas ou viverem com algum parceiro. Duas participantes (0,8%) 
responderam “não sabe” para esta pergunta no momento da entrevista. 
 
Observou-se que 83,8% da amostra (109 participantes) relatam ter nascido em 
cidade diferente de Belo Horizonte. No período da pesquisa, 85,4% (111 
participantes) responderam viver atualmente em Belo Horizonte. Observou-se, 
então, que 70% (91) são imigrantes, ou seja, nasceram em outras cidades e vivem 
em Belo Horizonte. 
 
43 
 
Quanto ao acesso à escola, 97,7% (127) relatam terem frequentado à escola em 
algum momento da vida. Dentre as travestis que relataram terem frequentado à 
escola, 59,8% (76) relatam terem cursado entre a primeira série do ensino médio e a 
conclusão do ensino médio; 30,7% (39) relatam terem concluído o ensino 
fundamental ou menos; 8,7% (11) cursaram até Ensino Superior Completo ou 
Incompleto e 0,8% relatam terem cursado Ensino de Jovens e Adultos (EJA). 
 
Entre todas as travestis participantes, 86,2% (112) relatam não viverem com a 
família. Entre as que relataram não viver com a família, 49,1% (55) deixaram de 
viver com a família com idade superior a 18 anos, 33% (37) deixaram de viver com 
sua família com idade superior a 16 anos e inferior a 18 anos e 16,1% (18) deixaram 
de viver com a família com menos de 15 anos. Observou-se, então, que 49,1% (55) 
das participantes deixaram de viver com a família com idade inferior a 18 anos. A 
média da idade que deixaram de viver com a família é 17,98 (±4,63) anos e a menor 
idade relatada é de 10 anos e a maior de 45 anos. Em relação aos filhos, três 
participantes (2,3%) relatam possuir filhos. Apenas uma participante não respondeu 
“Não sabe”. 
 
5.2 Assunção Identitária 
 
Quanto à identidade de gênero, 89,3% se identificam como travesti ou transexual 
(60,8% (79) se identificam como travesti, 28,5% (37) como transexual). 
Aproximadamente 9% se identificam como mulher, 1,5% como homossexual e 0,8% 
como homem. 
 
De 57 travestis que responderam possuir parceiro fixo atual, 98,2% (56 
participantes) identificam seu parceiro atual como homem, 0,9% (1) identificam como 
mulher. Quanto à identidade de gênero de parceiros fixos anteriores, em questões 
independentes, observou-se que 93,8% (121) entrevistadas que responderam esta 
questão responderam já terem tido relacionamento fixo com homem, 12,4% (16) 
com travesti, 10,8% (14) com mulher, 5,4% (7) relataram nunca terem se 
relacionado de forma fixa e 1,6% (2) responderam já terem se relacionado de forma 
fixa com uma pessoa transexual. Em todas estas questões responderam 129 
participantes do estudo. 
44 
 
 
Quanto ao interesse, atração física ou sexual, independente do trabalho, em 
questões independentes, observou-se que 97,7% (127) de todas as participantes 
possuem maior interesse por homens, 10,8% (14) por gays, 1,5% (2) por mulheres e 
1,5% (2) por travestis. Nenhuma participante respondeu ter maior interesse por 
lésbicas ou transexuais masculinos ou femininos. 
 
5.3 Trabalho Sexual e Renda 
 
A média da idade em que as participantes relataram terem feito sexo por dinheiro 
pela primeira vez é de 17,0 anos (±3,6 anos), com a idade mínima de 9 anos e a 
máxima de 28 anos. Quase 60% (76) das participantes informaram terem feito sexo 
por dinheiro pela primeira vez com idade menor que 18 anos. 
 
A média da renda mensal com trabalho sexual é de 5174,3 (±3642,0) reais. A renda 
mensal com trabalho sexual variou de 800 reais a vinte mil reais. A quantia que mais 
se repetiu é de 4000,0 reais mensais 
 
A média do gasto mensal com estética, informado pelas participantes, foi de 813,4 
reais (± 983,2 reais), variando entre nenhum gasto até oito mil reais mensais. Dentre 
as 130 participantes, 3,8% (5) da amostra relatam não gastar com estética e 9,2% 
(12) não respondeu a pergunta. 
 
5.4 Saúde 
 
Observou-se que 75,4% (98) não possuem plano privado de saúde, 23,8% (31) 
relatam possuir e 0,8% (1) das participantes responderam “Não sabe” para a 
pergunta. 
Um quarto das 128 respondentes desta questão não realizou consulta médica nos 
últimos 12 meses. A média da quantidade de consultas médicas nos 12 meses 
anteriores à entrevista é de 2,7 (±3,6) variando entre nenhuma consulta e 24 
consultas no ultimo ano. 
 
