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Exercícios - TC - Unidades 1 e 2

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Direito
Departamento de Direito Público
Teoria da Constituição
Professor Doutor Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira
Turma C
Alunos: Daniel Antônio da Cunha 
 Dayana Alves Guimarães
 Deline Fátima da Silva
 Edison Melo Neto
 
Exercício de Revisão Unidades 1 e 2
Exercício de Revisão Unidade 1 
1 – O que marca, desde o início, o enfoque específico da Teoria da Constituição, em face 
da Teoria Geral do Direito Público, das Instituições Políticas e da Teoria Geral do 
Estado?
A Teoria da Constituição busca romper com uma abordagem unilateral, quer no sentido da 
Teoria Geral do Direto Público, que apresenta enfoque normativo, voltado à perspectiva 
interna ao próprio direito, aos princípios do Direito Público, sistematizando as normas e 
princípios gerais utilizados pelo Estado; quer no sentido das Instituições Políticas, com 
enfoque sociológico que analisa a institucionalização do poder político de modo externo, da 
perspectiva de um observador sociológico ou cientista político que descreveria a 
conformação das forças político-sociais pelo Direito Público; ou no sentido do enfoque 
político tradicional da Teoria do Estado, que apresenta o Estado como centro de integração 
social, sendo uma reflexão interna da realidade político-jurídica do Estado. [Prof. fala em 
enfoque normativo mais sociológico]
Daniel diz> No meu caderno também está que o TGE tem um enfoque político em torno 
do Estado
Portanto, a Teoria da Constituição encontra mais desafios do que os colocados no passado. 
Com o aumento da complexidade das sociedades, das relações entre o direito e a política, 
com o multiculturalismo e a globalização, não é mais possível compreender o Estado como 
a instância única de estabilização de uma identidade ética. A homogeneidade vista no 
Estado-Nação passou ao pluralismo social e cultural, o que obriga o Direito a fundar-se no 
princípio democrático em sua essência. Não há mais como recorrer à tradição republicana e 
compreender a sociedade em termos de um todo societário que giraria apenas em torno do 
Estado (povo, território e poder soberano) e não há mais como recorrer à tradição liberal e 
compreender a sociedade em termos meramente dualistas, Estado de um lado e sociedade 
civil de outro (reduzida à esfera do mercado e da família). A Teoria da Constituição, com 
seu enfoque crítico-reflexivo, busca problematizar as abordagens unilaterais das outras 
disciplinas, superando os enfoques oferecidos pelas elas, criticando as tradições e as formas 
que estas disciplinas têm de lidar com o fenômeno jurídico e, ademais, criticando a si 
mesma, seus próprios pressupostos, a fim de buscar um método adequado de estudar e 
compreender o fenômeno jurídico-constitucional inserido neste contexto social moderno.
1
2 – Em que sentido se afirma que a Teoria da Constituição é “chave interpretativa” do 
Direito Constitucional? Quais são, portanto, as dimensões atuais da Teoria da 
Constituição?
A Teoria da Constituição funciona como sustentação teórica para o estudo do Direito 
Constitucional, favorecendo a compreensão do funcionamento e da dinâmica das estruturas 
constitucionais. Toda ciência humana envolve o conhecimento do próprio objeto da ciência, 
sendo afetado, informado e conformado pelo campo de estudo em que se integra. A 
dinâmica do Direito Constitucional pressupõe algumas visões do que seja a Constituição, 
paradigmas do que seja o papel do direito e do sentido deste no contexto social e histórico. 
O enfoque interpretativo é que possibilita compreender e construir o Direito Constitucional, 
sua ciência dogmático-jurídica, que pressupõe um conteúdo teórico proporcionado pela 
Teoria da Constituição a fim de lidar com a dinâmica e os conceitos do sistema jurídico. 
Nesse sentido, a Teoria da Constituição desempenha papel de suporte teórico do Direito 
Constitucional em 3 dimensões: (i) a Dogmática Geral do Direito Constitucional, em que se 
procura sistematizar conceitos e institutos próprios do campo de estudo do Direito 
Constitucional, assim como uma espécie de teoria da linguagem constitucional que se 
preocupa em mapear o uso desses conceitos e o significado que eles tiveram ao longo da 
prática; (ii) a Teoria das Justificações, em que se pressupõe uma concepção da legitimidade 
política das ordens jurídicas que apresenta como fundamento a autonomia, na qual uma 
ordem jurídica é legitima se os destinatários das normas se reconhecem e são reconhecidos 
como co-autores das normas que regem a sua conduta; (iii) e a Teoria Sócio-Política que é a 
relação entre os princípios normativos do constitucionalismo (a efetividade desses 
princípios) e a dinâmica dos processos constitucionais (realidade dos processos políticos e 
sociais), provando a legitimidade das ordens constitucionais.
