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Aula 1 - Cultura - Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação

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CULTURA 
 
Conforme o Dicionário de Ciências Sociais (FGV, 1986), o homem é, numa 
definição geral, um (ou provavelmente “o”) animal portador de cultura. Ele tem o 
domínio da linguagem e do fogo, usa ferramentas, institui a família, proíbe o incesto, 
inventa mitos, rituais, religiões e ciências. Dito de outra forma, ao contrário dos outros 
animais, o ser humano elabora, compartilha e transmite cultura aos seus descendentes. 
Se os outros animais agem orientados pelos instintos, o animal humano ofusca os 
instintos através do desenvolvimento da cultura. 
Segundo Laraia (1993), quando se fala em instinto de conservação, instinto 
materno, instinto filial e instinto sexual, comete-se um erro semântico, pois, não se 
referem a comportamentos determinados biologicamente, mas sim a padrões culturais. O 
autor mostra que a idéia de instinto de conservação cai por terra quando lembramos das 
ações dos pilotos kamikazes durante a Segunda Guerra Mundial. A noção de instinto 
materno não se sustenta quando pensamos em grupos que praticam o infanticídio e 
consideram o ato normal, a ponto de as mulheres não mostrarem nenhum sentimento de 
culpa. Da mesma forma, não se pode falar em instinto filial quando sabemos que os 
esquimós levam seus pais para as planícies para que sejam devorados pelos ursos. 
Notamos que o ser humano transcende a natureza e inaugura o reino da cultura. 
Mas, de que maneira isso ocorre? Como, humanos que somos, instituímos a cultura? 
De acordo com Chauí (2004), a partir do século XVIII alguns filósofos 
argumentavam que a passagem da natureza para a cultura se dava “pela linguagem, 
pelo pensamento, pelo trabalho e pela ação voluntária livre” (p. 250). No século XX, 
alguns antropólogos como Claude Lévi-Strauss (Bélgica-1908) viam esses elementos 
como condição necessária, mas não suficiente, para a existência de cultura e procuraram 
identificar as ações ou decisões tomadas pelos humanos que possibilitaram a instauração 
do mundo da cultura. 
Para Lévi-Strauss (apud Chauí, 2004 p. 250), podemos assumir que a chave para 
a compreensão desse mistério está no sexo e no estômago, isto é, na sexualidade e na 
culinária. Na concepção desse intelectual, a passagem da natureza à cultura se deu 
quando os humanos inventaram o tabu do incesto, proibição inexistente entre os animais 
e presente em todas as sociedades humanas. A não observância dessa lei deveria 
resultar, no limite, na morte do transgressor. O tabu do incesto, então, inaugura a 
sexualidade humana que deixa de ser guiada pela satisfação imediata de uma 
necessidade biológica e passa a ser definida pelo proibido e pelo permitido na expressão 
do desejo. 
De acordo com Lévi-Strauss e outros antropólogos (apud Chauí, 2004, p. 250), 
havia outra lei cujo objetivo era o mesmo e fazia crer que, se não obedecida, levaria o 
indivíduo e a sua comunidade à destruição: a separação entre o cru e o cozido. É com a 
exigência de fazer passar pelo fogo o alimento que o ser humano transforma a 
alimentação em algo diferente da mera satisfação de uma necessidade biológica, 
dotando-lhe de um sentido realmente humano. 
As concepções de puro (permitido) e impuro (proibido), dicotomia inexistente 
entre os animais, trazem a dimensão simbólica para a vida humana. Não devemos 
pensar que essas regras de conduta foram inventadas por mero capricho de pessoas que 
nada tinham a fazer. Ao contrário, essas interdições têm a finalidade de garantir a 
existência e a conservação da comunidade. A elaboração de normas desse tipo 
possibilitaram que os humanos se afirmassem como seres capazes de gerar uma ordem 
de existência que transcende a ordem natural. De acordo com Chauí, 
A ordem simbólica consiste na capacidade humana para dar às 
coisas um sentido que está além de sua presença material, isto é, 
na capacidade de atribuir significações e valores às coisas e aos 
homens, distinguindo entre bem e mal, verdade e falsidade, 
beleza e feiúra; determinando se uma coisa ou uma ação é justa 
ou injusta, legítima ou ilegítima, possível ou impossível. É essa 
dimensão simbólica que é instituída com a lei da proibição do 
incesto e a lei da proibição do cru (2004, p. 250). 
 
