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Analgésicos opioides Farmacoterapia da dor Dor aguda Dor intensa Dipirona intravenosa e/ou antiinflamatórios intravenosos + Tramadol intravenoso Melhora após 20 a 30 minutos do término da infusão? Morfina intravenosa a cada 5 ou 10 minutos, observando a resposta clínica Dor moderada Dipirona intravenosa e/ou antiinflamatórios intravenoso Melhora após 20 a 30 minutos do término da infusão? Tramadol intravenoso Melhora após 20 a 30 minutos do término da infusão? Morfina intravenosa a cada 5 ou 10 minutos, observando a resposta clínica Dor leve Dipirona via oral ou paracetamol via oral ou antiinflamatório via oral Dipirona intravenosa ou antiinflamatório intravenoso Dor crônica Dor oncológica Múltiplas terapias farmacológicas e não farmacológicas Dor funcional Fibromialgia, síndrome do intestino irritável, cefaleia tensional Antidepressivo tricíclico, sendo o uso estabelecido na profilaxia Dor neuropática Presença de depressão, ansiedade ou insônia? Antidepressivo tricíclico ou anticonvulsivante Dor nociceptiva Uso de analgésicos não opioides. Utilizar opioides somente em crises agudas. Neurônios aferentes nociceptivos As fibras aferentes nociceptivas se dividem anatomicamente em dois aferentes principais, são elas A e as C. A diferença entre as duas é a presença de bainha de mielina na fibra A e ausência na fibra C e o calibre, sendo a C a mais fina. A presença de bainha de mielina e maior calibre na fibra A faz com que a velocidade de condução do potencial de ação seja mais rápida. Essa é a via rápida ou do trato neoespinotalâmico. É iniciada principalmente por estímulos mecânicos ou térmicos. Produz a sensação de dor aguda e bem localizada. Já as fibras C são caracterizadas como via lenta ou do trato paleoespinotalâmico, sendo mais primitiva em termos evolutivos. É iniciada por fatores químicos e produz dor contínua e mal localizada. O conjunto de várias fibras forma o gânglio da raiz dorsal. O corno da raiz dorsal é composto por várias laminações, na lâmina I e V, existem fibras A, enquanto as fibras C estão nas lâminas I e II, junto com os mecano e termorreceptores. A informação vinda da periferia passa pelo corno da raiz dorsal, onde vai ocorrer uma sinapse entre a fibra primária e secundária da dor, que leva a informação até o sistema nervoso central, o tálamo e o córtex. Como a dor chega no sistema nervoso central A despolarização de fibras A e C (neurônio primário) fazem uma sinapse. O conjunto de axônios (neurônio secundário) presentes formam o trato espinotalâmico que realiza um movimento de ascensão da periferia até o sistema nervoso central. Essas fibras realizam o enervamento da região talâmica, onde se conectam com um terceiro neurônio e dali para o córtex. Essas enervações podem chegar também à região insular e córtex cingulado anterior. Nas regiões do córtex somatossensorial, é possível identificar a localização da dor, julgar a intensidade do estímulo e sua qualidade. Já a parte afetiva-emocional é regulada pela região insular e cingulado anterior, causando uma sensação de desprazer, medo e ansiedade (regiões da amígdala e hipotálamo), além de disparar o circuito de luta ou fuga. O medo gera uma memória no hipotálamo, que pode ser recrutada mesmo quando a dor não acontece. Vias descendentes da dor e sua respectiva ação analgésica A via da dor também ativa a substância cinzenta periaquedutal, localizada no mesencéfalo superior. A substância é formada por um conjunto de núcleos que se projetam em direção a medula. Essa região compõem o conjunto de fibras da via descendente da dor, que atua na analgesia. Esses neurônios secretam glutamato em cima da região do núcleo magno da rafe, ricos em serotonina, causando sua ativação. Os neurônios ativados chegam até o núcleo da raiz dorsal e secretam serotonina sobre interneurônios inibitórios medulares. Os interneurônios ativados secretam GABA no corno da raiz dorsal, o que bloqueia total ou parcialmente a secreção de glutamato nas fibras secundárias aferentes da dor. Partindo da substância cinzenta periaquedutal, além do núcleo magno da rafe, existe o lócus cerúleos. O lócus é um conjunto de neurônios, localizado no tronco encefálico, capazes de secretar noradrenalina. Esse neurotransmissor também