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03-Âmbito de Eficácia da Lei Penal – P-I - Prof

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Direito Penal I 
Profº. Paulo Eduardo Sabio 
Ensino Jurídico à Distância 
1
Direito Penal I – Aula 03 
 
Âmbito de Eficácia da Lei Penal 
 
 
 Lei Penal no Tempo 
 
 Leis Excepcionais e Temporárias 
 
 Extra-atividade da Lei Penal 
 
 Hipóteses de Conflito de Leis Penais no Tempo 
 
 Tempo do Crime 
 
 
 
1 – Considerações Iniciais 
 
Nesta aula, começaremos a ver que a lei penal, assim como 
qualquer outra lei, não tem eficácia universal e permanente, ou seja, não vige 
em todo o mundo e nem é eterna1. A limitação do âmbito de eficácia da lei 
penal pode ser estudada sob três aspectos, quais sejam: 
 
 A – Lei Penal no tempo 
 
 
B – Lei Penal no espaço 
 
 
C – Em relação às funções exercidas por certas e determinadas pessoas 
 
 
A propósito: feitas estas sucintas considerações, convém estudarmos cada 
uma das três formas de limitação da “área de alcance” da lei penal, sendo que, 
num primeiro momento trataremos dos aspectos relativos à “Lei Penal no 
Tempo”. 
 
 
 
 
 
 
1 - Como nos ensina Damásio Evangelista de jesus 
Direito Penal I 
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2
2 - Lei Penal no Tempo 
 
 
Antes de explicarmos um pouco sobre a eficácia da lei penal no 
tempo, temos por extremamente conveniente que se faça uma atenta leitura 
aos dispositivos legais que cuidam do tema, pois, por óbvio, todo e qualquer 
estudo jurídico sobre um determinado tema deve se iniciar com uma análise 
dos artigos de lei que o regulam, por serem estes a fonte primária de 
interpretação. 
 
Saiba que: com o intuito de facilitar a leitura supra recomendada, trataremos, 
tanto nesta como em aulas futuras, de transcrever os artigos de lei relativos ao 
tema em estudo, que, neste momento, diz respeito à Lei Penal no Tempo. 
 
Não se esqueça que: por óbvio, os negritos e notas inseridos nos dispositivos 
transcritos, não constam nos textos legais originais, e aqui são usados por 
questões didáticas, para facilitar o estudo e compreensão de temas que, por 
vezes injustamente, são encarados como verdadeiros “monstros” pela 
comunidade acadêmica. Passemos aos dispositivos então: 
 
 
Lei Penal no Tempo2 
 
Art. 2º Ninguém poderá ser punido por fato 
que lei posterior deixar de considerar 
crime, cessando em virtude dela a execução 
e os efeitos penais3 da sentença 
condenatória. 
 
Parágrafo Único. A lei posterior que, de 
qualquer modo favorecer o agente, aplica-
se aos fatos anteriores, ainda que 
decididos por sentença condenatória 
transitada em julgado. 
 
 
2 - Via de regra, os dispositivos legais transcritos, em nossas aulas, constam, originalmente, do Nosso Código Penal 
vigente. Então quando se vê, por exemplo, “Art. 2º...”, estamos transcrevendo o artigo 2º do Código Penal 
3 - Note que a Lei fala em efeitos penais, subsistindo, portanto, os efeitos civis, como por exemplo, a obrigação de 
indenizar. 
Direito Penal I 
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3
Lei Excepcional ou Temporária 
 
Art. 3º A Lei excepcional ou temporária , 
embora decorrido o período de sua duração4 
ou cessadas as circunstâncias que a 
determinaram5, aplica-se ao fato praticado 
durante sua vigência. 
 
Tempo do Crime 
 
Art. 4º Considera-se praticado o crime no 
momento da ação ou omissão, ainda que 
outro seja o momento do resultado. 
 
Pois bem: Feita a leitura de alguns dos dispositivos legais pertinentes a aula 
de hoje, é chegado o momento de fazermos algumas explicações. Passemos a 
elas. 
 
Veja: assim como todos os diplomas legais existentes em nosso ordenamento 
jurídico, é evidente que a lei penal nasce, vive e morre, sendo que, convém que 
façamos uma breve exposição acerca de cada um dos momentos cruciais de 
uma lei . São eles: 
 
 
 Sanção: É o ato pelo qual o Presidente da República, expressa ou 
tacitamente, anui ao projeto que lhe foi remetido pelo Congresso Nacional. 
Em outras palavras: a sanção é o ato através do qual o Presidente da 
República expressa sua concordância com um determinado projeto de lei 
que lhe foi enviado pelo Congresso Nacional. 
 
 
 Promulgação: é o ato pelo qual o Executivo autentica a lei, isto é, atesta 
sua existência ordenando sua aplicação e conseqüente cumprimento. Ou 
 
4 - Leis Temporárias ( serão estudadas logo adiante, ainda nesta aula) 
5 - Leis Excepcionais (serão estudadas logo adiante, ainda nesta aula) 
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seja, é o ato que faz nascer a lei, autorizando a deflagração6 de seus 
efeitos. É o ato que confere existência à lei e proclama sua executoriedade. 
 
