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A-PSICOSSOMÁTICA-E-SUAS-LEITURAS

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1 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 2 
2 Psicossomática um estudo histórico .................................................. 3 
2.1 O Problema Mente-Corpo .................................................................. 11 
2.2 Psicossomática e Psicanálise ............................................................ 14 
3 NEUROFISIOLOGIA E AS TEORIAS SOBRE AS EMOÇÕES ....... 26 
3.1 Stress e aspectos psicossociais nas doenças crônicas de pele ......... 33 
3.2 Saúde, doença e sintoma em psicossomática ................................... 36 
4 DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS .................................................... 39 
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 41 
 
 
 
2 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro quase improvável um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
3 
2 PSICOSSOMÁTICA UM ESTUDO HISTÓRICO 
 
Fonte: rosamix.com 
Segundo MYSSIOR (2007), há uma pesquisa intrínseca à formulação freudiana 
da Psicanálise: enquanto pesquisava entre 1894 e 1939, Freud ia elaborando os 
conceitos relativos ao campo de suas descobertas. Foi a histérica que sinalizou para 
Freud a direção do que ele iria inventar: o tratamento por meio da fala. Deixando o 
paciente falar, esse corpo que a palavra já afetou pode se expressar. Freud percebe 
que é também da dimensão da palavra o que poderia desafetar o corpo. Que o corpo 
pertence ao campo da Psicanálise fica bem claro no sintoma histérico, e o que diziam 
as histéricas permitiu a Freud circunscrever o sintoma e o conceito de conversão. 
Aquelas mulheres que tinham um membro paralisado ou estavam atacadas de 
cegueira, de acessos de tosse revelavam uma dimensão simbólica contrária à 
anatomia. Desde então, fica introduzida a questão de que o sofrimento psíquico afeta 
o corpo, embora nem sempre isso aconteça da mesma maneira em todos os casos. 
Freud coloca em evidência o fato de que o corpo é constituído da incorporação da 
palavra, o que ocorre nos primórdios do sujeito, desde a primeira infância. E constrói, 
então, um aparato teórico para dar conta desse saber que não se sabe, que se 
manifesta no corpo e depende da estrutura da linguagem. 
No entanto, cabe distinguir o que Freud formulou como sintoma histérico do 
que este trabalho propõe: a abordagem da questão psicossomática. Freud considera 
 
4 
a questão histérica como inscrição literal de um pensamento inconsciente, que não 
encontra saída de outro modo. E fala da hipocondria como um fenômeno distinto da 
neurose chegando a aproximá-la ao campo das psicoses, onde o corpo entra em jogo, 
embora nele não haja exatamente uma lesão (FREUD [1893], 1977 apud MYSSIOR, 
2007). Também não se trata de dizer que o sujeito do FPS (fenômeno psicossomático) 
é psicótico, mas de um fenômeno que aponta para a existência do sujeito como 
problemática. Piera Aulagnier, citada por Lacan no Seminário da Identificação, vai 
referir essa existência problemática ao campo da psicose, porque está no nível da 
relação do sujeito com seu próprio corpo, é sempre necessário definir o Outro e o 
desejo do Outro. 
Segundo MYSSIOR (2007), Freud nunca criou uma teoria propriamente 
psicossomática; na época, ele estava elaborando as neuroses atuais e as neuroses 
traumáticas. Muito mais tarde, as tentativas de articular o FPS (fenômeno 
psicossomático) com as neuroses atuais fazem retornar essa formulação freudiana. 
O FPS também toca o real do corpo, muito embora se trate do real do gozo. O que os 
psicanalistas chamam o real do corpo é a lesão que se expressa somaticamente, no 
corpo, com sua pulsação de gozo. 
Em Introdução ao narcisismo, Freud ([1914], 1976 apud MYSSIOR, 2007) 
descreve as patologias narcísicas e diz que a psicose não é a única patologia do 
campo do narcisismo. Afirma que se pode abordar a questão pela via da doença 
orgânica e da hipocondria. Além disso, dá o exemplo da doença orgânica, por meio 
da qual já se sabe que o indivíduo que sofre de uma dor orgânica retira seu interesse 
pelo mundo exterior, assim como seus investimentos libidinais pelos objetos de amor. 
E que, uma vez curado, o sujeito restabelece seu interesse e os investimentos no 
mundo externo. No caso hipocondria, o sujeito também retira sua libido e a concentra 
no órgão que o ocupa e o faz sofrer. Trata-se de um investimento libidinal narcísico, 
auto erótico numa parte do corpo. Na neurose, uma parte do corpo pode adquirir a 
propriedade de uma zona erógena, passando a se comportar como um substituto para 
o sexual. Assim, a cada investimento libidinal corresponderia um investimento no eu, 
revelando aí o narcisismo primário. Freud acrescenta nesse artigo uma dimensão 
econômica à natureza do narcisismo, diferente de suas formulações anteriores, em 
que opunha libido do eu e libido do objeto. 
Freud observa que o aparelho psíquico se esforça para manter a excitação nele 
presente tão baixa quanto possível, ou pelo menos, mantê-la constante. E em 1915 
 
5 
(Freud,1974 apud MYSSIOR, 2007) descreve um estímulo, uma força motriz, pressão 
da qual não se tem como fugir: a pulsão, cuja origem está numa fonte interna de 
estimulação que emite sinais de um mundo interno ao organismo, e que alcançam a 
mente. Os termos que caracterizam esses estímulos pulsionais são: urgência, 
exigência, compulsão. O processo somático que ocorrer num órgão ou parte do corpo 
é representado psiquicamente por uma pulsão. A fonte, Freud diz que deve ser 
orgânica, mas que só é possível conhecê-la por sua finalidade 
Em Angústia e vida pulsional, Freud ([1933], 1976 apud MYSSIOR, 2007) 
observa que as neuroses traumáticas e as neuroses atuais diferem das neuroses 
histéricas e obsessivas. Abandona a ideia de angústia como excesso de excitação 
sexual e coloca a angústia como consequência direta do momento traumático. Aborda 
as “parestesias” que acompanham os ataques de angústia, distinguindo-as da 
conversão histérica. Apesar de encontrar nas “neuroses atuais” uma relação com a 
etiologia sexual, afirma que não estão relacionadas com as ideias sexuais. Freud 
descreve duas situações nas quais a repetição serve para tentar dominar a 
experiência dolorosa: a “neurose traumática” aparece após um choque em que a vida 
foi colocada em perigo, e a causa do traumatismo não se deve à violência do choque, 
mas à ultrapassagem da soma de excitações e ao sentimento de ameaça à vida. Os 
sonhos repetem a situação traumática, contrariando a concepção clássica do sonho 
como realização de desejo. O que ele ressalta nas “neuroses atuais” diz respeito a 
uma lesão de órgão cuja causa poderia parecer atual, mas indica um núcleo não tão 
atual, pois já haveria anteriormente uma manifestação somática, expressa no corpo, 
diante de uma situação anterior de perigo. Trata-se aí, principalmente, de um impacto 
sem angústia, em que um novo apelo traumático viria reanimar o trauma. 
Afirma MYSSIOR(2007), na década de 1920, dois discípulos de Freud se 
interessaram pelas causas inconscientes, articulando-as com as doenças orgânicas. 
Foram eles o húngaro Sandor Ferenczi (1992) e o alemão G. W. Groddeck (1984), 
considerado o pai da psicossomática, que defendeu radicalmente a psicologização do 
biológico. Groddeck, estudioso das manifestações psíquicas no corpo e considerado 
“ pai” da psicossomática, foi contemporâneo de Freud, que, depois de ter celebrado 
seus trabalhos, acabou por rejeitá-los completamente devido à precariedade de sua 
fundamentação teórica. Do legado freudiano, ficaram restos a pesquisar e o anseio 
de que a Psicanálise prosseguisse com método e rigor para que seus achados fossem 
transmissíveis. Melanie Klein, J. Moreno e Michel Balint (BALINT, 1994 apud 
 
6 
MYSSIOR, 2007) tentaram dar continuidade às ideias de Groddeck; porém, não 
conseguiram no âmbito geral evitar um achatamento psicológico sobre o modelo do 
discurso médico. 
Segundo MYSSIOR (2007), os estudos anglo-americanos sobre as neuroses 
de guerra abriram campo para a psicossomática, dando origem aos trabalhos que 
Helen Dunbar (1925) em Chicago e Franz Alexander publicaram na década de 40, até 
1950. Suas pesquisas no âmbito da medicina psicossomática os levaram a conceituar 
organizações específicas de personalidade que correspondiam a essa ou aquela 
expressão psicossomática. De acordo com Mc Dougall, parte de F. Alexander a 
primeira corrente psicossomática, que afirma a causa do efeito traumático sobre o 
corpo de dever ao fato de que alguns afetos não terem conseguido exprimir-se 
livremente. Haveria, assim, uma especificidade entre o afeto e a lesão. Por exemplo, 
essa teoria supunha que uma pessoa em conflito com a mãe faria com maior 
frequência doenças cutâneas; com o pai, seriam lesões no aparelho digestivo. E os 
biologistas provaram que a especificidade não pôde ser demonstrável. Mc Dougall cita 
ainda a neuropsicobiologia, que fala de “neurose e psicose de órgão”. Para Dunbar, 
também citada por Mc Dougall (1966), as estruturas psíquicas estão ligadas a uma 
causa orgânica, portanto também às lesões psicossomáticas. Numa tentativa de 
biologizar o psíquico, o tratamento proposto passa pela alopatia e mais algumas 
interpretações de bom senso. 
A segunda corrente considera que tudo no homem é psicossomático. Groddeck 
(1984) foi um representante dessa corrente, em que o psíquico era considerado como 
todo poderoso em detrimento do biológico, afirma MYSSIOR (2007). 
Segundo MYSSIOR (2007) a terceira corrente é a que reconhece que existem 
as doenças psicossomáticas e que a patologia psicossomática inclui desordens 
autenticamente orgânicas. Elas se opõem aos distúrbios conversivos. Os autores que 
tomaram essa posição se mostraram mais prudentes ao afirmar a causalidade 
psíquica de um certo número de afecções que a Medicina oficial já havia listado, mas 
admitiram que quase nada se sabia delas. Hoje já se conhece mais sobre a etiologia 
de algumas delas, e foi descoberta uma bactéria nas úlceras pépticas. Observam-se 
diferenças genéticas numa mesma linhagem no que se refere à asma, ao eczema e 
às alergias. A retocolite hemorrágica, a psoríase, o vitiligo, a dermatite atópica, a 
herpes-zoster podem se relacionar a um traço genético. Também não há como negar 
as evidências fisiopatológicas de uma resposta alergênica de uma doença como a 
 