Assim, a Teoria da Constituição engloba o estudo dos conceitos, das justificações e das 
integrações no contexto social a fim de contribuir para o aperfeiçoamento, mobilização e 
construção das ordens constitucionais, funcionando, portanto, como “chave interpretativa” 
do Direito Constitucional.
3 – Como uma “teoria discursiva da constituição” trata a questão 
“normatividade/realidade”? 
Existe uma tensão entre o real e o ideal no fenômeno jurídico, em que as condições ideais 
aparecem dentro do mundo real, sendo um pressuposto para a própria realidade que exige a 
idealidade, interagindo-se constantemente. O ideal apresenta-se como aquilo que deveria 
ser, ou seja, a normatividade, normas válidas que devem ser respeitadas. Em contrapartida, 
o real apresenta a realidade fática, o que nem sempre corresponde ao ideal, visto que as 
normas apresentadas perante a sociedade não são respeitadas, pois os membros dessa 
sociedade não se sentem partícipes da sua construção.
2
Uma “teoria discursiva da constituição” será útil, pois preocupa-se em resgatar a função 
primordial do Direito moderno: a função de integração social. Assim, o esforço será para 
conciliar as normas positivadas à realidade social que se apresentam em tensão constante, 
garantindo legitimidade e, em última instância, a integração social, por meio de uma 
formação democrática da vontade coletiva.
4 - Quais críticas podem ser feitas à chamada “classificação ontológica das 
constituições”, proposta por Karl Loewenstein, do ponto de vista de uma teoria discursiva 
da constituição?
A classificação ontológica das constituições proposta por Karl Loewenstein concentra-se 
refletir sobre as constituições de forma pragmática, analisando sua essência, conteúdo e 
concordância das normas constitucionais com a realidade do processo de poder, seguindo 
um enfoque interno. Segundo essa abordagem, as constituições podem ser (i) legítimas e 
(aprovadas por um processo legítimo) e eficazes (são cumpridas na prática), como as 
Constituições europeias; (ii) legítimas, mas não eficazes, como as Constituições das ex-
colônias da África; (iii) e são eficazes, mas seu processo de aprovação não foi legítimo, 
como as aprovadas em regimes ditatoriais.
Entretanto, essa classificação rígida é criticada pela teoria discursiva da constituição, pois 
uma Constituição legítima e plenamente eficaz é impossível de ser concebida, ou seja, 
permanece cega à tensão entre normatividade/realidade. O direito regula assuntos que são 
possíveis e necessários, algo que deve ser, mas que têm a possibilidade de serem 
descumpridos a qualquer momento pela sociedade constituída por seres plurais, possuindo, 
portanto, demandas de legitimidade diferentes. A classificação considerada pela Teoria da 
Constituição supera a visão estanque da de Loewenstein, pois reconhece o aumento da 
complexidade das sociedades, ampliando seu enfoque interno ao Direito de modo a 
complementá-lo por meio do diálogo com asteorias da sociedade e com as teorias políticas, 
a fim de que possa ultrapassar as abordagens tradicionais acerca da efetividade do Direito 
Constitucional. Assim, a Teoria da Constituição se tornaria uma teoria crítico-reflexiva da 
própria Constituição, possibilitando a real participação da sociedade na elaboração das 
normas constitucionais e conciliando as normas positivadas à realidade social.
3
Exercício de Revisão Unidade 2
5 – Caracterize a chamada “dupla validade do Direito moderno”. Quais são os problemas 
de legitimidade com que esse Direito se relaciona?
[resposta Day]
A dupla validade do direito moderno relaciona-se às noções de autonomia pública, em que 
é assegurada a participação da sociedade na produção das normas, por meio de 
deliberações, movimentos sociais, audiências públicas, e que por isso concorda com sua 
obediência, pois apresenta-se como expressão de sua própria liberdade; e autonomia 
privada que garante ao indivíduo o poder de escolher pela obediência da norma deliberada e 
imposta pelo Estado. A autonomia privada relaciona-se às leis de liberdade, enquanto que 
as leis de coerção relaciona-se à autonomia pública. Nesse cenário, depreende-se que 
democracia é tida como o respeito à autonomia privada e aos direitos fundamentais 
garantidos juridicamente e que a autonomia pública, representada pela soberania popular, é 
vivenciada por meio da utilização e garantia a esses direitos fundamentais.
