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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4 
2 FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ............................................. 5 
3 AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA .............................................................................. 9 
3.1 A formação da sociologia e a identificação de seus objetos.................................. 9 
3.2 A realidade e a perspectiva sociológica .............................................................. 17 
3.3 Ciências naturais e sociologia: o trabalho de Spencer na legitimação do campo 
sociológico… ............................................................................................................. 22 
4 A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA .......................................................................... 25 
4.1 Compreendendo o conceito de sociologia ........................................................... 25 
4.2 O percurso histórico do surgimento da sociologia ............................................... 26 
4.3 Características da sociologia como ciência ......................................................... 29 
5 AS FUNÇÕES DA SOCIOLOGIA ........................................................................... 31 
5.1 Os pensadores da Sociologia e suas ideias ........................................................ 33 
5.2 Metodologias na pesquisa sociológica ................................................................ 36 
6 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................................... 38 
6.1 Divisão de classes ............................................................................................... 38 
6.2 As mudanças no mundo do trabalho ................................................................... 39 
6.3 O sentido do trabalho .......................................................................................... 40 
7 A VISÃO DE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO EM ÉMILE DURKHEIM .................. 42 
7.1 Características apresentadas pelos Fatos Sociais .............................................. 43 
7.2 Reconhecimento do Fato Social .......................................................................... 45 
7.3 O Processo Educativo e a Socialização do Indivíduo ......................................... 47 
7.4 O homem é determinado pela sociedade ou o homem determina a sociedade? 48 
 
8 O PENSAMENTO DE KARL MARX E SUA RELAÇÃO COM A SOCIOLOGIA DA 
EDUCAÇÃO .............................................................................................................. 49 
8.1 As Formas de Consciência no Mundo da Produção ........................................... 51 
9 A NOVA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO E SUA IMPLICAÇÃO PARA A 
EDUCAÇÃO .............................................................................................................. 56 
9.1 O surgimento da nova sociologia da educação ................................................... 56 
9.2 As principais contribuições da nova sociologia da educação .............................. 58 
9.3 Michael Young e a nova sociologia da educação no Reino Unido ...................... 58 
9.4 Michael Apple e a nova sociologia da educação nos Estados Unidos ................ 59 
9.5 Pierre Bourdieu e a nova sociologia da educação na França ............................. 59 
10 EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA SOCIAL .............................................................. 62 
11 EDUCAÇÃO, CULTURA E CIDADANIA............................................................... 66 
12 RELAÇÕES ENTRE DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE PAULO 
FREIRE ..................................................................................................................... 77 
12.1 Democracia, Educação e as Relações na Humanização Humana .................... 77 
13 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 89 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as 
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão 
respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
A Sociologia surge do movimento de pensar e questionar a realidade social, 
no momento em que a vida da sociedade europeia do final do século XVIII está 
marcada pela desagregação de seus valores e de suas crenças tradicionais, em 
consequência das transformações produzidas pela constituição da modernidade, 
baseada no primado da razão como meio de interpretação dessa realidade. 
A Sociologia é uma ciência que nasce da contradição entre o novo e o velho; 
entre, de um lado, a ênfase no desenvolvimento do progresso – proporcionado 
pelo avanço das ciências naturais e a consequente introdução de inovações 
tecnológicas, fundamentais à consolidação do capitalismo, com o crescimento 
industrial resultante das mudanças significativas no modo de produção e de 
consumo, na composição do mercado de trabalho e nas relações de trabalho e de 
produção – e, de outro lado, a tentativa de restabelecimento da ordem social, 
subvertida em seus valores fundamentais (PILETTI , N.; PRAXEDES, W., 2010). 
A Sociologia como ciência surgiu no século XIX, momento de desenvolvimento 
do método científico em outros setores do conhecimento humano. Ela tinha como 
preocupação aplicar o ponto de vista científico à observação e à explicação dos 
fenômenos sociais e buscou compreender as transformações sociais provocadas 
pelas Revoluções Industrial e Francesa. 
A Sociologia parte da noção de que a vida humana em sociedade está sujeita 
a uma ordem social e procura compreender as regularidades e as leis que regem as 
relações entre os homens. 
 
Papel inicial da Sociologia 
 
Sob inspiração das ciências da natureza, concebia-se que o conhecimento 
científico nas ciências sociais deveria dar aos homens o controle de sua sociedade e 
de sua história assim como a física e a química lhes possibilitaram o controle das 
forças naturais. Os pioneiros e fundadores da Sociologia aspiravam também fazer do 
conhecimento sociológico um instrumento de ação e pretendiam modificar a própria 
sociedade em que viviam. 
 
 
6 
 
A constituição da Sociologia como ciência 
 
Desde a sua criação, a Sociologia preocupa-se com a definição do seu objeto 
de pesquisa e os métodos de análise para não se confundir com o senso comum. A 
Sociologia como ciência utiliza-se de pesquisas quantitativas, levantamento de dados 
empíricos e técnicas de observação da realidade. Análise consistente do material, 
que possibilite a outros pesquisadores a reprodução e a validação dos mesmos 
resultados. 
 
Os precursores da Sociologia 
 
Embora não seja possível um único indivíduo fundar um campo inteiro de 
estudo, havendo muitos colaboradores no pensamento sociológico, atribui-se 
especial proeminênciaa Augusto Comte (1798-1857). Para Comte, o papel da 
Sociologia seria explicar as leis do mundo social, assim como as ciências da 
natureza explicam o mundo físico. Comte formulou a lei dos três estágios do 
conhecimento humano: o teológico, o metafísico e o positivo. 
 
A lei dos três estágios de Augusto Comte 
 
Estágio teológico: o pensamento humano era guiado por ideias religiosas e 
pela crença de que a sociedade era expressão da vontade divina. 
Estágio metafísico: se desenvolveu no período da Renascença, em que a 
sociedade passou a ser vista em termos naturais e não sobrenaturais. 
Estágio positivo: anunciado pelas descobertas de Galileu e Newton, conduziu 
ao estímulo da aplicação de técnicas científicas para a compreensão do mundo 
social. 
A sociologia é vista como a última ciência a se desenvolver por ser a mais 
complexa de todas as ciências (PILETTI , N.; PRAXEDES, W., 2010). 
 
 
 
 
 
7 
 
A institucionalização da Sociologia 
 
Émile Durkheim (1858-1917) foi um dos precursores da Sociologia como 
ciência. Foi influenciado pelo pensamento de Augusto Comte, porém considerava suas 
ideias especulativas demais. Durkheim procurou dar uma base empírica para o 
conhecimento sociológico. 
Para Durkheim, o princípio básico da Sociologia era “estudar os fenômenos 
como coisas”. Com isso queria dizer que a vida social pode ser analisada de forma 
tão rigorosa quanto os objetos ou fenômenos da natureza. 
Para Durkheim, as sociedades têm uma realidade própria – a sociedade é 
mais do que ações e interesses de seus membros individuais. 
A Sociologia, como ciência, passou a ocupar um espaço na universidade em 
1887, quando Émile Durkheim passou a lecionar na Universidade de Bourdeux e 
criou a primeira cátedra desta ciência na França. 
Em 1902, Durkheim transferiu-se para a Universidade Sorbonne, em Paris, 
onde contribuiu para a formação de inúmeros cientistas sociais reunidos em um 
grupo que ficou conhecido como Escola Francesa de Sociologia. 
 
A constituição da Sociologia como ciência 
 
Wright Mills (2009), no texto “A promessa”, afirmou que os seres humanos 
envolvidos na vida cotidiana tendem a ter uma visão limitada dos horizontes sociais, 
pois sua visão de mundo social se encontra restrita aos ambientes mais próximos. A 
sociologia é uma ciência que adota um olhar mais amplo sobre o mundo social e, 
dessa forma, permite aos seres humanos compreenderem a relação entre suas 
vidas individuais com os contextos sociais mais amplos. 
Segundo Giddens (2012), sob a perspectiva prática, a Sociologia permite a 
compreensão das diferenças culturais entre os grupos sociais. Permite uma análise 
precisa dos resultados das ações políticas e possibilita que os indivíduos tenham 
uma maior autocompreensão do seu papel na sociedade. 
Portanto... A Sociologia é uma ciência que surge no século XIX em um contexto 
de transformações históricas profundas na sociedade europeia e tem como objeto de 
 
8 
 
estudo o homem e suas interações sociais. Seus precursores foram Augusto Comte 
e Émile Durkheim. 
 
A educação em perspectiva sociológica 
 
A educação é um objeto privilegiado da Sociologia. O ato de educar é 
concebido, ao mesmo tempo, a base da conservação da ordem e o esteio de suas 
mais radicais transformações. (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 11). 
Questões sociais como: que tipo de educação deve existir? Quais são os 
conhecimentos que o sistema educacional deve garantir a todos os cidadãos? A 
educação das classes dominantes deve ser igual à educação dos segmentos pobres 
da população? Como garantir essa igualdade? 
Percebe-se que os temas que permeiam o debate na área educacional são os 
mesmos presentes no debate político e social contemporâneo, evidenciando a 
estreita ligação entre os problemas da sociedade e os problemas da educação. 
 
