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Fichamento Aspectos Psicológicos e Comportamentais da Alimentação

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Comportamento alimentar no campo da Alimentação e Nutrição: do que estamos falando?
Juliana Klotz-SilvaShirley Donizete PradoCristiane Marques Seixas
nos estudos relacionados ao campo da Alimentação e Nutrição, os termos “comportamentos alimentares” e “hábitos alimentares” são extraídos de seu uso no senso comum. São, portanto, categorias empíricas que expressam uma realidade, diferentemente das categorias analíticas, que se relacionam com conceitos e teorias estabelecidas (MINAYO, 2010).
Segundo Viana (2002), na interseção entre os campos da Psicologia e da Alimentação e Nutrição, um dos interesses que se destaca é relacionado aos transtornos alimentares e à obesidade, prevalecendo a ideia de que o comportamento alimentar dos indivíduos deve ser observado para a prevenção de doenças, uma vez que é repetidamente associado aos fatores de risco à saúde
No campo da Alimentação e Nutrição, hábitos alimentares são relacionados à ideia de consumo alimentar ou, ainda, ingestão alimentar (ingestão energética e de nutrientes), enquanto o comportamento alimentar aparece, na maioria das vezes, relacionado aos aspectos psicológicos da ingestão de comida. 
A autora descreve que o comportamento pode ou não ser sucessivo. Já a noção de hábito tem a necessidade de repetição e uma ligação com o tempo. Os pontos levantados denunciam uma das influências da visão comportamentalista na Nutrição, que se expressa muitas vezes na ideia de que um nutricionista, ao propor “um tipo de alimentação [...] espera que o outro desenvolva um comportamento equivalente, e que em seguida este se torne um hábito alimentar” (CARVALHO, 2012, p. 431).
 Para Freitas et al. (2012), o hábito alimentar relaciona-se com a percepção sobre a comida em determinado contexto social, sendo adquirido pela repetição na experiência que cada indivíduo tem ao longo de sua vida.
Freitas et al. (2012) entendem que comportamentos e hábitos estão intimamente relacionados no que diz respeito à etiologia das doenças. Enquanto o primeiro situa-se na esfera da ação individual, inevitavelmente condicionada pela estrutura social e dela condicionante, o segundo relaciona-se com a experiência que se repete cotidianamente do indivíduo no social, um ato polissêmico que “faz parte de uma trama de significados do cotidiano em que o ser humano vive e no qual se encontra quase sempre cativo” (FREITAS et al., 2012, p. 36).
A autora indica que na Nutrição se entende que os hábitos são formados desde a infância e vão se modificando de acordo com o processo de socialização. Posteriormente, na adolescência, os hábitos alimentares se modificam na busca da identidade grupal e ao longo da vida sofrerão outras influências, mudanças e alterações (PACHECO, 2008).
A criança cresce em um ambiente familiar que tem um comportamento alimentar definido, que se repete dia após dia e ao qual ela se adapta. [...] Ao sair do convívio basicamente familiar e penetrar no contexto escolar, o indivíduo experimentará outros alimentos e preparações e terá oportunidade de promover alterações nos seus hábitos alimentares... (PACHECO, 2008, p. 221).
Quando um comportamento tem um tipo de consequência chamada reforço, há maior probabilidade dele ocorrer novamente. Um reforçador positivo fortalece qualquer comportamento que o produza: um copo d’água é positivamente reforçador quando temos sede e, se então enchemos e bebemos um copo d’água, é mais provável que voltemos a fazê-lo em ocasiões semelhantes. Um reforçador negativo revigora qualquer comportamento que o reduza ou o faça cessar: quando tiramos um sapato que está apertado a redução do aperto é negativamente reforçadora e aumenta a probabilidade de que ajamos assim quando um sapato estiver apertado (SKINNER, 1982, p. 43). Já estudei sobre o reforço do comportamento na alimentação antes...buscar anotações
Na perspectiva da construção social dos hábitos, é a repetição de uma forma de prática eficiente que produz o hábito, pois, devido à sua efetividade, ele tende a se manter e reproduzir, perpetuando determinadas práticas em uma tradição que passa através de gerações. 