Laraia mostra que outro importante antropólogo do século XX, Leslie White, afirmava 
que a passagem da natureza para a cultura se deu quando o cérebro humano foi capaz 
de gerar símbolos porque o comportamento humano é comportamento simbólico. Para 
White (1955, apud Laraia 1993, p. 56), “Uma criança do gênero Homo torna-se humana 
somente quando é introduzida e participa da ordem de fenômenos superorgânicos que é 
a cultura. E a chave deste mundo, e o meio de participação nele, é o símbolo”. Para que 
o significado de um símbolo seja percebido pelos indivíduos, é preciso que se conheça a 
cultura na qual ele foi criado. 
Muitas das teorias sobre a origem da cultura afirmam que ela apareceu subitamente, 
num momento determinado, ou seja, que houve “um verdadeiro salto da natureza para a 
humanidade” (Laraia, 1993, p. 57). Todavia, hoje a ciência assume que a natureza não 
age por saltos, mas, seu movimento é contínuo e lento. Nessa linha, Clifford Geertz, 
afirma que a cultura desenvolveu-se ao mesmo tempo que o equipamento biológico, 
formado gradativamente. Laraia (1993, p. 59), então, conclui que “a cultura 
desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o próprio equipamento biológico e é, por 
isto mesmo, compreendida como uma das características da espécie, ao lado do 
bipedismo e de um adequado volume cerebral”. 
 
 
1.1 Conceitos básicos 
Cultura 
Mas, como definir cultura? Apesar de praticarem e transmitirem a cultura, nem 
sempre os seres humanos se esforçaram por defini-la e analisá-la. Por isso, vamos 
investigar de forma breve a etimologia e a definição. 
A palavra tem origem no vocábulo latino colere e possuía denotação de cultivo das 
plantas, de cuidado com os animais e a terra, cuidado com as crianças e com sua 
educação, cuidado com os deuses, com os ancestrais e seus monumentos. 
Segundo Chauí (2004), cultura também podia significar cultivo do espírito, como a 
criação de obras de arte e a criação de obras da ciência e da filosofia. É essa acepção do 
termo que leva as pessoas a classificarem as outras como “cultas” e “incultas”, ao tomar 
como critério o acesso à educação formal, ao conhecimento científico e à familiaridade 
com as chamadas “belas artes”. De acordo com Lakatos e Marconi, “não há indivíduo 
humano desprovido de cultura exceto o recém-nascido e o homo ferus; um porque ainda 
não sofreu o processo de endoculturação, e o outro, porque foi privado do convívio 
humano” (1999: p. 131). Podemos inferir que a classificação mencionada acima é aceita 
em termos de senso comum, não tendo respaldo em nenhuma teoria científica que 
mereça credibilidade. 
Antropologicamente falando, de acordo com Tomazi (2000), o primeiro a criar 
uma definição de cultura foi Edward Tylor (Inglaterra 1832 – 1917), ao juntar na palavra 
inglesa culture os sentidos que, no final do século XVII e início do século XVIII, eram 
carregados pela palavra alemã kultur (aspectos espirituais de uma comunidade) e pela 
palavra francesa civilization (realizações materiais de um povo). Para esse autor, em seu 
livro Primitive Culture de 1871, “Cultura ... tomada em seu sentido etnográfico amplo é o 
todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer 
outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Da 
definição de cultura formulada por Tylor podemos apreender que, para ele, em primeiro 
lugar, a cultura é aprendida e não transmitida geneticamente, aprendizado esse que se 
dá por meio da comunicação e da linguagem.Fica explícita também a oposição entre 
natureza e cultura, sendo essa última considerada superior à primeira. 
A partir de então, Cultura tornou-se um conceito central na Antropologia e nas 
outras Ciências Sociais e, em decorrência disso, houve uma proliferação de definições. 
Num texto de 1952, intitulado Culture: a critical revew of concepts and definitions, A. L. 
Kroeber e C. Kluckhohn fizeram a análise de 160 definições em inglês concebidas por 
antropólogos, sociólogos, psicólogos, psiquiatras e outros. 
De acordo com Laraia (1993), a Antropologia moderna tem se proposto o trabalho 
de reconstrução do conceito de cultura. Para apresentar os principais esforços dos 
antropólogos nesse sentido, Laraia utiliza como guia o livro de Roger Keesing, intitulado 
Theories of Culture (1974), no qual esse último classifica as tentativas modernas de 
obter precisão conceitual. Há, na concepção de Keesing, dois tipos de teorias: 
1) Teorias que consideram a cultura como um sistema adaptativo. Essas teorias foram 
difundidas pelos neo-evolucionistas, para quem as culturas são sistemas cujo objetivo é 
adaptar as comunidades aos seus embasamentos biológicos. 
2) Teorias idealistas da cultura, que se subdividem em: 
 a) Cultura como sistema cognitivo. Desenvolvidas pelos chamados “novos 
etnógrafos” e fazendo uso do método lingüístico, essas teorias afirmam que as culturas 
são sistemas de conhecimento. 
 b) Cultura como sistemas estruturais. Desenvolvida por antropólogos como 
Claude Lévi-Strauss, define cultura como “um sistema simbólico que é uma criação 
acumulativa da mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir na estruturação 
dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios que geram 
essas elaborações culturais”. (Laraia, p. 62) 
 c) Cultura como sistemas simbólicos. Elaborada nos Estados Unidos por 
antropólogos como Clifford Geertz. Para Geertz, não existe uma forma ideal de homem e 
a cultura é “um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções 
(que os técnicos de computador chamam de programa) para governar o comportamento” 
(Geertz, apud Laraia, 1993, p. 63). Então, todos nós somos aptos a receber um 
programa (cultura) e podemos ser socializados em qualquer cultura existente, pois 
nascemos com a possibilidade de viver mil vidas, mas, no fim, terminamos vivendo uma 
só. O leque de possibilidades se torna limitado pelo contexto onde de fato nascemos. 
 