é capaz de ativar neurônios inibitórios que provocam a liberação de GABA, adenosina, canabinoides e encefalinas no corno da raiz dorsal da medula, estimulando os interneurônios inibitórios e, por fim, bloqueando a sinapse aferente da periferia que vai até o tálamo. Os antidepressivos tricíclicos são os principais medicamentos para dor crônica, uma vez que aumentam a disponibilidade de serotonina e de noradrenalina. Ocorre potencialização dos neurotransmissores antinociceptivos no corno da raiz dorsal da medula. A ativação dos interneurônios inibitórios também é capaz de promover efeito anti- inflamatório local. A liberação de canabinoides e adenosina bloqueiam o fator de transcrição NFB, o que diminui a secreção de citocinas pró-inflamatórias. Além disso, há aumento da síntese de interleucinas anti-inflamatórias, como a IL-10. Em caso de doenças inflamatórias aumentam a nociceptividade. Ocorre aumento do fator de transcrição NFB, pela presença de IL-6, IL-1 e ATP, aumentando a presença de substâncias pró- inflamatórias no ambiente sináptico, como óxido nítrico e prostaglandinas. Assim há aumento da expressão de glutamato no neurônio pós-sináptico. Opioide – Moléculas depressoras do Sistema Nervoso Central São analgésicos de ação central, obtidas por meio da planta Papaver somniferum. Tipos • Naturais – Derivados do ópio que não sofreram nenhuma modificação, exemplo: morfina, codeína e papaverina; • Semissintéticos – Modificações parciais das substâncias naturais, exemplo: heroína, produzida a partir da acetilação da morfina; • Sintéticos – Fabricados em laboratório, exemplo; metadona, fentanil, meperidina, tramadol; • Endógenos – Liberados em situações de estresse corporal, como um trauma ou exercício físico intenso. Receptores de opioides Sua ação final é a redução da atividade elétrica do cíngulo. Todos os receptores (µ, e ) são acoplados à proteína Gi e/ou G0. A proteína Gi possui três unidades (αβγ) e quando é ativada ocorre uma mudança de conformação e separação das subunidades α e βγ. A subunidade γ é capaz se ligar a canais de potássio, permitindo uma corrente de saída de potássio da célula. A saída do íon causa um efeito hiperpolarizante na membrana, bloqueando a despolarização. Além disso, se liga à canais de cálcio, bloqueando sua entrada na célula. Com o cálcio diminuindo, ocorre também diminuição da liberação de neurotransmissores. Já a subunidade α diminui a atividade da adenilil ciclase, bloqueando a ativação de AMPc e PKA e consequentemente bloqueando os canais de sódio. Ação dos receptores opioides no organismo A ativação dos receptores µ no bulbo respiratório pode levar à depressão da função respiratória. Ocorre asfixia farmacológica, podendo haver morte do paciente, uma vez que os opioides bloqueiam a atividade dos neurônios que permitem o movimento da respiração mecânica. As fibras µ e reduzem o trânsito gastrointestinal, causando constipação. Podem induzir crises psicóticas no indivíduo, aumento da fome, sedação (fentamil utilizada no protocolo de intubação), aumento da diurese. Receptores influem na produção de prolactina e hormônio do crescimento. Indicação terapêutica - Analgesia Agem em todo o sistema nervoso central. Os receptores de opioides são encontrados nos terminais nociceptivos, na fibra de condução C e A, no terminal sináptico e por toda a extensão do neurônio da dor, inclusive notrato espinotalâmico. As vias ascendentes do trato espinotalâmico tem suas fibras inibidas pela ativação do receptor µ, reduzindo a liberação de glutamato no tálamo, bloqueando a atividade elétrica. Ocorre bloqueio da sensação de dor, uma vez que a sinapse entre o neurônio primário e secundário no corno da raiz dorsal é inibida. As vias ascendentes da formação reticular também ficam inibidas pela ativação do receptor µ, reduzindo a liberação de glutamato no tálamo. Essa região é importante no controle do sono, por isso ocorre o efeito de sedação. Os opioides, mesmo sendo substâncias hiperpolarizantes são capazes de causar despolarização nos neurônios da via descendente da dor. Isso ocorre porque poucos receptores opioides são encontrados nessa via. Contudo, há grande quantidade desses receptores nos interneurônios GABAérgicos centrais que ficam constitutivamente ativos, ou seja, secretando GABA