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10-TGC – Módulo VI - Prof

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Direito Penal I 
Profº. Paulo Eduardo Sabio 
Ensino Jurídico à Distância 
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Direito Penal I – Aula 10 
 
Teoria Geral do Crime – Módulo VI 
 
 
 Dolo 
 
 Culpa ( 1ª Parte ) 
 
 
1. Considerações Iniciais 
 
 
É chegada a hora de estudarmos os dois elementos psicológicos que devem, 
necessariamente, informar a conduta delitiva, quais sejam: o dolo e a culpa. 
 
Em outros termos: Os crimes, ou são dolosos ou são culposos. Todos os tipos penais sempre são 
praticados ou dolosa ou culposamente e tanto o dolo como a culpa estão inseridos no próprio tipo penal 
incriminador. 
 
Sendo que: O dolo se encontra implícito no tipo incriminador. No artigo 121, por exemplo, quando o 
legislador incrimina a conduta de “matar alguém”, acaba inserindo o dolo, mesmo que de forma não 
expressa. Não há necessidade de o legislador dizer, no artigo 121, por exemplo, “matar alguém 
dolosamente”. Basta dizer: matar alguém. 
 
A propósito: em apertada síntese, pode-se dizer que o dolo traduz a “vontade de delinqüir”. Assim, no 
homicídio doloso o agente “matou porque queria matar” ( dolo direto) ou porque assumiu o risco de matar 
( dolo eventual). Já no caso da “culpa”, não há intenção de cometer um crime, mas o agente, sendo 
negligente, imprudente ou imperito de uma maneira acima do aceitável, acabou lesionando um bem 
penalmente protegido. Aqui o agente não mata porque quer matar, mas sim por descuido. E será punido 
porque foi “descuidado” de uma maneira inaceitável. 
 
Preste muita atenção: O elemento psicológico “culpa” nunca poderá estar implícito no tipo penal, como 
no caso do dolo. Toda vez que o legislador objetivar tipificar uma conduta culposa, deverá fazê-lo de 
forma expressa. 
 
Ou seja: o dolo é presumido, ao passo que a culpa deverá estar expressamente tipificada. Por isso, 
dizem os doutrinadores que vigora entre nós o princípio da excepcionalidade do crime culposo. 
 
Em outras palavras: via de regra o Código Penal, via de regra, incrimina condutas cometidas 
dolosamente, e quando, excepcionalmente, deseja incriminar uma conduta culposa, não intencional, o faz 
de forma expressa. 
 
Sendo que: tal regra é prevista legalmente no parágrafo único do artigo 18, que assim preceitua: 
 
“ Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser 
punido por fato previsto como crime, senão quando o 
pratica dolosamente.” 
 
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A propósito: mais se entenderá sobre este particular aspecto quando adentrarmos ao estudo 
pormenorizado da culpa, mas por enquanto, para que se possa comprovar a veracidade de nossas 
assertivas, é por bem que se dê uma lida nos dispositivos legais que incriminam, respectivamente, o 
homicídio culposo e o homicídio doloso São os dispositivos: 
 
Homicídio Doloso 
Art. 121. Matar Alguém. 
 
Pena – reclusão de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. 
 
Homicídio Culposo 
§ 3º.Se o homicídio é culposo: 
 
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos. 
 
Como se pôde constatar: há, neste caso uma expressa menção ao elemento subjetivo “culpa” ( § 3º), 
ao passo que o “dolo” é presumido. Note-se também que a pena do homicídio doloso é muito mais 
severa do que a do homicídio culposo, e esta diferença tem razões óbvias de ser, pois ninguém duvida 
que aquele que mata “porque quer” merece uma reprovação muito maior do que aquele que mata “por 
descuido”. 
 
Sendo que: mais adiante se entenderão ainda mais as diferenças entre os dois institutos (dolo e culpa). 
Por enquanto, cumpre dar uma olhada no dispositivo legal que define os crimes dolosos os crimes 
culposos, qual seja, o artigo 18 do Código Penal. Vamos ao dispositivo: 
 
Art. 18. Diz-se o crime: 
 
I – doloso, quando o agente quis o resultado ou 
assumiu o risco de produzi-lo. 
 
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado 
por imprudência, negligência ou imperícia. 
 
Parágrafo único: Salvo os casos expressos em lei, 
ninguém pode ser punido por fato previsto como 
crime, senão quando o pratica dolosamente. 
 
Enfim: passemos agora ao estudo pormenorizado dessas duas espécies de elemento psicológico que se 
atrelam à conduta do delinqüente, quais sejam: o dolo e a culpa. Começando pelo tão falado “dolo”1. 
 
2. Dolo 
 
2.1. Considerações Gerais 
 
 
1 - Lembrando que a pronúncia correta é “dólo” e não “dôlo”. 
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Segundo os dicionários de língua portuguesa, este ( dolo) se traduz em sendo a vontade 
dirigida conscientemente à obtenção de um resultado criminoso ou à assunção ( aceitação) do risco de 
produzi-la. 
 
Por óbvio que: tal definição, por mais que seja correta, não basta por si só para a compreensão do 
instituto, posto que muitos aspectos doutrinários de suma importância não são abarcados pelo conceito 
supra 
 
A propósito: o Profº. Damásio Evangelista de Jesus conceitua o dolo como sendo a vontade de 
concretizar as características objetivas do tipo. 
 
Saiba que: antes de continuarmos tratando do dolo, cumpre fazermos algumas observações preliminares. 
Quando, em uma aula anterior, cuidamos do tema resultado, falamos que para uma das teorias que 
disciplinam o tema ( a teoria naturalística), admite-se a existência de crimes sem resultado, uma vez que 
segundo esta teoria, o resultado é a modificação no mundo exterior perceptível aos sentidos, e nem todos 
os crimes produzem este tipo de modificação, como já se viu. 
 
Em contrapartida: para a outra teoria que disciplina o resultado ( teoria normativa), o resultado consiste 
na lesão ou ameaça de lesão à um bem penalmente protegido, e sendo assim, para esta teoria não há 
que se falar em crime sem resultado, pois todo crime, ainda que não acarrete uma modificação 
substancial no mundo exterior, sempre lesiona ou ameaça um bem penalmente protegido. 
 
Você deve estar se perguntando: porque voltamos a falar do resultado na aula em que se está tratando 
do dolo ? 
 
Vamos explicar: o já mencionado artigo 18 do Código Penal, que conceitua os crimes dolosos e os 
crimes culposos, reforça nossa tese de que teoria normativa do resultado é mais coerente, pois não deixa 
dúvidas, o citado dispositivo, que esta teoria foi adotada pelos nossos legisladores. 
 
Pare e pense: o dispositivo legal em questão ( artigo 18 do Código Penal), ao conceituar o crime doloso 
diz que este ocorrerá quando o agente quiser o resultado ou assumir o risco de produzi-lo. 
 
Sendo assim: é de se notar que. na opinião do nosso legislador, não há crime sem resultado, nos moldes 
da teoria normativa do resultado, da qual somos partidários. 
 
A propósito: acerca deste particular aspecto, assim leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros: 
 
“O certo é que o nosso Código, ao vincular o dolo á 
vontade de se produzir o resultado, abraço a idéia 
de que não há crime sem resultado, fenômeno 
explicável apenas se adotarmos a concepção jurídica 
ou normativa do evento, que foi, aliás, o que faz o 
Código.” 
( Grifo Nosso) 
 
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Pois bem: voltando a falar do dolo, em apertada síntese pode-se dizer que ele ( o dolo) compreende a 
consciência e a vontade de praticar o ilícito. 
 
