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CCJ0006-WL-PA-30-Direito Civil I-Novo-34071

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Título 
DIREITO CIVIL I 
Número de Aulas por Semana 
 
Número de Semana de Aula 
15 
Tema 
ATOS ILÍCITOS E RESPONSABILIDADE CIVIL 
Objetivos 
·        Conceituar os atos ilícitos na esfera cível. 
·        Reconhecer as espécies, elementos e as distinções de atos ilícitos.  
·        Dissertar e analisar a teoria do abuso de direito. 
·        Apresentar noções gerais de responsabilidade civil. 
Estrutura do Conteúdo 
1. ATOS ILÍCITOS E RESPONSABILIDADE CIVIL   
1. 1 Conceito, espécies e distinções necessárias, generalidades e elementos. 
1.2  Abuso de Direito. 
1.3 Excludentes de ilicitude. 
1.4 Responsabilidade Civil - noções gerais. 
ATOS ILIƵCITOS E RESPONSBILIDADE CIVIL 
  
  
São atos que vão contra o ordenamento jurı́dico, lesando o direito subjetivo de alguém. Para que se conϐigure o ato ilı́cito é mister que haja um dano moral ou material à vı́tima, uma 
conduta culposa, por parte do autor e um nexo causal entre o dano conϐigurado e a conduta ilı́cita. 
Ilı́cito civil gera uma obrigação indenizatória pelos danos efetivos e, em alguns casos, pelo que a vı́tima deixou de lucrar com o dano provocado. 
Tal obrigação decorre da responsabilidade civil, que é a possibilidade jurı́dica que determinada pessoa tem de responder pelos seus atos, sejam eles lı ́citos ou não. A 
responsabilidade pode ser direta (responder pelos próprios atos) ou indireta (responder por atos de terceiros). 
O conceito de ato ilı́cito é de suma importância para a responsabilidade civil, vez que este faz nascer a obrigação de reparar o dano. O ilı́cito repercute na esfera do Direito 
produzindo efeitos jurı́dicos não pretendidos pelo agente, mas impostos pelo ordenamento. Em vez de direitos, criam deveres. A primeira das conseqüências que decorrem do ato 
ilı́cito é o dever de reparar. Mas não se faz única, eis que, dentre outras, este pode dar causa para a invalidade ou cassação do ato, por exemplo.  
No campo do direito, o ilı́cito alça -se à altura de categoria jurı́dica e, como entidade, é revestida de unidade ôntica, diversiϐicada em penal, civil, administrativa, apenas para efeitos de 
integração, neste ou naquele ramo, evidenciando -se a diferença quantitativa ou de grau, não a diferença qualitativa ou de substância.  
E o princı́pio que obriga o autor do ato ilı́cito a se responsabilizar pelo prejuı́zo que causou, indenizando -o, é de ordem pública, ressalta a renomada Maria Helena Diniz.  
A deϐinição de ato ilı́cito aϐirmada pela plêiade de renomados doutrinadores a seguir mencionados salienta diferença apenas no estilo pessoal de cada deles expor.  Vejam-se a seguir: 
“Ato ilı́cito é, portanto, o que praticado sem direito, causa dano a outrem.” (Clovis Bevilaqua) 
“Que é ato ilı́cito? Em sentido restrito, ato ilı́cito é todo fato que, não sendo fundado em Direito, cause dano a outrem” (Carvalho de Mendonça)   
“Ato ilı́cito, é, assim, a ação ou omissão culposa com a qual se infringe, direta e imediatamente, um preceito jurı́dico do direito privado, causando- se dano a outrem ”  (Orlando 
Gomes). 
“... ato ilı ́cito é o procedimento, comissivo (ação) ou omissivo (omissão, ou abstenção), desconforme à ordem jurı́dica, que causa lesão a outrem, de cunho moral ou 
patrimonial.” (Carlos Alberto Bittar) 
“O caráter antijurı́dico da conduta e o seu resultado danoso constituem o perϐil do ato ilı́cito.” (Caio Mario da Silva Pereira) 
“O ato ilı́cito é o praticado culposamente em desacordo com a norma jurı́dica, destinada a proteger interesses alheios; é o que viola direito subjetivo individual, causando prejuı́zo a 
outrem, criando o dever de reparar tal lesão.” (Maria Helena Diniz) 
 “Ato ilı́cito. Ação ou omissão contrária à lei, da qual resulta danos a outrem.” (Marcus Cláudio Acquaviva) 
A diferença fundamental entre os ilı́citos reside na aplicação do sistema sancionatório, pois o direito penal pode afetar a liberdade da pessoa do infrator, como o direito de ir e vir, 
enquanto que o âmbito civil irá atingir sua esfera pessoal, sua subjetividade, mas preferencialmente o seu patrimônio.  
O fato é que o comportamento contrário à norma tipiϐica uma ilicitude. Concluı́mos que o ilı́cito civil é transgressão do dever jurı́dico quer seja legal, quer seja negocial.  
Na esfera criminal, os ilı́citos podem ser deϐinidos como crimes ou contravenções e, ao puni-los, faz-se aplicação de sanções mais graves chamadas penas. Mas esses mesmos atos, 
enquanto envolvam a violação de interesses de pessoas singularmente consideradas, pertencem também ao direito civil.  
Assim o ato ilı́cito pressupõe sempre uma relação jurı́dica originária lesada e a sua conseqüência é uma responsabilidade, ou seja, o dever de indenizar ou ressarcir o dano causado 
pelo inadimplemento do dever jurı́dico existente na relação jurı́dica originária.  
  
  
ABUSO DE DIREITO 
A Teoria do Abuso de Direito foi construı́da sob a simples ilação “o meu direito termina quando começa o do outro”. Superando o ideal burguês de aϐirmação das liberdades públicas, 
em que se ediϐicaram direitos subjetivos absolutos, intangı́veis, os imperativos da convivência em sociedade inspiraram a moral hodierna a exigir a relativização dos interesses. Do 
individualismo ao socialismo. 
Sobre o tema, é a lição de Pontes de Miranda, lembrada por Rui Stoco[1]: “Quando o legislador percebe que o contorno de um direito é demasiado, ou que a força, ou intensidade, com 
que se exerce é nociva, ou perigosa a extensão em que se lança, concebe as regras jurı́dicas que o limitem, que lhe ponham menos avançados os marcos, que lhe tirem um pouco da 
violência ou do espaço que conquista.” 
No Direito Brasileiro, a teoria do abuso de direito não fora consagrada expressamente no Código Civil de 1916. Este apenas mencionava no art.160, I quando proibia a prática de atos 
irregulares. O legislador de 1916 não fez distinção entre ato ilı́cito e ato abusivo, equiparando os dois institutos.  
Como sua construção se deu através da jurisprudência, diante de análise de casos concretos, que não encontravam solução satisfatória na doutrina dos atos ilı́citos, o que acarretou 
uma controvérsia no cerne do conceito, no que diz respeito aos critérios de aferição da abusividade. Tem -se usado o princı́pio da boa - fé objetiva como parâmetro para limitar o 
exercı́cio de um direito, logo o dever de não abusar reϐlete na observância dos valores sociais, como a boa- fé, os bons costumes e a destinação social ou econômica do direito. 
A positivação da teoria do abuso de direito, no ordenamento brasileiro, ocorre com o advento do Novo Código Civil em 2002, no artigo 187, que traz limites éticos ao exercı́cio dos 
direitos subjetivos e de outras prerrogativas individuais, impondo ao titular do direito a observância dos princı́pios da boa - fé e a ϐinalidade social ou econômica do direito. O 
Diploma Civil pátrio inseriu a teoria do abuso de direito no capitulo dos atos ilı́citos. Sendo assim, tornam - se confusos seus contornos e enseja a responsabilidade subjetiva – 
fundada na culpa, oposto ao fundamento da aplicação da teoria, que exige que a aferição de abusividade no exercı́cio de um direito seja objetiva, declarada no confronto entre o 
praticado e os valores tutelados no ordenamento constitucional e civil. 
O art. 187 do Novo Código Civil /2002 e a tese do abuso do direito. 
O art. 187 do NCC teve sua redação inspirada no Direito Civil Português que preceitua no seu art. 334, "é ilegı́timo o exercı́cio de um direito quando o titular exceda manifestadamente 
os limites impostos pela boa- fé, pelos bons costumes ou pelo ϐim social ou econômico desse direito". Ao comparar as redações dos dispositivos brasileiro e português, percebe- se 
apenas uma alteração na ordem das expressões, o dispositivo brasileiro expõe da seguinte maneira: "Também comete o ato ilı́cito o titular de um direito que, ao exercê -lo, excede 
manifestamente os limites impostospelo seu ϐim econômico ou social, pela boa- fé ou pelos bons costumes". 
A tese do abuso de direito, no ordenamento brasileiro, é expressa no tı́tulo dos atos ilı́citos, sendo necessário aqui conceituar o que seja este tipo de ato: que é a conduta voluntária, 
comissiva ou omissiva, negligente ou imprudente, que viola direitos e causa prejuı́zos a terceiros, 
Extrai-se de imediato uma ilação: a que entre nós o abuso de direito está, de lege data, equiparado ao ato ilı́cito. Semelhante equiparação, já se registrou, não é paciϐica na doutrina. E, 
na verdade, parece razoável, do ponto de vista teórico, o entendimento que distingue as duas ϐiguras. Uma é a situação de quem, sem poder de invocar a titularidade de direito algum, 
simplesmente viola direito alheio. Outra situação é a daquele que, sendo titular de um direito, irregularmente o exerce[2]. 
Apesar de se encontrar consagrado no capı́tulo dos atos ilı́citos, a estes não se equipara, pelos seguintes fundamentos: o abuso de direito é caracterizado por um exercı́cio que 
aparentemente é regular, mas desrespeita a ϐinalidade do direito, enquanto no ato ilı́cito há um vı́cio na estrutura formal de um direito. Os dois institutos se assemelham, porém não 
se confundem por terem efeitos idênticos, 
O ilı́cito, sendo resultante da violação de limites formais, pressupõe a existência de concretas proibições normativas, ou seja, é a própria lei que ira ϐixar limites para o exercı́cio do 
direito. No abuso não há limites deϐinidos e ϐixados aprioristicamente, pois estes serão dados pelos princı́pios que regem o ordenamento os quais contêm seus valores fundamentais. 
(HELENA CARPENA, 2003, p.382) 
A caracterização do ato ilı́cito é direta e mais evidente, logo que há uma norma jurı́dica tipiϐicando uma conduta, enquanto no abuso se constatará a partir do momento que houver 
uma desconformidade entre a conduta e o ϐim que a lei impõe. 
Com esta teoria, pretende -se assegurar o interesse coletivo nas relações interpessoais, pautando o interesse individual nos pressupostos ético- sociais tais como a boa- fé, os bons 
costumes e a função social -econômica que cada direito resguarda, 
O estudo do abuso de direito é a pesquisa dos encontros, dos ferimentos, que os direitos se fazem. Se pudessem ser exercidos sem outros limites que os da lei escrita, com 
indiferenças, se não desprezo, da missão social das relações jurı́dicas, os absolutistas teriam razão. Mas a despeito da intransigência deles, fruto da crença a que se aludiu, a vida 
sempre obrigou a que os direitos se adaptassem entre si, no plano do exercı́cio. Conceptualmente, os seus limites, os seus contornos, são os que a lei dá... Na realidade, quer dizer – 
quando se lançam na vida, quando se exercitam – têm de coexistir, têm de conformar - se uns com os outros. 
O instituto do abuso de direito traz a premissa da relativização dos direitos, visando evitar o exercı́cio abusivo dos mesmos pelos seus titulares, com escopo de garantir o bem- estar 
das relações jurı́dicas na sociedade. Logo, todo aquele que excede os parâmetros da boa - fé objetiva, dos bons costumes e a ϐinalidade social ou econômica dos direito ou prerrogativa 
deve ter sua conduta repelida pelo Direito, já que o exercı́cio absoluto de um direito causa um desequilı́brio nos valores ético- sociais, que fundamentam a vida em sociedade. 
  
