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SSO1379 QUESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO E LOCAL GR2956-212-9 - 202120.ead-13390.03

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QUESTÃO SOCIAL NO
CONTEXTO BRASILEIRO E
LOCAL
CAPÍTULO 2 - QUAIS AS
CONTRADIÇÕES DA REALIDADE
SOCIAL BRASILEIRA E AS
POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO?
Suziane Hermes de Mendonça Soares
INICIAR
Introdução
Por que é importante conhecer a história do Brasil quando estudamos a questão
social no país? Como surgiu a questão social no Brasil? Como se caracteriza a
realidade social brasileira? E as possibilidades de intervenção do assistente social
frente a uma realidade de contradições? A questão social no Brasil aliada a um
breve relato histórico o capacitará a estabelecer a relação entre desigualdade
social, questão social e Serviço Social na sociedade capitalista brasileira. Sendo
assim, este capítulo apresenta os principais aspectos do surgimento da questão
social no Brasil, bem como explica a teoria e a prática interventiva do assistente
social frente às sequelas deixadas por ela. Para responder ao questionamento a
respeito da realidade social brasileira — e suas contradições — e as possibilidades
de intervenção, o primeiro tópico tratará da dimensão da questão social no Brasil;
o segundo se dedicará à questão social a partir da teoria social marxista. No
terceiro tópico apresenta-se o projeto ético-político do Serviço Social e a
compreensão da realidade social; e, por fim, no último tópico será descrita a
intervenção do assistente social e sua sólida formação teórico-metodológica. A
caracterização do Brasil — tanto em suas condições históricas quanto econômicas
e sociais — com seus determinantes de desigualdade social — persistentes devido
ao modo de produção capitalista — é o que favorece a reflexão e permite
direcionamentos em decorrência da identificação das expressões da questão
social observadas na realidade descrita. Dessa forma, é esperado que você amplie
seu conhecimento para uma intervenção no cenário brasileiro orientado pelos
mecanismos éticos e metodológicos do Serviço Social contemporâneo.
2.1 A dimensão da questão social no
Brasil
A historicidade dos processos sociais é construída na dinâmica da sociedade. O
estudo sobre a construção do cenário brasileiro nos auxilia no entendimento do
longo processo que levou à estruturação do país com o qual deparamos hoje.
E você, já está aberto à problematização da questão social no contexto brasileiro?
Está pronto a decifrar o que torna o Brasil um país com particularidades em suas
intervenções sobre a questão social? Sabe como se expressam as questões sociais
num país com amplas dimensões continentais?
Inicialmente, levaremos em conta como a população brasileira foi construindo seu
padrão ímpar de relação com a vida e o espaço público. Atributos da formação
social brasileira criaram entre nós a possibilidade de convivência pacífica, ora
destacando-se uma passividade demasiada, não atendendo às mobilizações por
melhores condições de vida, ora levando a população a sofrer direcionamentos
ditatoriais com ganhos e perdas de direitos.
Neste tópico, você aprenderá como se deu a constituição do capitalismo no Brasil.
Ao estudá-lo, você transitará pela história brasileira e pelas configurações sociais,
políticas e econômicas com suas consequências para a população em períodos
históricos diferentes.
Tendo o Brasil dimensões continentais, torna-se heterogêneo, singular e com
padrões diferentes, dependendo da região abordada. A criação de leis que
vigoram em alguns estados e não vigoram em outros é uma realidade. Ao finalizar
o estudo deste tópico, você será capaz de reconhecer as dimensões da questão
social brasileira, identificando suas principais características. 
2.1.1 Constituição do capitalismo no Brasil — da colônia ao período
monárquico
A expansão marítima europeia, principalmente a realizada por Portugal, deu
origem à formação social que conhecemos desde o Brasil colônia. Toda a
colonização dos trópicos, na qual o Brasil está incluído, é destinada a atender ao
comércio europeu. Assim, podemos dizer, somando ao pensamento de Caio Prado
Junior (1963), que a colonização no país se voltou ao fornecimento de gêneros
tropicais e minerais de grande importância para Portugal, de forma a comercializar
tais produtos no mercado europeu.
Portugal tentou regular a colônia brasileira na tentativa de suprir os interesses da
metrópole. Nesse período, o capitalismo já avançava para a manufatura. O Brasil
era considerado fornecedor de matéria-prima, e seu desenvolvimento foi limitado
por Portugal a essa condição — o que importava era apenas o potencial comercial
de exportação.
Os portugueses atracavam nos portos brasileiros para serem comerciantes e/ou
empresários e esperavam que nativos, e posteriormente escravos, fossem os
trabalhadores. Ocorreu uma ocupação predatória. A metrópole só buscava extrair
vantagens.
Essa lógica promoveu uma distribuição das terras de maneira desigual. Surgiram,
assim, grandes proprietários de terras para manter o cultivo de monocultura. Os
nativos foram mortos ou explorados sem respeito à cultura que carregavam. Como
não se plantava para o país, a desnutrição era crescente, sem falar da educação da
população nascia e vivia em solo brasileiro, que foi completamente ignorada
(FAUSTO, 2009). 
