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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO Departamento de Economia Rua Marquês de São Vicente, 225 22453-900 - Rio de Janeiro Brasil TEORIA MACROECONÔMICA II GABARITO DA PRIMEIRA PROVA 2007.2 PROF: MARCIO JANOT Primeira Questão: (1 ponto) O governo federal decide melhorar o bem estar social através de um aumento no salário mínimo. Considerando o mercado de concorrência imperfeita, mostre graficamente o efeito dessa decisão sobre o mercado de trabalho. Quais são os efeitos dessa mudança sobre o nível de emprego e salário? Determinação dos salários: W = Pe*F(u, z) Determinação dos preços: P = W(1 + μ) R: Primeiramente, temos que: • W = P F (u,z) → Determinação do Salário Nominal (1) • P = (1 + μ) W → Determinação dos Preços (2) Dividindo a equação (1) por P em ambos os lados, temos: W/P = F (u,z) (3) Com base nessa equação podemos dizer que quanto maior for a taxa de desemprego (u), menor será o poder de barganha dos trabalhadores e, assim, menor será o salário real (W/P). Dessa forma, vemos que u possui relação inversa com a Determinação do Salário Real, ou seja, quanto maior for u menor será o salário real. Dividindo agora a equação (2) por W, temos: P/W = (1 + μ) (4) Isolando para W/P: W/P = 1/(1 + μ) (5) Igualando (3) e (5), F (u,z) = 1/(1 + μ) (6) encontramos o equilíbrio do mercado de trabalho. Graficamente: PS uN u W/P WS 2 Assim, quando há um aumento no salário mínimo, determinado por z, há também um aumento na taxa de desemprego. Isso ocorre porque, para um dado nível de desemprego, o salário real (W/P) aumenta com o aumento do salário mínimo (z). Como o salário pago pelas firmas é constante, W/P = 1/(1 + μ), o nível de desemprego irá aumentar para igualar novamente as equações F (u,z) = 1/(1 + μ). Graficamente, este efeito seria demonstrado pelo deslocamento da curva WS para a direita. O nível de desemprego aumentou e os salários mantiveram-se constantes. Segunda Questão: (2 Pontos) Antigamente, acreditava-se ser possível escolher entre uma taxa de desemprego menor em detrimento de uma inflação maior, permanentemente (e vice-versa). Porque essa relação, embora verificada empiricamente até a década de 70, mostrou-se ser uma ilusão (embora alguns economistas ainda acreditem)? É possível diminuir a inflação sem afetar a taxa de desemprego? Explique. R: Antigamente, a inflação média dos EUA e do Reino Unido era zero. Com a taxa média de inflação igual à zero no passado, as expectativas de inflação dos agentes também eram iguais à zero. Ou seja: πt e = 0. A curva de Phillips era: πt = -α(ut-un) PS uN u W/P WS WS´ uN´ 3 Isso significava que um desemprego abaixo do nível natural levaria à salários mais altos, o que levaria à um nível de preços mais alto, ou seja, uma inflação maior. De modo oposto, um desemprego mais alto que sua taxa natural levaria a uma inflação menor. Essa era a curva de Phillips tradicional. Entretanto, a partir da década de 70, essa relação mostrou-se um fracasso. Isso ocorreu porque a inflação média passou a ser positiva, ano após ano, levando os agentes a reavaliar suas expectativas de inflação de zero para a inflação igual a do ano anterior. Ou seja: πt e = πt-1 A curva de Phillips passou a ser: πt = πt-1 -α(ut-un) Jogando πt-1 para o outro lado da equação: πt - πt-1 = -α(ut-un) Ou seja, a taxa de desemprego não afetava mais a taxa de inflação, mas sim a variação na taxa de inflação. Um nível de desemprego elevado levaria a uma inflação decrescente, enquanto um nível baixo de desemprego levaria a uma inflação crescente. Essa era a curva de Phillips aceleracionista. Considerando a curva de Phillips: πt = πt e -α(ut-un) Se os agentes formarem suas expectativas com base na inflação passada (πt e = πt-1), o único modo de diminuir a inflação seria aceitar um desemprego maior por algum tempo. No entanto, se for possível convencer os agentes de que a inflação será menor do que no passado, eles diminuiriam suas expectativas de inflação. Isso, por sua vez, reduziria a inflação efetiva sem qualquer mudança na taxa de desemprego. O ingrediente principal para uma desinflação bem sucedida (sem causar recessão) é a credibilidade da política monetária. Terceira Questão: (2 Pontos) Identifique se as afirmações são verdadeiras ou falsas. A justificativa é o que vale! (0,5 cada) a) Se as expectativas forem racionais, de modo que as pessoas usam eficientemente toda a informação disponível para efetuar suas decisões, então uma política monetária expansionista perfeitamente antecipada não conseguirá, em qualquer circunstancia, afetar o produto real da economia. Falso. Os modelos neo-keynesianos acreditam na teoria das expectativas racionais, mas mostram que a economia demora mais para retornar para o equilíbrio do que o previsto pelos modelos