Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Isadora Cabral Araújo de Albuquerque Fisiologia da produção do leite materno As mulheres adultas possuem, em cada mama, entre 15 e 25 lobos mamários, que são glândulas túbulo- alveolares constituídas, cada uma, por 20 a 40 lóbulos. Esses, por sua vez, são formados por 10 a 100 alvéolos. Envolvendo os alvéolos, estão as células mioepiteliais e, entre os lobos mamários, há tecido adiposo, tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, tecido nervoso e tecido linfático O leite produzido é armazenado nos alvéolos e nos ductos. Durante as mamadas, enquanto o reflexo de ejeção do leite está ativo, os ductos sob a aréola se enchem de leite e se dilatam. Lactogênese fase I A mama, na gravidez, é preparada para a amamentação sob a ação de diferentes hormônios. Os mais importantes são o estrogênio, responsável pela ramificação dos ductos lactíferos, e o progestogênio, pela formação dos lóbulos. Outros hormônios também estão envolvidos na aceleração do crescimento mamário, tais como lactogênio placentário, prolactina e gonadotrofina coriônica. Na primeira metade da gestação, há crescimento e proliferação dos ductos e formação dos lóbulos. Na segunda metade, a atividade secretora se acelera e os ácinos e alvéolos ficam distendidos com o acúmulo do colostro. A secreção láctea inicia após 16 semanas de gravidez. Lactogênese fase II Com o nascimento da criança e a expulsão da placenta, há uma queda acentuada nos níveis sanguíneos maternos de progestogênio, com consequente liberação de prolactina pela hipófise anterior, iniciando a lactogênese fase II e a secreção do leite. Há também a liberação de ocitocina durante a sucção, hormônio produzido pela hipófise posterior, que tem a capacidade de contrair as células mioepiteliais que envolvem os alvéolos, expulsando o leite neles contido. Lactogênese fase III ou galactopoiese A produção do leite logo após o nascimento da criança é controlada principalmente por hormônios e a “descida do leite”, que costuma ocorrer até o terceiro ou quarto dia pós-parto, Essa fase, que se mantém por toda a lactação, depende principalmente da sucção do bebê e do esvaziamento da mama. Quando, por qualquer motivo, o esvaziamento das mamas é prejudicado, pode haver diminuição na produção do ocorre mesmo se a criança não sugar o seio leite, por inibição mecânica e química. 2 O leite contém os chamados “peptídeos supressores da lactação”, que são substâncias que inibem a produção do leite. A sua remoção contínua com o esvaziamento da mama garante a reposição total do leite removido. Outro mecanismo local que regula a produção do leite, ainda não totalmente conhecido, envolve os receptores de prolactina na membrana basal do alvéolo. À medida que o leite se acumula nos alvéolos, a forma das células alveolares fica distorcida e a prolactina não consegue se ligar aos seus receptores, criando assim um efeito inibidor da síntese de leite. Grande parte do leite de uma mamada é produzida enquanto a criança mama, sob estímulo da prolactina. A ocitocina, liberada principalmente pelo estímulo provocado pela sucção da criança, também é disponibilizada em resposta a estímulos condicionados, tais como visão, cheiro e choro da criança, e a fatores de ordem emocional, como motivação, autoconfiança e tranqüilidade. Por outro lado, a dor, o desconforto, o estresse, a ansiedade, o medo, a insegurança e a falta de autoconfiança podem inibir a liberação da ocitocina, prejudicando a saída do leite da mama. Na amamentação, o volume de leite produzido varia, dependendo do quanto a criança mama e da frequência com que mama. Quanto mais volume de leite e mais vezes a criança mamar, maior será a produção de leite. Uma nutriz que amamenta exclusivamente produz, em média, 800 mL por dia. Em geral, uma nutriz é capaz de produzir mais leite do que a quantidade necessária para o seu bebê. Introdução Suprem-se, por meio do leite materno, todas as necessidades da criança até