Tendências no desenvolvimento da sociologia da educação 
 
Ao analisar o desenvolvimento dos estudos sociológicos sobre educação, 
Antônio Cândido identifica diversos focos sobre os quais a educação pode ser 
estudada na Sociologia: 
 
 a) A primeira é sobretudo uma reflexão sobre o caráter social do processo 
educativo, seu significado como sistema de valores e sua relação com as concepções 
e as teorias do homem. Nessa perspectiva, a educação é vista como processo de 
socialização do indivíduo para a vida em sociedade. Esse é o ponto de partida da 
análise de Émile Durkheim. 
 
b) A linha pedagógico-sociológica desenvolveu-se, principalmente, nos 
Estados Unidos, onde procurou efetuar o estudo dos aspectos sociais da educação a 
fim de obter o bom funcionamento da escola. Seu foco é o estudo dos grupos sociais, 
formas de interação, a relação da escola com a comunidade, entre outros. Essa 
concepção tem como pano de fundo o “culto à eficiência” escolar. A sociologia é 
 
9 
 
concebida como componente da pedagogia e da administração escolar. Essa área 
tem sido cultivada por educadores como ramo da ciência da educação. 
 
c) A terceira linha é devida a sociólogos ou a educadores de orientação 
sociológica, que veem a sociologia educacional como ramo da sociologia, não da 
ciência da educação. Preocupa-se com a função social da educação e com a solução 
dos problemas educacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 
3 AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA 
3.1 A formação da sociologia e a identificação de seus objetos 
As reflexões sobre o comportamento humano sempre estiveram presentes em 
sociedades e comunidades ao redor do mundo e ao longo do tempo, em épocas e 
configurações sociais distintas. As pinturas rupestres feitas em cavernas e 
elaboradas por hominídeos expressavam as formas de organização dos grupos 
 
10 
 
sociais que surgiam, as caças, os perigos vividos, os espaços visitados, as viagens 
empreendidas. As representações pictóricas podem datar do período Paleolítico, que 
se estendeu da origem do homem até 10.000 a.C. Ou seja, o desejo de expressar, 
gravar e compreender a história humana está presente entre indivíduos desde os 
primórdios das organizações sociais mais elementares. 
É possível que a identificação do indivíduo como parte de um grupo seja um 
fator preponderante para a inclinação à reflexão a respeito dos contextos em que o 
grupo se insere. A expressão livre dos laços entre humanos deu espaço à reflexão, 
elaborada pelos filósofos da Antiguidade Clássica, sobre a pureza, a moral e a 
função de cada comportamento. Esse tipo de pensamento norteou as leituras sobre 
interações sociais até meados do século XVIII. 
O Iluminismo, também chamado de Século das Luzes, trouxe novas 
possibilidades de interpretação da natureza do comportamento humano. Nesse 
período, passa-se a considerar a complexidade das relações humanas, normalmente 
baseadas na estrutura de organização política do Estado. Mas são as rápidas 
transformações decorrentes da Revolução Industrial as responsáveis pelo grande 
interesse em medir, projetar e identificar formas de relações e comportamentos 
sociais. Devido à Revolução, se altera o modo de produção, consumo e organização 
social e política. E isso tem um motivo: o caos e os desequilíbrios sociais, 
desencadeados por situações nunca antes conhecidas. Por isso, pensadores 
passaram a observar os comportamentos sociais em busca de uma resposta para as 
transformações que se sucediam. (MARTINS, J. S; ECKERT, C; NOVAES, S. C; 
2005). 
As dinâmicas sociais passaram a ser foco não apenas de observação, mas de 
estudo. Por que essas dinâmicas acontecem da forma como acontecem? Quais são 
os elementos que incidem sobre as organizações sociais? Quais elementos as 
tornam estáveis, lineares, ou quais incitam o desejo por ruptura, por revoluções? E, 
para os pensadores cujos trabalhos deram origem à sociologia, a questão 
preponderante era: como reorganizar ou reestabelecer as sociedades após o caos? 
Essessão alguns dos questionamentos que nortearam a definição de metodologias 
para a observação e a análise de dinâmicas sociais e que culminaram na 
delimitação de um campo científico específico, a sociologia. A ciência das relações 
 
11 
 
sociais nasce com o estigma de pousar o olhar sobre um objeto instável, abstrato, 
difícil de ser controlado. 
Por isso, alguns autores que analisaram brilhantemente seus contextos 
sociais e históricos tiveram seus estudos utilizados como base para a construção da 
sociologia como campo científico, e seus métodos foram considerados integrantes 
do aporte que deu origem a essa área de estudo. Entre eles, destacam-se Auguste 
Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Desses autores, apenas Karl Marx 
não define claramente etapas ou métodos de análise e interpretação de interações 
sociais com o objetivo de criar uma abordagem científica a ser retomada por futuros 
pesquisadores. Mas a forma de organização de sua leitura sobre as estruturas 
sociais oferece tantos dados para o fortalecimento da sociologia como ciência que 
sua obra se equipara, nesse sentido, às dos outros três estudiosos. (SILVA, 2005). 
A seguir, você vai conhecer melhor a contribuição de cada um deles para o 
estabelecimento e o fortalecimento da sociologia como campo científico. Tenha em 
mente que, com exceção de Durkheim e Weber, os autores mais importantes para a 
formação das teorias sociológicas clássicas não faziam parte da mesma geração e 
analisavam contextos sociais, políticos e históricos distintos. 
 
Auguste Comte (1798–1857) 
 
O francês Auguste Comte inicia seus estudos na Escola Politécnica ainda 
adolescente, mas há uma pausa entre o início de seus estudos e a sua conclusão. 
Tal pausa foi causada pelo fechamento temporário da Escola e depois por sua 
expulsão. Após concluir os estudos, ele vive uma grave crise psicológico-emocional 
e se afasta da pesquisa por algum tempo. Sua primeira obra, Plano de Trabalho 
Científico para Reorganizar a Sociedade, realizada em 1822, demonstra como 
imaginava recompor a sociedade num período de intensas rupturas, em que a 
Europa vivia alternâncias de poder entre regimes despóticos e revoluções. Comte foi 
secretário e amigo do Conde de Saint-Simon, nobre francês teórico do socialismo 
utópico. Contudo, rompeu com o Conde após alguns anos, por não considerar 
definitivas as suas teorias sobre as organizações sociais. O positivismo comtiano 
define os parâmetros empíricos para a observação das dinâmicas sociais. Além 
disso, é a teoria que define o objeto sociológico como elemento próprio da ciência. 
 
12 
 
Para Comte, se existiam leis que regiam as ciências naturais, também existiam leis 
que regiam os objetos sociais. Para conhecê-las, as etapas empíricas da 
observação à comparação deveriam ser respeitadas. Foi Comte o teórico que definiu 
o termo “sociologia”. (SILVA, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.tomlivre/auguste-comte.br 
 
Karl Marx (1818–1883) 
 
De origem judaica, o alemão Karl Marx estudou direito, filosofia e história, 
concluindo o doutorado ainda bem jovem, aos 23 anos. Voltado à filosofia hegeliana, 
o jovem Marx escrevia artigos jornalísticos que questionavam a organização política 
alemã e enfatizavam o aporte democrático. Por isso, foi expulso e se mudou para a 
França, onde conheceu Engels. Seu posicionamento político o levou a ser expulso 
também da França, então ele foi para a Inglaterra, onde permaneceu até a sua 
morte. O primeiro trabalho em que aparece sua marca metodológica mais 
importante para a sociologia, o materialismo histórico, é O Manifesto do Partido 
Comunista, escrito em parceria com Friedrich Engels, em 1848. O materialismo 
histórico é uma teoria que entende que as relações entre a produção e o consumo 
 
13 
 
de mercadorias é o que determina as estruturas e organizações sociais. Por isso, as 
grandes transformações históricas foram pautadas pela alteração na forma de 
produção, do feudalismo para o mercantilismo e depois para o capitalismo. Para 
Marx, o capitalismo causaria tensões ininterruptas entre as classes, trabalhadores e 
burgueses, e essas tensões levariam à tomada de poder pelos trabalhadores, que 
colapsariam o sistema e estabeleceriam o comunismo. Para o autor, a marcha para 
o comunismo era inevitável, por isso o materialismo histórico possui um viés 
determinista. (SILVA, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.jornal.usp.br 
 
Émile Durkheim (1858–1917) 
 
O francês Émile Durkheim também tinha origem judaica, mas declarava não 
praticar nenhuma religião. Assim como Marx, estudou filosofia, porém seus trabalhos 
se voltavam inteiramente à definição das metodologias de pesquisas e aportes 
técnicos da sociologia. Sua carreira acadêmica se inicia com estudos voltados para 
a ciência da educação. Criador da chamada “escola de sociologia francesa”, 
Durkheim foi o primeiro acadêmico a ocupar a cátedra de ciências sociais na 
Universidade de Sorbonne. Durkheim dialoga em seus trabalhos com Comte e Marx, 
mas tem um alinhamento maior com as teorias positivistas. Ele compreende que a 
 
14 
 
sociologia tem objetos próprios e diferentes daqueles do direito, da filosofia e da 
economia. Mas, diferente de Comte, Durkheim não acreditava em leis sociais, e sim 
na determinação de métodos e etapas para a observação, a classificação e a 
comparação dos fenômenos sociais, o que constituiria a verdadeira ciência 
sociológica. A tipificação de comportamentos é um dos elementos usados pelo 
pensador para chegar à observação científica dos fenômenos sociais. (SILVA, 
2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www. historiaonline.com.br 
 
Max Weber (1864–1920) 
 
O alemão Max Weber estudou história, economia e direito. Sua origem foi 
intelectualmente privilegiada, já que, como filho de um político do Partido Nacional 
Democrata alemão, pôde ter contato com estudiosos e intelectuais de seu tempo. 
Weber foi para os Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial. Lá, passou a 
analisar aspectos de uma sociedade capitalista, comparando-os às estruturas 
tradicionais morais e culturais da Alemanha, cuja corrupção ou enfraquecimento 
 
