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Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Protozoários 16 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Capítulo X – Amebíase X.1 – Agente Etiológico Filo: Sarcomastigophora. Família: Sarcodina. Espécies: Entamoeba histolytica. Em 1997, foi descrita uma nova espécie, Entamoeba dispar, que apresenta características morfológicas parecidas com E. histolytica, pode acarretar em infecções assintomáticas, caracterizadas pela não invasão da mucosa. X.2 – Morfologia e Habitat As amebas apresentam duas formas básicas: Trofozoíto: forma ativa do parasito, que se alimenta e se reproduz. Apresenta forma amebóide e possui um núcleo com cromatina pequena e central. Vive na luz ou na mucosa do ceco e cólon sigmóide, formando colônias. Cisto: forma de resistência ou de transmissão do protozoário. São esféricos, podendo apresentar 2 a 4 núcleos. São usualmente eliminados com as fezes formadas. X.3 – Ciclo Biológico Trofozoíto na luz do intestino grosso → Progressão com bolo fecal (desidratação com formação de pré-cisto) → Transformação em cisto → Eliminação junto com as fezes → Ingestão de água ou alimentos contaminados com o cisto → Processo de desencistamento (cada núcleo dá origem a um trofozoíto) → Colonização do intestino grosso. 17 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 É válido ressaltar que os cistos permanecem vivos no meio externo por 10 a 20 dias e que ainda conseguem resistir à ação do suco gástrico. Já os trofozoítos podem invadir a mucosa formando úlceras e, depois, via sangüínea, podem atingir o fígado, pulmões e cérebro. A forma de alimentação desse protozoário se dá por meio de macropinocitose e fagocitose, sendo o deslocamento do mesmo garantido por meio de pseudópodes. O mecanismo de virulência da E. histolytica para invadir a mucosa se dá por meio da ligação deste protozoário às células do hospedeiro com lectina, ou por meio da liberação de enzimas para digerir a célula. Já a E. dispar, apesar de não invadir o tecido, causa dor abdominal. A variabilidade da virulência do protozoário depende de três fatores principais: Idade: a maior incidência ocorre na faixa etária de 20-50 anos, uma vez que nessas idades as pessoas dependem mais de restaurantes e lanchonetes (verduras mal lavadas). Além disso, essa faixa etária corresponde ao período sexual ativo da população, sendo o sexo anal um dos principais responsáveis pela infecção por amebíase. Ainda, deve-se ressaltar os estados nutricional e imunológico do paciente; Flora Intestinal: bactérias anaeróbias são capazes de potencializar a virulência de sepas de E. histolytica; Conteúdo Enzimático: a E. histolytica apresenta uma gama de enzimas, como hialuronidase, tripsina, pepsina, colagenase, fosfolipase, amebaporo e outras, as quais atuam ativamente na destruição e perfuração do intestino do hospedeiro. X.4 – Patogenia e Sintomatologia Por razões ainda não conhecidas a E. histolytica pode viver no intestino grosso sem provocar nenhum tipo de lesão (pacientes assintomáticos) ou provocar úlceras por invasão da submucosa (forma mais virulenta do protozoário). Essas úlceras podem ser isoladas ou se fundir, originando uma grande área ulcerada. Os sintomas mais comuns dessa úlcera são: Colite diarréica: é a mais comum e caracterizada por hábitos intestinais anormais, com dor abdominal no baixo ventre e geralmente não acompanhada por febre. Nesse caso o parasito habita principalmente a região do ceco e o diagnóstico diferencial deve ser feito para síndrome do intestino irritado, diverticulite do cólon e doença de Crohn; Colite disentérica: é mais rara e caracterizada por sintomas mais exagerados de dor abdominal no baixo ventre, flatulência, tenesmo, plenitude gástrica, pirrose (azia), alternância constante entre diarréia e estado normal, sendo que as fezes apresentam 18 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 característica muco-sangüinolenta. Nesse caso o parasito habita principalmente o cólon sigmóide. Essas úlceras podem ser curadas espontaneamente por ação do sistema imune do paciente ou por ação medicamentosa. Ainda, em alguns locais do mundo, como México, África do Sul e Amazônia, pode ocorrer a amebíase extra-intestinal, isto é: Lesões intestinais → Via hematogênica → Formação de úlceras no fígado, pulmão e cérebro A amebíase hepática é caracterizada por dor hepática, febre alta, hepatomegalia, desconforto, anorexia, náusea, vômito, icterícia e surtos diarréicos. X.5 – Diagnóstico O diagnóstico usual da amebíase é o exame parasitológico das fezes, sendo que no período assintomático há eliminação de cistos junto com as fezes formadas e durante o período sintomático (com diarréia) há eliminação de trofozoítos. Os conservantes podem mudar em relação a consistência das fezes: Fezes formadas: MIF Fezes diarréicas: SAF Exames imunológicos (ELISA) ainda podem ser realizados para identificar antígenos no soro ou nas fezes do paciente. Na amebíase hepática, o ELISA é realizado após análise radiográfica do fígado. X.6 – Epidemiologia e Profilaxia É um protozoário de distribuição mundial, principalmente em países mais pobre, pois se relaciona principalmente a precárias condições de saneamento básico. No Brasil a amebíase possui maior relevância nas regiões Norte e Nordeste do país, sendo a rota de contaminação oral-fecal. Fonte de infecção: humanos, especialmente os portadores assintomáticos; Forma de transmissão: cistos; Via de Transmissão: água e alimentos contaminados e mãos sujas contendo cisto; Via de penetração: boca. A essência da profilaxia da amebíase consiste no tratamento da fonte de infecção (humanos positivos), tratamento de esgoto adequado, distribuição de água potável, higienização de mãos e verduras e educação sanitária, cívica e ambiental da população. 