EVOLUÇÃO 
No século XIX, o pensamento social foi muito influenciado pela Teoria da Evolução 
das Espécies de Charles Darwin. Vários foram os pensadores que viam nas sociedades 
um movimento semelhante ao observado nos organismos. Assim, para esses estudiosos, 
a sociedade evoluiria, natural e necessariamente de um estágio primitivo (as sociedades 
ditas “simples”, como as indígenas do Brasil, as tribos africanas, etc.) para um estágio 
avançado (as sociedades ditas complexas, ou seja, a Europa industrializada). O 
darwinismo social serviu, então, como justificativa para a intervenção européia 
(colonialismo) em sociedades da África, Ásia, América e Oceania. 
 
ETNIA X RAÇA (definição e limitações do termo para tratar a humanidade) 
Os conceitos de raça e etnia são importantes, segundo Dias (2006), porque 
configuram agrupamentos humanos cuja identidade ocorre por suas características 
exteriores, sejam elas culturais (modos de vida, de falar, hábitos e costumes, etc.) sejam 
elas físicas ou hereditárias (cor da pele, formato dos olhos, nariz, boca, etc). Isto 
favorece a identificação entre os membros, que se reconhecem como pertencentes a 
determinado grupo, ao mesmo tempo em que os diferencia de outros grupos. 
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais, o termo ETNIA é utilizado na literatura 
antropológica para designar um grupo social que se diferencia de outros grupos por sua 
especificidade cultural. Esse conceito liga-se aos conceitos de grupo étnico e de cultura e, 
muitas vezes, é usado como sinônimo de grupo étnico. Para Dias (2006), a principal 
diferença entre os grupos étnicos é de ordem cultural. 
Ainda segundo Dias (2006), o termo RAÇA era utilizado para explicar diferenças 
de cor da pele e classificar os seres humanos. Hoje a Biologia reconhece a limitação 
desse termo e admite que a classificação racial baseada no tipo físico é arbitrária. 
Características físicas como cor da pele, textura de cabelo, formato da cabeça e dos 
lábios não revelam diferenças relevantes a ponto de podermos dizer que, biologicamente, 
os seres humanos pertencem a raças diferentes. 
 Do ponto de vista sociológico, raça é “uma população em que os membros 
compartilham certas características físicas herdadas” (Dias, 2006, p. 174). Essas 
características os identificam socialmente. Da mesma forma que ocorre com a definição 
biológica, a definição de determinada raça do ponto de vista social depende de um 
critério de escolha da sociedade. Para concluir, o autor mostra que não podemos afirmar 
que exista uma raça pura porque os seres humanos possuem uma origem comum e as 
diferenças visíveis são resultantes das adaptações ocorridas ao longo do tempo. 
 