Dessa forma, para Deleuze, o hábito constitui o ser e inaugura sua ontologia que desvia a subjetividade do lugar comum e do determinismo que se costuma a considerar. Se na Psicologia reducionista, assim como no campo da Alimentação e Nutrição, a subjetividade é considerada como algo que não exige um questionamento quanto à sua origem e constituição - podendo até mesmo ser eliminada ou controlada -, na concepção deleuzeana, observa-se uma inflexão na conceituação da subjetividade diferente das concepções simplificadoras do ser.
No campo da Alimentação e Nutrição, trata-se, portanto, de abordar o comportamento em sua relação com o hábito, não de forma simplificadora, mas considerando a complexidade da vida e do ser humano. A obstinação pela prevenção e pela cura que se apoia no uso ingênuo desses termos expõe com seu fracasso que o comportamento não pode ser controlado, o ser humano e seus hábitos não podem ser condicionados. Em suma, como Morin confirma: a simplicidade das partes não explica a complexidade do todo. Trata-se, como diz Morin, de “alguma coisa mais” (2010, p. 193) que precisa ser construída, deslocando a ação condicionada para uma dimensão que comporta a emergência da singularidade dos aspectos subjetivos e individuais. Nessa perspectiva, o hábito poderia afirmar-se como aquilo que faz sentido, permitindo que o sujeito possa apropriar-se de forma singular das informações e orientações provenientes da ciência e sustentar suas mudanças.2 
Aspectos motivacionais em programas de mudança de comportamento alimentar
Maria Alice Altenburg de AssisMarkus Vinícius Nahas
Na Europa e nos EUA, metade das mortes prematuras, em homens e mulheres com menos de 65 anos, resulta de doenças crônicas. São as doenças coronarianas, vários tipos de cânceres, anemia, bócio, cirrose do fígado, diabetes, obesidade, hipertensão arterial e osteoporose na velhice (World..., 1990).
No Brasil, o quadro não é diferente, sendo que o grupo de doenças cardiovasculares constitui a primeira causa de mortalidade (Brasil..., 1993). Trazer dados do Brasil com fonte – site de óbitos nacional dos cartórios
Uma alimentação bem variada e balanceada, a prática regular de exercícios físicos, o controle do estresse, a adoção de um comportamento preventivo e o hábito de não usar drogas, são componentes da categoria estilo de vida, que podem ser modificados para viver melhor, com qualidade (Nahas, 1996)
Revisando a literatura sobre a falta de adesão de pacientes e os processos sociais e psicológicos que permeiam a relação médico paciente, DiMatteo (1994) relatou que 38% dos pacientes deixam de seguir um tratamento agudo recomendado (por exemplo, uso de antibióticos); 43% dos pacientes não aderem a um tratamento crônico (por exemplo, tratamento anti-hipertensivo), 75% dos pacientes não seguem as recomendações médicas relacionadas as mudanças no estilo de vida, como restrições alimentares, abandono do fumo e outros. verificar a possibilidade de inserir esses dados como tabela e quem pode fazer a tabela ou buscar dados atualizados em outra fonte
 Relativo à adesão em programas de exercícios físicos, as pesquisas têm documentado que 50% dos indivíduos que se iniciam em um programa dessa natureza o abandonarão dentro de três a seis meses (Dishman, 1995). – verificar a possibilidade de inserir esses dados como tabela e quem pode fazer a tabela ou buscar dados atualizados em outra fonte
A motivação é complexa e muitas variáveis intrínsecas e extrínsecas, influenciam o processo em determinado momento. As influências motivacionais de hoje podem ser diferentes do amanhã, e metas a curto prazo podem preceder sobre as de longo prazo. O problema é que, tornar-se ou permanecer saudável, ou aprender o que alguém precisa para um cuidado apropriado em diabetes ou doença cardiovascular, envolve metas a longo prazo, enquanto comer uma torta de chocolate, "só desta vez", satisfaz uma meta a curto prazo de prazer (Rollnick, 1996).
O modeloPrevenção de Recaída (PR) cognitivo-comportamental define lapso como a primeira ocorrência de uso de substância alvo após um período de abstinência. Quando uma dieta prescrita envolve estrita adesão a um dado nível energético ou a listas de alimentos, um lapso inicial, pode ser considerado o fracasso em aderir a estas recomendações específicas. Para programas comportamentais que visam mudar os hábitos alimentares e de atividade física, sem uma prescrição de nível energético específico e uma amplitude considerável na escolha de alimentos, uma definição apropriada de um lapso inicial poderia ser mais subjetiva, como qualquer exemplo de ingestão planejada e não controlada, na qual o indivíduo comeu mais do que o esperado ou planejado, sem um plano compensatório anterior (Sternberg, 1993).