19 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 X.7 – Tratamento Existem vários medicamentos que podem ser utilizados em quadros de amebíase, os quais devem ser conciliados com uma dieta pobre em fibras e rica em sais minerais, com reposição de líquidos. O mais indicado para pacientes assintomáticos é a utilização de amebicidas luminais, já para pacientes sintomáticos é uma associação de amebicidas luminais com amebicidas teciduais, uma vez que estes últimos são muito rapidamente absorvidos. . 20 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Capítulo XI – Giardíase XI.1 – Agente Etiológico Filo: Sarcomastigophora. Família: Mastigophora. Espécies: Giardia lamblia. XI.2 – Morfologia e Habitat As amebas apresentam duas formas básicas: Trofozoíto: forma ativa do parasito, que se alimenta e se reproduz. Apresenta simetria bilateral, com 2 núcleos e 8 flagelos; tem aspecto de pêra, sendo que é na superfície ventral que se encontra a ventosa. Vive aderido à mucosa do intestino delgado, especialmente duodeno. Cisto: forma de resistência ou de transmissão do protozoário. São esféricos, possui 4 núcleos. São usualmente eliminados com as fezes formadas. XI.3 – Ciclo Biológico Trofozoíto aderidos à mucosa do intestino grosso → Desprendimento da mucosa com perda do flagelo → Formação de parede cística e divisão celular → Formação do cisto já no intestino grosso → Eliminação junto com as fezes → Ingestão de água ou alimentos contaminados com o cisto. É válido ressaltar que essa eliminação de cistos não é constante, podendo haver “períodos negativos” de 2, 5 e até 7 dias, quando retorna a haver eliminação de cistos. 21 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Ainda deve-se destacar que a G. lamblia não invade o intestino, mas forma uma espécie de tapete em sua superfície. XI.4 – Patogenia e Sintomatologia A aderência do trofozoíto à mucosado intestino delgado juntamente com a presença física de milhares de formas impedem ou dificultam a absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis. A giardíase apresenta duas fases principais: Fase Aguda: caracterizada por diarréia aquosa, rica em gorduras (esteatorréia), explosiva e fétida, por constante flatulência e dores na porção alta e direita do abdome. É acompanhada por uma resposta inflamatória intensa, na qual a IgE se liga aos mastócitos, o que acarreta na liberação de histamina e conseqüente contração muscular. Ainda é válido ressaltar que os sintomas dependem da cepa, da quantidade de cisto ingerido e do estado do sistema imune; Fase Crônica: é a fase do portador assintomático ou dos portadores em que a fase aguda reincide, o que pode acarretar na síndrome da má absorção. XI.5 – Diagnóstico O diagnóstico usual da giardíase é o parasitológico das fezes. Como dito, a eliminação de cistos não é constante, daí, se no primeiro exame de fezes o resultado for negativo, recomenda-se colher as fezes em dias alternados, durante 3 a 5 dias em coletor apropriado contendo MIF. Exames imunológicos (ELISA) ainda podem ser realizados para identificar antígenos nas fezes do paciente (coproantígenos). XI.6 – Epidemiologia e Profilaxia É um protozoário de distribuição mundial, principalmente em países mais pobre. Contudo, verifica-se que a maior incidência ocorre em crianças até 12 anos, uma vez que adultos são bastante resistentes. Fonte de infecção: humanos, especialmente os portadores assintomáticos; Forma de transmissão: cistos; Via de Transmissão: água e alimentos contaminados e mãos sujas contendo cisto; Via de penetração: boca. 22 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 A essência da profilaxia da giardíase é a mesma para a amebíase, ou seja, consiste no tratamento da fonte de infecção (humanos positivos), tratamento de esgoto adequado, distribuição de água potável, higienização de mãos e verduras e educação sanitária, cívica e ambiental da população. X.7 – Tratamento Existem vários medicamentos que podem ser utilizados em quadros de amebíase, os quais devem ser conciliados com uma dieta pobre em gorduras no início da terapêutica, porém contendo alimentos ricos em lipídios após a cura parasitológica. 