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02-P. Limitadores Função Punitiva Estado - Prof. PES

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�Direito Penal I 
Profº. Paulo Eduardo Sabio
Direito Penal – Aula 02 
Princípios Limitadores da Função Punitiva do Estado
Lei Penal em Branco
Princípio da Legalidade
Princípio da Fragmentariedade
Princípio da Intervenção Mínima 
Princípio da Humanidade
Princípio da Insignificância 
Princípio da Culpabilidade
Lei Penal em Branco
1. Considerações Iniciais
	
 Nessa nossa segunda aula estudaremos, basicamente, os princípios limitadores da função punitiva do Estado, e, ao final, abordaremos ainda a denominada Lei Penal em Branco. 
Pois bem: Comecemos com o tão falado “Princípio da Legalidade”. 
2. Princípio da Legalidade
2.1. Considerações Gerais
	Tal princípio rege o ordenamento jurídico como um todo�, e não apenas o Direito Penal. Entretanto, em cada ramo do direito ele adquire um contorno diferenciado. 
Sendo que: se este princípio é importante para o ordenamento jurídico como um todo, mais ainda será para o Direito Penal, em virtude da natureza das sanções por ele impostas aos indivíduos e da gravidade dos meios que o Estado emprega na repressão dos delitos. 
Em outros termos: o Princípio da Legalidade tem importância capital para o Direito Penal, pois tal ramo do Direito é, por excelência, o maior limitador da liberdade individual em prol do bem comum, no entanto, este poder de limitação da liberdade não pode ser “arbitrário”. E para combater qualquer espécie de arbitrariedade, nada melhor do que o nosso bom e velho princípio da legalidade. Pode-se, portanto, afirmar que o princípio em estudo é a limitação do limitador. 
Saiba que: o princípio da legalidade é um dos principais pilares de sustentação do denominado Estado de Direito, e vem, tal princípio, insculpido no artigo 5º, incisos II e XXXIX da Constituição Federal e no artigo 1º do Código Penal. Vamos dar uma olhada nos referidos dispositivos: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
( ... ) 
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar alguma coisa senão em virtude de lei; 
( ... ) 
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina e nem pena sem prévia cominação legal. 
Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
2.2. Princípio da Legalidade: Breve Histórico
Antes de adentrarmos nos aspectos técnicos do princípio da legalidade, convém falarmos um pouco de seus aspectos históricos, mesmo que de forma sucinta. Em termos precisos, o princípio da legalidade foi formulado pela primeira vez na Declaração dos Direitos dos Homens, em 1789, durante a Revolução Francesa. Preceituava, tal diploma legal, que ninguém será punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada� anteriormente ao delito, e legalmente aplicada.
Sendo que: após esta primeira aparição efetiva, o princípio da legalidade foi inserido em todas as constituições dos povos cultos�. Entre nós, ele surgiu na Constituição de 1824, que preceituava que ninguém será sentenciado senão pela autoridade competente e em virtude de lei anterior, e na forma por ela prescrita. 
Saiba que: embora tenha sofrido algumas pequenas alterações, o princípio da legalidade foi inserido em todas as constituições brasileiras subseqüentes. 
Além do que: Não se tem dúvidas de que o princípio da legalidade representa uma das mais importantes conquistas de índole política inscrita nas constituições de todos os regimes democráticos e liberais. 
Isto porque: Como já fora anteriormente exposto, este princípio se constitui em sendo uma efetiva limitação ao direito de punir do Estado. 
Perceba que: sempre se soube que o poder punitivo estatal precisava ser controlado, e que este “controle” deveria coibir a ocorrência de qualquer tipo de arbitrariedade ou excesso, do poder punitivo. E para o exercício deste “controle”, tem-se como principal instrumento, o princípio da legalidade. 
A propósito: o princípio em estudo, tal como dissemos anteriormente, vem insculpido no artigo primeiro do Código Penal. Vejamos, mais uma vez, o dispositivo: 
Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
A propósito: não se esqueça que o princípio da legalidade tem como fundamento, também, o artigo 5º, incisos II e XXXIX da Constituição Federal, sendo que, tais incisos podem assim serem transcritos: 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” 
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. 
