Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 1 ⁉ Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório Quais estruturas compõem o sistema respiratório superior e o sistema respiratório inferior? Quais os mecanismos de defesa desses sistemas? Por razões práticas, o sistema respiratório é dividido em: Trato respiratório superior: É composto por nariz, faringe (garganta) e estruturas associadas, incluindo a orelha média e as tubas auditivas (de Eustáquio). Os ductos dos seios e os ductos nasolacrimais do aparato lacrimal (produtor de lágrimas) se abrem na cavidade nasal. As tubas auditivas da orelha média se abrem na porção superior da garganta. Trato respiratório inferior: É composto pela laringe (caixa de voz), traqueia, brônquios e os alvéolos . Os alvéolos são pequenos sacos de ar que formam o tecido pulmonar; dentro dos alvéolos, o oxigênio e o dióxido de carbono são trocados entre os pulmões e o sangue. A membrana de camada dupla que envolve os pulmões é a pleura, ou membranas pleurais. Uma membrana mucosa ciliada reveste o trato respiratório inferior até os brônquios menores e os auxilia a impedir que os microrganismos alcancem os pulmões. As partículas retidas na laringe, na traqueia e nos brônquios maiores são movidas em direção à garganta por uma ação ciliar, chamada de elevador ciliar. Caso os microrganismos alcancem os pulmões, células fagocíticas, denominadas macrófagos alveolares, geralmente localizam, ingerem e destroem a maioria deles. Anticorpos IgA em secreções, como o muco respiratório, a saliva e as lágrimas, também ajudam a proteger as superfícies da mucosa do sistema respiratório de muitos patógenos. Desse modo, o corpo apresenta vários mecanismos para remover os patógenos que causam as infecções transmissíveis pelo ar. Doenças microbianas do trato respiratório superior Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 2 Doenças bacterinas do trato respiratório superior Faringite estreptocócica O que é: É uma infecção do trato respiratório superior. Agente Causador: É causada por estreptococos do grupo A (GAS). Esse grupo de bactérias gram-positivas é composto unicamente por Streptococcus pyogenes, a mesma bactéria responsável por muitas infecções da pele e dos tecidos moles, como impetigo, erisipela e endocardite bacteriana aguda. Sintomas: A faringite é caracterizada por uma inflamação local e febre. Com frequência, ocorre tonsilite, e os linfonodos do pescoço tornam-se inchados e sensíveis. Outra complicação frequente é a otite média. Patogenia e Transmissão: A patogenicidade dos estreptococos do grupo A (GAS) é acentuada por sua resistência à fagocitose. Também são capazes de produzir enzimas especiais, chamadas de estreptoquinases, que lisam coágulos de fibrina, e estreptolisinas, que são citotóxicas para as células dos tecidos, hemácias e leucócitos protetores. Hoje, a faringite é mais comumente transmissível por secreções respiratórias, mas epidemias de faringite estreptocócica disseminadas por leite não pasteurizado já foram frequentes no passado. Diagnóstico: Antigamente, o diagnóstico da faringite era baseado no cultivo da bactéria a partir de amostras de swabs de garganta. Hoje em dia já se usa testes rápidos de detecção de antígeno, que podem detectar GAS diretamente nos swabs de garganta. Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 3 Observações: A maioria dos pacientes apresentando dor de garganta não tem uma infecção estreptocócica. Alguns casos são causados por outras bactérias, mas muitos são causados por vírus – para os quais a antibioticoterapia é ineficaz. Mesmo a presença dos GAS não representa uma indicação conclusiva de que eles sejam os responsáveis pela dor de garganta. Tratamento: O GAS têm permanecido sensível à penicilina, embora alguma resistência à eritromicina tenha surgido. Epiglotite O que é: É uma infecção bacteriana da epiglote e dos tecidos circundantes Agente Causador: Haemophilus influenzae Sintomas: Em crianças com epiglotite, os sintomas se desenvolvem subitamente e pode ocorrer estreitamento fatal da laringe dentro de poucas horas após o início dos sintomas. Os sintomas incluem: Dor de garganta intensa, Dificuldade em engolir. Dor na deglutição, Febre, Sialorreia (a pessoa baba), Voz abafada. Como a infecção se encontra na epiglote, a parte posterior da garganta geralmente não aparenta estar infectada. Quando o edema da epiglote provoca a estenose das vias respiratórias, a criança primeiro começa a emitir um som estridente ao respirar (estridor) e, depois, a dificuldade respiratória fica progressivamente pior. A infecção progride rapidamente. Em adultos com epiglotite, os sintomas são similares aos das crianças, incluindo dor de garganta, febre, dificuldade para engolir e babar, mas os sintomas levam mais de 24 horas para evoluir. Como as vias aéreas no adulto são maiores, o bloqueio das vias aéreas é menos comum e menos súbito. No entanto, as vias aéreas ainda podem ficar bloqueadas e adultos podem falecer se o diagnóstico e tratamento forem tardios. Geralmente não há inflamação visível da garganta. Então, quando as pessoas têm uma dor de garganta intensa, mas uma garganta com aparência normal, os médicos podem suspeitar de epiglotite. Patogenia: A epiglotite relacionada ao Haemophilus influenza era mais comum em crianças, no entanto, as vacinações de rotina contra o Haemophilus praticamente eliminaram essa infecção em crianças. Agora, ocorrem mais casos de epiglotite em adultos. Entretanto as crianças podem adquirir epiglotite causada por outras bactérias, e adultos e crianças não Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 4 vacinadas ainda podem ser infectados pelo Haemophilus influenzae tipo B. A inflamação provocada