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1 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania Unidade Nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Aline Carneiro Silverol 2 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Introdução O crescimento da população, com o alcance da marca de mais de sete bilhões de pessoas no planeta, e em constante aumento, significa um aumento do consumo de recursos naturais tanto em termos de suprimento das necessidades básicas como enquanto desperdícios em usos supérfluos. Da mesma forma em que haverá a utilização, cada vez maior, dos recursos, proporcionalmente também ocorrerá o aumento das suas taxas de depreciação, bem como dos danos decorrentes da exploração e também do retorno dos resíduos à natureza, após sua utilização. Regidos pelo modelo econômico, a sociedade moderna vivencia uma busca contínua por melhoria nas condições de vida, que é baseada nas taxas de consumo. Como o consumo é visto como um elemento de representação social, ele tem aumentado sensivelmente e, com isso, os resíduos também acompanham essa tendência. Entretanto, a destinação final dos resíduos gerados pela modernidade constitui-se em um problema ambiental importante, visto que existe o problema de destinação desses materiais. Os padrões e níveis de consumo da sociedade atual estão causando sérios danos ao meio ambiente, não só pelo uso abusivo dos recursos naturais, como também o impacto dos resíduos diversos nos sistemas naturais. Por isso, uma crise ambiental tem se desencadeado, questionando o custo do desenvolvimento alcançado pelas sociedades, criando a necessidade de reflexões sobre o consumo sustentável. Por isso, torna-se cada vez mais importante o incentivo a novas formas de consumo e também maneiras de reaproveitamento desses resíduos, para diminuir a quantidade de material que necessita de alguma destinação e/ou tratamento. Vamos aprofundar este debate? Bons estudos! 1. Crescimento econômico O crescimento econômico pode ser definido como o aumento da capacidade produtiva da economia, ou seja, o aumento da produção de bens e de serviços. Em números, é definida basicamente pelo índice de crescimento 3 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo anual do Produto Nacional Bruto (PNB), per capita. O crescimento de uma economia também é indicado pelo crescimento da força de trabalho, pela receita nacional poupada e investida e pelo grau de aperfeiçoamento tecnológico. O desenvolvimento econômico, portanto, os índices do crescimento econômico, acompanhado pela melhoria da qualidade de vida da população e por alterações profundas na estrutura econômica. Ou seja, o desenvolvimento de um país só pode ser aferido se o crescimento econômico promover melhorias para a população, como saúde, educação, moradia, emprego e renda, entre outros. Por muito tempo, o desenvolvimento econômico dos países foi medido através do indicador do nível de renda per capita, sendo empregado tanto para medir a riqueza, quanto para medir o bem-estar social. Nos dias atuais, o conceito de desenvolvimento passou a ser entendido não apenas como o crescimento da produção, mas também abrangendo as mudanças estruturais necessárias para torná-lo sustentável em longo prazo e mais justo do ponto de vista de distribuição de rendas e oportunidades. Ou seja, o conceito de desenvolvimento deve tratar de questões como a justiça social, a distribuição da renda, o acesso à educação, saúde, água, ao saneamento básico, emprego, à habitação, dentre outros – além do empoderamento dos cidadãos para influenciar os rumos da sociedade. A humanidade registrou um grande progresso nos últimos 150 anos. De uma maneira geral, mesmo nos países menos desenvolvidos, foi possível observar uma melhora das condições de saúde e com um acentuado decréscimo na mortalidade infantil. Além disso, houve também um grande aumento na esperança de vida, melhores níveis de alfabetização e acesso a bens e serviços. A ampliação da produtividade e o incremento sistemático da renda per capita estão na base desses avanços, tornando-os sinônimo de progresso. 