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GESTAÇÃO PROLONGADA CONCEITO Gestação prolongada (GP) é definida como aquela que alcança ou ultrapassa 42 semanas (294 dias), contadas do 1 dia da última menstruação. Apesar de algumas referencias trazerem o termo Pós-datismo como o período da gestação referente a 40 a 42 semanas, de acordo com a FEBRASGO esses termos (pós-datismo ou pós-data) devem ser abandonados, o uso indiscriminado desses termos pode falsear o aumento da prevalência de gestações patologicamente prolongadas . Montenegro e Rezende, em Rezende Obstetrícia Fundamental 14 ed, trazem novas definições do “Termo” e “Pós- termo”, vistas na imagem abaixo. Além disso, existe uma classificação que divide a gestação prolongada em fisiológica e patológica, dependendo da vitalidade fetal. INCIDÊNCIA A incidência fica entre 4 e 14%, entretanto, quando se tem como rotina datar a Data provável do parto (DPP) pela ultrassonografia de 1 trimestre, essa incidência é reduzida. ETIOLOGIA A causa mais comum é o erro no cálculo da idade da gravidez avaliada pela última menstruação informada. Quando a data é correta, a etiologia é desconhecida. Os fatores de risco mais frequentes são a primiparidade e a GP em gestação anterior. Raramente, pode estar associada a deficiência de sulfatase placentária (doença genética ligada ao X, caracterizada por baixo estriol circulante), insuficiência ou hipoplasia da suprarrenal fetal, e anencefalia (sem polidrâmnio). Parece haver associação também com o sexo masculino, raça (italianas e gregas) e hereditariedade. RISCOS FETAIS A GP está associada a riscos importantes de natimortalidade e neomortalidade. Maior risco de hipóxia intraparto, acidose fetal e hipoglicemia neonatal. A incidência de macrossomia é elevada, bem como as complicações associadas (distocia de ombros, lesões ortopédicas e neurológicas). (Galbiatti et al., 2020) Cerca de 10 a 20% das GP evoluem com insuficiência placentária, oligoidramnio, compressão do cordão umbilical e eliminação de mecônio. O Oligoâmnio é resultante de fenômenos hemodinâmicos fetais em resposta à hipoxemia. Ocasiona vulnerabilidade do cordão umbilical e movimentos corporais mais vigorosos. Leva a resposta Bruno Henryque Marconato GESTAÇÃO PROLONGADA parassimpática no feto culminando com a eliminação de mecônio. O mecônio raramente é eliminado no líquido amniótico antes de 32 semanas de gestação; no termo, sua frequência é de 10 a 15%. Com 42 semanas isso sobe para 25 a 30%, e o mecônio associado a oligoidramnio forma o mecônio espesso, fator agravante na síndrome de aspiração do mecônio (SAM). SÍNDROME DA ASPIRAÇÃO DO MECÔNIO É quando ocorre dificuldade respiratória no recém-nascido que inalou (aspirou) matéria fecal. A SAM leva a Insuficiência respiratória do recém nascido através da pneumonite química, obstrução das vias respiratórias, disfunção do sistema surfactante e hipertensão pulmonar. A SAM é sempre consequência da hipoxia intrauterina, que aumenta a peristalse, relaxa o esfincter anal e provoca gasping respiratório no feto. A conduta atual não indica a aspiração intraparto de rotina em recém- nascidos com líquido amniótico tinto de mecônio. Se o mecônio estiver presente e o recém-nascido deprimido, o médico deverá intubar a traqueia e aspirar o mecônio abaixo da glote. Ao contrário, se o recém-nascido for vigoroso e estiver apresentando esforços respiratórios fortes, bom tônus muscular e FCF > 100, não haverá necessidade de aspiração da traqueia (risco de iatrogenia se aspirar, probabilidade de lesar as cordas vocais é maior). (REZENDE) A aspiração da orofaringe pode ser benéfica, mas a intubação endotraqueal deve ser reservada para bebês deprimidos ou não vigorosos ou para aqueles que desenvolverem sinais de dificuldade respiratória após a avaliação inicial. (Halliday & Sweet, 2001) CARACTERÍSTICAS DO RECÉM- NASCIDO PÓS-MADURO Recém nascidos com características de crescimento intrauterino restrito por conta da insuficiência placentária são chamados de pós-maturos. Os testes da vitabilidade fetal ante e intraparto costumam ser anormais. Alteações se devem ao regime