 Publicação: é o ato por intermédio do qual dá-se conhecimento da lei aos 
seus destinatários, tornando-a, portanto, eficaz e exigível. Na verdade é 
uma condição de exigibilidade e não de formação da lei, uma vez que não 
se pode exigir de um determinado cidadão que este cumpra uma lei que 
não teve como saber que existia, sendo que tal assertiva se constitui em 
sendo uma das premissas básicas de nosso ordenamento jurídico. 
 
Exemplificando: O novo Código Civil foi publicado em 10 de janeiro de 2002, 
e só começou a ter eficácia, ou seja, “validade”, em 10 de janeiro de 2003, uma 
vez que o artigo 2044 do referido diploma legal dispõe que ele entraria em vigor 
um ano após sua publicação. 
 
A propósito: a função deste lapso temporal, existente entre a publicação e o 
início da vigência de uma lei nova7, é possibilitar que os operadores do Direito 
e os cidadãos possam tomar conhecimento das regras às quais terão que se 
submeter à partir do início da vigência desta lei. 
 
 
 Revogação: é o ato pelo qual o poder competente faz cessar a 
obrigatoriedade de uma determinada lei. Sobre o assunto “revogação”, é 
importante que se atente para o artigo 2º da LICC8 ( Lei de Introdução ao 
Código Civil), que assim determina: “Não se destinando à vigência 
temporária, a lei terá vigor até que outra lhe modifique ou revogue.” 
 
Saiba ainda que: no tocante à revogação, podem ser feitas as seguintes 
classificações: 
 
 
6 - Deflagrar: atear, provocar. 
7 - tecnicamente denominado de vacatio legis, por ser o período de vacância da lei, , ou seja, a lei existe mas ainda 
não se exige o seu cumprimento. A lei está apenas “vagando” no ordenamento jurídico. 
8 - A Lei de Introdução ao Código Civil, também denominada de “Lei das Leis”, estabelece regras de formação, 
extinção e interpretação das leis. Atente-se que as regras ali inscritas não se dirigem apenas ao Código Civil, como 
pode parecer, e portanto, as leis penais também se submetem aos seus preceitos. 
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a – Ab-rogação: produz a extinção do texto integral de um determinado 
diploma legal. É também denominada de revogação total. 
 
b – Derrogação: é um ato que produz a extinção de apenas de uma parte do 
texto de um determinado diploma legal. É também conhecida como revogação 
parcial. 
 
c – Revogação Expressa: Quando a lei nova, expressamente, determinar a 
cessação de vigência da norma anterior. 
 
d – Revogação Tácita: esta ocorre quando o texto novo é incompatível com o 
anterior ou regula inteiramente matéria precedente. Nesses casos, os diplomas 
legais que passam a regular a matéria geralmente trazem, ao final, a expressão 
“revogam-se as disposições em contrário”. 
 
 
3 – Leis Excepcionais e Temporárias 
 
 
 
Neste momento de nossa aula, trataremos de conceituar essas duas 
espécies de lei, para que, posteriormente, quando estudarmos algumas regras 
de aplicação temporal peculiares destas duas espécies legislativas, não 
tenhamos dificuldades. 
 
Saiba que: tanto as leis excepcionais como as temporáriassão espécies 
legislativas que mencionam em seu próprio texto o término de sua vigência. 
 
 
 Leis Excepcionais: são aquelas leis que têm sua eficácia condicionada à 
duração das situações que as originaram. Como, por exemplo, guerras, 
epidemias, etc...Para que se ilustre o conceito de lei excepcional, 
imaginemos, hipoteticamente, que seja editado um diploma legal em 
virtude de uma epidemia da tão temida gripe asiática, e que este diploma 
legal assim disponha: 
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Art. 1º. Ficam proibidos de desembarcar em 
solo brasileiro os passageiros oriundos de 
aeronaves ou embarcações oriundas do 
continente asiático e da Austrália. 
 
Parágrafo único. Esta Lei apenas será 
revogada quando se comprovar que o surto 
de tal epidemia esteja totalmente 
controlado. 
 
 
 Leis Temporárias: estas trazem, de maneira preordenada, a data de 
cessação de sua vigência. À título de exemplificação, imaginemos um 
diploma legal que objetive controlar as variações do dólar, e que assim 
disponha: 
 
Art. 1º. Veda-se, a partir da vigência da 
presente lei, que o dólar seja 
comercializado dentro do território 
nacional por valor superior à R$ 2,00 ( 
dois reais). 
 
Parágrafo único: esta Lei vigorará até 30 
de setembro de 2003. 
 
4 – Extratividade da Lei Penal 
 
 Convém, agora, estudarmos as regras relativas à extratividade da lei 
penal, que é um dos temas relacionados à aplicação da lei penal no tempo. 
 
Não se esqueça que: tal como dissemos anteriormente, via de regra, uma lei 
só começa a produzir efeitos à partir da data determinada para o início de sua 
vigência, entretanto, tal regra não é absoluta, tanto que, a lei penal, poderá, por 
exemplo, ser aplicada em relação a fatos ocorridos antes do início de sua 
vigência. 
 
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Em outras palavras: em determinadas situações, pode existir uma aplicação 
retroativa da lei penal ( quando ela atingir fatos ocorridos antes do início de sua 
vigência). 
 
