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1 2 3 Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum 21 Apresentação Nesta aula, vamos abordar a educação de surdos nas classes comuns do ensino regular, o que nos remete à necessidade de utilizarmos a Libras no contexto da sala de aula, ainda que de maneira básica. Nesse sentido, discutiremos alguns aspectos históricos e legais que garantem aos alunos surdos o direito de estudarem na escola comum, isto é, em escolas que não organizam classes especiais. Signifi ca, pois, reconhecê-los como pessoas plenamente capazes de aprender os conteúdos curriculares das diferentes áreas de conhecimento. Compreendemos que a educação especial na perspectiva inclusiva representa um avanço na história da educação dos surdos porque reconhece tanto a necessidade de uso da Libras na sala de aula como a necessidade de os surdos estudarem em classes comuns do ensino regular. Consideramos que tal postura favorece a participação social e política dos surdos, em detrimento do isolamento cultural ao qual estariam submetidos em classes especiais, porque estas evidenciam e reforçam para a sociedade em geral a diferença (surdez e incapacidade) e não a igualdade homem e diversidade). Objetivos Conhecer os marcos históricos da educação de surdos. Considerar a inclusão de alunos surdos nas classes co- muns como um direito assegurado por lei. Identifi car os fundamentos políticos, sociais, culturais, humanos e fi losófi cos que defendem o direito de todos os alunos estarem aprendendo juntos, sem nenhum tipo de discriminação. Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum 23 Um olhar sobre a defi ciência e a diversidade Os estudos sobre os direitos das pessoas com defi ciência não estão dissociados dos fatos históricos. Desde a Antiguidade, a falta de entendimento sobre as diferenças entre os seres humanos fez com que a defi ciência fosse alvo de preconceito (MIRANDA, 2008). Em torno dessas pessoas se criavam marcas – estigmas – que as rotulavam, discriminavam, excluíam e, em alguns casos, as condenavam à morte. Expressões como anormais, retardados, dementes, aleijados e outras evidenciam a defi ciência ou a doença em detrimento da pessoa: um sujeito de direitos, capaz de aprender e de participar das mais diferentes atividades da vida social e cotidiana. A forma como a sociedade encara as pessoas com defi ciência varia em cada época e local, estando essa visão condicionada por fatores culturais, políticos, econômicos e fi losófi cos, dentre outros. A exclusão das pessoas com defi ciência signifi ca impedi-las, em maior ou menor grau, de exercerem algum ou vários dos direitos sociais que lhes outorgam status de cidadão. Contrariamente, o movimento mundial contemporâneo pela inclusão das pessoas com defi - ciência se fundamenta na concepção de direitos humanos, constituindo-se como uma ação política, cultural, social e pedagógica. Reconhece, assim, a igualdade e a diferença como va- lores indissociáveis, no sentido como afi rma Boaventura de Souza Santos: “Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza. Temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”(SOUZA apud SEESP, 2007, p.25). Portanto, a educação inclusiva é antes de tudo uma postura que reconhece e valoriza em cada aluno suas potencialidades e sua condição humana. Trata-se de um princípio fi lósofi co que agrega valores humanísticos e democráticos, através dos quais se busca assegurar, indis- tintamente, a todos os indivíduos o direito de aprender na escola, com vistas ao crescimento, à satisfação pessoal e à inserção social. Saiba mais Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum24 A partir do século XVI, registra-se uma preocupação em relação ao cuidado e educação das pessoas com defi ciência em instituições especiais, embora ainda houvesse muito preconceito e exclusão social. Uma história de conquistas e desafi os No curso da história da humanidade, as pessoas com defi ciência sofreram com a ex- clusão social, foram vítimas de tratamentos desumanos e até de extermínio. Na Antiguidade (4000 a.C. – 476 d.C.), por exemplo, alguns povos abandonavam ou eliminavam as pessoas “deformadas” por considerá-las um estorvo social. Os hebreus acreditavam que a defi ciência era uma punição de Deus. Em Roma, os patriarcas eram autorizados a matar seus fi lhos de- fi cientes e, em Esparta, os pais os lançavam do alto do Taigeto, que era um abismo de mais de 2.400 metros de altura. Em cada época e sociedade, a estrutura econômica, política e cultural infl uencia na forma como as pessoas e as instituições encaram os defi cientes. O contexto da Idade Média (476 a 1453) foi fortemente marcado pela infl uência religiosa cristã e pela ignorância da maior parte da população. Logo, as pessoas com defi ciência eram vítimas de superstições, consideradas possuídas por demônios ou com poderes especiais de bruxos