23 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Capítulo XII – Leishmaniose Existem duas formas básicas de leishmaniose, a leishmaniose tegumentar, que atinge a pele do paciente, e a leishmaniose visceral, que atinge as vísceras do paciente (baço, fígado e medula óssea). XII.1 – Agente Etiológico Filo: Sarcomastigophora. Família: Mastigophora. Espécies: Leishmania braziliensis (leishmaniose tegumentar) e L. chagasi (leishmaniose visceral). XII.2 – Morfologia e Habitat As espécies que causam a leishmaniose apresentam duas formas básicas: Amastígota: forma encontrada no interior de macrófagos presentes nos órgãos atingidos (pele ou vísceras). Não apresenta flagelo. Promastígota Metacíclico: forma infectante encontrada no flebotomíneo do gênero Lutzomyia de resistência ou de transmissão do protozoário. É alongado e apresenta flagelo. O flagelo não está nas glândulas salivares do mosquito, e sim no tubo digestivo. Quando o macrófago é infectado ele pode originar duas vias de ativação para linfócitos T: Produção de IL12: a IL12 diferencia os LT em LTH1, que produzem NO que lesa o parasita. Além disso, LTH1 ativa macrófagos para produzirem NO. Produção de IL10: IL10 ativa células NK que produzem IL14, que diferencia os LT em LTH2, que não produz NO. Portanto, dependendo da resposta imune (LTH1 ou LTH2) pode ocorrer cura espontânea ou não. 24 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 XII.3 – Ciclo Biológico Flebotomíneo pica animal infectado → Ingestão das formas amastígotas presentes na pele do reservatório → Transformação de amastígotas em promastígotas no intestino do inseto → Processo de divisão binária intensa das promastígotas e migração para o aparelho bucal do inseto → Inoculação, ao picar, das formas promastígotas na pele do hospedeiro → Infecção de macrófagos locais e transformação de promastígotas em amastígotas → Divisão binária intensa das amastígotas que caem no tecido ou no sangue → Fagocitose por novos macrófagos e reinicio do processo. XII.4 – Patogenia e Sintomatologia A partir da inoculação das promastígotas, as amastígotas podem tomar dois caminhos: Leishmania braziliensis (10% dos casos): as amastigotas permanecem no local da picada, formando um nódulo, seguido de úlcera ou ferida, que poderá produzir metástases para outras áreas de pele do corpo, inclusive na região nasobucofaríngea (5% dos casos), onde acarreta no aparecimento das mais marcantes deformações por leishmaniose tegumentar. A leishmaniose tegumentar difusa não tem cura, porque, devido a uma falha genética, a pessoa não tem resposta imunológica para ela. Leishmania chagasi (90% dos casos): as amastigotas migrarão, via sangüínea, do nódulo inicial para as vísceras: baço, fígado e medula óssea. Nesses órgãos se multiplicarão intensamente, promovendo a esplenomegalia, a hepatomegalia e a disfunção da medula óssea, com conseqüências graves e, muitas vezes fatais para o paciente, especialmente crianças. XII.5 – Diagnóstico Diagnóstico parasitológico: Leishmaniose Tegumentar: biópsia da lesão, com cujos fragmentos se faz esfregaço em lâmina de vidro, coloração pelo Giemsa e visualização em microscópio. Pode-se ainda fazer cultura com os fragmentos da biópsia (meios NNN, LIT); Leishmaniose Visceral: punção da medula óssea esternal, com cujos fragmentos se faz esfregaço ou cultura como acima. 25 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Diagnóstico Imunológico: Leishmaniose Tegumentar: intradermoreação de Montenegro, na qual o antígeno é inoculado na derme do paciente, sendo a leitura feita 48-72 horas depois. O diagnóstico é considerado positivo se a pápula formada for maior que 5mm. Ainda pode ser utilizada técnicas como ELISA, imunofluorescência indireta e PCR; Leishmaniose Visceral: reações de imunofluorescência indireta e a reação de ELISA, ambas feitas com o soro do paciente. XII.6 – Epidemiologia e Profilaxia Devido às inúmeras espécies que podem causar a leishmaniose cutânea, pode-se dizer que se trata de uma doença de distribuição quase mundial. Fonte de infecção: roedores silvestres, cães, gatos, eqüinos e humanos; Forma de transmissão: promastígotas; Via de Transmissão: flebotomíneo contaminado; Via de penetração: pele. A leishmaniose visceral apresenta uma distribuição mundial, sendo a L. chagasi exclusiva das Américas. Fonte de infecção: raposas e cães; Forma de transmissão: promastígotas; Via de Transmissão: flebotomíneo contaminado; Via de penetração: pele. A profilaxia da leishmaniose é bastante complexa, uma vez que no ambiente silves muito pouco pode ser feito. No ambiente urbano pode ser adequado o uso de inseticidas. Com relação à leishmaniose tegumentar há uma vacina que protege mais 70% dos vacinados. Já com relação à leishmaniose visceral não existe vacina que protege o humano nem o cão, sendo o mais adequado a eutanásia dos animais domésticos infectados. XII.7 – Tratamento Na leishmaniose cutânea, o parasito tem preferência por áreas mais frias da pele e, portanto, faz parte do tratamento o banho quente. Além disso, ainda pode-se utilizar antimônio pentavalente, que facilita o processo de cicatrização, apesar de o parasito continuar no local da lesão. 26 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Para os animais infectados ainda não há uma terapêutica. Já para humanos existem drogas eficientes, mas a terapêutica é de longa duração e dolorosa. A dieta necessita ser equilibrada, capazde repor as perdas orgânicas e ativar o sistema imune. 