45 
 
Em relação ao uso de drogas lícitas e ilícitas, 91,5% (119) relataram já ter feito o uso 
de bebida alcóolica, 76,2% (99) de alguma droga ilícita e 66,2% (86) cigarro ou 
tabaco. Consideramos droga ilícita as seguintes drogas: maconha, cocaína, crack, 
ecstasy, LSD (Dietilamida do Ácido Lisérgico) e heroína. 
 
No que diz respeito às morbidades, 26,9% (35) relatam terem tidodiagnóstico de 
depressão, por algum profissional de saúde e 5,4% de alguma outra doença 
psiquiátrica. Aproximadamente 5% (7) relatam diagnóstico de “colesterol 
alto”/hipercolesterolemia, 4,6% (6) de hipertensão e 3,1% (4) relatam o diagnóstico 
de diabetes. 
 
Quanto à DSTs/AIDS, 4,6% (6) das participantes relataram ter recebido diagnóstico 
de HIV por algum profissional de saúde, 3,1% (4) de gonorreia e uma (0,8%) 
respondeu não saber. Em relação ao diagnóstico de sífilis, 16,2% (21) relataram ter 
recebido o diagnóstico de sífilis de algum profissional de saúde. 
 
Quanto aos demais diagnósticos, 15,7% (20) relataram terem recebido diagnóstico 
de algum problema renal, 8,5% (11) de alguma doença hepática e 3,1% (4) de 
algum problema cardíaco. 
 
A autopercepção das condições de saúde foi descrita como boa ou muito boa para 
83,8% dos indivíduos. Mais de 90% não iniciaram o processo transexualizador no 
SUS. Aproximadamente 80,2% (101) relatam não terem interesse em realizar o 
processo, 18,3% (23) pretende inicia-lo e 1,6% (2) responderam não saber. 
 
5.5 Uso de Preservativo 
 
Em torno de 66% (86) declaram não ter utilizado preservativo em todas as relações 
sexuais nos seis meses anteriores à entrevista. Quase a metade relata ter usado na 
maioria das vezes, 10,0% (13) em menos da metade das vezes, 4,6% (6) poucas 
vezes e 0,8% (1) em nenhuma vez. 
 
46 
 
Em relação aos exames diagnósticos para HIV e outras DSTs, 65,7% (85) relatam 
ter realizado os exames nos 12 meses anteriores à entrevista e dentre estes, a 
maioria (64,7%) realizou no serviço publico de saúde. 
 
5.6 Violência 
 
Quanto à violência, 96,2% (125) relatam terem sofrido algum tipo de violência física. 
Como violência física se enquadram tapa, pedrada, arma de fogo, arma branca, 
soco, puxão de cabelo, beliscão, assalto, cuspe, lixo, ovada ou similares. 
 
Quase que a totalidade, 98,8% (128), relata ter sofrido algum tipo de violência 
sexual. Entende-se por violência sexual sexo forçado ou estupro, práticas não 
previamente combinadas, passadas de mão e assédio sexual. 
 
Da mesma forma, 99,2% (129) relataram terem sofrido algum tipo de violência 
psicológica, que se compreende em olhares, xingamentos, ameaças, ironia, 
chantagem ou extorsão e assédio moral. 
 
5.7 Transformação do Corpo 
 
A média da idade que relatam iniciar a utilizar roupas femininas é de 15,3 anos 
(±3,9) anos, com a idade mínima de 2 anos e a máxima de 27 anos. 50,8% 
relataram terem iniciado a utilizar roupas femininas com idade menor ou igual a 15 
anos. 
 
Em relação ao uso do silicone, 63,8% relatam já terem utilizado silicone industrial na 
transformação do corpo. A média da idade de inicio da utilização do silicone 
industrial é de 20,7 anos (± 3,8 anos) com a idade mínima de 12 anos e a máxima 
de 31 anos. A idade relatada que mais se repetiu é 19 anos. Aproximadamente 81% 
iniciaram o uso de silicone industrial com idade igual ou superior a 18 anos. Entre as 
travestis que relatam terem utilizado silicone industrial para a transformação 
corporal, 94,0% (78) informam que a forma de utilização foi por meio de 
bombadeiras ou mão de fada. As demais relatam a forma de utilização por meio de 
serviço privado de saúde (2,4%), colegas (1,2%) ou por conta própria (1,2%). 
47 
 
 
Dentre as 129 participantes que responderam a questão relacionada ao uso de 
próteses de silicone, 37,2% (48) relatam terem feito uso de próteses de silicone. A 
média da idade de inicio da utilização de prótese de silicone para transformação do 
corpo, relatada pelas participantes, é de 22,68 anos (± 4,73 anos), com a idade 
mínima de 16 anos e a máxima de 38 anos. 89,4% iniciaram o uso de prótese de 
silicone com idade igual ou superior a 18 anos. A idade relatada que mais se repetiu 
foi 18 anos. Entre as participantes, 94,0% (78) informam que a forma de utilização 
foi por meio do serviço de saúde privado. As demais relatam a forma de utilização 
por meio de cirurgião clandestino foram relatadas por 3 participantes (6,4%) e 
colegas por uma participante (2,1%). 
 