15 
 
durante a República de Weimar o preocupava. Weber transcende o positivismo de 
Comte, o materialismo de Marx e o funcionalismo de Durkheim, mas admite as 
contribuições de cada um desses aportes, dialogando com seus teóricos em alguns 
trabalhos. O pensador alemão criou a chamada sociologia compreensiva, um 
método de análise que compreende as construções simbólicas de maneira subjetiva. 
Ou seja, é um método que admite que o aparato sistêmico de significação de 
fenômenos sociais é o que dá sentido à ação, e ele pode ser diferente em contextos 
sociais, políticos e históricos distintos. Por isso, Weber contraria o determinismo do 
materialismo histórico de Marx e a impossibilidade de transcendência das estruturas 
sociais de Durkheim. Para ele, o espaço que Marx deu aos conflitos entre classes 
como motor da história foi dado aos processos de racionalização dos fenômenos 
sociais, em associação às dinâmicas de dominação social. 
Comte viveu todo o processo de erosão do poder da nobreza e da monarquia 
francesa, bem como os impactos resultantes dos movimentos que culminaram na 
Revolução Francesa, na ruptura da monarquia e na constituição da república no 
país. Revoluções não são transições, não são alterações que ocorrem aos poucos; 
não há espaço ou tempo para acomodações de mudanças. Para que eclodam, é 
preciso que haja um momento anterior de caos. E os momentos subsequentes à 
ruptura e à instalação de um novo modelo de organização política e social costumam 
também ser pautados por desorganização e incerteza. (SILVA, 2005). 
Para Comte, porém, independentemente dos objetivos de um movimento 
político e das alterações que ele poderia trazer às organizaçõessociais, deveria 
haver espaço para se pensar em planejamento social e organização, pilares que 
construiriam o bem-estar social. A racionalidade deveria nortear as ações e, assim, 
estabeleceriam-se planos e etapas que ordenariam e manteriam seguras e 
controladas quaisquer alterações na organização social. 
Como você viu, Marx, Weber e Durkheim buscavam compreender as causas 
e consequências das interações sociais. Eles verificavam o modo como tais 
interações se conectavam com um contexto histórico comum e avassalador para as 
estruturas tradicionais de organização social: a modernidade. Por isso, alguns 
elementos estão presentes nas abordagens desses autores. Entre eles, você pode 
considerar: as características estruturais e a expansão do capitalismo, o processo de 
urbanização, a expansão da produção, a saturação do consumo doméstico e as 
 
16 
 
expansões territoriais. Essas transformações deram novas formas e sentidos às 
interações sociais. Os mesmos elementos também tiveram impacto na organização, 
na estrutura e na função do Estado, de modo que a democracia e o liberalismo são 
pautas para as análises sociológicas. (SILVA, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.todamateria.com.br 
 
Como você pode perceber, a sociologia percorreu um longo caminho para se 
estabelecer. Ela se fortaleceu a partir de teóricos com formação em áreas diversas, 
que procuraram explicar ou dar sentido ao caos social que acreditavam existir, ou às 
transformações que vivenciaram. Sua origem, portanto, é resultado de um processo 
de construção de leituras sociais de aproximadamente um século. 
 Seu objeto de estudo, porém, é algo mais claro de se observar nesse 
processo. A sociologia deixa de lado os impactos das organizações do Estado ou de 
elementos sobrenaturais para se concentrar nas práticas sociais que permitem a 
manutenção, a organização ou a ruptura de sistemas de organização social, política 
e econômica. 
 
17 
 
3.2 A realidade e a perspectiva sociológica 
A definição da realidade e as interações estabelecidas dependem, para a 
sociologia, das leituras possíveis para cada indivíduo. Essas possibilidades seriam 
delimitadas pelas técnicas e comportamentos definidos e adquiridos pelo convívio 
com o grupo social de origem. Veja, por exemplo, a pesquisa sociológica sobre a 
memória realizada por Silva (2005). Ao se inserirem numa sociedade que preza mais 
os valores de troca do que os valores de uso dos objetos, os sujeitos da pesquisa 
perderam o objetivo principal da feitura de cerâmica e, com ele, a matéria-prima das 
lembranças. Não estavam mais no lugar onde nasceram e, se a sociabilidade se 
ancorava nas relações de reconhecimento e pertencimento, desejar os mesmos 
utensílios utilizados pela comunidade local era uma forma de não ficar à margem. 
Além disso, o espaço do assentamento já não era o mesmo do passado; não 
havia homogeneidade na origem dos moradores. Eles vinham do Vale do 
Jequitinhonha, em Minas Gerais, do interior de estados do Nordeste, especialmente 
Bahia, Pernambuco e Alagoas, e de estados do Centro-Oeste e do Sul do País, 
como Mato Grosso do Sul e Paraná. Essa gama de origens diferentes fomentava 
conflitos e grupos rivais se punham em atrito devido ao “desconhecimento prévio”. 
Assim, Silva (2005) observou dois desafios metodológicos. 
O primeiro desafio era fazer com que os depoentes compartilhassem o 
mesmo objetivo da pesquisa: o resgate da memória. Aqui está o ponto-chave que 
torna essa pesquisa tão interessante. A socióloga despiu-se dos conceitos 
amplamente difundidos sobre o distanciamento demandado do pesquisador e adotou 
uma metodologia que aproximava pesquisador e pesquisado por meio do diálogo. A 
situação que inicialmente causou estranhamento e desconfiança por parte dos 
sujeitos da pesquisa, especialmente dos líderes políticos (que tendiam a generalizar 
as falas e, com isso, elevavam o risco de enviesar a pesquisa), mostrou-se eficiente 
quando a autora seguiu um conceito de W. Mills que ela mesma cita em seu texto: a 
imaginação sociológica tornou-se sua guia. 
Tomando o diálogo como fonte de troca e saberes, Silva (2005) ministrou uma 
palestra aos alunos do curso noturno do assentamento. Ela falou sobre a memória e 
a sua importância para o processo de reconstrução da identidade e mesmo para a 
constituição dos alunos como sujeitos históricos de uma nova história. Já o segundo 
 
18 
 
desafio girava em torno do caráter teórico-metodológico da pesquisa. Como 
interpretar narrativas orais, interpretar silêncios, identificar esquecimentos ou 
resistências? Como transformar falas em dados a serem analisados, constituintes de 
uma trajetória? 
Como afirma Benjamin (1994): 
A alma, o olho e a mão estão assim inscritos no mesmo campo. Interagindo, 
eles definem uma prática. Essa prática deixou de nos ser familiar. O papel 
da mão no trabalho produtivo tornou-se mais modesto e o lugar que ela 
ocupava durante a narração está agora vazio. (Pois a narração, em seu 
aspecto sensível, não é de modo algum o produto exclusivo da voz. Na 
verdadeira narração, a mão intervém decisivamente com seus gestos 
apreendidos na experiência do trabalho, que sustentam de cem maneiras o 
fluxo do que é dito.) 
A interpretação é de que a relação entre pesquisado e pesquisador é 
artesanal, é feita pelo trabalho das mãos. Inseridos num meio em que o objetivo era 
a produção dos objetos, os depoentes talvez se expressassem mais 
espontaneamente. Se a ideia inicial da oficina de cerâmicas em argila se mostrou 
infrutífera, o mesmo não aconteceu com a oficina de fuxicos (pequenos círculos de 
tecido franzido nas bordas por meio de um alinhavado simples que se assemelham a 
pequenas flores e são matéria-prima para colchas, tapetes, toalhas e almofadas 
artesanais, entre outros produtos). Nessa oficina, aprendendo uma arte nova, ou 
relembrando os ensinamentos das mães e avós, as mulheres do assentamento 
viram-se num ambiente em que as memórias puderam emergir por meio das 
canções entoadas na execução do trabalho, que as lembravam de sua terra de 
origem, suas famílias, suas tradições. O estudo da história de uma vida não é a 
finalidade da sociologia. Ele leva à construção da noção de trajetória como uma 
série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente (ou um mesmo 
grupo) em um espaço de devir e submetido a transformações incessantes. Os 
acontecimentos biográficos definem-se antes como “alocações” e como 
“deslocamentos” no espaço social, isto é, nos diferentes estados sucessivos da 
estrutura da distribuição dos diferentes tipos de capital que estão em jogo no campo 
considerado. Assim, diferente das biografias comuns, a trajetória descreve a série de 
posições sucessivamente ocupadas pelo mesmo indivíduo em estados sucessivos 
do campo social. 
 