Preste muita atenção: a retroatividade da lei penal não é regra, e não poderá 
ser admitida em todos os casos. 
 
Isto porque: para que uma lei penal atinja fatos ocorridos antes do início de 
sua vigência, é preciso, antes mais nada, que se obedeça o dispositivo 
constitucional que cuida do tema, o artigo 5º, inciso XL da Constituição Federal. 
Vamos dar uma olhada no citado dispositivo: 
 
 
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito á vida, á 
liberdade, á igualdade, á segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
 
( ...) 
 
XL – A lei penal não retroagirá, salvo 
para beneficiar o réu. 
 
 
A propósito: tal como enfatiza o Profº. Fernando Capez, este preceito 
constitucional estabeleceu uma regra e uma exceção. E como disso não temos 
dúvidas, vejamos qual é a regra e a qual é a exceção: 
 
“A Regra”: como se disse anteriormente, a regra geral é que nenhuma lei, 
inclusive a lei penal, pode querer regular fatos anteriores à sua vigência. Ou 
seja, temos como regra que a lei penal não poderá retroagir. 
 
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“A Exceção”: entretanto, de acordo com os preceitos legais que regulam o 
tema, podemos concluir que a lei penal retroagirá quando trouxer algum 
benefício para o agente no caso concreto. 
 
Não podemos nos esquecer que: além do dispositivo constitucional 
supracitado, o Código Penal, através do parágrafo único do artigo 2º, também 
cuidou de disciplinar a retroatividade da lei penal ao estabelecer que “a lei 
posterior que, de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos 
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em 
julgado.” 
 
Também não se pode esquecer que: esta sistemática de aplicação se 
restringe às normas de caráter penal, não se submetendo, portanto, às regras 
da retroatividade da lei mais benigna as normas de caráter processual penal. 
 
Ou seja: no tocante aos dispositivos do Código de Processo Penal vige a regra 
da aplicação imediata das normas processuais, sem efeito retroativo uma vez 
que, tal como leciona o Profº. Fernando Capez¸ “se as normas processuais 
tivessem efeito retroativo, anulariam os atos processuais já praticados antes do 
início de sua vigência, o que não ocorre. 
 
Mas enfim: não nos aprofundaremos muito neste tema, por fugir de nossa 
disciplina. Os aspectos relativos a lei processual penal são estudados dentro 
de outra disciplina, que se denomina “Processo Penal”. Mesmo assim, é 
oportuno que façamos uma rápida leitura do dispositivo processual que 
consagra a irretroatividade da lei processual penal, qual seja, o artigo 2º do 
Código de Processo Penal pátrio. Vejamos, então, o dispositivo legal em 
questão: 
 
“Art. 2º. A lei processual aplicar-se-á 
desde logo, sem prejuízo de validade dos 
atos realizados sob a vigência da lei 
anterior” 
 
 
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Perceba, portanto, que: a lei penal poderá retroagir, poderá regular fatos 
anteriores à sua vigência desde que, de alguma forma, beneficie o acusado, 
 
Pare, pense e veja que questão interessante: e se, um determinado sujeito 
pratica um fato sob a vigência da lei “A”, e durante o curso do processo, antes 
da sentença, esta lei é derrogada ( lembra da derrogação ? ) e entra em vigor a 
lei “B”, que é mais severa que a lei anterior ? 
 
Saiba que: nesses casos poderá ocorrer que a lei que já tenha sido revogada, 
continue, excepcionalmente, a produzir efeitos. É o que se denomina “ultra-
atividade” da lei penal. Nesses casos, sustenta a melhor doutrina que o caso 
deve ser apreciado sob a eficácia da lei antiga, em face da exigência de não 
recair sobre o agente uma valoração mais grave que a existente no momento 
da prática da conduta delituosa 
 
Pode parecer complicado, mas não é bem assim: Tais regras podem ser 
bem fixadas, desde que se em tenha mente a regra básica, que é bastante 
sucinta: a lei penal pode ser aplicada, mesmo que já tenha cessado sua 
vigência, desde que mais benéfica9 em face da lei posterior. Da mesma forma, 
a lei penal mais benéfica pode atingir fatos ocorridos antes da sua entrada em 
vigor. 
 
Não se esqueça que: a atividade da lei penal é a regra, uma vez que ela, 
assim como as outras leis, é feita para regular situações ocorridas entre a 
promulgação e a revogação, e a extratividade é exceção. Lembrando que a 
extratividade comporta duas classificações, quais sejam: 
 
a - Retroatividade: quando a lei penal retroagir para atingir fatos ocorridos 
antes do início de sua vigência, sendo que, tal como já dissemos 
anteriormente, esta retroatividade deve obedecer os limites impostos pela 
constituição e pelo Código Penal. 
 
 
9 - Para que tenha uma idéia do que é uma leis benigna, usaremos dos ensinamentos do Mestre Damásio Evangelista 
de Jesus, que preceitua que leis meis benigna é “de modo geral, toda norma que amplie o âmbito da licitude penal...” 
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b - Ultra-atividade: quando a lei penal, mesmo após ter cessado sua vigência, 
vier a produzir efeitos. 
 