e feiticeiros. A literatura da época revela que anões e corcundas eram ridicularizados e usados para diversão da nobreza. Curiosidade Você sabia que até a Idade Média a Igreja Católica acreditava que os surdos não podiam salvar sua alma porque não conseguiam proferir os sacramentos? A partir do século XVI surgem diferentes instituições que passam a cuidar das pessoas com defi ciência. Contudo, tratava-se de uma situação de segregação e isolamento social, alegando-se que seria melhor para elas fi carem distantes, vivendo em um ambiente mais tranquilo. Na verdade, era uma forma de livrar-se desses “inconvenientes”. Persistia uma visão patológica do indivíduo que apresentava defi ciência, o que trazia como consequência o menosprezo da sociedade. Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum 25 Por outro lado, é nesse período que se tem registro do trabalho do monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1509 -1584), que iniciou a educação de doze crianças surdas, de fa- mílias aristocráticas, no mosteiro de San Salvador em Oña (Espanha). Ele criou um alfabeto bimanual com o objetivo de ensiná-las a ler e escrever e, com isso, obteve grande prestígio entre seus contemporâneos. Mais tarde, o padre espanhol Juan Pablo Bonet (1573 -1633), no ano de 1620, publicou o primeiro livro ilustrado com alfabeto manual, dedicado à educa- ção de surdos, sob o título Reducción de las letras y arte para enseñar a hablar a los mudos (Redução das letras e arte de ensinar a falar aos mudos). Assim, como Ponce de Leon, Pablo Bonet dedicou-se à educação oral e manual dos surdos na Espanha. Figura 1–Gravuras do libro Reducción de las letras y arte para enseñar a hablar a los mudos (Bonet, 1620) Fonte:<http://en.wikipedia.org/wiki/Juan_Pablo_Bonet>. Acessoem: 17 fev. 2011. No século XVIII, a educação em institutos especializados para atendimento de surdos e de cegos se torna mais evidente. Em 1760, Charles-Michel de l’Épée criou o Instituto Nacional de Surdos-Mudos em Paris – atualmente Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris – que se tornou referência mundial. Também em Paris, no ano de 1784, Valentin Haüy inaugura o Instituto Real de Jovens Cegos, hoje Instituto Nacional para Jovens Cegos, cuja fi nalidade é instruir crianças cegas e adaptá-las ao convívio social. Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum26 Figura 2–Charles-Michel de l’Épée instruindo alunos no Instituto Nacional de Surdos-Mudos em Paris Fonte: <http://www.visuf.org/lectHistEpee.php>. Acesso em: 17 fev. 2011. Passando do extermínio para a separação e proteção, até chegar a um período no qual se buscou a emancipação, a integração e mais atualmente a inclusão, se pontuam os avanços na defesa dos direitos das pessoas com defi ciência. Hoje, amparadas por lei, elas contam com uma abordagem mais humana, especialmente, nos campos da educação e saúde. Desse modo, é longa a história de desafi os e conquistas na luta pelainclusão da pessoa com defi ciência, isso porque coexistem diferentes perspectivas sobre o assunto. Mesmo nos séculos XVIII e XIX, a despeito da infl uência iluminista que muito contribuiu para evidenciar a capacidade e o talento de pessoas com defi ciência, especialmente cegas e surdas, elas não eram tratadas com igualdade de direitos. Somente no século XX, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos se iniciam os movimentos sociais em defesa das minorias e das pessoas com defi ciência, baseados em vários de seus artigos, principalmente o Art. II: Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948). No século XX, a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), inicia-se um processo mais sistemático de reconhecimento legal dos direitos da pessoa com defi ciência. Saiba mais Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum 27 A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um primeiro passo que apontou para a necessidade de se reconhecer o direito das pessoas com defi ciência, mas carecia de espe- cifi cidade. Por isso, a ONU adotou em 1994 a Declaração de Salamanca, que delibera sobre princípios, política e práticas na área das necessidades educativas especiais, com o objetivo de orientar procedimentos para a equalização de oportunidades para pessoas com defi ciência. No Brasil, a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/SEESP, 2007) apontam e orientam suas ações com base noutros documentos legais como, por exemplo: � Constituição Federal (BRASIL, 1988); � Lei nº 7.853/89, que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de defi ciência, sua integração social e a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Defi ciência (Corde), instituindo a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas e disciplinando a atuação do Ministério Público; � Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Declaração de Jomtien,UNESCO, 