EXCLUDENTES DE ILICITUDE 
O art. 188 do Código Civil prevê três causas de exclusão de ilicitude, que não acarretam no dever de indenizar:  
  
A) legı́tima defesa,  
B) exercı́cio regular de direito reconhecido, e 
C)  estado de necessidade 
  
A - LEGIƵTIMA DEFESA CIVIL 
  
Entende -se como legı́tima defesa a repulsa necessária para repelir uma injusta agressão, sendo ela atual, defendendo interesse próprio ou de terceiro.  
EƵ ela eminente, pois, no momento em que se produz o ataque, acha-se o indivı́duo abandonado às suas próprias forças. Será neste momento em que o indivı́duo terá que decidir se irá 
sofrer o mal ou irá interferi - lo, repelindo a agressão injusta, surgindo assim à legı́tima defesa.  
Sua fundamentação é considerada como de maior importância para decidir se aquela reação é lı́cita ou se constitui uma causa de justiϐicação ou uma causa de desculpa.  
A nossa recente doutrina jurisprudencial vem considerando que o fundamento da legı́tima defesa surge de uma situação real de necessidade defensiva dos bens jurı́dicos que 
naturalmente falta quando não existe realmente agressão ilegı́tima e, portanto, os bens não correm risco algum, embora o indivı́duo se tenha imaginado erroneamente o contrário.  
Só enquanto existir o perigo tem vigência o estado de defesa, e a necessidade da mesma. Deste modo, quando se defende, ou defende a outro, contra uma injusta agressão está 
impedindo ao próprio tempo que se despreze o ordenamento jurı́dico, que se falte ao respeito que as leis impõem à pessoa e direitos alheios. Essa situação supõe que o Estado não 
impediu ou não pode impedir que a agressão injusta se realize. O indivı́duo realiza uma função que em princı́pio competiria ao Estado. 
Uma análise minuciosa do ordenamento civilista permite -se apontar com clareza cinco hipóteses especı́ϐicas, em que a lei autoriza a pessoa que teve seu direito violado a utilizar- se 
dos seus próprios meios para por ϐim a lesão perpetrada são os seguintes: o embargo extrajudicial na Ação de Nunciação de Obra Nova, o Direito de Retenção, o Penhor Legal, a 
Legítima Defesa da Posse e o Desforço Imediato.  
  
Embargo Extrajudicial na Ação de Nunciação de Obra Nova – o objetivo dessa ação é coibir o abuso praticado pela construção de obra nova que de alguma forma acarrete ao vizinho 
desta algum prejuı́zo, encontrando, pois, assenti no direito de vizinhança. O legislador prevendo que em determinadas situações à demora do judiciário poderia tornar irreversı́vel o 
dano causado pela obra, podendo embargá - la extrajudicialmente através de notiϐicação verbal ao responsável pela obra, acompanhado de (02) duas testemunhas, para que determine 
sua imediata paralisação. Deverá, ainda, o embargante, ratiϐicar em juı́zo o pedido extrajudicial no prazo de 03 (três) dias para que o judiciário se pronuncie sobre o embargo 
realizada. 
  
Direito de Retenção  - conceituado por Carlos Roberto Gonçalves como “... um meio de defesa outorgado ao credor, a quem é reconhecida a faculdade continuar a deter coisa alheia, 
mantendo -a em seu poder até ser indenizado pelo deu crédito...” segue o autor para concluir “... trata-se, na realidade, de meio coercitivo de pagamento sendo uma modalidade da 
“exceptio non adimpleti contractus” transportada para o momento da execução, privilegiando o retentor porque esteve de boa - fé...”.  Assim, é lı́cito ao credor de boa - fé, pelos seus 
próprios meios, manter -se na posse de coisa alheia até que lhe seja adimplida a obrigação, excluindo -se do judiciário a possibilidade de atribuir direito de retenção, cabendo - lhe tão 
somente dizer se o “jus retentionis” exercido é justo ou não.  
Ainda tratando sobre o direito de retenção, importante dizer que os casos em que se admite esta forma de legı́tima defesa de direito próprio estão expressamente previstos na 
legislação civil e, também, na comercial.  
  
Penhor Legal - a inspiração do legislador foi no sentido de proteger determinadas pessoas, em certas situações, de forma a garantir- lhes o resgate dos seus créditos. Autoriza - se, pois, 
o credor pignoratı́cio legal, havendo fundado receio de que o perigo da demora possa acarretar o não cumprimento da obrigação, independentemente de prévia ida ao judiciário, ao 
apossamento de determinados bens para que sobre eles possa constituir sua garantia real. Exemplificando, pode- se citar o caso dos fornecedores de pousada ou alimento sobre as 
bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que seus consumidores tiverem consigo nos respectivos estabelecimentos.Cumpre somente ressaltar que a constituição do penhor não se dá 
com apreensão dos objetos pelo credor, ma sim com a homologação judicial que deverá ser requerida logo após aquela.  
  
Legı́tima Defesa da Posse e do Desforço Imediato - estão intimamente ligados a questão da proteção possessória.  
Legı́tima Defesa da Posse refere -se exclusivamente a hipótese em que o possuidor é turbado em sua posse autorizando -lhe o ordenamento que se utilize deste meio de defesa direta 
reagindo imediatamente contra a turbação sofrida. Trata -se de situação jurı́dica disciplinada pela legislação e, depende da observância de alguns requisitos, a saber: que o defensor 
seja possuidor a qualquer tı́tulo, a ocorrência de turbação injusta, efetiva e atual e que haja proporcionalidade na reação apresentada. Desta forma, observados os requisitos legais o 
possuidor turbado não sofrerá qualquer sanção por ter se valido deste meio de defesa. Se, porém, não cumprir os requisitos exigidos pelo legislador, como por exemplo, no caso de 
atuação com excesso de violência responderá pela desproporcionalidade veriϐicada.  
  
Quanto ao Desforço Imediato, sua aplicabilidade restringe-se as situações em que a posse tenha sido esbulhada, permitindo - se ao prejudicado restituir-se na condição de possuidor, 
por suas próprias forças, desde que o faça logo. Como na hipótese acima da legı́tima defesa da posse, a utilização do Desforço Imediato pelo possuidor esbulhado também está 
adstrita a observância de certos requisitos, quais sejam: que a reação se faça logo que lhe seja possı́vel agir e que se limite ao estritamente necessário para a retomada da posse 
perdida. Mais uma vez, como na hipótese anterior, a inobservância dos requisitos legais acarretará a responsabilidade do possuidor esbulhado pelos danos causados.  
  
A toda evidência, muito embora sejam institutos similares, a legı́tima defesa da posse e o desforço imediato, como se denota da exposição alhures realizada, são espécies de defesa 
direta distintas. A primeira somente encontra espaço enquanto perdurar a turbação, vale dizer, durante todo o momento em que o possuidor efetivamente se encontrar na posse da 
coisa. Já no que concerne ao segundo sua aplicabilidade está restrita aos casos em que o possuidor já tendo pedido a posse da coisa, consegue reagir, em seguida, e providenciar a sua 
retomada. 
  
B) EXERCIƵCIO REGULAR DE DIREITO RECONHECIDO 
  
O regular exercı́cio de um direito reconhecido é excludente de ilicitude, tornando inexistente o nexo causal. Age no exercı́cio regular de direito a instituição bancária que cobra tarifas 
para manutenção de conta. 
  
C - ESTADO DE NECESSIDADE 
  
Embora, esteja com previsão expressa no dispositivo do artigo 188, inciso II, e parágrafo único, do Código Civil, onde: 
Não constituem atos ilı́citos:  
[...] 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a ϐim de remover perigo iminente.  
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legı́timo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do 
indispensável para a remoção do perigo. (grifos nossos) 
E ainda, assinale justiϐicativa indefensável na ressalva prevista no artigo 1.691 do mesmo diploma legal, em que: - “salvo por necessidade ou evidente interesse da prole, 
mediante prévia autorização do juiz”. 
  