A seleção de alimentos é uma parte de um sistema comportamental complexo. Na criança é determinada primeiramente pelos pais, práticas culturais e éticas de seu grupo. Experiências precoces e interação contínua com o alimento determinam as preferências alimentares, hábitos e atitudes exibidas pelos adultos. Outras influências incluem o preço do alimento, o valor do prestígio do alimento, religião, geografia, pares e influências sociais, preparação e estocagem do alimento, habilidades no preparo de alimentos, disponibilidade de tempo e conveniência, bem como as preferências e intolerâncias pessoais. Citam-se também os fatores afetivos, envolvendo atitudes, crenças e valores (Holli & Calabrese, 1991). Reforça o que o artigo anterior trata de comportamento cultural
As qualidades sensoriais (sabor, cheiro, textura e aparência) são fortes determinantes do comportamento alimentar. As propriedades sensoriais dos alimentos desempenham um papel não somente na determinação do seu consumo, como também na determinação da saciedade, ingestão e seleção do alimento numa refeição (Mattes & Kare, 1994).
Um dos papéis do nutricionista é o de ajudar as pessoas a modificar seus hábitos alimentares, através da assistência nutricional a indivíduos e grupos populacionais (Baldwin & Falciglia, 1995).
Na psicologia cognitiva, os métodos são dirigidos para modificações de sentimentos e ações, influenciando um padrão de pensamento social. Estratégias são dirigidas à mudança de atitudes individuais, crenças e percepções sobre o comportamento (Prochaska & DiClemente 1986).
Collins citado por Sternberg (1993) comparou as abordagens dos tratamentos cognitivo, comportamental e cognitivo-comportamental combinado em um programa de redução de peso de oito semanas. No grupo de terapia cognitiva, os participantes foram ensinados a reconhecer e a mudar pensamentos negativos e auto-relatos a respeito da comida, do seu peso e dos esforços para perder peso. As técnicas incluíam reestruturação cognitiva, treinamento auto-instrucional e terapia racional emotiva. Após um acompanhamento de sete meses, os resultados mostraram que o grupo de tratamento comportamental perdeu mais peso que o grupo controle. A diferença entre os grupos cognitivo-comportamental e controle foi significativa, enquanto o grupo cognitivo não diferiu do grupo controle na quantidade de peso perdida. Durante os três primeiros meses de manutenção, participantes em todos os quatro grupos continuaram a perder peso, com a maior média de perda ocorrendo no grupo cognitivo-comportamental.
Segundo Marlatt & Gordon (1993), a essência do modelo de autocontrole é que o indivíduo move-se de uma posição de ser o "cliente", sob a orientação de um terapeuta, para uma posição na qual se torna mais capaz de assumir a responsabilidade pelo processo de mudança.
Williams et al. (1996), testaram durante seis meses a teoria do autocontrole em 128 pacientes com obesidade mórbida ou severa, participantes de um programa de perda de peso com dietas de valor energético muito baixo. O programa tinha a duração de 23 meses. As variáveis ambientais e psicológicas, relacionadas à motivação do paciente, foram usadas para predizer: a) participação semanal dos pacientes no programa durante 6 meses, b) a perda de peso durante este período e c) o exercício e a manutenção da perda de peso no seguimento de 23 meses. As análises confirmaram o prognóstico de que, os participantes cuja motivação para a perda de peso era autônoma freqüentavam com mais regularidade o programa, perdiam mais peso e apresentavam maior manutenção da perda de peso durante o seguimento. Além disso, a motivação autônoma do participante para perder peso poderia ser prognosticada pela sua orientação e suporte autônomos percebidos no clima interpessoal criado pelo pessoal de saúde.
O modelo Prevenção de Recaída (PR) cognitivo-comportamental (Marlatt & Gordon, 1993), baseia-se no constructo de auto-eficácia e o utiliza como um conceito explanatório, na compreensão de como se espera que uma violação inicial de regras seja capaz de influenciar o posterior uso de substâncias e a recaída.
