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1 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Inflamação É uma resposta protetora do organismo a uma agressão com a finalidade de eliminar a causa inicial da lesão celular e iniciar o processo de reparo. SINAIS CARDINAIS OU FLOGÍSTICOS 1. Calor (aquecimento) = vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo aumentado 2. Rubor (vermelhidão) = diminuindo a velocidade da circulação (estase) 3. Edema (inchaço)= Aumento da permeabilidade vascular 4. Dor = compressão de fibras nervosas e mediadores inflamatórios que as hipersensibilizam. 5. Perda de função MEDIADORES DA INFLAMAÇÃO “Iniciam e regulam as reações inflamatórias”. São secretados a partir de células (grânulos intracelulares) ou produzidos a partir de proteínas plasmáticas (principalmente do fígado e estão na circulação como precursores inativos). A produção e liberação de mediadores é dependente de sinalizadores: células do sistema imune, citocinas ou quimiocinas. Balanço e controle da resposta: a concentração (resolução da inflamação) ou a amplificação (quando ela ainda está nas primeiras etapas). AMINAS VASOATIVAS HISTAMINA Fontes: mastócitos, basófilos e plaquetas. Ação: vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular. SEROTONINA Fonte: plaquetas. Ação: vasoconstrição. MEDIADORES LIPÍDICOS/ ECOSANÓIDES Derivados do ácido araquidônico, que está presente nos fosfolipídios da membrana. Estímulos físicos, químicos ou outros mediadores determinam a liberação do AA dos fosfolipídeos da membrana por meio de fosfolipases celulares, principalmente a A2. Os mediadores derivados do AA, são sintetizados por 2 classes principais de enzimas: ciclo-oxigenases (geram prostaglandinas) e lipo-oxigenases (geram leucotrienos e lipoxinas). PROSTAGLANDINAS Fontes: mastócitos e leucócitos. Ação: vasodilatação, dor e febre. São geradas a partir de duas ciclo-oxigenases, COX-1 e COX-2. • COX-1: importante na função homeostática, inclusive renal e citoproteção do trato gastrointestinal. • COX-2: ativada por estímulos inflamatórios. PGI2 (prostaciclina): secretada pelo endotélio, é antiagregadora plaquetária e vasodilatadora. TXA2 (tromboxano A2): produzido pelas plaquetas, é agregante plaquetário e vasoconstritor. PGE2: produzido em tecidos, é vasodilatadora, aumenta a permeabilidade vascular. LEUCOTRIENOS Fontes: mastócitos e leucócitos. Ação: quimiotaxia, aumenta a permeabilidade vascular, adesão e ativação de leucócito Módulo I: febre, inflamação e infecção ANA LUÍZA A. PAIVA – 4° PERÍODO 2/2021 2 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV LIPOXINAS Fonte: Advindas do AA através da via das lipoxigenases. Ação: atividade anti-inflamatória pela inibição do recrutamento de leucócitos. Inibem a quimiotaxia e adesão dos neutrófilos ao endotélio. FATOR ATIVADOR DE PLAQUETAS (PAF): Fontes: leucócitos e mastócitos. Ação: vasodilatação, aumenta a permeabilidade vascular, adesão leucocitária, quimiotaxia, degranulação e explosão oxidativa. CITOCINAS Ação: medeiam e regulam as reações imunológicas inflamatórias. QUIMIOCINAS Ação: tráfego, ativação e diferenciação de células. SIST. COMPLEMENTO Fonte: proteínas plasmáticas Ação: ativação e quimiotaxia de leucócitos, opsonização (MAC), vasodilatação (estimula os mastócitos). CININAS Fonte: proteínas plasmáticas Ação: aumenta a permeabilidade vascular, contração de músculo liso, vasodilatação e dor. NEUROPEPTÍDEOS Pode iniciar respostas inflamatórias, como através do neuropeptídio P. São produzidos no SNC e SNP. ALTERAÇÕES VASCULARES A vasodilatação é induzida pela ação de vários mediadores, sobretudo a histamina, nos músculos lisos vasculares. O resultado é o fluxo sanguíneo aumentado, que é a causa do calor e da vermelhidão (eritema) no local da inflamação. A vasodilatação é seguida por aumento de permeabilidade da microvasculatura, com extravasamento de plasma nos tecidos extravasculares formando o exsudato, que é rico em proteína, causando o edema. A perda de líquido faz com que as hemácias fiquem mais concentradas (estase), aumentando, assim, a viscosidade do sangue e diminuindo a velocidade da circulação. Quando a estase se desenvolve, os leucócitos (principalmente os neutrófilos) começam a se acumular ao longo da superfície endotelial vascular, um processo chamado marginação RECRUTAMENTO DE LEUCÓCITOS As mudanças vasculares são seguidas por influxo de leucócitos no tecido, que irão eliminar os agentes agressores. Os fagócitos, em especial os neutrófilos e os macrófagos, ingerem e destroem os agentes patológicos, além de produzirem fatores de crescimento que ajudam no reparo. O processo é mediado e controlado por moléculas de adesão e quimiocinas. Sendo dividido em etapas: (1) Marginalização e rolagem (adesão rápida e transitória pelas selectinas) (2) Aderência ao endotélio (ação das integrinas, dependente das quimiocinas) (3) migração via endotélio (diapedese- a célula se “molda” para sair do vaso) (4) migração pelos tecidos (quimiotaxia). Na maioria das formas de inflamação aguda, os neutrófilos predominam no infiltrado inflamatório durante as primeiras 6 a 24 horas, sendo substituídos pelos monócitos em 24 a 48 horas. ATIVAÇÃO DOS LEUCÓCITOS O reconhecimento dos agentes agressores pelos TLRs e outros receptores, geram sinais que ativam os leucócitos para a fagocitose e destroem os agentes agressores. A ativação leucocitária resulta em: • Fagocitose. • Destruição intracelular e extracelular de patógenos e células mortas. 3 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV • Produção de mediadores que amplificam a reação inflamatória, por recrutamento e ativação de mais leucócitos. REMOÇÃO DO AGENTE O patógeno é englobado pela membrana do fagócito, há a formação do fagossoma, um vacúolo, que se liga a um lisossomo (rico em fatores de destruição: enzimas, radicais livres) e assim, formase o fagolisossoma e o microrganismo é eliminado. FIM DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA (AGUDA): 1) Resolução completa: eliminação completa com restauração do tecido normal 2) Cura por substituição por tecido conjuntivo: exsudação abundante = fibrose 3) Progressão para inflamação crônica: manutenção do agente causador da injúria, defeito no reparo INFLAMAÇÃO CRÔNICA X INFLAMAÇÃO AGUDA CÉLULAS E MEDIADORES DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA Macrófagos: células predominantes, secretam citocinas e fatores de crescimento que agem em várias células, destruindo invasores estranhos e tecidos, bem como ativando os linfócitos T. Linfócitos: podem ser predominantes na inflamação crônica em doenças autoimunes e em doenças de hipersensibilidade. Os microrganismos e outros antígenos do ambiente ativam os linfócitos T e B, o que amplifica e propaga a inflamação crônica. Eles usam moléculas de adesão e quimiocinas para migrar para os locais de inflamação. As citocinas dos macrófagos ativados – principalmente TNF, IL1 e quimiocinas – promovem o recrutamento de leucócitos. Há 3 subtipos de células TCD4+ que secretam espécies diferentes de citocinas e produzem tipos de inflamação distintos: 1. TH1: produzem IFN- γ, que ativa a via clássica dos macrófagos. 2. TH2: secretam IL-4, IL-5 e IL-13, que recrutam e ativam eosinófilos e ativam a via alternativa dos macrófagos. 3. TH17: secretam IL-17 e outras citocinas, que induzem a secreção de quimiocinas responsáveis pelo recrutamento de neutrófilos e monócitos para a reação. TH1 e TH17 são importantes contra bactérias e vírus TH2 são importantes contra helmintos e em reações alérgicas. Os linfócitos eo macrófagos se interagem de forma bidirecional, ou seja, conseguem amplificar suas ações por um sistema de retroalimentação. Os linfócitos B ativados e os plasmócitos produtores de anticorpos estão presentes com frequência nos locais de inflamação crônica. FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS O tratamento de pacientes com inflamação envolve dois objetivos primários: (1) aliviar os sintomas e preservar a função (2) retardar ou deter o processo responsável pela lesão tecidual Fármacos Anti-inflamatórios não esteroides (AINES) Possuem a capacidade de suprimir os sinais e sintomas da inflamação, incluindo a dor. Além disso também conseguem inibir a febre. São anti- inflamatórios, antipiréticos e analgésicos. • COX1 é constitutiva e é produzida em resposta a um estímulo inflamatório e está presente em todos os tecidos, estimulando a produção de 4 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV prostaglandinas, tendo como funções: homeostasia vascular (produção plaquetária), manutenção do fluxo sanguíneo renal e gastrointestinal e produção da mucosa gástrica. • COX-2, em contraste, é induzida por estímulos inflamatórios, mas está ausente da maioria dos tecidos normais e tem como funções provocar: febre, aumento da temperatura, dor, transdução de estímulos dolorosos e adaptação renal a estresses. Mecanismo de ação: inibição da biossíntese de prostaglandinas atuando nas ciclo-oxigenases. AINES não seletivos: atuam inibindo tanto a COX- 1 quanto a COX-2. EX: paracetamol e AAS. Efeitos adversos: dor abdominal, azia e diarreia. O tratamento em longo prazo pode causar erosões e úlceras gástricas, por conta da inibição da COX-1. AINES seletivos de COX-2: atuam somente na via da COX-2. EX: nimesulida. Fármacos Anti-inflamatórios esteroidais (AIES) Mecanismo de ação: inibição da fosfolipase A2, impedindo a formação de todos os mediadores lipídicos