O grande problema de legitimidade encontrado por esse Direito é o consenso de todas essas 
liberdades individuais e dos grupos em leis de coerção que se apresentem como força dessa 
vontade geral e que possam ser obedecidas, pois são de acordo com a lei de liberdade de 
cada um dos membros dessa sociedade, de forma a garantir o respeito aos direitos 
fundamentais e o exercício da soberania popular.
[resposta Edison]
Procurando compreender como o direito moderno encontra-se estruturado segundo um 
sistema de normas positivas e obrigatórias que pretendem, ao mesmo tempo, ser legítimas, 
Habermas, ao reconstruir as premissas do direito racional moderno, chamou atenção para o 
“duplo aspecto da validade do direito” tal como se encontrava no conceito de legalidade de 
Kant, a saber, “normas do direito são, sob aspectos diferentes, ao mesmo tempo leis da 
coerção e leis da liberdade”.
Ou seja, o direito deveria prestar contas tanto à positividade quanto à coerção legítima 
asseguradora da liberdade. A idéia central é a de que o direito positivo, mesmo sucedendo o 
direito natural, ainda tem a pretensão de ser racional na medida em que procura garantir a 
liberdade e apoiar-se, por sua vez, na legitimidade.
E, neste caso, legitimidade significa um processo de criação das leis segundo uma formação 
democrática de vontades.
Mas, para que a soberania política também seja garantida – para que os sujeitos se 
entendam não só como destinatários, mas também como autores das leis – é necessário 
aplicar o princípio do discurso. Daí ser necessária a quarta categoria de direito: direitos 
fundamentais à participação, em igualdade de chances, em processo de formação da opinião 
e da vontade, nos quais os civis exercitam sua autonomia política e através dos quais eles 
criam um direito legítimo.
4
A Teoria do Discurso de Habermas explica a legitimidade do direito com auxilio de 
processos e pressupostos de comunicação – que são institucionalizados juridicamente – os 
quais permitem levantar a suposição de que os processos de criação e de aplicação do 
direito levam a resultados racionais. Ora, para Habermas, a linguagem serve como garantia 
da democracia, uma vez que a própria democracia pressupõe a compreensão de interesses 
mútuos e o alcance de um consenso. Assim, o consenso social deriva da Ação 
Comunicativa.
Segundo o texto1, “se normas coercitivas remontam a decisões modificáveis de um 
legislador político, essa circunstância liga-se à exigência de legitimação, segundo a qual, 
esse Direito escrito deve garantir eqüitativamente a autonomia de todos os sujeitos de 
direito”. E, segundo Habermas, o processo legislativo democrático deve ser suficiente para 
a atender a tal exigência, de legitimação. E, nesse sentido, cria-se uma relação interna entre 
Direito e democracia.
Segundo o autor2, considera-se a validade jurídica de uma norma como “um equivalente da 
explicação para o fato de o Estado garantir ao mesmo tempo a efetiva imposição jurídica e 
a instituição legítima do direito”.
Portanto, o grande problema de legitimidade com que esse Direito se relaciona refere-se aos 
mecanismos garantidores da chamada soberania política, que garanta a todos a participação, 
em igualdade de chances, no processo de formação do direito legítimo.
Dupla validade do direito – o direito moderno nos permite agir de acordo com a lei, 
concordar com a lei pq veja nela a expressão da minha propria liberdade, pq participo da 
sua produção [Lei de liberdade]. Mas posso não concordar, e agir conforme o que ela dita, 
por medo da sanção [Lei de coação]. 
[as notas de rodapé vão permanecer?!]
Daniel diz> tudo que foi escrito compreende o que o monitor citou na monitoria, porém, 
aconselho a colocar explícito no início da resposta que “a dupla validade do direito” diz 
respeito a como se legitima o direito; sendo por normas de coerção ( caso descumpra, 
sofrerá um sanção) e por normas de liberdade (através da lei será possível a realização da 
vontade geral). Sendo que os problemas desta dupla validade, consiste no fato de que o 
caráter mutável das leis atrapalha a legitimidade do direito. Já que não há mais direito 
natural, religião ou algo exterior para legitimar o direito coercitivo, o processo democrático 
constitucional é quem abrandará este problema de legitimidade.
6 – Em que sentido Direito e moralidade modernos se diferenciam e se relacionam? Por 
que não se pode reduzir a questão da legitimidade do Direito a uma justificação moral das 
normas jurídicas?