O livro “A carne e o sangue”, apesar de ser um romance, auxilia na compreensão do contexto histórico
no qual viveram Dom Pedro I e a Imperatriz Leopoldina. Obras como essa não só despertam no leitor o
interesse pela literatura como aprimoram o conhecimento histórico. A obra foi escrita por Mary Del
Priori e publicada em sua primeira versão em 2012. 
Para Prado Júnior (2004), o fim da era colonial é marcado pela vinda da família real
para o Brasil, em 1808, permitindo uma autonomia econômica e política que não
tinha possibilidade de retrocesso porque Portugal não estava se adaptando às
novas formas produtivas.
O período monárquico se estendeu até 1889, início da República (RIBEIRO, 1995).
O café se tornou o produto de exportação de destaque, cuja cultura se
transformou na base política e econômica da sociedade brasileira — os
fazendeiros podiam ser considerados parte da aristocracia ou burguesia. As
pressões abolicionistas, vindas principalmente da Inglaterra, foram fundamentais
para o reconhecimento da independência do Brasil (RIBEIRO, 1995).
VOCÊ QUER LER?
Enquanto o país focalizava a agroexportação, o capitalismo industrial avançava
em outros países. O Brasil acabava ficando para trás com seu processo produtivo
conciso comparado aos demais. O fim do período monárquico não foi deflagrado
por participação popular, tendo sido fruto do desejo de setores da elite econômica
e política brasileira.
2.1.2 Constituição do capitalismo no Brasil — da República Velha
ao período da ditadura militar
Com o fim do período monárquico — derrubado por um golpe militar — e a
Proclamação da República — movimento eminentemente elitista que ocorreu sem
luta e sem a participação direta das camadas populares — tem início o período
republicano.
Com a derrubada da monarquia foi constituído um governo provisório chefiado
pelo marechal Deodoro da Fonseca, que governou o país até 1891. Nesse período
se estabeleceu uma efetiva disputa política em torno do modelo republicano a ser
implantado. De um lado, os militares defendiam um regime republicano
centralizado, com um Poder Executivo forte o bastante para controlar o Poder
Legislativo e o Judiciário, no qual os Estados (as antigas províncias) não tivessem
autonomia; de outro, os grandes proprietários agrários, sobretudo os ricos
cafeicultores paulistas, se opunham a esse modelo e defendiam um regime
republicano federalista, no qual os Estados fossem autônomos a ponto de
poderem ser controlados economicamente (CANCIAN, 2013).
O Brasil neste período republicano marca a entrada no capitalismo com as
estruturas econômicas sendo reorganizadas. A burguesia cafeeira demonstrava
ideias que tendiam para a mudança na economia, já pensando em industrializar o
país. O ideário neoliberal que tomava conta da Europa dava sinais de manifestação
na antiga colônia de Portugal e o liberalismo foi adotado como ideologiaeconômica (FAUSTO, 2009).
A burguesia cafeeira insistia na industrialização brasileira incentivando as
primeiras fábricas, companhias de navegação e bancos. Somente no século XX a
indústria nacional ganhou força, apesar de continuar grande o investimento nas
matérias-primas, quer fossem para a exportação, quer fossem para ser usadas nas
fábricas (FAUSTO, 2009). Podemos considerar tais iniciativas como pequenos
avanços rumo ao desenvolvimentismo com o objetivo de modernizar a economia
nacional.
E quanto à situação do trabalhador nesse contexto? Badaró Mattos (2008, p. 47
apud BARISON, 2017) postula que “a miséria era o principal elemento que
identificava a experiência homogênea dos proletários. A comparação entre o que o
trabalhador recebia e o que ele necessitava para sua sobrevivência ampliava o
sentimento de injustiça associado à exploração”.
Os direitos sociais, em especial os direitos do trabalho, não eram uma realidade. A
Constituição de 1891 registrava a herança escravocrata nas formas de tratar o
trabalhador. Durante a Primeira República, os trabalhadores não tinham à sua
disposição uma legislação que regulasse as relações entre o capital e o trabalho. É
nesse contexto que se formaliza a atuação política do Estado brasileiro frente à
classe operária, na frase: “A questão social é caso de polícia” — uma referência ao
fato de que a intervenção do Estado na questão social resumia-se apenas em
repressão policial, prisões arbitrárias, fechamento de associações e deportação de
estrangeiros, entre outros (BATISTELLA, 2017).
No transcurso da década de 1920, o poder político das oligarquias cafeeiras entrou
em crise — uma consequência da divisão das classes dominantes que divergiam
profundamente quanto às diretrizes da política governamental. Nesse contexto, as
oligarquias cafeeiras que controlavam o aparelho de Estado e o Governo Federal
enfrentaram a oposição política das oligarquias tradicionais e da burguesia
industrial. Além disso, as instituições republicanas começaram a perder
legitimidade frente ao descontentamento dos grupos sociais urbanos e dos
movimentos de revolta armada (CANCIAN, 2013).