os seis meses de vida, não sendo necessária a oferta de água ou chás; A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e complementado até pelo menos 2 anos, o que fortalece o sistema imunológico das crianças e das mães. Conceitos: Aleitamento materno exclusivo – quando a criança recebe somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos. Aleitamento materno predominante – quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de frutas e fluidos rituais. Aleitamento materno – quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos. Aleitamento materno complementado – quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo. Aleitamento materno misto ou parcial – quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. A OMS classifica a prevalência do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses como: Muito bom: 90 a 100%; Bom: 50 a 89%; Razoável: de 12 a 49%; Ruim: 0 a 11%. A II Pesquisa Nacional de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal apresenta dados que, em crianças menores de seis meses de vida, a prevalência do aleitamento materno exclusivo fica em torno de 41%. No Brasil, a mediana de AME aumentou de 1,1 meses em 1996 para 1,4 meses em 2006. Tal estratégia podem ser atribuídos às ações de promoção iniciadas em 1981. Algumas estratégias são: Iniciativa Hospital amigo da Criança (pela OMS e UNICEF) e a Iniciativa Unidade Básica Amiga da amamentação (pela Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro”. DEZ PASSOS PARA O SUCESSO DO ALEITAMENTO MATERNO A Iniciativa da OMS/UNICEF/Ministério da Saúde denomina de Hospital Amigo da Criança, a Maternidade que cumpre estes 10 passos. 1. Ter uma norma escrita sobre aleitamento, que deveria ser rotineiramente transmitida a toda a equipe de cuidados de saúde; 3 2. Treinar toda a equipe de cuidados de saúde, capacitando-a para implementar esta norma; 3. Informar todas as gestantes sobre as vantagens e o manejo do aleitamento; 4. Ajudar as mães a iniciar o aleitamento na primeira meia hora após o nascimento; 5. Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos; 6. Não dar a recém-nascidos nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser que tal procedimento seja indicado pelo médico; 7. Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e bebês permaneçam juntos – 24 horas por dia. 8. Encorajar o aleitamento sob livre demanda; 9. Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas ao seio; 10. Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio ao aleitamento, para onde as mães deverão ser encaminhadas por ocasião da alta, no hospital ou ambulatório. Fatores que interferem beneficamente na amamentação exclusiva Preparo das gestantes para a lactação durante o período pré-natal (no aspecto biológico e sócio- histórico-cultural); Orientação sobre as desvantagens da introdução de fórmulas; Orientações sobre a importância da amamentação exclusiva por 6 meses, sobre pega e posição do bebê no peito, sobre livre demanda e sobre o não uso de mamadeira. Orientações em grupos e visitas domiciliares (mães que recebem orientações em grupo se sentem mais assistidas pela diversidade de experiências com- partilhadas e pela segurança proporcionada por este espaço, possibilitando-as a tomar decisões relativasao aleitamento materno). Fatores que interferem maleficamente na amamentação exclusiva Carência de informações sobre a técnica correta, especialmente nas primeiras semanas após o nascimento; Técnica incorreta Esvaziamento incompleto Menor produção de leite Introdução precoce de outros alimentos Desmame. Carência de orientação sobre a importância da amamentação exclusiva por 6 meses; Amamentações não exclusivas nos outros filhos (experiências anteriores de amamentação bem- sucedida podem não garantir, mas possivelmente interferem positivamente na decisão e na prática dos moldes preconizados do aleitamento materno com filhos posteriores); Histórico cultural familiar negativo/crença cultural (ex: avós dizendo que o