1 A relação interna entre estado de direito e democracia na teoria discursiva do direito de Jürgen Habermas
2 Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira
5
[resposta Day]
O direito moderno caracteriza um processo de alteração social que marca a passagem da 
pré-modernidade para a modernidade. O direito não mais se organiza sobre a base 
estamental em que os privilégios eram concebidos de acordo com o local do nascimento das 
pessoas, como ocorria no direito pré-moderno, mas os direitos são outorgados aos membros 
da sociedade independente do grupo social ao qual ela pertence. Há o surgimento do Estado 
Moderno e a ascensão da figura do monarca que tem em seu poder a centralização da 
produção normativa em um modelo racionalizado e marcado pela codificação. Esse direito 
moderno não possui um conteúdo determinado, e por isso, diferencia-se das outras 
instâncias normativas como a ética e moral. É uma instancia autônoma que dialoga com as 
outras instancias e preocupa-se predominantemente com a dimensão externa da ação, que 
trata, além das questões jurídicas, das questões éticas, pragmáticas e morais.
A moralidade, por sua vez, cuida apenas de assuntos de foro íntimo, sendo o que importa o 
motivo da ação, o fim visado em si mesmo. Além disso, preocupa-se com a dimensão 
externa à ação, tendo assim, um conteúdo mais amplo do que o direito, mas que se restringe 
à análise do conteúdo moral.
Entretanto, há uma relação de complementariedade entre o direito e a moral, em que um é 
influenciado pelo outro, visto que não dá para imaginar um direito amoral, pois teria sua 
característica de eficácia comprometida. Ademais, a moral é uma instancia que, ao lado do 
direito organiza a vida social, tendo seu grau de indeterminação reduzido, por meio das 
normas positivadas claramente determinando a forma de agir dos membros da sociedade.
A questão da legimitimidadedas normas jurídicas não pode se reduzir a uma justificação 
moral, tendo em vista o caráter dialogal que o direito possui com outras instâncias além da 
moral, como a pragmática e a ética. Se se restringisse ao caráter moral, as normas jurídicas 
perderiam sua autonomia e correm o risco de virarem normas morais que possam não ser 
consideradas válidas, dependendo do contexto em que insiram, tendo em vista a 
complexidade de grupos e demandas existentes da sociedade.
[resposta Edison]
Direito e moralidade modernos se diferenciam no sentido de que os direitos subjetivos com 
os quais se constroem ordens jurídicas modernas têm o sentido de desobrigar os sujeitos de 
direito em relação a mandamentos morais, assim, o Direito moderno faz valer o princípio 
segundo o qual “tudo o que não está proibido está permitido”. Enquanto na Moral há uma 
simetria entre direitos e deveres, no Direito as obrigações resultam somente da restrição de 
liberdades subjetivas. Ademais, a abrangência de possibilidades do universo moral é 
praticamente ilimitada.
6
Por outro lado, Direito e Moral também se complementam. As questões jurídicas 
tangenciam não apenas questões morais, mas também éticas e pragmáticas. A pretensão de 
legitimidade das normas jurídicas apóia-se sobre vários tipos de razões, e depende de uma 
rede ramificada de discursos e negociações, e não somente de discursos morais. Assim, a 
Moral é um dos meios de legitimação do Direito. 
Portanto não se pode reduzir a questão da legitimidade do Direito a uma justificação apenas 
moral das normas jurídicas, uma vez que, como dito, a pretensão de legitimidade das 
normas jurídicas apóia-se sobre vários tipos de razões, e depende de uma rede ramificada 
de discursos e negociações, e não somente de discursos morais. 
Daniel diz> Moral lida com dimensão de foro íntimo ( interna do motivo, externa da ação). 
Já o direito lida com a dimensão externa.
O direito se concentra em conteúdos organizacionais, como os conteúdos pragmáticos e 
também alguns conteúdos éticos.
O direito reduz o indeterminismo da moral, complementando suas ações. A ação moral só 
existe se for uma ação autônoma.
A moral lida somente com a autonomia moral. Já no direito a ação se divide em autonomia 
privada e autonomia pública, sendo elas co-primordiais e co-originais ( uma só existe se a 
outra existir).
7 – Disserte sobre os conceitos de “paradigma científico” (Thomas Kuhn) e de 
“paradigma jurídico” (Jürgen Habermas). Qual a importância desses conceitos para a 
Teoria Geral do Direito Público e para a Teoria da Constituição? 