Sendo que: partindo-se desta premissa, cabe salientar que, no caso dos crimes qualificados, que são 
aqueles nos quais se fazem presentes circunstâncias que ensejam uma maior reprovabilidade da 
conduta, o dolo deve projetar-se também sobre estas circunstâncias qualificadoras, ou agravantes. 
 
Entretanto: convém não esquecer que, como leciona Flávio Augusto Monteiro de Barros, para a 
caracterização do crime em sua “forma simples”, ou seja, “não qualificada”, é suficiente que o dolo 
compreenda apenas os elementos da figura típica fundamental. 
 
A propósito: para melhor ilustrar nossa exposição, vejamos, à título de exemplo, osdispositivos legais 
que tipificam, respectivamente, o furto e o furto qualificado. 
 
Furto 
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa 
alheia móvel. 
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. 
Furto Qualificado 
 
§ 4º. A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) 
anos e multa se o crime é cometido: 
 
I – com destruição ou rompimento de obstáculo à 
subtração da coisa; 
 
II – com abuso de confiança ou mediante fraude, 
escalada ou destreza. 
 
III – com emprego de chave falsa; 
 
IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
 
Saiba que: no caso do furto praticado mediante destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da 
coisa ( § 4º, inciso I ), o agente deve ter consciência e vontade de estar destruindo ou rompendo 
obstáculo à subtração da coisa, caso contrário, não há que se cogitar da ocorrência de furto qualificado., 
sendo que, tal como nos ensina Flávio Augusto Monteiro de Barros, a vontade do agente deve projetar-se 
sobre todas as elementares, qualificadoras, agravantes e atenuantes do crime. 
 
Preste atenção: tal como nos temas anteriores, o estudo do dolo pressupõe o conhecimento das 
principais teorias que buscam disciplinar a matéria, sendo que, no caso específico do dolo, as teorias são 
as seguintes: 
 
 Teoria da representação; 
 
 Teoria da Vontade; 
 
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 Teoria do Assentimento. 
 
 
Vejamos o que prega cada uma destas teorias: 
 
 Teoria da Representação: para esta teoria, o dolo consiste na simples representação do resultado. 
 
Ou seja: se o agente podia prever o resultado, agiu dolosamente. Tal como leciona Flávio Augusto 
Monteiro de Barros, nesta teoria privilegia-se o momento intelectual, de ter, o agente, agido com previsão 
do resultado, deixando de lado o aspecto volitivo, do querer ou assumir o risco de produzi-lo. 
 
Saiba que: tal teoria, hodiernamente, é totalmente desprezada, uma vez que a doutrina moderna é 
unânime em afirmar que a simples previsão do resultado é insuficiente para a configuração do dolo. 
 
Além do que: tal teoria acaba por confundir o dolo com a culpa consciente, que será adiante estudada. 
 
A propósito: para que não existam lacunas no aprendizado, temos por bem frisar, desde já, que culpa 
consciente, segundo a melhor doutrina, é aquela em que o agente prevê o resultado, embora não aceite 
sua ocorrência. 
 
Mas: deixemos, uma abordagem mais aprofundada sobre a culpa consciente para o momento oportuno. 
Isto porque: por hora, é por bem que se fixe, apenas, que para a teoria da representação, basta a 
previsão do resultado por parte do agente. E esta é, justamente, a principal falha desta teoria pois não se 
pode admitir que a mera previsão do resultado seja suficiente para caracterizar o dolo. 
 
 Teoria da Vontade: para esta teoria, que segundo Cezar Roberto Bitencourt é tida como clássica, o 
dolo é a vontade dirigida à um resultado. Carrara, que foi um dos idealizadores desta teoria, 
lecionava que o dolo consiste na intenção mais ou menos perfeita de fazer um ato que se conhece 
contrário à lei. 
 
Perceba que: de acordo com a teoria da vontade, é imprescindível que o agente, além de prever o 
resultado, tenha consciência dele, tenha também o desejo de realiza-lo. 
 
Sendo que: esta teoria não menospreza o valor da representação, da consciência do resultado, mas tem 
como elemento mais importante do dolo a vontade de causar o resultado. 
 
A propósito: Acerca desta teoria do dolo, temos oportuno que se atente, mais uma vez, para as 
elucidativas lições do Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, que podem assim serem transcritas: 
 
“Segundo esta doutrina, o dolo pode ser definido com 
sendo a vontade consciente de realizar o fato 
criminoso. A consciência exprime a idéia de previsão 
do resultado, e a vontade, o desejo de concretiza-
lo.” 
 ( Grifo Nosso) 
 
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É importante que se fixe que: para a teoria da vontade, o dolo é composto de dois elementos principais, 
a saber: 
 
Representação ( consciência) do fato 
 
+ 
 
Vontade de Causar o Resultado 
 
 Teoria do Assentimento ou Consentimento: esta teoria, segundo alguns doutrinadores2, 
complementa a teoria da vontade, uma vez que adere à suas idéias, porém acrescenta que também 
há dolo quando o agente ,apesar de não objetivar, efetivamente, o resultado, realiza uma 
determinada conduta prevendo e aceitando que ele ocorra. 
 
Perceba que: segundo esta teoria, também haverá dolo nos casos em que o agente não quer o resultado 
propriamente dito, mas assume o risco de produzi-lo ( dolo eventual). 
 
Sendo que: No que toca à este teoria, oportuno atentar para as elucidativas lições do Profº. Cezar 
Roberto Bitencourt, que podem assim ser transcritas: 
 
“Para esta teoria, também é dolo a vontade que, 
embora não dirigida diretamente ao resultado 
previsto como provável ou possível, consente na sua 
ocorrência, ou, o que dá no mesmo, assume o risco de 
produzi-lo. A representação é necessária, mas não 
suficiente à existência do dolo, e consentir na 
ocorrência do resultado é uma forma de querê-lo.” 
 
A propósito: após esses breves apontamentos sobre as três teorias que buscam conceituar o dolo, é de 
se questionar: qual das teorias foi adotada por nosso legislador ? 
 
Saiba que: para responder esta questão , antes de mais nada, é necessário que se faça uma rápida 
reflexão acerca do dispositivo legal que conceitua o crime doloso ( art. 18, inciso I do Código Penal), e 
que diz ser, o crime, doloso, quando o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. 
 
Pois bem: tomando-se por base o texto legal chegamos facilmente à conclusão de que o legislador 
aderiu, em verdade, à duas das três teorias aqui estudadas. 
 
Vamos explicar: quando o legislador, na primeira parte do artigo 18, inciso I, diz ser doloso o crime 
quando o agente quis o resultado, é de notar-se a adesão à teoria da vontade. 
 
 
2 - Entre os quais, Flávio Augusto Monteiro de Barros. 
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Sendo que: quando, na segunda parte do dispositivo legal em questão, o legislador diz ser também 
doloso o crime quando o agente assumiu o risco de produzir o resultado, é de notar-se a adesão à teoria 
do assentimento ou consentimento. 
A propósito: para que se possa bem compreender o que estamos a expor, temos por oportuno que se 
atente para as elucidativas lições do Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, que podem assim ser 
transcritas: 
“O Código, no artigo 18, inciso I, filiou-se à 
teoria da vontade, completada pela teoria do 
consentimento, deixando de lado a superada teoria da 
representação...” 
( Grifo Nosso) 
 
Preste muita atenção: é importante que se frise, desde já, que o artigo 18, em se inciso I, faz menção à 
duas espécies de dolo, que serão melhor explicadas no tópico “espécies de dolo” ( logo a seguir), quais 
sejam: 
 
 Dolo direto: que é traduzido através da expressão “quis o resultado”. 
 