1990); � Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90); � Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96); � Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Pessoa Portadora de Defi ciência (Convenção da Guatemala, Decreto nº 3.956/2001); � Decreto nº 6.571/2008, que dispõe sobre o atendimento educacional especializado, regula- mentando o parágrafo único do art. 60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e acres- centando dispositivo ao Decreto no 6.253, de 13 de novembro de 2007. � Decreto nº 6.949/2009, que promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi ciência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março de 2007. A luta pelo reconhecimento dos direitos das pessoas surdas tem ganhado am- paro legal nas últimas décadas, porém, é importante observar que as leis apre- sentam uma hierarquia, na qual as de menor grau devem obedecer às de maior grau. No direito brasileiro adota-se a seguinte hierarquia: Contituição Federal; Emenda Constitucional; Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos; Tra- tados Internacionais dos quais o Brasil seja signatário; Lei complementar; Lei ordinária; Medida provisória; Resolução; Decreto e Portaria. Saiba mais Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum28 Curiosidade Helen Keller (Alabama, 1880 – Connecticut, 1968) foi uma célebre escritora e fi lósofa que fi cou cega e surda aos 18 meses de idade. Sua biografi a foi regis- trada no fi lme The Miracle Worker, em 1962, dirigido por Arthur Penn. Algumas de suas ideias: “Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar.” “Evitar o perigo não é, em longo prazo, tão seguro quanto se expor ao perigo. A vida é uma aventura ousada ou, então, não é nada.” “As melhores e mais belas coisas do mundo não podem ser vistas nem toca- das, mas o coração as sente.” Apesar dos muitos avanços e conquistas, e da vasta legislação em defesa da total in- clusão dos alunos com defi ciência nas classes comuns do ensino regular, ainda há grupos resistentes que pensam de maneira diversa. Esses grupos defendem as escolas especiais sob o argumento de que nelas haveria maiores condições de atendimento educacional condizente com as necessidades, por exemplo, dos alunos surdos. Caberia, segundo eles, aos alunos e seus responsáveis optarem por um ou outro tipo de escola. Todavia, o fundamento que nega essa posição considera que havendo separação dos alunos com defi ciência em escolas de educação especial estaremos, de fato, excluindo-os porque negamos a pluralidade e a diversidade que existe no meio social, que é independente de nossa vontade pessoal. Separá-los na intenção de melhor prepará-los seria um equívoco. Por isso, a perspectiva ofi cial adotada pelo Ministério da Educação é de que a Educação Es- pecial se constitua como Atendimento Educacional Especializado, de maneira adicional e não substitutiva à escola comum (SEESP, 2007). A política de educação especial adotada atualmente no Brasil considera a in- clusão do aluno com defi ciência, incluindo os surdos, em classes comuns do ensino regular como melhor alternativa de aprendizagem e participação social democrática. A educação especial acontece por meio de atendimento educacio- nal especializado, de maneira complementar à escola comum. 1 3 2 Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum 29 A discussão sobre o ordenamento legal da educação especial para surdos no Brasil será objeto de estudo em outro caderno deste curso. Nosso interesse no momento é esclarecer que a inclusão de alunos surdos nas classes comuns do ensino regular se constitui numa obrigação estendida para qualquer escola, independente de quaisquer alegações que se possa apresentar sobre a falta de condições para recebê-los. Leia e escreva um comentário sobre os dois fragmentos de entrevistas com alunos surdos. Refl ita e escreva sua compreensão acerca do seguinte enunciado: “A comunicação é parte fundamental no processo de socialização e desenvolvimento humano. A surdez se torna um problema quando o código das mensagens é baseado apenas no som”. Era muito difícil de acompanhar as aulas, as explicações do professor, todas em língua oral não tinham sentido e quando eles utilizavam a escrita para nos fazer entender fi cava pior, pois não conhecíamos o signifi cado das palavras. A fala era sem sentido e a escrita mais ainda. Eu tentava clarear um pouco mais as idéias perguntando aos amigos, porque o professor quando entra na sala tem um horário de 55 minutos para cumprir o conteúdo e não tem tempo a perder dando explicações para os surdos. (Orcenir) A palavra correta não é inclusão, e sim uma forçada adaptação com a situação do dia-a-dia dentro da sala de aula e na maior parte de tempo eu me sinto exclu- ída pois não capto100% a leitura labial dos professores que tem diversos tipos de articulações, tais como lábios fi nos, grossos, tortos, como espesso bigode, ou falam rapidamente de boca fechada ou muito aberta, sem expressão facial, etc. além disto, os meus olhos cansam de ler os movimentos dos lábios e uns 10 minutos depois já nem tenho ânimo de prestar atenção.