leite materno é fraco ou insuficiente para suprir as necessidades da criança); Grau de escolaridade (quanto menor, menor é o tempo de amamentação); Situação emocional e socioeconômica da família (achado preocupante, na medida em que crianças de famílias de baixa renda são mais vulneráveis à morbimortalidade infantil e a introdução precoce de outros alimentos pode potencializar este risco); Gestação não desejada e/ou na adolescência; Não viver com o companheiro (é importante que a mulher nutriz seja apoiada na prática da amamentação exclusiva por pessoas próximas, principalmente o companheiro, pois seu estímulo é o mais significativo para que a mulher possa amamentar), e cujo chefe da família não era o companheiro; Falta de acompanhamento pré natal (menos de seis consultas pré-natais), com parto em hospitais não credenciados na Iniciativa Hospital Amigo da Criança e que não amamentavam exclusivamente na alta hospitalar (O oferecimento de complementos no hospital pode prejudicar o estabelecimento da lactação e a produção de leite adequada, dificultando o aleitamento materno exclusivo); Mães que fumam, que consumem bebida alcoólica, que percebem a própria saúde como ruim ou regular; Orientação sobre ordenha das mamas com uso de bomba; Uso de chupeta pelo bebê; Exposição às praticidades em grande demanda de fórmulas infantis e ao uso da mamadeira (conflito relacionado ao bico e qualidade da mamada). POR QUE NÃO OFERTAR MAMADEIRA? Redução das mamadas e introdução de mamadeira Criança sente fome e chora A mãe acha que o leite é fraco e insuficiente para suprir as necessidades da criança Introdução mais frequente de mamadeira e chupeta redução da demanda e, portanto da produção fim do aleitamento materno. Benefícios para a criança 4 Favorece um aporte adequado de macro e micronutrientes (tais como anticorpos IgA, IgM e IgG, macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, lactoferrina, lisosima e fator bífido), os quais agem diretamente no sistema imunológico do bebê, fortalecendo-o contra o surgimento de infecções (gastrointestinais, respiratórias, otite média aguda nos 2 primeiros anos, obesidade, alergia alimentar e os demais problemas associados, ou seja, previne a morbimortalidade. Além disso, diminui a gravidade das infecções, quando estas ocorrem A amamentação foi consistentemente associada com maior desempenho em testes de inteligência em crianças e adolescentes, com um incremento combinado de 3,4 pontos no quociente de inteligência (QI); Uma revisão de 18 estudos sugeriu que a amamentação está associada com uma redução de 19% na incidência de leucemia na infância; Estima-se que esse alimento poderia evitar 13% das mortes por causas preveníveis em crianças menores de cinco anos em todo o mundo. Evitar-se-iam 55% das mortes por doença diarreica e 53% das causadas por infecção do trato respiratório inferior em crianças do zero aos seis meses, 20% e 18% dos sete aos 12 meses, respectivamente, e 20% de todas as causas de morte no segundo ano de vida; Seis meses de aleitamento materno exclusivo e amamentação contínua no primeiro ano de vida também poderiam prevenir 1,3 milhões de mortes infantis em todo o mundo, de acordo com revisões sistemáticas do Grupo de Estudos de Sobrevivência Infantil de Bellagio. Benefícios para a mãe Favorece a saúde reprodutiva da mulher: Manter a mamada demorada preserva a saúde materna, aumentando o espaço entre gestações e partos, como também os vínculos afetivos da mãe em relação ao filho, oferecendo carinho, proteção e aconchego à criança. Involução uterina em menor tempo (promove a contração uterina); Diminuição dos índices de câncer de mama e ovário; Proteção contra anemias por sangramento no pós parto; Reduz o risco de artrite reumatoide, osteoporose e diminuição do estresse; Prolonga a amenorreia lactacional, especialmente para as mães em amamentação exclusiva ou predominante; Uma revisão qualitativa de 48 estudos mostrou associações claras entre amamentação e menor