por essa infecção pode obstruir as vias respiratórias, levar a uma dificuldade respiratória e à morte. Como as vias respiratórias das crianças são menores do que as dos adultos, a epiglotite é muito mais perigosa nas crianças, mas também pode ser fatal em adultos. Crianças com epiglotite costumam ter bactérias na corrente sanguínea (bacteremia), que por vezes disseminam a infecção para os pulmões, as articulações, os tecidos que recobrem o cérebro (meninges), o saco em torno do coração ou os tecidos sob a pele. Tratamento: A vacina contra Haemophilus influenzae tipo B (Hib) pode prevenir epiglotites causada por essa bactéria. São administrados antibióticos para eliminar a infecção e é inserida uma sonda endotraqueal para manter as vias aéreas abertas, evitando o fechamento pelo edema. Febre Escarlate O que é: Infecção resultante da produção de toxina eritrogênica pela Streptococos Pyogenes. Quando a linhagem produz essa toxina, significa que a bactéria foi antes infectada por um bacteriófago lisogênico. Lembre-se de que isso significa que a informação genética de um bacteriófago (vírus bacteriano) foi incorporada ao cromossomo da bactéria, de modo que as características da bactéria foram alteradas. Sintomas: A toxina provoca uma erupção cutânea de coloração avermelhada, que provavelmente consiste em uma reação de hipersensibilidade cutânea à circulação da toxina, e também uma febre alta. A língua adquire uma aparência manchada, semelhante a um morango, e, em seguida, à medida que ela perde sua membrana superior, torna-se muito vermelha e aumentada. Classicamente, considera-se que a febre escarlate esteja associada à faringite estreptocócica, mas ela também pode acompanhar uma infecção estreptocócica cutânea Agente Causador: Toxina produzida pela S.pyogenes Observações: Com o passar do tempo, a incidência de febre escarlate tem variado em gravidade e frequência. Hoje, ela é uma doença relativamente branda e rara. Difteria O que é: Doença bacterina do trato respiratório superior. Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 5 Agente Causador: O microrganismo responsável é o Corynebacterium diphtheriae, um bastonete gram-positivo não formador de esporos.Sua morfologia é pleomórfica, frequentemente claviforme, e ele não se cora de forma homogênea Sintomas: A doença se inicia com dor de garganta e febre, seguidas de indisposição e edema do pescoço. Uma membrana acinzentada rígida, que se forma na garganta em resposta à infecção, é característica da difteria. Ela contém fibrina, tecido morto e células bacterianas que podem bloquear completamente a passagem de ar para os pulmões. Nas infecções cutâneas, as bactérias causam ulcerações de cicatrização lenta que são cobertas por uma membrana acinzentada. A difteria cutânea é muito comum em países tropicais. Patogenia e Transmissão: C. diphtheriae adaptou-se à população imunizada em geral, e linhagens relativamente não virulentas são encontradas na garganta de muitos portadores assintomáticos. A bactéria está bem adaptada à transmissão pelo ar e é muito resistente ao ressecamento. Embora as bactérias não invadam os tecidos, aquelas que foram infectadas por um fago lisogênico podem produzir uma exotoxina potente, que circula na corrente sanguínea e interfere na síntese de proteínas. Desse modo, para que a terapia antitoxina seja eficaz, ela deve ser administrada antes que a toxina entre nas células dos tecidos. Quando órgãos, como o coração e os rins, são afetados pela toxina, a doença pode ser rapidamente fatal. Em outros casos, os nervos podem ser envolvidos, resultando em paralisia parcial. A difteria também se expressa como difteria cutânea. Nessa forma da doença, o C. diphtheriae infecta a pele, geralmente em um ferimento ou lesão cutânea similar, e há circulação sistêmica mínima da toxina. No passado, a difteria era disseminada para portadores sadios principalmente pela infecção via gotículas de saliva. Já foram relatados casos respiratórios que surgiram a partir do contato com a difteria cutânea Diagnóstico: O diagnóstico laboratorial por identificação bacteriana é difícil, exigindo meios seletivos e diferenciais Tratamento: A vacina DTaP (de diphtheria, tetanus, pertussis) faz parte do programa normal de imunização infantil e protege contra a difteria, o tétano e a coqueluche. A letra D no nome representa o toxoide da difteria, uma toxina inativada que estimula a produção de anticorpos pelo corpo contra a toxina diftérica. Mesmo que antibióticos como a penicilina e a eritromicina controlem o crescimento das bactérias, eles não neutralizam a toxina Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 6 diftérica. Assim, os antibióticos devem ser utilizados apenas em associação com a antitoxina. Otite média O que é: É uma infecção da orelha média que normalmente aparece como uma complicação de uma infecção de nariz ou garganta. Também chamada de dor de ouvido. Sintomas: Dor de ouvido Patogenia: Os patógenos causam a formação de pus, que aumenta a pressão contra o tímpano, deixando-o inflamado e dolorido. A condição é mais frequente na infância, pois a tuba auditiva, que conecta a orelha média à garganta, é pequena e mais horizontal que nos adultos, sendo mais facilmente bloqueada pela infecção. Agente Causador: Várias bactérias podem causar otite média. O patógeno mais comumente isolado é S. pneumoniae. Outras bactérias frequentemente envolvidas são H. influenzae não encapsuladas, Moraxella catarrhalis, S. pyogenes e S. aureus. Em cerca de 3 a 5% dos casos, nenhuma bactéria pode ser detectada. Nessas ocasiões, as infecções virais podem ser as responsáveis. Vírus sinciciais respiratórios são os isolados mais comuns. Tratamento: Penicilinas de amplo espectro, como a amoxicilina, geralmente são a primeira opção para as crianças. Hoje, muitos médicos questionam o valor dos antibióticos, por não haver certeza se esses antimicrobianos diminuem o curso da doença. Existe uma vacina conjugada que se destina a prevenir a pneumonia causada por S. pneumoniae. A experiência tem mostrado que a vacina apresenta o efeito colateral benéfico de reduzir a incidência de otite média em 6 a 7%. Doenças virais do trato respiratório superior Resfriado comum Sintomas: Espirros, secreção nasal excessiva e congestão. A infecção pode se disseminar facilmente da garganta para os seios, o trato respiratório inferior e a orelha média, provocando complicações, como laringite e otite média. O resfriado sem complicações geralmente não é acompanhado de febre. Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 7 Patogenia: A nossa tendência é acumular imunidade contra os vírus de resfriados ao longo da vida, o que pode ser um motivo pelo qual as pessoas idosas geralmente têm menos resfriados. A imunidade é baseada na proporção de anticorpos IgA para sorotipos únicos e apresenta uma boa eficácia a curto prazo. Populações isoladas podem desenvolver uma imunidade coletiva e seus resfriados desaparecem até que um novo grupo de vírus seja introduzido. Transmissão: Uma única partícula de rinovírus depositada na mucosa nasal geralmente é suficiente para causar um resfriado. Entretanto, existe surpreendentemente pouco consenso de como os vírus que causam o resfriado são transmissíveis para um sítio no nariz. Experimentos com cobaias e o vírus influenza demonstraram que os vírus tendem a ser carreados por gotículas de vapores de água dispersas pelo ar. No ar seco (baixa umidade), típico de baixas temperaturas, as gotículas são menores e permanecem no ar por mais tempo, facilitando a transmissão de pessoa a pessoa. Ao mesmo tempo, o ar mais frio desacelera os cílios do elevador ciliar, permitindo que as partículas virais inaladas se disseminem no trato respiratório superior. Pesquisas demonstraram que durante os três primeiros dias de um resfriado, o muco nasal apresenta uma alta concentração de vírus que se multiplicam nas células nasais. (Se o muco tem coloração esverdeada, ele apresenta muitos leucócitos que, por sua vez, têm componentes que contêm ferro, direcionados para a destruição dos patógenos.) Os vírus no muco permanecem viáveis por pelo menos várias horas em superfícies tocadas por dedos contaminados. A sabedoria convencional é de que os vírus são provavelmente transmissíveis pelo contato das mãos com as narinas e os olhos (os ductos lacrimais comunicam-se com o nariz). A transmissão também ocorre quando os vírus que causam resfriados, presentes em gotículas de ar oriundas de tosse e espirros, depositam-se em tecidos suscetíveis do nariz e dos olhos Agente Causador: Mais de um vírus pode estar envolvido na etiologia do resfriado comum. Na verdade, centenas podem estar envolvidos – são conhecidos mais de 200 vírus diferentes, membros de diversas famílias distintas, que causam resfriados. A maioria dos vírus de resfriados são rinovírus (30-50%); os coronavírus (10-15%) também são importantes. Todavia, 20 a 30% dos vírus que causam resfriados são classificados pelos pesquisadores como desconhecidos. Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 8 Diagnóstico: Procedimentos de identificação que requerem isolamento e cultura frequentemente falham na identificação da causa de um resfriado. Contudo, técnicas modernas que utilizam a reação em cadeia da polimerase (PCR) para a detecção de DNA ou RNA viral tornaram as culturas desnecessárias e frequentemente conseguem detectar vírus de resfriados anteriormente desconhecidos. Tratamento: Como os resfriados são causados por vírus, os antibióticos não têm utilidade no tratamento. Os sintomas podem ser aliviados por antitussígenos e anti-histamínicos, porém esses medicamentos não aceleram a recuperação. O adágio médico ainda é verdadeiro: um resfriado não tratado vai seguir seu curso normal para a recuperação em uma semana, ao passo que, com tratamento, levará 7 dias. Doenças Microbianas do trato respiratório inferior Doenças bacterianas do trato respiratório inferior Coqueluche (Tosse comprida) O que é: Infecção bacteriana que afeta o trato respiratório inferior. Agente Causador: Bordetella pertussis. A bactéria B. pertussis é um pequeno cocobacilo gram-negativoe aeróbio obrigatório. As linhagens virulentas possuem uma cápsula. Sintomas: Doença que ocorre principalmente na infância, a coqueluche pode ser bastante grave. O estágio inicial, denominado estágio catarral, assemelha-se a um resfriado comum. Acessos prolongados de tosse caracterizam o estágio paroxístico, ou segundo estágio. Quando a ação ciliar é comprometida, o muco acumula-se, e a pessoa infectada tenta desesperadamente tossir esses acúmulos de muco. A violência da tosse em crianças pequenas pode até resultar em costelas quebradas. A ânsia por ar entre as tosses causa um som uivante. Os episódios de tosse ocorrem várias vezes por dia, durante um período de 1 a 6 semanas. O estágio de convalescença, ou terceiro estágio, pode durar meses. Uma vez que os lactentes são menos capazes de lidar com o esforço da tosse para manter uma via aérea, ocasionalmente eles sofrem de lesões irreversíveis no cérebro. Patogenia: As bactérias fixam-se especificamente às células ciliadas da traqueia, impedindo, inicialmente, a sua ação ciliar e, em seguida, Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 9 destruindo progressivamente as células. Isso impede o movimento do muco pelo sistema do elevador ciliar. B. pertussis produz diversas toxinas. A citotoxina traqueal, porção da parede celular da bactéria, é