Ainda assim, o Estado de Necessidade no Direito brasileiro, é comumente relacionado tão-somente ao Direito Penal, e, por vezes, chega a ser ignorada sua invocação em âmbito Civil. 
Decerto, o conceito jurı́dico de Estado de Necessidade nos é dado pelos doutrinadores penalistas, o que não signiϐica dizer que sua efetividade e eϐicácia civil sejam de somenos 
importância. Todavia, não devemos nos olvidar que “Estado de Necessidade ” retrata “situação” ou “condição” em que se encontra um indivı́duo que sob inϐluência de estı́mulos e 
motivação, procede a uma avaliação estritamente psicológica relativa a carência experiencial que circunstancialmente enfrenta, procurando evidentemente supri -la. 
A necessidade revela o que é imprescindı́vel em qualquer sentido; a necessidade prevista no artigo 188 do Novo Código Civil pode traduzir-se em três aspectos gradativos: Caso de 
Necessidade; Caso de Extrema Necessidade e Caso de Necessidade Comum. Tendo cada um destes aspectos porção valorativa diferenciada, talvez, a mensuração esteja atrelada à 
proporção da coação exercida pelo perigo iminente vivenciado e experimentado por quem pratica o ato necessário. Lembrando que,  “perigo ” é o elemento chave de uma circunstância 
que prenuncia um mal para alguém ou para alguma coisa, ainda que putativo. E, de tal modo, temos que: a necessidade, pura e simplesmente, respeitadas as devidas proporções, é por 
si só suϐiciente autorizante para permitir inobservância de preceitos positivos da lei natural, penal ou civil. 
  
CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR E CULPA EXCLUSIVA DA VIƵTIMA: 
  
Existem algumas excludentes de ilicitude, tais como o caso fortuito, força maior e a culpa exclusiva da vı́tima. O caso fortuito e a força maior incidem sobre o nexo de causalidade 
entre o dano e a conduta do agente, vez que se trata de fato inevitável ou imprevisı́vel, o que corrobora a ausência de obrigação do agente em responder civilmente pelos danos 
causados a terceiros, já que não deu causa ao resultado. O fundamento da excludente de ilicitude constituı́da da culpa exclusiva d vı́tima é simples, posto que ninguém pode 
responder por atos a que não tenha dado causa.  
  
De outro lado, parte da doutrina pátria entende que o agente não será obrigado a reparar o dano se comprovar haver adotado todas as medidas legais e idôneas para evitá -lo. 
Neste sentido é o entendimento do ilustre jurista SILVIO RODRIGUES , que assevera que “ o texto legal é justiϐicadamente tı́mido, pois a responsabilidade só emergirá se o risco criado 
for grande e não houver o agente causador do dano tornado as medidas tecnicamente adequadas para preveni-lo”. RONALDO BRETAS DE CARVALHO DIAS   afirma que 
“uma vez deϐinida perigosa, em concreto, a atividade, responde aquele que a exerce, pelo risco, ϐicando a vı́tima obrigada apenas à prova do nexo causal, exonerando- se o autor do 
dano se comprovar que adotou todas as medidas idôneas ou preventivas e tecnicamente adequadas para evita -lo, ou que o resultado decorreu de caso fortuito.” 
  
RESPONSABILIDADE CIVIL – NOÇOǂES  
  
A regra geral do Código Civil em vigor é a da responsabilidade civil subjetiva, nos termos dos artigos 186 e 927, caput, fundada na teoria da culpa, com correspondência no artigo 159 
do Código Civil de 1916.  
  
Ocorre, que o Código Civil de 2002 inovou ao estabelecer uma verdadeira cláusula geral ou aberta de responsabilidade objetiva, reϐlexo dos princı́pios basilares da eticidade e 
socialidade. 
Neste aspecto há importante inovação no CCB, presente no parágrafo único do artigo 927, que determina a aplicação da responsabilidade objetiva nos casos descritos em lei, bem 
como “quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” 
Com base no referido dispositivo o magistrado poderá deϐinir como objetiva, ou seja, independente de culpa, a responsabilidade do causador do dano no caso concreto. Esse 
alargamento da noção de responsabilidade constitui, na verdade, a maior inovação do novo código em matéria de responsabilidade e requererá, sem dúvida, um cuidado extremo da 
nova jurisprudência. Nesse preceito há, inclusive, implicações de caráter processual que devem ser dirimidas, mormente se a responsabilidade objetiva é deϐinida somente no 
processo já em curso.  
Em sı́ntese, cuida -se de responsabilidade sem culpa, em inúmeras situações nas quais sua comprovação inviabiliza a indenização para a parte presumivelmente mais vulnerável.  
De outrolado, a responsabilidade civil objetiva no Código Civil vigente implica na ampliação dos casos de dano indenizável, o que causa preocupação, haja vista que determinadas 
atividades ou situações estariam vistas sob a ótica da teoria do risco criado, o que acarreta o problema do aumento considerável do número de ações indenizatórias ajuizadas.  
Há que se lembrar que a vida moderna oferece riscos, daı́, porque a regra da responsabilidade civil objetiva deve ser vista com mais reservas. Deste modo, somente se aquele que 
desempenha a atividade de risco não agir com as cautelas normais de segurança é que se poderia concluir pela aplicação da responsabilidade civil objetiva.  
Assim, caberá ao julgador analisar todas as condições e circunstancias que envolvem o caso submetido a julgamento, de modo a veriϐicar se o agente causador avaliou o risco e 
tomou as medidas a fim de evitar o   dano. 
Ademais, é patente que a responsabilidade civil é matéria viva e dinâmica na jurisprudência, sendo certo que a cada momento estão sendo criadas novas teses jurı́dicas em 
decorrência das necessidades sociais. 
Portanto, tanto em relação à deϐinição da responsabilidade objetiva no caso concreto, quanto à delimitação e a forma de aplicação da teoria do risco criado, serão construı́dos 
entendimento doutrinário e jurisprudencial, em que serão dirimidas eventuais controvérsias decorrentes da interpretação do texto legal.  
  
  
 
[1] In Abuso do Direito e Má-fé Processual, Editora Saraiva, 2ªedição, 2003, p. 56 e 57. 
[2] MOREIRA, José Carlos Barbosa. Novo Código Civil – Doutrinas (VII): Abuso do Direito. Revista Síntese De Direito Civil e Processual Civil, n º 26 nov-dez 2003. Editora Síntese 
  
Nome do livro: Curso de Direito Civil vol.1 Parte Geral - ISBN - EAN-13: 9788530927929 
Nome do autor: NADER, Paulo 
Editora: Forense 
Ano: 2009. 
Edição: 6a 
Nome do capítulo: Ato Ilícito 
N. de páginas do capítulo : 17 
Aplicação Prática Teórica 
Os conhecimentos apreendidos serão de fundamental importância para a reϐlexão teórica envolvendo a compreensão necessária de que o direito, para ser entendido e estudado 
enquanto fenômeno cultural e humano, precisa ser tomado enquanto sistema disciplinador de relações de poder, a partir da metodologia utilizada em sala com a aplicação dos casos 
concretos, a saber: 
  
___ CASO CONCRETO 1 
Antônio viajava à noite, em seu automóvel, para a sua cidade natal, pela rodovia privatizada e administrada pela concessionária  “CLX”, quando, repentinamente, 
surgiu à sua frente um cavalo na pista. Não conseguindo desviar do animal, Antônio o atropelou e o automóvel saiu da pista, chocando -se contra uma árvore e ϐicando 
completamente destruído. Antônio saiu ileso do acidente.  
O dono do animal ainda não foi identiϐicado porque o cavalo não tinha marca e porque há diversos sítios e pequenas propriedades rurais na região. Antônio quer 
saber se cabe ação indenizatória e, se couber, contra quem deverá ser proposta. Além disso, quer saber também quais os danos que podem ser objeto dessa eventual 
indenização. Responda a essas questões, justiϐicando as respostas. 
  
  
CASO CONCRETO 2 
  
Antônio, menor de 16 anos, dirigindo o carro do pai, atropela e fere Josevaldo gravemente. A vítima, completamente embriagada, atravessou a rua inesperadamente. 
Pretende ser indenizada por danos materiais e morais, pelo que propõe ação contra Célio,  pai de Antônio. 
Procede o pedido? Responda de forma fundamentada. 
  
  
  
CASO CONCRETO 3 
  
Vera comprou à vista uma mansão no Condomínio FLAMBOYANT, em bairro nobre de sua cidade, por R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). Para 
comemorar, convidou todos os seus amigos e fez uma grande festa, que começou às 13h  e estava prevista para durar  até às 10h da manhã do outro dia. ROGÉRIO, seu 
vizinho, chamou a polícia alegando que som estava muito alto, e, também que estaria havendo perturbação ao sossego, pois já eram 3h da madrugada.  
  
A polícia chegou ao local e Vera falou aos policiais que não abaixaria o som e continuaria a festa, pois, é a legítima proprietária do bem. 
  
PERGUNTA-SE: 
  
A quem assistirá razão? Faça a devida análise crítica e aponte os motivos e fundamentos da sua resposta.  
  
  
CASO CONCRETO 4 
  
Rafael e Sueli pleiteiam a anulação de conϐissão de dívida no montante de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), por eles ϐirmada em favor de Cirlei. Aϐirmam que Rafael 
trabalhava como empregado no sítio de Cirlei, na cidade de Guaratinguetá, e que no dia 24/05/2004, dirigia o carro do patrão quando ocorreu o acidente. Alegam que 
no dia seguinte ao acidente Cirlei pediu que assinassem o documento intitulado de “DECLARAÇÃO DE CONDUTA E CONFISSÃO DE DÍVIDA", no qual Rafael reconhece a 
sua responsabilidade pelo evento danoso e, juntamente com sua mãe, se compromete a pagar a Cirlei a quantia de R$ 15.000,00 para o ressarcimento dos prejuízos. 
Mencionam que no dia seguinte aos fatos, no “calor” dos acontecimentos não pensaram e assinaram o documento, sem, no entanto, possuírem recursos para arcar com 
o valor descrito. 
  
  
Pergunta-se: 
  
1)     Houve na hipótese o vício da coação? Esclareça. 
2)     A conϐissão de dívida acima mencionada pode ser considerada um ato jurídico stricto sensu ou representa um abuso de direito. Fundamente sua resposta. 
  
  
CASO CONCRETO 5 
  
Para desviar de criança que atravessa inopinadamente a rua, no semáforo vermelho, e fora da faixa de pedestres, Fernanda, que trafegava prudentemente, é 
obrigada a lançar seu automóvel em cima da papelaria de Pedro, quebrando toda a vitrine e causando um prejuízo de R$ 4.000,00  (quatro mil reais). A criança não foi 
atingida e saiu correndo depois do acidente, não sendo mais encontrada nem por Fernanda, nem por Pedro. 
Pergunta-se: 
1)     Nesse caso, ocorreu ato ilícito? Justiϐique: 
2)     Há dever de indenizar? Em caso positivo de quem? 
  