intrauterino de carência de nutrientes e/ou hipoxemia prolongada. Classificação de Clifford: Grau I: pele seca, descamativa (planta dos pés e palmas das mãos), dobras cutâneas excessivas e tecido subcutâneo escasso, unhas longas, cabelos abundantes, ausência ou escassez de lanugem, ossos cranianos mais rigidos e aspecto vigil e envelhecido Grau II: além das de grau I, presença de liquido amniótico meconial, identificado em tintos de mecômio no recém nascido e outros componetes do conteúdo intra- amniótico Grau III: além das de grau I e II, unhas e pele intensamente amareladas e cordão umbilical amarelo-esverdeado. Cabe destacar que apenas 1/6 dos recém nascidos de gestação prolongada apresentam essas características, sendo a influência da insuficiência placentária muito maior que da pós-maturidade propriamente dita. RISCOS MATERNOS Além das alterações para o feto, a gestação prolongada pode afetar o compartimento materno: aumento da incidência de distocias, sendo a mais prevalente a biacromial Bruno Henryque Marconato GESTAÇÃO PROLONGADA maior número de lesões perineais, relacionando-se a graves injúrias do assoalho pélvico maior incidência de cesáreas, associada a altos índices de endometrites, hemorragias e doenças tromboembólica Ansiedade materna, conturbando esse período final de gestação. “Algumas mulheres com gravidez pós-termo descreveram esse período de espera inesperada como um estado de limbo, com sentimentos cada vez mais negativos à medida que a gravidez continua” (Middleton et al., 2020) DIAGNÓSTICO A maior precisão é conferida através da ultrassonografia precoce, na mensuração do comprimento cabeça- nádega (CCN), até a 14a semana e na medida do diâmetro biparietal (DBP) entre 15 e 22 semanas. O exame USG entre 9 e 12 semanas é o método mais fidedigno para avaliar a idade gestacional. Se a idade pela data da última menstruação (DUM) diferir da estimada pelo exame USG em mais de 10 dias, vale o valor calculado pela USG. A data da última menstruação é um dos métodos utilizados também, porém, deve se ter atenção em relação aos ciclos menstruais irregulares, (principalmente na espaniomenorreia) a ovulação é incerta e comumente incide em períodos não reconhecíveis. A utilização de anticoncepcionais hormonais, também, quando a gravidez acontece por falha no método ou após a interrupção, as ovulações acontecem em datas não conhecidas. TRATAMENTO A conduta é indução eletiva a partir de 41 semanas de gestação. A conduta expectante só deve ser tomada se não houver patologia clínica materna (pré- eclâmpsia, hipertensão arterial, diabetes) e a avaliação da vitalidade fetal esteja preservada, na ausência de oligoâmnio e peso estimado por USG inferior a 4 kg. Na presença de enfermidades maternas, a conduta deve ser intervencionista a partir da 40 semana. (FEBRASGO). Mesmo nos casos de ausência de patologia clínica materna, as evidências atuais sugerem que a indução do parto com 41 semanas ou mais apresenta ganho significante para o feto, sem elevar a taxa de cesarianas ou os riscos maternos. (REZENDE, 2018) A indução do parto é amplamente praticada para tentar prevenir resultados como cesariana, trabalho de parto prolongado, hemorragia pós-parto e parto traumático e para melhorar os resultados de saúde para mulheres e seus bebês. (Middleton et al., 2020) Após 41 semanas (depende da referência, pelo Zugaib, no HC da USP, esse acompanhamento inicia-sea partir de 40 semanas), os seguintes e sucessivos estágios parecem pertinentes: Cardiotocografia (CTG) e volume do líquido amniótico (vLA). O Doppler aqui não tem nenhuma serventia Exame pélvico Indução do parto A conduta visa diagnosticar falência placentária precocemente e evitar danos decorrentes de eventual hipóxia. A frequência de vigilância deve ser de duas vezes por semana. A Cardiotocografia de repouso e estimulada (teste da estimulação sônica): na de repouso, as desacelerações variáveis causadas por compressões do cordão umbilical durante as contrações ou pelos movimentos fetais rigorosos são importantes, pois refletem a presença de oligoâmnio. Quanto ao teste de estimulação sônica, sua aplicação deve