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É a doença autoimune mais comum e frequente nos ambulatórios de fisioterapia. É definida como doença crônica e multissistêmica, porque pode acometer vários órgãos e não só o sistema musculoesquelético. A etiologia da artrite reumatoide (AR) é desconhecida, somente se sabe que é uma alteração autoimune, mas não há certeza do que desencadeia isso. É uma sinovite persistente que envolve as articulações sinoviais de forma simétrica (acomete ambos os lados do corpo), aditiva (múltiplas articulações) e deformante. Além disso, tende a ser erosiva, com grau variável de destruição articular. A AR é mais frequente em pequenas articulações de mãos e pés, porém pode envolver qualquer articulação sinovial. Epidemiologia: ✓ Atinge 1% da população mundial; ✓ Prevalente no sexo feminino (3:1); ✓ Acomete indivíduos entre 35-50 anos (quando tem início em idades menores é um indício de mal prognóstico). A etiopatogenia envolve fatores que podem ser caracterizados como gatilho para indivíduos pré-dispostos geneticamente a desenvolver a doença. ✓ HLA-DR1 e HLA-DR4: não significa que todas as pessoas que têm esse grupo vão desenvolver artrite reumatoide, é apenas um indicativo de pré-disposição, porque vai depender de outros fatores. ✓ Vírus Epstein Barr: comum em viroses e doenças intestinais. Existem muitos anticorpos contra esse vírus em indivíduos com artrite reumatoide já diagnosticada. ✓ Pode ser que, ao criar anticorpos contra o vírus, esses Ac também sejam capazes de atacar o próprio organismo. ✓ Auto-anticorpos: anti-IgG são um exemplo disso. O exame de fator reumatoide detecta a presença desses anticorpos. Eles podem aparecer antes dos primeiros sintomas da doença (2 a 5 anos antes), mas o exame é feito apenas quando o indivíduo começa a apresentar sintomas sugestivos da doença. Não importa qual o fator inicial, o que for que esteja provocando os sintomas vai ser reconhecido pelas células T e desencadear uma resposta imunológica. O início geralmente acontece pelas articulações sinoviais periféricas. Com o passar do tempo, a dor vai aumentando, até que se instale um quadro de artrite com os sinais flogísticos. Isso caracteriza um início insidioso, que acomete 70% dos pacientes, e o prognóstico costuma ser melhor. O início agudo é aquele que ocorre “da noite para o dia”. A dor aumenta de forma rápida, em 2 ou 3 dias há um quadro de artrite já instalado. A AR também pode ser diagnosticada a partir da Doença de Still do adulto: os primeiros sintomas estão em outros órgãos e não na articulação diretamente. O diagnóstico é mais difícil. Pode ser uma manifestação ocular, cardíaca, pulmonar, renal, entre outras. Posteriormente, o indivíduo evolui para manifestações articulares. Etiopatogenia Genética HLA-DR1 HLA-DR4 Ambientais Agentes infecciosos Vírus Epstein Barr Proteínas alteradas Anticorpos Anti IgG e Anti-CCP Artrite reumatoide Os achados iniciais começam pela membrana sinovial. O processo inflamatório leva a uma sinovite. A membrana sinovial reveste a parte externa da cápsula articular, produzindo líquido que lubrifica essa região. A sinovite é caracterizada por: ✓ Infiltrado celular; ✓ Exsudato; ✓ Tecido de granulação Essas características são as alterações que acontecem na membrana sinovial. Elas vão ocorrendo simultaneamente e favorecendo o aumento de tamanho da membrana. As células responsáveis pelo sistema imunológico (macrófagos, linfócitos T e B, neutrófilos) migram para o local da “lesão” para criar anticorpos e combater a própria sinóvia ou membrana sinovial. O objetivo dessas células é destruir a membrana sinovial, já que a mesma está atuando como um