ocorrência de depressão materna, todavia é mais provável que a depressão afete a amamentação do que o inverso. Como podemos ajudar? Incentivando as políticas públicas de amamentação para assistir e orientar as mulheres, destacando a importância da amamentação; Orientando sobre os aspectos do leite para desmistificar crenças; Como no início da mamada o leite possui um aspecto ralo, muitas nutrizes acreditam que seu leite é fraco. Algumas não tiveram orientação de que o leite e posterior é mais concentrado, contendo proteínas e rico em gordura Ensinando as técnicas corretas de pega; Consultas com o núcleo de apoio da puérpera para que todos sejam orientados orientações (figura materna –avó- impõe autoridade e normalmente está relacionado a menor tempo de AME); Orientar sobre os aspectos psicossociais que induzem ao desmame precoce; Estimulando o AME desde a primeira hora pós-parto; Aproximadamente metade das mortes infantis com menos de um ano de idade acontece na primeira semana de vida (49,4%). Com a introdução do AM logo após o nascimento, consegue-se reduzir o índice de mortalidade neonatal, que acontece até o 28º dia de vida da criança (65,6%). Havendo a oferta contínua da amamentação até o sexto mês de vida esse valor pode chegar até 1,3 milhões de mortes na faixa etária até 05 anos. Agendar a primeira consulta com o pediatra na primeira semana após o parto, antes de sair da maternidade: Com o objetivo e reduzir os índices de mortalidade infantil, o Ministério da Saúde preconiza que toda criança deve sair da maternidade com a primeira consulta 5 agendada, de preferência na primeira semana de vida, em um dos pontos de serviço de saúde ou consultório. Orientando a puérpera: Para a produção do leite, é necessária ingestão de calorias e de líquidos além do habitual. 1. Consumir dieta variada, incluindo pães e cereais, frutas, legumes, verduras, derivados do leite e carnes; 2. Consumir três ou mais porções de derivados do leite por dia; 3. Esforçar-se para consumir frutas e vegetais ricos em vitamina A; 4. Certificar-se de que a sede está sendo saciada; 5. Evitar dietas e medicamentos que promovam rápida perda de peso (mais de 500 g por semana); 6. Consumir com moderação café e outros produtos cafeinados 7. É importante ter atenção para o risco de hipovitaminose em crianças amamentadas por mães vegetarianas. 8. Como regra geral, as mulheres que amamentam não necessitam evitar determinados alimentos. Entretanto, se elas perceberem algum efeito na criança de algum componente de sua dieta, pode-se indicar a prova terapêutica: retirar o alimento da dieta por algum tempo e reintroduzi-lo, observando atentamente a reação da criança. Caso os sinais e/ou sintomas da criança melhorem substancialmente com a retirada do alimento e piorem com a sua reintrodução, ele deve ser evitado. O leite de vaca é um dos principais alimentos implicados no desenvolvimento de alergias alimentares. 9. As mulheres que amamentam devem ser encorajadas a ingerirlíquidos em quantidades suficientes para saciar a sua sede. Entretanto, líquidos em excesso devem ser evitados, pois não aumentam a produção de leite, podendo até diminuí-la. Quanto ao retorno ao trabalho: Praticar a ordenha do leite (de preferência manualmente) e congelar o leite para usar no futuro. Iniciar o estoque 15 antes do retorno ao trabalho; Amamenta com frequência quando estiver em casa, inclusive à noite; Evitar mamadeiras, oferecer a alimentação por meio de copo ou colher; Durante as horas de trabalho, esvaziar as mamas por meio da ordenha e guardar o leite no congelador, levando para a casa e oferecendo à criança no mesmo dia ou no dia seguinte ou congelar. O leite pode ser conservado em geladeira por 12 horas e no freezer ou congelado por 15 dias; O leite deve ser descongelado em banho-maria fora do fogo. Antes de oferece-lo à criança, deve ser agitado suavemente para homogeneizar a gordura. Promovendo acompanhamento das equipes de apoio durante os primeiros meses dez