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Schwartz (Luiza)

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Stuart Schwartz, em Engenhos e Escravos na sociedade colonial, analisa a atividade canavieira e açucareira na Bahia enquanto formada por empresas em busca de lucro. Ele afirma que, apesar das flutuações na indústria açucareira e das diferenças entre os engenhos, o negócio foi, em essência, lucrativo, e não propiciou um desenvolvimento contínuo à economia devido à política governamental e à natureza da organização comercial do produto.
A firma açucareira típica era representada por uma propriedade principal, que produzia cana e dispunha de um engenho, e por lavradores ligados a ela. Havia, portanto, duas atividades essencialmente diferentes, porém dependentes uma da outra e que compartilhavam os riscos. Dois aspectos complicam a análise da rentabilidade da empresa açucareira baiana: a dificuldade de precificar ativos e de contabilizar os custos devido à documentação escassa e à escrituração deficiente e a escassez de moeda circulante na economia, sendo parte das transações era realizada em espécie ou através de crédito. 
	Dada a escassez de moeda, a concessão creditícia tinha grande importância, e era exercida por instituições religiosas e comerciantes contra hipotecas. Os comerciantes podiam oferecer crédito sob a forma de materiais necessários ao engenho, constituindo a principal modalidade de capitalização da indústria açucareira. Os senhores de engenho por vezes também financiavam as atividades de lavradores. Ou seja, o crédito possibilitava a participação na empresa açucareira, além de sua manutenção e possível expansão. Além do mais, ele oferecia pouco risco para os senhores, uma vez que a legislação os protegia contra a execução de hipotecas.
	Em relação a custos operacionais, a aquisição e a manutenção de mão-de-obra eram a principal fonte de despesas. Outros gastos relevantes envolviam combustível (principalmente nos engenhos que não contavam com áreas florestais), transporte, materiais e aquisição de animais, fundamentais na produção açucareira. Os equipamentos necessários à operação do engenho não representavam grande parte do capital dos engenhos, porém apresentavam elevada taxa de depreciação, e parte deles tinha de ser importada da Europa. Dado que a uma parte importante dos custos era fixa, a flexibilidade de ação dos proprietários era limitada, e os engenhos continuavam a operar com prejuízo durante certos períodos.
	Na economia açucareira, a expansão de capital dava-se por meio da formação do engenho, aumentando-se, assim, a riqueza sob a forma de bens de capital. A terra configurava um valioso ativo graças ao produto que gerava. O padrão de acumulação era de aumento das riquezas por meio de bens imóveis e de capital.
A terra representava a maior parte do valor do engenho, sem desconsiderar, contudo, o peso da mão-de-obra escrava no capital total. Posto, porém, que a concessão de terra se dava, em geral, via sesmarias, e que havia disponibilidade de crédito para aquisição de escravos e equipamentos, a quantidade de capital inicial necessária para estabelecer um engenho era uma fração pequena de seu valor total. Assim, o retorno considerado sobre o capital desembolsado era maior do que o calculado sobre o capital total.
	Contudo, não é possível precisar a lucratividade da indústria açucareira baiana, dada a variação do retorno sobre o capital. Pode-se afirmar, porém, que as estimativas de produção de Simonsen e Furtado superestimam a produtividade, o acúmulo de riquezas e o crescimento econômico. Ademais, a ênfase de Furtado nos aspectos externos do comércio açucareiro limita sua análise, uma vez que esta indústria afetava diretamente a economia regional. No caso baiano havia um fluxo de renda para outros setores com grande transferência de recursos, contradizendo a atribuição de “enclave” dessa empresa. Entretanto, apesar do “encadeamento para trás”, não foi promovido o desenvolvimento econômico colonial, tanto devido ao encadeamento fiscal como pela orientação da indústria açucareira em atender os interesses de Portugal e de seus parceiros comerciais.

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