responsável pelos danos às células ciliadas, e a toxina pertússis entra na corrente sanguínea e está associada aos sintomas sistêmicos da doença. Transmissão: Por meio de partículas do trato respiratório. Diagnóstico: O diagnóstico da coqueluche é baseado principalmente nos sinais clínicos e nos sintomas. O patógeno pode ser cultivado a partir de swabs de garganta, coletadas com o auxílio de uma alça fina, que é inserida no nariz e mantida na garganta enquanto o paciente está tossindo. A cultura do patógeno fastidioso requer muitos cuidados. Como alternativa à cultura, o método de PCR também pode ser utilizado para testar a amostra para a presença do patógeno, um procedimento requerido para o diagnóstico da doença em lactentes. Tratamento: O tratamento da coqueluche com antibióticos, mais comumente eritromicina ou outros macrolídeos, não é efetivo após o início do estágio de tosse paroxístico, porém pode reduzir a transmissão. Imunização por meio da vacina DTaP, uma vacina de difteria, tétano e coqueluche que é acelular. Tuberculose Sintomas: A tosse, o sintoma mais evidente da infecção pulmonar, também dissemina a infecção através de aerossóis contendo bactérias. O escarro pode se tornar sanguinolento à medida que os tecidos são lesionados, e, por fim, os vasos sanguíneos podem se tornar tão erodidos que se rompem, resultando em hemorragia fatal. A infecção disseminada é chamada de tuberculose miliar. As defesas restantes do corpo são suplantadas, e o paciente apresenta redução de peso e uma perda geral de vigor. Antigamente, a TB era conhecida pelo nome comum tísica (fraqueza). Agente Causador: Causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, um bacilo delgado, aeróbio obrigatório. Os bacilos crescem lentamente (tempo de geração de 20 horas ou mais), muitas vezes formam filamentos e tendem a crescer em aglomerados Patogenia: A parede celular contém grandes quantidades de lipídeos. Esses lipídeos também podem ser responsáveis pela resistência da micobactéria a estresses ambientais, como o ressecamento. De fato, essas bactérias podem sobreviver por semanas em escarro seco e são muito resistentes Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 10 aos antimicrobianos químicos usados como antissépticos e desinfetantes. Um fator importante na patogenicidade das micobactérias provavelmente consiste no fato de que os ácidos micólicos da parede celular estimulam fortemente uma resposta inflamatória no hospedeiro. 1. Se a infecção progredir, o hospedeiro isola os patógenos em uma lesão fechada, chamada de tubérculo (que significa protrusão ou saliência), uma característica que dá nome à doença. 2. Quando a doença é interrompida neste momento, as lesões cicatrizam lentamente, tornando-se calcificadas. Elas aparecem claramente nos filmes de raios X e são chamadas de complexos de Ghon. 3. Se as defesas do corpo falham nesse estágio, o tubérculo rompe-se e libera bacilos virulentos nas vias aéreas do pulmão e, então, nos sistemas circulatório e linfático Transmissão: A TB é mais comumente adquirida pela inalação do bacilo. Somente as partículas muito finas, contendo de 1 a 3 bacilos, alcançam os pulmões, onde geralmente são fagocitadas por um macrófago nos alvéolos. Diagnóstico: O teste cutâneo da tuberculina é um teste de triagem para a infecção. Um teste positivo não indica necessariamente doença ativa. Nesse teste, uma proteína purificada derivada da bactéria da TB, obtida por precipitação de culturas em caldo, é injetada cutaneamente. Se a pessoa injetada foi infectada com TB no passado, as células T sensibilizadas reagem com essas proteínas e ocorre uma reação de hipersensibilidade tardia, em cerca de 48 horas. Essa reação se manifesta como endurecimento e vermelhidão da área em torno do local de injeção. Um teste de tuberculina positivo em crianças muito pequenas é uma indicação provável de um caso ativo de TB. Em pessoas mais velhas, pode indicar somente a hipersensibilidade resultante de uma infecção prévia ou vacinação, e não um caso atualmente ativo. Contudo, é uma indicação de que exames subsequentes são necessários, como um raio X de tórax ou uma TC para a detecção de lesões pulmonares, além de tentativas de isolamento da bactéria. Um novo teste de PCR automatizado (Xpert MTB/RIF) pode diagnosticar a TB por meio da detecção do M. tuberculosis dentro de 90 minutos. Ao mesmo tempo, ela determina a resistência da bactéria ao principal antibiótico contra a TB, a rifampicina. A PCR pode ser conduzida por profissionais relativamente não especializados, mas possui a desvantagem de apresentar um alto custo. Tratamento: O primeiro antibiótico efetivo no tratamento da TB foi a estreptomicina, introduzida em 1944. A estreptomicina ainda está em uso e Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 11 todos os fármacos utilizados atualmente foram desenvolvidas há décadas atrás. Mesmo o regime curto de tratamento da TB (existem variações no regime, que dependem da sensibilidade do organismo e de outros fatores) requer a adesão do paciente a uma terapia de no mínimo 6 meses. Uma terapia de múltiplos fármacos é necessário para minimizar o surgimento de linhagens resistentes. Essa terapia geralmente inclui quatro fármacos: isoniazida, etambutol, pirazinamida e rifampicina, os quais são considerados fármacos de primeira linha. Se a linhagem de M. tuberculosis for suscetível a esses fármacos, esse regime pode levar à cura. A probabilidade de desenvolvimento de resistência é acentuada, uma vez que muitos pacientes falham ao seguir fielmente um regime tão prolongado. Além dos fármacos de primeira linha, existem vários fármacos de segunda linha que podem ser utilizados, principalmente quando se desenvolve resistência