7 
asma. No entanto, segundo Ballone (2003 apud MYSSIOR (2007), tais argumentos 
não excluem em absoluto que nesses casos de desordens autenticamente orgânicas, 
o envolvimento preponderante do psíquico esteja implicado de uma forma específica 
na vulnerabilidade imunológica e na suscetibilidade a infecções. São moléstias que 
evoluem por crises com períodos de remissão, e até a Medicina já reconhece a 
participação subjetiva que dá partida à doença em certas circunstâncias. 
Segundo MYSSIOR (2007), dos anos 1950 até 1963, os psicanalistas 
franceses Michel Fain, M’Uzan, Dejours e Pierre Marty (MARTY, 1993), que fundaram 
a Escola de Psicossomática de Paris, retomaram a questão do determinismo da 
pulsão de morte, nesses casos. A isso foi atribuído um estatuto eminentemente 
biológico, como um tipo de “violência instintual fundamental”, que, se liberada, poderia 
provocar lesões no corpo. Acabou-se por fazer da psicossomática uma especialidade, 
que se revelou nada mais do que uma psicologização da Medicina, e para a qual se 
formam os especialistas. Os tratamentos que se propõem ficam sob a ordem médica, 
e os pacientes acometidos de FPS podem ser enviados à psicoterapia ou longa, ou 
de “inspiração analítica” e, em raros casos, à Psicanálise. Na clínica da Escola 
Psicossomática de Paris, quando se especifica o sujeito psicossomático, atribui-se a 
ele uma imobilidade, com pouca produção de fantasia e pouca capacidade mental 
(alextimia). 
Conforme MYSSIOR (2007) por ocasião da publicação de L’Investigation 
Psychossomatique por David Faim, Pierre Marty e M. M’ Uzan (MARTY, 1963), as 
manifestações somáticas relatadas pelos analisandos passam a receber uma escuta 
mais atenta por parte dos analistas e são consideradas como sinais portadores de 
mensagens para o psiquismo. Em 1966, um dos autores da Escola Psicossomática 
de Paris, Pierre Marty (1993), formaliza o conceito de “depressão essencial” como 
uma falta psíquica a ser reparada, que influencia no equilíbrio somático, inscrevendo-
a no campo da psicossomática. O Instituto de Psicossomática, fundado por Marty em 
1978, pauta-se pela ideia de encontrar nesses pacientes uma estrutura subjetiva 
particular pobre de fantasias e de palavras. A Psicanálise discorda desse achado, mas 
observa um fenômeno clássico: acontece que muitos pacientes psicossomáticos 
fazem anos de análise e só num dado momento revelam a presença de uma lesão 
que já tinham, sem terem se referido a isso anteriormente. 
Ainda na trilha dessa escola, aproxima-se a patologia psicossomática dos 
fatores psicopatogênicos de mal-estar social, dificuldades familiares, falência 
 
8 
psicológica dos pais na infância, situações em que a criança tenha ficado exposta à 
falta e à frustração, causando um desgaste na capacidade de elaboração fantasística 
e onírica. A difusão dessas ideias provocou, e provoca até hoje, mal-entendidos, 
segundo Kreisler apud MYSSIOR (2007): 
...a generalização reducionista que concebe uma personalidade 
psicossomática, padronizada, portadora de pensamento operatório 
decorrendo daí termos inapropriados de uso corrente tais como doente ou 
doença psicossomática, personalidade (KREISLER, 1999, p. 25 MYSSIOR 
(2007). 
Segundo MYSSIOR (2007), outros autores que tiveram sua importância na 
chamada medicina psicossomática foram George Engel (1962), Peter Sífneos (1973-
1978) e Brazelton (1982). E autores como Margareth Mahler e Daniel Stern (STERN, 
1977), Joyce Mc Dougall (1966) trouxeram contribuições importantes da Psicanálise 
para o campo da psicossomática. Dejours (1991) descreve suas experiências sobre a 
somatização, mas contradiz a concepção freudiana do aparelho psíquico, quando 
considera a pulsão como uma manifestação sobretudo orgânica. 
 
 
Fonte: Fonte: psicologosberrini.com.br 
MYSSIOR (2007) afirma que na clínica da primeira infância, o primeiro 
observador experimental foi o embriologista e psicanalista René Spitz (1993) que, 
estudando crianças hospitalizadas, utilizou o método da observação direta de bebês 
e crianças. Seu procedimento registra fatos a partir dos quais formula leis sobre o 
 
9 
desenvolvimento psíquico normal. Ele observa as trocas da criança com o mundo, nos 
comportamentos que ela manifesta. Spitz enfocou sua pesquisa na observação e, por 
não ter voltado sua atenção aos ditos da criança, acabou reiterando a tendência 
desenvolvimentista para a infância. Da mesma forma, foi pela observação e, portanto, 
com ênfase na fenomenologia que Serge Lebovici e colaboradorestrouxeram, na 
década de 1960, contribuições sobre o comportamento dos bebês. (LEBOVICI; WEIL-
HALPERN, 1989). Devemos aos trabalhos de Françoise Dolto (1977) e Donald 
Winnicott ([1969] 1978), respectivamente na França e na Inglaterra os mais 
importantes aportes clínicos sobre as manifestações psicossomáticas na infância, 
feitos através da escuta clínica e sustentando o desejo de analisar crianças. Ambos 
elevaram a escuta da criança à máxima potência, criando estratégias para escutar as 
crianças que ainda não falavam e deixando inúmeros casos clínicos. Aluna de Dolto, 
a psicanalista Maud Mannoni (1981) teve um papel importante: com a experiência de 
Bonneuill, Hospital-dia fundado para acolher crianças e adolescentes com 
comprometimentos diversos, teve como fio condutor, a invenção. Ela ajudou a 
escrever a história da Psicanálise com a criança: de como a criança coloca seu corpo 
em jogo quando o psíquico precisa se expressar, mas não encontra palavras. 
Em todos esses trabalhos com a criança, o papel do pediatra fica evidente já 
que ocupa uma posição-chave na abordagem psicossomática da criança sob três 
aspectos: (a) a detecção; (b) o tratamento médico; e (c) o encaminhamento para o 
tratamento psíquico. As doenças consideradas psicossomáticas mais frequentes nas 
crianças são a asma e o eczema; os distúrbios de sono e do apetite; as infecções 
respiratórias e os adoecimentos frequentes, ou seja: na linguagem médica, “infecções 
crônicas ou reicidivantes”. Citada na literatura, a variada patologia infantil abrange 
casos de artrite subaguda ou crônica, retocolites, úlceras digestivas, atrasos no 
crescimento (KREISLER, 1999). Também na literatura referida à questão 
psicossomática aparecem as doenças autoimunes, o câncer a diabetes infantil 
(SCHILLER, 2003 apud MYSSIOR (2007). 
O termo psicossomático, na expressão mais comum, pode reportar-se tanto ao 
quesito da origem psicológica de determinadas doenças orgânicas, quanto 
às repercussões afetivas do estado de doença física no indivíduo, como até confundir-
se com simulação e hipocondria, onde toma um sentido negativo. (Cardoso, 1995, p.5 
apud CERCHIARI, 2000). 
 
10 
O conceito de doença psicossomática, sua classificação e diagnóstico, é outra 
questão polêmica. Halliday (1943,1945,1946,1948, cit. Alexander, 1989, p.43 apud 
CERCHIARI, 2000) propõe que a úlcera péptica, a artrite reumatoide, a hipertensão, 
o hipertireoidismo essencial e outras estariam inclusos nas doenças psicossomáticas. 
O ponto de partida deste autor firma-se na hipótese de que o fator etiológico 
proeminente nestas doenças é o fator psicológico. 
No entanto, Alexander (1989 apud CERCHIARI, 2000) diz que, 
teoricamente, cada doença é psicossomática, uma vez que fatores emocionais 
influenciam todos os processos do corpo, através das vias nervosas humorais e que 
os fenômenos somáticos e psicológicos ocorrem no mesmo organismo e são apenas 
dois aspectos do mesmo processo. 
A história da psicossomática, poderia ser dividida em duas grandes correntes: 
de um lado, as correntes inspiradas nas teorias psicanalíticas e com base no conceito 
de doença psicossomática; de outro lado, a inspiração biológica, alicerçada no 
conceito de stress. (Dantzer, 1989 cit. Cardoso, 1995, op. cit. apud CERCHIARI, 
2000). 
Para Mello Filho (1992 apud CERCHIARI, 2000), a evolução da psicossomática 
ocorreu em fases. A primeira, denominada de fase inicial ou psicanalítica, sob a 
influência das teorias psicanalíticas, teve seu interesse voltado para os estudos da 
origem inconsciente das doenças, das teorias da regressão e dos ganhos secundários 
da doença. A segunda, também chamada de fase intermediária, influenciada pelo 
modelo Behaviorista, valorizou as pesquisas tanto em homens como em animais, 
deixando assim grande legado aos estudos do stress. A terceira fase, denominada de 
atual ou multidisciplinar, valorizou o social, a interação e interconexão entre os 
profissionais das várias áreas da saúde. 
 