que estão envolvidos na resposta inflamatória. • Estabilização de membranas, redução da permeabilidade vascular e ativação de células endoteliais. • Ação antifibrinogênica Febre Temperatura central: é a temperatura dos órgãos e tecidos, a qual varia muito pouco ao longo do dia (+ ou – 0,6ºC) exceto quando em estados febris. Temperatura da pele: se eleva e diminui de acordo com a temperatura do ambiente, está relacionada diretamente à capacidade do organismo de reter ou perder calor para o ambiente. “A temperatura corporal é controlada pelo equilíbrio entre a produção e a perda de calor.” TERMORREGULAÇÃO CORPORAL A temperatura do corpo é regulada por mecanismos de feedback neurais que operam por meio de centros regulatórios da temperatura, localizados no hipotálamo. Para que esses mecanismos de feedback operem, deve haver detectores de temperatura para determinar quando a temperatura do corpo está muito alta ou muito baixa. Área pré-óptica A área pré-óptica possui vários neurônios sensíveis ao calor e ao frio, mas principalmente ao calor, que atuam como sensores de temperatura para o controle da temperatura corporal. Quando a área pré-óptica é aquecida: - A pele de todo o corpo imediatamente produz sudorese profusa 5 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV - Os vasos sanguíneos da pele de todo o corpo ficam muito dilatados - Qualquer excesso de produção de calor é inibido Essa reação imediata causa perda de calor, ajudando a temperatura corporal a retornar aos valores normais. Receptores da pele • São mais sensíveis ao frio • São expostos à temperatura da superfície corporal Quando a pele é resfriada: -Há geração de forte estímulo para causar calafrios com aumento resultante da produção de calor corporal - Há inibição da sudorese, se ela estiver ocorrendo - Há vasoconstrição da pele para diminuir a perda de calor corporal pela pele Receptores profundos • São encontrados principalmente na medula espinhal, nas vísceras abdominais e nas grandes veias na região superior do abdome e do tórax • São expostos à temperatura central do corpo • São mais sensíveis ao frio Hipotálamo posterior • Os receptores estimulam o hipotálamo posterior ao nível dos corpos mamilares • Os sinais da área pré-óptica e de outros receptores do corpo são combinados e integrados para controlar a produção e conservação de calor do corpo “PONTO DE AJUSTE” E O CONTROLE DA TEMPERATURA O “ponto de ajuste” corresponde à temperatura na qual, acima dela, os mecanismos de perda de calor prevalecerão; abaixo dela, os mecanismos de ganho de calor. Com a elevação do ponto de ajuste hipotalâmico, ocorre ativação do centro vasomotor, levando à vasoconstrição: desvia sangue da periferia para órgãos internos, paciente sente frio, apresenta calafrios e piloereção. Quando a temperatura corporal se iguala ao novo set point (crise), o núcleo pré-óptico, entenderá que alcançou seu ponto de equilíbrio. Posteriormente há a queda do set point, ocorre vasodilatação e sudorese para levar a perda de calor e diminuição da temperatura corporal MENSURAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL ✓ Temperatura axilar: 35,5 a 37°C, com média de 36 a 36,5°C. ✓ Temperatura bucal: 36 a 37,4°C. ✓ Temperatura retal: 36 a 37,5°C, ou seja, 0,5°C maior que a axilar. FEBRE X HIPERTERMIA FEBRE: uma elevação da temperatura corporal que ultrapassa a variação diária normal e ocorre associada ao aumento do set point hipotalâmico. HIPERTERMIA: é o aumento da temperatura corporal devido a um desequilíbrio entre a produção e a dissipação de calor, sem alteração do set point hipotalâmico. PATOGÊNESE DA FEBRE Pirógenos exógenos: microrganismos e seus produtos e suas toxinas. Estes estimularão as células do hospedeiro (monócitos e macrófagos) a produzirem pirógenos endógenos: (IL-1, IL-6, TNF, IL-8) Essas citocinas (IL-1, TNF, IFN e IL-6), ao atingirem a circulação, estimulam a produção de prostaglandina E2 em macrófagos e células endoteliais próximas ao hipotálamo. A prostaglandina E2, chega então ao hipotálamo e estimula a produção de AMP cíclico, que aumenta o limiar de temperatura e leva a respostas metabólicas de conservação de calor, induzindo a febre. 6 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV CARACTÉRISTICAS DA FEBRE Início: pode ser súbito ou gradual. Intensidade • Febre leve ou febrícula: até 37,5°C • Febre moderada: de 37,6° a 38,5°C • Febre alta ou elevada: acima de 38,6°C. Evolução • Febre contínua: permanece acima do normal com variações de até 1 grau, sem grandes oscilações. • Febre irregular ou séptica: Picos muito altos intercalados baixas temperaturas ou apirexia, sem nenhum caráter clínico nessas variações. • Febre remitente: há hipertermia diária com variações de mais de 1 grau, sem períodos de apirexia. • Febre intermitente: a hipertermia é clinicamente interrompida por um período de temperatura normal. Pode ser cotidiana, terçã (um dia com febre e outro sem) ou quartã (um dia com febre e dois sem). • Febre recorrente ou ondulante: semanas ou dias com temperatura corporal normal até que períodos de temperaturas elevadas ocorram. Durante a fase de febre não há grandes oscilações. Término • Crise: a febre desaparece subitamente. • Lise: significa que vai desaparecendo gradualmente, com a temperatura diminuindo dia a dia, até alcançar níveis normais FEBRE COMO MALEFÍCIO X BENEFÍCIO MALEFÍCIOS DA FEBRE BENEFÍCIOS DA FEBRE Albuminúria Aumento de anticorpos Convulsão febril Mais leucócitos são produzidos para ajudar a combater os invasores Delirium Mais IFN é produzido, o que ajuda a bloquear a propagação de vírus para células saudáveis Maior demanda metabólica Redução do ferro sérico,que tem efeito inibidor para bactérias Elevação da atividade cardíaca O aumento da temperatura mata diretamente micróbios Desidratação e distúrbios eletrolíticos Melhor capacidade de certos leucócitos de destruir bactérias e células infectadas Pode ser teratogênica nos primeiros 3 meses de gestação Prejudica a replicação de muitas bactérias e vírus CONVULSÃO FEBRIL “Convulsão febril (CF) ocorre na infância, geralmente entre os 3 meses e 5 anos de idade, associada à febre, na ausência de infecção intracraniana ou de outra causa neurológica definida, excluindo-se as crianças que tenham tido previamente convulsões afebris.” A primeira CF ocorre em média entre os 18 e 22 meses. Fisiopatologia Existem dois fatores implicados na fisiopatologia da convulsão febril: a imaturidade do SNC da criança (falta de mielina) e a hereditariedade (histórico familiar). Quadro clínico 7 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Convulsão febril simples: crise convulsiva, em geral tônico-clônica generalizada, com duração de menos de 15 minutos. Pode apresentar período pós-ictal, com sonolência breve, sem déficit neurológico focal associado. Em geral, a convulsão febril simples ocorre no começo da doença febril aguda, não recorrendo durante a doença. Convulsão febril complexa ou atípica: crise convulsiva focal, não generalizada. Pode ser representada, por exemplo, por uma crise de ausência, com duração maior que 15 minutos, e possui um período pós-ictal prolongado, podendo até apresentar déficits focais. Por fim, pode-se apresentar como crises repetidas em um período de 24 horas ou crises que recorrem durante a mesma doença febril. Diagnóstico É clínico: anamnese + exame físico, devendo sempre classificar a crise em simples ou complexa e identificar o possível foco da febre. A hipótese é reforçada quando a crise é típica, o exame neurológico é normal, o paciente já apresentou uma ou mais CF e há relato de casos semelhantes em parentes de 1º grau. Tratamento Para o tratamento no momento da crise utiliza-se: os benzodiazepínicos, especialmente o diazepam, podendo ser utilizados até 03 vezes enquanto a crise permanecer. Para o controle da febre: antitérmicos. FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA É a presença de temperatura axilar maior que 38,3º em várias ocasiões > 3 semanas, sem se descobrir a causa após 3 dias de avaliação no hospital ou ≥ 3 consultas ambulatoriais Conduta Avaliar durante a anamnese quanto a viagens, contato com doentes e animais, uso de drogas ilícitas, comportamento para AIDS, emagrecimento, internações e uso de antibióticos. Exames complementares: hemograma, PCR, VHS, urina e fezes, sorologia para autoanticorpos, TSH e T4, vit B12, TGO e TGP, RX de tórax e TC ou US de abdome, biópsias. Tratamento: • Paciente em bom estado geral + febre - investigação ambulatorial • Paciente em bom estado geral + resolução espontânea da febre - investigação ambulatorial por 6 meses • Paciente em deterioração clínica grave - terapêutica de prova (tratamento empírico): antibióticos de amplo espectro e corticosteroides. ANTITÉRMICOS 8 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV A maioria das drogas antitérmicas são inibidoras da enzima cicloxigenase, bloqueando a produção de prostaglandinas no hipotálamo e interrompendo a cadeia metabólica que leva à resposta febril. Aspirina (AAS) É utilizado principalmente como antiagregante plaquetário no tratamento de eventos tromboembóliticos, já que, inibe a forma irreversível a COX-1 plaquetária, inibindo sua agregação. Paracetamol: inibe a síntese das prostaglandinas no SNC, resultando em suas ações antipiréticas e analgésicas. Tem pouco efeito sobre as COX em tecido periférico, o que contribui para pouca atividade anti- inflamatória. Pode ser utilizado por gestantes. Ibuprofeno