antígeno. Os neutrófilos liberam enzimas no momento em que atacam a membrana sinovial. Essas enzimas destroem colágeno e proteoglicanas (componentes da cápsula articular juntamente ao ácido hialurônico). A colagenase e a gelatinase destroem colágeno, enquanto que a catepsina G e a elastase destroem as proteoglicanas. Ao atacar a membrana sinovial, há uma reação inflamatória, gerando desequilíbrio entre a produção e a reabsorção do liquido sinovial. A membrana sinovial passa a produzir muito mais liquido em função da resposta inflamatória (aumento do liquido intra-articular ou derrame articular). À medida que as células do sistema imune vão agredindo a membrana, também há formação de um edema no interstício periarticular, que é um dos sinais flogísticos da inflamação e muito presente em pacientes com artrite reumatoide. Há um aumento do volume e do número de células na membrana sinovial (hipertrofia e hiperplasia). Isso provoca o aumento de volume da membrana sinovial, fazendo surgir vilosidades, para que a estrutura continue cabendo dentro da cápsula articular. O exsudato serofibrinoso faz com que o líquido sinovial comece a penetrar dentro das vilosidades, provocando aderência e formação de tecido cicatricial. Quando essas aderências se calcificam, ocorre a formação do “pannus”, a qual contribui para a lesão da cartilagem articular e do osso subcondral. À longo prazo, o que pode acontecer em pacientes com artrite reumatoide é o desenvolvimento da osteoartrite/osteoartrose decorrente da lesão da cartilagem. As manifestações clínicas podem ser articulares ou extra articulares. Dentre as manifestações articulares, temos: ✓ Sinais flogísticos; ✓ Rigidez matinal superior a 1h; ✓ Preferência pelas articulações metacarpofalangianas (MTCF), interfalangianas proximais (IFP) e punhos; ✓ Deformidades; ✓ Manifestações em joelhos, tornozelos e matatarsofalangianas; ✓ Esqueleto axial (coluna cervical); ✓ Articulação temporomandibular; ✓ Articulação cricoaritenoide; ✓ Compressão nervosa. Os sinais flogísticos na artrite reumatoide são muito claros. Além disso, há rigidez matinal superior a 1h nas articulações acometidas. Essa rigidez acontece após o período prolongado de repouso que não necessariamente precisa ser Hipertrofia e hiperplasia da membrana sinovial Vilosidades Aderência e cicatriz tecidual PANNUS Lesão de cartilagem e osso subcondral de manhã. Tem caráter prognóstico, porque quanto maior o tempo de rigidez matinal, maior é o quadro de exacerbação no momento. A ordem de preferência da AR pelas articulações é: 1) MTCF, 2) IFP e 3) punhos, em mãos e pés. Raramente a artrite reumatoide acomete as interfalangianas distais. A doença se manifesta SEMPRE de forma simétrica (tanto o lado direito quanto esquerdo do corpo). Em relação às deformidades, elas podem ser: A subluxação volar é quando o punho “escorrega” em direção palmar. Vários fatores determinam se o indivíduo vai ter deformidades ou não, sendo eles: a gravidade da doença e a adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso. Nos joelhos, a manifestação mais comum é o geno valgo. No tornozelo, o mais comum é o desabamento do arco plantar e a eversão. Já nos pés, é a presença de dedos em garra. É raro indivíduos com artrite reumatoide apresentarem envolvimento da coluna. Quando ocorre, é mais comum na região da coluna cervical. Também pode acontecer o envolvimento das cordas vocais (articulação cricoaritenoide), causando dor e rouquidão. Uma das manifestações musculoesqueléticas é a compressão nervosa, que pode se dar em razão das deformidades. Ex.: subluxação volar do punho pode comprimir o túnel do carpo, afetando o nervo mediano. Já dentre as