DETERMINISMO BIOLÓGICO 
 
Existem doutrinas que afirmam que objetos e acontecimentos são e ocorrem de 
determinada maneira por serem regidos por leis ou forças que os fazem necessariamente 
assim. Assim, acredita-se que a possibilidade de escapar do determinismo é mínima ou 
nula. 
De acordo com Laraia (1993), o determinismo biológico é um tipo de teoria que 
atribui capacidades ou incapacidades específicas, dadas geneticamente a raças ou a 
outros grupos humanos. Um bom exemplo disso é a teoria elaborada por Jean Bodin, 
filósofo francês do século XVI, na qual sustentava que 
Os povos do norte têm como líquido dominante da vida o fleuma, 
enquanto os do sul são dominados pela bílis negra. Em 
decorrência disto, os nórdicos são fiéis, leais aos governantes, 
cruéis e pouco interessados sexualmente; enquanto os do sul são 
maliciosos, engenhosos, abertos, orientados para as ciências, mas 
mal adaptados para as atividades políticas. (p. 14) 
 
Poderíamos pensar que esse tipo de pensamento é algo do passado e que, quase 
cinco séculos depois, já não há mais lugar para esse tipo de crença, porém, um fato 
recente ocorrido na Universidade Federal da Bahia nos faz perceber que isso ainda 
persiste. O resultado insatisfatório no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes 
(ENADE) obtido pelos alunos da Faculdade de Medicina da UFBa foi justificado pelo 
Coordenador do Colegiado de Graduação dessa faculdade, Natalino Dantas, à baixa 
inteligência dos estudantes baianos. De acordo com o site Estadão.com.br do dia 30 de 
abril de 2008, Dantas afirmou que: "Deve haver uma inferioridade do alunado baiano 
com relação ao de outros lugares". "Talvez o baiano tenha déficits com relação a outras 
populações. Afinal, a prova foi a mesma em todo o País." Dantas, que é baiano, citou que 
tal inferioridade de inteligência justificaria, entre outras coisas, o baixo desenvolvimento 
sócio-econômico do Estado, "apesar das grandes riquezas naturais", a popularidade do 
berimbau, "o típico instrumento de quem tem poucos neurônios", e a música de grupos 
tradicionais, como o Olodum, que ele qualificou como "barulho". 
Da mesma maneira, as diferenças de comportamento entre homens e mulheres 
nada têm a ver com causas biológicas. Estudos antropológicos mostram que atividades 
atribuídas às mulheres em uma cultura podem ser atribuições de homens em outras e 
vice-versa. Entre os índios Tupi, por exemplo, o marido é a figura mais importante do 
parto, que fica na rede fazendo o resguardo. De acordo com Laraia, “o comportamento 
dos indivíduosdepende de um aprendizado, de um processo que chamamos de 
endoculturação1. Um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus 
hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada” (p. 20). 
 
DETERMINISMO GEOGRÁFICO 
 
Outra forma de determinismo é relacionada ao aspecto geográfico, ou seja, o 
ambiente físico determinaria a cultura e, por isso, a diversidade cultural seria dada pela 
diversidade geográfica. Esse tipo de crença existe desde a Antiguidade, mas, na forma de 
teorias, se desenvolveu principalmente no final do século XIX e no início do século XX e 
pregava que o clima era um fator importantíssimo na dinâmica do progresso. Vem daí a 
crença de que é impossível fazer ciência nos trópicos e de que o Brasil é um país 
subdesenvolvido por causa de seu clima quente, que inspira mais a preguiça, a lascívia e 
o ócio. 
Para os antropólogos essas doutrinas nada têm de correto, pois, pode-se observar 
que uma das características da espécie humana é a capacidade de romper as suas 
próprias limitações. Nas palavras de Laraia (2004), o homem é 
um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou 
toda a natureza e se transformou no mais temível dos 
predadores. Sem asas dominou os ares; sem guelras ou 
membranas próprias conquistou os mares. Tudo isso porque 
difere dos outros animais por ser o único que possui cultura (p. 
24). 
 
 
1
 De acordo com Lakatos e Marconi, Felix Keesing, Hoebel e Frost, chamam de endoculturação ao 
“processo de aprendizagem e educação em uma cultura desde a infância”. (p. 148) 
ETNOCENTRISMO: DEFINIÇÃO E EXEMPLOS. 
A cultura, segundo Ruth Benedict citada por Roque Laraia, condiciona a visão de 
mundo do homem. Existe um fenômeno universal originado no fato de que o ser 
humano, ao enxergar o mundo através das lentes de sua cultura, passa a considerar o 
seu modo de vida como o mais correto e mais natural. Esse fenômeno recebe o nome de 
Etnocentrismo, ou seja, “a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, 
ou mesmo, a sua única expressão” (Laraia, p. 75). Se, a partir daí, surge como efeito 
positivo a supervalorização da própria cultura, podemos apontar como efeitos negativos 
a criação e reprodução das xenofobias, dos preconceitos de classe, etc. 
 
