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Tatiane Lira – MED UFPE Infecção do trato urinário · Conceitos: · É um termo geral que indica invasão do sistema urinário, previamente estéril (por exceção da uretra distal), por bactérias. · C/ multiplicação de um único germe patogênico em qualquer segmento do TU. · Pielonefrite: infecção do rim. · Cistite: infecção da bexiga. · Uretrite: infecção da uretra (raro a infecção se limitar apenas a uretra mas, é comum nos casos de ISTs). · Etiopatogenia: · Via ascendente: ○ Responsável por 95% das ITU. ○ Contaminação do TU por germes do reservatório fecal (bactérias ascendem à zona periuretral) c/ progressão da uretra até os rins. ○ Necessário ancoramento “escalada de uma montanha”. ○ E. coli de forma superficial se ancora no uroepitélio c/ fímbrias. ○ Multiplicação na cél e ascensão. ○ Gerando processo inflamatório mediado, principalmente por IL6 e IL8. ○ Macrófagos, inicialmente, tentam a defesa (imunidade inata) + força do jato urinário varre e esfolia o epitélio p/ retirada de bactérias virulentas (recomendação de beber muita água, + urina). · Via hematogênica: ○ + comum no período neonatal (maior permeabilidade e menor imunidade). ○ Staphylococcus aureus é a principal causadora. · Principais bactérias causadoras de ITU em criança: ○ E. coli uropatogênica (UPEC) é a + comum por possuírem fatores de virulência que aumentam sua sobrevivência no hospedeiro: ▪ Flagelo: mobilidade. ▪ Pili ou fímbrias (S, P e a tipo 1): ancoração; facilitam a sua ascensão ao TU por mecanismo de contra-corrente, por aderirem ao epitélio de bexiga e TU superior (podendo ficar quiescentes, não se sabendo qual o estímulo que as reativam). ▪ Oligossacarídeo que destroi cél do hospedeiro. ○ Proteus acomete o prepúcio dos meninos. ○ Klebsiella comum no período neonatal. ○ S. aureus é uma das responsáveis pela via hematogênica. ○ S epidermidis é agente de infecções hospitalares e após cateterização. · Infecção por outros agentes: ○ Fungos: imunodeprimidos → Cândida albicans. ○ Vírus: cistite hemorrágica determinada pelo Adenovírus. · Fatores de risco: · M > H: ○ Uretra + curta: facilita a via ascendente. ○ Proximidade entre uretra feminina e ânus (maior probabilidade de contaminação). · Bacteriúria na gestação: maior chance em RN (via hematogênica). · Grande densidade de receptores p/ a fímbria P. · Desmame precoce: déficit na imunidade. · Fimose/balanopostites. · Baixo teor de IgA secretor na urina. · Estase urinária: criança prende p/ poder brincar. · Resíduo pós-miccional: bexiga neurogênica → não consegue expulsar toda urina → resíduo como meio de cultura. · Cateterismo vesical. · Constipação crônica: segurando a constipação, segura o xixi (constipação funcional). · Alteração da flora intestinal normal c/ o uso prévio ATB de largo espectro: flora aberrante/patógena. · Características: · Uma das infecções bacterianas + frequentes, principalmente em lactentes. · Predomina no ♀ (20:1), exceto no 1º semestre de vida, quando é + comum no ♂. · Incidência maior em: ○ Pré-escolar: controle esfincteriano. ○ Adolescente: por alterações hormonais (que favorecem a colonização bacteriana) e, em alguns casos, início precoce de atividade sexual. · A recorrência é frequente: 40%. · Importância: · Possibilidade em desenvolver processo infeccioso sistêmico (urosepse), pode levar a meningite e tem grande mortalidade → predominante em RN e lactentes. · Atraso no C e D da criança às custas de infecções de repetição: leva a desnutrição. · Possibilidade de lesões renais (formação e progressão da cicatriz renal), c/ comprometimento da função renal: ○ HAS e DRC (principal causa de DRC na infância). ○ Necessário ATB precoce, preciso e início de antibioticoterapia. ○ Fatores de risco p/ cicatriz renal: ▪ Crianças < 1a: medula renal hipoplásica, menor trato urinário, maior permeabilidade e