ser feita de forma moderada nos casos suspeitos de liquido amniótico meconial, pois pode desencadear reação de susto no feto, com aspiração de mecônio. Bruno Henryque Marconato GESTAÇÃO PROLONGADA A avaliação do volume de líquido amniótico (vLA) por meio do índice do líquido amniótico (ILA), pela técnica dos 4 quadrantes. O oligoâmnio é definido quando esse índice é menor que 5 cm, indicando interrupção da gestação. TÉCNICA: Divide-se o útero em 4 quadrantes. Determina-se o maior bolsão vertical em cada quadrante que não contenha cordão umbilical ou extremidades fetais e a soma desses bolsões em cm é o ILA (Garrido et al., 2019) O Exame pélvico tem como objetivo avaliar as condições cervicais para possível indução do parto. Utiliza-se como critério de favorabilidade do colo à indução o índice de bishop > 6. Se os exames estiverem normais e o índice de Bishop for maior que 6, estará indicada a indução do parto com Ocitocina. Exames normais e índice menor que 6, as opções são misoprostol vaginal ou descolamento das membranas. Em caso de sofrimento fetal por CTG ou vLA, a interrupção da gravidez se fará pela cesariana. Em gestantes que se recusam a induzir, deve ser avaliado o bem-estar fetal. (FEBRASGO) O parto deve ser realizado se houver oligoâmnio, presença de mecônio à amnioscopia ou evidencias de comprometimento fetal. Os métodos de indução do parto visam induzir o amadurecimento cervical e/ou o início das contrações uterinas e incluem principalmente métodos farmacológicos (como prostaglandinas e ocitocina) e métodos mecânicos (como cateter de Foley, cateter de balão duplo e ruptura artificial das membranas amnióticas: amniotomia). As prostaglandinas (misoprostol: prostaglandina E1 - com administração oral, bucal/sublingual ou vaginal; e dinoprostona: prostaglandina E2 - disponível como géis vaginais ou pessários) são comumente usadas quando o colo do útero não é favorável. Quando o colo do útero está favorável, geralmente é usada a ocitocina. O cateter de Foley e/ou amniotomia podem ser usados isoladamente ou em associação com ocitocina ou misoprostol. (Middleton et al., 2020) RECOMENDAÇÕES FINAIS O objetivo inicial deve ser excluir a gestação falsamente prolongada e separar a gestação fisiologicamente prolongada da patologicamente prolongada. No diagnóstico é necessário saber a idade gestacional, condições do feto, condições do colo, presença de patologias clinicas maternas, maturidade e vitalidade fetal, através da CTG e vLA. O liquido amniótico pode ter sua quantidade alterada (menor que 5cm, oligâmnio) e também a qualidade (liquido claro, gestação pré- termo; turvo e leitoso, gestação de termo, e ainda a presença de mecônio). A partir de 41 semanas deve ser feita a avaliação da vigilância fetal por meio da CTG e da vLA, perfil biofisico fetal e indicação de indução do trabalho de parto. Bruno Henryque Marconato GESTAÇÃO PROLONGADA Galbiatti, J. A., Cardoso, F. L., & Galbiatti, M. G. P. (2020). Obstetric Paralysis: Who is to blame? A systematic literature review. In Revista Brasileira de Ortopedia (Vol. 55, Issue 2, pp. 139–146). Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. https://doi.org/10.1055/s-0039-1698800 Halliday, H. L., & Sweet, D. G. (2001). Endotracheal intubation at birth for preventing morbidity and mortality in vigorous, meconium-stained infants born at term. Cochrane Database of Systematic Reviews, 1. https://doi.org/10.1002/14651858.cd000500 Middleton, P., Shepherd, E., Morris, J., Crowther, C. A., & Gomersall, J. C. (2020). Induction of labour at or beyond 37 weeks’ gestation. Cochrane Database of Systematic Reviews. https://doi.org/10.1002/14651858.CD004945.pub5 Eduardo FC. Febrasgo - Tratado de Obstetrícia . [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN; 2018. Barbosa MCA, De RFJ. Rezende Obstetrícia Fundamental, 14ª edição . [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN; 2017 Zugaib M, Francisco RPV. Zugaib obstetrícia 4a ed. . (4ª edição). [Digite o Local da Editora]: Editora Manole; [2020]. Bruno Henryque Marconato RISCOS FETAIS RISCOS MATERNOS
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