Preste muita atenção à um aspecto de extrema relevância: no que tange às 
leis excepcionais e temporárias, as regras de extra-atividade10 da lei são 
totalmente diferenciadas. 
 
Em outros termos: as leis excepcionais e temporárias representam uma 
exceção à regra que proíbe a ultra-atividade da lei mais gravosa uma vez que 
tanto as leis excepcionais como as temporárias continuam a produzir efeitos 
depois de cessada sua vigência, mesmo que não sejammais benéficas para o 
réu. 
 
Vamos exemplificar: Suponha-se que o Congresso Nacional editasse uma 
Lei, para vigorar apenas nos quatro dias de carnaval, ( sendo, portanto, 
temporária), estabelecendo que o adultério cometido durante este período 
devesse ser punido com uma pena de 04 ( quatro ) à 08 ( oito ) anos de 
reclusão, enquanto que, segundo o artigo 240 do Código Penal, à tal crime 
está relacionada uma pena de detenção de 15 ( quinze) dias a 6 ( seis ) 
meses. 
 
Pois bem: Partindo desta hipótese, suponha-se que uma mulher cometa 
adultério no período de carnaval, e seja processada por tal conduta. 
 
Sendo que: quando a sentença condenatória for prolatada, a lei temporária 
que estabelecia uma sanção muito mais grave à sua conduta não estará mais 
em vigor, e mesmo assim, se ela fosse condenada, a pena a ser cominada 
seria a mais grave, imposta pela lei temporária, que já não mais vige. 
 
Preste muita atenção: com base no exemplo supra, podemos fazer as 
seguintes afirmações: 
 
 
10 - que como bem se viu pode compreender a ultra-atividade ou retroatividade. 
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 A Lei temporária estabelecia uma sanção de 04 ( quatro) à 08 ( oito) anos 
de reclusão. 
 
 O Código Penal comina, para tal conduta, uma pena de 15 ( quinze ) dias a 
06 ( seis) meses de detenção. 
 
 Com o término de vigência da lei temporária ( mais prejudicial), o artigo 240 
do Código Penal, que estabelece uma sanção menor, voltaria a regular a 
conduta de cometer adultério. 
 
 Entretanto, mesmo após o término de sua vigência, a lei temporária, mais 
gravosa, produz efeitos, ou seja: uma lei mais gravosa ultra-agiu, indo 
assim de encontro à todas as regras relativas a extra-atividade da lei penal. 
 
Saiba que: tal diferenciação tem uma razão de ser. 
 
Pare e pense: tais espécies legislativas, via de regra, têm “vida curta”, têm um 
período de vigência reduzido, e portanto, perderiam toda sua força intimidativa 
se não “ultra-agissem”. 
 
Saiba, ainda, que: tal excepcionalidade é prevista pelo artigo 3º do Código 
Penal, que assim preceitua: 
 
“Art. 3º. A lei excepcional ou 
temporária, embora decorrido o período de 
sua duração11 ou cessadas as circunstâncias 
que determinaram12, aplica-se ao fato 
praticado durante sua vigência. 
 
Atentemos ainda para um outro aspecto: existe uma “exceção à 
excepcionalidade supra exposta”. E isto ocorrerá quando a lei posterior à lei 
temporária ou excepcional for mais benéfica e fizer expressa menção ao 
período anormal ou ao tempo de vigência. Nestes casos, a lei posterior, mais 
 
11 - No caso das Leis Temporárias 
12 - No caso das Leis Excepcionais 
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12
benéfica, poderá regular o fato praticado sob a égide da lei temporária ou 
excepcional. 
 
 
5 - Hipóteses de Conflito de Leis Penais no tempo: 
 
 
Toda vez que uma lei penal entrar em conflito com uma lei anterior, 
quatro situações distintas poderão ocorrer. Vejamos quais são elas, para 
posteriormente fazer os devidos comentários: 
 
 Abolitio Criminis 
 Novatio Legis Incriminadora 
 Novatio Legis in Pejus 
 Novatio Legis in Mellius 
 
 
5.1. Abolitio Criminis: esta ocorrerá quando uma lei nova deixar de considerar 
um fato como criminoso. Ou seja: nestes casos lei nova revoga normas 
incriminadoras anteriormente existentes. Tal como leciona o o Profº. Fernando 
Capez, “trata-se de lei posterior que revoga o tipo penal incriminador, 
passando, o fato, a ser considerado atípico.” 
 
A propósito: a hipótese da abolitio criminis vem expressa no “caput” do artigo 
2º do Código Penal, e apesar de tal dispositivo já ter sido transcrito 
anteriormente, para facilitar as coisas, vamos transcrevê-lo novamente: 
 
Art. 2º Ninguém poderá ser punido por fato 
que lei posterior13 deixar de considerar 
crime, cessando em virtude dela a execução 
e os efeitos penais da sentença 
condenatória. 
 
 
Note que: nos casos da denominada abolitio criminis, é fácil perceber que a lei 
a ser aplicada é a nova, que tratar de descriminalizar a conduta. 
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Isto porque: a supressão de uma lei que define um fato como criminoso por 
uma lei que estabelece o contrário, ou seja, que faz lícita uma conduta 
anteriormente tida como ilícita faz crer que o Estado não mais considera uma 
determinada conduta contrária aos interesses da sociedade. 
 