O cenário brasileiro, anteriormente marcado pelas oligarquias cafeeiras, inclusive
com forte poder político e econômico, agora é marcado pelo crescimento do setor
fabril, provocando a formação da burguesia industrial. Esta aos poucos se
transforma em poderosa classe social cujos interesses, devido à sua influência
econômica, são atendidos pelo Estado.
Os interesses da burguesia industrial passam a se chocar com os interesses das
oligarquias agrárias cafeicultoras. Enquanto a burguesia industrial reivindicava do
governo uma política monetária, fiscal e cambial que favorecesse o setor
produtivo fabril, as oligarquias agrárias cafeicultoras reivindicavam do governo
investimentos na política de valorização do café.
A crise econômica de 1929 abalou as economias dos Estados Unidos e da maioria
dos países da Europa — os maiores consumidores do café produzido no Brasil e
principais fontes de empréstimos ao governo federal. Cada vez mais se aprofunda
a divergência de interesses entre as classes rurais e industrial.
A partir de 1930, segundo Fausto (2009), a Segunda República, ou a Era Vargas,
como alguns historiadores preferem chamá-la, não poderia ter passado imune à
crise de 1929. Esta afetou diretamente os produtores rurais, que deixaram de
receber apoios do governo para garantir a produção. 
Getúlio Dornelles Vargas, ou apenas Getúlio Vargas, gaúcho, foi presidente da República entre os anos
de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Após derrubar o governo de Washington Luís, ficou conhecido por suas
características direcionadas ao nacionalismo e populismo. Em 1937 instaurou o Estado Novo e
governou de maneira ditatorial. Em 1950 ele retomou o poder de forma democrática por eleições
diretas. No ano de 1957 suicidou-se no Rio de Janeiro, no Palácio do Catete. Até hoje é lembrado como
o “pai dos pobres” (BASTOS; FONSECA, 2012). 
Você deve estar pensando que a nova conjuntura brasileira trouxe demandas
inéditas, mas quais seriam? A primeira delas foi a necessidade de mão de obra
especializada, o que dependia de outra demanda, ou seja, escolas para tal
formação. São então institucionalizados o ensino secundário e as primeiras
universidades. Bastos e Fonseca (2012), em seus estudos sobre Getúlio Vargas, nos
informam que, em 1934, foi promulgada uma Constituição que afirmava a
educação como direito de todos.
O que devemos destacar é a ausência de um setor social. As burguesias industrial e
financeira não tinham estabilidade, um projeto político preciso e nem meios de
desempenhar uma dominação efetiva. Consequentemente, as classes médias e o
proletariado não dispunham de quaisquer maneiras para tomarem a frente no
processo político.
Bastos e Fonseca (2012) afirmam que, até o início do século XX, o movimento
operário possuía uma prática independente, autônoma, anarquista e comunista.
As expressões da questão social eram reprimidas para solucionar os problemas
cruciais da classe trabalhadora. 
VOCÊ O CONHECE?
Policarpo Quaresma, o herói do Brasil, filme do ano de 1998, baseado no livro “Triste fim de  Policarpo
Quaresma”, do autor Lima Barreto, é uma crítica ao nacionalismo com um embate entre a utopia e a
vida real. Ele promove uma reflexão sobre os conflitos sociais e políticos no período
da República. Assista ao vídeo em: <https://youtu.be/mSSTpFHl3J0 (https://youtu.be/mSSTpFHl3J0)>. 
Na Era Vargas, a questão social era pensada para que se contivessem os
movimentos grevistas, por este motivo foi criada a legislação social.  Vargas
entendia que os trabalhadores contribuíam com apoio político, daí a  política
social  fazer parte da agenda do Estado instaurado em 1930 (BASTOS; FONSECA,
2012).
A ação do Estado diante das expressões da questão social tem seu marco no
processo de industrialização, sendo que o Estado precisava controlar a população,
principalmente a classe trabalhadora. A pobreza, o desemprego e as exclusões
social, econômica, cultural e política se agravavam para a classe trabalhadora em
torno das cidades, enquanto os grandes proprietários mantinham o crescimento
de suas riquezas.
Até a década de 1930, as reivindicações de direitos eram reprimidas de forma
violenta. A partir de 1930, os direitos sociais foram reconhecidos pelo Estado de
forma institucionalizada, foram criados o Ministério do Trabalho e o da Previdência
Social, além da promulgação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)
(RIBEIRO, 1995). Outro ponto importante foi o reconhecimento dos direitos
garantidos pela luta sindical. Todos os direitos conquistados foram deixados de
lado durante a ditadura militar, que proibiu as mobilizações por melhorias ou
qualquer reivindicação dessa ordem.