11 
2.1 O Problema Mente-Corpo 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
Segundo CRUZ; et al., (2011), o problema mente-corpo tem sido tema de 
discussão desde a antiguidade. As concepções sobre saúde e doença e sobre a 
natureza das enfermidades constroem-se dentro de uma perspectiva dualista, que 
considera mente e corpo como entidades distintas, ou numa perspectiva monista, que 
considera a unicidade e indissolubilidade de ambos. Ao longo da história, tem-se 
observado oscilações entre ambas as concepções que repercutem também no 
pensamento médico. 
Segundo CRUZ; et al., (2011) na Grécia Antiga, Aristóteles e Hipócrates 
consideravam o homem como uma unidade indivisível. Hipócrates (460 a.C.), numa 
tentativa de explicar os estados de saúde e enfermidade, postulou a existência de 
quatro fluidos (humores) principais no corpo: bile amarela, bile negra, fleuma e 
sangue. Desta forma, a saúde era baseada no equilíbrio destes elementos. Ele via o 
homem como uma unidade organizada e entendia a doença como uma 
desorganização deste estado. Hipócrates entendia que a doença não representava a 
vontade divina, mas surgia por antecedentes lógicos. A saúde, para ele, consistia de 
um equilíbrio harmônico com o mundo ao redor, enquanto a doença surgia de desafios 
a esse equilíbrio. 
 
 
12 
Essa visão racionalista fundamenta a medicina moderna (VOLICH, 2000 apud 
CRUZ; et al., 2011). Cláudio Galeno (129-199) resgatou a teoria humoral e ressaltou 
a importância dos quatro temperamentos no estado de saúde. Via a causa da doença 
como endógena, ou seja, estaria dentro do próprio homem, em sua constituição física 
ou em hábitos de vida que levassem ao desequilíbrio. 
O conceito de Galeno a respeito de saúde e doença prevaleceu por vários 
séculos, até o suíço Paracelsus (1493-1541) afirmar que as doenças eram provocadas 
por agentes externos ao organismo. Ele propôs a cura pelos semelhantes, baseada 
no princípio de que, se os processos que ocorrem no corpo humano são químicos, os 
melhores remédios para expulsar a doença seriam também químicos, e passou então 
a administrar aos doentes, pequenas doses de minerais e metais (CASTRO et al., 
2006 apud CRUZ; et al., 2011). 
Durante a Idade Média, a Igreja Católica buscou organizar o conhecimento a 
partir do paradigma da vida após a morte, exaltando a soberania da alma, refletindo 
sobre a ideia de doença e de um corpo menosprezado (VOLICH, 2001 apud CRUZ; 
et al., 2011). A doença era atribuída ao pecado, sendo o corpo o locus dos defeitos e 
pecados, e a alma, o dos valores supremos, como espiritualidade e racionalidade 
(FAVA e SONINO, 2000 apud CRUZ; et al., 2011). 
No século XVII, Descartes postulou uma disjunção entre mente e corpo, por 
considerá-los substâncias de naturezas diferentes, denominando como res extensa a 
matéria e res cogitans a alma pensante, e assim favorecendo no âmbito da ciência o 
aspecto material (VALENTE e RODRIGUES, 2010 apud CRUZ; et al., 2011). 
Entretanto, o principal problema detectado na perspectiva dualista é a dificuldade em 
explicar como essas duas substâncias interagem. Descartes sugeriu que essa 
comunicação seria por meio da glândula pineal. Embora esta solução pareça ser 
arbitrária, diversos autores, inclusive na época contemporânea, têm pesquisado as 
funções desta glândula, e alguns deles acreditam que ela tenha realmente funções 
especiais. 
Deste modo, seria possível interpretar a filosofia cartesiana como um dualismo 
interativo, em que ocorrem processos causais em ambas as direções (do corpo para 
a mente e da mente para o corpo - a chamada "causação mental"). Portanto, apesar 
da demasiada valorização da substância material em detrimento da substância mental 
atribuída pela ciência por influência do dualismo cartesiano, não se pode afirmar que 
na perspectiva Descartes as duas substâncias sejam completamente separadas. 
 
13 
Espinosa, também no século XVII, dedicou-se à reflexãosobre o problema mente 
corpo, ao qual trouxe grandes contribuições. Ele apresentou uma perspectiva 
diferente da de Descartes quando disse que o pensamento e a extensão, embora 
distinguíveis, são produtos da mesma substância. A referência a uma única 
substância serve ao propósito de apresentar a mente como inseparável do corpo, o 
que deixava de requerer a integração ou interação desses dois aspectos. A mente e 
o corpo nasciam em paralelo da mesma substância sem que houvesse uma relação 
causal entre ambos (Damásio, 2004 apud CRUZ; et al., 2011). 
Conforme CRUZ; et al., 2011) para o monismo espinosiano, haveria o chamado 
"paralelismo psicofísico", doutrina segundo a qual todos os eventos corporais são 
também mentais e todos os eventos mentais são também corporais, conduzindo à 
conclusão de que tanto a saúde quanto a doença são fenômenos psicofisiológicos. 
No século XIX, a visão dualista foi fortalecida com as descobertas de Pasteur 
e Virchow (CASTRO et al., 2006 apud CRUZ; et al., 2011), que atribuíram as causas 
das enfermidades a agentes externos, como micro-organismos, o que destaca a 
importância dos aspectos biológicos em detrimento da mente no processo saúde-
doença. No início do século XX, Freud resgata a importância dos aspectos internos 
do homem com o desenvolvimento da teoria psicanalítica. 
Em 1917, Groddeck publica “Determinação psíquica e tratamento psicanalítico 
das afecções orgânicas”, sendo este considerado o marco da medicina 
psicossomática. Groddeck estendeu o campo da psicanálise a todas as doenças e 
atribuía a elas uma significação. Walter Cannon, em 1929, reforça a concepção 
holística com uma base fisiológica ao definir o conceito de homeostase, afirmando que 
qualquer estímulo, inclusive o psicossocial, que perturba o organismo, perturba-o em 
sua totalidade (CALDER, 1970 apud CRUZ; et al., 2011). Em seu trabalho, Cannon 
avaliou as alterações fisiológicas decorrentes da excitação emocional. 
 
14 
2.2 Psicossomática e Psicanálise 
 
Fonte: www.psic.com.pt/psicossomatica 
O termo “psicossomática” foi utilizado pela primeira vez em 1818 por Heinroth, 
um psiquiatra alemão, em seus estudos sobre insônia e as influências das paixões na 
tuberculose, destacando a possibilidade de uma influência dos fatores psicológicos 
nas patologias (LIPOWSKI, 1984 apud CRUZ; et al., 2011). A compreensão da relação 
mente-corpo, até então, era baseada numa visão dualista, tanto em relação ao 
princípio como em relação à função desses dois aspectos. 
O funcionamento de ambos era considerado quase que independente um do 
outro e a interação ocorreria numa via dupla de forma psicossomática ou somato-
psíquica. A compreensão da interação mente e corpo ganha novas perspectivas a 
partir da Psicanálise, quando ambas as dimensões são pensadas de forma conjunta 
e dinâmica, possibilitando a criação de um campo de saber denominado 
Psicossomática (VALENTE e RODRIGUES, 2010 apud CRUZ; et al., 2011). 
 
Sigmund Freud 
 
Segundo CRUZ; et al., (2011) no final do século XIX, Freud (1835-1930) 
resgata a importância dos aspectos internos do homem com o desenvolvimento da 
teoria psicanalítica. Não encontrando lesão orgânica nos corpos das histéricas que 
justificassem os sintomas apresentados, Freud (1893), em seu livro “Algumas 
 
15 
considerações para um estudo comparativo das paralisias motoras orgânicas e 
histéricas” afirma que “a histeria se comporta como se a anatomia não existisse, ou 
como se não tivesse conhecimento desta”. Uma paralisia nos membros inferiores 
ocorria mesmo com os músculos e nervos intactos, ou uma afasia ocorria sem que a 
área de Broca estivesse comprometida. Pela hipnose, podia-se retirar ou até alterar 
os sintomas momentaneamente, demonstrando que o organismo estava em condição 
de funcionamento “normal”. Exemplos como esses desafiaram a Medicina da época, 
pois não havia até então explicação para esses eventos, fazendo com que a histeria 
caísse no âmbito da encenação e teatralidade. 
 
 
Fonte: www.verdadesdocorpo.com 
Conforme CRUZ; et al., (2011) pelo método da associação livre, que se tornou 
a técnica psicanalítica por excelência, as histéricas diziam o que lhes vinha à mente e 
acabavam por relembrar uma cena traumática e que, de certo modo, esse trauma se 
associava com os sintomas. Essa associação era tal que, ao conseguir verbalizar a 
situação traumática, os sintomas eram abrandados. Assim, eles passam a possuir um 
sentido que é construído pelo sujeito, uma motivação que é desconhecida para o 
indivíduo, é inconsciente, mas remontando a uma cadeia lógica, ao verbalizar e trazer 
à tona esse evento traumático e reprimido, os sintomas eram aliviados (FREUD, 
1895). Apesar de não ter se aprofundado nas questões de somatização, com os 
estudos sobre histeria, Freud assinala a relevância dos aspectos psíquicos em 
 
16 
algumas manifestações somáticas, fornecendo bases para se pensar na interação 
entre o psíquico e o somático a partir da psicanálise. 
 
Georg Groddeck 
 
Em 1917, Groddeck (1866-1934) publica “Condicionamento psíquico e 
tratamento de moléstias orgânicas pela psicanálise” no periódico Internationale 
Zeitschrift für Psychoanalyse, sendo este considerado o marco da medicina 
psicossomática. Neste texto já aparece o conceito de Isso, “por quem somos vividos”, 
ao qual atribui poder de ação sobre todo o organismo. Groddeck define a doença como 
uma das expressões do Isso, tal como seriam o formato do nariz, o jeito de andar, 
enfim, como uma manifestação de vida, e não como um mal a ser combatido a 
qualquer preço. Groddeck implica o Isso até nos acidentes que nos acontecem 
(CASETTO, 2006 apud CRUZ; et al., 2011). 
A doença não provém do exterior, o próprio ser humano a produz; o homem 
só se serve do mundo exterior como instrumento para ficar doente, 
escolhendo em seu inesgotável arsenal de acessórios ora a espiroqueta da 
sífilis, ora uma casca de banana, depois uma bala de fuzil ou um resfriado 
(Groddeck, 1923, p. 219 apud CRUZ; et al., (2011). 
Groddeck estendeu o campo da psicanálise a todas as doenças e atribuía a 
elas uma significação. Acreditou encontrar no significado da doença o valor simbólico 
dos sintomas, já que considerava o homem como um ser inatamente predisposto à 
simbolização. Assim, dores de cabeça aplacam os pensamentos; magreza e fraqueza 
denunciam a nostalgia da condição de recém-nascido; uma barriga, o desejo de 
gravidez. Groddeck cita vários de seus próprios sintomas que fez desaparecer – 
inclusive gota – somente com a autoanálise (CASETTO, 2006 apud CRUZ; et al., 
(2011). 
Sendo o sintoma uma manifestação do Isso, a doença tem um sentido próprio, 
particular do indivíduo. Um sentido impossível de determinar genericamente, pelo seu 
caráter particular porque não há limites definidos entre o saudável e o doentio, entre 
onde começa a enfermidade e onde termina a saúde. O papel do analista seria de 
decifrar esse sentido por meio da análise, pois a retomada da consciência sobre o que 
fez com que a pessoa desenvolvesse tal sintoma faz com que ela seja curada, afirma 
CRUZ; et al., (2011). 
 