neo-clássicos. Eles focam na rigidez que os preços podem ter e tentam buscar os fundamentos microeconômicos dessa rigidez. Quando a quantidade de moeda 4 aumenta, todas as firmas deveriam ajustar proporcionalmente seus preços, como previsto pelos modelos clássicos. Porém, há custos (“custos de menu”) em reajustar os preços e esses custos podem ser maiores que a perda de receita em permanecer com o preço “errado”. Esses custos podem ser também: coletar informação, manter os clientes e contratos com fornecedores ou salariais de médio prazo. b) É sempre verdade que, com um aumento do número de pessoas empregadas na economia, a taxa de desemprego diminui. Falso. Taxa de Desemprego = N° de Pessoas Procurando Emprego N° de Empregados + N° de Pessoas Procurando Emprego Se o número de pessoas procurando emprego aumentar mais do que o número de empregados, a taxa de desemprego irá aumentar. c) De acordo com o modelo de informação imperfeita de Lucas (“modelo das ilhas de Lucas”), quando a maior parte das variações do preço do bem produzido na ilha são atribuídas a alterações no nível agregado de preços, choques sobre o preço deste bem serão praticamente neutros, com pouco efeito sobre a produção. Verdadeiro. Um preço elevado pode significar uma procura elevada pelo produto daquela empresa ou uma elevação geral dos preços. Na primeira hipótese a firma desejaria aumentar a produção e na segunda desejaria manter constante a produção. Se a maior parte das variações do preço do bem produzido na ilha são atribuídas a alterações no nível agregado de preços, a firma prefere não modificar sua produção. d) De acordo com a teoria do passeio aleatório do PIB, choques de ofertas são permanetes e menos freqüentes, enquanto choques de demanda são transitórios e mais comuns. Falso. De acordo com a teoria do passeio aleatório do PIB, choques de oferta são permanentes e menos freqüentes, enquanto choques de demanda são transitórios e mais comuns na economia. Quarta Questão: (3 Pontos) Suponha que a curva de Phillips seja dada por: πt = πte - (ut - 5%) 5 e a inflação esperada dada por: πte = πt-1 a) Qual é a taxa de sacrifício nessa economia? (0,5) R: A razão de sacrifício é o número de anos-ponto de excesso de desemprego necessário para reduzir a inflação em 1 por cento (ou qualquer outra redução desejada). Anos-ponto de excesso de desemprego é a diferença entre as taxas de desemprego atual e a natural de um ponto percentual por ano: (ut – un)x(no de anos do ajuste). A razão de sacrifício: Razão de Sacrifício = (Anos-ponto de excesso de desemprego)/(Redução da Inflação) Pela equação, para a redução de 1% na inflação, o número de anos-ponto de excesso de desemprego necessário é igual a um. Desse modo, a taxa de sacrifício é igual a 1/1 = 1 b) Suponha que a taxa de desemprego seja inicialmente igual à taxa natural e π = 12%. O Banco Central decide que uma taxa de inflação de 12% é elevadademais e que, a partir do ano t, manterá a taxa de desemprego 1 ponto percentual acima da taxa natural de desemprego até que a taxa de inflação caia para 2%. Durante quantos anos o Banco Central deve manter a taxa de desemprego acima da taxa natural de desemprego? A taxa de sacrifício implícita é coerente com sua resposta no item a? (0,75 pontos) R: Durante 10 anos. Sim, é coerente. Anos-ponto de excesso de desemprego = (6-5)x(10) = 10 Redução da inflação = 12 – 2 = 10 Taxa de sacrifício igual a 10/10 = 1, igual ao item a c) Agora imagine que as pessoas saibam que o Banco Central deseja reduzir a inflação para 2%, mas não têm certeza quanto à disposição do banco em aceitar uma taxa de desemprego superior à taxa natural de desmprego. Portanto, a expectativa de inflação do público é uma média ponderada da meta de 2% e da inflação passada: πte = γπt-1 + (1-γ)2% , onde γ é o peso atribuído à meta de inflação do Banco Central de 2%. Qual a interpretação econômica para o parâmetro γ? Α taxa de sacrifício será maior, menor ou igual a resposta dada no item anterior? Dê uma intuição econômica. (1 ponto) R: O parâmetro γ significa o grau de confiança das pessoas na meta estipulada pelo Banco Central. Quanto maior for o valor de γ, menos as pessoas acreditam que o Banco Central possa atingir a meta no próximo período, ou seja, menor sua credibilidade. Desse modo, a inflação anterior terá um grande peso nas expectativas de inflação. No sentido 6 oposto, quanto menor for γ, menor será o peso da inflação passada e maior será o peso da meta do Banco Central na expectativa de inflação das pessoas, ou seja, maior será sua credibilidade. A taxa de sacrifício será menor do que a anterior. Isso ocorre porque a meta de inflação do Banco Central passa a ser incorporada nas expectativas de inflação das pessoas, o que reduz o excesso de desemprego necessário para efetuar a desinflação. d) Imagine