19 
 
É apenas nas estruturas de um campo que se define o sentido dessas 
posições sucessivas: as atitudes, o trabalho e tudo aquilo que torna o campo 
interessante o suficiente para ser objeto de uma pesquisa. A coerência teórica dessa 
metodologia se dá pelo fato de que o tempo do devir social dos indivíduos e dos 
grupos já está estruturado por normas, definições sociais, representações ou 
oportunidades típicas socialmente condicionadas de desenvolvimento ou de 
orientação biográfica. Apesar de muito elucidativas, é preciso estar atento ao fato de 
que as biografias, autobiografias e histórias de vida não revelam toda a vida de um 
indivíduo, mas apenas uma versão selecionada de como ele deseja se apresentar. 
Naturalmente, esse não é um processo descartável, já que também é importante 
conhecer e verificar as interpretações que as pessoas fazem de sua própria 
experiência para explicar parte do comportamento social. (CANDIDO, 2006). 
Uma das maiores dificuldades das ciências humanas ao se estabelecerem 
como disciplinas foi a criação e a adequação de ferramentas metodológicaspara 
tratar de seus objetos de pesquisa. A ideia era que, ao mesmo tempo em que 
normatizassem a produção científica e acadêmica, as ferramentas também 
legitimassem tais disciplinas, mostrando normatização e controle da pesquisa. Havia 
grande dificuldade em mostrar que, embora afastadas das ciências naturais, 
necessitando de abordagens diferentes, as ciências cujos objetos eram os homens e 
seus pensamentos, suas construções e interações sociais, podiam ser confiáveis; a 
volatilidade do objeto consistia mais em uma oportunidade do que em um problema. 
Foi preciso construir modelos de certa forma rígidos, que conferissem legitimidade 
às pesquisas das novas disciplinas que se formavam — por muitas vezes, a quebra 
desses modelos mostrava certos vieses nas pesquisas. Depois da criação da 
sociologia como disciplina, ocorreu o processo de distinção entre ela e as demais 
ciências, a partir da formulação de metodologias próprias ainda no século XIX. A 
interdisciplinaridade é retomada a partir de fins do século XX, tornando as análises 
mais ricas e aprofundadas. 
Mas qual é a trajetória da sociologia como disciplina? De acordo com Candido 
(2006), pode-se dividir o processo de constituição da sociologia brasileira como 
ciência em dois períodos. No primeiro, entre 1880 e 1930, a sociologia seria “[...] 
praticada por intelectuais não especializados, interessados principalmente em 
formular princípios teóricos ou interpretar de modo global a sociedade brasileira” 
 
20 
 
(CANDIDO, 2006, documento online). Nesse período, não haveria ensino nem 
pesquisa empírica acerca de aspectos delimitados da realidade contemporânea. O 
segundo período se construiria após a década de 1940, e nesses 10 anos entre uma 
fase e outra é que a sociologia se incorpora ao ensino superior e passa a ser tratada 
como instrumento de análise social. 
 Nessa fase, surgem os primeiros sociólogos de formação brasileira, que 
fomentam o segundo período da sociologia no País. Ainda segundo Candido (2006), 
a sociologia como campo científico sofre duas influências tão decisivas que a 
marcam permanentemente: a do direito e a do evolucionismo. No século XIX, o 
esforço de compreender o Estado, o universo econômico e as estruturas políticas do 
País foi, essencialmente, do jurista, que o autor determina como “[...] o intérprete por 
excelência da sociedade, que o requeria a cada passo e sobre a qual estendeu o 
seu prestígio e maneira de ver as coisas” (CANDIDO, 2006, p. 273). Contudo, 
[...] como as teorias dominantes na segunda metade do século se achavam 
marcadas pelo surto científico de então, notadamente a Biologia, que saiu 
dos laboratórios para se divulgar de maneira triunfante, os juristas 
mergulharam na fraseologia científica e se aproximaram, neste terreno, dos 
seus pares menos aquinhoados, médicos e engenheiros, que com eles 
formavam a tríade dominante da inteligência brasileira. Vemos então, na 
Sociologia, os juristas inaugurarem uma orientação cientificista, como se 
dizia, que contou desde logo com a cooperação de engenheiros e sobretudo 
médicos. A sociologia brasileira formou-se, portanto, sob a égide do 
evolucionismo e recebeu dele as preocupações e orientações fundamentais, 
que ainda hoje marcam vários dos seus aspectos (CANDIDO, 2006, p. 273). 
De fato, os pensadores mais influentes do período, como Sílvio Romero e 
Fernando de Azevedo, tiveram e assumiram influência darwinista e jurista. Azevedo, 
um dos fundadores da disciplina no Brasil, foi influenciado por um caldo de cultura 
científica — que ia dos juristas aos filósofos, passando pelos defensores da biologia. 
No texto A Ciência da Humanidade: Sociologia... Seu lugar entre a ciência, seu 
método, pode-se perceber em Sílvio Romero a influência evolucionista, a partir da 
óptica jurista de análise social. O direito constitui-se de fatos observáveis: as leis. 
Mas as leis existem para regimentar uma sociedade, um corpo social que age, vive e 
discute; que, portanto, está em constante movimento. 
Num Estado, cidadãos estão sob suas leis, mas as leis não são as mesmas 
em países diferentes, nem se apresentam a todos os cidadãos da mesma maneira. 
A ciência jurídica, portanto, pode ser subdividida em vários ramos, que entram numa 
 
21 
 
mesma variável geral: a sociologia. Mas a sociologia é uma ciência? Esse 
questionamento sobre a legitimidade da sociologia como ciência é para onde o olhar 
de Romero (2001) se direciona, criticando os opositores da “ciência da sociedade”. 
O maior crítico da sociologia brasileira é o poeta e jurista Tobias Barreto. A crítica do 
jurista sergipano estaria especialmente desenvolvida em “estudos alemães” e é 
apresentada no ensaio Variações antissociológicas. Seus argumentos contrários à 
“ciência da sociedade” eram os seguintes: 
 
 estudo dos fenômenos sociais culminaria numa “pantosofia” (uma ciência 
do “tudo”), que não é compatível com o espírito humano; 
 culminaria também em sociolatria, ou seja, a exaltação da grandeza 
humana, algo que para Barreto era inconciliável com uma ciência social; 
 a liberdade invalidaria a sociologia: “Enquanto não se provar que a 
vontade humana é uma força natural [...] como o calor e a eletricidade, a 
sociologia nada vale” (BARRETO, 1962, p. 42); 
 se a sociologia trata da sociedade, então seu objeto seria uma abstração 
sem objetivo e haveria tantas sociologias quanto existem grupos sociais; 
 homem, família e Estado não poderiam ter explicações e mecanismos, 
como existem nos objetos das ciências naturais; 
 a sociologia derivaria da ideia errada de que a sociedade é um indivíduo 
diferente do Estado, assim sociologia e ciência política seriam ciências 
diferentes; 
 para Barreto (1962), a mania da “lei”, que regularia normas e épocas, 
exposta com a estatística como prova para o fenômeno social, não 
provaria nada; 
 emparelhamento da sociologia com as ciências naturais não funcionaria, 
pois não há uma ciência da natureza parecida com o que a sociologia 
procurava ser em relação à sociedade. 
 
Segundo Romero (2001, p. 54), 
 
 
 
22 
 
“[...] não há dúvida de que o jurista de Estudos de Direito tem em grande 
parte razão. Mas não se deve concluir do abuso para a condenação geral 
da coisa. Porque alguns fantasistas andam por aí a inventar engraçadas e 
insustentáveis leis sociológicas”. 
 
O trabalho do pesquisador está em constante construção e transformação. O 
objeto demanda sempre uma forma de olhar única, particular. Assim, transportar 
métodos de análises conhecidos, eficazes anteriormente, nem sempre mostra-se 
eficiente. Mas o trabalho dos sociólogos que se seguiram à delimitação do campo 
científico mostra que, muito mais do que encaixar um objeto num tipo de abordagem 
ou análise preexistente, é ofício do pesquisador procurar, desbravar, produzir novos 
meios de se chegar ao seu tema, ao seu objeto. 
3.3 Ciências naturais e sociologia: o trabalho de Spencer na legitimação do 
campo sociológico 
É interessante você observar que os pensadores da sociologia 
empreenderam uma luta árdua para desenvolver metodologias próprias, e a ciência 
política trava hoje a mesma batalha. Definida por alguns autores apenas como um 
desdobramento ou uma ramificação da sociologia, já que seu foco é uma parte 
importante da estrutura de qualquer sociedade (o Estado e as relações sociais que 
advêm dele), a ciência política busca ainda hoje estabelecer metodologias 
particulares, que a legitimem como ciência diversa da sociologia. Nesse caminho, 
muitos criticam seus pensadores por utilizarem métodos quantitativos e estatísticos 
em demasia, como numa clara oposição às experiências qualitativas mais utilizadas 
pela sociologia contemporânea, transformando-a, talvez, numa ciência “dura”. Mas, 
se para se opor à sociologia é preciso adotar metodologias quantitativas, isso não 
poderia classificar a ciência política quase como uma ciência matemática? Épossível relacionar o modo como a ciência política trabalha hoje para se diferenciar 
da sociologia com o modo como a sociologia trabalhou para se diferenciar das 
ciências naturais no século XIX. Naquele período, a classificação das ciências se 
dava em função de uma suposta complexidade, como no modelo a seguir: 
 
1. Matemática 
2. Astronomia 
 
23 
 
3. Física 
4. Biologia 
5. Sociologia 
 
Aqui, a sociologia já se encaixava no plano das ciências, mas no menor grau 
de complexidade. Para Spencer, o quadro não se definia em ordem de importância, 
mas da seguinte maneira: 
 
1. ciências abstratas 
2. ciências abstrato-concretas 
3. ciências concretas 
 
Ou seja, para Spencer, haveria particularidades em cada ciência provenientes 
da natureza de seus objetos, mas o rigor metodológico asseguraria a sua 
classificação como ciência. Por isso, não poderia haver ciência mais ou menos 
complexa, mais ou menos importante, ainda que houvesse diferenças ocasionadas 
pelos objetos de estudo. (AUGUSTINHO, 2018) 
O evolucionismo moderno quebrou essas barreiras, como mostra Spencer na 
sua delimitação dos processos do método de pesquisa: 
 