RELATIVISMO CULTURAL 
Por outro lado, há uma tendência em voga atualmente que consiste em abandonar 
os juízos de valor no que diz respeito às diferentes culturas. Assume-se que não existe, 
em termos de cultura, nem melhor nem pior, nem mais nem menos, nem superior nem 
inferior. Os padrões de beleza, de justiça, de moralidade, etc., são relativos à cultura na 
qual os indivíduos que por eles se orientam estão inseridos. Assim, o topless, tratado 
como caso de polícia em Ipanema é amplamente praticado nas areias de Ibiza, na 
Espanha. Achamos no mínimo estranho o costume das mulheres da Birmânia de colocar 
anéis metálicos para alongar os seus pescoços, mas consideramos normal aplicar 
próteses de silicone para aumentar certas partes do corpo. Existem, portanto, diferenças 
no modo de pensar e de agir entre as diversas culturas, diferenças que, segundo o 
relativismo cultural devem ser respeitadas. Porém, muitas vezes essa posição tem sido 
encarada como descaso, apatia, em relação ao outro. Órgãos internacionais de defesa 
dos direitos humanos, como o Fundo das Nações Unidas para a População, indagam se é 
realmente legítimo tomar como “normais” fenômenos como a mutilação genital de 
adolescentes e meninas em algumas tribos muçulmanas africanas, o que resulta na 
morte de cerca de 15% das jovens submetidas ao procedimento. Órgãos de defesa dos 
direitos dos animais perguntam se é legítimo permitir a farra do boi, uma manifestação 
cultural que ocorre no sul do Brasil, onde os animais são torturados. 
Há certo ou errado em questões culturais? Quem está com a razão? Existiria um 
limite para as práticas culturais? Quem teria autoridade e legitimidade para definir o que 
é aceitável nestes casos? Notamos que as duas posições podem chegar a extremos e se 
configuram como objeto de muita reflexão e discussão. Reflita também. 
 
 
RELAÇÃO ENTRE CULTURA E EDUCAÇÃO 
 
Nesse ponto seria oportuno indagar qual a relação entre cultura e educação. 
Vimos que a cultura é produção exclusivamente humana. Percebemos também que os 
mais velhos precisam transmitir a cultura para os membros mais novos. Essa 
transmissão da cultura de uma geração à outra se dá pela educação. Mas, por que é 
necessário transmitir cultura? Todas as sociedades concebem um padrão de homem. É 
preciso formar os novos membros de acordo com esses modelos, pois, abandonado à 
própria sorte, um bebê nunca se tornará, efetivamente, parte integrante do grupo. 
Nem sempre a educação ocorre dentro de instituições sociais como a escola. Nem 
sempre os que ensinam são professores especializados em ensinar, formados em 
disciplinas específicas. Em sociedades tribais, por exemplo, todos ensinam e todos 
aprendem. Vimos que os homens são seres com capacidade para elaborar, manipular e 
transmitir símbolos e é da necessidade (de ensinar e aprender) e do potencial (de 
elaborar, manipular e transmitir símbolos) que surgem os mitos, as religiões e as 
ideologias. 
 
1.2 Os mitos, a religião e a ideologia como sistemas culturais e suas funções 
como ferramentas educativas desde as primeiras comunidades humanas. 
 