menor imunidade. ▪ Atraso no tto > 72h. ▪ Crianças c/ mal formação do TU: altos graus de refluxo. ▪ Malformações c/ caráter obstrutivo. ▪ ITU recorrentes. · Classificação: · Localização: ○ Cistite (baixa). ○ Pielonefrite (alta). · Quadro clínico: ○ Sintomática. ○ Assintomática. · Patogênese: ○ Obstrutiva: ligada a má formações. ○ Não obstrutiva. · Anatomopatológica: ○ Aguda. ○ Crônica. · Amplo espectro clínico da ITU: depende do grupo etário e localização. · Quando suspeitar de ITU? · < 2m: ○ S/ comunicação, s/ controle esfincteriano. ○ Medula renal não densa → não concentra urina → urinam muito. ○ Desenvolvem quadros graves por imunidade reduzida e difícil identificação precoce. ○ Sintomas inespecíficos: febre, vômito/diarreia, irritabilidade/letargia, poliúria/oligúria. ○ Geralmente sepse por bacteremia por via hematogênica. · Lactentes: ○ Melhor imunidade, por via ascendente. ○ Sintomas inespecíficos: febre (único sinal), vômito/diarreia, irritabilidade/letargia, poliúria/oligúria, recusa alimentar, atraso no crescimento. · > 2a: ○ Verbalização (em especial, escolares) e melhor imunidade. ○ Queixas urinárias + específicas (cistites): disúria, polaciúria, retenção, urgência, incontinência, enurese (em crianças que já apresentavam controle esfincteriano prévio) e tenesmo. ○ Sintomas sistêmicos (pielonefrite aguda: evolução do quadro anterior; tem incidência maior em < 1a): anorexia, prostração, febre, vômitos, dor abdominal e em flancos. ○ DD: vaginite, corpo estranho vaginal ou uretral, oxiuríase, irritantes locais (sabonetes líquidos, maiôs), abuso sexual. ○ EF: Giordano + (percussão em região lombar c/ dor), aumento do volume renal, bexiga palpável por retenção. · Diagnóstico laboratorial: · Sumário de urina: ○ Não substitui a urocultura no diagnóstico de ITU, mas pode apresentar alterações permitindo iniciar precocemente o tto, antes do resultado da urocultura (48-72h). ○ Leucocitúria: ▪ + de 5-8 leucócitos / campo. ▪ Leucocitúria estéril: ☆ Leucorréia: IST, vaginoses. ☆ Balanopostite. ☆ Gastroenterocolite. ☆ VOP. ☆ Viroses. ☆ Litíase. ☆ Glomerulonefrite. ☆ Tubulopatia renal. ○ pH urinário: Proteus aumenta o pH. ○ Albuminúria: inflamação do glomérulo → aumenta permeabilidade. ○ Hematúria (período menstrual) → microscópica. ○ Bacteriúria. ○ Reação do Nitrito → produto bacteriano. · Urocultura: ○ Padrão ouro (pedir p/ confirmação ou p/ redirecionar ATB). ○ Não tratar bacteriúria assintomática!!! S/ sintomas, não é ITU. · Coleta: depende se criança tem controle esfincteriano ou não. ○ Jato médio: ▪ Criança c/ controle esfincteriano. ▪ No pote; + seguro. ▪ 1ª urina da manhã. ▪ Lavar períneo c/ sabão neutro. ▪ Desprezar 1º jato e usa o 2º. ▪ Ter cuidado p/ não encostar o recipiente no períneo (contaminação). ▪ Em crianças c/ fralda: higieniza, dá muita água e fica esperando c/ o pote o bb urinar. ▪ Contagem bacteriana ≥ 100.000ufc/mL ou + de 50.000ufc/mL associada c/ a análise de urina demonstrando evidência de piúria confirma o diagnóstico. ○ Saco coletor: ▪ S/ controle esfincteriano; ▪ Cola adesivo na pele e deixa até urinar (ideal < 30min). ▪ Alta chance de contaminação e ocorrência de falsos positivos (se positivo, faz sonda ou punção). ▪ Valor preditivo negativo. ○ Punção suprapúbica: ▪ C/ agulha palpa púbis e introduz acima; ▪ Retira amostra direto da bexiga. ▪ Invasivo, mas c/ poucos riscos. ▪ Crescimento de qualquer patógeno, independentemente do nº de colônias confirma o diagnóstico. ○ Cateterismo vesical: ▪ Coleta por sonda. ▪ Presença de crescimento bacteriano ≥ 1000ufc/mL confirma o diagnóstico. · Estudo morfológico do trato urinário: ○ Após 1° episódio bem documentado de ITU (por urocultura). ○ Quanto menor a faixa etária, maior a incidência de Refluxo Vésico-Ureteral*. ○ Objetivos: ▪ Detectar malformações. ▪ Avaliar a presença de lesão renal. ▪ Melhorar o prognóstico do pcte: evitar DRC. *RVU: Sua presença é mostrada em até 30% dos pctes c/ ITU. Desaparecem espontaneamente (mesmo os de maiores graus) entre os 2-3ºs anos de vida. Válvula entre bexiga e ureter deficiente/inexistente → caminho retrógrado da urina → ureter vira local de armazenamento → dilatação do sistema ureter-pielocalicial (deformidade no grau + grave).