aleitamento materno exclusivo (AME); A comunicação é indispensável para se identificar as dificuldades, construir vínculo com as nutrizes e estabelecer um plano de cuidado. Compreender e considerar as crenças, conhecimentos e vivências dos pais, incentivando as condutas positivas, permitem que as mães se sintam capazes de amamentar seus filhos promovendo a autonomia e evitando o desmame precoce. Consultas de pré-natal Durante o acompanhamento pré-natal, quer seja em grupo, quer seja no atendimento individual, é importante dialogar com as mulheres, abordando os seguintes aspectos: Planos da gestante com relação à alimentação da criança; Experiências prévias, mitos, crenças, medos, preocupações e fantasias relacionados com o aleitamento materno; Importância do aleitamento materno; Vantagens e desvantagens do uso de leite não humano; Importância da amamentação logo após o parto, do alojamento conjunto e da técnica (posicionamento e pega) adequada na prevenção de complicações relacionadas à amamentação; 6 Possíveis dificuldades na amamentação e meios de preveni-las. Muitas mulheres “idealizam” a amamentação e se frustram ao se depararem com a realidade; Comportamento normal de um recém-nascido; Vantagens e desvantagens do uso de chupeta. O exame das mamas é fundamental, pois por meio dele podem-se detectar situações que poderão exigir uma maior assistência à mulher logo após o nascimento do bebê, como, por exemplo, a presença de mamilos muito planos ou invertidos e cicatriz de cirurgia de redução de mamas. Mitos! A “preparação” das mamas para a amamentação, tão difundida no passado, não tem sido recomendada de rotina. A gravidez se encarrega disso. Manobras para aumentar e fortalecer os mamilos durante a gravidez, como esticar os mamilos com os dedos, esfregá-los com buchas ou toalhas ásperas, não são recomendadas, pois na maioria das vezes não funcionam e podem ser prejudiciais, podendo inclusive induzir o trabalho de parto. O uso de conchas ou sutiãs com um orifício central para alongar os mamilos também não são eficazes. A maioria dos mamilos curtos apresenta melhora com o avançar da gravidez, sem nenhum tratamento. Os mamilos costumam ganhar elasticidade durante a gravidez e o grau de inversão dos mamilos invertidos tende a diminuir em gravidezes subsequentes. Em mulheres com mamilos planos ou invertidos, a intervenção logo após o nascimento do bebê é mais importante e efetiva que intervenções no período pré-natal. Informações importantes! O uso de sutiã adequado ajuda na sustentação das mamas, pois na gestação elas apresentam o primeiro aumento de volume. Se ao longo da gravidez a mulher não notou aumento nas suas mamas, é importante fazer acompanhamento rigoroso do ganho de peso da criança após o nascimento, pois é possível tratar-se de insuficiência de tecido mamário. Após o parto, nos primeiros dias, a saída do leite é pequena, menor que 100 ml/dia. No quarto dia, a nutriz pode produzir, em média, 600 ml/dia de leite. A quantidade de leite produzido nas primeiras semanas de amamentação varia, uma vez que depende do volume e da frequência com que a criança mama (quanto maior a quantidade de mamadas, maior será a produção de leite). Uma nutriz com AME produz cerca de 800 ml/dia no sexto mês de lactação, produzindo mais leite do que a quantidade necessária para a criança. Recomenda-se que a criança seja amamentada sem restrições de horários e de tempo de permanência na mama. É o que se chama de amamentação em livre demanda. Nos primeiros meses, é normal que a criança mame com frequência e sem horários regulares. Em geral, um bebê em aleitamento materno exclusivo mama de oito a 12 vezes ao dia. O mais importante é que a mãe dê tempo suficiente à criança para ela esvaziar adequadamente a mama. Dessa maneira, a criança recebe o leite do final da mamada, que é mais calórico, promovendo a sua saciedade e, consequentemente, maior espaçamento entre as mamadas. O esvaziamento das mamas é importante também para o ganho