 Dolo indireto ou eventual: que, por sua vez, pode ser traduzido através da expressão “assumiu o risco 
de produzi-lo”. 
 
2.2. Espécies de Dolo 
 
O dolo, genericamente falando, é um só, e se baseia, como já se expôs, em dois elementos 
principais, quais sejam: a consciência, a previsão do resultado, e a vontade de produzi-lo. 
 
No entanto: o conceito de dolo comporta algumas classificações doutrinárias, que são elaboradas com o 
intuito de se obter uma melhor compreensão do tema, e conferir-lhe mais técnica. 
 
Sendo que: acerca das diferentes espécies de dolo elencadas pela doutrina, importante que se atente, 
antes de mais nada, para as lições do Profº. Cezar Roberto Bitencourt, que podem assim ser transcritas: 
 
 “Osurgimento das diferentes espécies de dolo é 
ocasionado pela necessidade de a vontade abranger o 
objetivo pretendido pelo agente, o meio utilizado, a 
relação de causalidade, bem como o resultado.” 
 
2.2.1. Dolo Normativo e Dolo Natural 
 
A primeira classificação do dolo da qual cabe tratarmos tem por base a abrangência conceitual 
do instituto, e de acordo com esta classificação o conceito de dolo pode assim ser desdobrado: 
 
 Dolo Natural 
 
 Dolo Normativo 
 
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Dolo Natural: para a doutrina finalista (a qual se filia o nosso Código Penal), que insere o dolo no tipo, o 
dolo é natural e seu conceito não abrange a consciência da ilicitude, mas apenas a consciência dos 
elementos objetivos do tipo, uma vez que aquela ( consciência da ilicitude), como mais adiante se verá, 
em verdade pertence à culpabilidade e não ao tipo penal. 
 
A propósito: temos por oportuno, no presente momento, que se atente para os elucidativos 
ensinamentos do Profº. Damásio Evangelista de Jesus, que podem assim ser transcritos: 
 
“Para nós, que adotamos a teoria finalista da ação, o 
dolo é natural: corresponde à simples vontade de 
concretizar os elementos objetivos do tipo, não 
portando a consciência da ilicitude. O dolo, na 
verdade, não contém a consciência da 
antijuridicidade, tese perfeitamente adaptável ao 
nosso Código Penal. Pelo que dispõe o artigo 21 do 
Código Penal, se o sujeito atua sem a consciência da 
ilicitude do fato, fica excluída ou atenuada a 
culpabilidade. Pelo que se entende, o dolo subsiste” 
( Grifo Nosso) 
 
Saiba que: como o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, nas lições supra, citou o artigo 21 do Código 
Penal, vamos transcrevê-lo, para facilitar a compreensão do tema em estudo:: 
 
Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O 
erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta 
de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a 
um terço.” 
 
Preste atenção: tal como preceitua o artigo supra, o erro sobre a ilicitude ( erro de proibição) isenta o 
agente de pena. 
 
Ou seja: o fato continua sendo típico e antijurídico, só não é culpável, em face da falta de consciência da 
ilicitude. E se a tipicidade do fato continua intacta, o dolo também subsiste. 
 
A Propósito: sobre a “culpabilidade”, mais se estudará posteriormente, e então entenderemos como um 
fato pode ser típico e antijurídico e não ser culpável. 
 
Sendo que: no momento, basta que se saiba que o Código Penal adere ao conceito “natural” do dolo, 
uma vez que a consciência da ilicitude faz parte da culpabilidade e não do dolo. 
 
Dolo Normativo: este é o dolo segundo a já superada teoria tradicional ou causal, que se opõe a 
doutrina finalista, supra mencionada. Segundo a teoria tradicional, o dolo, além de exigir a consciência do 
resultado, exige ainda, para sua configuração, a consciência da ilicitude. Tal como leciona o Profº. 
Fernando Capez, para a doutrina causal, o dolo não é elemento da conduta, e por conseqüência do tipo 
penal, mas sim da culpabilidade, e portanto, compõe-se de: 
Consciência e vontade de produzir o resultado 
 
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+ 
 
Consciência da Ilicitude 
Lembre-se que: tal como expusemos anteriormente, nosso Código Penal se filiou à doutrina finalista e 
portanto, para nós, o dolo é natural e não normativo. O que vale dizer que, para nós, o mais correto é 
considerar que a consciência da ilicitude deve fazer parte do conceito de culpabilidade e não do dolo. Por 
conseqüência, estudaremos melhor o tema na aula que cuidar culpabilidade. 
 
2.2.2. Dolo Direto e Dolo Indireto 
 
Tal classificação é de extrema importância , e leva em consideração o evento pretendido pelo 
agente. Vejamos um pouco sobre estas duas espécies de dolo: 
 
Dolo Direto: este também é denominado, segundo a melhor doutrina, de dolo de primeiro grau. Nesta 
espécie de dolo, que pode ser facilmente compreendida, o agente, tal como leciona Flávio Augusto 
Monteiro de Barros, visa produzir um evento certo. 
 
Ou seja: sua vontade se fixa numa só direção. Por exemplo: Tício ameaça Florisbela com o intuito de 
estuprá-la. Nesse caso, sem qualquer dificuldade pode-se notar que a vontade, o dolo de Tício, se fixou 
numa só direção, qual seja, a satisfação de suas necessidades sexuais. 
 
Dolo Indireto: tal espécie de dolo também é denominado pela doutrina de dolo indeterminado. Ao 
contrário do dolo direto, no dolo indireto a vontade do agente não se fixa num só sentido. Tal como 
leciona Flávio Augusto Monteiro de Barros, nesses casos não há vontade exclusiva de produzir um 
determinado evento. 
 
A propósito: esta espécie de dolo, de acordo com a melhor doutrina, se subdivide em: 
 
a – Dolo Alternativo: nesta espécie de dolo indireto o agente visa, com a mesma intensidade, produzir 
um ou outro resultado. O Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros cita-nos como exemplo desta espécie 
de dolo indireto o caso de um criminoso que atira em sua vítima para matar ou ferir. Ou seja, neste 
espécie de dolo, o agente não se importa em produzir o resultado “X” ou o resultado “Y”. 
 
b – Dolo Eventual: tal como foi dito anteriormente, tal espécie de dolo indireto se manifesta através da 
expressão “assumiu o risco de produzi-lo”, contida no inciso I, 2ª parte, do já mencionado artigo 18 do 
Código Penal. Tal como leciona o Profº. Fernando Capez, nesta espécie de dolo, o agente não quer 
diretamente o resultado, mas aceita a possibilidade de produzi-lo. Cabe ainda, no que toca ao dolo 
eventual, lembrar das sábias lições do Profº. Anibal Bruno, que, indubitavelmente, é um dos penalistas 
mais importantes de nossa história. Assim lecionava o insigne Mestre: 
 
“No dolo eventual, ao contrário do que ocorre no 
dolo direto, a vontade do agente não se dirige 
propriamente ao resultado, mas apenas ao ato 
inicial, que nem sempre é ilícito, e o resultado 
não é representado como certo, mas só como possível. 
Mas o agente prefere que ele ocorra a desistir da 
conduta.” 
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( Grifo Nosso) 
 
Preste muita atenção: convém guardarmos que a idéia principal do dolo eventual gira em torno de o 
agente não objetivar a produção do resultado, mas contudo, assumir o risco de produzi-lo. Frank, que foi 
um penalista de inquestionável importância, fez inteligentíssima observação para ilustrar o conceito de 
dolo eventual. Dizia ele, que nesses casos o agente assim se predispõe: seja como for, de no que der, em 
qualquer caso não deixo de agir. 
 