17 
Franz Alexander 
 
Na década de 1930, surge na cidade de Chicago, sob a direção de Franz 
Alexander (1891-1964), o Instituto Psicanalítico de Chicago. Alexander sustentava um 
modelo psicossomático de base psicofisiológica. Defendia que as doenças orgânicas 
poderiam ser entendidas basicamente como respostas fisiológicas exacerbadas 
decorrentes de estados de tensão emocional crônica motivados por processos 
mentais inconscientes desprovidos de significado simbólico (HAYNAL e PASINI, 1983 
apud CRUZ; et al., (2011). Segundo ele, estados emocionais reprimidos provocariam 
a cronificação das alterações fisiológicas que normalmente acompanham as 
emoções, alterações que se regularizam quando tais emoções são expressas e se 
desfazem. Assim, por exemplo, a raiva é acompanhada por um aumentoda pressão 
sanguínea; trata-se de um concomitante fisiológico que não tem finalidade expressiva, 
sendo apenas uma resposta regida pelo sistema nervoso simpático preparando o 
organismo para a ação. Mas se a raiva não pode ser diretamente expressa, nem 
encontrar um caminho alternativo, as alterações neurovegetativas associadas, como 
as relativas à pressão, deverão se manter num patamar elevado (CASETTO, 2006 
apud CRUZ; et al., (2011). 
Segundo CRUZ; et al., (2011), associada à psicogênese, Alexander cria a teoria 
da especificidade, que diz que as respostas fisiológicas para estímulos emocionais, 
tanto normais quanto mórbidos, variam de acordo com a natureza do estado 
emocional precipitante. A resposta vegetativa de determinado estímulo emocional 
varia de acordo com a qualidade da emoção e todo estado emocional tem sua 
síndrome fisiológica. Para Alexander, os aspectos emocionais e fisiológicos são 
expressões concomitantes diferentes de um mesmo processo. O aspecto emocional 
é expresso por palavras, enquanto o fisiológico é expresso por meio de alterações nas 
funções corporais, como por exemplo, a alteração da pressão arterial, na experiência 
emocional da raiva. 
O aumento da pressão arterial é o concomitante (a expressão somática) 
daquele momento de vida da pessoa que está com raiva – expressão emocional 
daquele momento (VALENTE e RODRIGUES, 2010 apud CRUZ; et al., (2011). Os 
sintomas psiconeuróticos corresponderiam, na visão de Alexander, à construção de 
caminhos alternativos, individuais, para a expressão de emoções reprimidas. 
Portanto, não seriam eles os responsáveis pelas organoneuroses, mas a 
 
18 
psiconeurose seria uma forma de expressão alternativa do reprimido. Afirmava que a 
pressão sanguínea de alguns hipertensos se normalizava quando do desenvolvimento 
de certos sintomas neuróticos. Alexander rompia com a tradição que situava os males 
orgânicos como resultado direto ou indireto da psiconeurose (CASETTO, 2006 apud 
CRUZ; et al., (2011). 
As proposições de Alexander foram questionadas nas décadas seguintes por 
autores que acreditavam que seu modelo psicossomático de base psicofisiológica se 
apoiava em uma visão dualista do homem. Endossando esses questionamentos, 
diversos psicanalistas franceses organizaram-se com o intuito de delinear uma nova 
via de formação das manifestações corporais do sofrimento emocional (PERES, 2006 
apud CRUZ; et al., (2011). 
 
Pierre Marty 
 
Em 1962, Pierre Marty (1918-1993) e Michel de M’Uzan propuseram a noção 
de pensamento operatório. Tratava-se da conceituação de uma forma de atividade 
psíquica diferente da neurose e da psicose. Ela descrevia um modo de pensamento 
consciente que parecia desprovido de simbolizações, de atividades oníricas, de 
duplos sentidos, de metáforas, de atos falhos e de fantasia (VALENTE e 
RODRIGUES, 2010; CASETTO, 2006 apud CRUZ; et al., (2011), mas 
excessivamente orientado para a realidade externa e estreitamente vinculado à 
materialidade dos fatos (PERES, 2006 apud CRUZ; et al., (2011), o que denota a 
existência de uma carência funcional do psiquismo (HORN e ALMEIDA, 2003 apud 
CRUZ; et al., (2011). A fala desses pacientes é usada mais como modo de se livrarem 
rapidamente das tensões do que para significar suas experiências (CASETTO, 2006 
apud CRUZ; et al., (2011). Em 1966, Marty propõe o conceito de “depressão 
essencial”. Esta decorreria de eventos traumáticos e colocaria o sujeito em posição 
particularmente vulnerável ao adoecimento. O pensamento operatório poderia se 
estabelecer na cronificação desse estado, no qual a capacidade de elaboração 
psíquica do impacto da vida cotidiana estaria bastante comprometida (CASETTO, 
2006 apud CRUZ; et al., (2011). 
Essa sintomatologia depressiva define-se pela falta: apagamento, em toda a 
escala, da dinâmica mental (deslocamentos, condensações, introjeções, 
projeções, identificações, vida fantasmática e onírica). Não se encontra, 
nessa depressão “conveniente”, a “relação libidinal” regressiva e ruidosa das 
 
19 
outras formas de depressões neuróticas ou psicóticas. Sem contrapartida 
libidinal, portanto, como a desorganização e a fragmentação ultrapassam 
sem dúvida o domínio mental, o fenômeno é comparável ao da morte, onde 
a energia vital se perde sem compensação, afirma CRUZ; et al., (2011). 
Marty (1993) define o psiquismo como um conjunto de funções complexas, que 
seriam evolutivamente mais recentes que as somáticas e, portanto, mais susceptíveis 
à desorganização. Ele permitiria aos organismos lidar com o impacto afetivo de 
situações da vida. O psiquismo deficiente, tanto emocionalmente como 
simbolicamente, desorganiza-se progressivamente com a introdução de um distúrbio, 
cabendo então ao somático ter de lidar com tal distúrbio (VALENTE e RODRIGUES, 
2010 apud CRUZ; et al., 2011). Neste caso, um processo regressivo atingiria algum 
ponto de fixação somático, fazendo com que um distúrbio se estabelecesse na função 
correspondente a esse ponto, de modo a estancar o processo involutivo e permitir a 
reorganização posterior e gradual do sujeito (CASETTO, 2006 apud CRUZ; et al., 
2011). Tais pontos de fixação seriam em parte herdados, em parte constituídos pela 
história de vida do sujeito, sendo as manifestações somáticas ausentes de sentido 
próprio. Dessa forma, cada indivíduo apresentaria uma sintomatologia com fortes 
traços que lhe são próprios, particulares, de tal forma que a psicossomática deve ser 
pensada a partir do sujeito, e não a partir da doença (VALENTE e RODRIGUES, 2010 
apud CRUZ; et al., (2011). 
 
 
Fonte:www.altoastral.com.br 
 
20 
Segundo CRUZ; et al., (2011), a somatização, então, surgiria em decorrência 
de estruturas psíquicas deficitárias na capacidade de representação e elaboração 
simbólica. Assim, o sintoma ocorreria pela ausência de sentido, em virtude da 
incapacidade do psiquismo de lidar com o distúrbio. Portanto, um menor grau de 
atividade mental corresponde a uma maior vulnerabilidade somática. 
A capacidade de elaboração simbólica, que indicaria a qualidade e a 
quantidade das representações psíquicas, Marty (1998) denominou mentalização. 
Quanto melhor a mentalização, maior a capacidade do psiquismo em sustentar os 
choques dos traumatismos no registro psíquico (VALENTE e RODRIGUES, 2010 
apud CRUZ; et al., (2011). Marty recomendou uma terapêutica diferente, 
especialmente nos casos de somatizações graves. Devido à negatividade simbólica e 
ausência de referências afetivas, resultantes do pensamento operatório, sua proposta 
era a de um trabalho psicoterápico, em que o papel do terapeuta seria de nomeação 
dos estados psíquicos e sobretudo afetivos, de forma a suprir a carência simbólica, 
que visasse “o estabelecimento ou o restabelecimento do melhor funcionamento 
possível” do psiquismo do paciente. Sessões face-a-face para não deixar o paciente 
no desamparo perante sua pobreza simbólica e apenas uma vez por semana, pela 
sobrecarga psíquica que representam para uma estrutura frágil (CASETTO, 2006 e 
VALENTE e RODRIGUES, 2010 apud CRUZ; et al., (2011). 
 
Joyce McDougall 
 
McDougall (1996 apud CRUZ; et al., 2011) propõe o conceito de desafetação 
para explicar o processo de somatização. Esse conceito corresponde a um 
mecanismo que ejeta do psiquismo percepções, pensamentos e fantasias capazes de 
(res) suscitar afetos insuportáveis, ou seja, relacionados a experiências traumáticas 
primitivas. Ocorre um esvaziamento de significação afetiva da palavra. Esse recurso 
exigiria novas formas de dispersão da energia que foi ejetada, que poderia tomar a 
forma de comportamentos aditivos ou de somatizações. O sentido da doença diz 
respeito a um drama não representado, e para sê-lo, precisa vir ao âmbito da 
linguagem por meio da análise. McDougall fala da somatização a partir de uma 
demanda de sentido, como uma história a ser reconstruída (VALENTE e 
RODRIGUES, 2010 apud CRUZ; etal., 2011). 
 
