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Alan Paz - A vulva é revestida por um epitélio escamoso não queratinizado e queratinizado, além da pele, por isso muitas afecções dermatológicas também acometem a vulva (psoríase, eczema, dermatite alérgica, etc). - É muito mais propensa a infecções cutâneas porque é exposta constantemente a secreções e umidade - Apesar de existir tanto pele quanto mucosa, o epitélio é o mesmo em ambas (seja em região de grandes lábios ou de pequenos lábios, etc) - A mucosa pode ser queratinizada ou não. Quanto mais perto ela está da pele, mais provável dela ser queratinizada - Contém glândulas especializadas (Fordyce, Skene e Bartholin) • Lesões da vulva: infecções (DSTs), cistos (a maioria é cutânea), doenças dermatológicas e neoplasias o Cisto de Bartholin - São comuns, ocorrem por obstrução do ducto por processo inflamatório, gerando dilatação da cavidade do ducto e podendo gerar formação de abscesso - As glândulas de Bartholin estão localizadas posteriormente ao introito - Podem acometer qualquer idade e costumam ser muito dolorosos, além do desconforto local - Podem chegar de 3 a 5 cm de diâmetro - Microscopia: revestidos por metaplasia e/ou epitélio escamoso ductal - Muitas vezes precisam ser drenados (glândula pode precisar ser marsupializada) - Não há qualquer associação neoplásica, mas traz muito incômodo para as pacientes (A) Ducto de glândula de bartholin normal; (B) Cisto de Bartholin o Doenças Inflamatórias - Leucoplasia é um termo inespecífico (podem representar lesões benignas, pré- malignas ou malignas) que se refere a um grupo de distúrbios que se caracterizam por espessamentos opacos da mucosa, semelhantes a uma placa, que podem produzir coceira e descamação ▪ Líquen escleroso - Mais comum na pós-menopausa - Placas brancas coalescentes e atróficas: muitas vezes consegue se ver até a trama vascular - Enrijecimento dos lábios e contração do orifício vaginal - Não é exclusivo da vulva, pode ocorrer em outras áreas cutâneas, mas há predileção genital e gênito-anal - Embora não seja uma lesão pré-maligna, há predisposição para desenvolvimento de carcinoma de células escamosas - Aspecto de pergaminho, podem ter retrações ➢ Microscopia: - Hiperqueratose superficial - Epiderme adelgaçada, desaparecimento das cristas interpapilares - Estroma esclerótico com deposição de colágeno e hialinização - Leve inflamação dérmica, que vai ficando mais profunda (fibrose dérmica) ▪ Líquen simples crônico (ou hiperplasia de células escamosas) - Secundária a prurido crônico: costuma estar associado a lesões dermatológicas (dermatite atópica, dermatite de contato, infecções fúngicas etc) - A história natural é de uma doença pruriginosa persistente crônica - Placas brancas: reação é hiperplásica, o epitélio é mais espessado (ao contrário do líquen escleroso, que é atrófico) - Predisposição para carcinoma de células escamosas - Não é exclusivo da vulva ➢ Microscopia: alterações epiteliais hiperplásicas sem atipia - Hiperceratose superficial significativa (aspecto mais espesso) - Epiderme espessada (acantose) em forma de prolongamentos - Inflamação dérmica Líquen simples crônico o Condiloma Acuminado - DST causada pelo HPV de baixo risco (6 e 11) - É uma lesão benigna, não tem risco de evoluir para câncer, mas é um sinal de alerta de que o comportamento sexual daquele indivíduo é de risco, podendo ele estar infectado com outras DSTs - Aspecto macroscópico verrucoso. Frequentemente são multifocais, embora também possam ser solitários. - Coilocitose (“atipia coilocítica”): alteração citopática do HPV, núcleo aumentado e hipercromático, com aspecto amassado (“em ameixa seca”), binucleado, halo perinuclear citoplasmático claro Macroscopia. As porções mais esbranquiçadas evidenciam maior presença de queratina. ➢ Microscopia - Aspecto papilomatoso: eixo conjuntivo-vascular revestido por epitélio, que nesse caso é acantótico, espessado e hiperceratótico. - Derme revestida por epitélio escamoso estratificado. Microscopia do condiloma acuminado. o Neoplasias Intraepiteliais Escamosas (NIE): precursoras do CEC - NIE de baixo grau: engloba antigo NIV1 - NIE de alto grau: engloba os conceitos de NIV2 e NIV3/Carcinoma in situ ▪ Neoplasia Intraepitelial Escamosa Tipo Clássica (NIE clássica, antiga NIV clássica) - Todas estão associadas ao HPV de alto risco (maioria: HPV 16, menos frequentemente HPV 18 ou 31) - Por estarem associadas com HPV, acometem mais frequentemente mulheres em idade reprodutiva, mas o risco de evoluir para câncer é maior em mulheres acima de 45 anos - Lesões maculares, papulares ou condilomatosas (podem ser brancas → hiperqueratósicas; eritematosas → cor de carne; ou acastanhadas → pigmentadas) - CEC basaloide ou condilomatoso: cerca de 30% dos cânceres de vulva, estão associados ao HPV e sua lesão precursora é a NIE clássica - Microscopia: epitélio bagunçado, atipia nuclear das células escamosas, aumento de mitoses e ausência de maturação celular NIE clássica/NIV clássica ▪ Neoplasia Intraepitelial Vulvar Diferenciada (NIV diferenciada ou NIV simples) - Vem das lesões inflamatórias crônicas: líquen escleroso e líquen simples crônico - Ausência de HPV - Tipicamente