1. observação 
2. observação artificial 
3. experimentação 
4. comparação 
5. classificação 
6. indução 
7. dedução 
 
O autor definiu e categorizou passos e assegurou que não haveria outros, 
nem ciência que não precisasse deles. E a sociologia não fugiria à regra. Spencer 
relata que, como cientista e sociólogo, seu objeto foi o próprio ato de observar e 
desenvolver o método da sociologia. A partir de comparações com temas e objetos 
da física, da biologia, da astronomia, da anatomia e da química, ele chegou à 
 
24 
 
conclusão que buscava: o método da sociologia é o mesmo de todas as outras 
ciências. Como você viu, a sociologia surgiu como uma “resposta científica” às 
questões sociais que emergiram no século XIX, especialmente com o desenrolar da 
Revolução Industrial. (ROMERO, 2001). 
A sociedade em crise, desorganizada e em situação de caos, levou 
pensadores a trabalharem numa resposta, numa saída para os problemas sociais 
como a fome, a violência e o desemprego. Comte e Durkheim trabalharam para que 
a ciência pudesse dar respostas e direções para o restabelecimento da ordem. Já 
Marx viu no caos a expressão de que as sociedades estavam inevitavelmente se 
transformando, e o despertar das classes trabalhadoras levaria o processo em 
direção ao comunismo mais objetivo. Mas todos os teóricos se fundamentaram nos 
diálogos com os parâmetros empíricos das ciências naturais para a definição das 
práticas de análise dos fenômenos sociais, pavimentando o caminho para os 
chamados “sociólogos profissionais” do século XX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.mundociencia.com.br 
 
25 
 
4 A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA 
4.1 Compreendendo o conceito de sociologia 
O primeiro ponto a destacar quando falamos no ser humano é sua capacidade 
e necessidade de viver como um ser social, de maneira organizada e 
interdependente, em que suas características culturais podem ser ensinadas e 
aprendidas. Neste processo de convivência social, as estruturas que constituem tais 
associações vão sendo modifi cadas, incorporando novas maneiras de viver e de 
agir. 
A vida do homem em sociedade passa por inúmeros movimentos e 
reconfigurações associadas a diversos fatores, como o próprio desenvolvimento da 
noção de comunidade, dos avanços nas áreas que envolvem as questões 
econômicas e de governo, as mudanças de paradigmas nas buscas por explicações 
para os fenômenos, entre outros. 
O ser humano apresentou, no percurso de seu desenvolvimento histórico, 
inúmeras mudanças nas suas maneiras de viver e relacionar-se em sociedade, 
desde as estruturas comunitárias mais simples, como a família, até a complexidade 
das grandes corporações empresariais e das relações de governo estabelecidas. A 
busca pela conceituação do que vem a ser a sociologia enquanto ciência passa pela 
percepção e pelo entendimento do que vem a ser o conceito de sociedade em si e 
de como se organizam e se movimentam os mais diversos grupos humanos e seus 
fenômenos sociais. 
Temos que destacar que as reflexões em torno de como os seres humanos 
vivendo em sociedade se organizavam remontam à Antiguidade Clássica, muito 
antes da elaboração do conceito de sociologia por Auguste Comte, na Modernidade, 
mais especificamente no século XIX. Sobre este fato, Vila Nova (2013, p. 29) 
comenta: 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
É óbvio que a reflexão sobre os fenômenos sociais não começou com a 
sociologia, no século XIX. Antes que Auguste Comte inventasse, na primeira 
metade daquele século, a palavra sociologia para denominar a nova ciência 
e proclamasse a necessidade, a conveniência e a possibilidade de 
aplicação dos princípios da ciência – até então aplicados apenas ao estudo 
dos fenômenos da natureza – ao conhecimento da sociedade, os filósofos 
se ocuparam da explicação dos fenômenos sociais. As reflexões de Platão, 
de Aristóteles, por exemplo, na Antiguidade, ou mesmo de Maquiavel, já no 
século XVI, apesar de toda a revisão, no Renascimento, das ideias 
tradicionais até então predominantes, são muito diversas das teorias 
sociológicas. A reflexão filosófica a respeito da sociedade difere da 
sociologia tanto nos resultados quanto, principalmente, na maneira de 
alcançá-los. 
 
 
A citação do autor nos aponta algumas questões muito interessantes, como a 
busca do homem em fornecer explicações para os fenômenos sociais que nos 
acompanham há muito tempo e a distinção entre a sociologia e a Filosofia enquanto 
ciências. Dentre os inúmeros conceitos apontados em busca de uma definição do 
que seria a sociologia, veja o que nos dizem Lakatos e Marconi (1990, p. 22): 
 
Estudo científico das relações sociais, das formas de associação, 
destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as classes de 
fenômenos sociais, fenômenos que se produzem nas relações de grupos 
entre seres humanos. Estuda o homem e o meio humano em suas 
interações reciprocas. A sociologia não é normativa, nem emite juízos de 
valor sabre os tipos de associação e relações estudados, pois se baseia em 
estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira natureza dos 
fenômenos sociais. A sociologia, desta forma, é o estudo e o conhecimento 
objetivo da realidade social. 
 
 
Como podemos perceber na conceituação das autoras, para a sociologia 
interessam como principais focos de análise as relações entre os homens no meio 
em que vivem. 
 
4.2 O percurso histórico do surgimento da sociologia 
 
 
27 
 
Para que possamos entender de forma mais consistente o surgimento da 
sociologia, precisamos pontuar alguns aspectos históricos que colaboram para que 
isto ocorra. Para essa tarefa iremos nos remeter ao século XVIII e às transformações 
que ocorrem na sociedade nos aspectos políticos e econômicos. Claro que, antes 
disso, devemos apontar grandes acontecimentos históricos que antecedem o 
surgimento da ciência como um todo e que modificam a forma como a sociedade irá 
pensar e agir. Entre eles, temos, no século XV, os esforços em busca de expansão 
territorial das nações europeias, conhecido como o período das Grandes 
Navegações, e o estabelecimento de colônias nas Américas, na Ásia e na África, o 
que acelera o desenvolvimento da economia monetária e fortalece a burguesia 
destes países. 
No século XVI, temos a Reforma Protestante, que marca um rompimento 
entre o pensamento ou conhecimento teológico (explicações divinas) e o 
conhecimento racional (explicações pela razão do homem). A Reforma Protestante 
vai muito além da simples ruptura do modo de pensar da Igreja da época e da 
contestação dos poderes papais, pois representa a busca do próprio homem para as 
explicações dos fenômenos que ocorrem ao seu redor. 
Segundo Tomazi (2000), essa nova forma de conhecimento da natureza e dasociedade, na qual a experimentação e a observação são fundamentais, aparece 
neste momento, representada pelas ideias e pelas obras de diversos pensadores, 
entre os quais Nicolau Maquiavel (1469-1527), Galileu Galilei (1564-1642), Thomas 
Hobbes (1588-1679), Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650). 
Junto com esses, há outros dois pensadores que farão a ponte entre esses novos 
conhecimentos e os que se desenvolverão no século seguinte: John Locke (1632-
1704) e Isaac Newton (1642-1727). Já no século XVII, percebemos a ascensão da 
burguesia comercial nos países europeus, que se estendia a todo o restante do 
mundo. Nesta época, irão surgir novos formatos de organização da produção das 
manufaturas, criando novos inventos que pudessem aprimorar os processos e 
diminuíssem o número de pessoas envolvidas neles. 
É quando surgem as primeiras máquinas de tecer, descascar algodão, as 
máquinas a vapor, etc. O trabalho mecânico começa a ser utilizado paralelamente 
ao trabalho artesanal. O século XVIII começa em meio a toda essa ebulição de 
novas descobertas focadas na produção e numa sociedade em modificação, 
 
28 
 
proposta pelos eventos anteriores. Da mesma forma, a Revolução Inglesa ocorrida 
no século anterior irá inspirar as Revoluções Americanas e Francesas e irá trazer 
novos formatos de organização política para as nações. 
As transformações nas esferas da produção, a emergência de novas formas 
de organização política e a exigência de representação popular dão características 
muito específicas a esse século, em que pensadores como Montesquieu (1689-
1755), David Hume (1711-1776), Jean-Jaques Rousseau (1712-1778), Adam Smith 
(1723-1790) e Immanuel Kant (1724-1804), entre outros, procurarão, por caminhos 
às vezes divergentes, refletir sobre a realidade, na tentativa de explicá-la (TOMAZI, 
2000). Estas tentativas de busca por explicações das novas realidades no século 
XVIII citadas pelo autor irão servir de base para o surgimento da sociologia como 
uma ciência; ciência esta que nasce em meio à consolidação do sistema capitalista. 
No início do século XIX, pensadores como Saint-Simon, Hegel e David Ricardo irão 
fazer com que Auguste Comte (1798-1857) e Karl Marx (1818-1883) venham a 
refletir sobre a sociedade, porém de maneiras muito divergentes. 
Comte irá focar seus pensamentos em busca de uma filosofia positiva, que 
busca a explicação dos fenômenos e a modificação da maneira de pensar do 
homem utilizando as ciências existentes na época e propondo uma reforma prática 
das instituições. Outro expoente da sociologia que irá se inspirar nas ideias 
propostas por Comte nesta época é Emile Durkheim. 
Karl Marx e Friederich Engels, por sua vez, irão analisar os aspectos sociais, 
econômicos, políticos, ideológicos, religiosos, entre outros, sem a preocupação de 
definição de uma ciência específica para tal, como a sociologia representava para 
Auguste Comte. Suas análises procuraram focar as mudanças nos processos 
produtivos, o surgimento da sociedade capitalista, visando fornecer aos 
trabalhadores condições de melhor analisar o contexto em que se encontram 
vivendo e as relações entre as classes trabalhadoras e capitalistas. 
Podemos dizer que a sociologia como ciência, acadêmica, irá afirmar-se nas 
obras de Émile Durkheim, na França, e de Max Weber, na Alemanha; ambos 
preocupados em integrar a sociologia aos aspectos científicos necessários para 
garantir os métodos e teorias necessárias para tal afirmação. 
 