Eficaz como analgésico e como antipirético. Alguns efeitos adversos coincidem com demais anti-inflamatórios como hemorragias, falência renal e irritação gastrointestinal. Não é usado em caso de suspeita de dengue pela inibição da coagulação. Dipirona: Pouca ação anti-inflamatória importante. Antitérmico e analgésico. Pode desenvolver reações alérgicas. Efeito mais rápido sobre a febre: bloqueia produção de PGE2 central e periférica. Sepse A sepse é uma síndrome clínica caracterizada por uma reação inflamatória desregulada, secundária a uma infecção (suspeitada ou diagnosticada) que se associa à disfunção no funcionamento de órgãos e sistemas, ameaçando à vida ANTIGA CLASSIFICAÇÃO Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS/SRIS): reação inflamatória exacerbada com 2 ou mais dos seguintes critérios: Sepse: quadro de SIRS proveniente de um processo infeccioso. Ou seja, 2 critérios da SIRS + foco infeccioso diagnosticado ou suspeitado. Sepse Grave: Sepse + sinais de hipoperfusão tecidual ou disfunção orgânica de acordo com os seguintes critérios (≥ 1): Choque séptico: Sepse Grave + hipotensão não responsiva à volume, é necessário entrar com fármacos vasopressores para manter uma PAM ≥ 65mmhg. NOVA CLASSIFICAÇÃO Hoje não se utiliza mais a nomenclatura de SIRS, já que agora para se chamar de SEPSE já deve estar presente uma disfunção orgânica, eliminando também a nomenclatura de SEPSE GRAVE, toda SEPSE É GRAVE!!!! Choque séptico: sepse + uso de vasopressores (hipotensão não responsiva à volume) para manter a PAM ≥ 65mmHg. (PAM) + hiperlactatemia (lactato > 18 mg/dl). 9 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV ETIOLOGIA Pode ser desencadeada por inúmeras patologias como trauma, hipovolemia, peritonite, pneumonia (causa mais comum), ITU, neoplasia, pancreatite e procedimentos anestésicos e cirúrgicos e etc. ACHADOS CLÍNICOS Os pacientes com sepse geralmente apresentam taquicardia, febre e leucocitose. Com a evolução do processo, sinais de choque (p.ex., pele fria, cianose, prostração) e disfunção orgânica como insuficiência respiratória, insuficiência renal, insuficiência hepática podem se desenvolver Assim, pacientes com quadro de sepse geralmente apresentam-se com queixas infecciosas, como tosse produtiva, dor abdominal ou disúria. FISIOPATOLOGIA O paciente adquire uma infecção (trato respiratório, urinário ou no digestório) e, a partir daí, inicia uma produção exacerbada de mediadores pró-inflamatórios. Dentre esses, os mais expressivos são as citocinas TNF-α e a IL-1, que estão muito associadas ao desenvolvimento de Sepse. Tudo isso, em grande quantidade, acaba entrando na circulação sanguínea e se disseminando por todo o corpo do paciente Durante o seguimento do processo inflamatório, há vasodilatação generalizada, com aumento da permeabilidade vascular, gerando diminuição do volume intravascular (hipotensão). Os principais mediadores inflamatórios envolvidos são: Óxido nítrico: → diminuição da resistência vascular sistêmica pois causa vasodilatação → hipotensão → contribui para choque séptico, inibe também a ativação plaquetária. TNF-alfa: estimula IL-1, IL-6 e IL-8 → induzem ao dano endotelial → levam expressão de fator tecidual → TROMBINA → TROMBOS → diminui aporte de O2 e nutrientes A própria atividade inflamatória acaba levando à lesão e morte celular. Essa lesão celular é o mecanismo precursor da disfunção orgânica na sepse. Os mecanismos propostos para explicar a lesão celular incluem: 1. Isquemia tecidual: oxigênio insuficiente para suprir as demandas metabólicas de um tecido inflamado. 2. Lesão citopática: lesão celular direta, principalmente secundária a disfunção mitocondrial por mediadores pró-inflamatóriose aumento de indução de apoptose. DIAGNÓSTICO • qSOFA ≥ 2: apresenta baixa sensibilidade, mas alta especificidade para o diagnóstico de sepse. • SOFA: para cada sistema avaliado, o paciente receberá uma pontuação que varia entre 0 e 4 (escore final de 0 a 24 ponto). • 0: sistemas não foram atingidos • 1 e 2: disfunção do órgão • 3 e 4: falência do órgão 10 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV O que define a disfunção é o aumento de 2 pontos, então se o paciente tiver alguma condição de base que confira alguma pontuação no SOFA, ele só terá evidência de disfunção se aumentar 2 pontos em relação a essa pontuação prévia. CONDUTA E TRATAMENTO Uma vez tendo levantado a suspeita de Sepse, a gente deve manejar o paciente o mais rápido possível e isso envolve, logo de cara, monitorizá- lo e garantir acesso vascular, sendo que por esse, já devem ser colhidos os exames necessários para definir o SOFA, ou seja: Além disso, é importante investigar o foco infeccioso e por isso deve ser solicitado também 2 hemoculturas de sítios diferentes e culturas de todos os sítios pertinentes. Esses exames precisam ser feitos antes do início da terapia medicamentosa, contudo, não podemos atrasar a conduta inicial esperando o resultado! PACOTE DE 1 HORA Medir nível de lactato: o aumento do lactato indica que há hipóxia tecidual e a aceleração da glicólise aeróbica causada pelo excesso de estimulação beta-adrenérgica. Se o nível > 2 mol deve ser medido dentro de 2 ou 4 horas. Obter hemoculturas antes dos antibióticos. Administrar antibiótico de amplo espectro (antes da primeira hora após o atendimento ao paciente, preferencialmente após a coleta das culturas) Ressuscitação volêmica: é crucial para a estabilização da hipoperfusão tecidual. Deve ser iniciado imediatamente após o, e completado diagnóstico de sepse e/ou hipotensão e lactato >4 mol dentro de 3 horas de reconhecimento. A primeira escolha geralmente é a solução com cristaloide. Aplique vasopressores: se a ressuscitação volêmica não reestabelecer a PA, deve-se iniciar a administração dos vasopressores (ex noradrenalina) ainda na primeira hora a fim de atingir a PAM ≥ 65 mmHg Obs: Em casos de hipotensão ameaçadora a vida, pode-se iniciar o vasopressor mesmo antes ou durante a reposição volêmica. Infecção do Trato Urinário (ITU) Processo infecioso que acomete qualquer região do trato urinário, sendo que a presença de microrganismo patogênico detectado na urina, na uretra, na bexiga, no rim, na próstata ou epidídimo é indicativo de ITU. CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA Podem ser divididas em: infecções do trato urinário baixo (cistites, uretrites e prostatites) e infecções do trato urinário alto (pielonefrites e abscessos perinefréticos) NÃO COMPLICADA Ocorre em paciente com estrutura e função do trato urinário normal e é adquirida na comunidade. COMPLICADAS Infecção do trato urinário com repercussões sistêmicas que está associada a algumas condições pré-existentes do indivíduo que podem resultar em maior dificuldade no tratamento: anormalidades urológicas 11 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV subjacentes (nefrolitíase, estenoses, obstruções, etc.), doenças sistêmicas (diabetes mellitus, imunossupressão, insuficiência renal crônica, transplante renal). ETIOLOGIA A ITU geralmente é causada por bactérias gram- negativas (BGN) originárias da flora intestinal, de modo que a Escherichia coli é o principal agente causador em todas as classificações. No entanto, em mulheres com vida sexual ativa o coco gram-positivo Staphylococus saprophyticus é o segundo patógeno causador de ITU. FATORES DE RISCO Idade: mulheres em idade fértil. Gênero: Na mulher, há susceptibilidade se deve as características anatômicas: uretra mais curta e a maior proximidade do ânus com o vestíbulo vaginal e uretra. No homem, o maior comprimento uretral, maior fluxo urinário e o fator antibacteriano prostático (eliminação de zinco pela próstata) são protetores. Atividade sexual: o contato com a região do clitóris e uretra, o atrito durante a relação contribui. Sexo anal ou mesmo dos dedos com a vagina após tocar o ânus facilita a infecção. Gravidez: Os principais fatores que predispõem a grávida à ITU são a modificação da posição da bexiga, o aumento da capacidade vesical devido à redução do tônus vesical, o relaxamento da musculatura lisa da bexiga e do ureter. Obstrução do trato urinário Excesso ou falta de higiene íntima Cateterização urinária: A utilização de cateteres por longos períodos predispõe o paciente a desenvolver ITU assintomática. Recomenda-se a troca do cateter a cada 21 dias. FISIOPATOLOGIA Via ascendente: a maior parte dos patógenos acessam as estruturas do aparelho urinário ascendendo a partir da uretra chegando até a bexiga e parênquima renal. via hematogênica: ocorre quando há uma infecção em outra parte do corpo. Os microorganismos caem na corrente sanguínea e chegam nas vias urinarias, devido a intensa vascularização do rim. Virulência: A mucosa vesical é rica em mucina, substância que visa dificultar a aderência das bactérias na região. No entanto, a virulência bacteriana é a capacidade do patógeno em romper esta camada de mucina e aderir à camada mucosa ou célula urotelial. Para que isto se concretize, as estruturas bacterianas atuam melhorando sua motilidade (flagelo), conferindo resistência à fagocitose (cápsula) e permitindo a adesão irreversível da bactéria aos componentes da célula epitelial (fímbrias). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS CISTITE: • Disúria (dor ou dificuldade de micção) • Polaciúria (aumento da frequência das micções, associado à eliminação de volumes urinários) menores • Urgência miccional • Dor em região suprapúbica • Hematúria/ e ou urina turva (presença de piuria) • Incontinência urinária A febre nas infecções baixas não é um sintoma usual. Os sintomas duram de 3 a 4 dias. Idosos podem ter apresentações atípicas como alteração do nível de consciência e/ou alterações do comportamento. PIELONEFRITE • Lombalgia • Náuseas ou vômitos • Calafrios • Febre (maior que 38°C) • Sinal de Giordano positivo (dor a punho percussão em região de loja renal) • Pode ou não ter associação de sintomas de cistite. 12 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Obs: Febre, calafrios e dor lombar formam a tríade de sintomas característicos da pielonefrite, estando presentes na maioria dos casos. Os sintomas sugestivos de um quadro complicado são: • Urolitíase • Cólica nefrética • Hematúria macroscópica DIAGNÓSTICO Deve-se realizar uma anamnese bem detalhada buscando informações prévias como: • N° de ITUs por ano • Tratamento anteriores e duração • início recente de vida sexual ativa e n° de parceiros • Métodos contraceptivos • Métodos de higiene intima Além disso, deve-se realizar um exame físico geral e avaliando principalmente: • Temperatura axilar • Exame Abdominal • Sinal de Giordano (pielonefrite ou litíase renal) • Exame Ginecológico EXAMES COMPLEMENTARES Devem ser solicitados exames complementares a fim de diagnosticar o quadro sugestivo do paciente. Urina rotina: Sensibilidade maior com a coleta da primeira urina da manhã, pela maior concentração e maior número de bactérias Alguns sinais sugerem infecção no resultado: • Leucocitúria (>10.000/ml) = piúria (achado universal em casos de cistite e pielonefrite) • Nitrito positivo (indica que na urina foram identificadas bactérias capazes de converter nitrato em nitrito) • Hematúria (presença de hemácias na urina) Obs: pacientes com presença de nitrito+ no exame de urina rotina é diagnóstico de infecção urinária, porém nitrito negativo não descarta a possibilidade de ser Urocultura: é o exame que define diagnóstico de ITU e identifica qual é o microrganismo responsável pela infecção. Deve ser solicitado com um antibiograma para avaliar o perfil de sensibilidade do respectivo patógeno para os agentes microbianos. O resultado é positivo quando se encontra uma contagem ≥ 100.000 Unidades Formadoras de Colônia por mL (UFC/mL). O ideal é realizar a coleta da urocultura antes do início do antibiótico empírico. TRATAMENTO CISTITE Quando há suspeita de ITU por meio do quadro clínico é preciso realizar tratamento empírico até que se obtenha o resultado da urocultura e antibiograma. O tratamento inicial deve cobrir os uropatógenos mais comuns, por exemplo com os fluoroquinolonas ou sulfonamidas. SMX-TMP = sulfametoxazol+trimetropim PIELONEFRITES Normalmente são hospitalizados, iniciando o tratamento com fluoroquinolona, por via intravenosa. Após 48h de início de terapia intravenosa pode passar para esquema oral caso haja sinais de melhora clínica Se não houver melhora após 72h deve-se realizar exames de imagens para afastar outras doenças 13 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Lembrar de internar todos os pacientes, salvo mulher jovem não-grávida sem comorbidades, nesses casos pode se considerar tratamento ambulatorial. Se ambulatorial, prescrever os seguintes antibióticos (lembrar de reavaliar a paciente): PIELONEFRITE NÃO COMPLICADA (AMBULATORIAL) Ciprofloxacina 500 mg VO 12/12h por 7-10 dias Norfloxacina 400mg VO 12/12h por 7-10 dias Levofloxacina 750 mg VO 1x ao dia por 7-10 dias PROFILAXIA São medidas direcionadas principalmente para mulheres, que possuem ITU recorrente (> 3 episódios em 1 ano ou > 2 episódios em 6 meses), são elas: • Ingestão oral de fluidos com frequência; • Aumentar a frequência miccional (a cada 2 a 3 horas) • Urinar logo após o coito e/ou antes de se deitar • Aumentar a frequência de micções (a cada 2- 3h); • Evitar uso de espermicidas como método anticoncepcional; • Profilaxia medicamentosa: SMZ-TMP 200mg/40mg 1x/dia ou 3x/ semana ou Nitrofurantoína 50mg/ dia ou Cefalexina 250mg/dia. • Profilaxia pós-coito: igual aos antibióticos utilizados na profilaxia geral; • Profilaxia em gestantes: Nitrofurantoína 50- 100mg ou Cefalexina 250-500mg pós-coito ou antes de dormir. Se fator de risco para pielonefrite: usar profilaxia desde a 1º ITU da gestação; Dengue É uma doença infecciosa febril aguda sistêmica, que pode se apresentar de forma benigna ou grave, dependendo de alguns fatores, entre eles: o vírus envolvido, infecção anterior pelo vírus da dengue e fatores individuais como doenças crônicas (diabetes, asma brônquica, anemia falciforme). ETIOLOGIA A dengue é uma arboviros (doença transmitida por inseto), do gênero flavivírus, que é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e possui 4 sorotipos bem estabelecidos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e o DENV-4, Virulência: 2 > 3 > 4 > 1 FISIOPATOLOGIA Depois da picada do inseto infectado, o período de incubação varia de 4 a 7 dias, durante os quais pode ou não apresentar sintomas dependendo de fatores intrínsecos. O aumento do número de células infectadas resulta na maior produção de citocinas incluindo TNF-alfa e INF-alfa e outros mediadores. Com a ativação desses mediadores, observa-se o aumento da permeabilidade vascular, 14 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV extravasamento anormal de plasma, hipovolemia, choque e alterações hemostáticas; além disso pode haver apoptose de células endoteliais, causando ruptura da barreira das células. QUADRO CLÍNICO A infecção pelo vírus dengue pode ser assintomática ou sintomática. Quando sintomática, 3 fases clínicas podem ocorrer: febril, crítica e de recuperação FASE FEBRIL A primeira manifestação é a febre que tem duração de 2 a 7 dias, geralmente alta (39ºC a 40ºC), de início abrupto, associada à cefaleia, à adinamia, às mialgias, às artralgias e a dor retroorbitária. Além disso, o paciente também pode ter náuseas e vômitos, anorexia, diarreia e exantema. a) Diarreia: costuma ser pouco volumosa, com fezes pastosas e numa frequência de 3-4x ao dia; b) Exantema: está presente em cerca de metade dos casos e na maioria das vezes se apresenta no padrão máculo-papular, afetando todo o corpo do paciente (face, tronco, MMSS, MMII, mãos e pés). Leucopenia, linfocitopenia → após segundo dia da doença. FASE CRÍTICA Esta fase pode estar presente em alguns pacientes, podendo evoluir para as formas graves. Caracteriza por uma melhora da febre entre o 3º e o 7º dia de doença, associada ao desenvolvimento de sinais de alarme. Sinais de alarme na dengue Dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua. Vômitos persistentes. Acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico). Hipotensão postural e/ou lipotimia. Hepatomegalia maior do que 2 cm abaixo do rebordo costal. Sangramento de mucosa. Letargia e/ou irritabilidade. Aumento progressivo do hematócrito A presença de um desses sinais indica que o paciente está deteriorando e tem uma chance maior de evoluir com complicações da doença, sendo a principal: choque. Dengue grave podem manifestar-se com extravasamento de plasma, levando ao choque ou acúmulo de líquidos com desconforto respiratório, sangramento grave ou sinais de disfunção orgânica. Choque O choque ocorre quando um volume crítico de plasma é perdido através do extravasamento, o que geralmente ocorre entre o 4° e 5° dia (com intervalo entre 3 a 7 dias) de doença, geralmente precedido por sinais de alarme. O período de extravasamento plasmático e choque leva de 24 a 48 horas, costumando evoluir ao óbito em um intervalo de 12 a 24 horas ou a sua recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada. FASE DE RECUPERAÇÃO O paciente começa a ter uma melhora progressiva dos sintomas e do estado geral. 15 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Porém a fase crítica começa do mesmo jeito, então é importante continuar acompanhando o paciente e orienta-lo a retornar aos serviços caso identifique algum dos sinais de alarme. Nesta fase o débito urinário se normaliza ou aumenta, podem ocorrer ainda bradicardia e mudanças no eletrocardiograma. DIAGNÓSTICO Presença de quadro clínico clássico + período epidemiologicamente ativo (surtos) = dispensa qualquer outra investigação para a doença. O hemograma é muito útil para definir a conduta terapêutica e se o caso deve ser hospitalizado • A presença de linfócitos atípicos é comum, assim como a elevação transitória dos níveis de transaminases, que podem chegar a até 1.000 U/L. • Baixa contagem de plaquetas (< 100.000/mm') também é muito frequente. Até 5 dias: ainda não vai ter desenvolvido sorologia para Dengue, então o que pode ser feito é a dosagem de partículas relacionadas ao próprio vírus causador - Pesquisa de Antígeno Viral (NS1) * - Teste de Amplificação Genética (RRT-PCR); - Imuno-histoquímica Tecidual - Cultura A partir de 5 dias: realiza-se a sorologia com pesquisa de anticorpos IgM e IgG. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ZIKA VÍRUS A Zika é uma doença também causada por um flavivírus (o ZIKAV) transmitido pelo mesmo mosquito Aedes aegypti. Ela costuma passar por um período de incubação que dura de 2-14 dias, sendo que cerca de 80% dos indivíduos não manifestam qualquer sintoma após esse período. O outros 20%, no entanto, podem apresentar um quadro de: • exantema máculo-papular pruriginoso • febre baixa • fadiga • hiperemia conjuntival.O vírus da Zika possui o que chamamos de “neurotropismo”, ou seja, é um vírus que gosta do tecido nervoso e isso pode levar a uma série de complicações graves, sendo as mais comuns: a) Síndrome de Guillain-Barré, uma doença desmielinizante que cursa com dor e fraqueza muscular progressiva, além de perdas motoras e paralisia flácida; b) Microcefalia: o vírus atinge o SNC do feto via transplacentária e desacelera o crescimento neuronal, provocando alterações no crescimento ósseo e, consequentemente, redução do perímetro cefálico. Tratamento ● Paracetamol ou dipirona para controle da febre manejo da dor, repouso, administração de líquidos ● Erupções pruriginosas → anti-histamínicos CHIKUNGUNYA A Chikungunya é uma doença causada pelo vírus CHIKV (do gênero Alphavirus e família Togaviridae), o qual tem o Aedes aegypti como vetor. O período de incubação pode durar entre 1 e 12 dias (média de 3-7 dias) e só depois disso é que ele entra no período sintomático da doença, o qual pode ser dividido em 3 fases distintas: FASE AGUDA • Febre alta de até 40ºC que dura no máximo 10 dias • Poliartralgia intensa e incapacitante (comumente com edema periarticular), que acomete principalmente mãos, punhos e tornozelo. • rash eritematoso maculopapular (75% dos casos) sendo mais comum seu aparecimento por volta do 3º dia de sintomas. 16 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV FASE SUBAGUDA Após cerca de 10 dias a febre desaparece marcando o início da fase subaguda. Essa fase pode se estender por até 3 meses e que é marcada persistência da dor articular, normalmente nas mesmas articulações previamente acometidas, mas que agora pode começar a cursar com rigidez matinal, edema e tenossinovite hipertrófica, podendo levar a complicações como a Síndrome do Túnel do Carpo. FASE CRÔNICA A fase crônica é marcada por uma evolução do quadro articular, podendo apresentar deformação e, em 20% dos casos, o fenômeno de Raynaud. CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DA DENGUE Estadiamento clínico GRUPO A Paciente com suspeita de dengue, mas sem sinais de alarme ou condições especiais GRUPO B Pacientes com suspeita de dengue e sem sinais de alarme, mas com condições especiais GRUPO C Paciente com diagnóstico de dengue e com sinais de alarme GRUPO D Paciente com diagnóstico de dengue grave, apresentando choque, hemorragia ou disfunção orgânica CONDUTA Grupo A: a) Exames laboratoriais e diagnósticos b) Prescrever paracetamol e/ou dipirona (não utilizar salicilatos ou AINES) d) 4) Orientar o paciente a fazer repouso, se hidratar bastante e retornar ao serviço o mais rápido possível caso apareça qualquer um dos sinais de alarme. e) Notificar GRUPO B: a) Manter o acompanhamento em leitos de observação, mas com a mesma conduta do Grupo A: exames diagnósticos, medicamentos para controle álgico e hidratação oral (também do mesmo jeito) e orientações. b) Se o hematócrito der NORMAL: tratamento ambulatorial, agendar o retorno até 48 horas após queda da febre ou imediata na presença de sinais de alarme c) Se surgirem sinais de alarme: seguir para GRUPO C. GRUPO C: a) Internação e reposição volêmica imediata (10mL/kg de soro fisiológico na 1ª hora), Obs: Devem permanecer em acompanhamento em leito de internação até estabilização – mínimo 48 horas b) Prescrever dipirona e/ ou paracetamol c) Realizar exames complementares obrigatórios: • Hemograma completo. • Dosagem de albumina sérica e transaminases. d) Realizar exames de imagem: radiografia de tórax e ultrassonografia de abdome. e) Solicitar outros exames conforme necessidade: • glicemia, • ureia, • creatinina, 17 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV • eletrólitos, • gasometria, • TPAE • ecocardiograma. f) Se houver melhora do quadro, nós vamos readaptar a hidratação para 25mL/kg em 6h e se continuar melhorando, a próxima etapa é novamente 25mL/kg só que em 8h. g) Exame para confirmação – sorologia após 5ºdia e PCR após 5ºdia h) Notificar o caso i) Orientar retorno conforme GRUPO B j) Caso contrário, se o paciente não apresentar qualquer melhora à intervenção, realoca-lo para o grupo GRUPO D: a) Reposição volêmica com solução isotônica de 20ml/kg em até 20min, podendo repetir até 3 vezes b) Reavaliação clínica a cada 15-30min e de hematócrito em 2 horas c) Se houver melhora retorna ao GRUPO C Pacientes devem permanecer em UTI até estabilização por no mínimo 48 horas d) Hemograma completo e) Albumina sérica e transaminases f) Radiografia de tórax e ultrassonografia de abdome g) Podem ser pedidos: glicemia, ureia, creatinina, eletrólitos, gasometria, TPAE e ecocardiograma h) Realizar os exames de confirmação i) Na persistência de choque: se o hematócrito estiver melhorando, usar albumina 0,5 – 1g/kg ou coloides sintéticos 10ml/kg/hora / se o hematócrito estiver piorando deve investigar a hemorragia e avaliar coagulação / na presença de hemorragia, transfundir concentrado de hemácias (10 – 15 ml/kg/dia) / na presença de coagulopatias, pode usar plasma 10 ml/kg, vit K endovenosa 1U para cada 5 – 10 kg) / considerar transfusão de plaquetas em sangramento persistente não controlado e com trombocitopenia e INR maior que 1,5x o normal j) Se o hematócrito estiver em queda mas o choque estiver se resolvendo e na ausência de sangramentos, observa-se sinais de desconforto respiratório, insuficiência cardíaca ou hiperhidratação k) Se a PA estiver normalizando, o hematócrito estiver melhorando, não houver sangramentos, a diurese estiver normal ou os sintomas abdominais tiverem sumido, pode-se suspender a infusão de líquidos l) Notificar o caso m) Orientar retorno como GRUPO B Hanseníase É uma doença infectocontagiosa, de evolução lenta, transmissível e de caráter crônico, que acomete principalmente os nervos periféricos e a pele. É considerada uma doença com potencial incapacitante quando não tratada, então é de notificação compulsória. ETIOLOGIA A hanseníase é causada pela infecção pelo Mycobacterium leprae, fracamente gram- positivo, é um parasito intracitoplasmático de macrófagos e apresenta trofismo pelas células de schwann É uma bactéria que possui uma alta infectividade, mas baixa virulência e patogenicidade. TRANSMISSÃO Transmitido principalmente pelo ar e essa transmissão ocorre principalmente após contatos íntimos e prolongados com o portador. 18 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV O período de incubação varia de 2-40 anos, mas em geral é de 2-5 anos, isso ocorre porque a reprodução do bacilo é binária simples a cada 14 dias, demorando mais pra que a carga bacilar cause manifestações clínicas FISIOPATOLOGIA Após a infecção, o bacilo vai ser fagocitado por macrófagos e vai haver a apresentação às células T em associação com complexo de histocompatibilidade principal (MHC) classes I e II. Nesta etapa, há interação entre o macrófago e os linfócitos T, capazes de reconhecer o antígeno através de receptores de superfície, desencadeando a resposta imune celular. A partir daí, vai haver diferentes padrões de reações de reposta do hospedeiro que vai definir a forma de apresentação da hanseníase. Padrão Th1: O hospedeiro vai desenvolver uma resposta imune celular efetiva, com formação de granulomas e lise bacilar associado a produção de citocinas (IL-2, IFN-γ e TNF- α), responsáveis pela manutenção da resposta imune celular. Padrão Th2: não vai haver uma resposta celular efetiva e nem a formação de granulomas, havendo a multiplicação intracelular dos bacilos em macrófagos, associadas à liberação de citocinas supressorasde macrófagos (IL-4, IL-10). CLASSIFICAÇÃO E QUADRO CLÍNICO CLASSIFICAÇÃO DA HANSENÍASE SEGUNDO A OMS Hanseníase paucibacilar (PB) Até 5 lesões cutâneas (sem bacilos detectáveis em esfregaços de pele). Hanseníase multibacilar (MB) Mais de 5 lesões cutâneas (pode apresentar esfregaço cutâneo positivo) A classificação de Madri classifica a doença em quatro subtipos: PAUCIBACILARES: hanseníase indeterminada e tuberculóide MULTIBACILARES: dimorfa e virchowiana HANSENÍASE INDETERMINADA (HI) • Lesão de pele geralmente única e mais clara do que a pele. • Não é elevada • Apresenta bordas mal delimitadas • Há perda da sensibilidade térmica e/ou dolorosa, mas a tátil (habilidade de sentir o toque) geralmente é preservada • A baciloscopia é negativa • Essa fase é não transmissível e não incapacitante HANSENÍASE TUBERCULÓIDE (HT): • Placa com bordas elevadas, bem delimitadas e centro claro (forma de anel ou círculo) e anestésica. • Pode se apresentar como um único nervo espessado com perda total de sensibilidade. • A baciloscopia é negativa e a biópsia de pele quase sempre não demonstra bacilos HANSENÍASE VIRCHOWIANA (HV) É a forma mais contagiosa da doença. • Não apresenta manchas visíveis • A pele apresenta-se avermelhada, seca, infiltrada. • É comum aparecerem caroços (pápulas e nódulos) escuros, endurecidos e assintomáticos (hansenomas) • Pode haver perda parcial a total das sobrancelhas (madarose) e também dos cílios • O suor está diminuído ou ausente de forma generalizada, • São comuns as queixas de câimbras e formigamentos nas mãos e pés e dor nas articulações. 