· Algoritmo da investigação por imagem da ITU (SBP): · USG do aparelho urinário e bexiga: ○ Fácil acesso. ○ Não invasivo. ○ Não requer preparação prévia. ○ Não expõe a radiação. ○ Independe da função renal. ○ Operador dependente. ○ Exame de triagem: útil p/ confirmar e/ou detectar malformações do TU. ○ Mas USG normal não exclui a existência de alterações. · Urografia excretora (UGE): ○ Melhor exame p/ a avaliação estrutural dos rins p/ planejamento cirúrgico. ○ Usa contraste iodado. ○ Risco de reações alérgicas. ○ Pode ser normal na fase aguda da infecção, ○ Maior exposição à radiação. · Uretrocistografia miccional (UCM): ○ Morfologia do TU inferior: método de escolha p/ RVU. ○ 6s após fim do tto, c/ urocultura negativa. ○ P/ não espalhar bactéria iatrogenicamente faz uso de quimioprofilaxia. ○ Administração de contraste iodado injetável intravesical. ○ “Pinta” de forma retrógrada e se há refluxo ureter acende. ○ Visualiza uretra e observa alterações de coluna, bexiga (presença de divertículo e demonstração de RVU). ○ Indicação: ▪ USG e/ou cintilografia c/ DMSA alteradas. ▪ E/ou quadros repetitivos de ITU associados à disfunção miccional. · Cintilografia renal c/ DMSA: ○ Pequena quantidade de de material radioativo. ○ Após resolução da fase aguda. ○ Intervalo > 5m (4-6m do episódio inicial). ○ Avaliar função dos rins, a forma, tamanho, localização e presença de cicatrizes. ○ Padrão ouro na detecção da cicatriz renal. ○ Detecção de cicatriz renal (S 98% e E 100%). ○ Indicação: ▪ Todos lactentes c/ ITU febril. ▪ Crianças c/ quadro clínico de pielonefrite (mesmo c/ USG normal). ▪ Pctes c/ RVU. · Tto: é empírico, observando-se idade e EG do pcte. · Período neonatal: ○ Casos de via hematogênica; urosepse; muitas bactérias gram negativas e anaeróbicas. ○ Ampicilina + Gentamicina. ○ Cefalosporina + Amicacina. · Fora do período neonatal: ○ Via ascendente, E. coli. ○ ATB em domicílio ou hospitalar. ○ Pcte em sepse: torporoso, oligúria, irritabilidade, sinais de choque; toda pielonefrite c/ tto venoso?? → 2d no hospital e segue oral no domicílio. ○ Tto hospitalar parenteral: ○ Tto domiciliar oral: · Tempo de ATB: ○ 10-14d p/ pielonefrite. ○ 7d p/ cistite. · Quimioprofilaxia: · Em crianças c/ TU normal, ela deve ser avaliada c/ cautela pela possibilidade de aparecimento de cepas + resistentes, aumentando o risco de infecção. · Uso de antimicrobianos em doses baixas por 3-6m é capaz de inibir multiplicação de bactérias uropatogênicas. · Indicações: ○ Portadores de RVU (a partir do grau III). ○ ITU de repetição c/ TU normal. ○ Disfunção miccional. ○ Crianças que já apresentam cicatriz renal. ○ Em certas patologias até a correção cirúrgica: estenose de junção uretero pélvica e uretero vesical. ○ Usar até a realização da UCM. · Medidas protetoras: · Higiene: ○ Direção correta de limpeza. ○ Higiene perineal (combate à leucorreia). ○ Higiene prepucial. · Hábitos no banheiro: ○ Posição adequada. ○ Tempo de 1-2min. ○ Esvaziamento completo. · Tto de constipação: ○ Dieta rica em fibras. ○ Reflexo gastro-cólico. ○ Uso de laxantes. · Investigação de febre como único sintoma. · Relação fimose e infecção de repetição. · Prognóstico: · Está relacionado a uma série de fatores: ○ Idade de apresentação. ○ Presença ou não de cicatrizes renais. ○ Malformações. ○ Atraso no diagnóstico e na instituição de terapêutica. · Diagnóstico + instituição precoce de tto + correção de malformações associadas melhoraram muito o prognóstico.
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