21 
A tendência a “ejetar” do próprio psiquismo percepções, fantasias e 
pensamentos associados a afetos se assemelha, em seus aspectos principais, a um 
mecanismo de defesa citado por Freud (1894/1996): o repúdio para fora do ego 
(Verwerfung). Tal recurso não somente promove a exclusão de sentimento do plano 
da consciência, mas também leva o indivíduo a agir como se nunca tivesse tido acesso 
aos conteúdos repudiados. Entretanto, na concepção freudiana, o repúdio para fora 
do ego leva ao surgimento de fenômenos alucinatórios e delirantes, de maneira que 
pode ser entendido como uma defesa específica das psicoses. McDougall (1996), por 
sua vez, propõe que os afetos “ejetados” do aparelho mental de pacientes somáticos 
não geram como subproduto alucinações ou delírios, mas, sim, se perdem sem 
qualquer espécie de compensação psíquica. Como consequência, tendem, ao 
contrário do que ocorre com os psicóticos, a ser reduzidos a sua pura expressão 
somática. Desse modo, McDougall (1996) defende que as emoções podem – ao 
contrário do que sugerem os pressupostos metapsicológicos clássicos – efetivamente 
desaparecer do aparelho psíquico mediante a expulsão do plano consciente de 
pensamentos, fantasias e representações associadas a afetos capazes de provocar 
sofrimento (PERES, 2006 apud CRUZ; et al., 2011). 
 
 
Fonte: amemdesejoamem.com 
O termo desafetação indica, por si só, o rompimento do indivíduo com seus 
próprios sentimentos. A desafetação leva o sujeito a encontrar dificuldades para 
 
22 
apreender contrastes emocionais e discriminar tanto seus afetos quanto os das 
demais pessoas com as quais convive, conduzindo ao estabelecimento de vínculos 
pouco consistentes (BUNEMER, 1995 apud CRUZ; et al., 2011). McDougall (1996) 
destaca como causa central da desafetação as perturbações relacionais entre mãe e 
bebê. 
O bebê, como assinala McDougall, antes de ter a capacidade de representar a 
si mesmo e o mundo em palavras, é necessariamente alexitímico. As mensagens 
enviadas pelo corpo ao psiquismo, e vice-versa, eram inscritas sem representações 
de palavras no psiquismo, como no início da infância, e assim, o indivíduo reagiria a 
uma emoção angustiante com a somatização (VALENTE e RODRIGUES, 2010 apud 
CRUZ; et al., 2011). Essa hipótese parte do princípio de que a figura materna tem 
como principal tarefa a proteção do filho contra as tensões provenientes do mundo 
exterior. Para tanto, deve interpretar a comunicação primitiva e nomear os estados 
afetivos de seu bebê, promovendo a progressiva “dessomatização” do aparelho 
mental. 
O adequado desempenho dessa tarefa subsidia o acesso da criança à palavra 
e favorece o desenvolvimento da capacidade de simbolização (PERES, 2006 apud 
CRUZ; et al., 2011). Marty e McDougall concordam que os sujeitos que apresentam 
processos de somatização se caracterizam por uma marcante restrição da capacidade 
de elaboração psíquica. Em função disso, tanto Marty quanto McDougall entendem as 
afecções orgânicas potencializadas pelo pensamento operatório ou pela desafetação 
como manifestações desprovidas de valor simbólico (PERES, 2006 apud CRUZ; et 
al., 2011). Entretanto, o modelo de McDougall apresenta uma diferença importante 
em relação ao de Marty, ao dizer que a somatização é consequência de uma defesa 
do psiquismo e não um processo de desorganização; a desafetação seria 
precisamente para evitá-la. 
 
 
23 
 
Fonte: psico.online 
A doença teria, portanto, um sentido, mas que por algum motivo não pôde ser 
representado em decorrência da angústia que suscitaria (VALENTE e RODRIGUES, 
2010 apud CRUZ; et al., 2011). Marty (1993) e McDougall também concordam que a 
utilização do termo “psicossomático” como adjetivo remete ao antigo dualismo 
cartesiano. Seguindo esse raciocínio, consideram um erro afirmar que uma dada 
doença é psicossomática e pensam que a unicidade mente-corpo faz do homem um 
ser psicossomático por definição. Ambos reconhecem a multicausalidade do 
adoecimento e não atribuem exclusivamente a determinantes psíquicos a eclosão de 
enfermidades somáticas. 
Em virtude da complexidade de tal processo, contudo, inegavelmente 
privilegiam a análise dos fatores emocionais associados a esse processo (PERES, 
2006 apud CRUZ; et al., 2011). As abordagens de Marty e McDougall não se 
caracterizam como um reducionismo psicológico semelhante aos modelos 
apresentados nos primórdios da psicossomática psicanalítica, mas sim como um 
recorte necessário diante das múltiplas facetas do fenômeno que se propõem analisar. 
Tais abordagens são perfeitamente compatíveis com o modelo biopsicossocial de 
compreensão do processo saúde-doença vigente nos dias de hoje. Além disso, as 
proposições de Marty e McDougall não excluem outras tentativas de explicação da 
gênese de enfermidades orgânicas – sejam elas médicas, culturais, sociais ou de 
 
24 
outro caráter – apoiadas em elementos conceituais de raciocínio distintos (PERES, 
2006 apud CRUZ; et al., 2011). 
 
Christophe Dejours 
 
Christophe Dejours, para explicar os processos de somatização, propôs o 
conceito de subversão libidinal: “processo pelo qual funções biológicas seriam 
‘colonizadas’ por jogos eróticos no contexto da relação afetiva materna. Corresponde 
à constituição do corpo erógeno a partir do corpo biológico”. (CASETTO, 2006 apud 
CRUZ; et al., 2011). A subversão libidinal seria essencial para o trabalho psíquico das 
pulsões e, sobretudo, para a atenuação da violência que representam em estado 
bruto. Se diante da mobilização dessas forças no cotidiano não houver a possibilidade 
de representação, restam os caminhos da atuação (violenta) ou da somatização. O 
adoecimento ocorreria, portanto, para se evitar a ação destrutiva, partindo-se do veto 
à representação. Dejours questiona a visão solipsista de Marty, que dá demasiada 
ênfase aos aspectos intrasubjetivos envolvidos nos processos de traumatismo, 
fazendo análises restritas aos movimentos psíquicos interiores e dando menor 
atenção aos aspectos externos. Para Dejours, o sintoma somático aconteceria na 
relação com o outro, se “adoeceria por alguém”. Destaca, então, a importância de se 
considerar os aspectos intersubjetivos nessa discussão: “Na relação com o outro eu 
mobilizo não somente pensamentos, ideias e desejos, mas também o meu corpo para 
expressar este pensamento e este desejo. De certa forma, eu mobilizo o corpo a 
serviço da significação”. (DEJOURS, 1998 apud CRUZ; et al., 2011). 
Sendo dirigido a um outro, Dejours atribui ao sintoma somático um caráter de 
intencionalidade e, mais precisamente, uma intencionalidade expressiva. O sintoma 
ocorreria porque a captura libidinal não pôde ser feita e transformada em um “agir 
expressivo” dirigido a um outro, afirma, CRUZ; et al., (20110. 
O corpo é convocado para produzir significações e, sobretudo, para produzir 
efeitos – sedução, medo, sono etc – no outro. Mas isso depende do corpo erógeno, 
de haver sido constituído pela gradativa “colonização” do orgânico pelo psíquico. 
Entretanto, algumas funções do corpo podem ficar fora dessa transformação, por 
dificuldade dos pais em “brincar” com ela, de modo a não se colocarem “a serviço do 
agir expressivo dos movimentos e estados afetivos (ou emocionais) do corpo” 
(DEJOURS, 1999, apud CRUZ; et al., 2011). 
 
25 
A essa impossibilidade Dejours chama de “forclusão da função”. Quando, no 
contexto de uma dinâmica intersubjetiva, uma função não subvertida for convocada, 
estará criado o contexto mais favorável à somatização. O seu sentido, no entanto, não 
está na origem, e sim no a posteriori de seu surgimento, já que deverá ser produto 
elaborado no contexto da relação com um outro: “o sentido do sintoma somático, se é 
que ele existe, não está no sintoma, mas no trabalho de interpretação eventualmente 
desencadeado por ele” (DEJOURS, 1999, apud CRUZ; et al., 2011). O sentido dosintoma precisa ser criado, mas isto não se fará senão com alguém. Para que o 
analista seja esse alguém, diz Dejours, ele precisará se deixar questionar por esse 
acontecimento, revendo sua compreensão da transferência, repensando suas 
hipóteses de trabalho. Em outras palavras, ele deverá permitir que a surpresa – não 
há previsibilidade em análise – ou que a concretude do sintoma se transforme em um 
enigma da relação – e não somente do paciente -; ele deverá se deixar afetar 
(DEJOURS, 1999 apud CRUZ; et al., 2011). A anterior oposição entre doença com ou 
sem sentido foi transformada na admissão de que o sentido – e a significação – 
estariam no cerne do processo de adoecimento, mas não em sua origem (CASETTO, 
2006 apud CRUZ; et al., 2011). 
Apesar das divergências nas formas de compreender e lidar com o fenômeno 
psicossomático, percebe-se que alguns atributos se mantêm entre as propostas, de 
maneira que a noção psicanalítica de somatização vai ganhando forma. Ela se coloca 
na relação entre o psíquico e o somático, quando em decorrência de estresse 
psicossocial, o corpo experimenta sintomas e distúrbios que são influenciados pelo 
psiquismo, seja no surgimento, manutenção ou término destes. Nessas manifestações 
corporais, havendo ou não a presença de lesão anatômica, a feição emocional é bem 
explícita, afirma CRUZ; et al., (2011). 
 