Toda essa construção histórica marca o Brasil atual, seja em lugarejos no interior
do país, seja nas grandes cidades que temos hoje, com a economia voltada à
exportação, à produção de matéria-prima, à falta de centralidade na garantia de
cidadania aliada ao protecionismo das classes dominantes que permanecem
VOCÊ QUER VER?
https://youtu.be/mSSTpFHl3J0
exercendo a manutenção de diversos privilégios (SANTOS, 2012). As políticas
sociais surgem em socorro à população explorada pela burguesia para diluir as
incertezas e manter sem alterações significativas o espaço consagrado à elite. 
2.2 A questão social a partir da teoria
social marxista
Ao entender que a questão social é identificada nas desigualdades sociais geradas
pelo capitalismo, devemos discutir as manifestações que buscam a superação
dessas diferenças para que compreendamos as expressões da questão social.
Como a teoria marxista contribuiu ao entendimento do conceito da questão
social? As expressões da questão social são identificadas na teoria marxista? Como
a exploração do trabalho pode ser relacionada às expressões da questão social?
Ao fim deste tópico, você será capaz de identificar as correntes teóricas e suas
influências no entendimento da questão social, distinguindoa teoria social
marxista das demais.
Partiremos da discussão sobre a cidadania regulada no Brasil, o acesso aos
direitos com precondições — o que o difere do ideário marxista com os serviços
voltados à classe trabalhadora e não à permanência da burguesia no poder.
2.2.1 Cidadania regulada
Santos (1994) entende por cidadania regulada o resultado das exigências dos
trabalhadores organizados sem alterar as estabilidades garantidas às elites.
Depois de 1930, a expressão da questão social recebe intervenções de políticas
sociais na busca de diminuir as complexidades da sociedade.
Para o autor (1994), a cidadania regulada é determinada pela política econômico-
social que considerou apenas cidadãos os trabalhadores de ocupações
reconhecidas e definidas pela lei, isto é, para ser cidadão no Brasil pós-1930 era
exigida a inserção da pessoa no sistema produtivo. Para o Estado reconhecer a
pessoa como cidadã, primeiro a profissão por ela exercida deveria ser reconhecida
por lei.
A política social atuante nas expressões da questão social era discriminatória e
seletiva, estruturada na relação capital x trabalho.
Para Castel (2009, p. 72):
[...] reencontra-se e reproduz-se a vulnerabilidade de massa, condição da
necessidade de generalização das relações salariais, risco cujo equacionamento e
expulsão estavam na origem do “Estado Social”. E como seu núcleo se constitui pelo
enfraquecimento das formas de política social, ou pelo seu encolhimento, pelo
crescimento do desemprego e da precarização, pela impossibilidade de acesso livre
aos postos assalariados de trabalho, sua personificação se faz não pelo vagabundo,
mas pelo desemprego e pelos desempregados, os novos “desfiliados” sem lugar,
categorias que se desenvolveram como contraponto e reverso da situação
configurada a partir do trabalho como imperativo. 
Ao aprofundar o conceito de cidadania regulada, podemos analisar o seguinte
caso. 
CASO
Quadro 1 - Conquistas e consequências da cidadania regulada. Fonte: Elaborado pela autora,
baseado em SANTOS, 1994.
Deslize sobre a imagem para Zoom
Um jovem de 22 anos que vivia na região central do Rio de Janeiro era
empregado na empresa ferroviária tendo direito a se aposentar após
muitos anos de contribuição, ou, se lhe ocorresse algum acidente,
receberia auxílio doença. Esses benefícios eram garantidos por sua
contribuição mensal e por sua profissão ser regulamentada por lei. Já um
jovem da mesma idade que atuasse como sapateiro não tinha direito ao
benefício de auxílio doença, pois sua profissão não era reconhecida por lei
e ele não tinha meios de fazer qualquer contribuição para sua
aposentadoria. A estratificação da cidadania depende da lei para decidir se
a pessoa pode ou não ser considerada cidadã e ter direito ao benefício. 
Ao mesmo tempo, os trabalhadores não incluídos seriam pré-cidadãos. Dessa
forma, estariam os trabalhadores rurais e os urbanos em igual condição ativa no
meio de produção sem a devida regulação, isto é, as ocupações não foram
reguladas por lei. Assim, as pessoas que exercem tal atividade não são entendidas
como beneficiárias de políticas sociais, estas ofertadas apenas aos que
contribuem por ela. 
2.2.2 Capital versus Trabalho
As múltiplas expressões da questão social apresentam-se como uma problemática
a ser superada pelas elites quando a classe trabalhadora começa a se organizar em
prol de seus interesses, lutando por reformas no sistema capitalista, melhorias
econômicas, direitos de cidadania e a extinção do capitalismo para uma outra
ordem social.
Karl Marx (2008) dedicou-se à questão social em sua crítica às iniciativas da classe
burguesa para solucionar os problemas de escassez de forma paliativa e limitada
sem grandes resultados. 
