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Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Miopatias Inflamatórias Idiopáticas É um grupo de doenças bem heterogêneo que se caracteriza por uma inflamação muscular adquirida por etiologias distintas, acomete muito a musculatura esquelética, sendo fraqueza muscular a manifestação mais frequente. Ainda podem ocorrer manifestações extramusculares, principal é o acometimento da pele, pulmão articulação, coração e TGI. Essas doenças podem ser subdivididas em: o Dermatomiosite (DM). o Polimiosite (PM). o Miopatia por corpúsculo de inclusão (MCI). o Miopatia necrotizante imunomediada (MNIM). o Sobreposição com outras doenças, como LES, ES, Sd de Sjogren, AR, Sd anti sintetase, etc. - Etiologia: Como a maioria das doenças reumatológicas autoimunes, não se conhece muito bem a etiologia das miopatias inflamatórias, acredita-se que ocorre por uma combinação de diferentes fatores, como fator genético, fator ambiental, por infecções, etc. Sabe-se que quando indivíduos predispostos geneticamente são expostos a fatores ambientais, podem desencadear uma cascata inflamatória, que culmina na produção de autoanticorpos, ou ativação de macrófagos e linfócitos, que desencadeará a doença. - Manifestações clínicas: Há um envolvimento, principalmente, da musculatura da cintura escapular, cintura pélvica, com muita fraqueza, pode acometer o terço proximal do esofago levando a disfagia (disfagia de transferência, paciente não consegue transferir, engasga e aspira), pode haver acometimento cutâneo, pulmonar, e menos o envolvimento cardíaco. A fraqueza muscular é insidiosa e progressiva, chama atenção a simetria da lesão, é simétrica e proximal, com o início em torno de três a seis meses da primeira consulta, os pacientes referem dificuldade para realizar atividades diárias, essas queixas estão mais relacionadas com a DM e PM. Quando os pacientes têm uma perda dos movimentos finos e fraqueza distal, está mais relacionada com a MCI ou fase tardia das outras duas doenças. *Quando acomete o músculo da orofaringe e da caixa torácica, o paciente pode apresentar dificuldade de respirar, não por um acometimento pulmonar, mas sim muscular. Além de que pode causar a disfagia de transferência. *Quando a doença afeta o musculo extensor do pescoço, paciente tem uma cabeça caída e relara dificuldade de levantar a cabeça do travesseiro. Em relação as manifestações cutâneas, vamos observar heliótropo (coloração violácea das pálpebras, as vezes é acompanhado de edema), pápulas de Gottron (manchas hiperemiadas em cima das articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas), sinal de Gottron (mancha eritematosa sobre o joelho). Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Sinal de Gottron. Ainda podemos ver o sinal do V (área de fotossensibilidade no colo) e sinal do xale (área de hiperemia, como se a paciente estivesse usando um xale, e nesse local ficasse hiperemiado). Ainda pode haver poiquilodermia e hemorragia periungueal e hipertrofia cuticular. Os pacientes ainda podem apresentar a mão de mecânico (mais comuns na sindrome anti sintetase) e vasculites. Vasculites. Outra manifestação clinica que pode ocorrer, é a calcinose, que é mais frequente na dermatomiosite juvenil, e são depósitos de cálcio em pele, tecido subcutâneo, fáscia, tendão e músculo esquelético. A calcinose também pode ocorrer em pacientes com esclerose sistêmica. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Saindo um pouco das manifestações cutâneas, também podem ocorrer manifestações articulares, como poliartrite simétrica, acometendo mais de 4 articulações (entre grandes e pequenas) mas normalmente não é erosiva e é transitória. É um forte sintoma clínica em pacientes que possuem o anticorpo anti Jo1 associado, que é o único anticorpo específico disponível para a detecção pela rotina. No TGI, vemos o acometimento das regiões com presença de músculo estriado, podendo gerar disfagia proximal, disfonia, Dismotilidade esofágica, etc. Os pacientes podem apresentar Raynaud, e na capilaroscopia vemos áreas de deleção e dilatação dos capilares. O pulmão é a região extramuscular mais acometida nas miopatias, na miosite por sobreposição e DM é ainda mais frequente, pode proceder a manifestação muscular, vindo antes da miopatia, em muitos casos, pode aparecer em forma de PINE e PO. Como é uma doença inflamatória, o paciente pode ter manifestações clinicas por conta de uma doença aterosclerótica avançada, mas o acometimento do miocárdio, que é um músculo estriado, o mais frequente, mesmo sendo raros esses acometimentos, pode gerar uma série de patologias, como mostra a imagem: - Diagnóstico: Quando a gente suspeita de um paciente com quadro de fraqueza proximal, e vamos iniciar a investigação, em relação aos exames laboratoriais, vamos