27 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Capítulo XIII – Doença de Chagas XIII.1 – Agente Etiológico Filo: Sarcomastigophora. Família: Trypanosomatidae. Espécies: Trypanosoma cruzi. Essa espécie apresenta uma característica peculiar, uma mitocôndria única com grande quantidade de DNA, o cinetoplasto. XIII.2 – Morfologia e Habitat O Trypanosoma cruzi é encontrado em três formas básicas: Amastígota: forma encontrada no tecido dos mamíferos. Apresenta forma esférica. Tripomastígota: forma encontrada na corrente sangüínea e também nos dejetos do barbeiro. Nesse caso de estudo é chamado de tripomastígota metacíclico, pois representa o final do ciclo biológico. Possui o cinetoplasto na extremidade. Epimastígota: forma intermediária encontrada no intestino e dejetos dos triatomíneos (barbeiros). Possui o cinetoplasto em posição mais central. XIII.3 – Ciclo Biológico Fezes ou urina do barbeiro contaminado → Penetração da forma infectante (tripomastígota metacíclico) na pele arranhada ou mucosa sadia. → Penetração em macrófagos ou outras células locais → Transformação de tripomastígotas metacíclicos em amastígotas → Processo de divisão binária intensa das amastígotas → Eclosão da célula após 36/48 horas → Transformação de amastígotas em tripomastígotas metacíclicos → Invasão de células próximas ou distantes (celas lisas e estriadas cardíacas) → Reinício do processo. 28 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Quando o barbeiro suga o sangue infectado, ele ingerirá essas formas sanguíneas que irão se dirigir para o estômago e porção posterior do intestino do inseto, onde se transformam em epimastígota, que passam a se reproduzir por divisão binária, formando tripomastígotas metacíclicos. Existem dois mecanismos de invasão da célula pelo T. cruzi: O parasito se adere à célula, o que aumenta a [Ca2+] intracelular e favorece a migração dos lisossomos para o local de adesão. Essa organela engloba o parasito, o que origina o vacúolo parasitóforo; O parasito é invaginado pela membrana celular, sendo que esse vacúolo fagocitário posteriormente se fundirá ao lisossomo para originar o vacúolo parasitóforo. De houvesse uma droga que impedisse o lisossomo de se ligar ao vacúolo, o ciclo seria interrompido. A acidez do vacúolo estimula a expressão da proteína TcTox que forma poros na vesícula, o que possibilita a entrada do protozoário no citoplasma da célula hospedeira. A acidez do vacúolo ainda favorece a transformação de tripomastigotas metacíclicos em amastigotas, sendo que a finalização desse processo se dá apenas no citoplasma. A diversidade antigênica de T. cruzi é um grande problema para o sistema imune, o que dificulta ainda mais a auto-resolução do problema. XIII.4 – Patogenia e Sintomatologia As alterações musculares e nervosas são muito mais devidas à resposta imune (reação cruzada de anticorpos contra antígenos exo e endógenos) do que à ação parasitária. Contudo, não pode ser classificada como uma doença auto-imune, pois o local da lesão possui parasitos. Quando o parasito infecta a pele, ele forma o “chagoma de inoculação”, caracterizado por uma pequena tumoração, nem sempre observável (a picada na região próxima do olho origina o sinal de Romaña). A partir desse ponto ocorre um intenso processo de reprodução intracelular (ninhos de amastígota) e presença de grande número de formas sanguíneas, caracterizando a fase aguda. Nessa fase o paciente apresenta uma elevada parasitemia (parasita no sangue), febre, mal estar, às vezes alterações cardíacas e resposta imune em elevação. Após a fase aguda, que tem duração aproximada de um mês, inicia-se a fase crônica, caracterizada por baixa parasitemia, porém com uma resposta imune elevada, miocardite e início de formação de lesões cardíacas, esofágicas ou entéricas. As manifestações da doença começam após 20/30 anos. Nessa fase intermediária, denominada “fase indeterminada”, os ninhos de amastígotas no coração ou no intestino grosso são mínimos, porém as lesões se devem à destruição dos 29 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 neurônios formadores dos estímulos cardíacos e peristálticos por processo imunoinflamatório. Ocorre então a cadiomegalia, o megaesôfago, o megacólon e as conseqüentes insuficiências cardíacas, dificuldade de progressão do bolo alimentar ou do bolo fecal. O T. cruzi possui duas cepas, TCI e TCII, sendo que TCI é mais comum em animais silvestre e TCII no homem. Essas cepas apresentam diferenças quanto a morfologia, virulência, crescimento, constituição antigênica, propriedades imunológicas, infectividade em células hospedeiras e susceptibilidade a drogas. XIII.5 – Diagnóstico É importante ressaltar que 60-70% das pessoas infectadas não apresentam sintomatologia. Dentre os indivíduos que apresentam sintomas, 50% é no coração. Assim, o diagnóstico para a doença de Chagas pode ser parasitológico ou imunológico, conforme a descrição abaixo: Diagnóstico parasitológico: Fase Aguda: exame a fresco do sangue e esfregaço sanguíneos corados; Fase Crônica: xenodiagnóstico (feito por intermédio da hematofagia controlada de triatomíneos), hemocultura e inoculação em camundongo. Diagnóstico Imunológico: Fase Aguda: imunofluorescência indireta e reação de ELISA; Fase Crônica: reação de hemaglutinação indireta, reação de imunofluorescência indireta e reação de ELISA. XIII.6 – Epidemiologia e Profilaxia Apesar de os triatomíneos serem encontrados do norte dos EUA até o norte da Argentina, a doença só é verificada em países com grande destruição ambiental e alarmante injustiça social e econômica. Forma de Transmissão: tripomastígota metacíclico presente nos dejetos do barbeiro; Via de Transmissão: pele lesada ou mucosa. Ainda pode ocorrer por transfusão sanguínea, mas é menos comum; Via de penetração: pele ou mucosa. 