Saiba ainda que: a abolitio criminis é elencada, no artigo 107, inciso III do 
Código Penal, como sendo uma causa de extinção da punibilidade, como 
sendo uma causa que extingue o direito de punir do Estado. 
 
A propósito: o tópico das ”Causas Extintivas de Punibilidade” será abordado 
em momento futuro, provavelmente no semestre que vem, mas convém 
darmos uma olhada no dispositivo supracitado, que determina que a abolitio 
criminis é uma causa extintiva da punibilidade. Vejamos o dispositivo: 
 
Art. 107 Extingue-se a Punibilidade: 
 
( ... ) 
 
III – pela retroatividade da lei que não 
mais considera o fato como sendo 
criminoso. 
 
Por isso: quando se questionar sobre a natureza jurídica da abolitio criminis, 
devemos ter mente que esta se constitui em sendo um fato jurídico extintivo da 
punibilidade. 
 
 
A propósito: não poderíamos deixar de tecer alguns comentários acerca dos 
efeitos oriundos da chamada abolitio criminis. 
 
Sendo que: a regra básica em relação à este tópico pode ser extraída do 
próprio artigo 2º, “caput” do Código Penal, o qual pode ser qualificado como 
“auto-explicativo”. 
 
 
13 - para saber quando uma lei é posterior á outra, devemos levar em conta a data da promulgação, e não da entrada 
em vigor. Assim, Lei Posterior é aquela que foi promulgada por último. 
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Veja: preceitua a parte final do dispositivo legal em questão que cessarão, em 
virtude da abolitio criminis, a execução da pena e os efeitos penais14 da 
sentença condenatória. Sendo que quando a lei fala em efeitos penais, podem-
se incluir neste rol os chamados efeitos penais secundários, como por 
exemplo: indução de reincidência e revogação de sursis15 anteriormente 
concedido 
 
Em outras palavras: A lei nova, descriminante, atuando retroativamente, 
exclui todos os efeitos jurídicos penais16 do comportamento antes considerado 
ilícito. 
 
A propósito: é importante que se faça uma exposição acerca dos diferentes 
efeitos que a abolitio criminis pode gerar, de acordo com a fase processual na 
qual ela venha a incidir. 
 
 Se apenas o Inquérito Policial foi instaurado, o processo em si, que se inicia 
com a denúncia do promotor ou queixa-crime da vítima, não poderá ser 
iniciado. 
 
 Se o processo estiver em andamento, deverá ser “trancado”, mediante 
decretação de causa extintiva de punibilidade, nos moldes do artigo 107, 
inciso III do Código Penal. 
 
 Se já existir sentença condenatória transitada em julgada17, a pena não 
poderá ser executada. 
 
 Se o condenado já estiver cumprindo pena, deve-se decretar a extinção da 
punibilidade e soltar-se o réu. 
 
 
 
14 - Lembrando que os efeitos “extrapenais” da sentença condenatória poderão subsistir, como por exemplo, uma 
eventual obrigação de indenizar oriunda desta sentença. 
15 - Que se traduz em sendo uma “suspensão condicional da pena” imposta na sentença condenatória, e que será 
estudada futuramente. Porém, achamos por bem esclarecer que, caso se queira ler os dispositivos legaisque regulam 
a matéria, estes são os artigos 77 e seguintes do Código Penal. 
16 - Inclusive os efeitos secundários, como se expôs. 
17 - Cumpre expor que sentença transitada em julgado é aquela contra a qual não cabe mais nenhum recurso. A 
expressão “trânsito em julgado” traduz a idéia de definitividade da sentença. 
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5.2. Novatio Legis Incriminadora: está hipótese se afigura em sendo o oposto 
da abolitio criminis. 
 
Isto porque: Nesta hipótese, a lei nova, ao invés de descriminalizar uma 
conduta, criminaliza, tipifica, taxa como ilícita uma conduta que anteriormente 
era considerada um indiferente penal. 
 
Perceba que: por tudo que já fora aqui exposto, se torna óbvio que a esta lei 
nova, que trata de criminalizar uma determinada conduta, de forma alguma 
poderá ter efeito retroativo, posto que apenas prejudicaria o réu, 
 
 
A propósito: para que se facilite a compreensão do instituto em estudo, temos 
por oportuno fazermos uso de um exemplo de novatio legis incriminadora, que 
nos é fornecido pelo Profº. Damásio Evangelista de Jesus. Vamos ao exemplo: 
 
 
“ Tício, em outubro de 1964, sem 
autorização legal,plantou um ramo de 
cannabis sativa ( 
Maconha) no quintal de sua residência, 
com intenção de produzir o entorpecente. 
Tal fato não constituía crime em face do 
artigo 281 do Código Penal vigente à 
época. A lei que introduziu a expressão 
plantar no núcleo do tipo foi a Lei 4.451 
de 04 de novembro de 1964. Assim, nessa 
linha de raciocínio, conclui-se: a 
referida lei não poderá retroagir pois se 
trata de verdadeira novatio legis 
incriminadora, e assim, Tício não poderá 
ser incriminado por tal conduta. 
 