afeta a mulher na pós-menopausa (média: 76 anos) - O líquen em si pode afetar mulheres de todas as idades, mas a história natural de evolução para NIV diferenciada é muito demorada, por isso essa evolução é mais frequente na menopausa - Placa solitária, hiperceratótica (branca ou eritematosa) - CEC queratinizante: é o tipo mais frequente de câncer de vulva (70%), acometendo mais as pacientes idosas ➢ Microscopia: - Epitélio com diferenciação preservada, pode aparentar estar morfologicamente “normal”, apenas com estando espessado e hiperceratótico. - A atipia está só na camada basal, consistindo num desafio para o diagnóstico. o Carcinoma de Células Escamosas - Tem dois tipos associados com lesões precursoras diferentes ▪ Carcinoma Espinocelular (CEC) Queratinizante: tipicamente pacientes idosas > 70 anos - Associado a doenças inflamatórias - A lesão precursora é a NIV diferenciada - Identificou-se a mutação do p53 como evento raro e tardio na carcinogênese vulvar - Macroscopia: lesão exofítica de aspecto ceratótico, esbranquiçado, com mácula avermelhada. Na imagem, observa-se líquen escleroso (área atrófica) como lesão precursora. - Microscopia: lamelas organizadas concentricamente, queratina no centro, rosada ▪ Carcinoma Espinocelular (CEC) Associado ao HPV: acomete tipicamente mulheres > 45 anos, a faixa também é pós-menopausa - Associados ao HPV - A lesão precursora é o NIE de alto grau (NIV clássica) - Expressão de p16: molécula envolvida no ciclo celular que tem sua expressão alterada pelo HPV ❖ Basaloide: pouco citoplasma, núcleos perto um do outro, lembra mais as células basais, que são mais escuras ❖ Condilomatoso: tipicamente tem muitos coilócitos na superfície, a diferença pro condiloma acuminado é o seu caráter invasivo (A) Basaloide; (B) Condilomatoso ➢ Apesar da história natural dos dois CECs serem diferentes, o prognóstico é semelhante ▪ Estadiamento ❖ T1: tumor confinado à vulva e/ou períneo - T1a: invasão ≤ 1.0mm, medida ≤ 2 cm - T1b: invade > 1.0mm, medida > 2 cm (pior prognóstico em relação a T1a) ❖ T2: tumor de qualquer tamanho com extensão para estruturas perineais adjacentes - Terço distal/mais baixo da uretra, vagina, acometimento anal ❖ T3: tumor de qualquer tamanho com extensão para: - Uretra/vagina superior (2/3 proximais), mucosa da bexiga/reto ou fixação a osso pélvico ▪ Sobrevida em 5 anos - Lesões ≤ 2 cm sem metástase linfonodal: 60-80% (quando diagnosticada precocemente) - Lesões > 2 cm com metástase linfonodal: 10% ▪ Prognóstico: depende do - Estadiamento: tamanho,profundidade de infiltração, metástase linfonodal e sistêmica - Embolização neoplásica: célula neoplásica dentro de vasos - Margem cirúrgica: por ser vulva, tenta-se preservar uma margem maior, mas muitas vezes a margem precisa ser grande, dependendo do grau de acometimento o Doença de Paget: a mesma lesão que acontece na mama pode acontecer na vulva - Neoplasia rara da vulva, que acomete mulheres na pós-menopausa - Placa avermelhada com crosta pruriginosa (semelhante a processos inflamatórios), em forma de mapa - Tem aspecto inflamatório, é difícil o diagnóstico diferencial, às vezes isso retarda o diagnóstico da lesão - Só fecha o diagnóstico com a biópsia - Em geral confinadas à epiderme e epitélio anexial (in situ/intraepitelial) - O tratamento é com ampla excisão local, precisa ressecar com margem - Alta taxa de recorrência - Invasão é rara, com prognóstico reservado: ruim, com risco de metástase - Ao verificar lesão inflamatória persistente, que não está melhorando com os tratamentos preconizados e com as hipóteses diagnósticas, deve-se realizar biópsia Doença de Paget ➢ Microscopia: células “gordinhas” - Células isoladas ou em pequenos agrupamentos se disseminando dentro do epitélio escamoso: clássico da doença de Paget, quando ocorre em outras doenças, isso é chamado de “padrão pagetoide” - Imuno-histoquímica: perfil de célula glandular (cora para CK7 e CEA – na imagem, está corada com CEA). Importante para diagnóstico diferencial com melanoma. o Melanoma vulvar - Raro: consiste em menos de 5% das neoplasias vulvares - É muito agressivo e passa despercebido - Incidência máxima na 6ª e 7ª décadas - Características biológicas e histológicas semelhantes aos melanomas de outras localizações, contudo, o melanoma pode ser amelanótico - Diagnóstico tardio - Prognóstico depende da profundidade da invasão (se > 1mm, a sobrevida em 5 anos é < 30%) - Isso acontece tipicamente em lesões mais profundas (lesão profunda para melanoma é > 1 mm) ➢ Microscopia - Células atípicas isoladas ou agrupadas dentro do epitélio - Padrão pagetoide (muito parecido com Doença de Paget), especialmente quando não tem pigmento dentro da célula (amelanótico) ▪ Diagnóstico diferencial - Pode parecer com a doença de Paget, tanto macroscopicamente quanto histologicamente (principal), por isso é necessário diagnóstico diferencial - A imuno-histoquímica pode ser necessária para a definição: o melanoma apresenta reatividade uniforme com anticorpos contra a proteína S100 (positivo no melanoma, negativo na doença de Paget) - HMB-45: positivo no melanoma, negativo na doença de Paget
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