Seria o caso, por exemplo: do sujeito que, pretendendo testar uma arma de fogo que acabara de 
adquirir, resolve efetuar vários disparos com ela no centro de São Paulo, em horário de grande 
movimento de pessoas, e acaba por matar alguém com um dos disparos. 
 
Perceba que: no exemplo supra formulado, o agente sabia, de antemão, dos riscos de sua conduta, e 
mesmo assim a praticou. Ele não se importou com a possibilidade de vir a matar alguém com um dos 
disparos de sua arma, ou seja ele assumiu o risco de produzir o resultado. E sendo assim, é inegável que 
agiu com dolo eventual. 
 
2.2.3. Dolo de Dano e Dolo de perigo 
 
Tal classificação visa distinguir a vontade de, efetivamente lesionar ou de apenas colocar em 
risco um bem jurídico penalmente tutelado. 
 
A propósito: vamos explicar em apertada síntese tais espécies de dolo, uma vez que tal distinção pode 
ser facilmente compreendida: 
 
Dolo de dano: esta espécie de dolo traduz a vontade de produzir uma efetiva lesão a um bem 
penalmente protegido. Lembra-nos Flávio Augusto Monteiro de Barros, que esta espécie de dolo é exigido 
para os chamados crimes de dano. 
 
Sendo que: convém lembrarmos que tais delitos ( de dano) são aqueles cuja consumação depende da 
efetiva lesão ao bem jurídico penalmente protegido.E tal como expusemos em uma aula anterior, os 
crimes que exigem uma efetiva lesão ou dano ao bem penalmente protegido também são denominados 
de crimes materiais. 
 
Dolo de Perigo: tal espécie de dolo traduz a vontade de expor o bem a perigo de lesão. Ou seja: a 
vontade do agente é apenas de colocar em perigo um bem penalmente protegido. 
 
A propósito: para que se possa melhor compreender o que estamos a expor, vejamos um exemplo de 
tipo penal incriminador no qual o dolo pode ser denominado de dolo de perigo, uma vez que, no exemplo 
que usaremos, o dolo, a vontade, é de colocar em perigo a vida humana. Trata-se, o dispositivo legal que 
usaremos como exemplo, do artigo 132 do Código Penal, que incrimina a conduta de periclitação da vida 
ou saúde. Vamos ao dispositivo: 
 
Periclitação para a vida ou saúde de outrem 
 
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Art.132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo 
direto e iminente: 
 
Pena – detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o 
fato não constitui crime mais grave. 
 
2.2.4. Dolo Genérico e Específico 
 
Esta é a última das classificações do dolo da qual iremos tratar, não obstante existirem outras 
que são citadas por determinados autores e que, ao nosso ver, não importam muito para nós no presente 
momento. 
 
Sendo que: inicialmente, cumpre expor que, tal como nos ensina Flávio Augusto Monteiro de Barros, a 
noção de dolo genérico e dolo específico, gira em torno do conceito de fato material, que por sua vez, 
compreende os elementos objetivos do tipo (lembra deles?). 
 
A propósito: para facilitar as coisas, vamos relembrar o que são os elementos objetivos do tipo, e para 
tanto, transcreveremos um trecho de nossa 6º aula, onde cuidamos do tema: 
 
 Elementos Objetivos do Tipo Penal: estes elementos 
se referem ao aspecto material do delito. São, nos 
dizeres do Profº. Fernando Capez, os elementos que 
existem concretamente no mundo dos fatos e só 
precisam ser descritos pela lei penal. Pode-se citar 
como exemplo destes elementos os seguintes 
 
a - o objeto do crime - no caso do homicídio, por 
exemplo, seria a pessoa, o “alguém”, do qual fala a 
norma. 
 
b - o lugar do crime - no caso de violação de 
domicílio, por exemplo, seria a domicílio alheio, “a 
casa alheia ou suas dependências”, como diz o tipo. 
 
c - o tempo do crime – que no caso do infanticídio, 
por exemplo, seria o “durante o parto ou logo após”, 
do qual fala o tipo penal. 
 
Pois bem: feitas estas necessárias explanações, vejamos agora o que compreendem, efetiva e 
respectivamente, o dolo genérico e o dolo específico: 
 
Dolo Genérico: segundo a maior parte da doutrina, o dolo genérico é a vontade de realizar o fato descrito 
na norma penal incriminadora. Tal como nos ensina Flávio Augusto Monteiro de Barros, verificar-se-á o 
dolo genérico nos tipos penais em que a vontade do agente se esgota com a prática objetivamente 
criminosa. 
 
Dolo Específico: esta espécie de dolo poderá ser encontrada nos crimes que exigem um fim especial, 
uma finalidade particular. Tal como leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, o dolo específico é a 
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vontade de praticar o fato e produzir um fim especial (específico). Vejamos alguns dispositivos legais nos 
quais podemos encontrar a previsão deste tal de dolo específico: 
 
Extorsão 
 
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou 
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou 
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, a 
fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma 
coisa. 
 
Pena - reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e 
multa. 
 
Rapto 
 
Art. 219. Raptar mulher honesta, mediante violência, 
grave ameaça ou fraude, para fim libidinoso. 
 
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. 
 
 Quadrilha ou Bando 
 
Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas em 
quadrilha ou bando, para fim de cometer crimes. 
 
Pena – reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos. 
 
Perceba que: tal como se pode facilmente perceber, nos tipos penais citados como exemplo, incrimina-se 
o fazer alguma, com um determinado fim, e este determinado fim é que caracteriza o dolo específico. 
 
Preste Muita Atenção: alguns autores ( entre eles o Profº. Damásio), criticam esta subdivisão do dolo, 
pois dizem que o que se chama de dolo específico, na verdade corresponde aos elementos subjetivos do 
tipo, que estudamos na 6ª aula. Lembra deles ? 
 
A propósito: tal como fizemos com o conceito de “elemento objetivo do tipo”, também no caso dos 
elementos subjetivos vamos relembrar o que foi dito em uma aula pretérita, para facilitar a compreensão 
do tema. 
 
Sendo que: na 6ª aula, quando tratamos dos elementos subjetivos do tipo, assim expusemos: 
 
Elementos Subjetivos do Tipo Penal: convém aclarar 
que estes são os elementos que pertencem ao campo 
psíquico-espiritual do agente. Por vezes o 
legislador acha conveniente inserir no tipo, que é, 
em sua essência, objetivo, alguns elementos 
subjetivos. 
 
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198
Ou seja: em determinadas situações o legislador, 
além de descrever a conduta, faz menção expressa a 
uma determinada finalidade. 
 
Em outras palavras: em alguns delitos diz-se: “fazer 
tal coisa, com tal intuito”. 
 
Sendo que: tais elementos subjetivos, segundo a 
melhor doutrina, costumam aparecer nos chamados 
delitos de intenção, onde, segundo o Profº Fernando 
Capez, deve existir uma representação especial do 
resultado. Nos delitos de intenção o agente pratica 
uma conduta com uma finalidade específica.” 
 
Tal como se pôde notar: os conceitos de dolo específico e elemento subjetivo do tipo se confundem. 
 
Sendo que: com o intuito de evitar que a aula se torne desnecessariamente complexa, fiquemos com a 
seguinte idéia: o dolo específico, em verdade, corresponde ao elemento subjetivo do tipo penal. 
 