 
 
5.3. Novatio Legis In Pejus: nestas hipóteses, a lei não cria nenhum tipo 
incriminador, mas agrava de qualquer forma a situação do agente. Não há que 
se olvidar que, também nesta hipótese, a retroatividade é vedada. 
 
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A propósito: vejamos agora alguns exemplos de casos nos quais uma lei nova 
pode prejudicar o réu, mesmo que não crie tipos penais antes inexistentes: 
 
a - A pena imposta em face da lei nova é mais severa qualitativa ( de detenção 
passa-se para reclusão) ou quantitativamente ( a pena imposta pela lei nova é 
de 10 á 20 anos, enquanto que a anterior era de 02 à 05 anos). 
 
b - São excluídas circunstâncias que favoreceriam o sujeito de acordo a lei 
antiga ( atenuantes ou causas de diminuição de pena), ou, a contrario sensu, 
são criadas novas qualificadoras anteriormente inexistentes. 
 
 
5.4 - Novatio Legis In Mellius: estas se afiguram em sendo aquelas hipóteses 
onde uma lei nova, sem excluir a figura típica, acabam por favorecer de 
qualquer modo o agente. 
Saiba que: esta hipótese de conflito de leis penais no tempo é prevista no 
parágrafo único do artigo 2º do Código Penal, que assim preceitua: 
 
 
Parágrafo Único. A lei posterior que, 
de qualquer modo favorecer o agente, 
aplica-se aos fatos anteriores, ainda 
que decididos por sentença 
condenatória transitada em julgado. 
 
Preste atenção: quando o parágrafo único do dispositivo supracitado faz uso 
da expressão “de qualquer modo” , devemos entender que o se faz menção á 
lei posterior que favoreça o agente, de modo diverso da abolitio criminis, e isto 
porque a abolitio criminis vem prevista, de forma autônoma, no caput do 
artigo 2º. 
 
A propósito: vejamos agora algumas hipóteses de ocorrência desta hipótese 
de conflito de leis penais no tempo: 
 
a – A lei nova cria nos circunstâncias atenuantes ou causas de diminuição de 
pena. 
 
b – A lei nova cria casos até então inexistentes de extinção de punibilidade. 
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Perceba que: nesta hipótese, a lei nova é mais favorável e portanto deverá 
retroagir, mesmo se já existir uma sentença condenatória transitado em 
julgado. Como, aliás, facilmente se depreende da leitura do dispositivo legal 
que regula a matéria. 
 
 
6 – Tempo do Crime 
 
 
 
 É extremamente oportuno que se estude tal tema dentro desta nossa 
aula, sendo que, de início, convém termos em mente que, por vezes, a ação 
criminosa é praticada em um dado momento, e o resultado, em si, só ocorrerá 
em um momento posterior. 
 
Sendo que: deste raciocínio, pode surgir a seguinte dúvida: em qual desses 
momentos, segundo a legislação vigente, deve ser considerado que o crime foi 
praticado ? No momento da prática da ação ou omissão ou no momento em 
que se consumar o resultado ? 
 
Perceba que: tal aspecto tem indiscutível ligação com tudo que se disse sobre 
aplicação temporal da lei penal e com outros aspectos penais de extrema 
importância. 
 
A propósito: para que se tenha uma idéia da importância do tema, pensemos 
na seguinte situação: 
 
 Suponhamos que uma mulher grávida, ingira medicamentos abortivos no 
dia 20 de Janeiro de 2003 ( momento da prática da ação), e que a expulsão 
efetiva do feto apenas ocorra em 20 de Fevereiro do mesmo ano ( momento 
em que ocorre o resultado). Dentro de tal situação, suponhamos que na 
data da ingestão de tais medicamentos o aborto não fosse considerado 
crime, e que, no dia 01 de Fevereiro, entrasse em vigor uma lei 
incriminando tal conduta. Nesse caso, para resolver o problema, temos que 
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saber qual é, segundo a legislação vigente, o momento em que se 
considera praticado o crime. 
 
Preste muita atenção: é importante que se compreenda que no exemplo 
supra formulado não existia uma lei anterior mais benéfica, e portanto não se 
poderia falar em ultra-atividade de uma lei anterior mais benéfica. 
 
Em outros termos: no exemplo supra formulado, num momento não existia 
nenhuma lei regulando a matéria, e num momento posterior entrou em vigor 
um diploma legal que se incumbiu de tal tarefa. 
 
Perceba que: não há que se falar, no exemplo supracitado, de um “conflito de 
leis penais no tempo”. 
 
Pois bem: tomando por base o exemplo supracitado, se, para o legislador, o 
momento da prática do crime for o momento da ação ou omissão, a gestante 
não poderá ser incriminada, ante a inexistência de lei que incriminasse tal 
conduta neste momento ( da prática da ação). 
 
Porém: se o momento da prática do crime, para o legislador, for o momento da 
ocorrência do resultado, a gestante do exemplo supracitado deverá ser 
responsabilizada penalmente por tão repugnante conduta. 
 
Saiba que: acerca do “Tempo do Crime”, foram formuladas três teorias, quais 
sejam: 
 
 Teoria da Atividade: segundo a qual o crime se considera praticado no 
momento da ação ou omissão. 
 