[resposta Day]
Para Thomas Kuhn, paradigma científico é o conjunto de pressupostos da prática científica 
utilizados em determinado contexto histórico pelos operadores para fazer as definições 
relacionadas à ciência em estudo. Para ele, o paradigma científico é mutável, se altera 
quando das mudanças no contexto histórico, das mudanças nos pontos de vista, não 
deixando de constituir-se verdades, mas apenas verdades diferentes, adequadas à época. A 
verdade, portanto, não é objetiva, pois depende dos pressupostos determinantes no 
momento histórico em estudo que condicionam a prática jurídica daquele momento 
respectivo.
Habermas define o que seria paradigma jurídico, qual seja visão compartilhada pela 
sociedade do conjunto de pressupostos sobre o próprio direito, uma visão interna às práticas 
sociais que orientam a sociedade a fim de que o direito seja produzido para cumprir a tarefa 
de integração social. É ele que determina qual o papel que o direito deve desempenhar para 
regular, operar e lançar expectativas sobre o próprio direito.
Esses conceitos são importantes para a Teoria Geral do Direito Público e para a Teoria da 
Constituição na medida em que ajudam a compreender a visão da ciência e a visão jurídica 
inserida em momentos históricos distintos e como essas visões contribuíram para a 
construção dos paradigmas atuais do Direito Público e do Direito Constitucional, levando-
7
se em consideração as mudanças ocorridas na sociedade advindas de sua complexidade 
crescente que exige adaptação dos paradigmas a serem apresentados e implementados pela 
sociedade de cada época.
Criticar, construção de novos paradigmas, ser uma meta-teoria da constituiçao. (resposta do 
Monitor)
Daniel diz> EU acho que o paradigma científico não condiciona a prática jurídica! O 
paradigma científico é diferente do paradigma jurídico justamente por condicionar somente 
a sua área de atuação ( ex: paradigma da física quântica para os físicos, paradigma da 
matemática tridimensional para os matemáticos). Já o paradigma jurídico é mais abrangente 
porque é a visão que toda a sociedade tem do direito ( nisto incluindo a opinião de todos)
A função da Teoria da Constituição é criticar estes paradigmas.
[resposta Edison]
Segundo Thomas Kuhn, paradigmas científicos “são realizações científicas universalmente 
reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para 
uma comunidade de praticantes de uma ciência”. O paradigma constitui uma verdadeira 
‘atividade modeladora’, anterior e não redutível inteiramente às componentes lógicas, ou 
seja, às várias leis, regras e teorias, que podem ser abstraídas e deduzidas delas.
Segundo Jürgen Habermas, um paradigma jurídico explica, com a ajuda de um modelo da 
sociedade contemporânea, como devem ser entendidos e tratados os princípios do Estado 
de Direito e dos direitos fundamentais, para que possam cumprir, no dado contexto, as 
funções que normativamente lhes são atribuídas.
Portanto, as compreensões jurídicas paradigmáticas de uma época, refletidas por ordens 
jurídicas concretas, referem-se a imagens implícitas que se tem da própria sociedade. 
Assim, um conhecimento de fundo da sociedade da época possibilita a realização e o estudo 
da referida comunidade jurídica. [Discutir!]
8 - Caracterize, em linhas gerais, o processo de modernização social do Direito, fazendo 
um contra-ponto entre as visões paradigmáticas do Direito pré-moderno e do Direito 
moderno.
[resposta Day]
O direito pré-moderno caracterizava-se por possuir uma base estamental, em uma os 
direitos, prerrogativas e privilégios concedidos aos membros da sociedades eram de acordo 
com o grupo ao qual esse membro pertencia, não havendo nesse direito a figura do 
indivíduo e sim a do estamento. Há uma descentralização da produção normativa, com 
várias fontes de produção do direito, sendo sua legitimidade atribuída ao passado e 
encontra-se amalgamado a questões éticas, morais, religiosas e jurídicas, sendo 
compreendido como atemporal, eterno e imutável.
8
O direito moderno caracteriza um processo de alteração social que marca a passagem da 
pré-modernidade para a modernidade. O direito não mais se organiza sobre a base 
estamental como no direito pré-moderno, mas é outorgado aos membros da sociedade 
independente do grupo social ao qual ela pertence. Há o surgimento do Estado Moderno e a 
ascensão da figura do monarca que tem em seu poder a centralização da produção 
normativa em um modelo racionalizado e marcado pela codificação. Esse direito moderno 
não possui um conteúdo determinado, e por isso, diferencia-se das outras instâncias 
normativas como a ética e moral. É uma instancia autônoma que dialoga com as outras 
instancias e preocupa-se predominantemente com a dimensão externa da ação, que trata, 
além das questões jurídicas, das questões éticas, pragmáticas e morais não amalgamadas. 