1.2.1 O MITO 
 
ETIMOLOGIA: De acordo com Chauí (2004), o vocábulo tem sua origem na palavra grega 
mythos, derivada de dois verbos: mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para 
outros) e mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). 
DEFINIÇÕES: 
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais (p. 768), do ponto de vista 
antropológico, o mito é uma narrativa que se refere aos deuses e à natureza, e ao 
significado do universo e do homem. Chauí, por sua vez, afirma que “mito é uma 
narrativa sobre a origem de alguma coisa” (p. 34). Ao tratar dos mitos gregos, a autora 
mostra que os gregos recebiam a narrativa como verdadeira, pois confiavam naquele que 
narrava. O narrador, ou poeta rapsodo, gozava de credibilidade porque os ouvintes 
acreditavam que ele testemunhou ou recebeu o mito de quem o havia testemunhado. 
Freqüentemente acreditavam na sacralidade da narrativa porque viam-na como uma 
revelação divina. Esse tom sagrado tornava o mito algo inquestionável. 
O mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe de três formas: 1) 
encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres; 2) encontrando uma rivalidade ou 
aliança entre os seres que fazem surgir alguma coisa no mundo; 3) encontrando as 
recompensas ou castigos que os deuses dão a quem lhes obedece ou desobedece. 
Apesar da fama dos mitos gregos, o mito aparece em todas as culturas. Chauí 
afirma que o mito possui três funções: a primeira é a função explicativa, ou seja, explica 
o presente por alguma ação passada cujos efeitos persistiram no tempo. Como exemplo, 
a autora cita a crença de que uma constelação existe porque no passado crianças 
fugitivas e famintas morreram na floresta e foram levadas ao céu por uma deusa que as 
transformou em estrelas. A segunda é a função organizativa, pois o mito organiza as 
relações sociais (de parentesco, de alianças, de poder, de sexo, etc.), legitimando e 
garantindo a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões. 
Finalmente, a terceira função do mito é a função compensatória porque o mito narra uma 
situação passada que é a negação do presente e que pode servir para compensar os 
homens de alguma perda ou para assegurar que um erro do passado foi corrigido no 
presente, oferecendouma visão estabilizada e regularizada da natureza e da vida 
comunitária. 
 O mito tem caráter educativo porque, na narrativa, encontramos mensagens ou 
normas que acabam orientando os comportamentos necessários para a vida em grupo. 
De acordo com Meksenas (2000), 
há um mito muito difundido entre alguns índios do Brasil, no qual 
a origem da noite é atribuída à atitude de um grupo que, não 
obedecendo às tradições do seu povo, quebrou um coco proibido. 
Dali fugiu a noite, escurecendo toda a mata. Os deuses, sentindo 
piedade dos demais índios, devolveram-lhes a claridade do dia, 
mas com a condição de que agora seria sempre intercalada com 
um período noturno, para que todos se lembrassem do ocorrido. 
Não nos preocupando em saber se realmente a existência da noite 
pode ser explicada por esse mito ou pela idéia científica do 
movimento do globo terrestre, o que importa é saber que esse 
mito acaba sendo educativo porque ele fixa uma norma social: os 
perigos que podem aparecer a um grupo quando não se respeitam 
certas tradições ou o cuidado que devemos ter com o 
desconhecido... (p. 21) 
 
 Apesar da nossa sociedade valorizar o pensamento científico, não podemos dizer 
que os mitos ficaram no passado. De acordo com Chauí, o pensamento conceitual e o 
pensamento mítico podem coexistir na mesma sociedade. Para ela, 
A predominância de uma ou outra forma do pensamento depende, 
de um lado, das tendências pessoais e da história de vida dos 
indivíduos e, de outro, do modo como um sociedade ou uma 
cultura recorrem mais à uma do que à outra forma para 
interpretar a realidade, intervir no mundo e explicar-se a si 
mesma. (2004, p. 164) 
 
1.2.2 A RELIGIÃO 
 
O vocábulo religião tem origem no latim religio, formada pelo prefixo re (“outra 
vez, de novo”) e pelo verbo ligare (“ligar, unir, vincular”). A religião é um vínculo entre o 
mundo profano (a natureza) e o mundo sagrado, isto é, a natureza habitada por 
divindades ou um mundo separado da natureza (Chauí, p. 253). Nesse ponto seria 
importante frisar que a religiosidade é um fenômeno encontrado em todas as sociedades 
conhecidas até hoje. Muitas religiões já existiram e diversas continuam existindo. Não é 
papel da antropologia fazer julgamentos de valor sobre o conteúdo das religiões. O 
antropólogo realmente se interessa pelo papel que elas desempenham na sociedade. 
Se a maioria das instituições sociais tem sua origem em necessidades materiais, a 
religião se dirige às indagações sobrenaturais do ser humano. Questões como „Qual a 
minha missão nesse mundo?‟ „De onde viemos?‟ „O que ocorre depois da morte?‟ são 
respondidas pelo discurso religioso. A religião tem, pois, função explicativa como o mito. 
Ela fornece explanações, por exemplo, de como surgiram o mundo, a natureza, os 
animais e os homens. Ela possibilita uma certa estabilidade social ao gerar paz de 
espírito e segurança aos indivíduos. Além disso, fornece normas que garantem a 
sobrevivência social. Acreditar em seres dotados de poderes sobrenaturais inspira 
respeito, temor e veneração, fazendo com que os indivíduos cumpram as regras. 
 
