Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Camila Carminate – 6 FASE Amenorreia Primária e Secundária CONCEITO Amenorréia significa ausência de menstruações entre a menarca e a menopausa. Quando a menarca não se instala até a idade de 16 anos, fala-se em menarca tardia, e após a idade de 18 anos, em amenorréia primária. Após a menarca, amenorréia por mais de três ciclos é denominada amenorréia secundária; quando o intervalo é menor, atraso mentrual. Quando os episódios de falha menstrual se repetem é usada a denominação espaniomenorréia ou oligomenorréia. AMENORRÉIA PRIMÁRIA Menarca tardia e A. primária são incluídas no amadurecimento sexual tardio (AST); nessa condição falha o desenvolvimento morfo-funcional dos órgãos e tecidos ligados à reprodução, de acordo com a evolução somática etária da mulher. Amenorreia primária é caracterizada pela ausência de menstruação após os 14 anos sem desenvolvimento de caracteres sexuais secundários ou após os 16 anos com o desenvolvimento destes. No exame físico observa-se especialmente desenvolvimento pôndero-estatural, presença de caracteres sexuais secundários, anomalias genitais, nódulos inguinais, hirsutismo, acne, estrias, acantose, galactorréia, trofia da pele, vulva, volumes uterino e ovarianos e comprimento da vagina. ABORDAGEM DA PACIENTE SEM DESENVOLVIMENTO DE CARACTERES SEXUAIS SECUNDÁRIOS Quando a paciente não possuir desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários após os 14 anos denota tratar-se de um atraso do desenvolvimento púbere. Nestes casos solicita-se dosagem laboratorial de FSH e LH para determinar a atividade das gonadotrofinas. Avaliam-se ambos os órgãos através do Teste do GnRH. Se houver aumento de 200% ou mais nos níveis de LH e FSH a resposta é considerada positiva e a patologia é atribuída ao hipotálamo. Caso não haja aumento, o problema está localizado na hipófise. Em contrapartida, se FSH e LH estiverem elevados, o comprometimento é em órgão-alvo, o ovário, e a patologia é dita hipogonadismo hipergonadotrófico. INVESTIGAÇÃO DA PACIENTE COM CARACTERES SEXUAIS SECUNDÁRIOS PRESENTES As pacientes com desenvolvimento de caracteres sexuais secundários e que nunca menstruaram devem ser investigadas a partir dos 16 anos. A avaliação do sistema reprodutor feminino deve englobar: vagina, útero, ovário, hipófise e hipotálamo. A possibilidade de gestação deve ser excluída. No exame físico verifica-se o grau de desenvolvimento puberal, a anatomia da vagina, comprimento e atresia vaginal, e a existência de algum bloqueio para a drenagem da menstruação, como imperfuração de hímen ou septo vaginal. A investigação anatômica é complementada com ultrassonografia abdominal. Se o exame físico ou de imagem demonstrar anormalidade anatômica uterina, a realização de cariótipo é útil para diferenciarmos MayerRokitansky-Küster-Hauser (46,XX) de Insensibilidade androgênica completa (Morris (46, XY)). Normalmente há ausência de pelos pubianos e axilares. Na síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser o problema centra-se na diferenciação embrionária, quando não ocorreu o desenvolvimento adequado dos ductos de Müller. Desta forma há agenesia ou hipoplasia do útero e vagina curta ou ausente. Se a ultrassonografia abdominal for sem alterações, prossegue-se à investigação através da prova da progesterona. 2 Camila Carminate – 6 FASE Se após sete dias de intervalo ocorrer menstruação, conclui-se que o problema está na imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-gônada, gerando a anovulação. Para determinar se o fluxo não ocorreu por ineficiência dos ovários ou por falta de proliferação endometrial, o próximo passo é a realização do teste do estrogênio e progesterona, através da administração de 2mg/dia de estradiol por 21 dias e 10mg/dia de acetato de medroxiprogesterona nos últimos cinco dias. Dessa forma, parte-se para uma nova fase: a dosagem laboratorial de FSH e LH, para diferenciarmos se a causa é ovariana ou hipofisária/hipotalâmica. Se FSH e LH estiverem elevados, o distúrbio localiza-se nas gônadas (hipogonadismo hipergonadotrófico) e um cariótipo é necessário para determinação do sexo genético da paciente. Caso o valor das gonadotrofinas esteja baixo