  
  
QUESTÕES OBJETIVAS 
  
1. Na responsabilidade civil, a indenização por dano moral  
(A) é sempre dependente da comprovação do dano material.  
(B) pode ser cumulada com a indenização por dano material.  
(C) prescinde da comprovação do dano material, mas com este é inacumulável.  
(D) exige prévia condenação do causador do dano em processo criminal.  
(E) não pode ser superior à indenização por dano material.  
  
2. É correto aϐirmar-se que, de acordo com o Código Civil atualmente em vigor: 
a)           Comete ato ilı́cito aquele que, mesmo atuando com omissão, não causa danos de qualquer espécie a outrem.  
b)            Comete ato ilı́cito aquele que causa danos a outrem, ainda que não tenha havido, de sua parte, ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência. 
c)           Comete ato ilı́cito aquele que, ao exercer um direito do qual é titular, excede manifestamente os limites impostos pelo ϐim social desse direito. 
d)           Não comete ato ilı́cito aquele que, ao exercer um direito do qual é titular, excede os limites da boa - fé.  
e)            Todas as alternativas são incorretas. 
  
Plano de Aula: DIREITO CIVIL I
DIREITO CIVIL I 
Estácio de Sá Página 1 / 4
Título 
DIREITO CIVIL I 
Número de Aulas por Semana 
 
Número de Semana de Aula 
15 
Tema 
ATOS ILÍCITOS E RESPONSABILIDADE CIVIL 
Objetivos 
·        Conceituar os atos ilícitos na esfera cível. 
·        Reconhecer as espécies, elementos e as distinções de atos ilícitos.  
·        Dissertar e analisar a teoria do abuso de direito. 
·        Apresentar noções gerais de responsabilidade civil. 
Estrutura do Conteúdo 
1. ATOS ILÍCITOS E RESPONSABILIDADE CIVIL   
1. 1 Conceito, espécies e distinções necessárias, generalidades e elementos. 
1.2  Abuso de Direito. 
1.3 Excludentes de ilicitude. 
1.4 Responsabilidade Civil - noções gerais. 
ATOS ILIƵCITOS E RESPONSBILIDADE CIVIL 
  
  
São atos que vão contra o ordenamento jurı́dico, lesando o direito subjetivo de alguém. Para que se conϐigure o ato ilı́citoé mister que haja um dano moral ou material à vı́tima, uma 
conduta culposa, por parte do autor e um nexo causal entre o dano conϐigurado e a conduta ilı́cita. 
Ilı́cito civil gera uma obrigação indenizatória pelos danos efetivos e, em alguns casos, pelo que a vı́tima deixou de lucrar com o dano provocado. 
Tal obrigação decorre da responsabilidade civil, que é a possibilidade jurı́dica que determinada pessoa tem de responder pelos seus atos, sejam eles lı ́citos ou não. A 
responsabilidade pode ser direta (responder pelos próprios atos) ou indireta (responder por atos de terceiros). 
O conceito de ato ilı́cito é de suma importância para a responsabilidade civil, vez que este faz nascer a obrigação de reparar o dano. O ilı́cito repercute na esfera do Direito 
produzindo efeitos jurı́dicos não pretendidos pelo agente, mas impostos pelo ordenamento. Em vez de direitos, criam deveres. A primeira das conseqüências que decorrem do ato 
ilı́cito é o dever de reparar. Mas não se faz única, eis que, dentre outras, este pode dar causa para a invalidade ou cassação do ato, por exemplo.  
No campo do direito, o ilı́cito alça -se à altura de categoria jurı́dica e, como entidade, é revestida de unidade ôntica, diversiϐicada em penal, civil, administrativa, apenas para efeitos de 
integração, neste ou naquele ramo, evidenciando -se a diferença quantitativa ou de grau, não a diferença qualitativa ou de substância.  
E o princı́pio que obriga o autor do ato ilı́cito a se responsabilizar pelo prejuı́zo que causou, indenizando -o, é de ordem pública, ressalta a renomada Maria Helena Diniz.  
A deϐinição de ato ilı́cito aϐirmada pela plêiade de renomados doutrinadores a seguir mencionados salienta diferença apenas no estilo pessoal de cada deles expor.  Vejam-se a seguir: 
“Ato ilı́cito é, portanto, o que praticado sem direito, causa dano a outrem.” (Clovis Bevilaqua) 
“Que é ato ilı́cito? Em sentido restrito, ato ilı́cito é todo fato que, não sendo fundado em Direito, cause dano a outrem” (Carvalho de Mendonça)   
“Ato ilı́cito, é, assim, a ação ou omissão culposa com a qual se infringe, direta e imediatamente, um preceito jurı́dico do direito privado, causando- se dano a outrem ”  (Orlando 
Gomes). 
“... ato ilı ́cito é o procedimento, comissivo (ação) ou omissivo (omissão, ou abstenção), desconforme à ordem jurı́dica, que causa lesão a outrem, de cunho moral ou 
patrimonial.” (Carlos Alberto Bittar) 
“O caráter antijurı́dico da conduta e o seu resultado danoso constituem o perϐil do ato ilı́cito.” (Caio Mario da Silva Pereira) 
“O ato ilı́cito é o praticado culposamente em desacordo com a norma jurı́dica, destinada a proteger interesses alheios; é o que viola direito subjetivo individual, causando prejuı́zo a 
outrem, criando o dever de reparar tal lesão.” (Maria Helena Diniz) 
 “Ato ilı́cito. Ação ou omissão contrária à lei, da qual resulta danos a outrem.” (Marcus Cláudio Acquaviva) 
A diferença fundamental entre os ilı́citos reside na aplicação do sistema sancionatório, pois o direito penal pode afetar a liberdade da pessoa do infrator, como o direito de ir e vir, 
enquanto que o âmbito civil irá atingir sua esfera pessoal, sua subjetividade, mas preferencialmente o seu patrimônio.  
O fato é que o comportamento contrário à norma tipiϐica uma ilicitude. Concluı́mos que o ilı́cito civil é transgressão do dever jurı́dico quer seja legal, quer seja negocial.  
Na esfera criminal, os ilı́citos podem ser deϐinidos como crimes ou contravenções e, ao puni-los, faz-se aplicação de sanções mais graves chamadas penas. Mas esses mesmos atos, 
enquanto envolvam a violação de interesses de pessoas singularmente consideradas, pertencem também ao direito civil.  
Assim o ato ilı́cito pressupõe sempre uma relação jurı́dica originária lesada e a sua conseqüência é uma responsabilidade, ou seja, o dever de indenizar ou ressarcir o dano causado 
pelo inadimplemento do dever jurı́dico existente na relação jurı́dica originária.  
  
  
ABUSO DE DIREITO 
A Teoria do Abuso de Direito foi construı́da sob a simples ilação “o meu direito termina quando começa o do outro”. Superando o ideal burguês de aϐirmação das liberdades públicas, 
em que se ediϐicaram direitos subjetivos absolutos, intangı́veis, os imperativos da convivência em sociedade inspiraram a moral hodierna a exigir a relativização dos interesses. Do 
individualismo ao socialismo. 
Sobre o tema, é a lição de Pontes de Miranda, lembrada por Rui Stoco[1]: “Quando o legislador percebe que o contorno de um direito é demasiado, ou que a força, ou intensidade, com 
que se exerce é nociva, ou perigosa a extensão em que se lança, concebe as regras jurı́dicas que o limitem, que lhe ponham menos avançados os marcos, que lhe tirem um pouco da 
violência ou do espaço que conquista.” 
No Direito Brasileiro, a teoria do abuso de direito não fora consagrada expressamente no Código Civil de 1916. Este apenas mencionava no art.160, I quando proibia a prática de atos 
irregulares. O legislador de 1916 não fez distinção entre ato ilı́cito e ato abusivo, equiparando os dois institutos.  
Como sua construção se deu através da jurisprudência, diante de análise de casos concretos, que não encontravam solução satisfatória na doutrina dos atos ilı́citos, o que acarretou 
uma controvérsia no cerne do conceito, no que diz respeito aos critérios de aferição da abusividade. Tem -se usado o princı́pio da boa - fé objetiva como parâmetro para limitar o 
exercı́cio de um direito, logo o dever de não abusar reϐlete na observância dos valores sociais, como a boa- fé, os bons costumes e a destinação social ou econômica do direito. 
A positivação da teoria do abuso de direito, no ordenamento brasileiro, ocorre com o advento do Novo Código Civil em 2002, no artigo 187, que traz limites éticos ao exercı́cio dos 
direitos subjetivos e de outras prerrogativas individuais, impondo ao titular do direito a observância dos princı́pios da boa - fé e a ϐinalidade social ou econômica do direito. O 
Diploma Civil pátrio inseriu a teoria do abuso de direito no capitulo dos atos ilı́citos. Sendo assim, tornam - se confusos seus contornos e enseja a responsabilidade subjetiva – 
fundada na culpa, oposto ao fundamento da aplicação da teoria, que exige que a aferição de abusividade no exercı́cio de um direito seja objetiva, declarada no confronto entre o 
praticado e os valores tutelados no ordenamento constitucional e civil. 
O art. 187 do Novo Código Civil /2002 e a tese do abuso do direito. 
O art. 187 do NCC teve sua redação inspirada no Direito Civil Português que preceitua no seu art. 334, "é ilegı́timo o exercı́cio de um direito quando o titular exceda manifestadamente 
os limites impostos pela boa- fé, pelos bons costumes ou pelo ϐim social ou econômico desse direito". Ao comparar as redações dos dispositivos brasileiro e português, percebe- se 
apenas uma alteração na ordem das expressões, o dispositivo brasileiro expõe da seguinte maneira: "Também comete o ato ilı́cito o titular de um direito que, ao exercê -lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu ϐim econômico ou social, pela boa- fé ou pelos bons costumes". 
A tese do abuso de direito, no ordenamento brasileiro, é expressa no tı́tulo dos atos ilı́citos, sendo necessário aqui conceituar o que seja este tipo de ato: que é a conduta voluntária, 
comissiva ou omissiva, negligente ou imprudente, que viola direitos e causa prejuı́zos a terceiros, 
Extrai-se de imediato uma ilação: a que entre nós o abuso de direito está, de lege data, equiparado ao ato ilı́cito. Semelhante equiparação, já se registrou, não é paciϐica na doutrina. E, 
na verdade, parece razoável, do ponto de vista teórico, o entendimento que distingue as duas ϐiguras. Uma é a situação de quem, sem poder de invocar a titularidade de direito algum, 
simplesmente viola direito alheio. Outra situação é a daquele que, sendo titular deum direito, irregularmente o exerce[2]. 
Apesar de se encontrar consagrado no capı́tulo dos atos ilı́citos, a estes não se equipara, pelos seguintes fundamentos: o abuso de direito é caracterizado por um exercı́cio que 
aparentemente é regular, mas desrespeita a ϐinalidade do direito, enquanto no ato ilı́cito há um vı́cio na estrutura formal de um direito. Os dois institutos se assemelham, porém não 
se confundem por terem efeitos idênticos, 
O ilı́cito, sendo resultante da violação de limites formais, pressupõe a existência de concretas proibições normativas, ou seja, é a própria lei que ira ϐixar limites para o exercı́cio do 
direito. No abuso não há limites deϐinidos e ϐixados aprioristicamente, pois estes serão dados pelos princı́pios que regem o ordenamento os quais contêm seus valores fundamentais. 
(HELENA CARPENA, 2003, p.382) 
A caracterização do ato ilı́cito é direta e mais evidente, logo que há uma norma jurı́dica tipiϐicando uma conduta, enquanto no abuso se constatará a partir do momento que houver 
uma desconformidade entre a conduta e o ϐim que a lei impõe. 
Com esta teoria, pretende -se assegurar o interesse coletivo nas relações interpessoais, pautando o interesse individual nos pressupostos ético- sociais tais como a boa- fé, os bons 
costumes e a função social -econômica que cada direito resguarda, 
O estudo do abuso de direito é a pesquisa dos encontros, dos ferimentos, que os direitos se fazem. Se pudessem ser exercidos sem outros limites que os da lei escrita, com 
indiferenças, se não desprezo, da missão social das relações jurı́dicas, os absolutistas teriam razão. Mas a despeito da intransigência deles, fruto da crença a que se aludiu, a vida 
sempre obrigou a que os direitos se adaptassem entre si, no plano do exercı́cio. Conceptualmente, os seus limites, os seus contornos, são os que a lei dá... Na realidade, quer dizer – 
quando se lançam na vida, quando se exercitam – têm de coexistir, têm de conformar - se uns com os outros. 
O instituto do abuso de direito traz a premissa da relativização dos direitos, visando evitar o exercı́cio abusivo dos mesmos pelos seus titulares, com escopo de garantir o bem- estar 
das relações jurı́dicas na sociedade. Logo, todo aquele que excede os parâmetros da boa - fé objetiva, dos bons costumes e a ϐinalidade social ou econômica dos direito ou prerrogativa 
deve ter sua conduta repelida pelo Direito, já que o exercı́cio absoluto de um direito causa um desequilı́brio nos valores ético- sociais, que fundamentam a vida em sociedade. 
  