1.2.3 IDEOLOGIA 
Conforme a definição encontrada no Dicionário de Ciências Sociais, “Ideologia é 
um conjunto de convicções e conceitos (concretos e normativos) que pretende explicar 
fenômenos sociais complexos com o objetivo de orientar e simplificar as escolhas sócio-
políticas que se apresentam a indivíduos e grupos” (p. 570). Aparentemente, o primeiro 
autor a fazer uso do termo no sentido de estudo das idéias foi D. de Tracy, no final do 
século XVIII, sendo empregado da mesma forma por vários autores franceses 
posteriormente, no século XIX. Contudo, ainda no século XIX, a palavra adquiriu 
conotação pejorativa, significando idéias abstratas e enganadoras. 
Karl Marx e Friedrich Engels lhe conferiram uma acepção que, em essência, 
vincula a palavra à idéia de falsa consciência, de idéia distorcida e enganadora, baseada 
em ilusões, contrapondo-se às teorias ou opiniões científicas. Nesse ponto o leitor deve 
estar se perguntando o que a ideologia tem a ver com a educação. Tudo, nós 
responderíamos, pois, alguns autores de influência marxista percebem a escola como um 
local onde se reproduzem as falsas consciências com o objetivo de manter o status quo. 
Mas, isso é assunto para a próxima unidade. 
 
 
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA E RECOMENDADA 
 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2004. 
 
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. 
 
DICIONÁRIO DE CIÊNCIAS SOCIAIS/ Fundação Getúlio Vargas. Benedicto Silva 
(coordenação geral); Antonio Garcia de Miranda Netto.../et al./. Rio de Janeiro: Editora 
da Fundação Getúlio Vargas, 1986. 
 
LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. 7. ed. São 
Paulo: Editora Atlas, 1999. 
 
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 7. ed. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Editor, 1993. 
 
MEKSENAS, Paulo. Sociologia da educação: uma introdução ao estudo da escola no 
processo de transformação social. 9. ed. São Paulo: Loyola, 1988. 
 
SROUR, Robert Henry. Ética Empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000. 
 
TOMAZI, Nelson Dacio (coord.) Iniciação à Sociologia. 2. ed. São Paulo: Atual, 2000. 
 
 
 
 
 
 
Leitura complementar 
 
1) Cidadão 100% norte-americano (Ralph Linton) 
 
“O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do 
Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à 
América. Sai debaixo de cobertas feitas de algodão, cuja planta se tornou doméstica na 
Índia; ou de linho ou de lã de carneiro, um e outro domesticados no Oriente Próximo; ou 
de seda, cujo emprego foi descoberto na China. Todos esses materiais foram fiados e 
tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. Ao levantar da cama faz uso dos 
mocassins que foram inventados pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos e 
entra no quarto de banho cujos aparelhos são uma mistura de invenções européias e 
norte-americanas, umas e outras recentes. Tira o pijama, que é vestuário inventado na 
Índia e lava-se com sabão que foi inventado pelos antigos gauleses, faz a barba que é 
um rito masoquístico que parece provir dos sumerianos ou do antigo Egito. 
 Voltando ao quarto, o cidadão toma as roupas que estão sobre uma cadeira de tipo 
europeu meridional e veste-se. As peças de seu vestuário têm a forma das vestes de 
pele originais dos nômades das estepes asiáticas; seus sapatos são feitos de peles 
curtidas por um processo inventado no antigo Egito e cortadas segundo um padrão 
proveniente das civilizações clássicas do Mediterrâneo; a tira de pano de cores vivas que 
amarra ao pescoço é sobrevivência dos xales usados aos ombros pelos croatas do séc. 
XVII. Antes de ir tomar seu breakfast, ele olha a rua através da vidraça feita de vidro 
inventado no Egito; e, se estiver chovendo, calça galochas de borracha descoberta pelos 
índios da América Central e toma um guarda-chuva inventado no sudoeste da Ásia. Seu 
chapéu é feito de feltro, material inventado nas estepes asiáticas. 
 De caminho para o breakfast, pára para comprar um jornal, pagando-o com moedas, 
invenção da Líbia antiga. No restaurante, toda uma série de elementos tomados de 
empréstimo o espera. O prato é feito de uma espécie de cerâmica inventada na China. A 
faca é de aço, liga feita pela primeira vez na Índia do Sul; o garfo é inventado na Itália 
medieval; a colher vem de um original romano. Começa o seu breakfast, com uma 
laranja vinda do Mediterrâneo Oriental, melão da Pérsia, ou talvez uma fatia demelancia 
africana. Toma café, planta abissínia, com nata e açúcar. A domesticação do gado bovino 
e a idéia de aproveitar o seu leite são originárias do Oriente Próximo, ao passo que o 
açúcar foi feito pela primeira vez na Índia. Depois das frutas e do café vêm waffles, os 
quais são bolinhos fabricados segundo uma técnica escandinava, empregando como 
matéria prima o trigo, que se tornou planta doméstica na Ásia Menor. Rega-se com 
xarope de maple inventado pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos. Como 
prato adicional talvez coma o ovo de alguma espécie de ave domesticada na Indochina 
ou delgadas fatias de carne de um animal domesticado na Ásia Oriental, salgada e 
defumada por um processo desenvolvido no norte da Europa. 
 Acabando de comer, nosso amigo se recosta para fumar, hábito implantado pelos 
índios americanos e que consome uma planta originária do Brasil; fuma cachimbo, que 
procede dos índios da Virgínia, ou cigarro, proveniente do México. Se for fumante 
valente, pode ser que fume mesmo um charuto, transmitido à América do Norte pelas 
Antilhas, por intermédio da Espanha. Enquanto fuma, lê notícias do dia, impressas em 
caracteres inventados pelos antigos semitas, em material inventado na China e por um 
processo inventado na Alemanha. Ao inteirar-se das narrativas dos problemas 
estrangeiros, se for bom cidadão conservador, agradecerá a uma divindade hebraica, 
numa língua indo-européia, o fato de ser cem por cento americano.” 
(LINTON, Ralph. O homem: Uma introdução à antropologia. 3. ed. São Paulo: 
Livraria Martins Editora, 1959. In LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito 
antropológico. 16ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003, p.110) 
 