Esse processo de modernização social do direito, representado principalmente pela 
racionalização do direito e separação das outras fontes de normatização, foi necessário 
devido à complexidade crescente da sociedade e o aumento das lutas pelos alargamento dos 
direitos,tendo como principais causas o renascimento urbano e comercial, em que surge a 
burguesa e a estrutura estamental não suporta o modelo que se desenvolve; o renascimento 
cultural, em que novas ideias surgem e a visão teocêntrica dá lugar à visão antropocêntrica 
em que o conceito de indivíduo como pessoa dotada de valor em si mesmo ganha espaço; e 
a reforma protestante, em que a Igreja perde o monopólio da fé, desestabilizando as 
estruturas de força, tradição e passado. Nesse contexto, grupos sociais plurais aparecem e o 
que pode assegurar a integração social é somente o direito moderno que serve como 
categoria de mediação social. 
[resposta Edison]
Paradigma Pré-moderno do Direito: sociedade estamental, não havendo a figura do 
individuo no direito, que se aplica de acordo com a tradição. A punição depende do 
estamento do qual a pessoal pertence. As decisões dependem, por exemplo, do local de 
nascimento, do conjunto de privilégios que a pessoa possui. Discursos para justificar esse 
direito como elemento eterno e imutável. Direito jusnaturalista, com forte fundo religioso.
Direito Pré-moderno: pressupõe forma de organização social; estamental, hierarquizada, 
privilégios, prerrogativas são atribuídas em razão do local de nascimento, estrutura de 
direito devido em razão do local de nascimento. Amalgama: direito consuetudinário 
[costume], canônico, príncipe, reproduziu portanto, um direito natural de base teológica e 
um direito positivo.
Paradigma Moderno do Direito: produção centralizada do direito, estado racionalizado, 
codificado. Sec. XI – processo mudança social – que vai produzir a modernidade. 
Direito Moderno: sociedade diferenciada, subsistemas sociais; positivo, posto, estabelecido, 
por deliberação, direito histórico, tendencialmente escrito, sistematizado, modificável, c 
alto nível de contingencia.
[Copiar trecho caderno Gabriel]
9
Daniel diz> Paradigma pré-moderno do direito: direito com base estamental,. Direito é 
entendido como “coisa devida” em razão da classe social; o passado é a base da 
legitimidade; direito como eterno/atemporal; direito é extremamente ligado a religião, ética, 
moral e política; direito não positivado ( no sentido de centralização no Estado).
Paradigma moderno do direito : direito se torna uma categoria de integração, se diferencia 
da ética, moral, política e religião mas não se separa delas ( dialoga com elas, não há mais 
um amálgama/coincidência com ellas). Organizado não mais como estamento, mas para os 
indivíduos. 
Quanto mais centraliza o poder, mais descentraliza a administração pública. 
Direito cada vez mais formalizado, direito baseado no presente que se abre para as 
perspectivas do futuro ( não se pretende eterno), é instável , contingente e mutável.
9 – Em que sentido os direitos fundamentais foram, mais do que alargados, redefinidos na 
passagem do paradigma do Estado Liberal para o paradigma do Estado Social? Em linhas 
gerais, reconstrua paradigmaticamente os direitos de liberdade e de igualdade no Estado 
Liberal e no Estado Social. 
[resposta Day]
Os direitos fundamentais tiveram a interpretação modificada no advento da passagem do 
Estado Liberal para o Estado Social. 
Ao Estado Liberal caberia a proteção e garantia aos direitos individuais e direitos políticos 
específicos, não havendo espaço para os direitos sociais e econômicos. São direitos 
individuais em sentido negativo, em que é priorizada a esfera de autonomia privada do 
indivíduo, sua liberdade individual sem restrições em que o Estado se abstém de interferir 
na economia e na esfera individual dos cidadãos, deixando que o mercado e os indivíduos 
se regulem livremente, seguindo a máxima “pode-se fazer tudo o que a lei não proíbe”. A 
igualdade era formal em que se considerava a máxima “todos são iguais perante a lei”, 
sendo uma máxima geral e abstrata.
