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Bianca Cardoso e Santos DISLIPIDEMIAS É um distúrbio do metabolismo lipídico com aumento principalmente do colesterol e/ou triglicérides. A dislipidemia é um fator de risco cardiovascular relevante para o desenvolvimento da aterosclerose. Brasil revelam prevalências de dislipidemia de 43% a 60%, 65 a 74 anos. FISIOPATOLOGIA Lipídeos derivam da dieta (exógenos) ou síntese celular (endógenos). Dos pontos de vista fisiológico e clínico, os lípides biologicamente mais relevantes são: Fosfolípideos: compõem a membrana celular. Colesterol: precursor dos hormônios esteroides, ácidos biliares e vitamina D. Triglicérides: formados por 3 ácidos graxos + glicerol. Usados como armazenamento energético no tecido adiposo e muscular. Ácidos graxos. Os triglicérides representam a maior parte das gorduras ingeridas. Após ingestão, as lipases pancreáticas hidrolizam os TG em ácidos graxos livres, monoglicerídeos e diglicerídeos. Sais biliares liberados na luz intestinal emulsificam estes e outros lípides oriundos da dieta e da circulação entero-hepática, com formação de micelas. A solubilização dos lípides sob a forma de micelas facilita sua movimentação através da borda em escova das células intestinais (absorção). Lipoproteínas: As lipoproteínas permitem a solubilização e o transporte dos lípides, que são substâncias geralmente hidrofóbicas. São compostas por lípides e proteínas denominadas Apolipoproteínas (apo). Existem quatro grandes classes de lipoproteínas separadas em dois grupos: Ricas em triglicerídeos: maiores e menos densas: Quilomícrons, de origem intestinal; Lipoproteínas de Densidade Muito Baixa (VLDL, sigla do inglês very low density lipoprotein), de origem hepática; Ricas em colesterol: Lipoproteínas de densidade baixa ou low density lipoprotein (LDL): “colesterol ruim” transporta colesterol do fígado para o sangue/tecidos. Lipoproteínas de Alta Densidade (HDL, do inglês high density lipoprotein), recolhe o colesterol oxidado nas LDL de tecidos periféricos para o fígado, “colesterol bom”. Existe ainda uma classe de lipoproteínas de densidade intermediária ou intermediary density lipoprotein (IDL) IDL - molécula intermediária por depleção de TG do VLDL por lipase, rapidamente recolhida ao fígado gera LDL por HMGCoA redutase. Na aterogênese o papel do colesterol total, particularmente o contido nas partículas de LDL, tem importante relação com o desenvolvimento de doença arterial coronariana, assim como a elevação de triglicerídeos. Bianca Cardoso e Santos Níveis de LDL-C maiores de 100 mg/dL parecem estar relacionados com maior risco do desenvolvimento de eventos ateroscleróticos. Quando o LDL está em excesso no sangue, lesa os vasos e ainda se deposita na parede, formando as placas de ateroma (gordura). Já baixos níveis de colesterol nas partículas de HDL se associam a um maior risco de morbimortalidade por DAC. Níveis elevados de HDL, por outro lado, se associam ao menor risco. Outra situação clínica, não cardiovascular, associada à dislipidemia, particularmente à hipertrigliceridemia, é a pancreatite aguda. Níveis de triglicerídeos maiores do que 500 mg/dL podem precipitar ataques de pancreatite aguda. CLASSIFICAÇÃO As dislipidemias podem ser primárias: “sem causa aparente”, relacionando-se com a dieta inadequada, sedentarismo, hiperlipidemias familiares. Ou secundárias: relacionadas a alguma doença/fator de risco, como ao DM, hipotireoidismo, estrógeno exógeno, medicamentos (corticoide, betabloqueadores), etc. As primárias podem ser classificadas por meio de análises bioquímicas, levando em consideração os valores de CT, LDL-C, TG e HDL-C e compreende quatro tipos principais bem definidos: 1. Hipercolesterolemia isolada: elevação isolada do LDL-C (≥ 160 mg/dl); 2. Hipertrigliceridemia isolada: elevação isolada dos triglicerídeos (≥ 150 mg/dl) que reflete o aumento do número e/ou do volume de partículas ricas em TG, como VLDL, IDL e quilomícrons. 3. Hiperlipidemia mista: valores aumentados de LDL-C (≥ 160 mg/dl) e TG (≥ 150 mg/dl). 4. HDL-C baixo: redução do HDL-C (homens < 40 mg/ dl e mulheres < 50 mg/dl) isolada ou em associação a aumento de LDL-C ou de TG. DIAGNÓSTICO Baseia-se na dosagem dos lipídios séricos: colesterol total, HDL-C e triglicerídeos. A dosagem direta do LDL-C não é necessária, podendo o cálculo ser feito por meio da fórmula de Friedewald (LDL = (CT - HDL) - (TG/5)), quando o valor dos triglicerídeos for inferior a 400 mg/dL. *Se TG > 400 mg/dL, calcular CT não HDL = CT - HDL. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Para o diagnóstico e a detecção dos pacientes sob risco de desenvolvimento de eventos cardiovasculares, o primeiro passo é a identificação dos pacientes que já apresentam manifestação da doença aterosclerótica (doença arterial coronariana e periférica, insuficiência cardíaca isquêmica, ataque isquêmico transitório e acidente vascular cerebral isquêmico). Eles têm elevado risco de novos. A avaliação de risco é feita através do Escore de Risco de Framingham que avalia o risco cardiovascular nos próximos 10 anos em indivíduos sem diagnóstico prévio de aterosclerose clínica. Bianca Cardoso e Santos Para determinar o RCV deve-se classificar o paciente de acordo com seus fatores de risco: 1. Paciente com apenas 1 fator de risco baixo/intermediário, não há necessidade de calcular o RCV, pois é considerado bairo risco e tem menos de 10% de chance de apresentar um evento cardiovascular em 10 anos. 2. Paciente com pelo menos 1 fator de risco alto, não é necessario calcular o RCV, pois ele já é considerado alto risco cardiovascular e tem mais de 20% de chances de desenvolver um evento cardiovascular em 10 anos. 3. Paciente que apresenta mais de um fator baixo/intermediário há necessidade de calcular o RCV, pois ele pode mudar para baixo ou para alto risco ou permanecer em risco intermediário. Após essa determinacao é necessario calcular o numero de pontos atribuidos as variaves de risco previsto na Escala de Framingham (genero, idade, colesterol total, tabagismo, PA, colesterol HDL). Bianca Cardoso e Santos Ao somar as pontuações determina-se o RCV e as metas a serem alcançadas: Bianca Cardoso e Santos Bianca Cardoso e Santos TRATAMENTO Tem por objetivo final a redução de eventos cardiovasculares, incluindo mortalidade, bem como a prevenção de pancreatite aguda associada à hipertrigliceridemia grave. Medidas não farmacológicas: Deve ser recomendada a todos os pacientes com dislipidemia terapia nutricional, exercícios físicos e cessação do tabagismo, no mínimo. Terapia nutricional: A quantidade de gorduras saturadas e de colesterol presentes nos alimentos influencia diferentemente os níveis lipídicos plasmáticos, em especial a colesterolemia. Para reduzir a ingestão de colesterol deve-se diminuir o consumo de alimentos de origem animal, em especial carne gordurosa, vísceras, leite integral e seus derivados, embutidos, frios, pele de aves e gema de ovos. Recomenda-se a substituição parcial de ácidos graxos saturados por mono e poli-insaturados. Para diminuir o consumo de ácidos graxos saturados, aconselha-se a redução da ingestão de gordura animal (carnes gordurosas, leite e derivados), de polpa e leite de coco e de alguns óleos vegetais que contêm quantidades significativas de ácidos graxos saturados, como os óleos de palma, de coco e de dendê. Exercício físico: Exercícios físicos são eficazes principalmente como coadjuvantes da dieta no tratamento da hipertrigliceridemia associada à obesidade. Devem ser adotados com frequência de 3-6 vezes/semana e prescrição média de 150 minutos/semana de exercícios leves a moderados. Atividades aeróbicas, exercícios contra resistência e de flexibilidade estão indicados. Bianca Cardoso e Santos Cessar tabagismo. O hábito defumar pode estar associado à redução significativa dos níveis de HDL-C. Medidas medicamentosas: ESTATINAS Devem ser usadas via oral, em dose única diária preferencialmente à noite para se obter o efeito máximo. Agem reduzindo a síntese de LDL (inibe a HMGCoA redutase que converte IDL em LDL), com isso aumenta os receptores de LSL nos hepatócitos, retirando mais LDL da circulação. Contraindicado em hepatopatias agudas, gestação e lactação. FIBRATOS Devem ser tomados preferencialmente em horário afastado das estatinas, quando estas forem usadas concomitantemente, para diminuir o risco de toxicidade, ou seja, pela manhã. São utilizado em hipertrigliceridemias graves (>500) ou quando contraindicação de estatina. Ativam receptores (PPAR-alfa) que ativam a LPL que hidrolisa o TG. ÁCIDO NICOTÍNICO Utilizam-se 2 a 3 g/dia (início do efeito terapêutico com 1 a 2 g/dia), ajustados conforme o efeito ou a tolerância. Devido à baixa tolerância imediata a doses elevadas, inicia-se o tratamento com doses baixas (250 mg em dose única após o jantar), com aumento gradual a cada 2 a 4 semanas, até atingir a dose eficaz. Bianca Cardoso e Santos EZEMTIMIBA 10mg/dia. Diminui a absorção de CT por inibir receptor NPC1-L1. Não afeta absorção de vitaminas lipossolúveis. Adjuvante à estatina em alto RCV ou terapia em intolerância à estatina. EVOLOCUMABE e ALIROCUMABE São inibidores da PCSK0 (enzima que degrada os receptores de LDL aumentando seus níveis na circulação). Usados quando alto RCV quando o tratamento com a estatina em dose máxima não atingiu a meta terapêutica. BENEFÍCIOS ESPERADOS 1. Estatinas: prevenção de eventos cardiovasculares maiores, incluindo morte, IAM, acidente vascular cerebral e revascularização, entre outros; 2. Fibratos: prevenção de eventos cardiovasculares maiores quando utilizados em pacientes com hipertrigliceridemia associada a HDL baixo e prevenção de pancreatite aguda; 3. Ácido nicotínico: prevenção de eventos cardiovasculares maiores.
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