 
2) Mutilação genital feminina 
 
Entre os muçulmanos africanos, a mutilação genital das adolescentes e das 
meninas (entre os quatro e os oito anos de vida) corresponde a um mandamento divino 
ou a uma obrigação natural. Há três formas de mutilação genital feminina: a) a 
clitoridectomia, em que se extirpa total ou parcialmente o clitóris; b) a excisão, em que 
se extirpam o clitóris e os lábios menores da vagina, total ou parcialmente; c) a 
infibulação, em que se extirpam todos os genitais e se costura quase todo o orifício 
genital, deixando uma pequena abertura para a passagem da urina e do sangue da 
menstruação. Em mulheres adultas, colocam-se também argolas de metal ou colchetes, 
ou ainda costura-se a genitália com o pretexto de evitar o ato sexual. 
 Cerca de 15% das mulheres submetidas à mutilação genital morrem durante o 
ato. Porque os circuncidadores usam, sem anestesia, tesouras, cacos de vidro, tampa de 
lata, navalhas, lâminas, facas – instrumentos estes que quase nunca são esterilizados. 
Em algumas regiões da África Ocidental, cinzas ou fezes de animais são colocados no 
ferimento para estancar a sangria, o que aumenta a incidência de infecções graves, 
hemorragias, abscessos, pedras na bexiga e na uretra, obstrução do fluxo menstrual e 
cicatrizes proeminentes. 
 Apesar de proibida em países como Gana, Egito, Somália e Sudão, a mutilação 
genital feminina continua praticada como tradição cultural nestes países, visto que 
constitui um rito de passagem da infância para a adolescência. Ao todo, a prática 
encontra-se difundida em 28 países da África e dois do Oriente Médio, atingindo mais de 
dois milhões de mulheres a cada ano. 
 Os fundamentalistas muçulmanos argumentam que é indispensável “proteger as 
mulheres das conseqüências do excessivo desejo sexual” e atribuem a Maomé a 
afirmação de que “a circuncisão é uma necessidade no homem e um adorno na mulher”. 
Os demais homens e mulheres manifestam-se convictos de que remover os genitais 
femininos externos é questão de respeito e honra, de garantia de um bom casamento e 
de fortalecimento da união da tribo. Pois um dos maiores insultos na África é chamar 
alguém de “filho de uma mãe não circuncidada”. Entretanto, a prática é antiqüíssima, 
anterior ao cristianismo e ao islamismo, datando de pelo menos dois mil e duzentos 
anos. 
 Hoje em dia, converteu-se em alvo de organizações como a Visão Mundial e o 
Fundo das Nações Unidas para a População, em função de luta em prol dos direitos 
humanos. E horroriza as mulheres ocidentais, conscientes de sua especificidade e 
empenhadas em preservar a sexualidade do gênero. 
 
(SROUR, Robert Henry. Ética Empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000, pp. 30-32)

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