30 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 A profilaxia da doença de Chagas é um problema muito mais social e ambiental que médico. Entretanto, como medida de ação imediata, recomenda-se a educação sanitária e ambiental da população, melhoria e higiene das habitações e combate ao vetor por meio da aplicação de inseticidas. XIII.7 – Tratamento Algumas drogas, como benznidazol ou rochagan, podem ser utilizadas na fase aguda e crônica recente (menos de 10 anos). Contudo, não são adequadas para a fase crônica por causarem alergia intensa. O sucesso no tratamento precisa de um monitoramento por 5 anos, o que pode garantir 100% de cura (daí a importância do teste do pezinho). Durante a fase dos “mega”, há necessidade de alimentação leve, mais líquida, de fácil ingestão, assimilação e excreção. 31 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Capítulo XIV – Tricomoníase XIV.1 – Agente Etiológico Filo: Sarcomastigophora. Família: Mastigophora. Espécies: Trichomonas vaginalis. XIV.2 – Morfologia e Habitat O Trichomonas vaginalis apresenta-se sob uma única forma, o trofozoíto. Apresenta forma piriforme ou oval, com núcleo alongado, quatro flagelos livres e um quinto flagelo formando uma membrana ondulante típica. O protozoário é encontrado nos órgãos genitais femininos e masculinos e não se instala na cavidade oral ou intestino. XIV.3 – Ciclo Biológico O T. vaginalis apresenta ciclo biológico monoxênico (sem hospedeiro intermediário) muito simples, pois a transmissão é feita através do contato sexual. A reprodução por divisão binária produz grande número de formas, podendo levar o paciente a alterações patológicas típicas. XIV.4 – Patogenia e Sintomatologia Nos homens a tricomoníase é usualmente assintomática ou provoca lesões discretas na mucosa peniana, desenvolvendo o quadro de uma uretrite, a qualpode provocar ardor ao urinar, mas não impede o homem de manter relações sexuais. Na mulher as lesões são mais graves e podem provocar vulvovaginite com intenso prurido, ou mesmo uma cervicite com abundante infiltrado inflamatório e corrimento amarelo-esverdeado (leucorréia). O pH ácido vaginal é desfavorável ao desenvolvimento de T. vaginalis, contudo, o sêmen, a menopausa ou o uso de pílulas sem estrógeno podem acarretar no aumento do pH vaginal, o que cria ambiente propício para a proliferação do protozoário. É válido ressaltar que o patógeno não invade o tecido, ele fica aderido ao epitélio vaginal, onde se alimenta das células epiteliais por meio de fagocitoses, o que provocas as erosões características da tricomoníase. 32 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 XIV.5 – Diagnóstico O diagnóstico parasitológico consiste em colheita do corrimento uretral peniano ou vaginal e com ele podem ser feitos exames de observação à fresco em microscópio, esfregaço em lâminas fixadas e coradas pelo Giemsa e cultura em meios próprios. Apesar de sensíveis, os exames imunológicos não são feitos na rotina. XIV.6 – Epidemiologia e Profilaxia A tricomoníase é uma doença de distribuição mundial. Fonte de infecção: humanos parasitados, especialmente homens, por serem assintomáticos; Forma de transmissão: trofozoítos; Via de Transmissão: contato sexual; Via de penetração: via genitourinária. A profilaxia da tricomoníase consiste em educação sanitária em larga escala, uso de preservativos masculino, diagnóstico precoce, não utilizar roupas íntimas de outras pessoas e tratamento dos positivos. A transmissão também pode ocorrer durante o parto. XIV.7 – Tratamento Existem várias drogas eficientes contra a tricomoníase, podendo ser administradas via oral ou local. 33 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Capítulo XV – Malária XV.1 – Agente Etiológico Filo: Apicomplexa; Família: Plasmodiidae Espécies: Plasmodium falciparum, P. vivax e P.malariae (na África ainda outra P. ovale). Esses protozoários não apresentam estrutura de locomoção. XV.2 – Morfologia e Habitat Ambos são muito variáveis conforme a fase do ciclo biológico. Assim temos: Esporozoíto: é a forma infectante, presente no mosquito (Anopheles); Esquizonte Pré-Eritrocítico: é a forma presente no hepatócito, a qual contém milhares de merozoitos; Trofozoítos Jovem: é a forma encontrada dentro da hemácia, possuindo forma de anel; Trofozoítos Maduro: é uma forma ainda dentro da hemácia, com citoplasma todo irregular (aspecto amebóide) e apenas um núcleo; Esquizonte: Difere do trofozoíto maduro por apresentar núcleo dividido em diversos fragmentos; Rosácea ou Merócito: é constituído por diversos merozoítos, isto é, cada fragmento nuclear tem uma pequena porção do citoplasma; Merozoito:é a forma que representa o final da esquizogonia ou reprodução assexuada que se processou dentro da hemácia e cujas etapas foram descritas nas formas anteriores; Gametócitos: estão dentro da hemácia e representam as células capazes de realiza a esporogonia ou reprodução sexuada no mosquito. Os gametócitos podem ser masculinos (microgametócitos) ou femininos (macrogametócitos). Oócisto: é a forma encontrada na parede do estômago do mosquito e que irá produzir os esporozoítos que se dirigirão para o aparelho bucal do Anopheles para completar o ciclo. 