No Estado Social, há uma ampliação na interpretação desses direitos. Os direitos 
individuais e políticos deixam de ser negativos e passam a exigir uma prestação positiva do 
Estado, são, portanto, revistos, reescritos, prevendo mecanismos para que possam ser 
exercidos. Surgem os direitos sociais e econômicos em que são garantidos direitos como 
educação, emprego, saúde e a economia passa a ser regulada pelo Estado. Neste contexto, 
os direitos não são absolutos, sofrendo restrições quanto à garantia do bem comum e o 
Estado abandona sua posição abstencionista e passa a atuar positivamente para garantir e 
fazer cumprir os direitos fundamentais. A liberdade passa a ser interpretada como a 
liberdade de ir e vir, de interferir na economia mas com condições que prezem pelo 
interesse coletivo. A igualdade passa de geral e abstrata para fática em que se analisa os 
fatos para se definir e restringir a igualdade de alguém. 
[resposta Edison]
1
No paradigma do Estado Liberal, o Estado reconhece direitos básicos. No nível da esfera 
privada, reconhecem-se direitos naturais, vida, liberdade e propriedade. E no nível da esfera 
pública, convencionam-se direitos perante o Estado e direitos à comunidade estatal: status 
de membro (nacionalidade), igualdade perante a lei, certeza e segurança jurídicas, tutela 
jurisdicial, segurança pública, direitos políticos.
Com a crise da sociedade liberal, com o surgimento de um capitalismo monopolista, com o 
aumento de demandas sociais e políticas, além da Primeira Guerra Mundial, tem início a 
fase do Constitucionalismo Social. Surge um Estado que intervém na economia, através de 
ações diretas e indiretas; e visa garantir o capitalismo através de uma proposta de bem-estar 
(Welfare State) que implica uma manutenção artificial da livre concorrência e da livre 
iniciativa, assim como a compensação das desigualdades sociais através da prestação estatal 
de serviços e da concessão de direitos sociais. O cidadão-proprietário do Estado Liberal 
passa a ser encarado como o cliente de uma Administração Pública garante de bens e 
serviços.
Daniel diz> Comentário na monitoria: As mudanças ocorreram tanto no sentido 
quantitativo, quanto no sentido qualitativo, ou seja: houve uma ampliação dos direitos e 
também uma mudança na forma de ver este direito. Ex> direito à educação ( antes não 
considerado no Estado Liberal e hoje compreendido).
10 - Em que sentido se pode compreender a mediação entre soberania popular e direitos 
humanos, bem como a relação entre autonomia pública e autonomia privada, da 
perspectiva do paradigma procedimentalista do Estado Democrático de Direito, em 
contra-ponto aos paradigmas anteriores, tomando como exemplo as “políticas feministas 
de equiparação”? 
[resposta Day]
Diante das mazelas que o Estado Social apresentava, precisava-se de um modelo que 
superasse o até então existente e que abrangesse o sistema jurídico e a concepção liberal de 
democracia. Surge então o paradigma procedimentalista do Estado Democrático de Direito. 
Esse modelo não pretende romper com o Estado Social, mas radicalizar os mecanismos 
democráticos vigentes para que seja aberta à sociedade meios para intervir de forma 
democrática nas políticas públicas, de forma ampliar o exercício e a garantia aos direitos 
humanos, dando a oportunidade para se vivenciar a soberania popular, além da conciliação 
dos interesses das autonomias pública e privada.
Nesse modelo procedimentalista não há conteúdo pré-determinado, absoluto do direito, em 
que são criados procedimentos para ultrapassar a barreira entre o Estado e a sociedade 
garantindo sua participação efetiva nas políticas públicas, como os orçamentos 
participativos e audiências públicas, por exemplo. O direito é considerado como um 
conteúdo aberto que depende de um processo jurídico e político em que, no caso concreto, 
é que se definirá oseu conteúdo, fazendo com que não se sustentasse a teoria das gerações 
dos direitos fundamentais até então formulada. O direito, assim, fornece um conteúdo 
1
mínimo, estabelecido por um consenso mais ou menos estabelecido que possibilita a 
oportunidade de construção de seu conteúdo definitivo no caso concreto, conciliando-se o 
instituto da soberania popular com os direitos humanos.
O desafio é construir o conteúdo do direito que vá garantir os direitos fundamentais a todos, 
tendo em vista a grande diversidade de grupos que se encontram na sociedade, como as 
políticas femininas de equiparação. As diferenças, bem como a autonomia pública e privada 
devem ser respeitadas, tem que haver a deliberação, participação da sociedade para que o 
direito deve se adequar às diferenças de forma a resolver os conflitos de forma mais 
igualitária possível, atendendo aos interesses da sociedade. Tendo em vista essa 
complexidade cada vez maior, o direito deve ser flexibilizado, relativizado nesse contexto 
em que não cabe um modelo pré-estabelecido com a pretensão de resolução de todos os 
conflitos.