O modelo Transteorético (MT) (Prochaska et al., 1992), também chamado de teoria de estágios de mudança, descreve a mudança de comportamento como um processo no qual os indivíduos progridem, através de uma série de fases discretas ou estágios de mudança. Estes estágios de mudança têm sido documentados na mudança comportamental de indivíduos, nas áreas de cessação do fumo, uso de substâncias, controle do peso, uso de protetor solar, uso de preservativos e promoção da atividade física.
O "estado da arte" dos programas de intervenção nutricional que visam a mudança do comportamento alimentar, apresentado nas publicações relatadas, aponta para a necessidade da utilização e integração dos modelos da teoria social cognitiva e treinamento profissional para aquisição de habilidades técnicas para motivar as pessoas na realização das mudanças desejável
Terapia cognitivo-comportamental dos transtornos alimentares
Mônica DuchesnePaola Espósito de Moraes Almeida
	
Evidências sobre a terapia cognitivo-comportamental no tratamento de obesos com transtorno da compulsão alimentar periódica
Mônica DuchesneJosé Carlos AppolinárioBernard Pimentel RangéSilvia FreitasMarcelo PapelbaumWalmir Coutinho
As evidências disponíveis sugerem que a terapia cognitivo�comportamental é um método de tratamento eficaz para o transtorno da compulsão alimentar, em relação aos componentes psicológicos dessa condição. Entretanto, sua eficácia na redução do peso corporal e na manutenção dos seus efeitos no longo prazo ainda precisa ser melhor investigada
O transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) é caracterizado por episódios de compulsão alimentar recorrentes na ausência dos comportamentos compensatórios inadequados para evitar o ganho de peso observados na bulimia nervosa (BN). Durante o episódio de compulsão alimentar, há um sentimento de falta de controle sobre o comportamento associado à ingestão de grandes quantidades de alimento, mesmo que o indivíduo esteja sem fome, e, em geral, levando a um grande desconforto. Esse episódio é sucedido por um intenso mal�estar subjetivo, caracterizado por sentimentos de angústia, tristeza, culpa, vergonha e/ou repulsa por si mesmo1.
o TCAP freqüentemente se associa ao sobrepeso e a diversos graus de obesidade. Enquanto sua prevalência estimada na população em geral pode variar entre 1,82 e 4,6%3, aproximadamente 30% dos indivíduos obesos que procuram tratamento para emagrecer apresentam esse transtorno2,3, tendo sido observada uma associação positiva entre a presença da compulsão alimentar e o aumento da adiposidade3,4.
Os obesos com TCAP, quando comparados aos sem esse transtorno, apresentam mais sintomas psicopatológicos gerais ou alimentares4. Em relação ao primeiro grupo, foram identificados maiores níveis de perfeccionismo5, impulsividade6, ansiedade6 e isolamento social6, além de uma maior vulnerabilidade à depressão5,7�9. Adicionalmente, foi relatada uma pior qualidade de vida10 e uma pior auto�estima7 nesse grupo de indivíduos. Com relação aos sintomas psicopatológicos específicos do TCAP, foram observadas atitudes mais disfuncionais relacionadas à alimentaçãoe ao peso, além de uma extrema preocupação e insatisfação com a forma corporal
A terapia cognitivo�comportamental (TCC) foi considerada a forma de intervenção psicoterápica mais investigada no TCAP através de ensaios clínicos randomizados15 e tem sido crescentemente utilizada em diversos centros especializados no tratamento dos transtornos alimentares. Ela baseia�se no pressuposto de que um sistema disfuncional de crenças está associado ao desenvolvimento e manutenção do TCAP. Conseqüentemente, a modificação de padrões distorcidos de raciocínio e a reestruturação de crenças supervalorizadas associadas ao peso e à imagem corporal são focos primários do tratamento, sendo utilizadas várias técnicas cognitivas com essa finalidade.
Por exemplo, em um estudo controlado randomizado com 44 pacientes (índice de massa corporal � IMC = 32,6), Telch et al.20 observaram 94% de redução da freqüência da compulsão alimentar após 10 sessões de TCC, em comparação a 9% dos pacientes alocados em uma lista de espera.
Em pacientes obesos com TCAP, estudos abertos sugerem que a TCC no formato de grupo favorece uma redução da freqüência da compulsão alimentar, variando entre 8022 e 91%23.