manifestações extra articulares ou sistêmicas, é possível ocorrer: ✓ Cutâneas: nódulos subcutâneos; ✓ Oculares: episclerite, esclerite, xeroftalmia; ✓ Vascular: fenômeno de Raynaud; ✓ Pulmão: pleurite, fibrose intersticial e presença de nódulos; ✓ Coração: pericardite, miocardite e disfunções valvulares; ✓ Rena: amiloidose (raramente ocorre); ✓ Anemia(presente geralmente nos estágios iniciais); ✓ Síndrome da fadiga crônica; ✓ Osteoporose (em estágios iniciais acomete as mãos); ✓ Síndrome de Felty (hepatomegalia e esplenomegalia associadas). A formação de nódulos subcutâneos ocorre geralmente na face extensora das articulações ou na região de antebraço. São indolores, geralmente móveis (não estão fixos ao periósteo) e podem aparecer acompanhando o quadro da doença (aparecem na exacerbação e desaparecem na remissão). A esclera é a parte branca dos olhos e a episclera é a película que recobre a esclera. A episclerite é uma inflamação exclusivamente da episclera. As veias ficam proeminentes e avermelhadas, mas não há vermelhidão generalizada na esclera como um todo, Punho: Subluxação volar, flexão e desvio radial também conhecida como “mão em dorso de garfo”. MTFC: Subluxação volar, flexão e desvio ulnar. Também conhecida como “mão em ventania”. IFP e Dedos: dedo em pescoço de cisne e em botoeira. somente na episclera. Tem regressão espontânea e raramente precisa de intervenção médica. Esclerite: lesão mais ampla, veias proeminentes e vermelhidão em quase toda a parte branca do olho. A visão pode ficar embaçada, o indivíduo pode ter lacrimejamento, fotossensibilidade e até perda de acuidade visual se não tratar. Xeroftalmia: ressecamento dos olhos pela diminuição do lacrimejamento. Síndrome de Jogren (diminui lacrimejamento e salivação e também é autoimune. Indivíduo com artrite reumatoide também pode ter essa síndrome). O fenômeno de Raynaud é um vasoespasmo que acontece na microcirculação (extremidade de vasos e pés) provocado por mudanças bruscas de temperatura ou por estresse emocional. Há uma vasoconstrição (palidez, cianose) seguida por vasodilatação (hiperemia). Já no acometimento pulmonar, quando acontece aparecimento de nódulos pulmonares, deve-se fazer o exame de câncer para descartar essa doença. Esses nódulos pulmonares são semelhantes aos nódulos subcutâneos. FADIGA CRÔNICA: vai além de um cansaço descomunal. É um cansaço generalizado. Acompanha algumas doenças autoimunes e é muito debilitante. Proteína C reativa (PCR): a proteína C, em condições normais, circula em baixa concentração no sangue. Ela aumenta sua taxa a partir do momento que em que circulam no sangue muitas interleucinas (IL-6) e citocinas. É muito sensível (eleva ou abaixa muito rapidamente). Velocidade de hemossedimentação (VHS): fibrinogênio e algumas proteínas se ligam aos eritrócitos e aumentam a hemossedimentação. Ou seja, esse exame mede a velocidade com que os eritrócitos se hemossedimentam no tubo de ensaio após serem agitados. A resposta ao VHS é mais lenta do que o PCR, ele é menos sensível, se eleva lentamente quando exacerba o quadro da doença e demora mais a voltar a níveis normais quando a inflamação está cedendo. PCR e VHS monitoram QUALQUER quadro inflamatório. Não são específicos para nenhuma doença autoimune. Porém, quando associados à achados clínicos, são muito importantes para monitorar o quadro do paciente (se está em exacerbação ou em remissão). Eles monitoram o quadro inflamatório, direcionam o tratamento medicamentoso e são utilizados para calcular o índice de atividade da doença (DAS-28). Fator reumatoide (FR): não está presente em todos os indivíduos, somente em 70 a 90%. Ele não é um exame específico