A propósito: acerca deste particular aspecto, temos por oportuno, no presente momento, que se atente 
para os elucidativos ensinamentos do Profº. Damásio Evangelista de Jesus, que podem assim serem 
transcritos: 
 
“Entendemos, seguindo a orientação de Ásua, que não 
existem dolo genérico e dolo específico. O dolo é um 
só, variando de acordo com a figura típica. Nos 
termos da orientação, o chamado dolo com intenção 
ulterior ( dolo específico), que em si expressa um 
fim (...) assim como o animus que certos delitos 
exigem, não são propriamente dolos com intenção 
ulterior, e sim elementos subjetivos do tipo. 
( Grifo Nosso) 
 
Saiba que: segundo o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, o dolo específico, também denominado 
dolo com intenção ulterior ou dolo especial, auxilia a diferenciar um delito do outro. 
 
Entretanto: reconhece o penalista supra, assim como o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, que o dolo 
específico não passa de elemento subjetivo do tipo, e que por isso, diversos autores repudiam tal 
classificação, pois a tem como inócua, sem sentido. 
 
3. Culpa 
 
3.1. Considerações Gerais 
 
É chegada a hora de estudarmos a tão falada “culpa”. 
 
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199
Lembrando que: estaremos tratando da culpa strictu sensu, ou seja, usando o termo culpa no seu 
sentido técnico, e não no seu sentido vulgar. Quando dizemos que alguém é “culpado” , não fazemos, 
necessariamente, nenhuma ligação com o conceito técnico de culpa. 
 
Em outros termos: o agente popularmente denominado de “culpado” pode ter agido com dolo, com culpa 
(em seu sentido técnico), sendo que tal adjetivo ( culpado), em verdade exprime uma idéia de reprovação 
social de sua conduta, e a reprovação social pela prática do delito é o que se denomina culpabilidade, 
que aliás, será melhor estudada em uma aula posterior. 
 
Preste muitaatenção: a culpa, enquanto elemento psicológico da conduta não se confunde com a 
culpabilidade, que como já se expôs, se traduz em sendo a reprovabilidade social pela prática do delito. 
 
A propósito: dissemos que a culpabilidade, que traduz a reprovabilidade social da conduta será melhor 
estudada em uma aula posterior, no entanto, temos por conveniente expor um sucinto conceito de 
culpabilidade que nos é fornecido pelo Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, e que pode assim ser 
transcrito: 
“Culpabilidade é o juízo de reprovação que recai 
sobre o sujeito ativo do crime, pelo qual se permite 
aferir o merecimento ou não da qualidade e 
quantidade da pena.” 
( Grifo Nosso) 
 
Pois bem: quando ouvimos falar em “crime culposo”, logo nos vem em mente a idéia de um crime que 
fora cometido sem intenção criminosa, e isso porque o conceito leigo de crime culposo, assim nos ensina. 
 
Sendo que: em verdade, este conceito leigo de crime culposo não está equivocado, mas não é suficiente 
para traduzir toda a técnica que circunda um “crime culposo”. Cuidemos, portanto, de fazer as 
explanações necessárias acerca da teoria geral do crime culposo. 
 
3.2. Culpa: aspectos históricos e outras considerações 
 
Temos por conveniente fazer algumas breves explanações de caráter histórico acerca da 
“culpa”, dos crimes culposos, e inicialmente cabe asseverar que a previsão legal das ações culposas foi 
uma conseqüência de uma lenta evolução jurídica, que acabou por resultar na abolição da 
responsabilidade objetiva, que era uma forma de responsabilidade penal que levava em conta apenas o 
nexo de causalidade, desconsiderando qualquer elemento subjetivo do tipo. 
 
Ou seja: não importa, na responsabilidade objetiva, se o sujeito agiu com dolo ou culpa, o que importa é 
que a ação tenha sido a causa do resultado. 
 
Saiba que: tal forma de responsabilidade penal é um absurdo, pois acabava levando à abusos 
inconcebíveis, como o seguinte exemplo que nos é fornecido por Giuseppe Bettiol: quem caísse de uma 
árvore e matasse a pessoa que se achava debaixo podia ser punido por homicídio. O dano preponderava 
sobre a intencionalidade. 
 
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Perceba que: pune-se, na responsabilidade penal objetiva pelo imprevisível, pelo indesejado, mas, 
felizmente, nos dias atuais, esta forma de responsabilização penal é repelida na quase totalidade dos 
países. 
 
A propósito: voltando a falar dos aspectos históricos da culpa, cumpre assinalar que os Hebreus 
tratavam de forma mais branda as ações culposas3, predominando, entretanto, a consideração objetiva do 
resultado. 
 
Prova disto é que: até os animais eram punidos ao praticarem danos e aos proprietários destes só se 
aplicava pena de morte se houvesse negligência na sua guarda. 
 
Saiba, ainda, que: as antigas leis penais egípcias também faziam menção aos delitos culposos, 
entretanto, o homicídio doloso era equiparado ao culposo, punindo-se ambos com a pena capital. 
 
Preste atenção: no Brasil, as ordenações Filipinas, (legislação portuguesa do século XVII) previam o 
homicídio culposo no Livro V, Título 35, que assim dispunha: “Se a morte for por algum caso sem malícia, 
ou vontade de matar, será punido, ou relevado segundo sua culpa ou inocência, que no caso tiver.” 
 
Convém lembrar que: o Código Penal do Império, por sua vez, foi alvo de muitas críticas, uma vez que 
se omitia em relação à previsão dos crimes culposos. 
 
Porém: tal como lembra-nos o Profº. Basileu Garcia a necessidade de contemplá-los passou 
desapercebida ao legislador da época porque o problema era de mínima ressonância. 
 
Sendo que: esta deficiência legislativa foi parcialmente corrigida pela lei 2003 de 20 de Setembro de 
1871, que tipificava o homicídio e as lesões culposas. E no Código Penal Republicano de 1890, a matéria 
evoluiu tecnicamente, uma vez que referido diploma legal assim dispunha, em seu artigo 24: 
 
“As ações ou omissões contrárias à lei penal que não 
forem cometidas com intenção criminosa ou não 
resultarem de negligência, imprudência ou imperícia, 
não serão passíveis de pena.” 
 
3.3. Teoria Geral da Culpa 
 
3.3.1. Considerações gerais 
 
Inicialmente cumpre expor que nosso Código Penal não define a culpa, e sim o “crime 
culposo”, através do artigo 18, inciso II do CP. Vamos dar uma olhada no referido dispositivo legal: 
 
Art. 18. Diz-se o crime: 
 
I – ( ... ) 
 
 
3 - Note-se que, tradicionalmente, inclusive perante o ordenamento pátrio, aos crimes culposos se lança uma reprovabilidade menos 
intensa do que nos crimes dolosos. Ou seja: via de regra a pena dos crimes culposos é “mais leve” do que a pena dos crimes dolosos. 
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II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado 
por imprudência, negligência ou imperícia. 
 
Como se pôde notar: o legislador, ao invés de conceituar a culpa, preferiu mencionar as suas “três 
modalidades”, que serão adiante posteriormente. 
 
A propósito: em termos menos complexos, pode-se dizer que o inciso II, do artigo 18, pode ser 
desdobrado na seguinte premissa: são culposos os crimes onde o agente, embora não querendo produzir 
um resultado ilícito, age como imprudência, negligência ou imperícia, e acaba por lesionar um bem 
penalmente tutelado. 
 
Sendo que: acerca do vocábulo culpa, o Profº. Cezar Roberto Bitencourt nos fornece elucidativa 
conceituação, que assim pode ser transcrita: culpa é a inobservância do dever objetivo de cuidado 
manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, objetivamente previsível. 
 
Preste muita atenção: a doutrina costuma afirmar que o cerne da culpa reside na imprevisão do 
previsível. 
 
A propósito: sobre a “imprevisibilidade do imprevisível” mais se falará na próxima aula, quando 
cuidaremos de falar da “previsibilidade objetiva” e da “previsibilidade subjetiva”. 
 