Alguns estudos controlados randomizados comparam a eficácia da TCC isoladamente com a TCC associada a fármacos7,27�29. Esses estudos demonstraram reduções significativas da compulsão alimentar após a TCC, sem benefício adicional com o uso de desipramina7, fluoxetina27�29 ou fluvoxamina27. Grilo et al.29 randomizaram 108 pacientes para quatro condições: TCC no formato individual combinada com fluoxetina, TCC combinada com placebo, fluoxetina ou placebo. Eles observaram taxas de remissão significativamente mais altas nos grupos com TCC, sem melhora significativa para o grupo em uso de fluoxetina ou placebo sem TCC. As taxas de remissão foram: 29% (fluoxetina), 30% (placebo), 55% (TCC combinada com fluoxetina) e 73% (TCC combinada com placebo). Em um outro estudo, também utilizando TCC no formato individual, Devlin et al.28 comparam a eficácia de adicionar fluoxetina ou TCC a um programa de TC. Foi observada uma melhora significativa da compulsão alimentar como resultado da adição da TCC em 62% dos pacientes que receberam TCC atingindo remissão (e 33% no grupo�controle). Nenhuma diferença significativa nas taxas de remissão foi observada com a adição de fluoxetina em comparação ao placebo.
Além da redução da freqüência dos episódios de compulsão alimentar, a diminuição da gravidade da compulsão alimentar foi avaliada em vários estudos através da Escala de Compulsão Alimentar Periódica32. Estudos controlados randomizados identificaram uma diminuição da gravidade da compulsão alimentar como resultado da TCC, comparando�a à TC33 e a listas de espera12,24. Portanto, os ensaios clínicos anteriormente descritos sugerem que a TCC resulta em redução significativa da freqüência e da gravidade da compulsão alimentar.
Estudos comparativos de TCC com TCC associada à orientação nutricional34,35 revelaram uma diminuição significativa da propensão para apresentar compulsão alimentar, avaliada pela subescala "Bulimia" do Eating Disorder Inventory38. Adicionalmente, em estudos controlados comparando TCC com lista de espera12,24, TCC com TC7 e TCC com fluoxetina29, os pacientes relataram um aumento do controle do impulso para comer inadequadamente, avaliado pela subescala Desinhibition do Three�Factor Eating Questionnaire36. Stunkard et al.36 descreveram que a melhora da pontuação nessa subescala se associa ao aumento efetivo da capacidade para controlar a alimentação quando o indivíduo é exposto a situações emocionalmente estressantes (que poderiam favorecer a ocorrência da compulsão alimentar). Esses dados, somados, são particularmente interessantes, uma vez que, de acordo com Fairburn et al.16, Lowe & Caputo39 e Laessle et al.40, a diminuição dos níveis de restrição e a melhora da capacidade para controlar o impulso para alimentar�se excessivamente apresentam uma correlação positiva com um maior sucesso no controle da compulsão alimentar e da alimentação de modo geral.
A eficácia de associar orientação nutricional e atividade física à TCC foi avaliada em três estudos controlados randomizados, tendo sido observadas reduções significativas no peso corporal com essa associação25,34,35. Fossati et al.34 observaram uma perda média de 1,5 kg em um grupo de TCC combinada com orientação nutricional; de 2,8 kg em um grupo que recebeu TCC, orientação nutricional e atividade física; e não observaram perda de peso no grupo que recebeu apenas TCC (0,3 kg).
Ensaios clínicos comparando a TCC com uma lista de espera ou com a TI indicam que, durante o seguimento, há um aumento da freqüência da compulsão alimentar11,20,21. Entretanto, esta ainda se mantém em níveis inferiores aos observados no início do TCC11,20,21. Wilfley et al.11 reportaram que pacientes obesos com TCAP tratados com TCC e TI apresentaram um aumento da compulsão alimentar após o término do tratamento, sendo as taxas de remissão iguais a 72% na TCC e a 70% na TI no final do seguimento de 1 ano (e, no pós�tratamento, 82% na TCC e 74% na TI). Em contrapartida, foi observada a manutenção das melhoras obtidas nos outros sintomas psicopatológicos característicos do TCAP e uma melhora adicional das dificuldades interpessoais. Neste estudo, durante o seguimento, foi observada uma diminuição de peso estatisticamente significativa, porém não clinicamente significativa, em ambos os modelos de tratamento.