2.3. Princípio da Legalidade: Aspectos Políticos e Jurídicos 
	Diz-se que o princípio da legalidade tem um dúplice aspecto: um político e um jurídico. Vejamos cada um desses aspectos: 
Aspecto Político: o aspecto político do princípio da legalidade se origina do fato de este ser uma garantia individual dos direitos do homem. Como bem leciona Luiz Régis Prado, o seu fundamento político radica, principalmente, na função de garantia da liberdade do cidadão frente a intervenção estatal arbitrária por meio da realização da certeza do direito. 
Aspecto Jurídico: o princípio em tela, por óbvio, também possui um aspecto jurídico, técnico. E sob o prisma jurídico, tal princípio impõe que apenas se possa taxar de criminosa uma determinada conduta quando existir perfeita correspondência entre a conduta praticada e o dispositivo legal. 
A propósito: Não se pode esquecer que o ilícito penal não pode ser estabelecido de maneira imprecisa. Deve haver uma descrição pormenorizada da conduta, sob pena de se suprimir a segurança jurídica, que é uma das bases da convivência harmoniosa em sociedade, por isso que, via de regra, os tipos penais são fechados, tal como dissemos na aula passada. 
Saiba que: o princípio da legalidade corresponde, em verdade, a uma das aspirações mais básicas e fundamentais do homem, que é a de ter uma proteção contra qualquer forma de abuso por parte do Estado quando este for exercer o jus puniendi ( direito de punir). É necessário que a liberdade do cidadão não seja suprimida pelo Estado, senão nos casos previstos em lei. 
2.4. Princípio da Legalidade e Tipicidade
	Afirma, a maioria da doutrina, que a teoria da tipicidade conferiu mais técnica ao princípio da legalidade. 
Saiba que: a tipicidade pode ser definida como sendo a perfeita adequação de uma conduta humana à um tipo penal, a uma norma penal incriminadora�. E o um tipo penal, por sua vez, pode ser definido como sendo a descrição abstrata de um fato real, que a lei proíbe. Tal como ensina-nos o Profº. Luiz Régis Prado, o tipo penal vem a ser o modelo, o esquema conceitual da ação ou omissão vedada. 
Sendo que: tal como leciona a maioria da doutrina, tem utilidade inquestionável a teoria do tipo, concebida em 1907, por Ernst Beling. E isto se afirma pois é o tipo penal que realiza e garante o princípio da legalidade. 
Em outras palavras: o princípio em estudo, como se viu, preceitua que não haverá crime sem lei que o defina, e tal definição é feita através do tipo penal. 
Pode-se concluir, portanto, que: o tipo penal confere aplicabilidade ao princípio da reserva legal. 
A propósito: sobre “tipo penal” e “tipicidade” mais se estudará, no momento adequado. 
2.5 Princípio da Legalidade e Anterioridade da Lei
	
O artigo 1º do Código Penal, que já foi transcrito anteriormente, abarca dois aspectos: o da legalidade em si, e o da anterioridade da lei. 
Sendo que: o aspecto da legalidade, propriamente dito reserva ao campo da “lei” a tarefa de descrever crimes e cominar penas ( não há crime sem lei que o defina), e o aspecto da anterioridade se evidencia através da expressão “lei anterior”. 
Ou seja: faz-se necessário que a lei definidora de um crime esteja em vigor na data do fato� . Para que se puna alguém pela prática de uma conduta delituosa, sua leidefinidora têm que estar em vigor no momento da ação ou omissão. 
Preste Atenção à um aspecto de extrema importância: o artigo 1º do Código Penal determina que não há crime sem lei que o defina, e isso já foi anteriormente exposto. Entretanto, cumpre assinalar que o dispositivo legal em comento usa a expressão “lei” em sentido estrito. 
Em outros termos: apenas a lei, na sua acepção formal e estrita, emanada e aprovada pelo Poder Legislativo, por meio de procedimento adequado, poderá criar tipos e impor penas. Tal como bem assevera o Profº Fernando Capez, nenhuma outra fonte subalterna pode gerar a norma penal. 
Sendo assim: apenas o Poder Legislativo, em virtude de sua legitimidade democrática pode, através de lei, criar crimes e cominar penas. 
Resumindo: o princípio da legalidade, como maior limitador do poder punitivo estatal, determina que não se pode conceber um conduta criminosa, sem prévia e expressa tipificação legal.
3. Outros Princípios Limitadores da Função Punitiva do Estado
3.1. Considerações gerais
O princípio da legalidade, por si só , não é suficiente para coibir eventuais abusos estatais. 