34 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 XV.3 – Ciclo Biológico O ciclo se passa em dois hospedeiros e apresenta duas formas de reprodução. No mosquito (hospedeiro definitivo) ocorre o ciclo sexuado e no homem (hospedeiro intermediário) ocorre o ciclo assexuado. Durante a hematofagia, as fêmeas inoculam esporozoítos, os quais caem na corrente sanguínea (ou corrente linfática) e se dirigem para o fígado, alcançando os hepatócitos por meio do espaço de Disse, onde se transformam em esquizontes pré-eritrocíticos, que passam a se multiplicar intensamente (fase de esquizogonia, onde ocorre a divisão repetida do núcleo e do citoplasma celular). Essa é a fase tissular ou exo-eritrocítica (antes do eritrócito), que demora certa de uma a duas semanas. Os merozoítos, produzidos em grande quantidade ao final do processo, são liberados em vesículas (merossomas) caem no sangue, penetram as hemácias e iniciam a fase eritrocítica, na qual o plasmódio passa pelas sucessivas fases até formar a rosácea, que se rompe e libera vários merozoitos que irão invadir novas hemácias repetindo o processo. Essa fase da esquizogonia sangüínea demora cerca de 48 a 72 horas e quando ocorre o rompimento da rosácea, ocorrem também os típicos acessos maláricos. Ao final de algumas esquizogonias sanguíneas, formam-se os gametócitos que, quando ingeridos pela fêmea do Anopheles, darão início ao ciclo sexuado ou esporogônico (as demais formas do plasmódio que a fêmea ingere morrem e degeneram). No estômago do mosquito ocorre a fecundação do gameta feminino pelo masculino, formando o oocineto, zigoto com mobilidade que se dirige para a parede desse órgão, onde ocorrerá a formação 35 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 do oocisto, que produzirá os esporozoitos (fase de esporogonia). O ciclo no mosquito demora certca de 10 a 15 dias. O P. vivax e o P. ovale possuem uma peculiaridade, a capacidade de formar hipnozoítos, estruturas que permanecem dormentes no interior do hepatócito por até 10 anos. O despertar, desencadeado por fatores genéticos e ambientais, é acompanhado pela fase de esquisogonia, na qual o indivíduo possui malária clinica sem haver reinfecção. Além disso é importante ressaltar que o P. vivax utiliza-se do antígeno Duffy dos eritrócitos para adentrar as células. Esse antígeno é um marcador de susceptibilidade e está presente em quase toda a população mundial, excetuando algumas populações africanas que são Duffy negativo. O P. falciparum não se utiliza do antígeno Duffy, ele penetra diretamente tanto hemácias quanto reticulócitos, o que garante maior parasitemia para esse agente. Esse plasmódio ainda estimula a expressão de botões adesivos (família de proteína PfEMP1) na superfície da membrana da hemácia contaminada, proteínas que ajudam o plasmódio a escapar da ação do sistema imune e que possui alta afinidade por moléculas do endotélio, como I-CAM. Dessa forma, a obstrução de vasos é um dos motivos responsáveis pela elevada mortalidade para esse patógeno. XV.4 – Patogenia, Sintomatologia e Diagnóstico As manifestações mais típicas da malária são: Acesso malárico: fase de calafrio, com frio intenso durante 20 a 30 minutos, seguido por calor que pode durar de 2 a 3 horas e sudorese. Corresponde à esquizogonia sanguínea. Anemia: causada por destruição de hemácias (esquizogonia sangüínea), hematocaterese no baço e hemólise de hemácias normais por auto-anticorpos. O plasmódio digere a hemoglobina, sendo a hemozoína (pigmento malárico) o produto final desse metabolismo. Complicações representadas por lesões cerebrais, insuficiência renal, hemoglobinúria, etc. O diagnostico é feito pelo exame da gota espessa, na qual se faz um esfregaço que deve ser corado pelo Giemsa ou método panótico rápido. O sangue deve ser recolhido durante ou logo após o acesso malárico, quando existe maior número de formas no sangue. XV.5 – Tratamento A erradicação da doença é um processo muito difícil. Portanto, o ideal é diminuir a taxa de transmissão. Na década de 60, o governo adotou a estratégia de incrementar o sal com cloroquina, 36 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 uma vez que esse medicamento é pouco tóxico e muito barato. Contudo, o resultado foi a seleção de cepas resistentes a esse medicamento, tanto de P. vivax quanto de P. falciparum. Ultimamente, o tratamento adotado varia de acordo com o agentecausador da malária: P. vivax: uso de cloroquina por 3 dias ou uso de primaquina, único medicamento capaz de acabar com o ciclo na fase hipnozoíta. Contudo o tratamento deve ser realizado durante 14 dias. P. falciparum: quinino por 3 dias, doxiciclina por 5 dias ou primaquina por 6 dias. O medicamento mais recente e mais potente utilizado no tratamento da malária é o Coartem (artemisina + lumefantrina). Contudo, o uso desse medicamento deve ser restrito a casos muito específicos, uma vez que a tendência é o desenvolvimento de resistência pelo plasmódio. Algumas pessoas, principalmente estrangeiros, utilizam o mefloquina como profilático, uma vez que uma única dose do medicamento permanece no corpo por aproximadamente 23 dias XV.6 – Epidemiologia e Profilaxia No Brasil a malária é endêmica na Amazônia, ocorrendo surtos esporádicos em outros estados quando viajantes ou trabalhadores retornam às suas cidades. Por essa razão, a probabilidade de se morrer de malária em estados fora da Amazônia Legal é aproximadamente 6 