19 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV • Pode ocorrer espessamento dos lóbulos das orelhas, joelhos, cotovelos. • A baciloscopia é positiva HANSENÍASE DIMORFA (HD): É a forma mais comum de apresentação da doença (mais de 70% dos casos). Ocorre, normalmente, após um longo período de incubação (cerca de 10 anos ou mais). • Manchas de pele avermelhadas ou esbranquiçadas, com bordas elevadas, mal delimitadas na periferia. • Há perda parcial a total da sensibilidade, com diminuição de funções autonômicas (sudorese e vasorreflexia à histamina). • É comum haver comprometimento assimétrico de nervos periféricos, as vezes visíveis ao exame clínico • A baciloscopia é frequentemente positiva. REAÇÕES HANSÊNICAS São complicações inflamatórias agudas que se apresentam como emergências médicas REAÇÃO TIPO 1: caracteriza-se por exacerbação de lesões preexistentes, por meio de hiperestesia, eritema, edema e posterior descamação Na evolução, lesões pré-existentes podem ulcerar e também podem ser visualizadas novas lesões. A neurite é frequente e pode levar a danos neurais múltiplos e graves, resultando em deformidades e perda de função. REAÇÃO TIPO 2: também chamada de eritema nodoso hansênico (ENH) ocorre nas formas Virchowiana e Dimorfa-Virchowiana, com maior frequência após o início do tratamento (aproximadamente após 6 meses). Caracteriza-se por nódulos eritematosos, dolorosos, que podem ulcerar e evoluir com necrose e acometer todo o tegumento. Sintomas sistêmicos como febre, artralgia e fadiga, associados ao aumento de provas inflamatórias, podem estar presentes. DIAGNÓSTICO Anamnese (contato constante com pessoas portadoras) + Exame Físico (avaliação dermatológica e neurológica) O diagnóstico é estabelecido definitivamente quando pelo menos uma das características: • Lesão(ões) e/ou área(s) da pele com alteração de sensibilidade; • Acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou sem espessamento, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; • Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico EXAME HISTOPATOLÓGICO (BIÓPSIA DE PELE) Realizado a partir de material da biópsia coletada de lesão cutânea ou fragmento de nervo. A interpretação desses achados deverá ser realizada de acordo com o quadro clínico do paciente BACILOSCOPIA DE RASPADO INTRADÉRMICO Consiste na pesquisa de BAAR no esfregaço da linfa coletada de áreas suspeitas. Na ausência de lesões cutâneas, a baciloscopia pode ser coletada dos lóbulos das orelhas, dos cotovelos ou dos joelhos. Paciente paucibacilar (hanseníase indeterminada ou tuberculóide): baciloscopia é negativa. Paciente multibacilar (hanseníase dimorfa e virchowiana) : baciloscopia normalmente é positiva. Obs: Caso seja negativa, levar em consideração o quadro clínico para o diagnóstico e classificação desse doente TRATAMENTO 20 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Formas PB e MB: esquema único de tratamento com 3 drogas (rifampicina, clofazimina e dapsona). TRATAMENTO DOS EPISÓDIOS REACIONAIS Deve-se pesquisar recidiva ou reinfecção e manter a busca de focos ativos intra-domiciliares. Reação hansênica do tipo 1: prednisona 1 mg/kg/dia via oral ou dexametasona 0,15 mg/kg/dia Em caso de neuralgia, associar antidepressivo tricíclico em dose baixa (amitriptilina 25 mg por dia), associado a clorpromazina 5 gotas (5 mg) duas vezes ao dia, ou a carbamazepina 200 a 400 mg por dia. Reação hansênica tipo 2: iniciar talidomida 100 a 400 mg/dia via oral, de acordo com a gravidade do caso. Associar prednisona 1 mg/kg/dia via oral em casos de comprometimento dos nervos periféricos ou de outros órgãos que não a pele ou se houver ulcerações extensas. Para neuralgia, utilizar o mesmo esquema antiálgico da reação tipo 1. PREVENÇÃO As medidas de controle da hanseníase tratar quem tem a doença e examinar os contactantes próximos. Em áreas endêmicas, as diretrizes da OMS recomendam a profilaxia (com rifampicina em dose única) para adultos e crianças ≥ 2 anos. A vacinação com BCG é parcialmente protetora para hanseníase; uma única dose parece ser 50% protetora, e 2 doses aumentam ainda mais a proteção Artrite Reumatoide É uma doença crônica, com fenômenos inflamatórios persistentes (duração maior do que seis semanas), na qual o alvo primário são as articulações (padrão simétrico, aditivo e periférico), sendo uma doença debilitante e com acentuado caráter sistêmico. FATORES DE RISCO Fatores hormonais: maior incidência da doença em mulheres no período da pré-menopausa ou pós-parto, e melhora dos sintomas durante a gestação. Considera-se como fator protetor o uso de pílulas anticoncepcionais, sugerindo-se que as oscilações hormonais das mulheres têm implicação na doença. Fatores ambientais: Tabagismo - o cigarro acelera as reações de citrulinização em proteínas pulmonares, o que dispara a produção de autoanticorpos. Fatores como o estresse e a dieta também já foram estudados e parecem contribuir mais para a gravidade da doença. Agentes Infecciosos: algumas infecções estão envolvidas no desenvolvimento da AR como agentes desencadeadores da doença. Componente genético: aumento da incidência da AR em parentes de primeiro grau dos doentes (especialmente se estes forem fator reumatóide positivo). O antígeno do CMH de classe II, HLA-DR4 foi identificado em 60 a 70% dos pacientes caucasianos afetados. FISIOPATOLOGIA Pré-disposição para a doença (FR+) + exposição a um antígeno = desencadeia a resposta autoimune contra as articulações sinoviais. 21 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Membrana sinovial = tecido conjuntivo frouxo + revestimento de uma a duas camadas de células. Com a inflamação, na região da membrana sinovial vai formar um tecido granulomatoso com macrófagos, fibroblastos denominados de PANNUS, que induz a degradação do tecido conjuntivo e provocar erosões ósseas (aumenta sobrevida de osteoclastosna matriz óssea) Além disso, o líquido sinovial aumenta em volume (porque aumenta as cél B) e número de infiltrados de cél de defesa (principalmente polimorfonucleares). Resposta imune local: Na membrana sinovial, 40% das células são linfócitos T, predominantemente CD4+, com padrão Th1 que vão recrutar cél de defesa para conter o antígeno (macrófagos), liberando IL-1 e TNF alfa = destruição articular e perpetuação da inflamação. Estas duas citocinas induzem um fenótipo pró- inflamatório nas outras células da membrana sinovial, estimulam a ativação dos linfócitos B e T, quimiotaxia, angiogênese... Já os linfócitos B são responsáveis pela produção do fator reumatóide, que é o auto-anticorpo que pode formar imunocomplexos, ativar complemento, atraindo polimorfonucleares para a articulação. QUADRO CLÍNICO O quadro articular característico da artrite reumatóide é precedido de manifestações gerais como fadiga, mialgia e febre. MANIFESTAÇÕES ARTICULARES • Dor e edema das articulações • Poliarticular, envolvendo principalmente as pequenas articulações de mãos e pés. • As articulações mais acometidas nos membros superiores são as do punho, metacarpofalangianas e interfalangianas proximais. • Caráter simétrico e aditivo. • Rigidez matinal prolongada (maior ou igual a uma hora) • Mão reumatoide: punho alargado pela sinovite + aumento de volume das metacarpofalangianas e/ou interfalangianas proximais • Presença de deformidades articulares como o desvio ulnar dos dedos, dedo em “pescoço de cisne” • Compressões neurológicas periféricas também podem ocorrer (síndrome do túnel do carpo) • Quanto ao envolvimento do joelho pode haver a formação de cistos sinoviais (cisto de Baker) que pode se estender para a fossa poplítea, panturrilha e face posterior da coxa. MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES Pele: nódulos subcutâneos (20% dos pacientes), quase exclusivamente naqueles com FR positivo e vasculite de pequenos vasos. Coração: pacientes com AR possuem risco cardiovascular aumentado devido a inflamação crônica. Pulmão: derrames pleurais, nódulos reumatoides e doença parenquimatosa pulmonar. Olhos: a manifestação mais comum é a ceratoconjutivite seca (olho seco). Neurológico: síndromes compressivas dos nervos periféricos (síndrome do túnel do carpo ou do tarso são comuns). Baço e fígado: síndrome de Felty: esplenomegalia, febre, neutropenia; DIAGNÓSTICO Anamnese + exame físico + Exames laboratoriais e radiografias 22 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Uma pontuação maior ou igual a 6 classifica um paciente como tendo AR EXAMES COMPEMENTARES PROVAS INFLAMATÓRIAS São exames utilizados para monitorar a reação inflamatória (ou seja, a resposta do organismo frente à lesão tecidual). Proteína C reativa (PCR): Suas concentrações aumentam e diminuem rapidamente (detectada a partir de 4h pode chegar até 1000x o valor normal) Velocidade de hemossedimentação (VHS): medida indireta de concentração de proteínas de fase aguda, em especial a do fibrinogênio. Suas concentrações alteram lentamente e permanecem elevados por mais tempo. Tem pico em 7 a 10 dias e eleva-se 2 a 3 vezes o normal. Os níveis da VHS são fisiologicamente mais altos em mulheres, na gravidez e em idosos. Já os níveis da PCR são mais altos em pacientes obesos, tabagistas e mais baixos em pacientes que recebem tratamento imunossupressor. SOROLOGIA Fator reumatoide (FR): possui elevada sensibilidade na AR, mas é pouco específico, estando presente em outras patologias. Anticorpo antipeptídeo citrulinado (ACPA): apesar de ter sensibilidade menor, possui elevada especificidade para artrite reumatoide. São detectados atualmente por ELISA. Quando o anti-CCP é positivo, contribui para estabelecer o diagnóstico de AR, mas se negativo, não afasta a doença Obs: Além do valor diagnóstico, esses anticorpos têm valores prognósticos: sua presença está associada a doença mais grave, particularmente o ACPA, que indica doença erosiva grave EXAMES DE IMAGEM: Radiografias simples: falta de sensibilidade para identificar inflamação de partes moles e alterações ósseas iniciais da AR. As principais alterações radiográficas na AR incluem aumento das partes moles periarticulares, osteopenia periarticular, redução dos espaços articulares, erosões marginais, subluxações e anquilose óssea, com distribuição simétrica. Ressonância magnética: é mais sensível para detectar alterações inflamatórias e destruição articular nas fases iniciais da AR. Ela contribui para a avaliação de todas as estruturas acometidas na AR (membrana e líquido sinovial, cartilagem, osso, ligamentos, tendões e suas bainhas). TRATAMENTO MEDICAMENTOSO O tratamento medicamentoso de AR inclui o uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINE), glicocorticoides, imunossupressores e medicamentos modificadores do curso da doença (MMCD) – sintéticos e biológicos. AINE E GLICOCORTICOIDE: baixas doses diárias por curtos períodos (< 3 meses) para controle sintomático. 