Pare e pense: se o princípio da legalidade atuasse isoladamente, nada impediria, por exemplo, que o legislador incriminasse a conduta de por fim a um relacionamento amoroso. Imaginemos o seguinte dispositivo: 
Art. (....) Por fim a um relacionamento amoroso sem que a outra parte contribua ou consinta para tanto. 
Pena: 01 (um) à 03 (três) anos de reclusão e multa 
Perceba que: o “suposto” dispositivo não afronta o princípio da legalidade. É formalmente legal. Entretanto, não se tem dúvidas de que a incriminação de uma conduta como a usada no exemplo supra se configura em sendo um abuso do poder punitivo do Estado. 
Ou seja: se é verdade que seria uma arbitrariedade punir alguém por uma conduta não descrita da lei penal, igualmente o seria classificar como crime condutas inofensivas à sociedade. 
Por isso que: para que se evitem abusos como o dado no exemplo, outros princípios existem que ajudam na tarefa de impor limites ao poder punitivo Estatal. Vejamos quais são eles: 
Princípio da Fragmentariedade: dita este princípio que o direito penal não protege todos os bens jurídicos de eventuais violações, mas apenas os mais importantes. Sendo que, acerca deste princípio, interessante observação é feita pelo Profº. Luiz Régis Prado: “este princípio impõe que o direito penal continue a ser um arquipélago de pequenas ilhas no grande mar do penalmente irrelevante”. 
Em outras palavras: o direito penal, segundo o Princípio da Fragmentariedade, deve se ocupar de reprimir apenas as condutas mais danosas a sociedade. Sendo que, cumpre ter em mente que este princípio é corolário do princípio da insignificância, que será estudado logo adiante.. 
A propósito: o direito penal limita-se a castigar as ações mais graves, praticadas contra os bens jurídicos mais importantes. Por isso se afirma que ele é fragmentário. Porque ele se ocupa de tutelar apenas uma parte dos bens juridicamente protegidos, quais sejam, os mais importantes. 
Princípio da Intervenção Mínima: de acordo com este princípio, o legislador deve evitar a definição desnecessária de crimes�. 
Ou seja: o direito penal, segundo o Princípio da Intervenção Mínima, só deve intervir quando for realmente necessário para a sobrevivência da comunidade. 
Saiba que: o direito penal, tal como apregoa a maioria dos doutrinadores deve funcionar como ultima ratio ( último recurso), uma vez que, tal como ensina-nos o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, se outras formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem-se suficientes para a tutela de um determinado bem, sua criminalização será inadequada e não-recomendada. 
Em outros termos: Diz-se que o Direito Penal deve ser a ultima ratio ( o último recurso) pois só deve atuar quando os demais ramos do direito se mostrarem ineficazes para dar a devida proteção aos bens jurídicos mais relevantes da sociedade. O penalista supracitado conclui dizendo que antes de se recorrer ao Direito Penal, deve-se esgotar todos os meios extrapenais de controle social. 
Saiba que: o principal objetivo da chamada intervenção mínima, segundo a doutrina, é o combate à denominada “inflação legislativa”. Isto porque, segundo alguns doutrinadores os legisladores têm criminalizado condutas sem um mínimo de critério, entrando em confronto, assim, com o princípio em questão. 
Sendo que: esta inflação legislativa prejudica a força intimidativa das sanções penais, e pode levar o Direito Penal ao descrédito total. De fato, cremos que o Direito Penal deva ser encarado como ultima ratio e não como prima ratio ( primeiro recurso) na solução de conflitos sociais. 
3.4. Princípio da Humanidade: uma das principais buscas do Direito Penal, ao longo de seu desenvolvimento, é a humanização das penas. Se olharmos atentamente para a história do Direito Penal, poderemos constatar que se evoluiu, no tocante às penas, das penas de morte às penas privativas de liberdade e destas se está passando, de forma gradativa, às penas alternativas. 
Ou seja: em linhas gerais, pode se afirmar que o conceito de retribuição pela prática delituosa está se modificando. Sendo que, por força deste princípio, os chamados “Estados de Direito” vedam qualquer espécie de pena que possa atentar contra a dignidade humana. 
Tenha em mente, ainda, que: segundo alguns doutrinadores, este princípio é um dos principais obstáculos à adoção da pena de morte e da prisão perpétua. 
Olhe só que interessante: você sabia que a Constituição Federal não veda de maneira absoluta a pena de morte ? É verdade, pois o artigo 5º, inciso XLVIII da Constituição preceitua que não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada. 