26 
3 NEUROFISIOLOGIA E AS TEORIAS SOBRE AS EMOÇÕES 
 
Fonte: www.ibnbrasil.com 
Segundo CRUZ; et al., (2011) no âmbito da neurofisiologia, alguns teóricos se 
dispuseram a explicar as inter-relações entre os aspectos cognitivos, emocionais e os 
processos somáticos. William James (1842-1910) e Lange propuseram uma relação 
entre experiências emocionais e processos corporais e argumentaram que a 
experiência emocional surgia da percepção das mudanças no corpo. Eles definiram a 
emoção como uma sequência de eventos que começa com a ocorrência de um 
estímulo e termina com um sentimento, ou seja, uma experiência emocional 
consciente. 
Para James e Lange apud CRUZ; et al., (2011), há três passos essenciais na 
produção de uma emoção: 
 O primeiro passo está relacionado com as alterações somáticas 
desencadeadas pelo estímulo. 
 No segundo passo, essas mudanças são detectadas por receptores 
sensoriais periféricos e transmitidas ao cérebro. 
 No terceiro passo, o cérebro gera a atividade que é necessária ao 
sentimento de uma emoção (JAMES, 1884; 1894 apud CRUZ; et al., 
(2011). James associa excitações emocionais aos instintos. Objetos de 
raiva, amor, medo, etc, não apenas levam um homem a realizar atos 
 
27 
exteriores, mas provocam alterações características na sua atitude e 
fisionomia e afetam sua respiração, circulação e outras funções 
orgânicas de forma específica. 
Desse modo, cada objeto que excita um instinto excitaria também uma emoção 
(JAMES, 1890 apud CRUZ; et al., 2011). De acordo com a teoria de James-Lange, 
emoções causam sentimentos diferentes de outros estados mentais porque elas 
estão envolvidas com respostas corporais que originam sensações internas e 
diferentes emoções causam sentimentos diferentes porque elas são acompanhadas 
por diferentes respostas corporais e sensações (LEDOUX, 1996 apud CRUZ; et al., 
2011). Por exemplo, numa situação de perigo, durante o ato de fugir, o corpo passa 
por alterações fisiológicas: aumento da pressão sanguínea e da frequência cardíaca, 
dilatação das pupilas, transpiração das palmas, contração muscular. Outros tipos de 
situações emocionais resultarão em diferentes respostas corporais. Em cada caso, 
as respostas retornam ao cérebro na forma de sensações corporais e o único padrão 
de feedback sensorial dá a cada emoção uma qualidade única. 
Segundo CRUZ; et al., (2011) o medo causa sensação diferente da raiva e do 
amor porque tem diferentes sinais fisiológicos. O aspecto mental da emoção, o 
sentimento, é um escravo de sua fisiologia, não o contrário: nós não trememos 
porque temos medo ou choramos porque estamos tristes; nós temos medo porque 
trememos e ficamos tristes porque choramos. Além disso, para James e Lange, 
diferenças individuais na qualidade da representação corporal podem constituir a 
base de diferenças individuais na experiência emocional: alguém 
“constitucionalmente” sintonizado às sensações de seu coração pode experimentar 
algumas emoções (talvez medo e amor) com maior intensidade do que um outro 
indivíduo com uma representação mais forte do funcionamento do estômago. 
Damásio (1996 apud CRUZ; et al., 2011) aponta algumas limitações sobre a 
perspectiva de James. Segundo ele, o principal problema não é tanto o fato de ele 
reduzir a emoção a um processo que envolve o corpo, mas o fato de ele ter atribuído 
pouca ou nenhuma importância ao processo de avaliação mental da situação que 
provoca a emoção. Outra questão problemática foi o fato de James não ter estipulado 
um mecanismo alternativo ou suplementar para criar o sentimento correspondente a 
um corpo excitado pela emoção. 
Segundo CRUZ; et al., (2011) na perspectiva jamesiana, o corpo encontra-se 
sempre interposto no processo. Além disso, James pouco ou nada tem a dizer sobre 
 
28 
as possíveis funções da emoção na cognição e no comportamento. Em suma, James 
postulou a existência de um mecanismo básico em que determinados estímulos no 
meio ambiente excitam, por meio de um mecanismo inflexível e congênito, um 
padrão específico de reação do corpo. Porém, no caso de seres humanos, que são 
essencialmente seres sociais, sabe-se que há emoções que são desencadeadas por 
um processo mental de avaliação que é voluntário e não automático. 
A teoria de James-Lange dominou a psicologia da emoção até ser questionada 
na década de 1920 por Walter Cannon (1871-1945 apud CRUZ; et al., (2011), um 
notável fisiologista que pesquisava as respostas corporais que ocorriam nos estados 
de fome e emoções intensas. A pesquisa de Cannon o levou a propor o conceito de 
uma “reação de emergência”, uma resposta fisiológica específica do corpo que 
acompanha qualquer estado no qual a energia precise ser empregada. 
Segundo CRUZ; et al., (2011) de acordo com a hipótese de Cannon, o fluxo do 
sangue é redistribuído às áreas do corpo que estarão ativas durante uma situação de 
emergência, de modo que o suprimento de energia, que é transportado pelo sangue, 
alcançará os músculos e órgãos críticos. Na situação de luta, por exemplo, os 
músculos precisarão de mais energia do que os órgãos internos (a energia usada para 
a digestão pode ser sacrificada em prol da energia muscular durante uma luta). 
A reação de emergência, ou resposta de “fuga ou luta”, é então uma resposta 
adaptativa que ocorre em antecipação e em serviço ao gasto de energia, como é 
frequentemente o caso nos estados emocionais (LEDOUX, 1996 apud CRUZ; et al., 
(2011). 
Segundo CRUZ; et al., (2011) Cannon acreditava que as respostas corporais 
que compõem a reação de emergência eram mediadas pelo sistema nervoso 
simpático, uma divisão do sistema nervoso autônomo (SNA). O SNA é composto por 
uma rede de células e fibras neurais localizadas no corpo que controlam a atividade 
dos órgãos internos e das glândulas em resposta a comandos do cérebro. Os sinais 
corporais característicos da excitação emocional – como corações batendo e palmas 
suando – eram considerados como o resultado da ativação da divisão simpática do 
SNA, que se acreditava agir de uma maneira uniforme, independente de como ou 
porque haviam sido ativados. Dada esta suposta singularidade do mecanismo da 
resposta simpática, Cannon propôs que as respostas fisiológicas que acompanham 
diferentes emoções deveriam ser independentes do estado emocional particular que 
é experimentado. 
 
29 
Como um resultado, James não poderia estar certo sobre porque diferentes 
emoções causam sensações diferentes, considerando que todas as emoções, de 
acordo com Cannon, têm a mesma manifestaçãono SNA. Cannon também notou que 
as respostas do SNA são muito lentas para contribuir para os sentimentos – nós já 
estamos sentindo a emoção no momento em que essas respostas ocorrem. Então 
mesmo se diferentes emoções tivessem diferentes manifestações corporais, essas 
seriam muito lentas para contribuir para o que quer que sintamos, seja amor, ódio, 
medo, alegria, raiva ou desgosto, numa situação específica. A resposta para o enigma 
da emoção, de acordo com Cannon, se encontra completamente no cérebro e não 
requer que o cérebro “leia” as respostas corporais, como James havia dito (LEDOUX, 
1996 apud CRUZ; et al., 2011). Cannon argumentou que apesar de o feedback 
corporal não poder contribuir para diferenças nas emoções, ele desempenha um papel 
importante, dando às emoções seu senso característico de urgência e intensidade 
(LEDOUX, 1996 apud CRUZ; et al., 2011). Apesar de James e Cannon haverem 
discordado sobre o que distingue diferentes emoções, eles parecem ter concordado 
que as emoções causam sensações diferentes de outros estados (não emocionais) 
da mente devido a suas respostas corporais. 
 
António Damásio 
 
Segundo CRUZ; et al., (2011) Damásio revigorou o campo de estudo das 
emoções com testes neuropsicológicos de laboratório e com observação clínica de 
pacientes neurológicos com lesão em diferentes regiões no lobo frontal, que o levou 
a formular a Hipótese do Marcador-Somático, propondo uma inter-relação entre 
processos cognitivos e emocionais. Damásio (1996) compreende a emoção como a 
combinação de um processo mental de avaliação, simples ou complexo, com 
respostas dispositivas a esse processo, em sua maioria dirigidas ao corpo 
propriamente dito, resultando num estado emocional do corpo, mas também dirigidas 
ao próprio cérebro (núcleos neurotransmissores no tronco cerebral), resultando em 
alterações mentais adicionais. Em outras palavras, a emoção é simplesmente um 
conjunto de mudanças no estado corporal associado a imagens mentais específicas 
(pensamentos) que ativaram sistemas específicos no cérebro. Ele distingue emoções 
primárias e secundárias, sendo as primárias consideradas inatas, pré-organizadas e 
não específicas, ou seja, que podem ser causadas por um grande número de seres, 
 
30 
objetos e circunstâncias (ex: medo, raiva, amor). As emoções secundárias provêm de 
representações dispositivas adquiridas e não inatas, que incorporam a experiência 
única do indivíduo ao longo da vida. As emoções primárias dependem da rede de 
circuitos do sistema límbico, especialmente da amígdala e do cíngulo, enquanto as 
secundárias envolvem processamentos nos córtices frontais, embora os estímulos 
possam ainda atuar diretamente no sistema límbico. 
Conforme apud CRUZ; et al., (2011) na experiência da emoção, o corpo passa 
por mudanças significativas e é levado a um novo estado. O processo inicia-se com 
uma avaliação cognitiva do acontecimento, que invoca imagens cerebrais verbais e 
não verbais. Num nível não consciente, redes no córtex pré-frontal reagem automática 
e involuntariamente aos sinais resultantes do processamento de tais imagens. Essa 
resposta pré-frontal provém de representações dispositivas que incorporam 
informações relativas à forma como determinados tipos de situações têm sido 
habitualmente combinados com certas respostas emocionais na experiência do 
indivíduo. Ainda de forma não consciente, automática e involuntária, a resposta das 
disposições pré-frontais é assinalada à amígdala e ao cíngulo anterior. As disposições 
nessas últimas regiões respondem CRUZ; et al., (2011): 
 
a) ativando os núcleos do sistema nervoso autônomo e enviando os sinais ao 
corpo por meio dos nervos periféricos; 
b) enviando sinais ao sistema motor, de modo que a musculatura esquelética 
complete o quadro externo de uma emoção por meio de expressões faciais e posturas 
corporais; 
c) ativando os sistemas endócrino e peptídico, cujas ações químicas resultam 
em mudanças no estado do corpo e do cérebro; e 
d) ativando, com padrões especiais, os núcleos neurotransmissores não 
específicos no tronco cerebral e prosencéfalo basal, os quais liberam então as 
mensagens químicas em diversas regiões do telencéfalo (ex: gânglios basais e córtex 
cerebral). 
 