que, passado um ano da implementação dessa política, as pessoas acreditem que o Banco Central está de fato comprometido com a redução da inflação para 2%. Portanto, elas passam a formar suas expectativas de acordo com πte = 2%. A partir de que ano o Banco Central poderia deixar a taxa de desemprego retornar à taxa natrural? Qual é a taxa de sacrifício agora? Se você fosse contratado para ser consultor do presidente do Banco Central do Brasil, que conselho você daria a ele em relação ao processo de desinflação da economia brasileira? (0,75 pontos) Como a inflação esperada está igual à meta, não é necessário nenhum ano a mais de excesso de desemprego para atingir a inflação desejada. Desse modo, no período t+1 a taxa de desemprego já pode retornar ao seu nível natural. Apenas no primeiro ano da implementação dessa política (ano t) o desemprego esteve acima do seu nível natural. Anos-ponto de excesso de desemprego = (6-5)x(1) = 1 Redução na inflação = 12 – 2 = 10 Taxa de sacrifício = 1/10 = 0,1 Um conselho seria tomar medidas que garantissem uma maior credibilidade para o processo desinflacionário. Pois com credibilidade, as expectativas das pessoas convergiriam mais rapidamente para a meta, acelerando o processo e exigindo um menor sacrifício da economia. Quinta Questão (1 ponto): Explique a Crítica de Lucas e a Teoria de Rigidez Nominal de Phelps e Taylor e de suas implicações sobre a estratégia de desinflação e o nível da taxa de desemprego. Crítica de Lucas: De acordo com a Crítica de Lucas, novas políticas mudam as “regras” da economia, afetando assim o seu comportamento e as expectativas dos agentes. Desse modo, as expectativas não são formadas apenas com base em dados passados, mas sim pela crença na eficácia dessa nova política. Um bom exemplo sobre a crítica de Lucas é discorrida sobre a Curva de Phillips. Dada a equação: πt = πt e - α(ut – un) 7 Caso os fixadores de salários continuem a formar expectativas de inflação pelo exame da inflação do ano anterior (πt e = πt-1), então o único modo de diminuir a inflação seria aceitar um desemprego maior por algum tempo. Mas caso os fixadores de salários acreditassem na credibilidade da política monetária (BACEN tendo um compromisso verdadeiro com a redução da inflação) e pudessem ser convencidos de que a inflação iria de fato ser menor do que no passado, eles diminuiriam suas expectativas de inflação. Dessa forma, a inflação corrente seria menor mesmo sem haver qualquer mudança na taxa de desemprego. Rigidez Nominal: o fato de que, nas economias modernas, muitos salários e preços são fixados em termos nominais por algum tempo e não costumam ser reajustados quando há mudança de política. Mesmo com muita credibilidade, um programa de desinflação muito rápido (devido à diminuição muito rápida da expansão monetária) acaba aumentando o desemprego. Mesmo que o FED convença totalmente os trabalhadores e empresas de que a expansão monetária seria menor, os salários fixados antes da mudança da política monetária refletiriam as expectativas de inflação anteriores a ela. Além do mais, uma característica importante dos contratos salariais é de que eles não são todos assinados na mesma época; ao contrário, são escalonados ao longo do tempo. Esse escalonamento das decisões salariais impõem fortes limitações em como uma desinflação rápida pode ser implementada sem deflagrar o aumento do desemprego, mesmo supondo que o compromisso do FED seja totalmente crível. Se os trabalhadores estão preocupados com os seus salários relativos, isto é, se estão preocupados com a relação entre seus salários e os salários dos outros trabalhadores, cada contrato salarial escolherá um salário não muito diferente dos salários dos outros contratos em vigor na época. Uma queda muito rápida da expansão monetária nominal não levaria a uma diminuição proporcional da inflação. Em vez disso, o estoque real de moeda diminuirá deflagrando uma recessão e o aumento da taxa de desemprego. O impacto destas teorias sobre a estratégia de desinflação se dá no horizonte temporal, isto é, em quão rápido a queda da expansão monetária, e, portanto, da inflação, deve ser. Um anúncio de que o processo desinflacionário começará em alguns anos pode não ser muito crível, uma vez que os agentes econômicos se perguntarão: por que esperar dois anos para implementar um programa desinflacionário? Sem credibilidade, não haverá mudança nas expectativas inflacionárias e não solucionaremos o problema dos salários imbricados. De fato, sobre a ótica de Rigidez Nominal e de salários imbricados, um processo de desinflação suave, ao longo prazo (e crível), é preferível a uma queda brutal da expansão monetária, uma vez que não estará acompanhado de um desemprego severo ou de uma recessão econômica.
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