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Imigração e Colonização - Caio Prado Jr

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Imigração e Colonização
Caio Prado Jr. 
	O povoamento brasileiro, até a metade do século XIX, fez-se fundamentalmente através da importação do escravo africano, da imigração voluntária de europeus, sobretudo portugueses, e da eventual incorporação do elemento indígena. Além disso, apenas raramente estabeleceram-se colônias de povoamento, cujo objetivo não era demográfico, mas político-militar, como a ocupação do extremo sul por açorianos e também da região do Pará. 
	Com a transferência da Corte para o Brasil, em 1808, começavam a evidenciar-se problemas de ocupação. A heterogeneidade da população, sobretudo frente à massa escrava, evidenciava que aquela sociedade se organizara com o fim exclusivamente coloniais, ou seja, todo o processo de povoamento do país estava de acordo com o objetivo precípuo de fornecer ao mercado europeu os produtos coloniais. Assim, “a heterogeneidade que resultava de um tal sistema, tanto racial como cultural e social, era situação por demais imprópria para um país que se tornara a sede de uma monarquia européia”. Além disso, a questão da defesa nacional mostrar-se-á sempre como problemática. O conflito no Rio da Prata mostrará a impossibilidade de organizar-se um corpo militar efetivo quando mais da metade da população ou era escrava ou inorgânica socialmente. 
	Por fim, a crescente pressão pela extinção do tráfico, que começa a se colocar já em 1810, fará premente encontrar uma nova fonte de mão-de-obra. 
	Apesar de todas essas circunstâncias que começavam a surgir, as medidas efetivas tomadas pela Coroa portuguesa no Brasil tiveram importância mais por suas intenções e por colocar em pauta a possibilidade da imigração européia como uma política governamental que por seus resultados verdadeiros, numericamente mínimos. 
	Durante o I Reinado, o problema volta à tona, mas é desestimulado inicialmente pelas tensões políticas que passa o país até tornar-se independente e pelas dificuldades financeiras que encontra em seus primeiros anos como nação autônoma.	
	Nesta fase, ocorre um ponto de inflexão importante na política de imigração. Formavam-se as chamadas parcerias em substituição ao sistema de colonização de pequenas áreas em que o emigrado tornava-se proprietário, já que convinha mais encaminhar os imigrantes diretamente para as grandes lavouras demandantes de força de trabalho. O idealizador deste sistema será o Senador Nicolau Vergueiro, que introduziu em sua fazenda, Ibicaba, 	177 famílias de alemães, suíços, belgas e portugueses no decênio de 1847-1857. Os resultados iniciais foram realmente positivos, de forma que o sistema espalhou-se por mais de 70 fazendas paulistas, mas os problemas também não tardaram a surgir: acostumados a lidar exclusivamente com os escravos, os proprietários não tinham a consideração requerida pelos trabalhadores livres; os contratos eram assinados pelos emigrados ainda em sua pátria de origem, desconhecendo as condições de trabalho a que estariam sujeitos e com cláusulas que beneficiavam largamente os proprietários a expensas do trabalhador; os trabalhadores livres também não poderiam sentir-se muito atraídos socialmente em um ambiente em que realizavam as mesmas tarefas que os cativos, os quais eram mantidos nas fazendas. Além disso, a divisão do produto pelos contratos de parceria sempre foi problemática. Dados estes atritos, chegou-se a proibir na Alemanha a emigração para o Brasil, em 1859. 
	A questão imigratória seria relegada para o segundo plano até 1870, já que neste intervalo as fazendas do oeste paulista, principais demandantes de mão-de-obra, puderam obtê-la das fazendas já decadentes do Vale do Paraíba. No entanto, a partir desta data, o problema coloca-se novamente premente. 
	A imigração é agora facilitada por dois fatores externos: os EUA haviam lançado uma política de restrição à imigração e a Itália passava por convulsões políticas que estimulavam a emigração. Além disso, adotou-se um novo sistema em substituição aos contratos de parceria: o pagamento de salários. Como a remuneração deixava de ser feita com a divisão do produto do trabalho e como os salários eram fixados geralmente por jornadas, desapareciam as querelas e as dúvidas entre os proprietários e os trabalhadores. O governo também estimula a imigração, fazendo propaganda nos países com potencial a fornecer mão-de-obra e pagando o transporte do imigrante até o Brasil, no que se passou a chamar de “imigração subvencionada”. 
	Havia ainda a imigração para colonização, mas esta era realizada principalmente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná e no Espírito Santo. Aos cafeicultores paulistas, interessava muito mais trazer a mão-de-obra imediatamente para a lavoura que estabelecer centros de povoamento para apenas depois fornecer-lhes a força de trabalho de que necessitavam. 
	Além dos fatores externos que estimularam a imigração e dos novos contratos de trabalho, outras circunstâncias favoreceram o sucesso imigratório: a proporção de escravos nas fazendas que demandavam mão-de-obra diminuíra e os proprietários, sabendo não poder encontrar outra força de trabalho, terão maiores considerações com a condição de trabalhador livre do imigrante. 
	A presença do imigrante na sociedade brasileira terá também uma influência profunda sobre os quadros da escravidão. O trabalhador livre, “quando deixa de ser uma exceção, torna-se forte elemento de dissolução do sistema escravista. Através do exemplo e da palavra, ele conspira permanentemente contra a disciplina e a submissão do escravo. Se dantes a servidão corrompia o homem livre, agora é a liberdade que corrompe o escravo”.

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