Três estudos controlados randomizados reportaram a manutenção das melhoras obtidas no pós�tratamento ..... De modo geral, no final do seguimento, os pacientes submetidos à TCC combinada com exercício físico, seguida por manutenção, apresentaram a maior redução de IMC de todos os grupos (� 2,26). Adicionalmente, todos os grupos apresentaram manutenção da melhora nos níveis de depressão, estando esta significativamente correlacionada com a melhora da compulsão alimentar. Em outro ensaio clínico, Kenardy et al. Embora ambos os tratamentos tenham resultado em manutenção das melhoras obtidas no humor e no IMC, observou�se um aumento da taxa de remissão na TCC (47,1% no final do tratamento e 58,8% no final do seguimento) e, em contrapartida, uma piora significativa da compulsão alimentar no tratamento baseado nos princípios de Rogers (29,4% no pós�tratamento e 17,6% no seguimento).
A análise dos resultados dos estudos citados nesta seção sugere que, ao final de seguimentos de até 1 ano de duração, a compulsão alimentar se mantém em níveis inferiores aos observados no início do tratamento, e há manutenção das melhora obtidas nos níveis de restrição11,27,34,52, na capacidade de inibir o impulso para comer de forma inadequada52, nas atitudes disfuncionais associadas à alimentação, ao peso e à forma corporal11,27, nos níveis de depressão27,52 e nas dificuldades interpessoais11,52. Existe, entretanto, uma tendência para o reganho de peso, que está diretamente associado ao fato de o paciente manter episódios de compulsão alimentar no seguimento.
A análise dos resultados dos ensaios clínicos anteriormente descritos sugere que, após a TCC, há uma melhora do funcionamento psicológico geral dos pacientes com TCAP. Foram descritas reduções significativas nos sintomas psicopatológicos característicos do transtorno alimentar e nos sintomas associados. Entretanto, não foi observada diminuição significativa no peso corporal. Resumo dos estudos acima
Abordagens psicoterápicas que focalizam questões interpessoais11 ou que enfatizam o treinamento na regulação dos afetos favorecem reduções na freqüência da compulsão alimentar em obesos com TCAP... deve�se considerar o fato de que alguns pacientes não melhoram com a adição de técnicas focalizadas em aspectos interpessoais24, e outros não melhoram após programas de terapia focalizados no ensino da regulação do humor57. Por outro lado, 12 sessões de TCC são suficientes para alguns pacientes e insuficientes para outros. Esses dados, somados, sugerem que os pacientes com TCAP apresentam diferentesperfis de resposta. Ainda não foram encontrados fatores que pudessem predizer de forma confiável o sucesso no tratamento, para que se pudesse adequar o perfil do paciente ao melhor formato de terapia58. Wilson58 sugeriu que o tratamento poderia ser oferecido no formato de módulos, de acordo com as dificuldades de cada paciente. Poder�se�ia começar com intervenções mínimas (psicoeducação, manuais de auto�ajuda ou protocolos breves de tratamento) e adicionar módulos que enfoquem dificuldades específicas para os pacientes que apresentarem pior resposta às intervenções mais breves.
Um outro aspecto importante em relação aos estudos com TCC no TCAP é que a maior parte dos ensaios clínicos utilizou programas de terapia em grupo. São necessários mais estudos que avaliem a eficácia da TCC quando implementada em formato individual,
Os programas de TCC resultam em melhoras significativas nos sintomas psicopatológicos característicos do TCAP, sem reduções significativas no peso corporal. São também observadas melhoras na auto�estima, nas dificuldades interpessoais, no humor e na qualidade de vida, além de um aumento do sentimento subjetivo de bem�estar. Entretanto, nem todos os pacientes apresentam boa resposta à TCC, e algumas adaptações nos protocolos de tratamento foram sugeridas, com o objetivo de aumentar o número de respondedores. 