[resposta Edison]
Segundo Habermas, o paradigma procedimentalista do direito procura proteger, antes de 
tudo, as condições do procedimento democrático. Este apego, por assim dizer, ao 
procedimento democrático implica que a qualquer momento um determinado tema poderá 
ser debatido na esfera pública política. Isto pressupõe, porém, o acatamento da opinião 
pública, tanto por parte de um parlamento quanto por parte da administração.
Para Habermas, não é de se espantar que as teorias jusnaturalistas modernas tenham dado 
uma dupla resposta às questões de legitimação, por um lado, pela alusão ao princípio da 
soberania popular e ao reconhecimento de direitos à comunicação e à participação que 
asseguram a autonomia pública dos cidadãos, e, por outro, pela referência ao domínio das 
leis, garantido pelos direitos humanos ou direitos fundamentais clássicos que garantem a 
autonomia privada dos membros da sociedade civil. Assim, o Direito legitima-se como um 
meio para a garantia equânime da autonomia pública e da autonomia privada.
A partir das políticas feministas de equiparação é possível demonstrar, segundo Habermas, 
que a política do Direito oscila desamparadamente entre o paradigma liberal e o social, e 
isso perdurará enquanto ela continuar limitada à garantia da autonomia privada e enquanto 
se continuar ofuscando a relação interna entre autonomia privada e autonomia pública: 
“Pois os sujeitos privados só podem chegar ao gozo de liberdades subjetivas, se eles 
mesmos, no exercício de sua autonomia de cidadãos do Estado, tiverem clareza quanto aos 
interesses e parâmetros justos e puserem-se de acordo quanto a aspectos relevantes sob os 
quais se deve tratar com igualdade o que é igual, e com desigualdade o que é desigual”.
O paradigma liberal, ao garantir à mulher igualdade de chances, evidenciou o tratamento 
desigual que de fato se destina às mulheres. Por outro lado, o paradigma social, com a 
criação de diversos direitos dirigidos às mulheres (regulamentação da gravidez, da 
maternidade, etc), criou novas situações de discriminação e desigualdade (salários mais 
baixos). Segundo Habermas, a almejada compensação de danos acaba se convertendo em 
nova discriminação, ou seja, a garantia de liberdade converte-se em privação de liberdade.
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“Em lugar da controvérsia sobre ser melhor assegurar a autonomia das pessoas do direito 
por meio de liberdades individuais para haver concorrência entre os indivíduos em 
particular ou então mediante reivindicações de benefícios outorgadas a clientes de um 
Estado de bem-estar social, surge agora uma concepção jurídica procedimentalista, segundo 
a qual o processo democrático precisa assegurar ao mesmo tempo a autonomia privada e a 
pública: os direitos subjetivos, cuja tarefa é garantir às mulheres um delineamento 
autônomo e privado para suas próprias vidas, não podem ser formulados de modo adequado 
sem que os próprios envolvidos articulem e fundamentem os aspectos relevantes para o 
tratamento igual ou desigual em casos típicos. Só se garante autonomia privada em 
igualdade de direitos quanto isso se dá em conjunto com a intensificação da autonomia civil 
no âmbito do Estado.”
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BIBLIOGRAFIA (Unidades 1 e 2)
CARVALHO NETTO, Menelick de. “A hermenêutica constitucional sob o paradigma do 
Estado Democrático de Direito” In: CATTONI, Marcelo (coord.) Jurisdição e 
hermenêutica constitucional no Estado Democrático de Direito. Belo Horizonte: 
Mandamentos, 2004, pp.25-44.
CATTONI, Marcelo. Direito Constitucional. BH: Mandamentos, 2002, cap. 1 e 2, p.25-74.
CATTONI, Marcelo. “Coesão interna entre Estado de Direito e democracia na Teoria 
Discursiva do Direito, de Jürgen Habermas” In: CATTONI, Marcelo (coord.) Jurisdição e 
hermenêutica constitucional no Estado Democrático de Direito. Belo Horizonte: 
Mandamentos, 2004, pp.171-188.
CATTONI, Marcelo. “Para uma teoria do direito como teoria discursiva da constituição: 
Uma reconstrução da teoria do direito à luz de uma justificação pós-metafísica da filosofia 
do direito como filosofia do direito constitucional no marco da teoria do discurso de Jürgen 
Habermas” In: CATTONI, Marcelo. Direito, política e filosofia. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris, 2007, pp. 136-153.
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