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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ROBERTA BENEDET O PAPEL DO PLANEJAMENTO DE CARREIRA NO MERCADO ATUAL Florianópolis 2004. ROBERTA BENEDET 0 PAPEL DO PLANEJAMENTO DE CARREIRA NO MERCADO ATUAL Trabalho de Conclusão de Estágio apresentado à disciplina de Estágio Supervisionado — CAD 5236, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina, área de concentração em Administração de Recursos Humanos Professor Orientador: Dante M. Girardi Floriandpolis 2004 ROBERTA BENEDET O PAPEL DO PLANEJAMENTO DE CARREIRA NO MERCADO ATUAL Este Trabalho de Conclusão de Estágio foi julgado adequado e aprovado em sua forma final pela Coordenadoria de Estágios do Departamento de Ciências da Administração da Universidade Federal de Santa Catarina, em 22 de junho de 2004. Prof° Sinisio Stefano Dubiela Ostroski Coordenador de Estágios Apresentada à Banca Examinadora integrada pelos professores: Orientador (tifLA_ Prof': Liane Carly Hennes Zanella Membro Prof': Roselafie Pontes Bernard Membro Dedico este trabalho a minha família: Beto, Tânia, Renata, Aninha e Marcos. Ao alcançar mais esta etapa, a formação acadêmica, é com alegria que agradeço a todos que contribuíram com minha caminhada e principalmente para a realização deste trabalho. Agradeço... A Deus pela graça alcançada. Ao professor Dante pela orientação, atenção e liberdade concedida na construção desta pesquisa. Aos meus amados pais por me ensinar a gostar de estudar, incentivarem a ler, pelo carinho e amor.. .É através do esforço e exemplo de vocês que hoje estou aqui. Obrigada! Ao meu namorado Marcos pelo carinho, compreensão e a amizade de minhas irmãs Renata e Aninha. Aos amigos: Michele — pelo companheirismo, ajuda e quantas ajudas, pelas madrugadas sobre os livros e nossas conversas. Valeu! Charles — pelo exemplo de dedicação a leitura e sinceridade. Andréa e Vicente pelos livros e pelo incentivo nesta fase. Aos professores que contribuíram em minha formação: Tia Edite com minhas primeiras frases, Professora Liane pelo olhar generoso e ao mesmo tempo critico e Professor Felipe de Mônaco por fazer eu me apaixonar pela disciplina de RH. Obrigada a todos vocês! Não é o que possuímos, mas o que somos, que faz a pobreza ou a riqueza de nossa vida. Philips Brooks RESUMO BENEDET, Roberta. 0 papel do planejamento de carreira no mercado atual. Florianópolis91 fls. Trabalho de Conclusão de Estágio (Graduação em Administração). Curso de Administração. Universidade Federal de Santa Catarina, 2004. 0 mercado de trabalho passou por diversas mudanças que afetaram as organizações, as relações de trabalho e conseqüentemente as carreiras profissionais. 0 "emprego para a vida toda" que norteou gerações, hoje esta em vias de extinção. Nesse novo ambiente, os profissionais não podem depender unicamente do planejamento de carreira elaborado pelas organizações. Assim é responsabilidade dos próprios indivíduos gerenciar sua carreira. Para analisar a importância do planejamento de carreira no desenvolvimento profissional realizou- se uma pesquisa bibliográfica, descritiva e exploratória. Ressalta-se que o processo de planejamento deve considerar os seguintes aspectos: identificação das oportunidades de carreira, o autoconhecimento, objetivos da carreira aliado com os objetivos de vida e o plano de ação. A pesquisa constatou que quando executado pelas organizações, o planejamento de carreira visa estabelecer critérios, ou seja, de que forma o colaborador pode desenvolver sua carreira junto A. empresa. Já o planejamento de carreira realizado pelo profissional proporciona um senso de direção, com ações condizentes com os objetivos estabelecidos - compreendendo o passado e com um olhar no futuro - de acordo com os desejos dos profissionais. PALAVRAS-CHAVES: mercado de trabalho, carreira profissional, planejamento de carreira. , ABSTRACT BENEDET, Roberta. The role of career planning in today's market. Florianópolis. Internship final project (degree in business administration). Business Administration Major. Universidade Federal de Santa Catarina, 2004. The job market has suffered several changes that affected organizations, work place relations, and consequently the career of professionals. The kind of job that lasted a lifetime and that used to be the general rule for generations now it is in its way to extinction. In this new environment professionals cannot depend only on career planning developed by organizations. It is the individual's responsibility to manage their own career. In order to analyze the relevance of career planning in professional development a bibliographic, descriptive and exploratory research has been done. It is important to stress that the planning process must consider the following aspects: career opportunity identification, self- knowledge, career objectives aligned with life objectives, and the plan of action. The research has identified that career planning developed by organizations aims at creating criteria in order for the employee to develop their career within the company. On the other hand the career plan laid out by the professional themselves provides them with a sense of direction with actions that are in line with the objectives — understanding the past and looking at the future — according to the professional's wishes. Key words: job market, professional career, career planning. LISTA DE FIGURAS Figura 1 — Cenário do mercado de trabalho nos anos 60 e 70. ... ......................................... 