Contribuições da psicologia e da nutrição para a mudança do comportamento alimentar
Cristineide Leandro FrançaMarina BiaginniAna Paula Levindo MudestoElioenai Dornelles Alves
É preocupante o aumento da obesidade e sobrepeso da população mundial neste século. O excessivo e anormal acúmulo de gordura é considerado atualmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um problema de saúde pública, medidos pelo índice de massa corporal (IMC) de 30 kg/m2 ou mais para obeso e igual ou superior a 25 kg/m2 para sobrepeso. Essas doenças ocasionam grande risco à saúde da população para enfermidades como diabetes, doenças cardiovasculares, câncer (ABESO, 1998; OMS, 2008) e manifestações dermatológicas (Boza, Rech, Sachett, Menegon, & Cestari, 2010). – é um problema de saúde pública ver dados no Brasil 
No Brasil, o excesso de peso tem tido grande prevalência nas últimas décadas. Em 2002, foi estimada em 40% entre as mulheres e 41% entre os homens (IBGE, 2004). 
As razões para esse aumento significativo podem estar associadas à inatividade física da população e a uma maior ingestão de alimentos altamente energéticos como gordura, sal, açúcares e deficitários em vitaminas, minerais e outros micronutrientes. Medidas preventivas são necessárias para o controle do sobrepeso e obesidade. 
o Ministério da Saúde lançou em 2008 o Guia alimentar para a população brasileira, que traz diretrizes e recomendações ditadas pela OMS e corrobora com as seguintes orientações específicas sobre dieta constantes no documento final da Estratégia Global de Promoção da Alimentação, Atividade Física e Saúde: manter o equilíbrio energético e o peso saudável; limitar a ingestão energética procedente de gorduras; substituir as gorduras saturadas por insaturadas e eliminar as gorduras trans (hidrogenadas); aumentar o consumo de frutas, legumes e verduras, cereais integrais e leguminosas (feijões); limitar a ingestão de açúcar livre; limitar a ingestão de sal (sódio) de toda procedência e consumir sal iodado.
Sharovsky, Perez, Romano e Lopes (2004) verificaram que a intervenção grupal melhora o funcionamento psíquico do paciente. Mesmo nos casos em que o tratamento de escolha para obesidade foi prioritariamente farmacológico, a inserção de grupos voltados para mudança do estilo de vida impôs maior emagrecimento dos pacientes.
considerando os altos índices de doenças relacionadas à obesidade e sobrepeso no Brasil e no mundo, torna-se necessário introduzir práticas de saúde baseadas em modelos eficazes. As intervenções em grupo são alternativas que podem estimular e motivar o indivíduo à mudança de comportamento alimentar para uma vida mais saudável. Assim, o presente estudo visa avaliar o impacto imediato dos aspectos nutricionais e psicológicos de um grupo psicoeducativo com o foco na mudança do comportamento alimentar. Para tanto, foram definidos os seguintes objetivos: (a) avaliar modificações no peso e no consumo alimentar dos participantes após o grupo psicoeducativo; (b) identificar fatores psicológicos que interferem na mudança do comportamento alimentar e (c) analisar a eficácia do grupo psicoeducativo, em uma ação multiprofissional, para a promoção da mudança no comportamento alimentar.
Os resultados psicológicos apresentados neste estudo contemplaram 03 categorias temáticas que foram agrupadas conforme as questões que nortearam os dois grupos focais: (1) Fatores psicológicos; (2) Estratégias de intervenção; e (3) Eficácia do grupo psicoeducativo.
A análise dos dados da categoria (1) fatores psicológicos aborda a percepção do grupo sobre a interferência de aspectos psicológicos na manutenção de hábitos alimentares adequados. Essa categoria possibilitou identificar sentimentos como: tristeza, raiva, depressão, ansiedade, dificuldades no relacionamento familiar, baixa autoestima, avaliação negativa da imagem corporal, motivação e alegria. Constataram-se, nessa amostra, que a depressão e a ansiedade foram as respostas predominantes. Algumas falas são representativas dessa categoria:
...Eu acho que além da tristeza que a pessoa passa, tem os problemas na família. Pode ser a questão de ter problemas com marido, filhos, falta de dinheiro, amor, carinho, a bebida... Se eu estou fazendo a dieta, eu paro o que estou fazendo e passo a comer tudo. Ai eu penso: meu deus, por que eu fiz isso?
... Isso também se passa comigo. Eu tenho depressão... Às vezes fico em casa trabalhando, fazendo a dieta, o meu marido chega do trabalho, não conversa nada, toma banho e vai dormir. Não me dá atenção e eu fico triste, com raiva, choro e aí como tudo que vejo pela frente...