Acerca do princípio da humanidade, tenha em mente que: segundo ele ( Princípio da Humanidade), o réu deve ser tratado como pessoa humana. 
Por outro lado: o Direito Penal não deve perder seu caráter retributivo�, e via de regra, a retribuição não pode ser conseguida sem que se atribua um mínimo de dor e sofrimento ao delinqüente. 
Ou seja: Também não podemos transformar o Direito Penal num direito de premiação pelos delitos e assistência aos criminosos. 
Sendo assim: o que se busca com este princípio, é que nenhuma pena privativa de liberdade, ou qualquer outra, atente contra a incolumidade da pessoa enquanto ser social. Tal como leciona o Profº Cézar Roberto Bitencourt, dentro destas fronteiras, impostas pela natureza de sua missão, todas as relações reguladas pelo Direito Penal devem ser presididas pelo princípio da humanidade. 
A propósito: vamos ver alguns dispositivos constitucionais que consagram este princípio: 
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
(...) 
III – a dignidade da pessoa humana. 
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade, nos termos seguintes: 
( ...) 
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; 
3.5. Princípio da Insignificância: pode-se expor, de início, que de acordo com este princípio, devem ser consideradas atípicas� as ações ou omissões que afetem de maneira insignificante um bem penalmente protegido. Está, este princípio, ligado aos chamados “delitos de bagatela”. 
Ou seja: este princípio, que foi formulado por Claus Roxin, em 1964, recomenda que a Lei Penal não se preocupe com infrações de pequena monta. 
A propósito: convém expor que o que este princípio afasta é a tipicidade de uma conduta criminosa, em particular, em virtude de sua insignificância, entretanto, de forma genérica, a conduta continua a ser considerada como crime. 
Preste muita atenção:não se pode afirmar que os chamados delitos de menor potencial ofensivo� sempre serão abrangidos pelo princípio em tela. Aos delitos de menor potencial ofensivo, o legislador impôe conseqüências jurídico-penais, valorando tais condutas como social e penalmente relevantes. Já nos chamados crimes de bagatela, não se impõe qualquer sanção penal. 
Preste muita atenção: cumpre atentar para a opinião do Profº Fernando Capez, acerca do princípio da insignificância, que pode assim ser transcrita: 
“Entendemos que o princípio da insignificância não tem base legal. Se a infração tem pequeno potencial ofensivo, deve incidir a Lei 9009 ( Lei dos Juizados Especiais Criminais) e seus institutos despenalizadores, não justificando deixar o juiz de aplicar a lei.” 
Entretanto: nós, particularmente, entendemos que os critérios usados para a aplicação do princípio da insignificância são totalmente diferentes dos critérios usados pelo legislador para definir os crimes de menor potencial ofensivo. Para definir estes, se leva em conta a pena máxima, cominada abstratamente, enquanto que os delitos de bagatela são assim considerados, em cada caso concreto, em virtude da ínfima lesividade da conduta, independente da pena máxima cominada em abstrato. 
3.6. Princípio da Culpabilidade: este princípio consagra a máxima de que não há crime sem culpabilidade. E por mais obvio que tal preceito possa parecer, cumpre aclarar que em seus primórdios, o Direito Penal vigorava com base na chamada responsabilidade objetiva, onde se responsabilizava o agente pela simples causação do resultado, ou seja, antigamente havia crime sem culpabilidade. 
Mas: felizmente, esta tal de responsabilidade penal objetiva está praticamente extinta. 
A propósito: sobre esta tal de “culpabilidade” mais se falará no momento oportuno, no entanto, desde já convém ter me mente que esta ( culpabilidade), tal como nos ensina o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros pode ser entendida como sendo o juízo de censura que recai sobre a formação e a manifestação de vontade do agente, com o objetivo de imposição de pena. 	
4. Lei Penal em Branco�: 
4.1. Considerações gerais
Afinal, o que vem a ser esta tal de Lei Penal em Branco ( ou cega ou aberta) ?. Em verdade o termo “lei em branco” foi usado pela primeira vez por Binding, que usou o termo para designar as leis penais cuja pena é determinada, porém, o preceito que se liga a esta sanção é incompleto, ou indeterminado. 
Ou seja:. Tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, a Lei Penal em branco é aquela cuja definição da conduta criminosa é complementada por outra lei. 