EXCLUDENTES DE ILICITUDE 
O art. 188 do Código Civil prevê três causas de exclusão de ilicitude, que não acarretam no dever de indenizar:  
  
A) legı́tima defesa,  
B) exercı́cio regular de direito reconhecido, e 
C)  estado de necessidade 
  
A - LEGIƵTIMA DEFESA CIVIL 
  
Entende -se como legı́tima defesa a repulsa necessária para repelir uma injusta agressão, sendo ela atual, defendendo interesse próprio ou de terceiro.  
EƵ ela eminente, pois, no momento em que se produz o ataque, acha-se o indivı́duo abandonado às suas próprias forças. Será neste momento em que o indivı́duo terá que decidir se irá 
sofrer o mal ou irá interferi - lo, repelindo a agressão injusta, surgindo assim à legı́tima defesa.  
Sua fundamentação é considerada como de maior importância para decidir se aquela reação é lı́cita ou se constitui uma causa de justiϐicação ou uma causa de desculpa.  
A nossa recente doutrina jurisprudencial vem considerando que o fundamento da legı́tima defesa surge de uma situação real de necessidade defensiva dos bens jurı́dicos que 
naturalmente falta quando não existe realmente agressão ilegı́tima e, portanto, os bens não correm risco algum, embora o indivı́duo se tenha imaginado erroneamente o contrário.  
Só enquanto existir o perigo tem vigência o estado de defesa, e a necessidade da mesma. Deste modo, quando se defende, ou defende a outro, contra uma injusta agressão está 
impedindo ao próprio tempo que se despreze o ordenamento jurı́dico, que se falte ao respeito que as leis impõem à pessoa e direitos alheios. Essa situação supõe que o Estado não 
impediu ou não pode impedir que a agressão injusta se realize. O indivı́duo realiza uma função que em princı́pio competiria ao Estado. 
Uma análise minuciosa do ordenamento civilista permite -se apontar com clareza cinco hipóteses especı́ϐicas, em que a lei autoriza a pessoa que teve seu direito violado a utilizar- se 
dos seus próprios meios para por ϐim a lesão perpetrada são os seguintes: o embargo extrajudicial na Ação de Nunciação de Obra Nova, o Direito de Retenção, o Penhor Legal, a 
Legítima Defesa da Posse e o Desforço Imediato.  
  
Embargo Extrajudicial na Ação de Nunciação de Obra Nova – o objetivo dessa ação é coibir o abuso praticado pela construção de obra nova que de alguma forma acarrete ao vizinho 
desta algum prejuı́zo, encontrando, pois, assenti no direito de vizinhança. O legislador prevendo que em determinadas situações à demora do judiciário poderia tornar irreversı́vel o 
dano causado pela obra, podendo embargá - la extrajudicialmente através de notiϐicação verbal ao responsável pela obra, acompanhado de (02) duas testemunhas, para que determine 
sua imediata paralisação. Deverá, ainda, o embargante, ratiϐicar em juı́zo o pedido extrajudicial no prazo de 03 (três) dias para que o judiciário se pronuncie sobre o embargo 
realizada. 
  
Direito de Retenção  - conceituado por Carlos Roberto Gonçalves como “... um meio de defesa outorgado ao credor, a quem é reconhecida a faculdade continuar a deter coisa alheia, 
mantendo -a em seu poder até ser indenizado pelo deu crédito...” segue o autor para concluir “... trata-se, na realidade, de meio coercitivo de pagamento sendo uma modalidade da 
“exceptio non adimpleti contractus” transportada para o momento da execução, privilegiando o retentor porque esteve de boa - fé...”.  Assim, é lı́cito ao credor de boa - fé, pelos seus 
próprios meios, manter -se na posse de coisa alheia até que lhe seja adimplida a obrigação, excluindo -se do judiciário a possibilidade de atribuir direito de retenção, cabendo - lhe tão 
somente dizer se o “jus retentionis” exercido é justo ou não.  
Ainda tratando sobre o direito de retenção, importante dizer que os casos em que se admite esta forma de legı́tima defesa de direito próprio estão expressamente previstos na 
legislação civil e, também, na comercial.  
  
Penhor Legal - a inspiração do legislador foi no sentido de proteger determinadas pessoas, em certas situações, de forma a garantir- lhes o resgate dos seus créditos. Autoriza - se, pois, 
o credor pignoratı́cio legal, havendo fundado receio de que o perigo da demora possa acarretar o não cumprimento da obrigação, independentemente de prévia ida ao judiciário, ao 
apossamento de determinados bens para que sobre eles possa constituir sua garantia real. Exemplificando, pode- se citar o caso dos fornecedores de pousada ou alimento sobre as 
bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que seus consumidores tiverem consigo nos respectivos estabelecimentos. Cumpre somente ressaltar que a constituição do penhor não se dá 
com apreensão dos objetos pelo credor, ma sim com a homologação judicial que deverá ser requerida logo após aquela.  
  
Legı́tima Defesa da Posse e do Desforço Imediato - estão intimamente ligados a questão da proteção possessória.  
Legı́tima Defesa da Posse refere -se exclusivamente a hipótese em que o possuidor é turbado em sua posse autorizando -lhe o ordenamento que se utilize deste meio de defesa direta 
reagindo imediatamente contra a turbação sofrida. Trata -se de situação jurı́dica disciplinada pela legislação e, depende da observância de alguns requisitos, a saber: que o defensor 
seja possuidor a qualquer tı́tulo, a ocorrência de turbação injusta, efetiva e atual e que haja proporcionalidade na reação apresentada. Destaforma, observados os requisitos legais o 
possuidor turbado não sofrerá qualquer sanção por ter se valido deste meio de defesa. Se, porém, não cumprir os requisitos exigidos pelo legislador, como por exemplo, no caso de 
atuação com excesso de violência responderá pela desproporcionalidade veriϐicada.  
  
Quanto ao Desforço Imediato, sua aplicabilidade restringe-se as situações em que a posse tenha sido esbulhada, permitindo - se ao prejudicado restituir-se na condição de possuidor, 
por suas próprias forças, desde que o faça logo. Como na hipótese acima da legı́tima defesa da posse, a utilização do Desforço Imediato pelo possuidor esbulhado também está 
adstrita a observância de certos requisitos, quais sejam: que a reação se faça logo que lhe seja possı́vel agir e que se limite ao estritamente necessário para a retomada da posse 
perdida. Mais uma vez, como na hipótese anterior, a inobservância dos requisitos legais acarretará a responsabilidade do possuidor esbulhado pelos danos causados.  
  
A toda evidência, muito embora sejam institutos similares, a legı́tima defesa da posse e o desforço imediato, como se denota da exposição alhures realizada, são espécies de defesa 
direta distintas. A primeira somente encontra espaço enquanto perdurar a turbação, vale dizer, durante todo o momento em que o possuidor efetivamente se encontrar na posse da 
coisa. Já no que concerne ao segundo sua aplicabilidade está restrita aos casos em que o possuidor já tendo pedido a posse da coisa, consegue reagir, em seguida, e providenciar a sua 
retomada. 
  
B) EXERCIƵCIO REGULAR DE DIREITO RECONHECIDO 
  
O regular exercı́cio de um direito reconhecido é excludente de ilicitude, tornando inexistente o nexo causal. Age no exercı́cio regular de direito a instituição bancária que cobra tarifas 
para manutenção de conta. 
  