 Teoria do Resultado: de acordo com esta teoria, considera-se praticado o 
crime no momento em que ocorrer o resultado pretendido . 
 
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 Teoria da Ubiqüidade: para esta teoria, o momento da prática do crime 
pode ser tanto o momento da prática da ação ou omissão como o momento 
da produção do resultado. 
 
A propósito: entre nós, o tema é regulado pelo artigo 4º do Código Penal, 
sendo que uma vez feita a leitura deste dispositivo, se poderá facilmente 
perceber qual destas três teorias foi adotada pelo legislador pátrio. Vamos ao 
dispositivo 
 
 
 
 
Art. 4º. Considera-se praticado o crime no 
momento da ação ou omissão, ainda que 
outro seja o momento do resultado. 
 
 
Perceba que: tal como dissemos anteriormente, não é difícil, após a leitura do 
dispositivo legal supracitado, perceber qual das três teorias foi por nós adotada. 
Entretanto, para que não pairem dúvidas, convém expor que a teoria adotada 
pelo legislador pátrio foi a teoria da atividade. 
 
Saiba que: nós, particularmente,cremos que a opção do legislador, neste 
caso, foi extremamente coerente, uma vez que, tal como a maioria dos 
doutrinadores, cremos que é no momento da ação ou omissão que o sujeito 
manifesta sua vontade de ir ou não de encontro aos preceitos penais que 
regulam a vida em sociedade. 
 
Preste atenção: acerca deste particular aspecto, temos por oportuno que se 
atente para as elucidativas lições do Profº. Alberto Silva Franco, que podem 
assim serem transcritas: 
“É exatamente no instante da ação 
que a inteligência que pensa e a vontade 
que quer se manifestam no mundo exterior, 
tornando-se relevantes ao direito. É neste 
momento da ação ou omissão que se objetiva 
o querer do agente, e portanto, revela-se 
sua rebeldia ao comando da lei.” 
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Questão – Problema 
 
Na hora do almoço, na empresa onde você trabalha como secretária, uma 
colega se aproxima de você dizendo que precisa desabafar sobre um assunto muito 
sério, e você, muito prestativa, se dispõe a ouvir o que ela tem a dizer. Com muita 
dificuldade sua colega lhe conta que tem ficado muito constrangida com algumas 
atitudes de um dos diretores da empresa, pois este tem, com incomum insistência , lhe 
dirigido convites para ir até um motel após o expediente, além do que, segundo sua 
colega, toda vez que ela tem que se dirigir à sala deste diretor ele tenta, de todas as 
formas, apalpar alguma parte de seu corpo. Depois de muita resistência por parte de 
sua colega, o diretor, em 15 de Abril de 2001, a ameaça de despedi-la, caso ela 
continue se recusando a satisfazer seus desejos sexuais. 
 
Após o desabafo, e sabendo que você conhece bastante de Direito Penal, sua 
colega lhe pergunta quais poderiam ser as conseqüências jurídicas impostas ao diretor 
da empresa que vem lhe causando tantos constrangimentos. O que você responderia 
? 
 
A Propósito: Para responder tais indagações, é importante que você saiba que, no 
dia 16 de maio de 2001 entrou em vigor a Lei 10.224 / 2001, que cuidou de 
criminalizar o assédio sexual, e para tal finalidade, esta lei acrescentou ao Código 
Penal o artigo 216-A que tem a seguinte redação: 
 
Art. 216-A. Constranger alguém com o 
intuito de obter vantagem ou favorecimento 
sexual, prevalecendo-se o agente de sua 
condição de superior hierárquico ou 
ascendência inerentes ao exercício de 
emprego, cargo ou função. 
 
Pena – detenção de 1 ( um ) a 2 ( dois ) 
anos 
 
 De posse destas informações, esclareça as dúvidas de sua angustiada 
colega, e comente sobre a regras que regem a aplicação da lei penal no tempo, com 
base em tudo que foi exposto na presente aula. 
 
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Quadro Sinóptico 
 
1. A Lei Penal não tem eficácia universal e permanente, ou seja, não 
vige em todo o mundo e nem é eterna. 
 
2. A eficácia da Lei Penal é por três fatores, quais sejam: 
 
 Tempo 
 
 Espaço 
 
 Função exercida por determinadas pessoas 
 
3. Da Lei Penal no Tempo: a norma penal, assim como todos os outros 
diplomas legais, nasce, vive e morre. Vamos relembrar os momentos 
cruciais na vida de uma lei: 
 
 Sanção: É o ato pelo qual o Presidente da República, expressa ou 
tacitamente, anui ao projeto que lhe foi remetido pelo Congresso 
Nacional. Em outras palavras: a sanção é o ato através do qual o 
Presidente da República expressa sua concordância com um 
determinado projeto de lei que lhe foi enviado pelo Congresso 
Nacional. 
 
 
 Promulgação: é o ato pelo qual o Executivo autentica a lei, isto é, 
atesta sua existência ordenando sua aplicação e conseqüente 
cumprimento. Ou seja, é o ato que faz nascer a lei, autorizando a 
deflagração de seus efeitos. É o ato que confere existência à lei e 
proclama sua executoriedade. 
 