Preste atenção: usamos o termo lei, no parágrafo acima, em sentido amplo, haja vista que o complemento das normas penais em branco podem se originar de qualquer espécie legislativa. 
A propósito: para melhor ilustrar nossa exposição, temos por indispensável a exposição de alguns exemplos: 
	
A lei 6368/75, mais conhecida como Lei de Tóxicos, em seu artigo 12 define o crime de importar, exportar, remeter, etc...substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica . Pois bem, por substância entorpecente, não podemos entender senão aquelas assim classificadas pelo Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ( ANVISA). 
Sendo assim: Como se pode perceber pelo presente exemplo, o dispositivo incriminador, por si só, não tem exeqüibilidade, haja vista depender de uma outra lei para sua complementação, que, no caso, é a portaria do Ministério da Saúde, que relaciona quais substâncias devem ser consideradas “entorpecentes”. 
Perceba que: o conceito de “substância entorpecente” não está contido no tipo penal que cuida de incriminar o “tráfico”. A lei diz “substância entorpecente”, mas quem diz quais são estas substâncias entorpecentes é o Ministério da Saúde através, como já disse, da ANVISA. 
Peguemos agora como exemplo o artigo 269 do Código Penal, que assim preceitua: 
Art. 269. Deixar o médico de denunciar à autoridade pública, doença cuja notificação é compulsória. 
Pena – detenção de 6 ( seis) meses a 2 ( dois ) anos, e multa. 
Saiba que: as tais “doenças de notificação compulsória” estão arroladas em portaria do Ministério da Saúde, e, portanto, a norma penal supracitada, como se pode perceber, é incompleta e necessita que se busque um conceito extrapenal para sua efetiva aplicação. Ou seja: é uma lei penal em branco. 
Vejamos outro exemplo, para que fique bem clara a idéia de “norma penal em branco”: 
A lei 1.521/ 51, que define os crimes contra a economia popular, em seu artigo 2º, inciso VI, impõe pena de detenção de 6 ( seis ) meses à 2 ( dois) anos e multa à quem transgredir tabelas oficiais de gênero e mercadoria. Como se pode notar, a aplicação do referido dispositivo depende de expedição de portarias administrativas com as tabelas oficiais de preços. Segundo Damásio Evangelista de Jesus, estas “tabelas” de preço completam a norma penal incriminadora. 
Preste muita atenção: em verdade, não é a toa que existe a chamada lei penal em branco. Sendo que, por vezes, algumas das matérias reguladas pelo Direito Penal são extremamente dependentes de fatores histórico-culturais, sendo que tal dependência exige uma atividade normativa constante e variável. 
Continue prestando atenção: o dispositivo incriminador “básico”, o preceito normativo incompleto, é estável e emanado do Poder Legislativo através de um demorado processo de criação. Entretanto, as mutações indispensáveis à coerente aplicação da norma ocorrem através de processos legislativos menos complexos, de maior maleabilidade�. 
Em outras palavras: se estes “fatores altamente variáveis” fossem introduzidos no ordenamento jurídico através do complexo procedimento usado para a elaboração da “norma-base”, o estatuto repressivo ficaria ultrapassado de tal maneira que sua aplicabilidade ficaria seriamente comprometida. 
4.2. Classificação das Normas Penais em Branco 
4.2.1. Norma Penal em Branco em Sentido Lato ou Norma Penal em Branco Homogênea: nesta espécie, segundo Damásio Evangelista de Jesus, o complemento da norma é determinado pela mesma fonte material encarregada de elaborar a norma incompleta, a norma-base. Diz-se homogênea pois há homogeneidade de fontes. 
A propósito: vejamos alguns exemplos desta espécie de norma penal em branco: 
Art. 178. Emitir conhecimento de depósito ou warrant em desacordo com disposição legal. 
Pena – reclusão de 1 ( um ) a 4 ( quatro) anos e multa. 
Perceba que: tal dispositivo deve ser complementado pelo diploma legal que dita regras sobre o conhecimento de depósito ou warrant. Precisamos saber se houve uma desobediência a “disposição legal” referida no artigo. E esta disposição legal, este complemento, vem do Direito Comercial, que é emanado da mesma fonte do Direito Penal, qual seja, a União. 
Saiba que: é a própria Constituição Federal que dita que à União cabe legislar sobre Direito Penal e Direito Comercial. Vamos ver o dispositivo constitucional que embasa esta nossa afirmação: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho. 