Saiba ainda que: o Profº. Giuseppe Bettiol também cuidou de nos fornecer inteligentíssimo conceito de 
culpa, o qual, assim como o conceito que nos fora fornecido pelo Profº. Cezar Roberto Bitencourt, deve 
ser lido atentamente, uma vez que abarca a maioria dos aspectos que ainda serão estudados nesta aula. 
Pode, o referido conceito, assim transcrito: 
 
É a Violação de um dever de atenção que determina em 
erro vencível4 a respeito da licitude do fato 
praticado, dos limites dentro dos quais se é 
autorizado à agir, do nexo causal que vincula à 
conduta ilícita um evento lesivo previsto ou não 
previsto, desde que previsível e que de qualquer 
modo devia e podia ser evitado. 
 
Veja que interessante: no que toca à conceituação dos crimes culposos, esta foi feita de forma 
extremamente satisfatória no Projeto Completo de Código Penal publicado em 1928 por Virgílio de Sá 
Pereira, projeto este que ficou conhecido por Projeto Sá Pereira. A referida conceituação pode assim ser 
transcrita: 
“Age culposamente quem o faz sem o 
cuidado a que é obrigado e do qual é 
capaz, segundo as circunstâncias e suas 
condições pessoais, e por isso não prevê 
que o conteúdo do crime pode realizar-se 
 
Isto porque, não se pode olvidar que os crimes culposos traduzem uma menor periculosidade do agente, daí a necessidade de uma 
reprovação mais branda. 
4 - Por erro “vencível” devemos entender aquele erro que poderia ter sido evitado se o agente tivesse prestado devida atenção. 
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ou julgando-o possível, confia em que 
esta realização não se dará.” 
( Grifo Nosso) 
 
A propósito: O Projeto “Sá Pereira” não chegou a ser efetivamente adotado entre nós, assim como 
outros tantos projetos de Código Penalque foram elaborados em sua época. 
 
Pois bem: após estas considerações, é chegado o momento de tentarmos entender um pouco mais 
sobre a natureza dos crimes culposos. Quais os principais elemento dos crimes culposos ? Quais as 
características do tipo penal culposo ? Porque se punem os crimes culposos se não existe, nesta 
modalidade de crimes, uma verdadeira intenção criminosa ? Vamos esclarecer essas e outras eventuais 
indagações. 
 
3.3.2. Violação de um dever objetivo de cuidado 
 
De início, cumpre salientar que um dos principais elementos dos crimes culposos, ao lado da 
supracitada imprevisão do previsível, é a violação de um dever objetivo de cuidado. 
 
Sendo que: este dever objetivo de cuidado pode ser entendido como sendo o dever que se impõe a 
todas as pessoas da sociedade no sentido de se absterem de praticar condutas que ponham em risco a 
vida em comunidade. 
 
Tenha em mente, portanto, que: nos crimes culposos, o agente, não prevendo o previsível, acaba por 
violar um dever objetivo de cuidado. 
 
Preste muita atenção: tal como dissemos anteriormente, falaremos da “imprevisibilidade do previsível”, 
quando cuidarmos da previsibilidade objetiva e da previsibilidade subjetiva, no entanto, desde já cumpre 
assinalar, com base no que se expôs até o presente momento, que os dois principais elementos dos 
crimes culposos são: 
 
Imprevisibilidade do Previsível 
+ 
Violação à um dever objetivo de cuidado 
 
A propósito: no que toca ao dever objetivo de cuidado, pertinente atentarmos para as elucidativas lições 
do Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, que podem assim ser transcritas: 
 
“A vida em comunidade social impõe, a cada pessoa, o 
dever de abster-se da prática de condutas perigosas, 
exigindo do homem as cautelas necessárias para 
evitar que de seus atos possam resultar dano a bens 
jurídicos alheios.” 
( Grifo Nosso) 
 
Tal como se pode perceber:, ao contrário dos crimes dolosos, onde se pune o agente por ter ele agido 
com uma intenção criminosa e assim ter ocasionado dano a um bem penalmente protegido, nos crimes 
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culposos, pune-se a desatenção de uma pessoa que, apesar de não ter tido uma intenção criminosa, agiu 
com descuido, violando um dever objetivo de cuidado, e assim acabou por produzir um resultado 
penalmente relevante, um dano à um bem penalmente tutelado. 
 
3.3.3. Principais Características dos Tipos Culposos 
 
3.3.3.1. Tipos Culposos como Tipos “abertos” 
 
No que toca às características dos tipos penais culposos, ou seja, dos tipos penais que 
incriminam condutas culposas, é de extrema importância que se exponha que estes são tipos penais 
abertos, ao contrário dos tipos penais dolosos, que são tipos penais fechados. 
 
Vamos explicar melhor esta diferença: as condutas dolosas são descritas pelo legislador de forma 
objetiva, e não admitem nenhuma valoração subjetiva da conduta por parte do juiz para que se constate 
a sua adequação típica. 
 
Ou seja: nos tipos penais dolosos basta que se constate, de maneira objetiva, que o agente praticou a 
conduta incriminada. No caso do homicídio, por exemplo, basta que se demonstre que o agente matou 
alguém. Não importa como ele matou, se matou, deverá ser punido. 
 
A propósito: para que se possa melhor compreender o que estamos a expor, convém darmos uma 
olhada no tipo penal que descreve o homicídio doloso. É o dispositivo: 
 
Homicídio Doloso 
Art. 121. Matar Alguém. 
 
Pena - reclusão de 6 (seis) à 20 (vinte) anos. 
 
Em contrapartida no caso dos crimes culposos, diz-se que são tipos penais abertos pois a adequação 
típica da conduta da conduta não pode ser auferida de maneira objetiva, de imediato. 
 
Ou seja: a incriminação das condutas culposas pressupõe a constatação, no caso em particular, de que o 
agente violou o dever de cuidado a que estava obrigado, na situação em particular. 
 
Em outros termos: o juiz, no caso dos crimes culposos deve analisar se o agente violou um dever de 
cuidado ao qual estava obrigado, deve fazer uma análise da situação concreta para saber se a conduta 
do agente deve ser considerada uma conduta tipicamente culposa. 
 
A propósito: pegando ainda, como exemplo, o crime de homicídio, imprescindível que se analise, no 
caso de sua modalidade “culposa”, como o agente matou, se matou porque deixou de prever o 
imprevisível e violou um dever objetivo de cuidado. 
 
Ou seja: indispensável que se constate, no caso dos crimes culposos, se, apesar de não ter tido, o 
agente, a intenção de matar, agiu ele com uma inaceitável desatenção, violando um dever objetivo de 
cuidado. 
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Preste muita atenção: nos tipos penais culposos a descrição típica da conduta não se esgota no 
respectivo tipo penal, não podendo ser completada senão através de uma valoração por parte do juiz. No 
caso do homicídio culposo, por exemplo, o Código Penal, no parágrafo 3º do artigo 121 assim dispõe: 
 
Art. 121. (...) 
 
Homicídio Culposo 
 
§ 3º. Se o homicídio é culposo: 
 
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
 
Como se pôde perceber: o legislador, ao incriminar o homicídio culposo, não descreveu a conduta por 
completo. Estabeleceu a pena, para os casos de homicídio culposo, mas não descreveu como se pratica 
o crime em questão. 
 
Pare e pense: sabemos que o já mencionado art. 18, em seu inciso II diz que o crime será culposo 
quando o agente der causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia, mas o legislador não 
pode prever todos os casos em que a morte de uma pessoa, por exemplo, será fruto da imprudência, 
negligência ou imperícia, que como adiante se verá, são as três maneiras pelas quais se pode violar um 
dever objetivo de cuidado. 
 