 
29 
 
4.3 Características da sociologia como ciência 
A sociologia apresenta alguns aspectos bem particulares que a distinguem de 
outras Ciências Sociais, como a Antropologia, a Economia ou a Filosofi a Social. 
Vamos conhecer, agora, alguns destes aspectos que caracterizam a sociologia 
enquanto ciência. 
 
 Indução como método predominante — através da observação 
sistemática e planejada dos fatos, de casos bem particulares e 
específicos, a sociologia vai formulando, construindo suas teorias e 
explicações acerca da vida em sociedade. Lembramos que a 
observação sistemática faz parte da própria característica de toda a 
ciência que se vale do método científico para o estabelecimento de 
suas regras e verdades sobre o objeto estudado; com a sociologia não 
é diferente! 
 Neutralidade valorativa — não cabe à sociologia realizar juízos de valor 
sobre os objetos e fatos pesquisados, ou afirmar e estabelecer o certo 
e o errado, o justo e o injusto, como faria a Ética. Tampouco apontar o 
que deveria ser feito, o que seria legítimo, como faz o Direito. A 
sociologia estuda as relações que ocorrem na sociedade, tentando 
classificar e identificar seus componentes, porém isentando-se de 
julgá-los, deixando de exercer os juízos binários que comentamos 
anteriormente entre o que é bom e mau para a sociedade. 
 Moralmente neutra — este aspecto refere-se ao não estabelecimento 
de juízos de valores que falamos antes; porém, o sociólogo possui 
compromisso moral com a verdade que foi buscada através da 
observação realizada sobre os fenômenos sociais. É preocupação dos 
sociólogos, também, não permitir que suas questões morais pessoais 
interfiram nos resultados de suas análises, nas suas percepções e 
leituras sobre as mais diversas realidades sociais que estejam sendo 
observadas/ pesquisadas. 
 A transitoriedade — a sociologia estabelece o estudo de fatos que 
venham a acontecer na sociedade com uma certa regularidade. Esta 
 
30 
 
observação, porém, pode ser modificada com o próprio 
desenvolvimento ou reconfiguração destes aspectos observados pelo 
pesquisador com o passar do tempo. Ou seja, as teorias e análises 
sociológicas efetuadas anteriormente sobre algum fato social poderão 
vir a ser reformuladas em observações posteriores sobre este mesmo 
objeto pesquisado, o que caracteriza este aspecto da transitoriedade. 
 A busca pela classificação — as atividades do cientista sociólogo vão 
além dos pressupostos estabelecidos pelo método científico, como a 
elaboração de hipóteses, a observação em si, as generalizações 
típicas e a criação de teorias. O sociólogo também se encarrega da 
busca pela classificação dos fenômenos que ocorrem no tecido social. 
Essas classificações são observadas nos esforços em dividir a 
sociedade em partes, como: grupos, culturas, categorias, castas, 
classes, entre outros. 
 
 
Entender estes princípios é muito importante neste momento, pois são 
marcadores que serão utilizados pelo sociólogo em suas análises e são estes que 
reforçam o caráter científico da sociologia, ciência, conforme vimos anteriormente, 
que nasce dentro do contexto do surgimento e afirmação da própria racionalidade 
científica proposta no século XIX, através dos estudos de Francis Bacon e Renée 
Descartes, principalmente com a criação do Método Científico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: www. casaruibarbosa.gov.br 
 
 
5 AS FUNÇÕES DA SOCIOLOGIA 
A Sociologia surge como ciência no século XIX, com o intuito de realizar 
análises sobre a sociedade em suas inúmeras relações, procurando mapear as 
causas e aspectos que contribuíam para a organização social, classificando os 
fenômenos e inspirando hipóteses explicativas sobre os objetos pesquisados que, 
por sua vez, originam-se na própria sociedade, atendendo ao conceito de fato social 
cunhado por Durkheim (1996, p. 12), que afirma: 
É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o 
indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade 
dada, apresentando uma existência própria, independente das 
manifestações individuais que possa ter. 
Partindo da conceituação dos fatos sociais feita pelo autor, percebemos que o 
mesmo pensa a organização da sociedade realizada pelos efeitos de normalização e 
padronização sociais estabelecidos nas regras deconduta, nas ideias e 
pensamentos que compõem tais fatos. Estes fatos serão sempre exteriores ao 
 
32 
 
indivíduo, ou seja, não dependem dos aspectos internos destes, e sim do esforço 
coletivo e social no estabelecimento destas normas de convivência criadas e 
impostas desde o nosso nascimento. 
Os fatos sociais irão apresentar três características: exterioridade, 
generalidade e coercitividade. A generalidade diz respeito ao que comentamos 
anteriormente, o caráter coletivo que se faz presente e determina, para todos, como 
agir neste grupo social. A exterioridade traduz a condição desse ser exercido sendo 
o mesmo estabelecido fora da consciência individual, externo às questões pessoais 
intrínsecas ao sujeito. A coercitividade, por fim, remete ao dever, à obrigação em 
acatar e seguir as determinações que foram estabelecidas na sociedade em que 
vivemos. Lakatos e Marconi (1990, p. 65) comentam que: 
A coerção não necessita ser drástica; igualmente são eficazes o riso, a 
zombaria, o afastamento dos amigos, quando nosso comportamento não 
constitui transgressões às leis, mas às convenções da sociedade. Exemplo: 
não se portar corretamente à mesa, vestir-se inadequadamente, falar de 
modo impróprio. 
Partindo da definição do fato social, tido como o objeto de estudo da 
Sociologia, cabe ao sociólogo a problematização do mesmo, procurando percebê-lo 
por diversas maneiras e buscando a sua contextualização mais exata, suas origens, 
as causas de seu estabelecimento como regras de conduta, os fatores que 
contribuíram para que estes fossem instituídos. Barros (2008, p. 152) traz o seguinte 
comentário sobre o que seria a problematização: 
Problematizar é lançar indagações, propor articulações diversas, conectar, 
construir, desconstruir, tentar enxergar de uma nova maneira, e uma série 
de operações que se fazem incidir sobre o material coletado e os dados 
apurados. Problematizar, nas suas formulações mais irredutíveis, é levantar 
uma questão sobre algo que se constatou empiricamente ou sobre uma 
realidade que se impôs ao pesquisador. 
Nossa vida em sociedade apresenta muitas facetas e dimensões diversas que 
nem sempre são facilmente observáveis, pois o convívio humano acaba disfarçando-
as através das inúmeras práticas culturais (com seus símbolos, valores e normas) 
dos grupos envolvidos em suas interações. Baseado nestas questões, Vila Nova 
(2013, p. 218) comenta que “[...] à Sociologia cumpre precisamente ir além das 
aparências físicas da vida social e penetrar nas camadas mais profundas da 
sociedade para compreender a “lógica” oculta da sua organização [...]”. Esta lógica 
 
33 
 
oculta citada pelo autor muitas vezes poderá ser percebida pelo sociólogo através 
das problematizações, dos levantamentos e das inserções no campo social, no qual 
serão mapeados os detalhes que envolvem as relações e interações entre as 
pessoas. Outra função interessante que pode ser atribuída à Sociologia relaciona-se 
com a sua possibilidade de vir a transformar-se em instrumento de intervenção 
social, utilizando-se, para isso, do chamado planejamento social. Porém, convém 
observar que: 
[...] o planejamento social não é, entretanto, a aplicação apenas da 
Sociologia à intervenção na sociedade, mas, de modo conjugado, das 
demais ciências sociais, embora se verifique, sobretudo no Brasil, uma 
tendência à supervalorização da Economia na condução dessa atividade 
(VILA NOVA, 2013, p. 30). 
Dentro da lógica das atribuições do sociólogo que contribuem diretamente 
para o planejamento social estão as atividades de avaliação e monitoramento sobre 
os projetos públicos que estão sendo colocados em prática pelas esferas 
governamentais, por exemplo. 
5.1 Os pensadores da Sociologia e suas ideias 
Quando estudamos a Sociologia a partir de seu contexto histórico, como 
viemos fazendo, três grandes autores se destacam, formando uma tríade de ideias 
de base para as análises sociológicas posteriores a seu tempo; são eles: Durkheim, 
Weber e Marx. Vamos conhecer um pouco as ideias destes três autores e o modo 
como entendiam a educação na sociedade. Émile Durkheim, sociólogo francês 
nascido em 1858 e que viveu até 1917, entendia a sociedade como algo que iria 
sempre prevalecer ao indivíduo. Ou seja, a sociedade é o conjunto das normas, 
regras e procedimentos, sentimentos, ideias e pensamentos que conduzem os 
indivíduos e que foram construídos coletivamente, o que vinha a ser a definição de 
fato social segundo Durkheim. 
Podemos entender mais facilmente esta ideia ao percebermos que a criança, 
quando nasce, já se encontra num grupo social, de modo que a sua infância e a 
forma como irá crescer e se desenvolver já foram previamente estabelecidas pelos 
demais membros adultos desta sociedade. Podemos visualizar muito bem o conceito 
de fato social proposto por Durkheim na educação, uma vez que ela irá se 
 