1.1 Crescimento econômico, Consumo e Qualidade de Vida Nos embates sociais, econômicos e políticos da sociedade contemporânea, percebe-se um impasse entre o meio ambiente e o desenvolvimento, ao não se estabelecerem os níveis sustentáveis de produção e consumo. Segundo Guimarães (2001 apud Costa e Teodósio, 2011), a crise 4 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo ambiental coloca à prova o modelo de desenvolvimento que gerou tanto os danos ecológicos como também as desigualdades sociais, caracterizando-o como politicamente injusto, culturalmente alienado e eticamente repulsivo. Desta forma, para ocorrer desenvolvimento, é preciso mais que acumular riquezas, mas também mudanças na qualidade de vida das pessoas, o que incluiria os aspectos sociais, culturais e espirituais (Costa e Teodósio, 2011). O crescimento econômico veio acompanhado de um aumento contínuo do consumo, baseado em processos que esgotam os recursos naturais e contribuem para a deterioração do clima. Embora os críticos desse paradigma de crescimento sejam agora mais enérgicos, a verdade é que tal modelo tornou-se cada vez mais resistente em função da cultura de consumo, fortemente promovida pela mídia de massa e pela propaganda. A geração de consumidores assíduos foi construída ao longo da segunda metade do século XX através do capitalismo de consumo, que substituiu as economias de produção, sustentado pela nova religião do melhoramento contínuo das condições de vida. Entretanto, a melhoria da qualidade de vida que uma parcela da população humana vem alcançando nos últimos anos tem sido conquistada, em grande parte, pelo desenvolvimento científico e tecnológico atingido pelo homem, aliado a uma ação predatória dos recursos naturais disponíveis em nosso planeta. Esta nova era do capitalismo passou a ser construída através das empresas e de seus consumidores. As empresas estão em constante busca de uma criação de valor elevado para atender as expectativas e necessidades dos detentores de capital, ou seja, os seus consumidores. Para tanto, diversificam a oferta para se adaptar as exigências e aos desejos do seu consumidor potencial, reduzem os ciclos de vida dos produtos pela rapidez das inovações, segmentam os mercados, favorecem o crédito ao consumo e fidelizam o cliente por práticas comerciais diferenciadas, tendo como alvo a nova ordem econômica, que está pautada no consumo (Figura 1). 5 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Figura 1 – As empresas buscam cada vez mais inovação e produtos diferenciados para conquista o consumidor, que, por sua vez, deseja consumir cada vez mais. Fonte: Pixabay, 2019. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/photos/centro-comercial-mulher-compras- 522619/>. Acesso em: 08/05/2019. 2. Consumo O mundo pode ser visto como uma aldeia globalizada, na qual se vive uma expansão do sistema econômico em escala global, jamais vivenciada por nenhuma outra sociedade humana. O modelo atual dos indivíduos está baseado na sua capacidade de consumir e acumular bens materiais. Dessa forma, a sociedade atual é considerada a sociedade de consumo. A sociedade de consumo é um dos inúmeros rótulos utilizados por intelectuais, acadêmicos, jornalistas e profissionais de marketing para se referir à sociedade contemporânea. Ao contrário de termos como sociedade pós-moderna, pós-industrial e pós-iluminista, o termo sociedade de consumo, à semelhança das expressões sociedade da informação,do conhecimento, do espetáculo, de capitalismo desorganizado e de risco, entre outras, remete o leitor para uma determinada dimensão, percebida como específica e, portanto, definidora, para alguns, das sociedades contemporâneas (Barbosa, 2004). No entanto, o que deveria ser analisado não é somente o consumo, uma vez que ele é fundamental, pois precisamos de alguns itens essenciais à 6 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo nossa sobrevivência. O problema seria o chamado hiperconsumo, ou seja, o consumo desenfreado, que molda as reações humanas conforme o padrão de consumo (Costa e Teodósio, 2011). Você quer ver? Nesta animação, você verá como as relações entre a exploração dos recursos naturais e o consumo, mostrando como os produtos se tornam obsoletos com o tempo, justamente para aumentar a capacidade de consumo. Assista em: <https://www.youtube.com/watch?v=TffNfxoTJC4>. O consumidor pode ser incentivado a fazer com que seu ato de consumo seja também um ato de cidadania, ao escolher em que mundo quer viver. Cada cidadão teria a capacidade de optar por produtos e serviços que satisfaçam suas necessidades sem prejudicar o bem-estar da coletividade, seja ela atual ou futura (Costa e Teodósio, 2011). 