ou normal (hipogonadismo hipogonadotrófico), temos dois locais a investigar: a hipófise e o hipotálamo. Dentre as causas hipotalâmicas, o atraso constitucional do crescimento e da puberdade é a causa mais comum e deve ser acompanhada com Raio-X de mãos e punhos para determinação da idade óssea, já que a maturação sexual é proporcional à maturação óssea e não à idade cronológica. Além deste, desnutrição, anorexia, perda de peso excessiva, exercícios físicos com muita exigência, estresse, viagens e mudança de ambiente são também causas hipotalâmicas. Mais raramente: síndrome de Kallmann, síndrome de LawrenceMoon-Biedl, histiocitose X, neoplasia hipotalâmica e irradiação craniana para o tratamento de tumores. Já as causas hipofisárias incluem tumores hipofisários, pan- hipopituitarismo, síndrome da sela túrcica vazia, desordens infiltrativas e radioterapia. AMENORRÉIA SECUNDÁRIA A. secundária é mais freqüente. Entre as causas específicas de origem endócrina, que atuam através dos mecanismos reguladores neurendócrinos têm-se as disfunções límbicas, representadas principalmente pela A. psicogênica, e as disfunções hipotalâmicas. Entre as últimas podem ser distinguidas as formas fisiológicas (adolescência e climatério); a forma constitucional, que se manifesta em geral por espaniomenorréia desde a menarca, sendo a função reprodutora caracterizada pelo grande espaçamento dos ciclos gastatórios; e as de origem medicamentosa. Entre os medicamentos que podem atuar o hipotálamo provocando inibições interneuronais estão os contraceptivos orais e os tranqüilizantes. Afetando a hipófise encontra-se a doença de Sheehan ou necrose pituitária pós-parto, em geral com hipopituitarismo importante; e as neoplasias responsáveis pela acromegalia, doença de Cushing e a síndrome amenorréia-galactorréia (adenoma cromófobo). Reconhecem-se três síndromes importantes; Chiari- Frommel (associada à gravidez), Argonz-Del Castillo (sem gravidez associada) e Forbes-Albright. As duas primeiras são de origem hipotalâmica; somente a última é hipofisária. 3 Camila Carminate – 6 FASE De origem ovariana tem-se a menopausa precoce, constitucional ou devida à castração. Fala-se em menopausa precoce quando esta ocorre antes da idade de 40 anos. A. associada a hirsutismo é característica dos ovários policísticos. Há dois tipos de ovários policísticos: tipo I, bilateralmente aumentados de volume, constituindo a síndrome de SteinLeventhal; e o tipo II, de volume normal. As neoplasias benignas e malignas acarretam masculinização (carcinoma) ou síndrome de Cushing (adenoma). A origem gestacional é representada pela A. da gravidez, do puerpério e da lactação. Os esteróides sexuais podem interferir nos mecanismos reguladores hipotalâmicos ou atuar diretamente no efetor endometrial. Entre as A. não específicas, que atuam em vários níveis, desde os mecanismos reguladores até os efetores, estão as A. metabólicas, as doenças crônicas e a desnutrição. A síndrome de Asherman é classificada entre as A. de origem não endócrina; resulta de aderências intra-uterinas devidas a curetagem de útero puerperal. Outras causas também são encontradas nesse grupo: estenose cervical conseqüente a cirurgia ou diatermocauterização excessiva do colo uterino; a histerectomia e a tuberculose genital. DIAGNÓSTICO AMENORREIA PRIMARIA AMENORRÉIA SECUNDÁRIA 4 Camila Carminate – 6 FASE TRATAMENTO AMENORREIA PRIMARIA A forma constitucional admite a sua aceleração mediante a administração de citrato de clomifênio (100mg/ dia/5 dias por 3-6 meses). A síndrome de Kallman é tratada por ciclos artificiais (etinil- estradiol 0,1 mg/dia/20 dias com intervalos de 10 dias entre as séries; medroxiprogesterona ou noretindrone 1tt mg/dia/nos últimos 5 dias). Quando houver desejo de filhos recorrer ao GRH ou às gonadotrofinas humanas para induzir a ovulação. Tumores hipofisários serão inicialmente tratados pelo neurologista. Na síndrome de Savage só há possibilidade de tratamento por ciclos artificiais, pois os ovários são refratários às gonadotrofinas. Na síndrome de Klotz è possível o tratamento com altas doses de gonadotrofinas. Na disgenesia gonádica, o tratamento básico são ciclos artificiais. A gonadectomia é recomendada quando o