 
31 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
Conforme CRUZ; et al., (2011) a Hipótese do Marcador-Somático (HMS) 
relaciona os estados emocionais ao processo de tomada de decisão. Para Damásio 
(1996), a emoção decorrente da pré-avaliação cognitiva (formação de imagens 
sensoriais) é expressa por meio de mudanças na representação de estados corporais, 
que por sua vez geram um feedback ao cérebro influenciando também processos 
cognitivos, como a tomada de decisão. Antes de aplicar qualquer análise de 
custos/benefícios às premissas e antes de raciocinar com vista à solução do 
problema, sucede algo importante. 
Quando surge um bom ou um mau resultado associado a uma dada opção de 
resposta, o indivíduo tem uma sensação visceral que pode ser agradável ou 
desagradável e essa sensação é levada em conta na tomada de decisão. Como 
fenômeno envolve sensações corporais, Damásio atribuiu o termo técnico de estado 
somático; e, porque o estado “marca” uma imagem, chamou-lhe marcador. A função 
do marcador-somático é convergir a atenção para o resultado negativo a que a ação 
pode conduzir e atua como um sinal de alarme automático que diz: atenção ao perigo 
decorrente de escolher a ação que terá esse resultado. O sinal pode fazer com que o 
indivíduo rejeite imediatamente o rumo de ação negativo, levando-o a escolher outras 
alternativas. O sinal automático protege-o de prejuízos futuros, sem mais hesitações, 
e permite-lhe depois escolher entre um número menor de alternativas, afirma CRUZ; 
et al., (2011). 
 
32 
Segundo CRUZ; et al., (2011) a análise custos /benefícios e a capacidade 
dedutiva adequada ainda têm o seu lugar, mas só depois de esse processo automático 
reduzir drasticamente o número de opções. Os marcadores-somáticos são um caso 
especial do uso de sentimentos gerados a partir de emoções secundárias. Essas 
emoções e sentimentos foram ligados, pela aprendizagem, a resultados futuros 
previstos de determinados cenários. Quando um marcador-somático negativo é 
justaposto a um determinado resultado futuro, a combinação funciona como uma 
campainha de alarme. 
Quando, ao contrário, é justaposto um marcador-somático positivo, o resultado 
é um incentivo. A maior parte dos marcadores-somáticos que usamos para a tomada 
racional de decisão foi provavelmente criada nos nossos cérebros durante o processo 
de educação e socialização, pela associação de categorias específicas de estímulos 
a categorias específicas de estados somáticos. Os marcadores-somáticos são, 
portanto, adquiridos por meio da experiência, sob o controle de um sistema interno de 
preferências e sob a influência de um conjunto externo de circunstâncias que incluem 
não só entidades e fenômenos com os quais o organismo tem de interagir, mas 
também convenções sociais e regras éticas. Afirma CRUZ; et al., (2011). 
Segundo CRUZ; et al., (2011) o conjunto crítico e formativo de estímulos para 
os emparelhamentos somáticos é, sem dúvida, adquirido na infância e na 
adolescência. Mas o crescimento do número de estímulos somaticamente marcados 
termina apenas quando a vida chega ao fim, pelo que é adequado descrever esse 
crescimento como um processo contínuo de aprendizagem. 
 
 
 
33 
3.1 Stress e aspectos psicossociais nas doenças crônicas de pele 
 
Fonte: www.bebee.com 
Segundo SILVA, et al., (2007) sociedade atual possui padrões de estética e 
beleza bem delimitados, e a maioria das pessoas esforça-se, de certo modo, para 
alcançá-los. No caso dos pacientes com problemas dermatológicos, o sentimento de 
inadequação e o estigma vivenciado são evidentes diante de tais exigências externas 
de “normalidade” estética. A sensaçãode discriminação quanto à aparência física 
acompanha o portador constantemente, provocando grande insatisfação consigo 
mesmo. O processo de adaptação à doença de pele pode tornar-se, dessa maneira, 
um foco causador de stress, assim como também pode ser consequência do 
enfrentamento de fatores estressantes. 
Montagu (1988 apud SILVA, et al., (2007), um dos principais pensadores sobre 
o assunto, afirmou que, num primeiro momento, é possível refletir por que colocar o 
foco de atenção na pele e por que ainda existem tão poucos estudos em relação a ela 
quando comparados ao câncer, por exemplo. Na realidade a pele pode, muitas vezes, 
passar despercebida. Durante muitos anos, esse órgão não teve a atenção merecida, 
e só a partir da década de 1940 o assunto passou a ser estudado com mais 
profundidade. No entanto a pele está mais evidente no dia-a-dia do que na maioria 
das vezes é possível perceber. 
Conforme, SILVA, et al., (2007) De acordo com o mesmo autor, a pele é um 
órgão de comunicação e percepção visível. Ela é o maior órgão de percepção no 
 
34 
momento do nascimento, tornando-se o meio para o contato físico e para a 
transmissão de sensações físicas e emoções. As ligações existentes com o sistema 
nervoso tornam a pele altamente sensível às emoções, independente da consciência. 
A pele expressa os sentimentos, mesmo quando não se está ciente deles, e ajuda a 
aprender e conhecer mais sobre o ambiente. É possível identificar a pele como um 
sistema nervoso externo que se mantém em conexão com o sistema nervoso interno 
(SNC), uma vez que o sistema nervoso é uma parte escondida da pele e ambos são 
formados pela ectoderme, que envolve todo o corpo embriônico. 
O processo de desenvolvimento da identidade passa também pelo 
reconhecimento do externo, e a pele, nesse ponto, desempenha um papel 
fundamental, pois uma das suas funções é representar o indivíduo como ser único. O 
descontentamento pessoal em não cumprir as exigências externas se reflete também 
em dificuldades nos relacionamentos interpessoais (Mingnorance, Loureiro & Okino, 
2002 apud SILVA, et al., (2007). 
Para Azambuja (2000 apud SILVA, et al., (2007), a partir do novo entendimento 
da doença proposto pela psicossomática e pela psiconeuroimunologia, a pele passa 
a dizer muito mais do que se está habituado a entender sobre ela, pois se acredita 
haver outros aspectos, muitas vezes não visíveis, que exercem grande influência. 
Considerada um órgão de extensão do sistema nervoso e um órgão imunitário, assim 
como representante da autoimagem do indivíduo, a pele também passa a ser 
expressão de sua consciência. 
A intensidade do impacto das doenças de pele depende de algumas variáveis, 
como a história natural e as implicações da desordem específica de pele. As 
características demográficas, de personalidade, caráter e valores do paciente, sua 
situação de vida e as atitudes da sociedade como um todo sobre o significado dos 
distúrbios de pele são fatores fundamentais a serem analisados, afirma SILVA, et al., 
(2007) 
É de conhecimento público que o stress, físico ou emocional, tem repercussões 
em inúmeras dermatoses, que são também geradoras de stress. O prurido, 
consequência de diversas dermatoses, sofre ampla variação de intensidade, tendo 
como forte fator contribuinte o stress. Entre as doenças de pele citadas na literatura 
que demonstram a influência do stress, também chamadas de psicodermatoses, estão 
a dermatite atópica, a desidrose, o líquen simples crônico ou neurodermite, a 
dermatite seborréica, a psoríase, a acne vulgar, a rosácea, a alopécia areata, a 
 
35 
hiperidrose, a urticária, o herpes simples e o vitiligo (Amorin-Gaudêncio, Roustan & 
Sirgo, 2004; Koo, Do & Lee, 2000; Steiner & Perfeito, 2003 apud SILVA, et al., (2007). 
O stress envolvido no enfrentamento da doença de pele é uma evidência 
inequívoca de que os fatores emocionais são determinantes no aparecimento e 
agravamento da doença. O stress também influencia diretamente no processo 
inflamatório e proliferativo das células na psoríase. Programas especiais de cuidado 
ao paciente, que envolvem não só prescrição de medicamentos, mas também atenção 
às contribuições da sincronia da fisiologia entre mente e corpo, estão começando a 
ser desenvolvidos. Especial atenção está sendo dada, nesses programas, a uma 
completa avaliação física e psicológica para melhor elucidar os fatores implícitos, 
fatores físicos e mentais estressantes. Além disso, destacam-se também o estilo de 
vida e as práticas dos pacientes, a educação do paciente em grupos de autoajuda e 
treinamento de relaxamento do stress, afirma SILVA, et al., (2007). 
Segundo SILVA, et al., (2007) o processo de conscientização do indivíduo 
sobre o que o leva a adoecer no plano físico, psicológico e social pode proporcionar a 
mudança dos aspectos negativos que contribuem para esse estado de desarmonia. A 
descoberta dos fatores estressantes que influenciam na doença é fundamental para 
que ocorram mudanças que também se referem à conscientização de padrões de 
comportamento prejudiciais à pessoa, tanto físicos como emocionais, e de crenças 
arraigadas que podem levar, ao longo dos anos, a um desgaste importante da 
qualidade de vida. 
Dentre os vários fatores que provocam o aparecimento das dermatoses, o 
aspecto emocional é citado na bibliografia em geral como um fator importante que 
influencia tanto o surgimento como o agravamento da lesão. Destaca-se a psoríase, 
uma das dermatoses crônicas mais pesquisadas, que está classificada no grupo das 
psicodermatoses, sendo o fator emocional identificado como agravante da doença. 
Além disso, a estigmatização e o tratamento difícil dessa dermatose contribuem para 
um alto nível de frustração e baixa autoestima do paciente (Amorin-Gaudêncio et al., 
2004; Azulay & Azulay, 1997; Fitzpatrick, Johnson, Woff, Polano & Suurmond 1997; 
Sampaio & Rivitti, 1999 apud SILVA, et al., (2007). 
 