Sendo assim: caberá ao juiz concluir se o agente foi negligente, imprudente ou imperito. 
 
Em outras palavras: caberá ao juiz analisar se o agente deixou prever o previsível e violou um dever 
objetivo de cuidado, sendo que, por isso, diz-se que os tipos culposos são tipos abertos. 
 
3.3.3.2. Excepcionalidade do Crime Culposo 
 
 
Via de regra, os crimes tipificados na parte especial do Código Penal são dolosos, e assim, os 
crimes culposos são considerados exceção. 
 
Em outros termos: geralmente as condutas criminosas são praticadas dolosamente e o legislador, 
quando tipifica uma conduta, faz presumir que esta deverá ser praticada dolosamente, com intenção de 
produzir o resultado. 
 
Sendo que: quando o legislador, entender por bem incriminar uma conduta culposa, deverá fazer menção 
expressa ao elemento psicológico culpa. A culpa, ao contrário dolo, nunca pode estar implícita no tipo 
penal. 
 
Por isso que: apenas podem ser cometidos de forma culposa, os crimes nos quais se faz expressa 
menção à culpa, tal como o caso do homicídio, no artigo 121, § 3º . 
 
Ou seja: não existem crimes culposos que não estejam expressamente previstos em lei. 
 
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A propósito: acerca da excepcionalidade dos crimes culposos, convém atentarmos para as elucidativas 
lições do Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, que podem assim serem transcritas 
 
“O caráter excepcional dos crimes culposos significa 
que só se os admite nos casos taxativamente 
declarados em lei.” 
 
Saiba que: em nosso Código Penal, a regra de excepcionalidade dos crimes culposos, sobre a qual, 
aliás, fizemos alguns comentários no início desta aula, é prevista pelo parágrafo único do artigo 18, que 
assim preceitua: 
 
Art. 18. ( ...) 
 
Parágrafo único: Salvo os casos expressos em lei, 
ninguém poderá ser punido por fato previsto como 
crime, senão quando o pratica dolosamente.” 
( Grifo Nosso) 
 
Preste atenção: como nossa intenção primordial é facilitar ao máximo a compreensão dos temas por nós 
abordados,temos por conveniente que se atente, ainda acerca da excepcionalidade dos crimes culposos, 
para os esclarecedores apontamentos do Profº. Eduardo Del Campo, o qual tivemos o privilégio de ter 
como professor na graduação. Podem, os referidos apontamentos, assim ser transcritos: 
 
“ O Código Penal adotou como técnica legislativa a 
descrição dos crimes dolosos, ou seja, as formas 
culposas de uma determinada conduta tida como típica 
somente poderão constituir crime se o legislador 
assim indicar expressamente.” 
( Grifo Nosso) 
 
3.3.4. Modalidades de Culpa 
 
 
Para finalizar a primeira parte de nosso estudo sobre a “culpa” , convém tratarmos das 
modalidades de culpa. 
 
Ou seja: das três maneiras que, segundo nosso legislador, podem ser praticados os crimes culposos, ou 
ainda, as três maneiras de violação do dever objetivo de cuidado. 
 
Sendo que: tal como preceitua o inciso II do artigo 18, os crimes culposos são praticados mediante: 
 
 Imprudência 
 Negligência 
 
 Imperícia 
 
Pois bem: façamos agora alguns breves comentários acerca das três modalidades de culpa, das três 
maneiras de violar um dever objetivo de cuidado: 
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Negligência: por negligência entende-se a falta de cautela e desatenção no momento da ação. É 
também conhecida como culpa in omitendo, sendo que, tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto 
Monteiro de Barros, esta( negligência) ocorrerá quando houver inobservância dos cuidados exigidos 
pelas circunstâncias. Ensina-nos ainda, o penalista em questão que neglicenciar é omitir a ação que o 
caso requer. 
 
Imprudência: é a clássica culpa in agendo e segundo Giuseppe Bettiol, consiste no fato de que o sujeito 
atua sem as cautelas oportunas, não alterando os poderes inibitórios, porque desde que tivesse prestado 
maior atenção, poderia ter previsto o evento lesivo e evitado assim o cumprimento da própria ação. 
 
Ou seja: tal ensina-nos Flávio Augusto Monteiro de Barros, a imprudência consiste na prática de uma 
ação perigosa sem as cautelas oportunas. 
 
Sendo que: é imprudente, por exemplo, o agente que desenvolve, com o automóvel, uma velocidade 
muito grande, sem atentar para o fato de que naquela rua trafegam muitas crianças que saem de uma 
determinada escola, mesmo que a velocidade não seja superior ao permitido. 
 
Perceba que: ele trafegou na velocidade permitida, mas não tomou consciência que deveria estar mais 
devagar por se tratar do horário em que as crianças, por natureza desatentas, saiam da escola. 
 
Preste atenção: atou ele, neste exemplo, sem as cautelas necessárias, agiu imprudentemente, e 
sobrevindo um resultado danoso, ele deverá ser responsabilizado à título de culpa. 
 
Imperícia: esta modalidade de culpa, segundo Giuseppe Bettiol, é, na essência, uma imprudência 
qualificada, é a também chamada culpa profissional, e, tal como leciona a melhor doutrina, se traduz na 
falta de aptidão para o exercício de arte, profissão ou ofício. 
 
A propósito: acerca da imperícia, cumpre atentarmos para os ensinamentos do Profº. Flávio Augusto 
Monteiro de Barros, que podem assim ser transcritos: 
 
“Verifica-se a imperícia sempre no exercício de uma 
atividade em que o agente, não obstante autorizado a 
exercê-la, não dispõe de conhecimentos teóricos ou 
práticos para bem desempenhá-la. É o caso do médico 
que, não possuindo cabedal suficiente para efetuar 
certa operação, provoca a morte do paciente.” 
 ( Grifo Nosso) 
 
Saiba que: continuaremos estudando a culpa na próxima aula, onde falaremos da previsibilidade objetiva 
e subjetiva do resultado, das espécies de culpa, da importância do resultado nos crimes culposos, dos 
crimes preterdolosos ou preterintencionais, e outros aspectos complementares. 
 
Enfim: na próxima aula abordaremos o restante dos aspectos técnicos que envolvem a teoria geral dos 
crimes culposos. 
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Questão – Problema 
 
 
 
 
 
Um colega de colega de classe, no intervalo da aula, chega e lhe diz: 
 
 
- Como faltei na aula passada, não entendi o que o professor quis dizer quando comentou rapidamente, 
na aula de hoje, que os tipos penais culposos são tipos abertos. Fui pedir para ele sanar minhas dúvidas, 
e ele me disse que se eu faltei na aula passada, o problema era meu, e que se eu quisesse saber o que 
ele quis dizer quando disse que os tipos penais culposos eram tipos abertos, eu que perguntasse à um 
colega que presenciou a explicação da aula passada. Acho que o professor foi grosso demais, e fiquei 
sem saber o que preciso. Será que você poderia me explicar ? 
 
Você, como bom aluno que é, presenciou e explicação da aula anterior, e entendeu sem 
dificuldades porque se denominam, os tipos culposos, tipos abertos, e portanto poderá sanar as dúvidas 
de sua injustiçada colega. Como você esclareceria as dúvidas que o professor mal educado não 
esclareceu ? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Quadro Sinóptico 
 
1. Os crimes, ou são dolosos ou são culposos, e tanto o dolo como a culpa 
estão inseridos no próprio tipo penal incriminador. 
 