Para Marx (2008), a questão social poderia ser compreendida pela exploração do
trabalho assalariado feita pelo capital e as lutas dos trabalhadores contra as
relações sociais de produção capitalista e todas as suas formas de opressão e
 Figura 1 -
A ordem social identificada por Marx na sociedade capitalista. Fonte: Elaborada pela autora, baseado
em MARX, 2008.
Deslize sobre a imagem para Zoom
dominação. 
VOCÊ SABIA?
Por que o trabalho pode sofrer variações ao longo do tempo, segundo Marx? O
trabalho, para Marx, não deve ser estudado apenas pelos aspectos técnicos ou pelo
conteúdo material. Ele necessita ser discutido em sua forma socio-histórica
concreta. Isso não quer dizer que Marx ao realizar seus ensinamentos tenha
objetivado o grau de desenvolvimento das forças produtivas, pelo contrário, ele
tentou desvelar o modo capitalista de produção no desenvolvimento das forças
produtivas. 
O tratamento teórico que Marx proporcionou sobre a questão social busca
compreendê-la como produto social historicamente determinado pelo modo de
produção capitalista e pelas lutas modernas do movimento operário.
Para Marx, é pelo trabalho que a realidade natural pode ser modificada, passando
os homens a usufruir dela. É na relação com a natureza que estes, atravessados
pelo trabalho, constroem a sociedade e conseguem reconfigurar a história (MARX,
2008). Contudo, o trabalho também pode ser entendido como elemento de
subordinação ao capital, no qual o sacrifício e a mortificação do homem são
produzidos e se revelam no próprio ato da produção.
Por esse motivo, ao estudar a questão da produção, é necessário que você
conheça a demarcação histórica à qual o modo de produção analisado está
inserido, para que seja possível identificar cada formação econômica (escravista,
feudal, capitalista) (MARX, 2008).
O processo de transformação do modo de produção capitalista requer como
premissa o desmembramento do trabalho e dos meios de produção de maneira
que o proprietário da força de trabalho sinta-se obrigado a vendê-la ao
proprietário dos meios de produção em troca de um salário. Este processo se dá
porque o trabalhador foi despojado de toda propriedade e vê-se na obrigação de
vender sua força de trabalho — sua única posse — para sobreviver, não restando
outra alternativa a não ser se tornar um trabalhador assalariado.
A força de trabalho negociada será agregada ao capital pelo processo de produção,
o que prioriza a mais-valia. Para concluir o raciocínio marxista, vale assimilar que o
capital que se torna salário é denominado capital variável. A mais-valia é o que
motiva toda a transformação. Sem a mais-valia não existiria a transformação nem
as relações de produção capitalistas. 
2.3 O projeto ético-político do Serviço
Social e a compreensão da realidade
social
O aspecto econômico das relações sociais pode ser considerado fundamental na
vida social. Contudo, não pode ser o único a ser considerado para a compreensão
dos fenômenos sociais, nem das contradições da sociedade burguesa. O curso de
Serviço Social procura fornecer ao futuro assistente social condições de
compreender a realidade social por meio do conhecimento da raiz dos fenômenos,
em sua essência e em todas as expressões da questão social.
Como se apresentam as contradições da realidade social ao assistente social? De
que forma o projeto ético-político instrumentaliza este profissional para a atuação
nas expressões da questão social na perspectiva da garantia de direitos?
Devemos explorar os conceitos que permeiam o debate sobre classe, exploração
do trabalho e sociedade burguesa e, assim, completar os estudos sobre seus
processos, para que você seja capaz de empregar as expressões da questão social
como objeto do Serviço Social.
O projeto ético-político do Serviço Social perpassa a identidade coletiva
profissional em sua função e nos arcabouços profissionais teórico, metodológico,
interventivo, instrumental, normativo e legal, os quais compõem as três
dimensões do Serviço Social: a teórico-metodológica, a ético-política e a técnico-
operativa.
A realidade social é entendida pela investigação e intervenção profissional. Neste
estudo, o objetivo é promover a reflexão sobre as questões mais relevantes para o
assistente social em sua ação profissional. 
2.3.1 O projeto ético-políticodo Serviço Social
Tendo como orientação um aporte teórico bem fundamentado, o assistente social
pode definir o objeto de trabalho e fazer uma perfeita escolha de instrumentos
capazes de auxiliá-lo na leitura da realidade.
O processo de investigação da realidade exige do assistente social um olhar crítico
capaz de considerar a totalidade e as contradições presentes no contexto histórico.
Nesse sentido, sua intervenção, orientada pelas dimensões ético-política, teórico-
metodológica e técnico-operativa, encontra no método dialético uma ponte para
materializar o projeto ético-político da profissão. 
Na prática interventiva, cabe perceber que o objeto do Serviço Social não se dá de
imediato, ele precisa ser apreendido e pode ser reconstruído conforme se
apresentam os fenômenos da sociedade. 