 
36 
3.2 Saúde, doença e sintoma em psicossomática 
 
Fonte: psicologoeterapia.com.br 
O processo de saúde é algo que assim como a doença considera vários 
aspectos para defini-la, não se pode apenas considerar o bem-estar físico, mas sim, 
toda uma rede de estímulos que geram uma sensação de prazer e saúde integral. 
Dentro da psicossomática, autores como Groddeck (1917), Franz Alexander (1932), 
Pierre Marty (1918-1993) são alguns dos principais nomes que ajudaram na 
construção das teorias e métodos presentes até hoje na abordagem (apud. TINOCO, 
2009 apud BARBOSA; et al., 2017). 
Dentre as várias perspectivas sobre saúde, a psicossomática se ocupa em 
defini-la como um equilíbrio, a constância biopsicossocial de cada sujeito, 
considerando suas emoções, comportamentos que são geradores do processo de 
sintomas durante a vida. Em psicossomática saúde significa estar consciente de suas 
perturbações, saber expressar seus sentimentos (TINOCO, 2009 apud BARBOSA; et 
al., 2017). 
Em contrapartida a tal definição, surge a doença, que por sua vez demonstra 
que o equilíbrio se perdeu, o corpo e mente já não estão em sintonia. Desta maneira 
o corpo acaba somatizando sensações em sintomas reais no organismo. É como se 
na saúde o corpo estivesse em “silêncio”, e a mente evidenciando suas atividades, na 
doença o corpo “fala”, obrigando a mente a dirigir sua atenção para suas funções 
(ÁVILA, 1996 apud BARBOSA; et al., 2017). 
 
37 
Para que os fenômenos corporais sejam percebidos é preciso se estabelecer 
sinais que auxiliem o ser humano a identificar as sensações prazerosas e dolorosas 
do seu próprio organismo. Desta forma surge que conhecemos por sintoma, ou seja, 
variações que o corpo apresenta e “diz” que algo não está fluindo dentro da 
normalidade biológica. É necessário se pensar na experiência de vida para dar 
sentindo correto aos sintomas apresentados durante a somatização, pois cada 
indivíduo estabelece uma forma de manifestarseu sofrimento (DETHLEFSEN; 
DAHLKE, 2007 apud BARBOSA; et al., 2017). 
Quando se pensa em doença, é inevitável não nos remetermos aos sintomas 
que cada enfermidade pode causar no organismo, assim, em psicossomática não 
seria diferente. Porém quando se remete a sintoma em torno da psicossomática, não 
temos uma perspectiva totalmente negativa sobre tal conceito, afirma BARBOSA; et 
al., 2017. 
O sintoma em psicossomática pode representar um sofrimento para além da 
dor física, refazendo um levantamento completo da saúde, considerando as condições 
sociais, emocionais e hereditárias do sujeito em adoecimento, é possível compreender 
que tal doença apresenta uma significação subjetiva que também necessita de 
atenção para que se consiga responder melhor ao tratamento estabelecido. É um 
processo do ciclo vital humano, onde qualquer um está sujeito a sofrer perante algum 
sintoma de enfermidade (CAMARGO JR, 1992 apud BARBOSA; et al., 2017). 
A psicossomática visualiza os fenômenos humanos do adoecimento de modo 
extremamente complexo em suas interações biológicas e nas estruturas sociais, 
reconhecendo que não apenas a medicina ou a psicologia separadamente são 
capazes de compreendê-las (RODRIGUES; GASPARINI, 1992 apud BARBOSA; et 
al., 2017). 
Segundo BARBOSA; et al., 2017, ainda no que diz respeito à psicossomática, 
é importante pensar que se trata de uma teoria multidisciplinar que compactua e inclui 
várias outras áreas de atuação que possam contribuir para sua evolução. 
Essa abordagem atualmente possui um entendimento abrangente do 
fenômeno do processo saúde e doença, considerando o ser humano na sua 
integralidade, nas suas dimensões biopsicossociais. Além disso, busca 
complemento para sua prática na atividade interdisciplinar dos profissionais 
da saúde (SILVA; MÜLLER, 2007, p.248 apud BARBOSA; et al., 2017). 
 
 
38 
Pensando a respeito dos aspectos orgânicos durante o aparecimento de 
doenças psicossomáticas, se percebe a sua interferência das emoções diante de 
inúmeros aspectos da vida humana. O homem é um ser dotado de sentimentos e 
formas de expressá-los, quando estes não são elaborados e vivenciados de maneira 
saudável, surge então a somatização, ou seja, manifestações corporais para significar 
de alguma maneira o sofrimento psicológico. Para que as doenças psicossomáticas 
se manifestem, existe uma série de alterações químicas e biológicas acontecendo em 
paralelo aos traumas psíquicos. Assim o corpo reage a situações estressantes de 
forma física, por meio de sintomas que são diagnosticados por exames fisiológicos 
(MC DOUGALL, 1996 apud BARBOSA; et al., 2017). 
Dentre tantas conceituações a respeito dos processos de saúde e doença em 
psicossomática, torna-se necessário uma maior explicação de dois termos muito 
importantes na abordagem. São definições que muitas vezes se tornam confusas para 
a compreensão dos fenômenos psicossomáticos, mas que em sua conceituação são 
distintas e podem auxiliar na diferenciação de formas de manifestação somática em 
casa sujeito adoecido, conforme BARBOSA; et al., 2017. 
Somatização e conversão são aspectos que estão sempre inseridos quando se 
estuda temas relacionados à psique e somático, são modos pelo qual a doença se 
classifica quanto a sua manifestação (CAMPOS; RODRIGUES, 2005 apud 
BARBOSA; et al., 2017). É relevante entender essas distinções para não se utilizar de 
forma precipitada ao se falar e identificar possíveis enfermidades. Para Freud (1893-
1895) existe uma distinção entre a medicina e psicanálise quanto os sintomas e a 
questão do corpo, o sintoma conversivo e sintoma neurótico é próprio e específico da 
esfera psíquica, diferente do sintoma médico, sendo organicamente localizado e 
descrito, ou seja, somatizado (apud ÁVILA, 1996 apud BARBOSA; et al., 2017). 
Sendo assim, a conversão é a expressão simbólica dos conflitos psíquicos, tem 
a função de desafogar a emoção sentida diante dos eventos psicossociais 
estressores, ela transfere para algum órgão a tentativa de estruturar a hostilidade de 
alguma situação aversiva e por sua vez não é diagnosticada por exames fisiológicos. 
Já o que conhecemos por somatização, é de fato a emoção em si, é a manifestação 
visível e reconhecida pela especialidade médica, como sendo uma patologia física 
relevante, ou seja, é a resposta fisiológica associada a diversos sintomas físicos para 
os conflitos intrapsíquicos (CAMPOS; RODRIGUES, 2005 apud BARBOSA; et al., 
2017). 
 
39 
Outro aspecto considerável no sofrimento humano é a maneira como ele lida 
com tais situações, a subjetividade humana torna esse processo diferente para cada 
sujeito. Por meio da convivência em diferentes aspectos da vida o sujeito se configura 
de modo muito particular. A subjetividade na perspectiva psicanalítica é a formação 
do sujeito, do seu psiquismo, ou seja, é algo interno que por sua vez estabelece uma 
relação com o mundo externo e sua objetividade (SILVA, 2009 apud BARBOSA; et 
al., 2017). 
As formas pelas quais o corpo comunica que algo não vai bem podem ser 
manifestadas de várias maneiras, por isso a imensa dificuldade dos especialistas em 
diagnósticas e encaminhar corretamente os pacientes ditos psicossomáticos ao 
acompanhamento psicológico, entretanto é necessária cautela para não negligenciar 
ou “psicologizar” o sofrimento, afirma BARBOSA; et al., 2017. 
4 DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS 
 
Fonte: homoessentia.com.br 
As doenças psicossomáticas têm componente psíquico, e são manifestadas 
em doenças orgânicas é ocasionada por problemas emocionais. O corpo possui suas 
próprias defesas biológicas, mas conteúdos psíquicos não resignificado manifesta em 
tremor, dores de barriga, gestos e travamento de dentes, etc. Doenças 
psicossomáticas, psique (mente) e soma (corpo), são as patologias relacionados com 
 
40 
a mente e corpo em conjunto podendo se manifestar em diversos sistemas que 
constituem nosso corpo (LUDWIG et al ,2006 apud SILVA, 2018). 
Segundo Bueno e Silva (2012 apud SILVA, 2018) doenças como 
gastrointestinal (Úlcera, Gastrite, Retocolite); Respiratório (Asma, Bronquite); 
Cardiovascular (Hipertensão, Taquicardia, Angina); Dermatológico (Vitiligo, Psoríase, 
Dermatite, Herpes, Urticária, Eczema). E também as dos sistemas Endócrino e 
Metabólico (Diabetes); Nervoso (Enxaqueca, Vertigens); Articulações (Artrite, Artrose, 
Tendinite, Reumatismos). Doenças autoimunes (Alergias variadas; Rinite Gastrite). 
Bueno e Silva (2012 apud SILVA, 2018) e as Impotência e outras Disfunções sexuais; 
Fibromialgia, Insônia, Depressão, Gripes, Estresses, Transtorno de Ansiedade, 
Diarreia, são exemplos de doenças psicossomáticas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
BIBLIOGRAFIA 
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AVILA, Antônio. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Loyola, 2007. 
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BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: Desvendando o 
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Barry W. Connors e Michael A. Paradiso; coord. Trad. Jorge Alberto Quillfeldt... [et 
al.]. 2º Ed.? Porto Alegre:

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