vezes maior, uma vez que a equipe médica não está habituada a lidar com essa doença, que apresenta sintomas comuns a outras doenças, como dengue. O Anopheles darlinge é o principal vetor e existe principalmente no interior do país, sendo que o Anopheles aquasalis existe em regiões mais costeiras. Fonte de infecção: humanos contaminados que possuem gametócitos no sangue; Forma de transmissão: esporozoíto; Via de Transmissão: Inoculação de esporozoítos durante hematofagia; Via de penetração: pele. No Brasil a mortalidade é muito baixa, girando em torno de 100 mortes/ano, uma vez que o principal agente causador da malária é o P. vivax, uma espécie não tão letal quanto a P. ovale que é endêmica da África. A melhoria geral dos serviços de saúde, a educação sanitária e ambiental e a melhoria da qualidade de vida da população são fatores determinantes do sucesso duradouro das campanhas de profilaxia. 37 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 Capítulo XVI – Filo Apicomplexa As principais estudadas nesse filo são isospora belli, Cryptosporidium parvum e Toxaplasma gondii. Todas apresentam relevância médica apenas em casos de indivíduos imunossuprimidos, como aidéticos por exemplo. Os protozoários desse filo apresentam em seu ápice organelas típicas, como roptrias, micronemas e conóides, as quais participam ativamente do processo de penetração na célula do hospedeiro, uma vez que tais organismos só se reproduzem em ambiente intracelular. Nesse processo também ocorre a produção de gametas femininos e masculinos, os quais originam os oocistos, estruturas resistentes que sai nas fezes. É importante ressaltar que o oocisto de toxoplasma só está presente nas fezes do gato. O desenho ao lado mostra de forma esquemática a constituição de um oocisto. Essa estrutura de resistência consegue permanecer no meio ambiente por até 1 ano e meio sem perder a viabilidade. As companhias de saneamento não realizam tratamento da água para matar tais estruturas, daí a importância da filtração. XVI.1 – Isospora belli Características do agente etiológico: Filo: Apicomplexa. Família: Eimeriidae. Espécies: Isospora belli XVI.1.1 – Ciclo Biológico Ingestão de oocistos esporulados → Penetração do esporozoíto (forma infectante) no epitélio intestinal, onde forma vacúolos → Divisão por esquizogonia dentro dos vacúolos e produção de merozoítos → Migração dos merozoítos produzidos para outras células ainda não infectadas (colonização) → Gametogonia = produção de gametas masculino (microgameta) e feminino (macrogameta) pelos morozoítas → Formação de oocistos que são liberados nas fezes. As fezes do indivíduo infectado são liberadas juntamente com oocistos, os quais na presença de umidade, oxigenação e temperatura (20-40ºC) adequadas conseguem se desenvolver para chegar 1 2 3 Esquema de oocisto (3), contendo dois esporocistos (2), cada um possuindo 4 esporozoítos (1). 38 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 na fase infectante (esporozoíto), processo esse que demora de 2 a 3 dias. Nesse intervalo de tempo a pessoa não contamina, pois ainda não ocorreu a esporulação. A esquizogonia (ou merogonia) consiste em uma divisão celular, comum em protozoários e que ocorre durante a fase assexuada do ciclo de vida do organismo. Nela, primeiramente o núcleo sofre várias divisões para depois ocorrer a divisão citoplasmática em quantidades iguais. A doença é provocada pela etapa na qual o merozoíto sai da célula, cai no lúmen intestinal e coloniza outra célula para dar origem a outros merozoítos. Nessa etapa ocorre destruição do epitélio intestinal, impedindo a absorção (síndrome da má absorção). Não há produção de toxinas. Ainda é válido ressaltar que o oocisto é diplóide, enquanto que a forma infectante é haplóide. XVI.1.2 – Profilaxia Consiste no uso de privadas e fossas para evitar contaminação, além de higiene pessoal. XVI.1.3 – Diagnóstico e Tratamento Exame parasitológico das fezes, no qual se investiga a presença de oocistos, material de biópsia intestinal ou em material obtido pela raspagem da mucosa. O tratamento é realizado com bactrim. XVI.2 – Isospora belli Características do agente etiológico: Filo: Apicomplexa. Família: Cryptosporididae. Espécies: Cryptosporidium parvum e C. hominis. XVI.2.1 – Ciclo Biológico Digestão dos oocistos ingeridos com liberação esporozóítos, já que não apresenta esporocisto → Esporozoítos são direcionados para o intestino, onde se alojam nas microvilosidades (1ª diferença de isospora) → Amadurecimento e produção de gametas nas células do hospedeiro (2ª diferença de isospora) → Formação do oocisto na parede do intestino do hospedeiro (3ª diferença de isospora) → O oocisto é liberado e pode re-infectar outro lugar na parede intestinal do indivíduo (colonização) ou ser liberado nas fezes. 