34 
 
encarregar de ensinar as regras e condutas e educar os membros para viver em 
sociedade. 
Podemos nos questionar, seguindo este viés, sobre o que se aprende na 
escola. Qual a função desta instituição em nossas vidas? Durkheim diria que sua 
principal função é preparar o indivíduo para a vida em sociedade. Segundo Tomazi 
(2000, p. 18), o próprio conceito de instituição, para Durkheim, leva a esta resposta, 
uma vez que “para ele, uma instituição é um conjunto de normas e regras de vida 
que se consolidam fora dos indivíduos e que as gerações transmitem umas às 
outras. Há ainda muitos outros exemplos de instituições: a Igreja, o Exército, a 
família, etc.”. 
Max Weber, sociólogo alemão nascido em 1864 e falecido em 1920, entendia 
que as análises da Sociologia deveriam recair sobre os atores sociais e suas ações. 
O principal de suas ideias, em contraposição a Durkheim, é que Weber não via a 
sociedade como algo superior e exterior aos indivíduos, e sim como o resultado de 
um conjunto de ações recíprocas destes indivíduos. Baseado nesta ideia, 
estabeleceu o conceito de ação social. Nas palavras de Weber (1991, p. 3), a ação 
social “[...] significa uma ação que, quanto ao sentido visado pelo agente ou os 
agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu 
curso [...]”. Um exemplo bem simples e frequentemente adotado na escola que 
ilustra uma ação social, segundo as ideias de Weber, seria a fila. 
Os alunos vão posicionando-se em coluna, um após o outro, seguindo uma 
ordem naturalizada de agir socialmente que já faz parte do sujeito, ou seja, sua 
subjetividade já internalizou a fila como algo a ser feito. Esta é a principal diferença 
entre Weber e Durkheim, pois Weber entendia que internamente o indivíduo ia 
significando, dando sentido às coisas e, assim, ia mudando e condicionando seu 
comportamento. Outro conceito muito utilizado por Weber diz respeito à noção de 
poder, porém um poder não localizado num lugar específico, como o Estado, por 
exemplo, mas que perpassa todos os aspectos sociais e que não se relaciona 
somente com a questão econômica. Entendia a sociedade como um sistema de 
poder que se manifesta em todas as esferas: 
[...] não apenas nas relações entre classes, ou entre governantes e 
governados, mas igualmente nas relações da família, na empresa, por 
exemplo, os indivíduos se deparam a todo momento com o fato de que 
 
35 
 
indivíduos ou conjunto de indivíduos têm maior ou menor possibilidade de 
impor a sua vontade a outros. (VILA NOVA, 2013, p. 86). 
Podemos depreender do conceito do autor que este sistema de poder 
também poderá ser percebido no interior da escola. Poder representado na figura do 
professor, dos gestores escolares, dos grupos sociais com suas culturas específicas 
representados por pais e alunos, etc. Assim, o espaço da escola está sempre em 
negociação destas relações de poder dos grupos que ali convivem. Karl Marx, 
pensador alemão que nasceu em 1818 e viveu até 1883, também apresentou sua 
contribuição paraos entendimentos das relações entre os indivíduos e a sociedade 
empreendidos pela Sociologia. 
O que difere radicalmente as ideias de Marx em relação a Durkheim e Weber 
é que, para ele, as relações em sociedade não poderiam ser pensadas 
separadamente das condições materiais em que essas relações se apoiam. Ou seja, 
para viver em sociedade, o homem precisa, num primeiro momento, valer-se da 
natureza, transformá-la, erguer suas moradias, fabricar os itens que farão parte de 
sua vida cotidiana e que irão garantir sua sobrevivência. Isto era o que o autor 
chamava de produção social da própria vida e que irá embasar seus escritos, 
procurando explicar a sociedade dividida em classes, e, posteriormente, sua 
discussão contrária às ideias do capitalismo. 
Segundo as palavras de Marx (1978, p. 129): 
O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de fio 
condutor aos meus estudos pode ser formulado em poucas palavras: na 
produção social da própria vida, os homens contraem relações 
determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de 
produção estas que correspondem a uma etapa determinada de 
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. [...] não é a 
consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o 
seu ser social que determina sua consciência. 
Por ter este entendimento de como as questões materiais interferem e 
condicionam os indivíduos é que Marx irá desenvolver suas análises sobre as 
classes sociais existentes, entendendo que os indivíduos agem de acordo com o que 
é regulado no interior da classe a que pertencem. Fica nítido em suas obras o 
estudo dos embates, sobretudo, entre a classe capitalista e a trabalhadora. Destas 
ideias resumidas aqui, irá despontar o materialismo histórico proposto por Marx e 
 
36 
 
Engels, no qual emerge o caráter revolucionário na figura do cientista social como 
aquele que deveria propor mudanças radicais na organização social. 
5.2 Metodologias na pesquisa sociológica 
As primeiras pesquisas em Sociologia remontam ao início do século XX, na 
chamada Escola de Chicago (Departamento de Antropologia e Sociologia da 
Universidade de Chicago). É neste período que irão surgir marcadores importantes 
para a pesquisa científica sociológica, estabelecendo os aspectos também 
qualitativos como importantes de serem analisados, e não somente os quantitativos 
que vinham sempre sendo enfatizados e reforçados pelas Ciências Exatas como 
mais confiáveis e como os que levariam com maior exatidão ao conhecimento da 
verdade e ao estabelecimento do senso crítico científico. 
Este é um aspecto importante a ser destacado: as questões qualitativas que 
compõem os indivíduos, que constituem suas subjetividades, que fazem com que a 
sociedade também se organize, normalize e estabeleça condutas de vida devem 
fazer parte das pesquisas sociológicas para que estas consigam realizar suas 
análises com maior eficácia. Segundo Minayo (1996), as pesquisas qualitativas na 
Sociologia trabalham com significados, motivações, valores e crenças e estes não 
podem ser simplesmente reduzidos às questões quantitativas, já que respondem a 
noções muito particulares. 
Entretanto, os dados quantitativos e os qualitativos acabam se 
complementando dentro de uma pesquisa. A escolha do objeto a ser pesquisado 
pelo sociólogo estará relacionada ao rol de questões possíveis dentro do grande 
universo das interações humanas que ocorrem na sociedade. Sobre este objeto a 
ser analisado, será aplicada, num primeiro momento, uma pesquisa bibliográfica 
minuciosa, seguida, então, da aplicação dos instrumentos de coleta de dados e das 
metodologias típicas da ciência, como os questionários, as entrevistas, observações 
e pesquisas de campo. Segundo Becker (1994), por mais ingênuo ou simples nas 
suas pretensões, qualquer estudo objetivo da realidade social, além de ser norteado 
por um arcabouço teórico, conforme mencionamos, deverá informar a escolha do 
objeto pelo pesquisador e também todos os passos e resultados teóricos e práticos 
 
37 
 
obtidos com a pesquisa. Acompanhe o esquema na Figura 1 com os passos mais 
utilizados numa pesquisa sociológica: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As quatro etapas sugeridas pelo esquema anterior são importantes na 
condução de um processo sério de pesquisa sociológica e garantem o respaldo 
científico dos resultados conquistados com a mesma. Segundo Boni e Quaresma 
(2005, p. 72), “[...] as formas de entrevistas mais utilizadas em Ciências Sociais são: 
a entrevista estruturada, semi-estruturada, aberta, entrevistas com grupos focais, 
história de vida e também a entrevista projetiva [...]”. Dependendo do tipo de objeto a 
ser investigado, do acesso ao público que se requer e da disponibilidade do 
pesquisador, um destes tipos específicos poderá ser escolhido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
Fonte: www.jornaldosudoeste.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
 
A Revolução Industrial ocorrida na Europa (principalmente na Inglaterra) no 
século XVIII, mudou radicalmente a estrutura da sociedade. Homens passaram a ser 
substituídos por máquinas, que produziam mais e custavam muito menos. Isto fez 
com que os problemas sociais aumentassem, pois muitas pessoas que antes 
trabalhavam de forma artesanal, ficaram sem emprego. Eram acostumadas a uma 
forma mais lenta de vida, no meio rural, trabalhando apenas para sobreviver da 
terra. Agora passariam a trabalhar muito mais para os empresários, ganhando às 
vezes menos do que estavam ganhando antes. (SILVA, 2005). 
6.1 Divisão de classes 
A sociedade se dividiu em Burgueses, os que detinham as fábricas e 
controlavam a economia, e os Proletariados, que tinham a força de trabalho. 
 
39 
 
 
 
O capitalismo se fortaleceu, quem produzisse mais, estava acima dos outros. 
 