5.7.1 Utilização de hormônios 
 
A média de idade de início de utilização de hormônios é de 16,8 anos (±3,8 anos), 
com a idade mínima de 10 anos, a máxima de 30 anos e a idade relatada que mais 
se repetiu é 15 anos. Ao redor de 64% (83) das participantes relataram iniciar de 
utilização com idade menor que 18 anos. Aproximadamente 98,% (110) das 
participantes relataram a obtenção de conhecimento sobre o uso de hormônios e 
anticoncepcionais por meio de colegas, em contraste com apenas 1,8% (2) que 
obtiveram as informações em serviço público de saúde. 
 
Dentre as participantes, 33,1% (43) relatam terem tido algum problema decorrentes 
da utilização de hormônios. Dentre as 43 participantes que relataram algum 
problema decorrente do uso de hormônios, 41 relataram os principais eventos 
ocorridos. Entre os 59 eventos relatados, os mais frequentes foram 
enjoo/náusea/vômitos com 20,3% dos casos (12), depressão com 6,8% (4), 
estresse/nervosismo com 6,8% (4), tontura com 6,8% (4), aumento de peso com 
5,1% (3) e dor de estômago/gastrite com 5,1% (3) dos casos. 
 
Na tabela 3, estão apresentados os principais problemas decorrentes da utilização 
de hormônios (anticoncepcionais) para a transformação do corpo. 
 
 
48 
 
Tabela 3 – Principais problemas decorrentes da utilização de medicamentos hormonais para 
a transformação corporais pelas travestis de Belo Horizonte. (n=59). 
Eventos adversos n (%) 
Enjoo, Náusea ou vômito: 12 (20,3) 
Depressão: 4 (6,8) 
Estresse ou nervosismo: 4 (6,8) 
Tontura: 4 (6,8) 
Aumento de peso: 3 (5,1) 
Gastrite ou dor no estômago: 3(5,1) 
 
 
49 
 
6. DISCUSSÃO 
 
Observa-se que a faixa etária das participantes deste estudo não difere da relatada 
em outros estudos, predominantemente jovem. A maior idade relatada foi de 48 
anos, o que se relaciona ao fato do trabalho sexual exigir a juventude (ANTUNES, 
2010). Também, não podemos de deixar de considerar que a média da expectativa 
de vida da população travesti é em torno dos 50 anos (PELÚCIO, 2009). 
 
A grande maioria das travestis declara ser não-branca. A questão racial é um 
importante determinante nas relações sociais, devido às instituições jurídicas, 
econômicas e políticas, o imaginário social e os indicadores de comportamento 
(culturais) serem articulados com viéses racistas, machistas e transfóbicos. Desta 
forma, segundo Rodrigues (2013), a travesti negra [...] sofre por fatores que agem 
concomitantemente: racismo, preconceitos de gênero e de sexualidade. Quando 
falamos de racismo, nos referimos à “uma consciência grupal totalizante que tem 
como papel reservar o monopólio dos recursos, para a, nomeada fração fenotípica-
racial dominante” (MOORE, 2011 apud RODRIGUES, 2013). 
 
Existem poucos estudos que abordam as questões migratórias específicas às 
travestis entre as cidades e estados do Brasil. Garcia (2008), aponta que a 
emigração forçada é decorrente de fuga a violências ou situações conflituosas. 
Neste estudo, observou-se que 70% das participantes não nasceram em Belo 
Horizonte e atualmente residem nesta cidade. 
 
Conforme observado neste estudo, a grande maioria das travestis não vive com os 
pais. Elas deixam de viver com os pais muitos jovens, muitas com idade inferior à 18 
anos. Segundo Larissa Pelúcio (2009), as travestis “saem cedo de casa, em torno 
nos 14 anos”. Neste estudo, a menor idade relatada foi de 10 anos e 16,1% 
deixaram de viver com os pais com menos de 15 anos. Esta saída precoce da casa 
dos pais pode estar relacionada com a o início da utilização de hormônios, 
consequentemente das transformações corporais que não são aceitas pelos 
familiares e amigos da família. 
 
50 
 
Confirmando os dados presentes na literatura nacional e internacional, as travestis 
que participaram deste estudo não identificam seu gênero quanto

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