cariótipo contiver o cromossoma Y, pois esses casos têm maior probabilidade de desenvolver tumor disgenético. Nos hermafroditism os masculinos a regra é a gonadectomia após a idade de 23 anos, a fim de permitir a completa diferenciação morfológica; essa gonadectomia é realizada como profilaxia do seminoma do testículo ectópico. Na hiperplasia adrenal congênita, além da cirurgia corretiva, que deve ser realizada nas proximidades da puberdade normal, é necessária a administração de corticóides. Na insuficiência do cortisol dar prednisona (5-10 m g diários). Nas ginatresias, hímen imperfurado e septo vaginal transverso, a simples excisão é curativa. Na agenesia de vagina realiza-se a neovagina na época da adolescência. AMENORRÉIA SECUNDÁRIA A A. psicogênica é conduzida pela psicoterapia e administração de clomifênio, droga de escolha na A. hipotalâmica. A doença de Sheehan se trata com corticóides, tiroxina e ciclos artificiais. Se houver desejo de filhos recorrer às gonadotrofinas humanas. A menopausa precoce deve, em princípio, ser tratada com ciclos artificiais até a idade de 45 anos. A síndrome de Stein-Leventhal tem como tratamento a ressecção em cunha dos ovários a fim de normalizar o seu tamanho. Os tumores funcionais devem ser excisados. 5 Camila Carminate – 6 FASE Dada a sua alta percentagem de malignização, se não houver mais desejo de filhos, a conduta de escolha é a pan- histerectomia. Na hiperplasia adrenal virilizante adquirida bastará o tratamento corticóide. Na síndrome de Cushing deverá ser realizada a exerese do adenoma. Na síndrome de Asherman a conduta é o debridamento da cavidade uterina e a inserção do dispositivo intra-uterino de Lippes, que deverá permanecer por 3 ciclos. Na estenose cervical, a dilatação será seguida da inserção do d.i.u. com prolongamento cervical a fim de impedir a recidiva; a permanência do aparelha também será de 3 ciclos. Na tuberculose genital, o tratamento específico será seguido da inserção do d.i.u., como na síndrome de Asherman, embora o prognóstico seja bem mais reservado. REFERENCIAS Freitas F, Menke CH, Rivoire WA, Passos EP. Rotinas em ginecologia. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. Heiman DL. Amenorrhea. Prim Care. 2009 Mar;36(1):1-17, vii. Badalotti M, Petracco A, Frasson A, Gonçalves MA. Organizadores. Manual de ginecologia. Porto Alegre: EDIPUCRS; 2009. DAUDT, C. V. G.; et al. AMENORRÉIA SECUNDÁRIA: DIAGNÓSTICO. Disponível em: <https://www.saudedireta.com.br/docsupload/13402018 48amenorreia_diagnostico.pdf>. Acesso em: 17 Agosto 2021. Desenvolvimento Puberal Feminino Critérios de Tanner Mamas Ml ) Fase pré-adolescência (elevação das papilas) M2 8 - i3 anos Mamas em fase de botão (elevação da mama e aréo- la como pequeno montículo) Maior aumento da mama, sem separação dos contornos I I - 15 anos Projeção da aréola e das papilas par culo secundário por cima da mama monti- M 5 13 - 18 anos 1 Fase adulta, com saliência somente das papilas l ia 5m M E N A R C A I5a em Pêlos pubianos I Fase pré-adolescência (não há pelugem) \ / i Á Presença de pêlos longos, macios, ligeiramente pig- mentados, ao longo dos grandes lábios r 5 / i anos Pêlos mais escuros, ásperos, sobre o púbis P4 \ 1 Pelugem do tipo adulto, mas a área coberta é consi- deravelmente menor que no adulto P5 Í 2 « I 6 92 anos Pelugem tipo adulto, cobrindo todo o púbis e a virilha Desenvolvimento Puberal Masculino Critérios de Tanner Genitália G1 [ Pró-adolescência (infanti l) G 2 a n o s Aumento do escro to e dos test ícu los, s e m aumen- to do pênis G3 Ocorre também aumento do pênis, in ic ia lmente em toda a s u a extensão G4 / l i ' / 2 - 16 a n o s Aumento do d iâmetro do pênis e da glande, c resc i - mento dos tes t ícu los e escro to , c u j a pele e s c u r e c e G5 f \^ a n o s T ipo adulto Pêlos pubianos " í F a s e pré-adolescência (não há pelugem) P 2 IÍ-15^/2 Presença de pêlos longos, mac ios , l igeiramente pig- mentados, na base do pênis F-3 1 1 ^ 4 - 1 6 ânos Pêlos ma is escu ros , ásperos, sobre o púbis í P4 \ 12 ' \6/2 a n o s Pelugem do tipo adulto, m a s a área cober ta é cons i - deravelmente menor que no adulto P5 1 3 - 1 7 a n o s Tipo adulto, extendendo-se até a face interna das coxas
Compartilhar