O desvendamento da intervenção profissional, principalmente na perspectiva
marxista, se constituiu no movimento de reconceituação na América Latina e do
Radical Social Work de outros países. Na perspectiva marxista (FALEIROS, 2011), a
atuação profissional está condicionada profundamente pelas determinações
econômicas, articuladas às determinações políticas, sociais e culturais, tanto do
ponto de vista da demanda como do ponto de vista da provisão dos serviços sociais.
Não se trata, pois, de uma evolução de formas de bem-estar, nem de melhoria do
modo de viver pela ação das classes dominantes. As provisões de bem-estar social
são, pois, resultantes de uma disputa por poder e recursos em movimentos de
forças de interesses antagônicos, mas que se repõem e compõem conjunturalmente
(FALEIROS, 2011, p. 3). 
Quadro 2 - Dialética marxista: qualquer objeto é parte de um todo. Fonte: Elaborado pela autora,
baseado em COSTA, 2000.
Deslize sobre a imagem para Zoom
O movimento da sociedade exige do profissional competências, habilidades e
atitudes essenciais correspondentes à identidade profissional já afirmada. 
Nesse contexto, as conquistas acumuladas devem ser utilizadas de forma ética,
respeitando os cenários institucionais. 
O grande desafio na atualidade é, pois, transitar da bagagem teórica acumulada ao
enraizamento da profissão na realidade, atribuindo, ao mesmo tempo, uma maior
atenção às estratégias, táticas e técnicas do trabalho profissional, em função das
particularidades dos temas que são objetos de estudo e ação do assistente social
(IAMAMOTO, 2001, p. 52). 
Por que é necessário que a prática profissional do assistente social esteja em
consonância com as dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-
operativas do serviço social? O trabalho do assistente social terá pleno sentido se
este profissional estiver apto a decifrar a realidade e a ela propor estratégias de
enfrentamento.
Quadro 3 - Especificidades da prática profissional do assistente social. Fonte: Elaborado pela autora,
baseado em IAMAMOTO, 2001.
Deslize sobre a imagem para Zoom
Consideramos que as intervenções profissionais pautadas nos princípios do
projeto ético-político do serviço social são estratégicas na medida em que
possibilitam, entre outras questões, a articulação entre os assistentes sociais e a
rede formada, uma interlocução entre aqueles que estão diretamente na execução
com os que estão nos chamados níveis centrais, garantindo a efetivação de um
projeto de intervenção profissional coletivamente construído nas instituições. 
2.3.2 O objeto do Serviço Social
A questão social na atualidade pode ser identificada pela precariedade do
trabalho e pela vida de dificuldades que a população que vende a força de
trabalho sofre. Sendo assim, qual é o grande desafio dos profissionais do Serviço
Social? O assistente social deve garantir o acesso aos direitos básicos e necessários
à luta por uma sociedade justa e democrática frente à realidade cheia de
contradições e desigualdades sociais impostas pelo modo de produção capitalista.
Sua atuação se efetiva no contexto das sequelas da questão social.
Vamos relembrar, a seguir, de forma esquemática, o tempo da questão social. 
Figura 2 - Expressões da questão social ao longo das décadas no Brasil. Fonte: Elaborada pela autora,
baseado em SANTOS, 2012.
Deslize sobre a imagem para Zoom
Uma vez institucionalizado pelo Estado, o Serviço Social voltou-se à manutenção
do statu quo, ao domínio da vida social, em um contexto em que a questão social
— objeto da intervenção profissional — se apresenta intimamente ligada ao
capitalismo e às formas de organização da sociedade. 
O curta-metragem em 3D, Vida Maria, lançado em 2006 e produzido pelo animador gráfico Márcio
Ramos, relata a história da pobreza cíclica no Brasil. São gerações e gerações que não conseguem sair
desse ciclo. Apesar de ser uma animação, a realidade apresentada se aproxima com o contexto sócio-
político brasileiro. Disponível em: <https://youtu.be/yFpoG_htum4 (https://youtu.be/yFpoG_htum4)>. 
É nessa realidade que o assistente social atua, na relação de força da
desigualdade, da rebeldia e da resistência, pois estas situações não podem ser
separadas da vida em sociedade — o que exige do profissional não só decifrar a
realidade apresentada como intervir na demanda.
Marilda  Iamamoto (2001, p. 11) comenta que a distinção da ação do assistente
social está fundada na “[...] transversalidade das múltiplas expressões da questão
social, na defesa dos direitos sociais e humanos e das políticas públicas que os
materializam”.
O compromisso do assistente social com a sociedade, isto é, com os indivíduos
que a compõem, assim, comprometido com as transformações societárias por
meio de seu processo de trabalho deve ser destacado.
A forma como o Estado lida com as expressões da questão social está
desconectada de uma análise crítica da realidade e da relação entre capital e
trabalho. Nos dias atuais, percebemos um aumento nas consequências da questão
social. A forma diversas vezes utilizada para conter tal situação tem sido a
repressão da população em relação às suas necessidades, manifestada nas
insuficiências das políticas públicas, ou seja, na marginalização e na pobreza. 