adequado de peso do bebê e para a manutenção da produção de leite suficiente para atender às demandas do bebê. A introdução inadequada de alimentos complementares provoca consequências como o desmame precoce, alergias, diarreia, obesidade, desnutrição, doenças crônicas, baixo ritmo de crescimento e estabelecimento de hábitos alimentares não adequados, logo que nos primeiros meses de vida são constituídas as preferências alimentares que irá acompanha até a fase adulta. Além de promover uma maior estabilidade para a saúde das crianças, o ato de amamentar promove o fortalecimento dos laços afetivos entre mãe e bebê, gerando satisfação para ambos e trazendo bem- estar. O Ministério da Saúde contraindica o uso de álcool durante o período de amamentação, pois a ingestão de doses iguais ou superiores a 0,3g/kg de peso pode reduzir a produção láctea, dificultando o aleitamento materno exclusivo. O consumo de álcool pela nutriz pode também modificar o aroma e o sabor do leite materno, levando à redução da sua ingestão pelo lactente. O consumo elevado de álcool pela mãe pode inclusive gerar sonolência, atraso no crescimento e diminuição do ganho de peso no bebê. Estima-se que a ampliação da amamentação possa prevenir 823.000 mortes de crianças e 20.000 mortes por câncer de mama a cada ano. Países de alta renda têm menor duração da amamentação do que países de baixa e média renda. Entretanto, mesmo nos países de baixa e média 7 renda, apenas 37% das crianças menores de 6 meses são exclusivamente amamentadas. As crianças que são amamentadas por mais tempo têm menor morbidade e mortalidade, menos maloclusão dentária, e maior inteligência do que aquelas que são amamentadas por períodos mais curtos ou não são amamentadas. Esta desigualdade persiste até mais tarde na vida. Evidência crescente também sugere que a amamentação pode proteger contra o excesso de peso e diabetes mais adiante na vida. Globalmente, as prevalências mais altas de ama- mentação aos 12 meses foram encontradas na África Subsaariana, no Sul da Ásia e em partes da América Latina (Figura 1). Na maioria dos países de alta renda, a prevalência é inferior a 20%. Observamos diferenças importantes – por exemplo, entre Reino Unido (<1%) e Estados Unidos da América (EUA) (27%), e entre Noruega (35%) e Suécia (16%). A capacidade da microbiota de regular respostas no hospedeiro durante a infância depende das espécies bacterianas individuais, que modulam a polarização das células-T e a regulação imune, as respostas metabólicas, a adipogênese e, possivelmente, até mesmo o desenvolvimento do cérebro e das funções cognitivas. Padrões anormais de colonização têm um efeito deletério em longo prazo na homeostase imune e metabólica.É notável, portanto, que o leite materno transmita elementos da microbiota e respostas imunes da mãe e ainda forneça prebióticos específicos para auxiliar o crescimento de bactérias benéficas. O tipo de parto estabelece inicialmente se a flora do trato gastrointestinal da mãe (parto vaginal) ou se a flora da pele da mãe (parto cesáreo) dominará os colonizadores iniciais,58 o que induz uma resposta imune importante na criança. O modo de alimentação é o segundo determinante fundamental da microbiota da criança. As crianças amamentadas mantêm diferenças microbianas persistentes, independentemente do tipo de parto, devido aos efeitos dos oligossacarídeos presentes no leite humano (HMOs). O leite humano contém uma variedade bem mais ampla de açúcares do que outros leites de mamíferos: até 8% de seu valor calórico é fornecido na forma de HMOs indigeríveis, que funcionam como prebióticos que auxiliam o crescimento de bactérias específicas. Eles não podem ser utilizados pela maioria dos organismos entéricos, mas auxiliam o crescimento do Bifidobacterium longum biovar infantis, que coevoluiu para expressar as enzimas necessárias para a utilização dos HMOs. Existe uma variação interindividual substancial na produção de HMO materno, que por sua vez sustenta o