Como se vê: tanto a norma penal em branco ( art. 178 do CP), como seu complemento são originários da mesma fonte, ou seja, há uma homogeneidade de fontes.. 
4.2.2. Lei Penal em Branco em Sentido Estrito ou Lei Penal em Branco Heterogênea: nestes casos, o “complemento” da norma penal em branco é originário de outra fonte legislativa, de outro órgão legiferante. As fontes formais da norma penal em branco e do seu complemento, nestes casos, não se confundem, são heterogêneas. 
Peguemos como exemplo desta espécie o artigo 268 do Código Penal, que assim reza: 
Art. 268. Infringir determinação do poder público, destinada a impedir a introdução ou a propagação de doença contagiosa: 
Pena – detenção, de 1 ( um) mês a 1 ( um ) ano, e multa.Perceba que: quando o dispositivo em apreço fala em “infringência à determinação do poder público”, entenda-se: editais e portarias oficialmente publicados, e tais medidas, segundo Damásio Evangelista de Jesus, podem advir do Poder Público Estadual ou Municipal. Sendo assim, pode acontecer de o complemento da norma penal em branco, neste caso, seja oriunda de outra fonte legislativa, o que nos leva a crer que estamos diante de uma chamada lei penal em branco heterogênea ou lei penal em banco em sentido estrito 
Veja que interessante: quando se estuda a Lei Penal em Branco, pode surgir a seguinte questão: o complemento da norma penal em branco é parte integrante desta ? Esta questão se reveste de extrema importância, haja vista que ao afirmar, como faz a maioria da doutrina, que o “complemento” é parte integrante da norma penal em branco, tem-se que admitir que, excepcionalmente, o conteúdo da lei penal pode ser elaborado por órgão diferente da União, que é, segundo a Constituição, o órgão que tem legitimidade para tal. 
Sendo assim: para solucionar esta questão, os doutrinadores sempre citam o pensamento de Soler, que dizia que “a lei penal em branco, que defere a outro a fixação de determinadas condições, não é nunca uma carta branca outorgada a esse poder para que assuma funções repressivas, e sim, o reconhecimento de uma faculdade meramente regulamentar”. 
A propósito: segundo a doutrina, para que a técnica legislativa da norma penal em branco não ofenda o princípio da legalidade, a norma penal incompleta deve fixar com precisão os limites de sua integração com outra norma. Isso porque, segundo Luiz Regis Prado, o caráter delitivo da ação ou omissão só poder ser delimitado pelo Poder competente, qual seja, o Poder Legislativo. 
	
Questão Problema
	Madalena era secretária de um poderoso executivo, e deixou de repassar a ele um recado de extrema importância, fato este que acabou por gerar sérios prejuízos a empresa, haja vista que tal recado versava sobre uma importante negociação que teria que ser concluída naquele dia, pois a pessoa com quem o chefe de Madalena iria negociar estava com passagem comprada para a Antártida, onde iria passar alguns anos, fazendo alguns estudos sobre a região. O chefe de Madalena, por ter deixado de lucrar vultuosa soma, ficou extremamente enraivecido e comentou o fato com um de seus amigos, que era um juiz de direito totalmente maluco, e que acabou por prender a pobre Madalena. 
Na sua opinião, quais dos princípios ora estudados foram feridos com esta absurda prisão ? Porque ? Faça alguns comentários sobre os princípios que, eventualmente, possam ter sido feridos com a decisão do juiz insano.
Quadro Sinóptico
1. Princípio da Legalidade: rege o ordenamento jurídico como um todo e não apenas o Direito Penal, e em cada ramo do Direito ele adquire um contorno diferenciado. 
2. Para o Direito Penal, que é, por excelência, o maior limitador da liberdade individual em prol do bem comum, este princípio é de suma importância, pois ajuda a coibir eventuais abusos estatais. 
3. Base legal do Princípio da Legalidade: artigo 5º, incisos II e XXXIX da Constituição Federal e artigo 1º do Código Penal. 
4. Princípio da Legalidade – Aspecto Político: seu fundamento político reside na função de garantia da liberdade do cidadão frente a intervenção estatal arbitrária. 
5. Princípio da Legalidade – Aspecto Jurídico: segundo este principio, apenas podem ser consideradas criminosas as condutas devidamente tipificadas, devidamente descritas em lei, e nesta limitação reside o aspecto jurídico do Princípio da Legalidade. 