C - ESTADO DE NECESSIDADE 
  
Embora, esteja com previsão expressa no dispositivo do artigo 188, inciso II, e parágrafo único, do Código Civil, onde: 
Não constituem atos ilı́citos:  
[...] 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a ϐim de remover perigo iminente.  
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legı́timo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do 
indispensável para a remoção do perigo. (grifos nossos) 
E ainda, assinale justiϐicativa indefensável na ressalva prevista no artigo 1.691 do mesmo diploma legal, em que: - “salvo por necessidade ou evidente interesse da prole, 
mediante prévia autorização do juiz”. 
  
Ainda assim, o Estado de Necessidade no Direito brasileiro, é comumente relacionado tão-somente ao Direito Penal, e, por vezes, chega a ser ignorada sua invocação em âmbito Civil. 
Decerto, o conceito jurı́dico de Estado de Necessidade nos é dado pelos doutrinadores penalistas, o que não signiϐica dizer que sua efetividade e eϐicácia civil sejam de somenos 
importância. Todavia, não devemos nos olvidar que “Estado de Necessidade ” retrata “situação” ou “condição” em que se encontra um indivı́duo que sob inϐluência de estı́mulos e 
motivação, procede a uma avaliação estritamente psicológica relativa a carência experiencial que circunstancialmente enfrenta, procurando evidentemente supri -la. 
A necessidade revela o que é imprescindı́vel em qualquer sentido; a necessidade prevista no artigo 188 do Novo Código Civil pode traduzir-se em três aspectos gradativos: Caso de 
Necessidade; Caso de Extrema Necessidade e Caso de Necessidade Comum. Tendo cada um destes aspectos porção valorativa diferenciada, talvez, a mensuração esteja atrelada à 
proporção da coação exercida pelo perigo iminente vivenciado e experimentado por quem pratica o ato necessário. Lembrando que,  “perigo ” é o elemento chave de uma circunstância 
que prenuncia um mal para alguém ou para alguma coisa, ainda que putativo. E, de tal modo, temos que: a necessidade, pura e simplesmente, respeitadas as devidas proporções, é por 
si só suϐiciente autorizante para permitir inobservância de preceitos positivos da lei natural, penal ou civil. 
  
CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR E CULPA EXCLUSIVA DA VIƵTIMA: 
  
Existem algumas excludentes de ilicitude, tais como o caso fortuito, força maior e a culpa exclusiva da vı́tima. O caso fortuito e a força maior incidem sobre o nexo de causalidade 
entre o dano e a conduta do agente, vez que se trata de fato inevitável ou imprevisı́vel, o que corrobora a ausência de obrigação do agente em responder civilmente pelos danos 
causados a terceiros, já que não deu causa ao resultado. O fundamento da excludente de ilicitude constituı́da da culpa exclusiva d vı́tima é simples, posto que ninguém pode 
responder por atos a que não tenha dado causa.  
  
De outro lado, parte da doutrina pátria entende que o agente não será obrigado a reparar o dano se comprovar haver adotado todas as medidas legais e idôneas para evitá -lo. 
Neste sentido é o entendimento do ilustre jurista SILVIO RODRIGUES , que assevera que “ o texto legal é justiϐicadamente tı́mido, pois a responsabilidade só emergirá se o risco criado 
for grande e não houver o agente causador do dano tornado as medidas tecnicamente adequadas para preveni-lo”. RONALDO BRETAS DE CARVALHO DIAS   afirma que 
“uma vez deϐinida perigosa, em concreto, a atividade, responde aquele que a exerce, pelo risco, ϐicando a vı́tima obrigada apenas à prova do nexo causal, exonerando- se o autor do 
dano se comprovar que adotou todas as medidas idôneas ou preventivas e tecnicamente adequadas para evita -lo, ou que o resultado decorreu de caso fortuito.” 
  
RESPONSABILIDADE CIVIL – NOÇOǂES  
  
A regra geral do Código Civil em vigor é a da responsabilidade civil subjetiva, nos termos dos artigos 186 e 927, caput, fundada na teoria da culpa, com correspondência no artigo 159 
do Código Civil de 1916.  
  
Ocorre, que o Código Civil de 2002 inovou ao estabelecer uma verdadeira cláusula geral ou aberta de responsabilidade objetiva, reϐlexo dos princı́pios basilares da eticidade e 
socialidade. 
Neste aspecto há importante inovação no CCB, presente no parágrafo único do artigo 927, que determina a aplicação da responsabilidade objetiva nos casos descritos em lei, bem 
como “quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” 
Com base no referido dispositivo o magistrado poderá deϐinir como objetiva, ou seja, independente de culpa, a responsabilidade do causador do dano no caso concreto. Esse 
alargamento da noção de responsabilidade constitui, na verdade, a maior inovação do novo código em matéria de responsabilidade e requererá, sem dúvida, um cuidado extremo da 
nova jurisprudência. Nesse preceito há, inclusive, implicações de caráter processual que devem ser dirimidas, mormente se a responsabilidade objetiva é deϐinida somente no 
processo já em curso.  
Em sı́ntese, cuida -se de responsabilidade sem culpa, em inúmeras situações nas quais sua comprovação inviabiliza a indenização para a parte presumivelmente mais vulnerável.  
De outro lado, a responsabilidade civil objetiva no Código Civil vigente implica na ampliação dos casos de dano indenizável, o que causa preocupação, haja vista que determinadas 
atividades ou situações estariam vistas sob a ótica da teoria do risco criado, o que acarreta o problema do aumento considerável do número de ações indenizatórias ajuizadas.  
Há que se lembrar que a vida moderna oferece riscos, daı́, porque a regra da responsabilidade civil objetiva deve ser vista com mais reservas. Deste modo, somente se aquele que 
desempenha a atividade de risco não agir com as cautelas normais de segurança é que se poderia concluir pela aplicação da responsabilidade civil objetiva.  
Assim, caberá ao julgador analisar todas as condições e circunstancias que envolvem o caso submetido a julgamento, de modo a veriϐicarse o agente causador avaliou o risco e 
tomou as medidas a fim de evitar o   dano. 
Ademais, é patente que a responsabilidade civil é matéria viva e dinâmica na jurisprudência, sendo certo que a cada momento estão sendo criadas novas teses jurı́dicas em 
decorrência das necessidades sociais. 
Portanto, tanto em relação à deϐinição da responsabilidade objetiva no caso concreto, quanto à delimitação e a forma de aplicação da teoria do risco criado, serão construı́dos 
entendimento doutrinário e jurisprudencial, em que serão dirimidas eventuais controvérsias decorrentes da interpretação do texto legal.  
  
  
 
[1] In Abuso do Direito e Má-fé Processual, Editora Saraiva, 2ªedição, 2003, p. 56 e 57. 
[2] MOREIRA, José Carlos Barbosa. Novo Código Civil – Doutrinas (VII): Abuso do Direito. Revista Síntese De Direito Civil e Processual Civil, n º 26 nov-dez 2003. Editora Síntese 
  
Nome do livro: Curso de Direito Civil vol.1 Parte Geral - ISBN - EAN-13: 9788530927929 
Nome do autor: NADER, Paulo 
Editora: Forense 
Ano: 2009. 
Edição: 6a 
Nome do capítulo: Ato Ilícito 
N. de páginas do capítulo : 17 
Aplicação Prática Teórica 
Os conhecimentos apreendidos serão de fundamental importância para a reϐlexão teórica envolvendo a compreensão necessária de que o direito, para ser entendido e estudado 
enquanto fenômeno cultural e humano, precisa ser tomado enquanto sistema disciplinador de relações de poder, a partir da metodologia utilizada em sala com a aplicação dos casos 
concretos, a saber: 
  
___ CASO CONCRETO 1 
Antônio viajava à noite, em seu automóvel, para a sua cidade natal, pela rodovia privatizada e administrada pela concessionária  “CLX”, quando, repentinamente, 
surgiu à sua frente um cavalo na pista. Não conseguindo desviar do animal, Antônio o atropelou e o automóvel saiu da pista, chocando -se contra uma árvore e ϐicando 
completamente destruído. Antônio saiu ileso do acidente.  
O dono do animal ainda não foi identiϐicado porque o cavalo não tinha marca e porque há diversos sítios e pequenas propriedades rurais na região. Antônio quer 
saber se cabe ação indenizatória e, se couber, contra quem deverá ser proposta. Além disso, quer saber também quais os danos que podem ser objeto dessa eventual 
indenização. Responda a essas questões, justiϐicando as respostas. 
  
  
CASO CONCRETO 2 
  
Antônio, menor de 16 anos, dirigindo o carro do pai, atropela e fere Josevaldo gravemente. A vítima, completamente embriagada, atravessou a rua inesperadamente. 
Pretende ser indenizada por danos materiais e morais, pelo que propõe ação contra Célio,  pai de Antônio. 
Procede o pedido? Responda de forma fundamentada. 
  
  
  
CASO CONCRETO 3 
  
Vera comprou à vista uma mansão no Condomínio FLAMBOYANT, em bairro nobre de sua cidade, por R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). Para 
comemorar, convidou todos os seus amigos e fez uma grande festa, que começou às 13h  e estava prevista para durar  até às 10h da manhã do outro dia. ROGÉRIO, seu 
vizinho, chamou a polícia alegando que som estava muito alto, e, também que estaria havendo perturbação ao sossego, pois já eram 3h da madrugada.  
  
A polícia chegou ao local e Vera falou aos policiais que não abaixaria o som e continuaria a festa, pois, é a legítima proprietária do bem. 
  
PERGUNTA-SE: 
  
A quem assistirá razão? Faça a devida análise crítica e aponte os motivos e fundamentos da sua resposta.  
  
  
CASO CONCRETO 4 
  
Rafael e Sueli pleiteiam a anulação de conϐissão de dívida no montante de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), por eles ϐirmada em favor de Cirlei. Aϐirmam que Rafael 
trabalhava como empregado no sítio de Cirlei, na cidade de Guaratinguetá, e que no dia 24/05/2004, dirigia o carro do patrão quando ocorreu o acidente. Alegam que 
no dia seguinte ao acidente Cirlei pediu que assinassem o documento intitulado de “DECLARAÇÃO DE CONDUTA E CONFISSÃO DE DÍVIDA", no qual Rafael reconhece a 
sua responsabilidade pelo evento danoso e, juntamente com sua mãe, se compromete a pagar a Cirlei a quantia de R$ 15.000,00 para o ressarcimento dos prejuízos. 
Mencionam que no dia seguinte aos fatos, no “calor” dos acontecimentos não pensaram e assinaram o documento, sem, no entanto, possuírem recursos para arcar com 
o valor descrito. 
  