2.1 Consumo e Cidadania O crescimento econômico, na maioria dos países, inclusive no Brasil, foi fundamentado na racionalidade econômica, sustentando, portanto, um modelo político e cívico dominado pelo modelo econômico (Costa e Teodósio, 2011). Desta forma, o conceito de cidadania desenvolvido nesses países seria distante da consciência de pertencimento em relação à coletividade. Em lugar do cidadão, formou-se o consumidor, dentro de um modelo de cidadania desigual. No ato do consumo, os sujeitos centralizariam suas decisões em seus interesses pessoais e imediatos, não se preocupando se as suas escolhas como consumidores podem ter implicações políticas, sociais e ambientais (Costa e Teodósio, 2011). Assim, podemos dizer que a noção de cidadania contemporânea significa um processo de aprendizado social e de construção de novas formas de relações sociais e práticas políticas concretas. Desta maneira, pode-se avançar em direção a um novo quadro de referência para as práticas de consumo (Costa e Teodósio, 2011). https://www.youtube.com/watch?v=TffNfxoTJC4 7 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Com a deterioração política e a diminuição da crença, por parte da população, nas instituições, novas formas de participação política e de identidade cultural foram criadas, transformando o consumidor em um ator social. Diante da problemática do consumo exacerbado, outras formas de consumo têm sido incentivadas para que os recursos naturais sejam mais bem utilizados. Com isso, muitos conceitos e análises têm surgido na tentativa de encontrar soluções para a questão do consumo e suas implicações socioambientais (Costa e Teodósio, 2011). A partir da terceira fase do capitalismo, no final da década de 1970, apareceram as primeiras formas de consumo responsável, que passaram a recusar o consumismo sem consciência, característico dessa fase da economia. O consumismo consciente significaria consumir com mais qualidade e de maneira mais responsável com a natureza, buscando uma observação atenta às grandes instituições, às posturas individuais e à qualidade de vida (Costa e Teodósio, 2011). Desde então, surgiram os diversos conceitos sobre o consumo, como o consumo consciente, ético, solidário, responsável, verde e sustentável. Estes conceitos tentaram inserir as questões ambientais e do consumo no repertório dos debates sociais, buscando avanços em direção a padrões mais sustentáveis de desenvolvimento. Figura 2 – Todas as formas de consumo visam buscar equilibrar a preservação e o melhor uso dos recursos naturais, ao mesmo tempo em que promove a qualidade de vida da sociedade. Fonte: Pixabay, 2019. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/illustrations/reciclagem-setas- rede-verde-4091876/>. Acesso em: 08/05/2019. 8 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo O consumo responsável é aquele que seria corresponsável pelo cuidado do mundo, a partir da ótica do consumo individual, em que a escolha de um produto teria reflexos sociais e ambientais (Costa e Teodósio, 2011). Este tipo de consumo evidencia a capacidade de cada pessoa, instituição pública ou privada de escolher serviços e produtos que contribuam para a melhoria da vida individual, da sociedade e da preservação ambiental. O consumo ético pode ser entendido como o consumo que preza questões mais amplas como a não agressão ao meio ambiente e o monitoramento da postura das empresas, objetivando o comércio ético dentro do atual sistema econômico (Costa e Teodósio, 2011). A adoção do consumo ético ocorre principalmente em países que se encontram em estágio avançado da tecnologia, ciência e informação, onde a sociedade, mais consciente da importância dos recursos naturais para a manutenção da qualidade de vida, e sabe usufruir dos recursos naturais.O consumo solidário consiste em um tipo de consumo que almeja seu bem-estar pessoal, promovendo também a qualidade de vida dos trabalhadores que elaboram, distribuem e comercializam os produtos e serviços, mantendo o equilíbrio dos ecossistemas e contribuindo para a construção de uma sociedade mais solidária (MANCE, 2002 apud Costa e Teodósio, 2011). Figura 3 – O consumo solidário fortalece os pequenos comerciantes, sendo de grande importância para a movimentação da economia. Fonte: Pixabay, 2019. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/photos/ma%C3%A7%C3%A3s-mercado-de-agricultores-1841132/>. Acesso em: 08/05/2019. O consumo consciente refere-se à atitude do consumidor em buscar mudanças por intermédio do consumo, valorizando a relação do indivíduo 9 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo com o coletivo e com as gerações futuras (Costa e Teodósio, 2011). Neste tipo de consumo, o consumidor se preocupa e avalia a quantidade de produtos adquiridos e as suas marcas em função de sua responsabilidade social, da redução do desperdício e do reaproveitamento ou reciclagem. O consumo consciente é considerado o primeiro passo para alcançar a sustentabilidade, na medida em que, no plano individual, o consumidor pode adotar atitudes conscientes, mudando sua postura no consumo, já que o consumo consciente não é necessariamente sustentável, embora todo consumo sustentável seja consciente (Costa e Teodósio, 2011). O consumo verde compreende a aquisição de produtos e serviços que levem em consideração a questão ambiental, adotando medidas que não destruam o meio ambiente, tanto na produção quanto na distribuição, no consumo e no descarte final do produto (Costa e Teodósio, 2011). Os consumidores verdes escolhem os produtos baseados no menor prejuízo possível causado por eles aos ecossistemas. O consumo sustentável refere-se ao consumo de toda a variedade de produtos e serviços, dos processos que os produzem e a manufatura de produtos colaterais e interligados, de forma consciente e de forma que causem a menor quantidade de impactos possíveis. O conceito de consumo sustentável é fruto da expressão desenvolvimento sustentável, construída a partir da Agenda 21, na Rio-92 (DIAS, 2008 apud Costa e Teodósio, 2011). Neste documento, foi contemplado um capítulo inteiro sobre as mudanças dos padrões de consumo, o que definiu as bases para a construção de padrões mais sustentáveis. O objetivo do documento foi a promoção dos padrões de produção e consumo que minimizem os impactos ambientais e atendam às necessidades básicas da sociedade, bem como proporcionemuma melhor compreensão do papel do consumo e da maneira de se delinearem padrões sustentáveis para isto (Costa e Teodósio, 2011). O objetivo do consumo sustentável, portanto, seria garantir que as necessidades da sociedade sejam atingidas, evitando o consumo pelo consumo e, assim, contribuir para a proteção do meio ambiente. Diferentemente das outras definições, como o consumo consciente, ético, solidário, entre outros, o consumo sustentável insere as discussões de 10 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo consumo e meio ambiente na esfera pública e coletiva, incentivando as mudanças políticas, econômicas e institucionais, em detrimento de ações individuais, para fazer com que os padrões e os níveis de consumo se tornem mais sustentáveis (Costa e Teodósio, 2011). Desta forma, podemos constatar que o consumo tem uma relação direta com a cidadania, ou seja, o consumo convive com as questões sociais que permeiam os interesses da sociedade. A identidade dos indivíduos geralmente é construída pela forma como conduzem seus estilos de vida, demonstrando que as práticas de consumo podem ser consideradas um componente dessa identidade. Ou seja, nos dias atuais, o consumidor não pode ser mais visto como uma vítima manipulada (Costa e Teodósio, 2011). Neste sentido, é necessário fomentar iniciativas de apoio e incentivo a modelos alternativos de produção, devem estar articuladas com a participação dos consumidores. As práticas de consumo poderiam contribuir, por exemplo, com a