 
Fonte: www.cinevest.com.br 
6.2 As mudanças no mundo do trabalho 
 
Fonte: kdfrases.com 
A revolução industrial mudou a forma e a estrutura do trabalho e das relações 
de produção. Da manufatura ao trabalho nas fábricas e nas indústrias. Este ponto é 
de fundamental importância para o seu entendimento das consequências que esta 
revolução trouxe para a humanidade de forma geral, mesmo que ainda no seus 
http://www.infoescola.com/historia/capitalismo/
http://www.cinevest.com.br/materias/Tempos-Modernos-trabalho-alienado-na-Revolucao-Industrial-Entenda-melhor-o-filme%2C2%2C28
http://kdfrases.com/frase/97315
 
40 
 
primórdios é possível visualizar em longo prazo fortes transformações sentidas até 
hoje na estrutura de produção e reprodução social. 
6.3 O sentido do trabalho 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
 
A origem da palavra trabalho tem sido comumente atribuída ao latim tripalium, 
instrumento de tortura utilizado para empalar prisioneiros de guerra e escravos 
fugidios. O sentido da palavra trabalho atribuído há séculos passados é responsável 
por inúmeros preconceitos e padrão relacionados à atividade que tem atribuído uma 
separação hierárquica de funções, que irá se refletir posteriormente em 
desigualdades sociais. (SILVA, 2005). 
Assim, em sua própria terminologia, o trabalho carrega uma carga de esforço 
e desprazer, o que é extremamente compreensível em sociedades onde 
predominavam o trabalho forçado e que atividades produtivas eram desprezadas e 
executadas tão somente por escravos como na Grécia e Roma antigas, cabendo aos 
homens livres a execução de atividades intelectuais ligadas às ciências e às artes. 
http://pt.slideshare.net/leticiajahn/sociologia-o-que-trabalho
 
41 
 
Pode-se afirmar que o trabalho é o ato que o homem executa visando 
transformar conscientemente a natureza, é uma ação em que o homem media, 
regula e controla seu metabolismo com a natureza. 
 
 
Fonte: kdfrases.com 
A origem do trabalho encontra-se na necessidade de a humanidade satisfazer 
suas necessidadesbásicas, evoluindo para outros tipos de necessidades, mesmo 
supérfluas. Assim, trabalhar é produzir riqueza, o que é necessário em todos os 
modos de produção, seja no comunal primitivo, no escravista, no feudal, no 
capitalista, e mesmo nas experiências socialistas. O que muda é a forma de produzir, 
a tecnologia utilizada, e a relação entre o sujeito que produziu e o que se apropria do 
que foi produzido, que varia de acordo com a forma de organização da sociedade. 
Uma sociedade não vive sem o trabalho, na verdade, pode-se dizer que o 
homem evoluiu de sua condição animal até sua condição atual devido ao seu 
trabalho. Engels (s/d, p. 270) afirma que o homem modifica sua relação com a 
natureza devido ao trabalho. Se na condição animal ele tinha de submeter-se às leis 
da natureza, através do trabalho ele busca dominar a natureza, transforma-a em 
proveito próprio. Passa de ser dominado a ser dominante devido ao 
desenvolvimento do trabalho. 
http://kdfrases.com/frase/105389
 
42 
 
7 A VISÃO DE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO EM ÉMILE DURKHEIM 
Émile Durkheim nasceu na cidade de Épinal, na França. Iniciou seus estudos 
em sua cidade natal e continuou os mesmos em Paris, formando-se em Filosofia. Foi 
professor de pedagogia em Bordeaux e Sorbonne e depois passou a lecionar 
Sociologia. Foi o responsável pela introdução do ensino da Sociologia no ensino 
superior. Interessado pelo socialismo e influenciado por Comte, relacionou sua 
busca de um método rigoroso aos problemas sociais de seu tempo. Durkheim 
observa que cabe a Sociologia descobrir as leis da vida social, apresenta a 
Sociologia como uma ciência positiva, como um estudo metódico. (BONI e 
QUARESMA, 2005). 
 Deve-se a ele, o reconhecimento da Sociologia enquanto ciência, com objeto 
e método de estudos próprios. Deu fundamento a uma forma determinada de análise 
da sociedade – a análise funcionalista. Tal análise baseia-se na visão da sociedade 
como um organismo, à semelhança de um organismo vivo, um todo integrado, onde 
cada parte desempenha uma função necessária ao equilíbrio do todo. A 
preocupação de Durkheim foi com a ordem social e afirmava que a raiz de todos os 
males estava na fragilidade da moral contemporânea. Julgava poder apontar 
caminhos para a sociedade com a ajuda da ciência. 
Segundo ele, os valores morais constituem elementos eficazes para 
neutralizar as crises econômicas e políticas. A principal tarefa da Sociologia é o 
estudo dos fatos sociais e não dos individuais. A concepção de Sociologia se baseia 
na teoria do fato social. O objetivo de Durkheim era demonstrar que pode e deve 
existir uma Sociologia objetiva e científica, conforme as outras ciências tendo por 
objeto o fato social. Segundo ele, é fundamental ver a tendência coletiva. A tarefa da 
Sociologia é estudar a sociedade como um todo, condicionando suas partes. Para 
Durkheim, o fator social é sempre o determinante. O meio moral que serve de 
entorno aos indivíduos deve ser tomado como um dado bruto a observação do 
investigador que não deve assumir em momento algum os valores nele contidos. A 
Sociologia é o estudo dos fatos sociais. (BONI e QUARESMA, 2005). 
E fatos sociais são modos de agir que exercem sobre o indivíduo uma 
coerção exterior, com existência própria, independente das manifestações 
individuais. O fato social apresenta uma existência objetiva e não significa o 
 
43 
 
resultado de uma acumulação de fatos individuais. O social precede o individual e 
nunca é redutível a ele; a Sociologia não é uma psicologia, a causa determinante de 
um fato social deve ser buscada entre os fatos sociais antecedentes, e não entre os 
estados da consciência individual. O método para a pesquisa social deveria ser 
realizado diante do rompimento com o espiritualismo e com o subjetivismo. O 
sociólogo deve proceder como cientista, onde a Sociologia deve utilizar informações 
controláveis e provenientes de um tratamento objetivo; ela deverá ordenar os dados 
coletados para construir tipos sociais que permitam a comparação. O seu método 
deve “considerar os fatos sociais como coisas”. 
7.1 Características apresentadas pelos Fatos Sociais 
Objetividade: os fatos sociais são objetivos e são exteriores à consciência 
individual, provêm da sociedade e não do indivíduo, são próprios do grupo. O 
indivíduo os adquire para viver em sociedade, são anteriores e superiores ao 
indivíduo. Ex.: modo de vestir, língua, religião. Coerção: os fatos sociais se impõem 
ao indivíduo, exercem pressão social. Se o indivíduo tentar desviar-se do grupo 
social, sofre sanções aprovativas ou reprovativas. Generalidade e Diversidade: os 
fatos sociais são gerais, pois existem em todas as sociedades. Mas ao mesmo 
tempo, não são uniformes. Todo o fato social depende do grupo, da época, do local. 
Solidariedade Mecânica e Orgânica: nas sociedades onde predominam a 
solidariedade mecânica, os indivíduos participam de uma consciência coletiva 
comum. A solidariedade mecânica tem sua origem na semelhança dos membros 
individuais e o estado é de consciência coletiva. Nas sociedades de solidariedade 
mecânica existe um total predomínio da sociedade sobre o indivíduo. (SILVA, 2005). 
 A semelhança é muito forte entre os indivíduos e o espaço individual é 
menor. Na sociedade de solidariedade orgânica, os indivíduos estão integrados na 
sociedade e cada um depende do outro. Isto deve-se à especialização de funções e 
ao crescimento da divisão social do trabalho e a heterogeneidade entre os 
indivíduos, diminuindo a consciência coletiva. Nas sociedades arcaicas, a 
diferenciação dos indivíduos se traduz por uma solidariedade de tipo mecânico, “por 
similitude”; todos os indivíduos são semelhantes, fazem as mesmas coisas. Em 
nossas sociedades complexas, em que a divisão do trabalho é mais acentuada, a 
 
44 
 
diferenciação se faz por solidariedade orgânica: o vínculo social repousa na 
separação das atividades, repartidas de maneira complementar e mais ou menos 
parcelar. Assim, a sociedade cria o “indivíduo”, a pessoa. Anomia e Patologia: 
significa ausência de normas. (BONI e QUARESMA, 2005). 
Segundo Durkheim, os problemas sociais tinham sua origem na ausência de 
normas. O mundo moderno, que trouxe liberdade aos indivíduos, trouxe também 
excesso de egoísmo e individualismo. Os códigos morais entraram em declínio, e a 
falta de orientações morais gerou a falta de regras. 
A anomia moderna tem por origem uma nova forma de divisão do trabalho 
social – separação das atividades de concepção e de execução, e especialização 
das tarefas – que favorece o individualismo. As partes da sociedade que não 
estavam integradas e não contribuíam para o bom funcionamento do todo eram, 
para Durkheim, chamadas de fatos sociais patológicos. Os comportamentos 
patológicos (regras sociais falhas) representam “doenças”. Tais comportamentos 
representam a falta de cumprimento de função de cada um e atrapalham o bom 
andamento do todo. Funcionalismo: a ideia funcionalista não tem origem com 
Durkheim, mas ele a tomou de Darwin e Spencer. O funcionalismo compara a 
sociedade com um organismo vivo em que cada parte desempenha sua função. Se 
cada parte desempenha bem sua função, o todo vai bem. Se uma parte do 
organismo falha, todo o organismo se ressente. No modo de ver funcionalista, a 
sociedade é como um organismo integrado em que cada parte deve cumprir sua 
função. E, se existem problemas na sociedade, é porque as partes não estão 
suficientemente integradas. (BONI e QUARESMA, 2005). 
Cabe à Sociologia localizar as partes que não estão bem integradas e 
restaurar o funcionamento normal. Sociedade e Indivíduo: para Durkheim, a 
sociedade é superior e tem precedência sobre o indivíduo. A vida social se explica 
pela sociedade e não pelo indivíduo. As estruturas sociais funcionam 
independentemente dos indivíduos e condicionam suas ações. A sociedade age 
sobre os indivíduos e modela suas

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