(Karin) Fonte:MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Especial (SEESP). Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. Brasília: MEC/SEESP, 2006. p. 103-106) Pesquise sobre as formas como as pessoas com defi ciência já foram discrimina- das ou eliminadas, ainda nos séculoXIX e XX. Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum30 A educação de surdos no Brasil Como já vimos, durante a maior parte da história da humanidade, as pessoas com defi - ciência foram vítimas da exclusão, pois a ênfase era na sua incapacidade ou anormalidade. No Brasil não foi diferente, a educação era privilégio de poucos, isto é, tanto as classes populares como os negros escravos e as pessoas com defi ciência não chegavam à escola. Entretanto, sob a infl uência de instituições especializadas que surgiam na Europa, como os já citados Instituto Nacional de Surdos-Mudos e o Instituto Real de Jovens Cegos, temos na então ca- pital Brasileira, Rio de Janeiro, a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos em 1854 e dois anos depois, em 1856, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Figura 3–Instituto Nacional de Educação de Surdos, bairro de Laranjeiras no Rio de Janeiro Fonte: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1034271>. Acesso em: 17 fev. 2011. O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi a primeira escola especial para surdos no Brasil, criada por D. Pedro II, por meio da Lei no. 839, de 26 de setembro de 1857. Teve como primeiro diretor o professor francês Erenest Huet, que era surdo. O currículo que Huet desen- volveu era constituído por língua portuguesa, aritmética, linguagem articulada e leitura labial. O instituto funcionava em regime de internato, atendendo exclusivamente surdos do sexo masculino. Somente em 1931 passou a atender alunas surdas, em regime de externato, com ofi cinas de costura e bordado, consolidando seu caráter profi ssionalizante. Em1951, o INES criou seu primeiro curso normal para professores na área de surdez e, no inicio da década de 1980, um curso de especialização para professores, também na área da surdez. A partir de 1993, com a mudança de seu Regimento Interno e através de ato ministerial, o INES passa a ser um centro nacional de referência e, com esta nova atribuição, realiza ações que subsidiam todo o país. Ao longo de sua existência, o INES já utilizou diferentes abordagens na educação de surdos, chegando a proibir, no período de 1957 ate aproximadamente 1980, o uso da língua gestual, adotando, assim, uma posição oralista. Saiba mais Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum 31 O Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) foi a primeira instituição especializada para a educação de surdos no Brasil, sendo atualmente um centro nacional de referência em estudos, pesquisas e formação de professores na área da surdez. Destaca-se, ainda, na história da educação dos surdos no Brasil, a criação em 16 de maio de 1987 da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), que trabalha na defesa dos direitos linguísticos e culturais da comunidade surda, propagando a Libras como meio natural de comunicação das pessoas surdas. A Feneis é uma entidade representativa dos surdos que mantém relações dire- tas com a ONU (Organização das Nações Unidas); Unesco (Organização Edu- cacional, Científi ca e Cultural das Nações Unidas; OMS (Organização Mundial da Saúde); OIT (Organização Internacional do Trabalho) e OEA (Organização dos Estados Americanos). Dentre os objetivos da Feneis enumeramos dois: 1- promover a inclusão dos profi ssionais surdos no mercado de trabalho; 2- realizar pesquisas para a sistematização e padronização do ensino de Libras para ouvintes. Outras informações podem ser consultadas diretamente no site da federação <http://www.feneis.com.br> A educação de surdos no Brasil abrange diferentes abordagens, nem sempre compatí- veis, pois em geral oscilam na disputa sobre a forma de ensinar os alunos surdos e como eles devem aprender, se pela língua oral (tradição alemã, iniciada em 1754 por Samuel Heinicke) ou pela língua de sinais (tradição francesa, iniciada em 1760 por Charles-Michel de l’Épée). A tendência oralista defende o aprendizado oral com o objetivo de aproximar ao máximo os surdos do modelo ouvinte, isto é, visa capacitar o surdo para utilizar a língua da comuni- dade por meio da leitura labial.Todavia, já se sabe que a leitura labial só é possível quando o interlocutor formula as palavras de frente para o surdo, com clareza e devagar, e ainda assim há muita controvérsia quanto ao aproveitamento do que se fala em relação ao que é possível compreender. Oralismo, segundo Sá (2006), é uma imposição aos surdos, uma vez que não se aceita a língua de sinais como a maneira própria deles se comunicarem, discriminando a cultura surda e ignorando a diferença entre surdos e ouvintes. O oralismo predominou a partir do Congresso de Milão em 1880, cujo Comitê, composto apenas por ouvintes, decidiu proibir o uso da língua gestual na educação de surdos. Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum32 Perlin e Strobel (2006, p. 9), tratando dos fundamentos da educação de surdos, registram que apesar de hoje os surdos começarem a ser vistos como cidadãos, com direitos e deveres de participação na sociedade, “nós não podemos deixar de reconhecer que a história do povo surdo mostra que por muitos séculos de existência, a pedagogia, as políticas e muitos outros aspectos próprios do povo surdo têm sido organizados geralmente no ponto de vista dos sujeitos ouvintes [...]”. Como resposta ao fracasso do oralismo puro na educação da maioria dos surdos, surgiu em meados de 1960 a proposta de conjugar a esse método a língua de sinais e demais recursos de comunicação, resultando no que chamamos de comunicação total ou bimodalismo.Todavia, o enfoque da comunicação total submete a língua natural das pessoas com surdez à língua oral, acarretando em prejuízos e desvantagens de ordem cognitiva, afetiva, linguística, sociocultural e política para os surdos (SÁ, 2006). Tanto o oralismo como a comunicação total assumem o modelo da integração, que signifi ca inverter o papel da língua de sinais, colocando-a em segundo plano e concebendo suas práticas a partir do modelo ouvinte. Na ótica da integração, cabe à pessoa surda adaptar-se ao mundo dos ouvintes, esforçando-se para dominar um código sonoro difícil de ser aprendido, espe- cialmente quando a língua de sinais não é valorizada como sua língua natural. Por sua vez, a proposta bilíngue de ensino considera a língua de sinais como a primeira língua e a língua oral como a segunda língua na modalidade escrita, visando capacitar a pessoa com surdez para a utilização de duas línguas no cotidiano escolar e na vida social. Trata-se de um grande desafi o, tendo em vista que a Língua Portuguesa é difícil de ser assimilada pelo aluno surdo, principalmente porque requer “mudanças estruturais e pedagógicas nas escolas para romper com as barreiras que se interpõem entre esse aluno e o ensino” (SEESP, 2007). A despeito disso, compreendemos, conforme pontua Quadros (in FERNANDES, 2010, p. 28), que “conhecer várias línguas não representa uma ameaça, mas abre um leque de manifestações linguísticas dependentes de diferentes contextos”. A inclusão dos surdos na escola regular numa proposta bilíngue representa um desafi o, na medida em que os professores e demais profi ssionais da educação desconhecem, em sua maioria, a Libras e uma metodologia de ensino que fa- voreça a diversidade. Há diferentes abordagens de ensino na história da educação de surdos. Em geral, elas se distinguem pelo reconhecimento ou não de que a língua de sinais é a forma natural e mais adequada de comunicação para os surdos. Destacam-se: o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo. A busca por uma abordagem mais adequada para a educação de surdos ainda 1 2 Resumo Aula 2 Exclusão/inclusão: os surdos na escola comum 33 é tema de amplo debate nacional, apesar dos diversos avanços no sentido de romper com as propostas educativas excludentes e seletivas para assumiruma perspectiva inclusiva, reco- nhecendo o direito pleno de cidadania das pessoas surdas. Nesta aula, vimos que na história humana, as pessoas com defi ciência foram segregadas e até eliminadas. No entanto, a partir do século XVI, Ponce de Leon inicia a educação de crianças surdas e, em 1620, Bonet publica o primeiro livro com alfabeto manual para surdos. Em 1760, Charles-Michel de l’Épée cria o Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris. Em 1948, foi elaborada Declaração Universal dos Direitos Humanos que é vista como a base dos direitos dos defi cientes, mas só com a Declaração de Salamanca, em 1994, se delibera sobre as necessidades educativas especiais. Foi exposto que no Brasil alguns propõem escolas especiais para os surdos, mas a posição ofi cial vigente é a de que a escola comum não seja substituída pelo atendimento especializado. As experiências com o oralismo e a comunicação total colocaram a Libras em segundo plano, o que levou a educação inclusiva bilíngue. Vimos, contudo, que as abordagens para a educação de surdos ainda são tema de debate, apesar dos avanços com a perspectiva inclusiva. Autoavaliação Explore o site do Ines<http://www.ines.gov.br> e o site da Feneis www.feneis.com.br e, em seguida, registre o que você descobriu de importante em cada um. Refl ita e escreva um comentário sobre o papel da Libras nas salas de aula que possuem alunos surdos.
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