23 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Efeitos colaterais dos glicocorticoides: osteoporose, úlcera gástrica, olhos inchados, aumento nos níveis de colesterol. IMUNOSSUPRESSORES: são usados no tratamento de manutenção da artrite reumatoide, já que, reduzem a resposta celular e possui propriedades anti-inflamatórias. MEDICAMENTOS MODIFICADORES DO CURSO DA DOENÇA SINTÉTICOS E BIOLÓGICOS PRIMEIRA ETAPA - Medicamentos modificadores do curso da doença sintéticos (metotrexato - MTX) Obs: o MTX possui alta taxa de toxicidade hepática, gastrointestinal e renal, sendo indicado o uso de ácido fólico (5 mg) / 1x por semana, 36h após o tratamento com MTX para redução da toxidade. SEGUNDA ETAPA - Medicamentos modificadores do curso da doença biológicos (anti-TNF e não anti-TNF) e sintéticos alvos específicos TERCEIRA ETAPA- Medicamentos modificadores do curso da doença biológicos (MMCDbio) e sintéticos alvos específico ((MMCDsae) Prescrever outro MMCDbio (anti-TNF ou não anti- TNF) ou MMCDsae (baricitinibe ou tofacitinibe), desde que o medicamento selecionado não tenha sido usado anteriormente NÃO MEDICAMENTOSO Prescrição para exercícios físicos (reduzir limitação funcional) Órteses: suportar, alinhar, posicionar, imobilizar, prevenir ou corrigir deformidades, auxiliar na força muscular ou melhorar a função articular Indicação de tratamento cirúrgico EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO Após 10 anos de doença, mais de 50% dos pacientes sofrem incapacidade significativa Em decorridos 15 anos apenas 40% são considerados aptos para o trabalho. Fator reumatóide: é o mais consistente preditor de mau prognóstico. A positividade do fator reumatóide tem sido associada tanto ao aparecimento de erosões ósseas no primeiro ano de doença quanto a uma piora funcional maior. ■ Proteína C-reativa: a PCR é geralmente aceita como a melhor prova de fase aguda para indicar inflamação na AR. Valores persistentemente altos estão associados com uma taxa maior de progressão radiológica, desenvolvimento de osteoporose e piora funcional. ■ Anti-CCP: dano articular e perda funcional Febre Reumática é uma doença autoimune sistêmica aguda que se manifesta como uma sequela tardia de uma faringoamigdalites causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA). A maior incidência da FR ocorre entre os 5 e 18 anos de idade, sem predileção por raça ou sexo. Não é esperado FR em: - Infecção por outros tipos de estreptococos -Outras infecções estreptocócicas, que não são faríngeas como a sepse puerperal e pneumonias -Crianças < 4 anos: acredita-se que para manifestar a FR, tem a necessidade de ter uma maturidade imunológicaETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Para haver a FR, a infecção estreptocócica beta- hemolítica deve ser faríngea (não é considerados outros sítios de infecções desses patógenos) A origem da doença está associada a uma reação cruzada de anticorpos. INTERAÇÃO Susceptibilidade genética do hospedeiro + fator bacteriano (mimetismo molecular) Mimetismo celular: semelhança estrutural entre um patógeno e as estruturas normais do hospedeiro, ou seja, as diferentes estruturas da bactéria simulam as estruturas do hospedeiro. 24 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV - Cápsula da bactéria (ácido hialurônico) = sinóvia e cartilagem - Camada externa (Proteína M) = sarcolema miocárdico - Camada média (grupo de carboidratos A) = miocárdio -Camada interna(mucopeptídeo) = tecido valvular -Membrana protoplasmática = sarcolema miocárdico e núcleo caudado subtalâmico Portanto, esse mimetismo molecular justifica a predileção da resposta imune contra as articulações, coração e SNC REAÇÃO IMUNE CRUZADA Essa resposta depende da ação de linfócitos T e B, além da produção local de citocinas, causando lesões inflamatórias autoimunes. Caso se exacerbem, essas lesões podem se tornar irreversíveis -Resposta humoral Th2 e anticorpos = quadro mais brando e reversível (poliartrite e coreia) -Resposta celular Th1= quadro mais grave e com sequelas (cardite grave) QUADRO CLÍNICO ARTRITE Processo inflamatório das articulações (inchaço, calor, eritema, limitação significativo dos movimentos) Tem caráter migratório Poliarticular e assimétrica. A duração total do surto articular é de duas a três semanas, evoluindo para a cura, sem sequelas As articulações maiores das extremidades são geralmente comprometidas (joelhos e tornozelos, punhos e cotovelos) CARDITE Seu início é de caráter brando, podendo até ser subclínico. com o decorrer do desenvolvimento da FR, os episódios de cardite se tornam mais intenso, tendo um teor cumulativo, se tornando progressivamente mais fatal. A FR pode afetar todos os folhetos cardíacos podem ser afetados: endocárdio, miocárdio e pericárdio. O primeiro é SEMPRE acometido na cardite, sendo chamado de “valvulite”, ao passo que os demais folhetos podem ou não serem lesados Na maioria das cardites em pacientes com FR, o paciente apresenta universalmente valvulite mitral, podendo ou não ter uma lesão na valva aórtica associada e a principal complicação que encontrada no exame físico cardiovascular é a presença de sopros cardíacos. ERITEMA MARGINADO O eritema também é conhecido como um “rash” eritematoso maculopapular manifesta por eritemas com bordas nítidas, com centro claros, contornos arredondados ou irregulares têm caráter múltiplo, indolor, não pruriginosa, podendo se juntar com as adjacentes, formando manchas com formatos serpiginoso. São localizadas nas regiões do tronco, abdome, face interna dos membros superiores e inferiores, com exceção da face (diferente de qual outra doença reumatológica: isso, lúpus sistêmicos). NÓDULOS SUBCUTÂNEOS São múltiplos nódulos arredondados, variando de 0,5 a 2 cm, firmes, móveis, indolores, recoberto por epiderme e sem sinais flogísticos. são encontrados sobre em cotovelos, punhos, joelhos, tornozelos, região occipital, tendão de Aquiles e coluna vertebral. Por fim, em relação ao tempo, esses nódulos possuem aparecimento tardio, geralmente 1 a 2 semanas após as outras manifestações COREIA DE SYDENHAM Se instala após alguns meses (1 a 6 meses) e costuma durar entre 3 e 4 meses. 25 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Essa desordem neurológica é caracterizada por bruscos movimentos rápidos involuntários e descoordenados, aparecendo durante o sono e se acentuando em situações de estresse e esforço físico. A fisiopatologia dessa manifestação consiste na ação autoimune de anticorpos que se ligam a neurônios dos núcleos da base, principalmente os núcleos caudados e o subtalâmico, interferindo no circuito motor do paciente, que apresentará esses movimentos involuntários DIAGNÓSTICO Anamnese+ Exame físico + exames laboratoriais e radiológico PROVAS INFLAMATÓRIAS O PCR é o primeiro marcador a se elevar, nas primeiras 24h, mas tem seus níveis normalizados rapidamente, sendo o primeiro a reduzir. Já a VHS é o segundo marcador que tem seus índices séricos aumentados, se normalizando antes do fim da FR. TESTES IMUNOLÓGICOS Pesquisa do anticorpo antiestreptolisina O (ASLO): é o principal teste feito no diagnóstico de infecções estreptocócicas e pós-estreptocócicas, sendo encontrado em 80% dos pacientes com FR. Seus níveis séricos aumentam de forma considerável após 1 semana da faringoamigdalite. Anticorpo anti-DNAse B: se mantém elevados por mais tempo que essa última. EXAMES DE IMAGEM RX de tórax: evidencia aumento da área cardíaca devido miocardite ou derrame pericárdico moderado a grave. Eletrocardiograma: os achados são inespecíficos, geralmente transitórios e evidenciam alterações. Ecocardiograma Doppler: detecta a valvulopatia, disfunção miocárdica e pericardite, além de avaliar o desempenho cardíaco. TRATAMENTO PROFILAXIA PRIMÁRIA Tem como objetivo erradicar o EBHGA da orofaringe. O agente de escolha é a penicilina benzatina por via intramuscular TRATAMENTO SINTOMÁTICO PROFILAXIA SECUNDÁRIA Visa prevenir recorrências das infecções estreptocócicas. A primeira escolha também é a penicilina benzatina nas mesmas doses recomendadas para a profilaxia primária 26 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV É recomendado a sua utilização a intervalos de 2 a 3 semanas Pacientes que não manifestaram cardite: mantida até os 18 anos de idade ou 5 anos após último surto Pacientes com cardite, porém sem sequela: mantida até os 25 anos de idade ou 10 anos após último surto Pacientes que apresentaram cardite reumática e mantêm doença valvar sequelara: o tratamento deve ser mantido indefinidamente. PROGNÓSTICO E ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS O prognóstico após a febre reumática depende se o coração foi ou não afetado. Muitas crianças vão recuperar bem e não terão complicações e outras vão precisar tomar antibióticos por muito tempo para prevenir a reinfecção. As pessoas que têm febre reumática com cardite (inflamação do coração) podem desenvolver doenças cardíacas na vida adulta, e podem, eventualmente, precisar de cirurgia para corrigir as válvulas cardíacas danificadas. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) É uma doença inflamatória crônica autoimune, multissistêmica, polimórfica de causa desconhecida. Clinicamente, a doença apresenta períodos de exacerbação de atividade inflamatória, intercalados com remissão parcial ou completa dos sintomas. Em alguns pacientes, há a manutenção da atividade inflamatória crônica. ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO A etiologia de LES é multifatorial, sendo composta por fatores genéticos, epigenéticos, hormonais, ambientais e imunológicos. Genético: maior chance de desenvolver LES caso tenha parentes de primeiro grau acometidas. Outro fator importante é a deficiência de algumas proteínas do sistema complemento, especialmente C1q e C4. T Hormonal: O estrógeno diminui a apoptose de Linfócitos B, que produzem os auto anticorpos, estimula timócitos, macrófagos linf T, a liberação de citocinas e a expressão do HLA e de moléculas de adesão (VCAM e ICAM), por isso a idade fértil apresenta maior incidência. Infecções: podem intensificar respostas imunes indesejáveis. Ambientais: A luz ultravioleta (UV) tem papel na ativação da doença e a exposição solar determina a apoptose de queratinócitos com subsequente expressão de moléculas, comoRNP, Ro, nucleossoma e fosfolipídeos nos corpúsculos apoptóticos O tabagismo é segundo fator ambiental mais associado ao desenvolvimento do LES. Ele também reduz o efeito da hidroxicloroquina na terapêutica. FISIOPATOLOGIA A queda de corpos apoptóticos (fragmentos de células que sofreram apoptose) na circulação passa a ser reconhecido por uma imunoglobulina IgM autorreativa nos linfócitos B. Desse modo, os linfócitos B passam a reconhecer esse antígeno, associa ele com o MHC de classe II e externaliza para ser reconhecido pelos linfócitos T auxiliares. O TCR (receptor de linfócitos T) reconhece esse antígeno e secreta algumas citocinas para ativar os linfócitos B e estimular a produção de plasmócitos. Esses plasmócitos começam a secretar anticorpos IgG, que passam a reconhecer os corpos apopitóticos e ligar-se a eles. Esses anticorpos IgG ligados aos copos apoptóticos vão se associado e formando imunocomplexos, ativando o sistema complemento e estimulando a liberação de citocinas pró inflamatórias. 27 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Obs: As moléculas de BLyS/BAFF mantém a sobrevida de linfócitos B, contribuindo para a produção de mais auto anticorpos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sintomas gerais como anorexia, perda de peso, febre, mialgia, artralgia, diminuição do apetite pode ser observadas como quadro inicial da doença e preceder o aparecimento de outras manifestações em meses. Linfadenopatia generalizada ou localizada, com predomínio das cadeias cervical e axilar, hepato e/ou esplenomegalia podem estar presentes. PELE E ANEXOS Lúpus cutâneo agudo: é o mais conhecido no LES e sua forma localizada é descrita como rash malar ou rash em asa de borboleta, simétrica e fortemente associada à fotossensibilidade Essa lesão se apresenta como eritema na região malar e no dorso do nariz, transitório ou mais persistente. Geralmente poupa o sulco nasolabial e seu aparecimento acompanha os períodos de atividade da doença Lúpus cutâneo subagudo: presença de lesões eritematosas papuloescamosas (tipo psoriasiformes) ou anulares (tipo placas policíclicas), localizadas sobretudo em regiões de exposição solar (face, vespertílio e braços). Ambas as formas de lesão estão fortemente associadas à fotossensibilidade e à presença dos anticorpos anti-Ro/SSA. As lesões evoluem após o tratamento sem deixar cicatrizes profundas, mas produzem áreas de hipopigmentação que podem se tornar permanentes. Lúpus cutâneo crônico: engloba uma série de lesões, nas quais a discóide é a mais conhecida. Inicialmente, a lesão discóide clássica é caracterizada por placa eritematosa e hiperpigmentada que evolui com lentidão na sua periferia, deixando uma cicatriz central hipopigmentada com atrofia. Na maioria das vezes, esta lesão é única e preferencialmente encontrada na face, no couro cabeludo, no pavilhão auricular e no pescoço. As úlceras orais também fazem parte dos critérios diagnósticos; geralmente não são dolorosas, sendo relacionadas à atividade inflamatória da doença. A vasculite cutânea varian desde lesões do tipo urticária até grandes úlceras necróticas. MUSCULOESQUELÉTICAS Presença de artralgia e/ou artrite a maioria dos casos cursa com quadros de poliartrite simétrica episódica, de caráter migratório, e quase sempre não deformante. A rigidez matinal é bastante proeminente e também compromete pequenas e grandes articulações Artropatia tipo Jaccoud: desvio ulnar seguido de subluxação, deformidades do tipo pescoço-de- cisne e subluxação das interfalangianas do polegar As deformidades são reversíveis CARDIORRESPIRATÓRIAS A pericardite pode ser a primeira manifestação do LES em 5% dos quadros. A miocardite sintomática: presença de taquicardia persistente e sinais clínicos de insuficiência cardíaca aguda. As alterações valvulares: espessamento valvar, massas ou vegetações, regurgitação e, raramente, estenose. A endocardite de Libman-Sacks: presença de vegetações verrucosas localizadas próximas das bordas valvares. Pleurite: derrame pleural RENAIS E HEMATOLÓGICAS Em geral, as manifestações renais surgem nos primeiros 2 a 5 anos da doença e, quando se apresentam como a manifestação inicial do LES, pioram o prognóstico desses pacientes. 28 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV A presença de hematúria, leucocitúria,proteinúria, e creatina aumentada são indícios de comprometimento renal Em relação às manifestações hematológicas, a leucopenia e linfopenia são encontradas com alta frequência no LES. A plaquetopenia pode ser a primeira manifestação da doença. A anemia de doença crônica também pode ocorrer GASTROINTESTINAIS Em grande parte, são queixas inespecíficas, como dor abdominal, náuseas e vômitos Icterícia também pode está presente e, em geral, é consequência de hepatite, pancreatite ou hemólise. NEUROPSIQUIÁTRICAS As manifestações neuropsiquiátricas podem preceder, ocorrer simultaneamente ou algum tempo após o início da doença durante os períodos de atividade ou quando o LES se encontra inativa. A psicose pode se manifestar nas suas diferentes formas, como esquizofrenia e distúrbios bipolares. DIAGNÓSTICO Manifestações clínicas + alterações laboratoriais, desde que outras doenças sejam excluídas Necessário que estejam presentes no mínimo, 4 critérios, incluindo pelo menos 1 clínico e 1 imunológico (exceto na presença de biópsia renal positiva) confirma diagnostico. A doença também é diagnosticada quando a nefrite é confirmada por biópsia na presença de FAN positivo ou anticorpo anti-dsDNA positivo. PROVAS INFLAMATÓRIAS VHS: está aumentado na atividade de doença refletindo a fase aguda dos processos inflamatórios, porém pode persistir elevado mesmo após o controle da doença, não se correlacionando com sua atividade inflamatória. PCR: é geralmente baixa no LES e aumenta nos processos infecciosos, auxiliando por vezes no diagnóstico diferencial destas duas condições TESTES IMUNOLÓGICOS Teste do fator antinuclear (FAN): positivo em títulos altos na maioria dos pacientes, em particular durante os períodos de atividade de doença. Obs: A positividade desse exame não é específica do LES e pode ocorrer em outras doenças autoimunies, doenças infecciosas e neoplásicas e até mesmo em indivíduos saudáveis. Anti-dsDNA nativo: tem alta especificidade no LES, e altos títulos representam atividade de doença, principalmente renal. Anticorpo anti-Sm: indica especificidade para o LES, apesar de ser positivo em cerca de apenas 30% dos casos. Anti-Ro/SS-A: é encontrado no lúpus e na Síndrome de Sjogren, É detectado em cerca de 80% dos pacientes com lúpus eritematoso cutâneo subagudo. Anti-Ro: está relacionado com o lúpus neonatal e bloqueio congênito em crianças nascidas de mães com esse autoanticorpo. Anticorpos antiproteína P ribossomal (anti-P): são marcadores específicos de LES, ocorrendo em 10 a 20% dos casos e, possivelmente, apresentando associação com manifestações neuropsiquiátricas da doença. TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS 29 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Educação: informar, ao paciente e aos familiares, o que é a doença, sua evolução, riscos e os recursos disponíveis para diagnóstico e tratamento. Apoio psicológico: transmitir otimismo e motivação para o tratamento, além de estimular os projetos de vida. O paciente deve ser capaz de levar sua vida social, profissional e afetiva de forma normal. Deve-se orientar sobre a proteção contra a luz solar ou outras formas de irradiação ultravioleta pelos riscos de exacerbação não só das lesões cutâneas, mas também de quadros sistêmicos. O tabagismo pode dificultar a
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