  
Pergunta-se: 
  
1)     Houve na hipótese o vício da coação? Esclareça. 
2)     A conϐissão de dívida acima mencionada pode ser considerada um ato jurídico stricto sensu ou representa um abuso de direito. Fundamente sua resposta. 
  
  
CASO CONCRETO 5 
  
Para desviar de criança que atravessa inopinadamente a rua, no semáforo vermelho, e fora da faixa de pedestres, Fernanda, que trafegava prudentemente, é 
obrigada a lançar seu automóvel em cima da papelaria de Pedro, quebrando toda a vitrine e causando um prejuízo de R$ 4.000,00  (quatro mil reais). A criança não foi 
atingida e saiu correndo depois do acidente, não sendo mais encontrada nem por Fernanda, nem por Pedro. 
Pergunta-se: 
1)     Nesse caso, ocorreu ato ilícito? Justiϐique: 
2)     Há dever de indenizar? Em caso positivo de quem? 
  
  
  
QUESTÕES OBJETIVAS 
  
1. Na responsabilidade civil, a indenização por dano moral  
(A) é sempre dependente da comprovação do dano material.  
(B) pode ser cumulada com a indenização por dano material.  
(C) prescinde da comprovação do dano material, mas com este é inacumulável.  
(D) exige prévia condenação do causador do dano em processo criminal.  
(E) não pode ser superior à indenização por dano material.  
  
2. É correto aϐirmar-se que, de acordo com o Código Civil atualmente em vigor: 
a)           Comete ato ilı́cito aquele que, mesmo atuando com omissão, não causa danos de qualquer espécie a outrem.  
b)            Comete ato ilı́cito aquele que causa danos a outrem, ainda que não tenha havido, de sua parte, ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência. 
c)           Comete ato ilı́cito aquele que, ao exercer um direito do qual é titular, excede manifestamente os limites impostos pelo ϐim social desse direito. 
d)           Não comete ato ilı́cito aquele que, ao exercer um direito do qual é titular, excede os limites da boa - fé.  
e)            Todas as alternativas são incorretas. 
  
Plano de Aula: DIREITO CIVIL I
DIREITO CIVIL I 
Estácio de Sá Página 2 / 4
Título 
DIREITO CIVIL I 
Número de Aulas por Semana 
 
Número de Semana de Aula 
15 
Tema 
ATOS ILÍCITOS E RESPONSABILIDADE CIVIL 
Objetivos 
·        Conceituar os atos ilícitos na esfera cível. 
·        Reconhecer as espécies, elementos e as distinções de atos ilícitos.  
·        Dissertar e analisar a teoria do abuso de direito. 
·        Apresentar noções gerais de responsabilidade civil. 
Estrutura do Conteúdo 
1. ATOS ILÍCITOS E RESPONSABILIDADE CIVIL   
1. 1 Conceito, espécies e distinções necessárias, generalidades e elementos. 
1.2  Abuso de Direito. 
1.3 Excludentes de ilicitude. 
1.4 Responsabilidade Civil - noções gerais. 
ATOS ILIƵCITOS E RESPONSBILIDADE CIVIL 
  
  
São atos que vão contra o ordenamento jurı́dico, lesando o direito subjetivo de alguém. Para que se conϐigure o ato ilı́cito é mister que haja um dano moral ou material à vı́tima, uma 
conduta culposa, por parte do autor e um nexo causal entre o dano conϐigurado e a conduta ilı́cita. 
Ilı́cito civil gera uma obrigação indenizatória pelos danos efetivos e, em alguns casos, pelo que a vı́tima deixou de lucrar com o dano provocado. 
Tal obrigação decorre da responsabilidade civil, que é a possibilidade jurı́dica que determinada pessoa tem de responder pelos seus atos, sejam eles lı ́citos ou não. A 
responsabilidade pode ser direta (responder pelos próprios atos) ou indireta (responder por atos de terceiros). 
O conceito de ato ilı́cito é de suma importância para a responsabilidade civil, vez que este faz nascer a obrigação de reparar o dano. O ilı́cito repercute na esfera do Direito 
produzindo efeitos jurı́dicos não pretendidos peloagente, mas impostos pelo ordenamento. Em vez de direitos, criam deveres. A primeira das conseqüências que decorrem do ato 
ilı́cito é o dever de reparar. Mas não se faz única, eis que, dentre outras, este pode dar causa para a invalidade ou cassação do ato, por exemplo.  
No campo do direito, o ilı́cito alça -se à altura de categoria jurı́dica e, como entidade, é revestida de unidade ôntica, diversiϐicada em penal, civil, administrativa, apenas para efeitos de 
integração, neste ou naquele ramo, evidenciando -se a diferença quantitativa ou de grau, não a diferença qualitativa ou de substância.  
E o princı́pio que obriga o autor do ato ilı́cito a se responsabilizar pelo prejuı́zo que causou, indenizando -o, é de ordem pública, ressalta a renomada Maria Helena Diniz.  
A deϐinição de ato ilı́cito aϐirmada pela plêiade de renomados doutrinadores a seguir mencionados salienta diferença apenas no estilo pessoal de cada deles expor.  Vejam-se a seguir: 
“Ato ilı́cito é, portanto, o que praticado sem direito, causa dano a outrem.” (Clovis Bevilaqua) 
“Que é ato ilı́cito? Em sentido restrito, ato ilı́cito é todo fato que, não sendo fundado em Direito, cause dano a outrem” (Carvalho de Mendonça)   
“Ato ilı́cito, é, assim, a ação ou omissão culposa com a qual se infringe, direta e imediatamente, um preceito jurı́dico do direito privado, causando- se dano a outrem ”  (Orlando 
Gomes). 
“... ato ilı ́cito é o procedimento, comissivo (ação) ou omissivo (omissão, ou abstenção), desconforme à ordem jurı́dica, que causa lesão a outrem, de cunho moral ou 
patrimonial.” (Carlos Alberto Bittar) 
“O caráter antijurı́dico da conduta e o seu resultado danoso constituem o perϐil do ato ilı́cito.” (Caio Mario da Silva Pereira) 
“O ato ilı́cito é o praticado culposamente em desacordo com a norma jurı́dica, destinada a proteger interesses alheios; é o que viola direito subjetivo individual, causando prejuı́zo a 
outrem, criando o dever de reparar tal lesão.” (Maria Helena Diniz) 
 “Ato ilı́cito. Ação ou omissão contrária à lei, da qual resulta danos a outrem.” (Marcus Cláudio Acquaviva) 
A diferença fundamental entre os ilı́citos reside na aplicação do sistema sancionatório, pois o direito penal pode afetar a liberdade da pessoa do infrator, como o direito de ir e vir, 
enquanto que o âmbito civil irá atingir sua esfera pessoal, sua subjetividade, mas preferencialmente o seu patrimônio.  
O fato é que o comportamento contrário à norma tipiϐica uma ilicitude. Concluı́mos que o ilı́cito civil é transgressão do dever jurı́dico quer seja legal, quer seja negocial.  
Na esfera criminal, os ilı́citos podem ser deϐinidos como crimes ou contravenções e, ao puni-los, faz-se aplicação de sanções mais graves chamadas penas. Mas esses mesmos atos, 
enquanto envolvam a violação de interesses de pessoas singularmente consideradas, pertencem também ao direito civil.  
Assim o ato ilı́cito pressupõe sempre uma relação jurı́dica originária lesada e a sua conseqüência é uma responsabilidade, ou seja, o dever de indenizar ou ressarcir o dano causado 
pelo inadimplemento do dever jurı́dico existente na relação jurı́dica originária.  
  