aos fármacos alternativos. Eles incluem diversos aminoglicosídeos, fluoroquinolonas e o ácido para-aminosalicílico (PAS). Esses fármacos podem ser menos efetivos do que os fármacos de primeira linha, possuir efeitos adversos tóxicos ou podem não estar disponíveis em alguns países. O tratamento prolongado é necessário, uma vez que o bacilo da tuberculose cresce muito lentamente ou encontra-se apenas dormente (o único fármaco efetivo contra o bacilo dormente é a pirazinamida), e muitos antibióticos são eficazes apenas contra as células em crescimento. Além disso, o bacilo pode permanecer escondido por longos períodos nos macrófagos ou em outros locais que são de difícil alcance para os antibióticos. Observações: Nas últimas décadas, a coinfecção com o vírus HIV tem sido um fator importante no aumento da suscetibilidade à infecção e também na rápida progressão da infecção para a doençaativa. Outros fatores são as crescentes populações de indivíduos suscetíveis em prisões e outras instalações superlotadas, bem como indivíduos idosos ou subnutridos. Outra espécie de micobactéria, a Mycobacterium bovis, é um patógeno principalmente do gado. M. bovis é a causa da tuberculose bovina, que é transmissível aos seres humanos através do leite ou de alimentos contaminados. Ela raramente se dissemina entre seres humanos, mas antes do advento da pasteurização para o leite e do desenvolvimento de métodos de controle, como o teste da tuberculina para os rebanhos bovinos, essa doença era uma forma frequente de tuberculose em seres humanos. As infecções por M. bovis causam uma TB que afeta principalmente os ossos ou o sistema linfático. Antigamente, uma manifestação comum desse tipo de TB era a deformação em forma de corcunda da coluna vertebral. Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 12 Pneumonia pneumocócica O que é: É um tipo de infecção pulmonar Agente Causador: Streptococcus pneumoniae. S. pneumoniae é uma bactéria ovoide gram-positiva. Esse micróbio também é uma causa comum de otite média, meningite e sepse. Os pares de células são circundados por uma cápsula densa, que torna o patógeno resistente à fagocitose. Sintomas: Os sintomas incluem febre alta, dificuldade de respirar e dor torácica. (Em geral, as pneumonias atípicas têm um início mais lento e apresentam menos febre e dor torácica.) Os pulmões têm um aspecto avermelhado, pois os vasos sanguíneos estão dilatados. Em resposta à infecção, os alvéolos enchem-se com algumas hemácias, neutrófilos e fluido dos tecidos circundantes. O escarro frequentemente tem cor de ferrugem, devido ao sangue proveniente dos pulmões, vindo com a tosse. Os pneumococos podem invadir a corrente sanguínea, a cavidade pleural que circunda o pulmão e, ocasionalmente, as meninges. Nenhuma toxina bacteriana foi relacionada claramente à patogenicidade Patogenia: A pneumonia pneumocócica envolve ambos os brônquios e os alvéolos. Existem muitos portadores saudáveis de pneumococos. A virulência das bactérias parece ser baseada principalmente na resistência do portador, que pode ser reduzida pelo estresse. Muitas doenças de adultos mais idosos terminam em pneumonia pneumocócica. Uma recidiva de pneumonia pneumocócica não é incomum. Antes da quimioterapia se tornar disponível, a taxa de mortalidade era superior a 25%. Hoje, essa taxa foi reduzida para menos de 1% em pacientes mais jovens, tratados precocemente no curso de sua doença. Para pacientes mais idosos internados em hospitais, a mortalidade pode se aproximar de 20%. Diagnóstico: Um diagnóstico presuntivo pode ser feito por meio do isolamento do pneumococo a partir de amostras de garganta, escarro e outros fluidos. Um novo teste que detecta um antígeno específico de S. pneumoniae na urina pode ser realizado dentro do consultório médico e, com 93% de acurácia, pode realizar um diagnóstico em 15 minutos. Tratamento: A resistência à penicilina tem sido um problema crescente, e diversos outros antimicrobianos, principalmente macrolídeos e fluoroquinolonas, estão sendo utilizados, em vez da penicilina. Uma vacina pneumocócica conjugada foi introduzida recentemente e tem sido efetiva na prevenção da infecção pelos sete sorotipos que ela contém. Ela também Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 13 apresentou um efeito coletivo indireto, mostrado pela redução de outras doenças, como a otite média, atribuída aos pneumococos Pneumonia por Haemophilus influenzae Haemophilus influenzae é um cocobacilo gram-negativo, e uma coloração de Gram do escarro é capaz de diferenciar este tipo de pneumonia da pneumonia pneumocócica. Pacientes em condições como alcoolismo, desnutrição, câncer ou diabetes são especialmente suscetíveis. As cefalosporinas de segunda geração são resistentes às β-lactamases produzidas por muitas linhagens de H. influenzae e, portanto, são geralmente os antimicrobianos de escolha. Pneumonia por micoplasma O que é: A pneumonia por micoplasma é um tipo comum de pneumonia em jovens adultos e crianças. Ela pode ser responsável por cerca de 20% das pneumonias, embora não seja uma doença notificável. Outras designações para a doença são pneumonia atípica primária (i. e., a pneumonia mais comum não causada por pneumococos) e pneumonia ambulante. Sintomas: Os sintomas, que persistem por três semanas ou mais, incluem febre baixa, tosse e cefaleia. Ocasionalmente, eles são graves o suficiente para conduzir à hospitalização Agente Causador: A bactéria Mycoplasma pneumoniae Diagnóstico: O diagnóstico baseado na recuperação dos patógenos pode não ser útil no tratamento, pois podem ser necessárias até três semanas ou mais para que os organismos de crescimento lento se desenvolvam. Contudo, os testes diagnósticos têm sido altamente