pedir as enzimas musculares, CPK (creatinofosfoquinase), é a mais utilizada por ser mais sensível no diagnóstico e no Lucas Melo – Medicina Ufes T103 acompanhamento terapêutico, ela vai estar aumentada cerca de 10 a 100 vezes. Outras enzimas que podemos pedir são DHL, aldolase, AST e ALT, pois quando o músculo fica inflamado, ele libera essas enzimas. O FAN pode estar presente, geralmente é inespecífico, temos um painel de autoanticorpos de miosite específicos, mas eles não estão disponíveis em todos os serviços, pois é algo difícil de consegui e caro, mas eles dão informação se essa manifestação muscular vai ser mais grave ou não. O ideal é que seja solicitada uma eletroneuromiografia (ENMG), ajuda a diferenciar se a fraqueza é de origem neurológica ou muscular, ou uma ressonância muscular, que vai nos ajudar a localizar áreas de inflamação e edema do músculo. Melhor ainda se conseguisse fazer uma biópsia muscular, mas é algo bem inacessível. A inflamação é marcada pela presença de edema (água), o que fica mais branco ou hipercaptante. Os autoanticorpos nos ajudam a definir o diagnóstico, o órgão envolvido na doença, o risco que o paciente tem de desenvolver neoplasia, se é uma doença mais difícil de controlar e o prognóstico dos pacientes, e podem indicar relação com outras doenças reumatológicas, como mostra a imagem: Painel de anticorpos, que indicam o acometimento do órgão alvo, associação com neoplasia, prognóstico do paciente, etc. *Sempre que fazer o diagnóstico de dermatomiosite, lembrar que ela pode ser uma síndrome paraneoplásica, por isso sempre buscar no paciente neoplasias na revisão de sistemas. - Como diferencias as miopatias inflamatórias idiopáticas? A PM acomete mais os músculos da coxa globalmente ou região posterior, e tem um edema muscular regular. A DM é uma inflamação muscular, causa edema dos tecidos subcutâneos e na fascia, também possui um edema muscular irregular. A MCI acomete mais os músculos anteriores da coxa, possui mais lipossubstituição e atrofia, e menos edema. A MNIM tem uma lipossubstituição intensa na fase mais cronica, com muita atrofia, e menos envolvimento de musculatura anterior. Quando realizamos a biópsia muscular, vemos diferenças em cada uma das formas da doença. Na dermatomiosite há um infiltrado inflamatório em perimísio e perivascular, com predomínio de células B, células T, CD4 e dendríticas, a atrofia perifascicular é patognomônica. Na Polimiosite, há uma regeneração e necrose de fibras musculares, infiltrado inflamatório no endomísio, e infiltrado perivascular com predomínio de células CD8. Na MNIM vamos encontrar fibras musculares necróticas e inflamação escassa em fibras musculares. Na MCI vamos encontrar um infiltrado inflamatório com células TCD8 e macrófagos em endomísio, vacúolos e inclusões citoplasmáticas dentro das fibras musculares. Na Sd anti sintetase vamos ter um infiltrado inflamatóriocom celulas dendríticas e macrófagos em permisio e perivascular, atrofia perifascicular e necrose de miócitos perifascicular. Assim que o diagnóstico for feito, temos que buscar manifestações extramusculares, realizando a Lucas Melo – Medicina Ufes T103 prova de função pulmonar (espirometria), TC de tórax, ECG, ECO e Screening para neoplasias. O dx diferencial deve ser feito com miopatias de origem neurológica, de origem metabólica, miopatias endócrinas, miopatias induzidas por drogas, infecções, pode haver sobreposição com outras patologias, sarcoidose, amiloidose, etc. Existem critérios classificatórios para MII, que são definidos por Bohan e Peter: Outro critério mais novo utilizado é o abaixo: Lucas Melo – Medicina Ufes T103 *Ao realizar o exame físico no paciente, utilizar a classificação de semiologia neurológica para força muscular, segue a tabela: Ainda pode haver a dermatomiosite amiopática, que é o paciente que possui manifestações cutâneas, mas não tem manifestações musculares, geralmente está ligada ao anticorpo MDA 5, com lesões de pele muito afloradas. O diagnóstico é feito por exclusão, por isso, sempre avaliar e excluir: - Tratamento: O tratamento é baseado na terapia de corticoide e imunossupressor, corticoide usado para resgatar o paciente nas fases inflamatórias severas, agudas e ativas, com prednisona 1mg/kg/dia, e a recomendação é sempre ir diminuindo a dose. Pacientes muito graves e refratários, o pulso com metilprednisolona é indicado. Os imunossupressores são utilizados quando estamos na redução dos corticoides e há uma reativação da doença, a escolha vai depender da gravidade de acometimento do paciente (sempre individualizar o caso) e, quando o paciente é resistente a terapia com imunossupressores, utilizar os imunobiológicos. As linhas de tratamento são: Quando há um acometimento pulmonar, vamos individualizar o caso:
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