continuamente na substância cinzenta periaquedutal. Fisiologicamente, isso permite que a dor seja sentida, uma vez que silencia as fibras nociceptivas descendentes. Quando o receptor opioide µ é ativado nesses interneurônios ocorre bloqueio da secreção de GABA. Na ausência do neurotransmissor os neurônios da via descendente são disparados e ocorre ativação da via. Uso prolongado de opioides - Tolerância Tolerância é a perda da ação terapêutica com o passar do tempo e para atingir novamente essa ação é necessário incrementar a dose utilizada. No caso dos opioides, ocorre tolerância farmacodinâmica, com alteração dos receptores. Quando ocorre a ativação de muitos receptores opioides, a sua sensibilidade fica diminuída, causando a dessensibilização. Esse processo causa a perda de acoplamento entre o ligante e o receptor e promove a menor transcrição de genes para os receptores, diminuindo sua produção. Como consequência, ocorre diminuição na eficácia terapêutica e perda de efeitos sedativos e analgésicos. Esse quadro é atingido muito rapidamente. Uso prolongado de opioides - Hiperalgesia O uso de opioides pode causar hiperalgesia (aumento da dor). Isso ocorre porque os receptores opioides aumentam os receptores de glutamato excitatórios do tipo NMDA, além de bloquear os transportadores de glutamato. Também causam o aumento de peptídeos excitatórios CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina) e CCK (colecistocinina) Na sinapse da fibra nociceptiva, quando há presença de opioides, durante o decorrer do tempo, o paciente passa a ter um aumento da dor. Uso prolongado de opioides - Adicção Os opioides ativam o circuito de recompensa, causando euforia. Os receptores estão presentes nos neurônios GABAérgicos inibitórios e no núcleo accumbens. A dessensibilização de receptores colabora com a adicção. Abuso de opioides • Adicção: ➢ Obsessão e compulsão; ➢ Perda do senso crítico; ➢ Dificuldades para controlar o comportamento de consumo (início, término e dose); ➢ Abandono de prazer e interesses alternativos em favor do uso; ➢ Persistência do uso a despeito de clara evidência de consequências nocivas; ➢ Estado de abstinência ou consumo para alívio dos sintomas da abstinência. • Abstinência: ➢ Sintomas físicos; ➢ Dores no corpo; ➢ Náuseas e vômitos; ➢ Hiperatividade SNS; ➢ Bocejo; ➢ Transpiração; ➢ Calafrios; ➢ Febre; ➢ Perda de apetite; ➢ O tratamento é dado pela substituição do opioide por um de longa duração (metadona) com diminuição gradativa da dose. Tratamento da dependência e abstinência A metadona possui mecanismo de ação semelhante ao da morfina e é usada em casos de dependência, para evitar que o paciente entre em abstinência. Seu tempo de meia vida é prolongada devido a extensão ligação com proteínas plasmáticas e teciduais. Em pacientes com quadro de abstinência também é utilizado o fármaco clonidina. Possui ação hipotensora por diminuição do tônus simpático da musculatura lisa dos vasos sanguíneos e de diminuição da frequência cardíaca. Os dois são usados simultaneamente. A metadona impede que o paciente entre em abstinência e caso isso ocorra a clonidina atua. Efeitos dos opioides • Euforia – Ativa o circuito de recompensa; • Sedação – Diferente da sedação induzida por benzodiazepínicos, não causa amnésia; • Náuseas e vômitos – Ação dos opioides na área postrema do bulbo pela presença de quimiorreceptores; • Miose (pupila contraída) – Os opioides são as únicas substâncias psicoativas que as causam, independente do tempo de uso; • Depressão respiratória – É dose dependente; • Constipação – Redução da motilidade, principalmente do intestino grosso; • Vias biliares – Contração da vesícula biliar e do esfíncter de Oddi, é contraindicado para pacientes com colelitíase; • Liberação de histamina dos mastócitos – Ocorre principalmente com a morfina e causa rubor, prurido, coceira, hipotensão e broncoconstricção principalmente em pacientes asmáticos. A morfina pode ser usada em pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio, porque age sobre o medo da morte (reduz ansiedade) e pode agir diretamente no coração pelo aumento da histamina e consequente vasodilatação, que melhora a circulação cardíaca. Tratamento da intoxicação • Medidas de descontaminação gastrointestinal; • Assistência