aperfeiçoados nos últimos anos. Eles incluem a reação em cadeia da polimerase (PCR) e testes sorológicos que detectam anticorpos IgM contra M. pneumoniae. Tratamento: O tratamento com antibióticos, como as tetraciclinas, normalmente induz o desaparecimento dos sintomas, porém não elimina as bactérias, as quais são carreadas pelos pacientes por muitas semanas. Observações: Os micoplasmas, que não possuem paredes celulares, não crescem sob as condições normalmente usadas na recuperação da maioria dos patógenos bacterianos. Devido a essa característica, as pneumonias causadas por micoplasma frequentemente são confundidas com pneumonias virais. Legionelose Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 14 O que é: É um tipo de pneumonia bacteriana Sintomas: A doença é caracterizada por uma febre alta de 40,5°C, tosse e sintomas gerais de pneumonia. Agente Causador: Bastonete aeróbio gram-negativo, atualmente conhecido como Legionella pneumophila, capaz de se replicar dentro de macrófagos. Patogenia: Essa bactéria é consideravelmente mais resistente ao cloro que a maioria das outras bactérias e pode sobreviver por longos períodos em água com baixo nível de cloração. Evidências indicam que a Legionella existe principalmente em biofilmes, que são altamente protetores. L. pneumophila também é a responsável pela febre de Pontiac, que, essencialmente, é outra forma de legionelose. Seus sintomas incluem febre, dores musculares e geralmente tosse. A condição é leve e autolimitada. Durante surtos de legionelose, pode haver ocorrência de ambas as formas. Transmissão: Não parece haver transmissão interpessoal. Estudos recentes mostraram que a bactéria pode ser facilmente isolada de fontes de água naturais. Além disso, os micróbios podem crescer na água das torres de resfriamento de ar-condicionado, o que pode significar que algumas epidemias em hotéis, distritos comerciais urbanos e hospitais tenham sido causadas pela transmissão pelo ar. Surtos recentes foram rastreados até banheiras de hidromassagem, umidificadores, chuveiros, fontes decorativas e até mesmo terra para cultivo. Diagnóstico: O melhor método diagnóstico consiste na cultura em um meio seletivo. O exame de amostras respiratórias pode ser feito por métodos de anticorpo fluorescente, e um teste com sonda de DNA também está disponível. Tratamento: A eritromicina e outros antibióticos macrolídeos, como a azitromicina, são os antimicrobianos de escolha para o tratamento Psitacose (ornitose) O que é: É um tipo de pneumonia bacteriana Agente Causador: O agente causador é Chlamydophila psittaci, uma bactéria gram-negativa, intracelular obrigatória. Sintomas: A psitacose é uma forma de pneumonia que, em geral, provoca febre, tosse, cefaleia e calafrios. Infecções subclínicas são muito comuns, e Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 15 o estresse parece aumentar a suscetibilidade à doença. Desorientação ou mesmo delírio, em alguns casos, indicam que o sistema nervoso pode estar envolvido. Transmissão: A doença raramente é transmissível de um ser humano para outro, mas normalmenteé disseminada pelo contato com fezes e outras secreções de aves. Um dos modos de transmissão mais comuns consiste na inalação de partículas secas de fezes. Diagnóstico: O diagnóstico é feito por meio do isolamento da bactéria em ovos embrionados ou em cultura de células. Testes sorológicos podem, então, ser usados para identificar o organismo isolado. Tratamento: Não existe uma vacina disponível, contudo as tetraciclinas são antibióticos efetivos para o tratamento de seres humanos e animais. A imunidade efetiva não resulta da recuperação, mesmo quando altos títulos de anticorpo estão presentes no soro. Prevenção: Restrição à importação de pássaros psitacídeos, eliminação de pássaros doentes e adição de antimicrobianos ao alimento dos pássaros, não existe vacina. Pneumonia por clamídia Descobriu-se que surtos de uma doença respiratória em populações de estudantes universitários haviam sido causados por um organismo clamidial. O agente causador é a Chlamydophila pneumoniae e a doença é conhecida como pneumonia por clamídia. Clinicamente, ela é semelhante à pneumonia por micoplasma. A doença aparentemente é transmissível de uma pessoa para outra, provavelmente pela via respiratória. Vários testes sorológicos são úteis no diagnóstico, porém os resultados são complicados por variações antigênicas. O antibiótico mais efetivo é a tetraciclina. Febre Q O que é: Tipo de pneumonia bacteriana Agente Causador: Coxiella burnetii Sintomas: A febre Q apresenta uma ampla variedade de sintomas clínicos, e testes sistemáticos mostram que cerca de 60% dos casos nem chegam a ser sintomáticos. Casos de febre Q aguda geralmente apresentam como sintomas febre alta, cefaleia, dores musculares e tosse. Uma sensação de indisposição pode persistir por meses. O coração também é envolvido em Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 16 cerca de 2% dos pacientes agudos e é responsável pelas raras fatalidades. Em casos de febre Q crônica, a manifestação mais conhecida é a endocardite. Um período de 5 a 10 anos pode se passar entre a infecção inicial e o aparecimento de endocardite, e uma vez que esses pacientes mostram poucos sinais de doença aguda, a associação com a febre Q com frequência é desconsiderada. Transmissão: Transmissão pelo ar. A doença é disseminada para os seres humanos através da ingestão de leite não pasteurizado e pela inalação de aerossóis contendo micróbios, gerados em celeiros de gado leiteiro, principalmente durante o parto, a partir de material placentário, o qual contém cerca de 1 bilhão de bactérias por grama. Diagnóstico: O patógeno pode ser identificado por isolamento e