VOCÊ QUER VER?
https://youtu.be/yFpoG_htum4
“10 lições sobre Hannah Arendt” transita por escritos sobre política e miséria humana. No livro, são
questionados os poderes na solução da questão social. Escrito por Luciano Oliveira, tendo a 2ª
reimpressão em 2016, a obra nos apresenta inúmeras reflexões da filósofa política, uma das mulheres
mais influentes do século XX. 
Por alguns momentos, a característica anterior à década de 1930, representada
pela frase de Washington Luís, vem à tona: “questão social é caso de polícia”. A
população é repreendida pela polícia por manifestar suas insatisfações ou por
clamar por condições de vida mais dignas (SANTOS, 2012, p. 67). 
[...] a questão social produzida e reproduzida ampliadamente tem sido vista, na
perspectiva sociológica, enquanto ‘disfunção’ ou “ameaça” à ordem e à coesão
social. É apresentada como uma “nova questão social”, resultante da “inadaptação
dos antigos métodos de gestão do social”, produto da crise do “Estado de
Providência”. Frequentemente a programática para fazer frente à mesma tende a ser
reduzida a uma gestão mais humanizada e eficaz dos problemas sociais [...]. As
respostas à questão social passam a ser canalizadas para os mecanismos
reguladores do mercado e para as organizações privadas, as quais partilham com o
Estado a implementação de programas focalizados e descentralizados de “combate
à pobreza e à exclusão social (IAMAMOTO, 2001, p. 45). 
Assim, é possível considerar que a questão social sofre a intervenção do Estado
por meio das políticas sociais e, desta maneira, tem configurado a manutenção do
desenvolvimento capitalista. Neste contexto, o Estado se apresenta como
mediador dos interesses contraditórios da lógica capital versus trabalho sem
confrontar os interesses do capital financeiro.
A naturalização da questão social desperta uma banalização do humano. O
sentido de pertencimento social é furtado juntamente com a dignidade da vida
humanapara muitas pessoas que vivem na extrema pobreza. Podemos destacar
VOCÊ QUER LER?
diversas situações que constrangem a humanidade, como miséria, exclusão,
pobreza e todas as formas de vulnerabilidade. 
2.4 A intervenção do assistente social e
a sólida formação teórico-
metodológica
A atuação do assistente social vincula-se direta e contraditoriamente ao
capitalismo. Como uma profissão que surge para atender uma demanda do
capital, no contexto contemporâneo, direciona sua ação na perspectiva de garantir
direitos fundamentais e necessários para que os indivíduos superem a situação de
exploração e pobreza — produzidas pelo capitalismo — na busca de uma
sociedade justa e democrática. O empoderamento de setores e minorias sociais
vem ocorrendo nos últimos anos, o que tem ampla repercussão na prática
profissional. Nesse sentido, algumas questões são fundamentais: Frente às
contradições sociais, o Serviço Social consegue manter um direcionamento
teórico? Qual a especificidade do trabalho do assistente social?
A intervenção do assistente social baseia-se em sólida formação teórico-
metodológica, a qual permite a ele desenvolver uma defesa dos usuários e
incentivar maior habilidade para solucionar os problemas.
A articulação da vida cotidiana e a intervenção profissional fazem parte de um
processo que exige luta e integração, afirmação e negação, expressão,
manifestação e organização. O Estado, nas sociedades capitalistas, está mais
comprometido em criar e expandir as condições reais para a reprodução do capital
do que em atender às necessidades da força de trabalho, deixando recair o custo
disso sobre os trabalhadores.
O acirramento da divisão do trabalho no sistema capitalista faz que as questões
sociais emerjam como consequência da exploração, dos desgastes das classes
trabalhadoras e de sua exclusão do processo de consumo e utilização de bens e
serviços. 
2.4.1 A prática profissional e a questão social
Ao intervir na realidade, o profissional precisa necessariamente desenvolver a
leitura sobre ela. Isso exige como condição sine qua non a apropriação do
conhecimento teórico que se consubstancializa na dimensão teórico-
metodológica da profissão. Nesse sentido, estabelece-se o nexo dialético
teoria/prática.
Como o profissional poderá determinar e definir o próprio espaço? Pela qualidade
e sucesso do fazer profissional. Faustini (1995, p. 21) afirma que a “[...] prática
pode ser entendida como uma ação consciente e planejada, ou não consciente e
não intencional. Além disso, deve ser percebida como uma ação que transforma,
que muda ou, simplesmente, reproduz a realidade”. 
Tais práticas se desenvolvem na dinâmica das relações em sociedade. São práticas
sociais que traduzem e revelam o momento histórico, bem como as formas das
relações objetivas e subjetivas entre os sujeitos. Associadas entre si ou não,
podem expressar o significado, o sentido e a intencionalidade dos atos humanos.
Inseridas e a serviço de um processo histórico, indicam as possibilidades reais de
construção ou reprodução de conhecimentos. Por isso é imprescindível que o
profissional na reflexão sobre a relação teoria e prática formule um
questionamento sobre como pensar, muito antes do que pensar. A apropriação de
um método lhe permitirá agir sobre a realidade social e sobre as demandas
sociais.