 Publicação: é o ato por intermédio do qual dá-se conhecimento da 
lei aos seus destinatários, tornando-a, portanto, eficaz e 
exigível. Na verdade é uma condição de exigibilidade e não de 
formação da lei, uma vez que não se pode exigir de um determinado 
cidadão que este cumpra uma lei que não teve como saber que 
existia, sendo que tal assertiva se constitui em sendo uma das 
premissas básicas de nosso ordenamento jurídico. 
 
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 Revogação: é o ato pelo qual o poder competente faz cessar a 
obrigatoriedade de uma determinada lei. 
 
4. Lembre-se que existem as seguintes espécies de revogação: 
 
a – Ab-rogação: produz a extinção do texto integral de um determinado 
diploma legal. É também denominada de revogação total. 
 
b – Derrogação: é um ato que produz a extinção de apenas de uma parte 
do texto de um determinado diploma legal. É também conhecida como 
revogação parcial. 
 
c – Revogação Expressa: Quando a lei nova, expressamente, determinar 
a cessação de vigência da norma anterior. 
 
d – Revogação Tácita: esta ocorre quando o texto novo é incompatível 
com o anterior ou regula inteiramente matéria precedente. Nesses 
casos, os diplomas legais que passam a regular a matéria geralmente 
trazem, ao final, a expressão “revogam-se as disposições em 
contrário”. 
 
5. Leis Penais Excepcionais e Temporárias: tanto as leis penais 
excepcionais como as leis penais temporárias mencionam em seu próprio 
texto a data da revogação. Vamos recordar a diferença entre as leis 
excepcionais e as leis temporárias: 
 
a. Leis Excepcionais: são aquelas leis que têm sua eficácia 
condicionada à duração das situações que as originaram. Como, por 
exemplo, guerras, epidemias, etc... 
 
b. Leis Temporárias: estas trazem, de maneira preordenada, a data de 
cessação de sua vigência. 
 
6. Extratividade da Lei Penal: vida de regra, uma lei produz efeitos 
depois que entra em vigor e para de produzir efeitos com sua 
revogação. 
 
7. Mas pode acontecer que uma lei penal regule fatos ocorridos antes 
de sua entrada em vigor ( retroatividade). Não se esqueça que, tal 
como preceitua o artigo 5º, inciso XI da Constituição Federal, a lei 
penal só pode retroagir se for mais benéfica para o réu. 
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8. Além do citado dispositivo constitucional, o artigo 2º do Código 
Penal também cuidou de disciplinar a retroatividade da lei penal. 
 
9. Quando uma lei nova for mais prejudicial para o réu, não se 
aplicará aos processos em andamento. Nesses casos, a lei anterior, por 
ser mais benéfica que a lei nova, continuará a produzir efeitos mesmo 
depois de ter sido revogada. É o que se denomina ultra-atividade da 
lei penal. 
 
10. Não se esqueça que: as leis excepcionais e temporárias representam 
uma exceção à regra que proíbe a ultra-atividade da lei mais gravosa 
uma vez que tanto as leis excepcionais como as temporárias continuam a 
produzir efeitos depois de cessada sua vigência, mesmo que não sejam 
mais benéficas para o réu. 
 
11. Esta exceção, que é regulada pelo artigo 3º do Código Penal, tem 
uma razão de ser. Tanto as leis excepcionais como as leis temporárias, 
via de regra, têm “vida curta”, têm um período de vigência reduzido, e 
portanto, perderiam toda sua força intimidativa se não “ultra-agissem. 
 
12. Hipóteses de conflito de leis penais no tempo: toda vez que uma 
lei penal entrar em conflito com uma lei anterior, poderão ocorrer 
quatro situações distintas, quais sejam: 
 
Abolitio Criminis: esta ocorrerá quando uma lei nova deixar de 
considerar um fato como criminoso. 
 
Novatio Legis Incriminadora: está hipótese se afigura em sendo o 
oposto da abolitio criminis. Nesta hipótese, a lei nova, ao invés de 
descriminalizar uma conduta, criminaliza, tipifica, taxa como ilícita 
uma conduta que anteriormente era considerada um indiferente penal. 
 
Novatio Legis In Pejus: nestas hipóteses, a lei não cria nenhum tipo 
incriminador, mas agrava de qualquer forma a situação do agente. 
 
Novatio LegisIn Mellius: estas se afiguram em sendo aquelas hipóteses 
onde uma lei nova, sem excluir a figura típica, acabam por favorecer 
de qualquer modo o agente. 
 
13. Tempo do crime: as regras relacionadas ao “tempo do crime”t6em 
inquestionável ligação com as regras de aplicação da lei penal no 
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tempo. Vamos relembrar as teorias elaboradas à respeito do tempo do 
crime: 
 
Teoria da Atividade: segundo a qual o crime se considera praticado no 
momento da ação ou omissão. 
 
Teoria do Resultado: de acordo com esta teoria, considera-se praticado 
o crime no momento em que ocorrer o resultado pretendido . 
 
Teoria da Ubiqüidade: para esta teoria, o momento da prática do crime 
pode ser tanto o momento da prática da ação ou omissão como o momento 
da produção do resultado. 
 
14. Em face do preceitua o artigo 4º do Código Penal, é de se concluir 
que a teoria adotada pelo legislador pátrio foi a teoria da atividade.

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