6. Princípio da Legalidade e Tipicidade: a teoria da tipicidade conferiu mais técnica ao Princípio da Legalidade. É o tipo penal que realiza e garante o Princípio da Legalidade. Ou seja: a tipo penal confere aplicabilidade ao Princípio da Legalidade. 
7. Princípio da Legalidade e Anterioridade da Lei: o artigo 1º do Código Penal abriga dois aspectos, quais sejam: a legalidade e a anterioridade. 
8. Da Anterioridade da Lei Penal: não basta que exista uma lei que defina o crime. É necessário ainda que esta lei seja anterior á prática do fato, é necessário que a lei definidora de um crime esteja em vigor na data do fato. 
9. Outros Princípios limitadores da função punitiva estatal: o Princípio da Legalidade, atuando por si só não é suficiente para coibir eventuais abusos estatais. Para evitar de maneira eficiente a ocorrência de eventuais abusos estatais, é imprescindível que outros princípios atuem juntamente com o Princípio da Legalidade. Vamos relembrar quais são os princípios que atuam juntamente com o Princípio da Legalidade: 
a. Princípio da Fragmentariedade: dita este princípio que o direito penal não protege todos os bens jurídicos de eventuais violações, mas apenas os mais importantes
b. Princípio da Intervenção Mínima: de acordo com este princípio, o legislador deve evitar a definição desnecessária de crimes 
c. Princípio da Humanidade: por força deste princípio, os chamados “Estados de Direito” vedam qualquer espécie de pena que possa atentar contra a dignidade humana. 
d. Princípio da Insignificância: de acordo com este princípio, devem ser consideradas atípicas as ações ou omissões que afetem de maneira insignificante um bem penalmente protegido
e. Princípio da Culpabilidade: este princípio consagra a máxima de que não há crime sem culpabilidade. 
10. Lei Penal em Branco: é aquela lei cuja definição da conduta criminosa é complementada por outra lei. Vamos relembrar as classificações da lei penal em branco: 
a. Norma Penal em Branco em Sentido Lato ou Norma Penal em Branco Homogênea: nesta espécie, segundo Damásio Evangelista de Jesus, o complemento da norma é determinado pela mesma fonte material encarregada de elaborar a norma incompleta, a norma-base
b. Lei Penal em Branco em Sentido Estrito ou Lei Penal em Branco Heterogênea: nestes casos, o “complemento” da norma penal em branco é originário de outra fonte legislativa, de outro órgão legiferante.
 
� - Tanto que o art. 5º, inciso II da Constituição Federal, assim preceitua: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. 
� - Cabe aqui diferenciar uma lei promulgada de uma lei “outorgada”. Uma lei promulgada é aquela que se valeu de meios democráticos para ingressar no ordenamento jurídico, e uma lei outorgada, ao contrário, é imposta à sociedade, se vale do autoritarismo dos governantes de uma determinada nação para fazer valer os direitos que a estes interessam. 
� - Damásio Evangelista de Jesus
� - Que como se viu na aula passada, são normas penais que definem crimes e estabelecem as respectivas sanções
� - Ressalvada a “retroatividade benéfica”, que será estudada na próxima aula. 
� - Pode parecer que os princípios em estudo por vezes se confundem, mas na verdade, se completam. 
� - O caráter retributivo do Direito Penal podem ser resumido na seguinte assertiva: todo mal praticado contra a sociedade deve se retribuído, compensado. Lembra daquele velho dito popular que diz que “quem fez tem que pagar ”? Em linhas gerais, assim pode ser explicado o caráter retributivo do Direito Penal.
� - Ou seja, desprovidas de “tipicidade” . Lembra da “tipicidade” ? Já falamos sobre ela nesta aula. 
� - De acordo com o artigo 61 da Lei 9099/95, consideram-se crimes de menor potencial ofensivo as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 1 ( um ) ano, excetuado os casos em que a lei preveja procedimento especial. Entretanto a Lei que criou os Juizados Especiais Federais mudou tal conceito, e agora consideram-se crimes de menor potencial ofensivo as infrações a que lei comine pena máxima não superior a dois anos, inclusive os casos em que a lei preveja procedimento especial. Mas ainda existe muita discussão acerca do tema. 
� - Que já foi citada na aula passada, quando falamos um pouco sobre a classificaçãodas infrações penais. 
� - Luiz Regis Prado 
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