Em seguida, avaliou-se a categoria (2), estratégias de intervenção, que teve como intuito investigar como os participantes se comportam diante de sintomas psicológicos que influenciam negativamente na mudança dos hábitos alimentares. Os princípios da terapia cognitiva comportamental - TCC auxiliaram na construção dessa categoria. A técnica da distração e a modificação de crenças disfuncionais são algumas estratégias da TCC que foram utilizadas pelo grupo. A distração consiste em deslocar a atenção do mundo interno (pensamentos, sensações corporais) para o mundo externo (Knapp & Baldisserotto, 2001). Ao modificar sua forma de pensar, os participantes aprendem como mudar seus pensamentos imprecisos e disfuncionais para que se sintam melhores emocionalmente e para que se comportem de maneira mais produtiva na busca das suas metas (Beck, 2009).
Os participantes relataram aspectos que deram origem, nessa categoria, aos seguintes temas: ir à igreja, realizar leituras, trabalhar, usar o computador, meditar, realizar atividades físicas, ir ao shopping e fazer trabalhos manuais. A realização de atividades físicas foi a resposta com maior frequência. Para eles, essas estratégias ajudam a controlar os problemas psicológicos e a lidar com os impulsos com relação à fissura por comida. Alguns depoimentos são representativos e ilustram a opinião do grupo sobre essa temática:
Quando investigados sobre (3) eficácia do grupo psicoeducativo na mudança do comportamento alimentar, os participantes relataram que participar do grupo proporcionou melhora da autoestima, mudança de hábitos, realização de atividade física com maior frequência, compartilhar problemas com os outros, mudança de pensamento, valorização dos alimentos, perda de peso, melhora de indicadores bioquímicos como colesterol, triglicerídeos e glicemia e escolha alimentares saudáveis. A melhora da autoestima foi a resposta com maior ocorrência enfatizada pelos participantes. Algumas verbalizações são exemplos dessa categoria temática, a seguir: "Aprendi a valorizar os alimentos, melhorei minha autoestima. Estou fazendobicicleta... Agora faço refeições com outro prazer". "Melhorou minha autoestima. Vi que existem outras pessoas como eu. Comecei a nadar e estou pedalando. Não ligo de não ter perdido peso". "Gostei muito do grupo. Me ajudou muito. Aprendi técnicas de distração". O grupo foi importante para ter uma orientação mais aprofundada. Tenho que mudar, mas já mudei muito. Reduzi refrigerantes e comidas gordurosas. Meus exames também melhoraram.
Em relação ao consumo alimentar dos participantes, não foi verificada diferença significativa em nenhum dos grupos de alimentos entre a primeira e a última sessão do grupo. Porém, os valores médio, mínimo e máximo de cada grupo de alimentos, principalmente dos grupos de leite e derivados, doces, bebidas adoçadas e preparações (Tabela 4), aproximaram-se dos valores preconizados pelo Guia alimentar para a população brasileira (Ministério da Saúde, 2008) ao final do grupo psicoeducativo.
Os resultados também permitiram avaliar a eficácia do grupo psicoeducativo em uma ação multiprofissional, para a promoção da mudança no comportamento alimentar. A intervenção em grupo mostrou-se efetiva na promoção de hábitos alimentares saudáveis e na modificação do comportamento alimentar, fato também descrito nos estudos de Cezarreto (2010); Santos (2010) e Sharovsky et al. (2004), que destacam a relevância de uma intervenção multiprofissional para a saúde física e psíquica do paciente, auxiliando no emagrecimento. Assim, essa ação conjunta, entre profissionais de saúde, aliada à terapia cognitiva comportamental - TCC propicia benefícios.
Os resultados deste estudo corroboram a literatura ao apontar os benefícios originados pela intervenção grupal e multiprofissional no emagrecimento e estado físico e psíquico do paciente. Constatou-se nesta pesquisa que (1) sentimentos como tristeza, baixa autoestima, depressão, ansiedade, motivação e alegria interferem de forma positiva ou negativa na mudança de comportamento alimentar; (2) estratégias de intervenção/distração, como a prática de atividades físicas, auxiliam na redução de doenças físicas e sintomas psicológicos; e (3) uma ação multiprofissional, por meio de grupos psicoeducativos, que visem à modificação do estilo de vida, é responsável por estimular o paciente a participar do tratamento proposto, obtendo-se respostas terapêuticas mais eficazes. Entretanto, estes dados não são generalizáveis a toda população.

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