formação de redes de intercâmbio de informação e de aprendizagem para o exercício da cidadania e o desenvolvimento local (Costa e Teodósio, 2011). O cidadão, quando possui uma postura mais crítica, compreende que a responsabilidade dos problemas ambientais não são só do poder público, mas também da sociedade, que possui sua parcela de responsabilidade. Essa capacidade pode se manifestar em uma relação de embates, conflitos e vigilância da dimensão social, como empresas, organizações públicas e a sociedade civil. Uma população consciente de suas ações individuais, bem informada e preocupada com as questões ambientais deverá tornar-se uma nova perspectiva para a solução dos problemas ligados ao consumo e para as mudanças em direção à sociedade sustentável. A atividade cotidiana do “fazer compras” começou a ser percebida como uma postura que compromete a qualidade ambiental (Costa e Teodósio, 2011). A criação de uma cultura que alcance uma vida sustentável e com qualidade ainda parece distante, pois qualquer consumo é passível de causar algum impacto na economia, nas relações sociais, nos sistemas naturais e no próprio consumidor (Costa e Teodósio, 2011). Ao ter consciência desses impactos na hora de escolher o que comprar, de quem comprar e decidir o 11 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo modo de usar e descartar o produto, o consumidor pode contribuir na melhoria das condições socioambientais e do desenvolvimento local, além de diminuir a geração de resíduos. 3. Consumo e produção de resíduos O surgimento de novos bens de consumo, resultado do constante crescimento tecnológico em todas as esferas produtivas, desperta a população para o consumo, mesmo sem a necessidade de adquirir ou substituir um produto. Esse consumo, associado às necessidades básicas já existentes (como alimentac ̧ão, vestuário, habitação, transporte, saúde, entre outros) aumentam consideravelmente o volume de materiais descartados no meio ambiente (Barbosa e Ibrahin, 2014). Pela sua variedade e quantidade que ficam dispersos no ambiente, esses materiais acabam comprometendo os preceitos essenciais que regem o desenvolvimento sustentável, devido, principalmente (Barbosa e Ibrahin, 2014): à ausência de investimentos públicos e de novas metodologias no saneamento básico; à ausência de um plano diretor de urbanizac ̧ão para a gestão de problemas específicos como o crescimento populacional, tra ̂nsito e infraestrutura (rodovias, portos, aeroportos etc.); ao crescimento do consumo comercial de bens e produtos, grac ̧as a preços mais acessíveis e à diversidade de itens aos clientes consumidores; ao aumento da produtividade das indústrias, para atender ao contínuo crescimento da oferta e à procura de seus produtos, nos mercados interno e externo; ao uso indiscriminado dos recursos naturais, dada a ause ̂ncia de uma legislac ̧ão ambiental específica e fiscalizac ̧ão dos órgãos públicos. Todos esses fatores, associados ao consumo, promovem o aumento da geração de lixo e, com ele, uma série de consequências, como a disseminação 12 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo de doenças, proliferac ̧ão de vetores diversos, como ratos, mosquitos, entro outros, alagamentos por causa dos entupimentos na rede pluvial de coleta de água, odor desagradável, contaminac ̧ão do meio ambiente, entre outros (Barbosa e Ibrahin, 2014). A quantidade de resíduos sólidos produzidos pela população está relacionada não só com o nível de riqueza, refletido na capacidade econômica para consumir, mas também com os valores e hábitos de vida, determinantes do grau de disposição para a realização do consumo e da preocupação com o descarte adequado dos resíduos (Figura 4). Figura 4 – Um dos problemas do hiperconsumismo é a geração de lixo, que nem sempre é destinado de forma correta, comprometendo os sistemas naturais. Fonte: Pixabay, 2019. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/photos/lixo-recipiente-de-res%C3%ADduos- 2729608/>. Acesso em: 08/05/2019. O lixo pode ser definido como o resultado de tudo que não pode ser aproveitado pelos consumidores ou no processo produtivo, depois de atender as suas necessidades e funções de utilizac ̧ão, podendo ser descartado de qualquer forma no meio ambiente ou disposto em algum lugar específico, que pode ser adequado ou inadequado. Porém, é preciso que se entenda a diferenc ̧a entre os termos lixo, resíduos e rejeitos, que, apesar de suas aparentes semelhanc ̧as, são termos que são diferenciados tecnicamente na forma em que são empregados pelas legislações vigentes e pelos profissionais do meio ambiente (Barbosa e Ibrahin, 2014). O lixo, de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é definido como os restos das atividades humanas, considerados pelos 13 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo se apresentar no estado sólido e líquido, desde que não seja passível de tratamento. Os resíduos, conforme a definição da ABNT, são aqueles que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Os resíduos podem ser sólidos ou líquidos, cujas características físicas e químicas inviabilizam o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções, técnica e economicamente, inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. Os rejeitos são um tipo específico de resíduo que não são passíveis de recuperação ou reaproveitamento. Por não apresentarem uma solução final, esses materiais deverão ser encaminhados para um aterro sanitário licenciado ou incinerados, de modo que não prejudiquem ou afetem ao meio ambiente. A problemática do lixo pode ser resolvida por meio do beneficiamento dos resíduos, após a sua correta separação. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), capítulo II, artigo 3º, alínea XVI, define resíduos sólidos como (Barbosa e Ibrahin, 2014): [...] material, substa ̂ncia, objeto ou bem descartado resultante de atividadeshumanas em sociedade, a cuja destinac ̧ão final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluc ̧ões técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Portanto, os resíduos devem ser tratados o maior número de vezes possível, para o seu reaproveitamento em sua fonte de origem, em outro processo produtivo ou em alguma atividade econo ̂mica ou social. Só após todas as possibilidades de beneficiamento esgotadas é que deve ser providenciado o descarte adequado dos resíduos, que – de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, no artigo 3o, do capítulo II, alínea XV – dá a seguinte definic ̧ão oficial para rejeitos Barbosa e Ibrahin, 2014: [...] resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperac ̧ão por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem 14 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo outra possibilidade que não a disposic ̧ão final ambientalmente adequada. 3.1 Tipos de resíduos Os resíduos podem ser classificados em resíduos líquidos, gasosos e sólidos. Os resíduos líquidos são definidos, de acordo com a ABNT, como o despejo líquido constituído de esgoto doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuic ̧ão parasitária, apresentando, portanto, origem atribuída aos processos industriais e às atividades humanas (Barbosa e Ibrahin, 2014). Os líquidos residuais devem receber tratamento adequado, no intuito de atenuar ao máximo as alterac ̧ões químicas, físicas e biológicas de sua composição, e, com isso, prevenir os impactos ambientais decorrentes do seu lançamento tanto na rede como também nos corpos d’água. Tais resíduos, de acordo com a sua origem, são classificados em (Barbosa e Ibrahin, 2014) (Figura 5): Esgoto doméstico: despejo líquido resultante do uso da água para a higiene e necessidades fisiológicas. Esgoto industrial: despejo líquido resultante dos processos industriais, respeitando os padrões de lanc ̧amentos estabelecidos. Esgoto pluvial: são os esgotos provenientes das águas de chuva. 15 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Figura 5 – Os resíduos líquidos, se lançados de forma incorreta ou em locais impróprios, podem causar sérios danos aos ecossistemas aquáticos. Fonte: Pixabay, 2019. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/illustrations/polui%C3%A7%C3%A3o-lixo-degrada%C3%A7%C3%A3o- 1603644/>. Acesso em: 08/05/2019. Os resíduos gasosos são os componentes voláteis gerados em atividades industriais, queimadas agrícolas, decomposic ̧ão orga ̂nica, entre outros, e podem acarretar impactos ambientais se ultrapassarem os limites da legislação. Os principais gases são (Barbosa e Ibrahin, 2014) (Figura 6): Monóxido de carbono (CO): é originário da combustão de combustíveis fósseis utilizados para o abastecimento de veículos e do uso energético do carvão e derivados do petróleo em caldeiras, fornos e similares. Dióxido de carbono (CO2): é proveniente das indústrias de produc ̧ão de cimento, cal, alumínio, incinerac ̧ão de lixo e principalmente o uso combustíveis fósseis como fonte de energia. Óxido nitroso (N2O): pode ser originado através de práticas agrícolas, de processos industriais, da queima de combustíveis fósseis, desmatamento e conversão de florestas para outros usos. Metano (CH4): é proveniente de aterros sanitários, do tratamento de esgotos, dos sistemas de produc ̧ão e processamento de petróleo e gás natural, das atividades agrícolas, da mineração de carvão, entre outros. 16 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Figura 6 – A liberação de resíduos gasosos na atmosfera, além de provocar a poluição do sistema natural, também pode ocasionar doenças e prejuízos econômicos. Fonte: Pixabay, 2019. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/photos/chamin%C3%A9-fuma%C3%A7a- ind%C3%BAstria-polui%C3%A7%C3%A3o-3710486/>. Acesso em: 08/05/2019 Assim como os resíduos líquidos, os gases requerem medidas de controle, prevenc ̧ão e monitoramento ambiental, e a sua gerac ̧ão é muito acentuada nas atividades industriais e agropastoris, ocasionando quedas sensíveis na qualidade do ar e impactos ambientais diversos, como o aquecimento global (Barbosa e Ibrahin, 2014). Os resíduos sólidos são classificados de acordo com suas propriedades e aspectos diversos, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Com relação a suas origens, eles podem ser classificados (Barbosa e Ibrahin, 2014): Resíduos sólidos domiciliares: são resíduos oriundos das atividades domésticas em reside ̂ncias urbanas, e podem ser divididos em resíduos secos e resíduos úmidos (Figura 7): o Resíduos secos: que são constituídos de embalagens plásticas, papéis, metais, vidros, metais diversos e embalagens longa vida, entre outras. 17 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo o Resíduos úmidos: que são formados por restos de alimentos, folhas, cascas, sementes e outros resíduos orga ̂nicos industrializados, entre outros. Figura 7 – Os resíduos sólidos domésticos constituem-se em um grande problema, em virtude da quantidade gerada. Fonte: Pixabay, 2019. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/photos/sucata-suja-lixo-despejo-dumping-166495/>. Acesso em: 08/05/2019. Resíduos de limpeza pública: são originados pelas atividades do saneamento básico, como varric ̧ão, limpeza de patrimo ̂nios públicos, bueiros, bocas de lobo, feiras livres, eventos públicos, parques, cemitérios, entre outros. Resíduos da construc ̧ão civil: são compostos por restos de alvenarias, argamassas, concreto, asfalto, solo, gesso e detritos como madeira, fiac ̧ão elétrica, tubos, metais, entre outros. Resíduos dos servic ̧os de saúde: são compostos por produtos biológicos e infectantes, pec ̧as anatômicas, rejeitos radioativos, materiais perfurocortantes, entre outros. 18 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Resíduos industriais: são provenientes das atividades industriais e dos processos produtivos. Resíduos agrossilvopastoris: são provenientes de atividades ligadas à agricultura e à pecuária, sendo classificados: o Orgânicos: que são constituídos por resíduos das plantac ̧ões, abate de animais (bovinos, caprinos, ovinos, suínos, aves, entre outros), e outras atividades florestais. o Inorga ̂nicos: são compostos por agrotóxicos, fertilizantes, produtos farmacêuticos e embalagens. Resíduos dos servic ̧os terrestres: são gerados em atividades referentes aos transportes rodoviário, ferroviário, aéreo, aquaviário, e também das instalac ̧ões de tra ̂nsito, como rodoviárias, portos, aeroportos e passagens de fronteiras (Figura 8). Figura 8 – Os resíduos de serviços de transporte, também conhecidos como sucatas, são matérias de difícil destinação. Fonte: Pixabay, 2019. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/photos/ferro-velho-metal-res%C3%ADduos-lixo-2441432/>. Acesso em: 08/05/2019. Resíduos de mineração: são resíduos originados do beneficiamento, da pesquisa e da extração de minérios, inclusive das atividades de suporte, como o desmonte de rochas, a manutenc ̧ão de equipamentos e de veículos pesados e das atividades administrativas. 19 Meio Ambiente, Sociedade eCidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Síntese O desenvolvimento sustentável e a manutenção da qualidade de vida de uma população estão intimamente relacionados com o comportamento e percepção sociais perante os recursos naturais. Sabemos que todos os produtos e serviços oferecidos pelos meios de produção possuem, em algum item da sua composição, recursos naturais, que podem ser renováveis e não renováveis. À medida que as taxas populacionais foram aumentando, a necessidade da oferta de produtos e serviços seguiu a mesma tendência. Entretanto, os hábitos de consumo da sociedade também mudaram, passando de um momento em que somente os bens necessários à sobrevivência eram extraídos ou utilizados pela população, até os dias atuais, em que o consumo exagerado e supérfluo pode comprometer a capacidade da natureza em fornecer os recursos necessários para a manutenção da sobrevivência. Para a perpetuação da sociedade e a garantia de que os recursos naturais estarão assegurados para as gerações atuais e futuras, é necessário que os meios de produção e a população alterem o modo em que enxergam a natureza, como mera fornecedora de matérias-primas. O consumo exagerado, além de provocar o gasto desnecessário de recursos, também promove a geração de resíduos diversos, de caráter sólido, liquido ou gasoso, que podem impactar e causar danos irreversíveis ao meio ambiente. Ou seja, o consumo desenfreado promove dois impactos: os danos pela extração dos recursos e os impactos pela geração de resíduos. Portanto, é importante que as dimensões sociais, econômicas e políticas coloquem em pratica os conceitos e recomendações de desenvolvimento sustentável, para que o desenvolvimento socioeconômico e o meio ambiente possam conviver de forma harmoniosa, garantindo os recursos e o desenvolvimento necessários para as gerações presentes e futuras. Neste capítulo você teve a oportunidade de estudar: Crescimento e desenvolvimento; Consumo e cidadania; 20 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Tipos de consumo; Resíduos; 21 Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania– Unidade nº 4 – Consequências do crescimento e do consumo Bibliografia ALIER, J.M. O ecologismo dos pobres. São Paulo: Contexto, 2009 BARBOSA, L. Sociedade de Consumo. 3. Ed. São Paula: Zahar, 2004. BARBOSA, R. P. IBRAHIN, F. I. D. Resíduos sólidos: impactos, manejo e gestão ambiental. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. BARBOSA, R.P. VIANA, V.J. Recursos naturais e biodiversidade: preservação e conservação dos ecossistemas. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. (Minha biblioteca). CAMARGO, A.; CAPOBIANCO, J. P.R.; OLIVEIRA, J. A. P. Meio Ambiente Brasil, Avanços e Obstáculos pós-Rio-92. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2004. CALGARO, C.; PEREIRA, A. O. K. Consumo, democracia e meio ambiente: os reflexos socioambientais. Caxias do Sul: Educs, 2017. DAVIS, M. Planeta Favela. São Paulo: Boitempo, 2006. ISA. Almanaque Brasil Socioambiental. São Paulo: Instituto Socioambiental. Disponível em: <https://www.socioambiental.org/sites/blog.socioambiental.org/files/publicaco es/10297.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2019. OLIVEIRA, M.M. D. Cidadania, meio ambiente e sustentabilidade. Caxias do Sul: Educs, 2017. PEREIRA, A. C. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2011. SACHS, I. Barricadas de ontem, campos de futuro. São Paulo: IEA/USP, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v24n68/05.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2019. SANTOS, M.A. Poluição do meio ambiente. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
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