  
ABUSO DE DIREITO 
A Teoria do Abuso de Direito foi construı́da sob a simples ilação “o meu direito termina quando começa o do outro”. Superando o ideal burguês de aϐirmação das liberdades públicas, 
em que se ediϐicaram direitos subjetivos absolutos, intangı́veis, os imperativos da convivência em sociedade inspiraram a moral hodierna a exigir a relativização dos interesses. Do 
individualismo ao socialismo. 
Sobre o tema, é a lição de Pontes de Miranda, lembrada por Rui Stoco[1]: “Quando o legislador percebe que o contorno de um direito é demasiado, ou que a força, ou intensidade, com 
que se exerce é nociva, ou perigosa a extensão em que se lança, concebe as regras jurı́dicas que o limitem, que lhe ponham menos avançados os marcos, que lhe tirem um pouco da 
violência ou do espaço que conquista.” 
No Direito Brasileiro, a teoria do abuso de direito não fora consagrada expressamente no Código Civil de 1916. Este apenas mencionava no art.160, I quando proibia a prática de atos 
irregulares. O legislador de 1916 não fez distinção entre ato ilı́cito e ato abusivo, equiparando os dois institutos.  
Como sua construção se deu através da jurisprudência, diante de análise de casos concretos, que não encontravam solução satisfatória na doutrina dos atos ilı́citos, o que acarretou 
uma controvérsia no cerne do conceito, no que diz respeito aos critérios de aferição da abusividade. Tem -se usado o princı́pio da boa - fé objetiva como parâmetro para limitar o 
exercı́cio de um direito, logo o dever de não abusar reϐlete na observância dos valores sociais, como a boa- fé, os bons costumes e a destinação social ou econômica do direito. 
A positivação da teoria do abuso de direito, no ordenamento brasileiro, ocorre com o advento do Novo Código Civil em 2002, no artigo 187, que traz limites éticos ao exercı́cio dos 
direitos subjetivos e de outras prerrogativas individuais, impondo ao titular do direito a observância dos princı́pios da boa - fé e a ϐinalidade social ou econômica do direito. O 
Diploma Civil pátrio inseriu a teoria do abuso de direito no capitulo dos atos ilı́citos. Sendo assim, tornam - se confusos seus contornos e enseja a responsabilidade subjetiva – 
fundada na culpa, oposto ao fundamento da aplicação da teoria, que exige que a aferição de abusividade no exercı́cio de um direito seja objetiva, declarada no confronto entre o 
praticado e os valores tutelados no ordenamento constitucional e civil. 
O art. 187 do Novo Código Civil /2002 e a tese do abuso do direito. 
O art. 187 do NCC teve sua redação inspirada no Direito Civil Português que preceitua no seu art. 334, "é ilegı́timo o exercı́cio de um direito quando o titular exceda manifestadamente 
os limites impostos pela boa- fé, pelos bons costumes ou pelo ϐim social ou econômico desse direito". Ao comparar as redações dos dispositivos brasileiro e português, percebe- se 
apenas uma alteração na ordem das expressões, o dispositivo brasileiro expõe da seguinte maneira: "Também comete o ato ilı́cito o titular de um direito que, ao exercê -lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu ϐim econômico ou social, pela boa- fé ou pelos bons costumes". 
A tese do abuso de direito, no ordenamento brasileiro, é expressa no tı́tulo dos atos ilı́citos, sendo necessário aqui conceituar o que seja este tipo de ato: que é a conduta voluntária, 
comissiva ou omissiva, negligente ou imprudente, que viola direitos e causa prejuı́zos a terceiros, 
Extrai-se de imediato uma ilação: a que entre nós o abuso de direito está, de lege data, equiparado ao ato ilı́cito. Semelhante equiparação, já se registrou, não é paciϐica na doutrina. E, 
na verdade, parece razoável, do ponto de vista teórico, o entendimento que distingue as duas ϐiguras. Uma é a situação de quem, sem poder de invocar a titularidade de direito algum, 
simplesmente viola direito alheio. Outra situação é a daquele que, sendo titular de um direito, irregularmente o exerce[2]. 
Apesar de se encontrar consagrado no capı́tulo dos atos ilı́citos, a estes não se equipara, pelos seguintes fundamentos: o abuso de direito é caracterizado por um exercı́cio que 
aparentemente é regular, mas desrespeita a ϐinalidade do direito, enquanto no ato ilı́cito há um vı́cio na estrutura formal de um direito. Os dois institutos se assemelham, porém não 
se confundem por terem efeitos idênticos, 
O ilı́cito, sendo resultante da violação de limites formais, pressupõe a existência de concretas proibições normativas, ou seja, é a própria lei que ira ϐixar limites para o exercı́cio do 
direito. No abuso não há limites deϐinidos e ϐixados aprioristicamente, pois estes serão dados pelos princı́pios que regem o ordenamento os quais contêm seus valores fundamentais.(HELENA CARPENA, 2003, p.382) 
A caracterização do ato ilı́cito é direta e mais evidente, logo que há uma norma jurı́dica tipiϐicando uma conduta, enquanto no abuso se constatará a partir do momento que houver 
uma desconformidade entre a conduta e o ϐim que a lei impõe. 
Com esta teoria, pretende -se assegurar o interesse coletivo nas relações interpessoais, pautando o interesse individual nos pressupostos ético- sociais tais como a boa- fé, os bons 
costumes e a função social -econômica que cada direito resguarda, 
O estudo do abuso de direito é a pesquisa dos encontros, dos ferimentos, que os direitos se fazem. Se pudessem ser exercidos sem outros limites que os da lei escrita, com 
indiferenças, se não desprezo, da missão social das relações jurı́dicas, os absolutistas teriam razão. Mas a despeito da intransigência deles, fruto da crença a que se aludiu, a vida 
sempre obrigou a que os direitos se adaptassem entre si, no plano do exercı́cio. Conceptualmente, os seus limites, os seus contornos, são os que a lei dá... Na realidade, quer dizer – 
quando se lançam na vida, quando se exercitam – têm de coexistir, têm de conformar - se uns com os outros. 
O instituto do abuso de direito traz a premissa da relativização dos direitos, visando evitar o exercı́cio abusivo dos mesmos pelos seus titulares, com escopo de garantir o bem- estar 
das relações jurı́dicas na sociedade. Logo, todo aquele que excede os parâmetros da boa - fé objetiva, dos bons costumes e a ϐinalidade social ou econômica dos direito ou prerrogativa 
deve ter sua conduta repelida pelo Direito, já que o exercı́cio absoluto de um direito causa um desequilı́brio nos valores ético- sociais, que fundamentam a vida em sociedade. 
  
EXCLUDENTES DE ILICITUDE 
O art. 188 do Código Civil prevê três causas de exclusão de ilicitude, que não acarretam no dever de indenizar:  
  
A) legı́tima defesa,  
B) exercı́cio regular de direito reconhecido, e 
C)  estado de necessidade 
  
A - LEGIƵTIMA DEFESA CIVIL 
  
Entende -se como legı́tima defesa a repulsa necessária para repelir uma injusta agressão, sendo ela atual, defendendo interesse próprio ou de terceiro.  
EƵ ela eminente, pois, no momento em que se produz o ataque, acha-se o indivı́duo abandonado às suas próprias forças. Será neste momento em que o indivı́duo terá que decidir se irá 
sofrer o mal ou irá interferi - lo, repelindo a agressão injusta, surgindo assim à legı́tima defesa.  
Sua fundamentação é considerada como de maior importância para decidir se aquela reação é lı́cita ou se constitui uma causa de justiϐicação ou uma causa de desculpa.  
A nossa recente doutrina jurisprudencial vem considerando que o fundamento da legı́tima defesa surge de uma situação real de necessidade defensiva dos bens jurı́dicos que 
naturalmente falta quando não existe realmente agressão ilegı́tima e, portanto, os bens não correm risco algum, embora o indivı́duo se tenha imaginado erroneamente o contrário.  
Só enquanto existir o perigo tem vigência o estado de defesa, e a necessidade da mesma. Deste modo, quando se defende, ou defende a outro, contra uma injusta agressão está 
impedindo ao próprio tempo que se despreze o ordenamento jurı́dico, que se falte ao respeito que as leis impõem à pessoa e direitos alheios. Essa situação supõe que o Estado não 
impediu ou não pode impedir que a agressão injusta se realize. O indivı́duo realiza uma função que em princı́pio competiria ao Estado. 
Uma análise minuciosa do ordenamento civilista permite -se apontar com clareza cinco hipóteses especı́ϐicas, em que a lei autoriza a pessoa que teve seu direito violado a utilizar- se 
dos seus próprios meios para por ϐim a lesão perpetrada são os seguintes: o embargo extrajudicial na Ação de Nunciação de Obra Nova, o Direito de Retenção, o Penhor Legal, a 
Legítima Defesa da Posse e o Desforço Imediato.  
  
Embargo Extrajudicial na Ação de Nunciação de Obra Nova – o objetivo dessa ação é coibir o abuso praticado pela construção de obra nova que de alguma forma acarrete ao vizinho 
desta algum prejuı́zo, encontrando, pois, assenti no direito de vizinhança. O legislador prevendo que em determinadas situações à demora do judiciário poderia tornar irreversı́vel o 
dano causado pela obra, podendo embargá - la extrajudicialmente através de notiϐicação verbal ao responsável pela obra, acompanhado de (02) duas testemunhas, para que determine 
sua imediata paralisação. Deverá, ainda, o embargante, ratiϐicar em juı́zo o pedido extrajudicial no prazo de 03 (três) dias para que o judiciário se pronuncie sobre o embargo 
realizada. 
  
Direito de Retenção  - conceituado por Carlos Roberto Gonçalves como “... um meio de defesa outorgado ao credor, a quem é reconhecida a faculdade continuar a deter coisa alheia, 
mantendo -a em seu poder até ser indenizado pelo deu crédito...” segue o autor para concluir “... trata-se, na realidade, de meio coercitivo de pagamento sendo uma modalidade da 
“exceptio non adimpleti contractus” transportada para o momento da execução, privilegiando o retentor porque esteve de boa - fé...”.  Assim, é lı́cito ao credor de boa - fé, pelos seus 
próprios meios, manter -se na posse de coisa alheia até que lhe seja adimplida a obrigação, excluindo -se do judiciário a possibilidade de atribuir direito de retenção, cabendo - lhe tão 
somente dizer se o “jus retentionis” exercido é justo ou não.  
Ainda tratando sobre o direito de retenção, importante dizer que os casos em que se admite esta forma de legı́tima defesa de direito próprio estão expressamente previstos na 
legislação civil e, também, na comercial.  
  
Penhor Legal - a inspiração do legislador foi no sentido de proteger determinadas pessoas, em certas situações, de forma a garantir- lhes o resgate dos seus créditos. Autoriza - se, pois, 
o credor pignoratı́cio legal, havendo fundado receio de que o perigo da demora possa acarretar o não cumprimento da obrigação, independentemente de prévia ida ao judiciário, ao 
apossamento de determinados bens para que sobre eles possa constituir sua garantia real. Exemplificando, pode- se citar o caso dos fornecedores de pousada ou alimento sobre as 
bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que seus consumidores tiverem consigo nos respectivos estabelecimentos. Cumpre somente ressaltar que a constituição do penhor não se dá 
com apreensão dos objetos pelo credor, ma sim com a homologação judicial que deverá ser requerida logo após aquela.  
  
Legı́tima Defesa da Posse e do Desforço Imediato - estão intimamente ligados a questão da proteção possessória.  
Legı́tima Defesa da Posse refere -se exclusivamente a hipótese em que o possuidor é turbado em sua posse autorizando -lhe o ordenamento que se utilize deste meio de defesa direta 
reagindo imediatamente contra a turbação sofrida. Trata -se de situação jurı́dica disciplinada pela legislação e, depende da observância de alguns requisitos, a saber: que o defensor 
seja possuidor a qualquer tı́tulo, a ocorrência de turbação injusta, efetiva e atual e que haja proporcionalidade na reação apresentada. Desta forma, observados os requisitos legais o 
possuidor turbado não sofrerá qualquer sanção por ter se valido deste meio de defesa. Se, porém, não cumprir os requisitos exigidos pelo legislador, como por exemplo, no caso de 
atuação com excesso de violência responderá pela desproporcionalidade veriϐicada.  
  
Quanto ao Desforço Imediato, sua aplicabilidade restringe-se as situações em que a posse tenha sido esbulhada, permitindo - se ao prejudicado restituir-se na condição de possuidor, 
por suas próprias forças, desde que o faça logo. Como na hipótese acima da legı́tima defesa da posse, a utilização do Desforço Imediato pelo possuidor esbulhado também está 
adstrita a observância de certos requisitos, quais sejam: que a reação se faça logo que lhe seja possı́vel agir e que se limite ao estritamente necessário

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