para artrite reumatoide e nem para outras doenças reumáticas. FR investiga auto-anticorpos contra IgG e, dependendo de como o teste é feito, consegue encontrar também auto-Ac contra IgA e IgM. Indivíduos que tem FR positivo persistentemente tendem a ter quadro pior do que os indivíduos que apresentam FR negativo. Anticorpos contra Peptídeos Citrulinados Cíclicos (anti- CCP): tem 97% de especificidade para AR, não aparece em nenhuma outra condição reumática. Pesquisa anticorpos contra proteínas contendo citrulinas. Análise do líquido sinovial (artrocentese): o líquido normal deve ser viscoso, transparente, ter em torno de 200 leucócitos e mucina em grandes quantidades. Já o líquido inflamatório apresenta pouca viscosidade, é turvo, tem de 2000 a 20 000 leucócitos e pouca quantidade de mucina. Hoje esse exame raramente é feito. Se PCR e VHS são positivos e o indivíduo tem sinais flogísticos nas articulações, já configura diagnóstico de AR, pois eles são provas da atividade inflamatória. DAS-28 (índice de atividade da doença): é calculado levando em consideração VHS ou PCR, a presença de articulações doloridas e edemaciadas, além do resultado da EVA (escala visual analógica de dor). • < 2.6 – remissão; • 2.6 e 3.2 – atividade baixa; • > 3.2 e 5.1 – atividade moderada; • > 5.1 – atividade intensa. Radiografias: em estágios iniciais, podem detectar osteopenia em mãos e ajudar no diagnóstico. Além de mostrar as alterações degenerativas e as deformidades. Ressonância magnética: detecta alterações precoces em cartilagem. O Colégio Americano de Reumatologia definiu os critérios de diagnóstico da doença, os quais são: 1. Rigidez matinal superior a 1h; 2. Artrite em pelo menos 3 articulações 3. Artrite nas mãos; 4. Artrite simétrica; 5. Nódulos reumatoides; 6. Fator reumatoide no soro; 7. Alterações radiológicas (osteopenia nas mãos). Para ser diagnosticado com AR, o indivíduo precisa ter pelo menos 4 desses 7 critérios. Alguns parâmetros podem indicar um mau prognóstico, são eles: ✓ Início em idade precoce; ✓ Altos títulos de FR; ✓ VHS/PCR alteradas – persistentes; ✓ Artrite em mais de 20 articulações; ✓ Presença de erosão – estágios iniciais; ✓ Comprometimento extra articular. 1) Anti-inflamatórios não hormonais (AINH): favorecem o alívio dos sintomas e, junto a eles, podem ser combinados analgésicos para o alívio das dores. Ex.: Ácido carboxílico, ácidos acéticos, ácidos enólicos, Colecoxib, Etoricoxib (Arcoxia) 2) Glicocorticoides: favorecem o alívio dos sintomas, são mais potentes que os anti-inflamatórios e reduzem as alterações radiográficas, agindo mais diretamente nas consequências da artrite. Ex.: Predinisona (Meticorten), Predinisolona. 3) Drogas modificadoras do curso da Doença Convencional (DMCDs): essas drogas podem ser chamadas de anti-reumáticas de ação lenta (ARAL). Elas demoram a fazer efeito e, por isso, é recomendado associar a outras drogas. Promovem o alívio dos sintomas, a redução da inflamação e a redução dos danos articulares. Ex.: Metotrexato, Cloroquina, Hidroxicloroquina, Sulfassalazina, Leflunomida, Sais de ouro. 4) Agentes biológicos ou novas drogas modificadoras do curso da doença: atuam através da inibição de citocinas como IL-1, IL-6 e TNF-α, além de serem bloqueadores de células T e B. Promovem alívio dos sintomas, redução da inflamação e, principalmente, redução dos danos articulares e progressão da doença. Ex.: Etanercepte, Infliximabe e Adalimumabe (TNF-α), Anquimira (IL-1 e IL-6), Abatacepte (células T), Retuximabe (células B). São drogas injetáveis e medicamentos caros (4/5mil a dose), mas são disponibilizados pelo SUS.
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