39 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 O processo de colonização descrito acima é o responsável pelo aumento populacional do protozoário, o qual é acompanhado pelo aumento dos sintomas, como perda de água, eletrólitos e nutrientes por meio da diarréia. Durante esse processo ocorre destruição das microvilosidades e conseqüentemente diminuição da capacidade de absorção. A infecção do homem ocorre por meio da ingestão ou inalação de oocistos ou pela auto-infecção. XVI.2.2 – Profilaxia Consiste no uso de privadas e fossas para evitar contaminação, evitar o contato com animais e suas fezes, além de higiene pessoal. XVI.2.3 – Diagnóstico e tratamento Exame parasitológico das fezes, no qual se investiga a presença de oocistos, material de biópsia intestinal ou em material obtido pela raspagem da mucosa. O tratamento Cryptosporidium spp é difícil, mas pode-se utilizar espiramicina e nitazoxanida. Para paciente aidéticos, é aconselhada a terapia anti-retroviral para aumentar a taxa de TCD4+ associada ao uso de nitazoxanida. XVI.3 – Toxoplasma gondii Filo: Apicomplexa. Família: Sarcocystidae. Espécies: Toxoplasma gondii. XVI.3.1 – Morfologia e Habitat O Toxoplasma gondii é encontrado em três formas básicas: Taquizoítos: forma encontrada nos líquidos orgânicos, especialmente durante a fase aguda da doença. São organismos intracelulares que se multiplicam rapidamente, provocando necrose e resposta inflamatória. Além disso, apresentam receptores universais o que favorece o processo de infecção. Não produzem toxinas e são susceptíveis a medicamentos. Bradizoítos ou cistozoítos: forma encontrada nos tecidos (músculos, cérebro, retina, etc) durante a fase crônica da doença. São organismos intracelulares que se multiplicam lentamente, vivendo no interior de cistos teciduais (estrutura de resistência que contém 40 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137bradizoítos). Não lesam tecidos e nem provocam reações inflamatórias. São resistentes a todos os medicamentos. Oocistos: forma encontrada nas fezes de felinos. XVI.3.2 – Ciclo Biológico O toxoplasma possui dois tipos de ciclo, o assexuado e o sexuado. O ciclo assexuado se passa em todos os mamíferos e aves do mundo, no qual os taquizoítos se reproduzem assexuadamente por meio de endodiogenia ou endopoligenia, processo em que o parasito se reproduz dentro dele mesmo, gerando duas ou várias células filhas, que rompem a célula mãe e vão se disseminando pelo organismo do paciente. Depois dessa fase intensa de proliferação, que corresponde à fase aguda da doença, o sistema imune atua no protozoário que se refugia dentro de tecidos, formando os bradizoítos ou cistos, que permanecem quiescentes por vários anos ou até que o sistema imune do paciente se torne ineficiente e essas formas entram novamente em reprodução. O ciclo sexuado se passa nos felinos que se infectam ingerindo formas diferentes do parasito e esses passam por um processo complicado de reprodução, que se passa no epitélio intestinal, com participação de gametas, cujos produtos finais são os oocistos que são liberados nas fezes desses felinos. XVI.3.3 – Patogenia e Sintomatologia Por ser uma doença que pode acometer todos os mamíferos e aves do planeta, os índices positivos para a toxoplasmose variam de 30 a 80%. Contudo, esses dados se referem à toxoplasmose de infecção, pois a toxoplasmose doença é muito menos freqüente. A toxoplasmose apresenta duas formas básicas de contaminação: Toxoplasmose adquirida oralmente: ocorre através da ingestão de oocistos presentes em caixas de areia contaminadas , verduras, carnes cruas ou mesmo leite cru (especialmente cabras). Os principais sintomas são febre, mal-estar, enfartamento ganglionar cervical e 41 Leonardo Martins Caldeira de Deus – Med 137 fadiga, podendo, raramente, haver comprometimento da retina e da coróide. Essa fase aguda pode durar de uma a duas semanas, da qual origina a fase crônica. Toxoplasmose congênita: na fase aguda da doença pode correr contaminação transplacentária. A infecção entre a concepção e a sexta semana de gravidez ocasiona aborto. Já entre a sexta e a décima sexta semana de gravidez acarreta em má formações, como hepatoesplenomegalia, icterícia, miocardite, hidrocefalia, meningoencefalite e calcificações cerebrais. Se o feto se infectar após o terceiro mês de gestação ele poderá nascer normal, apresentando sinais da doença meses após o parto. XVI.3.4 – Diagnóstico Usualmente o diagnóstico da toxoplasmose é feito por exames imunológicos, destacando-se a imunofluorescência e a ELISA, que podem ser usados tanto na fase aguda quanto na fase crônica. XVI.3.5 – Epidemiologia e Profilaxia A toxoplasmose é uma doença de distribuição mundial, atingindo pessoas de todas as classes sociais. Fonte de infecção: animais domésticos, especialmente o gato que é o verdadeiro reservatório do protozoário; Forma de transmissão: taquizoítos, bradizoítos ou oocistos presentes respectivamente nos líquidos orgânicos, músculos e tecidso e fezes de gato jovem; Via de Transmissão: ingestão das formas acima ou transmissão congênita; Via de penetração: boca ou placenta. A profilaxia da toxoplasmose consiste basicamente em não ingerir alimento animal cru ou mal cozido, não deixar gatos freqüentar caixas de areia onde crianças brincam, lavar bem as verduras, beber água potável e realizar o acompanhamento de gestantes com histórico de aborto. XVI.3.6 – Tratamento Existem várias drogas eficientes para o tratamento da toxoplasmose na fase aguda da doença, as quais interferem no metabolismo do PABA, como sulfadiazina e pirimetamina. Já para a fase crônica não existe tratamento. Além disso, é importante ressaltar que a terapêutica de gestantes requer certo cuidado já que alguns medicamentos são teratogênicos.
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