padrão de aquisição da flora pela criança. Portanto, existe especificidade na interação entre o leite materno e a microbiota da criança, causando diferentes efeitos induzidos pelas bactérias no metabolismo e na imunidade da criança. O leite do início da mamada, o chamado leite anterior, pelo seu alto teor de água, tem aspecto semelhante ao da água de coco. Porém, ele é muito rico em anticorpos. Já o leite do meio da mamada tende a ter uma coloração branca opaca devido ao aumento da concentração de caseína. E o leite do final da mamada, o chamado leite posterior, é mais amarelado devido à presença de betacaroteno, pigmento lipossolúvel presente na cenoura, abóbora e vegetais de cor laranja, provenientes da dieta da mãe. O leite pode ter aspecto azulado ou esverdeado quando a mãe ingere grande quantidade de vegetais verdes. Não é rara a presença de sangue no leite, dando a ele uma cor amarronzada. Esse fenômeno é passageiro e costuma ocorrer nas primeiras 48 horas após o parto. Referências FREITAS, Marina Guedes de; BORIM, Bruna Cury; WERNECK, Alexandre Lins. Aleitamento materno exclusivo: adesão e dificuldades. Revista de Enfermagem Ufpe On Line, [S.L.], v. 12, n. 9, p. 2301, 8 set. 2018. Revista de Enfermagem, UFPE Online. http://dx.doi.org/10.5205/1981-8963- v12i9a234910p2301-2307-2018. BOCCOLINI, Cristiano Siqueira; BOCCOLINI, Patricia de Moraes Mello; MONTEIRO, Fernanda Ramos; VENÂNCIO, Sonia Isoyama; GIUGLIANI, Elsa Regina Justo. Breastfeeding indicators trends in Brazil for three decades. Revista de Saúde Pública, [S.L.], v. 51, p. 108, 27 dez. 2017. Universidade de Sao Paulo, Agencia USP de Gestao da Informacao Academica (AGUIA). http://dx.doi.org/10.11606/s1518- 8787.2017051000029. FLORES, Thaynã Ramos; NUNES, Bruno Pereira; NEVES, Rosália Garcia; WENDT, Andrea T.; COSTA, Caroline dos Santos; WEHRMEISTER, Fernando C.; BERTOLDI, Andréa Dâmaso. Consumo de leite materno e fatores associados em crianças menores de dois anos: pesquisa nacional de saúde, 2013. Cadernos de Saúde Pública: REPORTS IN PUBLIC HEALTH, [S.L.], v. 33, n. 11, p. 1-15, 21 nov. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00068816. ALVES, Jessica de Souza; OLIVEIRA, Maria Inês Couto de; RITO, Rosane Valéria Viana Fonseca. Orientações sobre amamentação na atenção básica de saúde e http://dx.doi.org/10.5205/1981-8963-v12i9a234910p2301-2307-2018 http://dx.doi.org/10.5205/1981-8963-v12i9a234910p2301-2307-2018 http://dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.2017051000029 http://dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.2017051000029 http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00068816 8 associação com o aleitamento materno exclusivo. Ciência & Saúde Coletiva, [S.L.], v. 23, n. 4, p. 1077-1088, abr. 2018. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1413- 81232018234.10752016. SANTOS, Geysa Mayara Rosa dos. MITOS E CRENÇAS SOBRE ALEITAMENTO MATERNO QUE LEVAM AO DESMAME PRECOCE NAS ESTRATÉGIAS SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE FIRMINÓPOLIS- GO1. Revista Faculdade Montes Belos, São Luísbelos, v. 8, n. 4, p. 177-202, dez. 2013. VICTORA, Cesar G. Association between breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years of age: a prospective birth cohort study from brazil. Lancet Glob Health, Pelotas, v. 3, p. 199- 205, 2015. DIAS, Lídia Maria de Oliveira. Influência familiar e a importância das políticas públicas de aleitamento materno: breast-feeding: family influence and the importance of public policies on breastfeeding. Revista Saúde em Foco, Teresina, v. 11, p. 634-648, 2019. VICTORA, Cesar. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect,. The Lancet, Pelotas, v. 387, p. 1-24, 30 jan. 2016 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015.184 p.: il. – (Cadernos de Atenção Básica; n. 23) http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018234.10752016 http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018234.10752016
Compartilhar