respiratória; • Em caso de significativa depressão do sistema nervoso central e/ou insuficiência respiratória – Utilizar naloxona ou narcan, antagonistas de receptores para opioides. Morfina Alcaloide do ópio que existe na natura, usada para aliviar a dor aguda ou crônica intensa. É um protótipo dos agonistas opioides. É administrada pela via oral (30 mg a cada 3 a 4 horas – sofre alto efeito de primeira passagem), ou pela via parenteral (10 mg a cada 3 a 4 horas) Farmacocinética A morfina pode sofrer diversos tipos de reação. Pode sofrer glicuronidação nos carbonos 6 e 3 e metabolização pelo citocromo P450 isoforma 3A4, em que sofre desmetilação. A desmetilação forma substâncias bioativas, que também sofrem outras desmetilações até alcançar a forma em que é eliminado. Aplicações clínicas • Tratamento da dor aguda – Moderada a forte; • Dor crônica – Com cautela pois pode levar ao abuso e intoxicação; • Pré-operatório – Redução da dose dos anestésicos; • IAM, ICC e edema agudo de pulmão – Devido a hipotensão causada pela liberação de histamina dos mastócitos, reduz a pré-carga cardíaca. Heroína É um análogo semissintético da morfina, de 2 a 4 vezes mais potente. É a droga que mais desenvolve efeitos de dependência Pode ser administrado por via inalatória e intravenosa. Leva cerca de 11 segundos para início dos efeitos. É hidrolisada a 6-monoacetilmorfina de maneira rápida, que por sua vez é hidrolisada em morfina. É mais lipossolúvel que a morfina, com maior penetração pela barreira hematoencefálica, causando euforia intensa e dependência. Oxicodona É um análogo semissintético da morfina. É um agonista puro, com afinidade forte pelos receptores opioides µ. Sua potência é duas vezes superior à da morfina, com menor possibilidade de dependência. Indicado para tratamento da dor de intensidade moderada a intensa, podendo ser associado a analgésicos não opioides ou outras medicações adjuvantes. Diferenças entre morfina e oxicodona • Farmacocinética; • Potência – Maior para oxicodona; • Biodisponibilidade oral: ➢ Morfina – 22 a 48%; ➢ Oxicodona – 42 a 87%. Manejo da dor relacionada ao câncer • Oxicodona foi superior a morfina no tratamento da dor relacionada ao câncer, de moderada a intensa; • A eficácia analgésica da oxicodona foi superior à morfina nos cânceres de pele, músculos e esôfago; • Morfina causa mais tolerância quando utilizada no tratamento da dor neuropática.Codeína É um alcaloide do ópio natural, usada para efeitos analgésicos e antitussígenos. Acredita-se que a codeína não tem ação direta sobre os receptores opioides e que precisa sofrer metabolismo hepático para que uma parte seja convertida em morfina e então agir. Produz efeitos mais leves que a morfina, com menor tendência a abuso e dependência, ativa o MOR de forma menos potente. É convertida a morfina através da desmetilação pela CYP2D6. Quando administrada junto à dipirona ou paracetamol no mesmo fármaco, apresenta efeito sinérgico. Aplicações clínicas • Antitussígeno – Pouco ou não utilizado; • Tratamento da dor leve (7,5 mg de 6 em 6 horas) a moderada (30 mg de 6 em 6 horas); • Apresenta de 1/10 a 1/5 da potência analgésica da morfina. Tramadol Análogo sintético da codeína. Alívio da dor moderada a intensa, sendo usado em casos de dor nas costas, fibromialgia, osteoartrite e dor neuropática. Parte do seu mecanismo de ação analgésico se deve a inibição da recaptação de noradrenalina e serotonina no encéfalo. Possui baixo potencial de produzir tolerância e abuso, podendo ser usado a longo prazo. Pode interagir com alimentos. É um agonista MOR fraco, o que reduz os efeitos colaterais. Derivados da fenilpiperidina Utilizados em protocolos de anestesia geral e terapia intensiva. Possuem rápido início e término da ação analgésica, com pouca ação sobre o circuito de recompensa, e os efeitos depressivos do miocárdio são mínimos, uma vez que não influenciam os mastócitos. São muito lipossolúveis e potente agonistas MOR. Podem causar depressão respiratória grave. • Alfentanil – Via intravenosa, 20x mais potente que a morfina; • Sufentanil – Via interavenosa, 500 a 1000x mais potente que a morfina; • Fentanil – Vias intravenosa, intramuscular, transdérmica e oral, 75 a 100x mais potente que a morfina.
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