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Parecer Constitucional e Penal
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Parecer N° 099/2020 REQUERENTE: Governo da Itália EXTRADITANDO: Paolo Baggio Ementa: EXTRADIÇÃO. GOVERNO ITALIANO. CRIME DE HOMICÍDIO. TRATADO DE RECIPROCIDADE. SENTENÇA COM EFEITO EX TUNC. BRASILEIRO NATO.SOBERANIA Relatório: Trata-se de pedido de extradição do italiano Paolo Baggio, formulado pelo Governo da Itália e encaminhado por via diplomática ao Ministério Público Federal com base na promessa de reciprocidade para casos análogos. O Estado requerente informa que o extraditando é procurado pela Justiça italiana para responder à ação penal pela prática do crime de homicídio que teria sido cometido na cidade de Napoli. Todavia, o requerido é filho de mãe brasileira e embora não registrado em repartição competente na propositura de seu nascimento, atualmente encontra-se em território nacional, podendo demandar a condição de brasileiro nato. É o relatório. Fundamentação: O presente pedido de extradição encontra respaldo na Lei n 13.445 de 24 de maio de 2017, especificamente no capítulo VIII, seção I e seus respectivos artigos: Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso. § 1º A extradição será requerida por via diplomática ou pelas autoridades centrais designadas para esse fim. § 2º A extradição e sua rotina de comunicação serão realizadas pelo órgão competente do Poder Executivo em coordenação com as autoridades judiciárias e policiais competentes. Segundo Rezek “tratado é o acordo formal, concluído entre sujeitos de direito internacional público, e destinado a produzir efeitos jurídicos”(1984, p. 21). No que concerne a extradição, esta representa o instituto de suma importância para que as fronteiras entres os países, deixem de ser barreiras ao alcance da justiça. Desse modo, três princípios basilares devem ser observados, conforme demonstra Vieira e Altolaguirre : “A) O ato de extradição, que consiste na entrega do reclamado ao Estado requerente, para ser processado ou cumprir uma condenação já imposta, previsto no controle jurisdicional, do Estado requerido. B) O processo de extradição, que consiste no conjunto de atuações judiciais que vão desde a recepção do pedido até o pronunciamento, de entrega ou denegatório e sua comunicação aos interessados. C) O procedimento de extradição, que compreende a esse mesmo processo e a atuações governamentais e administrativas que precedem e normalmente seguem o pronunciamento jurisdicional.” (2001, p. 27) O Estado brasileiro só tem um dever jurídico em extraditar as pessoas em seu território: se houver firmado Tratado Internacional para tanto, e nos limites a que se tiver vinculado.(RUSSOMANO, 1981, p. 42/49) Destaca-se a existência de tratado de extradição entre a República Federativa do Brasil e a República Italiana, assinado em 17 de outubro de 1989, aprovado pelo Decreto Legislativo 78, de 20 de novembro de 1992 e promulgado pelo Decreto 863, de 9 de julho de 1993. Demonstrando que será concedida a extradição por fatos que, segundo a lei de ambas as partes, constituírem crimes puníveis com uma pena privativa de liberdade pessoal cuja duração máxima prevista for superior a um ano, ou mais grave. O crime imputado ao extraditando está previsto no artigo 575, do Código Penal Italiano, qual seja, homicídio, e equivale ao previsto no artigo 121 do Código Penal Brasileiro, ambos com pena de reclusão superior a um ano, desse modo supre as condições do tratado entre os dois países. Todavia, As obrigações firmadas nos tratados, por mais que possam eventualmente prevalecer sobre as normas previstas na lei interna, jamais se sobrepõem às normas Constituição.(FERRARI. 2011, p. 1150; 1159 – 1162). Portanto, as hipóteses negativas à extradição previstas no artigo 5º, inciso LI, orientam para a noção de inextraditabilidade de nacionais. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; (grifo nosso) LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião; A regra que brasileiro nato não pode ser extraditado repousa na ideia de soberania e preservação da jurisdição nacional. Por outro lado, o naturalizado poderá ser extraditado se praticou crime comum antes da naturalização, ou, em caso de tráfico ilícito de de entorpecentes e drogas afins, praticados antes ou depois da naturalização. Sendo certo, que a única exceção para extradição de estrangeiro e em caso de cometimento de crime político ou de opinião. Para fins do presente caso convém elucidar que Paolo é filho de mãe brasileira e pai estrangeiro, nascido na Itália não foi registrado em repartição pública competente, porém inexistindo o registro não significa dizer que a pessoa não é brasileira, já que tal condição pode emergir diante do jus sanguinis, sendo necessário apenas e tão somente que a pessoa venha a residir no Brasil e opte por tornar definitiva a condição de brasileiro nato. Conforme julgado anterior do STF: “São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. A opção pode ser feita a qualquer tempo, desde que venha o filho de pai brasileiro ou de mãe brasileira, nascido no estrangeiro, a residir no Brasil. Essa opção somente pode ser manifestada depois de alcançada a maioridade. É que a opção, por decorrer da vontade, tem caráter personalíssimo. Exige-se, então, que o optante tenha capacidade plena para manifestar a sua vontade, capacidade que se adquire com a maioridade. Vindo o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, a residir no Brasil, ainda menor, passa a ser considerado brasileiro nato, sujeita essa nacionalidade a manifestação da vontade do interessado, mediante a opção, depois de atingida a maioridade. Atingida a maioridade, enquanto não manifestada a opção, esta passa a constituir-se em condição suspensiva da nacionalidade brasileira." (RE 418.096, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 22-3- 05, DJ de 22-4-05). Todavia, na época do cometimento do crime, Paolo estava na Itália, portanto, tornou-se brasileiro após o crime, visto que era necessário que o mesmo residisse no país e manifestasse vontade de tornar-se brasileiro. Nesse sentido, embora a condição fosse intrínseca, enquanto não requisitada estava suspensa para todos os efeitos. EMENTA: - CONSTITUCIONAL. NACIONALIDADE: OPÇÃO. C.F., ART. 12, I, c, COM A EMENDA CONSTITUCIONAL DE REVISÃO Nº 3, DE 1994. I. - São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. II. - A opção pode ser feita a qualquer tempo, desde que venha o filho de pai brasileiro ou de mãe brasileira, nascido no estrangeiro, a residir no Brasil. Essa opção somente pode ser manifestada depois de alcançada a maioridade. É que a opção, por decorrer da vontade, tem caráter personalíssimo. Exige-se, então, que o optante tenha capacidade plena para manifestar a sua vontade, capacidade que se adquire com a maioridade. III. - Vindo o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, a residir no Brasil, ainda menor, passa a ser considerado brasileiro nato, sujeita essa nacionalidade a manifestação da vontade do interessado, mediante a opção, depois de atingida a maioridade. Atingida a maioridade, enquanto