crescimento em ovos embrionados de galinha ou em cultura de células. Para o teste do soro dos pacientes em laboratório, podem ser usados testes sorológicos para a identificação de anticorpos específicos anti-Coxiella. Tratamento: A doxiciclina tem sido recomendada para o tratamento. O crescimento de C. burnetii no interior de macrófagos durante a infecção crônica confere à bactéria resistência ao fármaco, a atividade bactericida pode ser restaurada por meio da combinação de doxiciclina e cloroquina, um antimalárico. A cloroquina eleva o pH do fagossomo, aumentando a eficiência da doxiciclina. Meilioidose O que é: É reconhecida como uma das principais doenças infecciosas do sudoeste asiático e do norte da Austrália, onde o patógeno é amplamente distribuído nos solos úmidos. Mais comumente, essa bactéria afeta pessoas com baixa capacidade imunológica, frequentemente diabéticos. Do ponto de vista clínico, a melioidose é mais comumente vista como uma pneumonia. Sintomas: Patogenia: A mortalidade ocorre a partir da disseminação da bactéria, manifestando-se como choque séptico. A taxa de mortalidade no sudoeste asiático é de cerca de 50%, e na Austrália aproxima-se de 20%. Entretanto, a doença pode se manifestar como abscessos em vários tecidos do corpo, que se assemelham à fasceíte necrosante, como sepse grave e até mesmo como encefalite. Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 17 Transmissão: A transmissão ocorre principalmente por inalação, mas vias alternativas de infecção consistem na inoculação por meio de ferimentos por perfuração e na ingestão. Agente Causador: O patógeno bacteriano, Burkholderia pseudomallei, é um bastonete gram-negativo Diagnóstico: O diagnóstico normalmente é realizado por meio do isolamento do patógeno a partir de fluidos corporais. Tratamento: A eficácia do tratamento com antibióticos é incerta; o mais comumente utilizado é a ceftazidima, um antibiótico β-lactâmico, contudo podem ser necessários meses de tratamento. Doenças virais do trato respiratório inferior Pneumonia Viral A pneumonia viral pode ocorrer como uma complicação da gripe, do sarampo ou mesmo da varicela. Nos casos de pneumonia para os quais nenhuma causa é determinada, a etiologia viral com frequência é presumida se a pneumonia por micoplasma foi excluída. Nos últimos anos, os coronavírus emergiram como agentes causadores de pneumonia. Em 2003, o coronavírus associado à síndrome respiratória aguda severa (SARS, de severe acute respiratory syndrome) emergiu na Ásia e se disseminou para vários países. Desde 2004, nenhum caso de SARS foi relatado no mundo. Em 2012, o coronavírus associado à síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV, de Middle East respiratory syndrome coronavirus) foi identificado pela primeira vez na Arábia Saudita e, em seguida, disseminou-se para diversos outros países. A PCR é utilizada para a confirmação de casos de SARS e MERS-CoV Vírus Sincicial respiratório (RSV) O vírus sincicial respiratório (RSV) é provavelmente a causa mais comum de doença respiratória viral em crianças. O vírus também pode causar um tipo de pneumonia potencialmente letal em adultos mais idosos, indivíduos em que a doença é facilmente identificada incorretamente como gripe (influenza). As epidemias ocorrem durante o inverno e no início da primavera. Mencionamos anteriormente que o RSV algumas vezes está envolvido em casos de otite média. Os sintomas são tosse e sibilos, que duram mais de uma semana. Há a ocorrência de febre somente quando existem complicações bacterianas. Diversos testes sorológicos rápidos estão disponíveis atualmente, que utilizam amostras de secreções respiratórias para detectar tanto o vírus quanto seus Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 18 anticorpos. A imunidade naturalmente adquirida é muito fraca. Uma imunoglobulina foi aprovada para proteger lactentes com problemas pulmonares de alto risco. Vacinas protetoras estão sendo testadas clinicamente. Para a quimioterapia em situações de risco à vida, quando o custo é justificado, a gravidade dos sintomas muitas vezes pode ser reduzida por meio do fármaco antiviral ribavirina, administrado por aerossol. O mais recente tratamento aprovado, normalmente reservado aos pacientes de alto risco, é o anticorpo monoclonal humanizado palivizumab (Synagis). Influenza (gripe) O que é: É um vírus influenza causador da gripe Sintomas: A gripe se caracteriza por calafrios, febre, cefaleia e dores musculares. A recuperação normalmente ocorre em poucos dias, e os sintomas gripais surgem à medida que a febre cede. A diarreia não é um sintoma normal da doença, e o desconforto intestinal atribuído à “gripe estomacal” provavelmente tem alguma outra causa. Transmissão: Partículas virais no ar Agente Causador: Os vírus do gênero Influenzavirus consistem em oito segmentos separados de RNA, de diferentes comprimentos, envolvidos por uma camada interna de proteína e uma bicamada lipídica externa. Embebidas na bicamada lipídica estão numerosas projeções que caracterizam o vírus. Existem dois tipos de projeções: as espículas de hemaglutinina (HA) e as espículas de neuraminidase (NA). As linhagens virais são identificadas pela variação nos antígenos HA e NA. As diferentes formas dos antígenos recebem números – por exemplo, H1, H2, H3,N1 e N2. Existem 16 subtipos de HA e 9 subtipos de NA. Cada mudança de número representa uma alteração substancial na composição proteica da espícula. Essas variações são determinadas por dois processos, deriva antigênica (antigenic drift) e desvio antigênico (antigenic shift). Altas taxas de mutação são uma característica dos vírus de RNA, os quais não possuem a capacidade de “revisão” dos vírus de DNA. O acúmulo dessas