2. O dolo é presumido, mas a culpa tem que ser prevista expressamente, em 
face do princípio da excepcionalidade dos crimes culposos, que vem insculpido 
no artigo 18, parágrafo único. 
 
3. O dolo traduz a vontade de delinqüir. Segundo o artigo 18, inciso I, o 
crime será doloso quando o agente quis o resultado ( dolo direto )ou quando 
assumiu o risco de produzi-lo ( dolo eventual) . 
 
Em outros termos: o dolo compreende a consciência e a vontade de praticar um 
ilícito penal. 
 
4. Com relação ao dolo, foram formuladas 03 (três) teorias, quais sejam: 
teoria da representação, teoria da vontade, e teoria do assentimento. Vejamos, 
mais uma vez, em apertada síntese, o que prega cada uma destas teorias: 
 
Teoria da Representação: para esta teoria, o dolo consiste na simples 
representação do resultado. Ou seja, se o agente podia prever o resultado, 
agiu dolosamente. 
 
Lembre-se que: tal teoria é totalmente desprezada nos dias de hoje, uma vez 
que, felizmente, a doutrina chegou à conclusão de que a simples previsão do 
resultado é insuficiente para a configuração do dolo. 
 
Teoria da Vontade: para esta teoria, que segundo Cezar Roberto Bitencourt é 
tida como clássica, o dolo é a vontade dirigida à um resultado. Carrara, que 
foi um dos idealizadores desta teoria, lecionava que o dolo consiste na 
intenção mais ou menos perfeita de fazer um ato que se conhece contrário à 
lei. 
 
Não se esqueça que: de acordo com a teoria da vontade, é imprescindível que o 
agente, além de prever o resultado, tenha consciência dele, tenha também o 
desejo de realiza-lo. 
 
Teoria do Assentimento ou Consentimento: esta teoria, segundo alguns 
doutrinadores complementa a teoria da vontade, uma vez que adere à suas 
idéias, porém acrescenta que também há dolo quando o agente ,apesar de não 
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objetivar, efetivamente, o resultado, realiza uma determinada conduta prevendo 
e aceitando que ele ocorra. Segundo esta teoria, também haverá dolo nos casos 
em que o agente não quer o resultado propriamente dito, mas assume o risco de 
produzi-lo ( dolo eventual. 
 
Não se esqueça que: em face do que preceitua o artigo 18, inciso I, é de se 
concluir que nosso legislador aderiu à teoria da vontade e à teoria do 
assentimento, e, acertadamente, desprezou a teoria da representação. 
 
5. Espécies de Dolo: segundo a melhor doutrina, o dolo pode assim ser 
classificado: 
 
 Dolo natural: é o dolo que abrange apenas os elementos objetivos do tipo, 
e não estes ( elementos objetivos do tipo) mais a consciênciada 
ilicitude. 
 
 Dolo Normativo: está espécie de dolo é composta da consciência dos 
elementos objetivos do tipo e da consciência da ilicitude. 
 
Lembre-se que: entre nós o dolo é natural, e a consciência da ilicitude 
pertence à culpabilidade, e não à tipicidade. 
 
 Dolo Direto: nesta modalidade de dolo o agente tem por fim produzir um 
resultado certo, sua vontade se fixa numa só direção. 
 
 Dolo Indireto: nesta espécie de dolo a vontade do agente não se fixa num 
só sentido, não há vontade exclusiva de produzir um determinado resultado. 
Esta espécie de dolo se subdivide em: 
 
a. Dolo alternativo: o agente deseja, com a mesma intensidade, produzir um 
ou outro resultado. Seria o caso, por exemplo, do agente que atira em 
alguém para matar ou para ferir. 
 
b. Dolo eventual: nesta espécie de dolo o agente não quer diretamente o 
resultado, mas aceita a possibilidade de produzi-lo. 
 
 Dolo de dano: nesta espécie de dolo o agente tem a vontade de produzir uma 
efetiva lesão a um bem penalmente tutelado. 
 
 Dolo de perigo: nesta espécie de dolo o agente tem por finalidade expor o 
bem a perigo. 
 
 Dolo genérico: é a vontade de realizar o fato descrito na norma penal 
incriminadora. 
 
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 Dolo específico: esta espécie de dolo é encontrada nos crimes que exigem 
uma finalidade especial do agente. 
 
6. Culpa: nos crimes culposos não há uma vontade de delinqüir, mas o agente é 
punido por foi descuidado, desatento, de uma maneira socialmente inaceitável. 
 
7. A previsão legal da culpa é fruto de uma lenta evolução jurídica, que 
acabou por resultar na abolição da monstruosa responsabilidade objetiva. 
 
8. O legislador, ao invés de conceituar a culpa, preferiu mencionar suas três 
modalidades, quais seja: imprudência, negligência e imperícia. Vamos recordar 
a essência de cada uma destas três modalidades de culpa: 
 
Negligência: por negligência entende-se a falta de cautela e desatenção no 
momento da ação. Tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de 
Barros, neglicenciar é omitir a ação que o caso requer. 
 
Imprudência: é a clássica culpa in agendo e segundo Giuseppe Bettiol, 
consiste no fato de que o sujeito atua sem as cautelas oportunas, não 
alterando os poderes inibitórios, porque desde que tivesse prestado maior 
atenção, poderia ter previsto o evento lesivo e evitado assim o cumprimento da 
própria ação. 
 
Imperícia: esta modalidade de culpa, segundo o supracitado penalista, é, na 
essência, uma imprudência qualificada, é a também chamada culpa profissional, 
e, tal como leciona a melhor doutrina, se traduz na falta de aptidão para o 
exercício de arte, profissão ou ofício. 
 
Lembre-se que: tal como dissemos anteriormente, o inciso II do artigo 18, 
pode ser desdobrado na seguinte premissa: são culposos os crimes onde o 
agente, embora não querendo produzir um resultado ilícito, age como 
imprudência, negligência ou imperícia, e acaba por lesionar um bem penalmente 
tutelado. 
 
9. Tal como leciona o Profº Cezar Roberto Bitencourt, a culpa é a 
inobservância de um dever objetivo de cuidado manifestada numa conduta 
produtora de um resultado não querido, mas objetivamente previsível. 
 
10. A violação do dever objetivo de cuidado é um dos principais elementos dos 
crimes culposos, e este dever objetivo de cuidado pode ser entendido como 
sendo o dever que se impõe à todas as pessoas da sociedade, no sentido de se 
absterem de praticar condutas que ponham em risco a vida em comunidade. 
 
11. Nos crimes culposos, o agente, deixando de prever o previsível, viola um 
dever objetivo de cuidado. 
 
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12. Os tipos culposos são tipos penais abertos pois a adequação típica da 
conduta, nestes casos, pressupõe uma valoração por parte do juiz, que, depois 
de analisar todas as circunstâncias do caso concreto vai dizer se o agente foi 
ou não negligente, imprudente ou imperito. 
 
Ou seja: o juiz, no caso dos crimes culposos, deve analisar se o agente violou 
um dever de cuidado ao qual estava obrigado, deve fazer uma análise da 
situação concreta para saber se a conduta do agente deve ser considerada uma 
conduta tipicamente culposa. 
 
13. Os crimes definidos pelo Código Penal, via de regra são dolosos e os 
crimes culposos são considerados exceção. Por isso a “culpa”, ao contrário do 
dolo, não pode estar implícita no tipo penal incriminador. Ou seja: não 
existem crimes culposos que não estejam expressamente previstos em lei. 
 
Não se esqueça que: em face do que preceitua o artigo 18, inciso II, é de se 
concluir que o dever objetivo de cuidado pode ser violado por imprudência, 
negligência ou imperícia.

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