Segundo Faustini (1995), o Serviço Social ao apropriar-se da compreensão da
relação dialética entre teoria e prática busca melhor reconhecer e compreender as
tendências prático-teóricas que se apresentam na atualidade para a construção de
Quadro 4 - As possibilidades da prática e suas relações com a sociedade. Fonte: Elaborado pela
autora, baseado em FAUSTINI, 1995.
Deslize sobre a imagem para Zoom
outras possibilidades.
O Serviço Social se constrói, na contemporaneidade, em uma perspectiva de
criação de espaços rompendo com moldes e padrões internos tradicionais da
profissão. Dessa forma, reconhece-se o espaço político da profissão construído a
partir de um repensar a própria prática.
Nas primeiras décadas do século XX (SANTOS, 2012), o debate sobre a questão
social percorreu toda a sociedade obrigando o Estado, a classe dominante
(grandes capitalistas) e a Igreja a se posicionarem frente a ela. A questão social era
entendida como questão moral e religiosa dos indivíduos, muito mais do que a
expressão das desigualdades sociais e econômicas. O papel social do assistente
social, definido pela prática profissional, era o de educar e moralizar as classes
subalternas.
Na atualidade, a prática do Serviço Social se dá a partir de uma leitura crítica da
sociedade. Dessa forma, qual é hoje o papel social do assistente social? Ele atua
como agente político, articulador e mobilizador das capacidades e da consciência
política dos sujeitos sociais, na medida em que estes se constituem como sujeitos
históricos e de direitos. 
2.4.2 O projeto teórico-metodológico e a intervenção do assistente
social 
A intervenção profissional do assistente social se relaciona com as dimensões
estruturais e conjunturais da realidade. Ela precisa ser crítica, consciente e
baseada no conhecimento da legislação social e da ciência das contradições e
negações.
Em meados dos anos 1980 foi retomada a discussão acerca do instrumental
técnico-operativo para romper com os paradigmas teórico-metodológicos da
tradição positivista (SANTOS, 2012). 
VOCÊ SABIA?
Por que a teoria não pode ser confundida com o método? A teoria auxilia na
compreensão das estruturas dos processos sociais e nas determinações
contraditórias dos processos que constituem os fenômenos. Então, a teoria social
marxista não pode ser resumida às formulações de um nível de intervenção. 
O Movimento de Renovação do Serviço Social que predomina até a atualidade é
caracterizado pela laicização da profissão, legitimação da prática e validação
teórica, mudanças nas relações com as Ciências Sociais e renúncia ao vínculo
confessional (a Igreja). Dentro dele emerge o Movimento de Reconceituação da
profissão na América Latina (1965 – 1975) resultante de um questionamento sobre
a funcionalidade em relação ao Serviço Social tradicional. Assim, o Movimento de
Renovação se afirma pelo processo de erosão do Serviço Social tradicional.
A crítica do profissional se desenvolveu de maneira distinta tanto pelos momentos
e décadas que se passaram quanto pela teoria que foi utilizada em cada período,
assim, temos três perspectivas principais: a Perspectiva Modernizadora, a de
Reatualização do Conservadorismo e a de Intenção de Ruptura (NETTO, 1992). 
Todas essas mudanças proporcionaram ao Serviço Social as bases para a sua
renovação.
A década de 1980, conforme Netto (1992), foi extremamente fraca na definição de
rumos técnicos acadêmicos, sendo discutidos e construídos ao longo das duas
décadas seguintes. A forte expressão dos assistentes sociais junto aos movimentos
sociais e sua luta pela democratização trouxe à tona não só a possibilidade de
transformá-los em sujeitos sociais, mas toda a reformulação da categoria
profissional em sua formação agora crítica e marxista nas décadas posteriores.
Quadro 5 - Instrumentais teóricos e mudanças na atividade profissional do assistente social. Fonte:
Elaborado pela autora, baseado em NETTO, 1992.
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Síntese
Concluímos o capítulo. Acreditamos ser possível que se identifique algumas
contradições presentes na realidade social e as possibilidades de intervenção.
Toda a construção histórica, econômica e social brasileira culmina com a
reformulação da profissão do assistente social e com a forma de se encarar as
expressões da questão social que deixou para trás seu viés humanista-cristão e
assistencialista, e assumiu uma postura mais crítica, técnica, qualificada ao
enfrentamento da questão social. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
acompanhar as mudanças históricas da sociedade brasileira destacando as
características de cada período do século XX;
aprender algumas definições teóricas sobre as dimensões ético-políticas,
teórico-metodológicase técnico-operativas;
relacionar intervenção e prática profissional;
identificar as possíveis abordagens da teoria crítica marxista;
compreender o significado de uma intervenção pautada em princípios
éticos.
Referências bibliográficas
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República. Disponível em: <http://web.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/22/43-
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