mutações, deriva antigênica, finalmente permite que os vírus escapem de grande parte da imunidade do hospedeiro. Até o momento, os únicos vírus verdadeiramente adaptados ao seres humanos são H1N1, H2N2 e H3N2. Diagnóstico: É difícil diagnosticar a gripe de forma confiável a partir de sinais clínicos, tendo em vista que são semelhantes aos da maioria das doenças respiratórias. Entretanto, agora existem muitas técnicas comerciais Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 19 disponíveis que podem diagnosticar influenza A e B dentro de 20 minutos a partir de uma amostra coletada em consultório clínico (de lavado ou swab nasal). Tratamento: Até o momento, não tem sido possível fazer uma vacina para a gripe que forneça imunidade prolongada para a população em geral. Existem dois tipos de vacinas disponíveis, uma versão inativada injetável e uma vacina de spray nasal produzida com um vírus vivo atenuado. Os fármacos antivirais amantadina e rimantadina reduzem significativamente os sintomas da influenza A, se administrados prontamente. Mais recentemente, dois fármacos para o tratamento da gripe foram introduzidos. Eles são inibidores de neuraminidase, a qual o vírus usa para se separar da célula hospedeira após a replicação. Essesfármacos são o zanamivir (Relenza), que é inalado, e o oseltamivir (Tamiflu), que é administrado oralmente. Se forem administrados em um período de 30 horas após o início da gripe, esses fármacos retardam a replicação viral. Essa ação permite que o sistema imune seja mais efetivo, diminuindo a duração dos sintomas e a taxa de mortalidade. As complicações bacterianas da gripe podem ser tratadas com antibióticos. Doenças fúngicas do trato respiratório inferior Histoplasmose O que é: É uma doença que lembra superficialmente a tuberculose. Sintomas: Os sintomas normalmente são mal definidos e principalmente subclínicos, e a doença pode passar por uma infecção respiratória leve. Em alguns casos, talvez em menos de 0,1%, a histoplasmose progride e se torna uma doença grave e generalizada. Patogenia: Embora os pulmões tenham mais probabilidade de serem infectados inicialmente, os patógenos podem disseminar-se no sangue e na linfa, causando lesões em quase todos os órgãos do corpo. Transmissão: Os seres humanos adquirem a doença pelos conídios veiculados pelo ar, produzidos sob condições de umidade e níveis de pH adequados. Essas condições ocorrem principalmente onde fezes de aves e morcegos se acumulam. As aves em si, devido a sua alta temperatura corporal, não carreiam a doença, mas suas fezes fornecem nutrientes, particularmente uma fonte de nitrogênio, para o fungo. Os morcegos, que Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 20 têm uma temperatura corporal inferior à das aves, carreiam os fungos, disseminam-os em suas fezes e infectam novos solos. Agente Causador: O organismo causador, Histoplasma capsulatum, é um fungo dimórfico; ou seja, apresenta uma morfologia leveduriforme ao crescer em tecidos e, no solo ou em meios artificiais, ele forma um micélio filamentoso que carreia conídios reprodutivos. No corpo, a forma leveduriforme é encontrada intracelularmente em macrófagos, onde sobrevive e se multiplica. Diagnóstico: Os sinais clínicos e o histórico do paciente, testes sorológicos, sondas de DNA e, principalmente, o isolamento do patógeno ou a identificação do mesmo em amostras de tecidos são necessários para um diagnóstico adequado. Tratamento: Atualmente, a quimioterapia mais efetiva é a anfotericina B ou o itraconazol. Coccidioidomicose O que é: É uma doença pulmonar fúngica Sintomas: A maioria das infecções não é aparente, e quase todos os pacientes se recuperam em poucas semanas, mesmo sem tratamento. Os sintomas da coccidioidomicose incluem dor torácica e, talvez, febre, tosse e perda de peso. Em menos de 1% dos casos, uma doença progressiva semelhante à tuberculose se dissemina pelo corpo. Transmissão: O vento carreia os artroconídios, transmitindo a infecção Agente Causador: Coccidioides immitis, um fungo dimórfico. Em tecidos, o organismo forma um corpo de paredes espessas preenchido por endósporos, chamado de esférula. No solo, forma filamentos que se reproduzem pela formação de artroconídios. Diagnóstico: O diagnóstico é realizado de modo mais confiável pela identificação das esférulas em tecidos ou fluidos. O organismo pode ser cultivado a partir de fluidos ou lesões, mas os técnicos de laboratório devem ter muito cuidado, devido à possibilidade de infecções por aerossóis. Vários testes sorológicos e sondas de DNA estão disponíveis para a identificação dos isolados. Um teste cutâneo semelhante ao da tuberculina é utilizado para triagem. Resumo- Doenças microbianas do sistema respiratório 21 Tratamento: A anfotericina B tem sido usada para o tratamento dos casos mais graves. Todavia, fármacos imidazólicos menos tóxicos, como o cetoconazol e o itraconazol, são alternativas úteis. Pneumonia por Pneumocystis A pneumonia por Pneumocystis é causada por Pneumocystis jirovecii. O patógeno é, muitas vezes, encontrado nos pulmões de pessoas saudáveis. Adultos imunocompetentes apresentam poucos ou nenhum sintoma, mas lactentes recém-infectados ocasionalmente apresentam sintomas de uma infecção pulmonar. Pessoas com a imunidade comprometida são as mais suscetíveis à pneumonia por Pneumocystis sintomática. No pulmão humano, os micróbios são encontrados principalmente no revestimento dos alvéolos. O diagnóstico, em geral, é feito a partir de amostras de escarro, nas quais os cistos são detectados. Atualmente, o fármaco de escolha para o tratamento é o trimetoprim-sulfametoxazol, mas existem diversas alternativas, como a clindamicina ou a pentamidina intravenosa.
Compartilhar