É notável, portanto, que o leite materno transmita elementos da microbiota e respostas imunes da mãe e ainda forneça prebióticos específicos para auxiliar o crescimento de bactérias benéficas. O tipo de parto estabelece inicialmente se a flora do trato gastrointestinal da mãe (parto vaginal) ou se a flora da pele da mãe (parto cesáreo) dominará os colonizadores iniciais,58 o que induz uma resposta imune importante na criança. O modo de alimentação é o segundo determinante fundamental da microbiota da criança. As crianças amamentadas mantêm diferenças microbianas persistentes, independentemente do tipo de parto, devido aos efeitos dos oligossacarídeos presentes no leite humano (HMOs). O leite humano contém uma variedade bem mais ampla de açúcares do que outros leites de mamíferos: até 8% de seu valor calórico é fornecido na forma de HMOs indigeríveis, que funcionam como prebióticos que auxiliam o crescimento de bactérias específicas. Eles não podem ser utilizados pela maioria dos organismos entéricos, mas auxiliam o crescimento do Bifidobacterium longum biovar infantis, que coevoluiu para expressar as enzimas necessárias para a utilização dos HMOs. Existe uma variação interindividual substancial na produção de HMO materno, que por sua vez sustenta o padrão de aquisição da flora pela criança. Portanto, existe especificidade na interação entre o leite materno e a microbiota da criança, causando diferentes efeitos induzidos pelas bactérias no metabolismo e na imunidade da criança. O leite do início da mamada, o chamado leite anterior, pelo seu alto teor de água, tem aspecto semelhante ao da água de coco. Porém, ele é muito rico em anticorpos. Já o leite do meio da mamada tende a ter uma coloração branca opaca devido ao aumento da concentração de caseína. E o leite do final da mamada, o chamado leite posterior, é mais amarelado devido à presença de betacaroteno, pigmento lipossolúvel presente na cenoura, abóbora e vegetais de cor laranja, provenientes da dieta da mãe. O leite pode ter aspecto azulado ou esverdeado quando a mãe ingere grande quantidade de vegetais verdes. Não é rara a presença de sangue no leite, dando a ele uma cor amarronzada. Esse fenômeno é passageiro e costuma ocorrer nas primeiras 48 horas após o parto. Referências FREITAS, Marina Guedes de; BORIM, Bruna Cury; WERNECK, Alexandre Lins. Aleitamento materno exclusivo: adesão e dificuldades. Revista de Enfermagem Ufpe On Line, [S.L.], v. 12, n. 9, p. 2301, 8 set. 2018. Revista de Enfermagem, UFPE Online. http://dx.doi.org/10.5205/1981-8963- v12i9a234910p2301-2307-2018. BOCCOLINI, Cristiano Siqueira; BOCCOLINI, Patricia de Moraes Mello; MONTEIRO, Fernanda Ramos; VENÂNCIO, Sonia Isoyama; GIUGLIANI, Elsa Regina Justo. 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