23 Figura 2— Cenário do mercado de trabalho nos anos 70 e 24 Figura 3 — Cenário atual do mercado de 27 Figura — Carreira em . . . . 42 Figura 5— Exemplo de carreira por linha de especialização 46 Figura 6 — Etapas do processo de planejamento de . . ... . .. 55 Figura 7 —Antigo perfil .. . 56 Figura 8 — Modernoperfil 56 Figura 9 - 0 triangulo da . . .. ... 76 LISTA DE QUADROS Quadro 1 — Exemplo de carreira por linha hierárquica 41 Quadro 2 — Formulário de plano de ação sunkmo 1 INTRODUÇÃO 12 1.1Tema problema 12 1.2 Objetivos 14 1.2.10bjetivo geral 14 1.2.20bjetivos especificos 14 1.2 Justificativa 15 1.2.1 Importância 15 1.2.2 Oportunidade 16 1.2.3 Viabilidade 16 2 CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO 17 2.1 As transformações no mercado de trabalho 21 3 DEFININDO CARREIRA 29 3.1 0 que é administração de carreira? 31 4 ADMINISTRAÇÃO DE CARREIRAS: 0 PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES 35 4.1.1 Tipo de carreira por linha hierárquica 40 4.1.2 Tipo de carreira em Y 42 4.1.3 Tipo de carreira por linha de especialização 45 4.1.4 Tipo de carreira por linha de polivalência 46 4.1.5 Tipo de carreira por linha generalista 47 4.1.6 Tipo de carreira mista 47 5 PLANEJAMENTO DE CARREIRA: PAPEL DO INDIVÍDUO 51 5.1.1 Analisar o mercado e as oportunidades de carreira 55 5.1.2 Em busca do autoconhecimento 59 5.1.2.1 Desejo 61 5.1.2.2 Aptidões 62 5.1.2.3 Temperamento 63 5.1.2.4 Ativos 64 5.1.3 Estabelecer os objetivos de carreira aliado com os objetivos de vida 66 5.1.3.1 Os ciclos da carreira 69 5.1.4 Elaborar um plano de ação 72 Uma ação sempre presente na vida dos profissionais competitivos: o constante aprendizado b 6 6 74 5.1.4.2 Para onde seguir? 77 6 METODOLOGIA 84 6.1 Caracterização da pesquisa 84 6.2 Abordagem 84 6 .3 Delineamento da ............••••••••••••• ............. • ... • ... 66 84 6.3.1Quanto aos fins 84 6.3.2 Quanto aos meios 85 6.4 Técnica de coleta de dados 86 6.5 Limitação no método 86 7 coricLusÃo.06.00.•••••••••••• . •••• . • . •••••• . • ......... •••••• .. • ... ••••••••••••••••••• ........ • .... • OO • OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO 88 REFERÊNCIAS 91 12 1 INTRODUÇÃO 1.1 Tema Problema A inserção e até mesmo a manutenção de um profissional no mercado de trabalho está se tomando uma tarefa cada vez mais dificil. Isto se deve as profundas transformações ocorridas na forma de emprego e nas relações entre organização e indivíduo. De acordo com Rifkin (1995), o fim da sociedade baseada no emprego em massa no setor privado, exige uma reformulação da atual visão de mundo. 0 fim do emprego traz para a maioria dos trabalhadores uma sensação de despreparo para lutar com a enormidade da transição que está ocorrendo. "Subitamente, em todo o mundo, homens e mulheres perguntam se existe, para eles, algum papel que possam desempenhar no novo futuro que se abre para a economia global" (RIFKIN, 1995, p.13). Bridges (1998) corrobora afirmando que no antigo mundo dos empregos os cargos eram "compartimentos", onde somente cabia aos colaboradores ajustar-se a eles. Estes cargos estáticos não descrevem de maneira correta as atividades dos profissionais, segundo Kanter (1997). Hoje as organizações modernas exigem que as pessoas "agreguem valor" a empresa, ou seja, faz pressões para que as pessoas provem suas reais contribuições ao negócio. Para isto, as empresas realizaram a reestruturação das hierarquias, os salários estão baseados no desempenho, mérito e não mais somente preso aos cargos, utiliza-se de novas tecnologias, o encorajaram o trabalho realizado em equipe, a criatividade e a inovação como meios de sobreviver no competitivo mercado global onde estão inseridas. 13 Entretanto, estas transformações no mundo do trabalho, de acordo com Case e Botelho (2001), fazem do emprego uma instituição em vias de extinção, pelo menos da forma como foi descrita por Bridges (1998). 0 vinculo empregaticio parece estar em rápido declínio e a cultura de emprego tende a acabar. Assim deve prevalecer a troca de interesses entre empresa e indivíduo. Bardwick (1998) diz que particularmente para quem está defrontando perda de segurança ou de emprego, as mudanças no contrato de emprego são experimentadas emocionalmente como uma ruptura de fé. Independente de considerar boa ou ruim a diminuição dos postos de trabalho do mercado, as transformações são descritas pois fazem parte da realidade. Estas mudanças exigem que os profissionais repensem suas carreiras, dai a necessidade da formulação de planejamento estratégico de carreira em tempos de globalização. Nesse novo ambiente, os profissionais não podem depender unicamente do planejamento de carreira elaborado pelas organizações. Para Macedo (1999) a gestão da carreira executiva foi deslocada da ambiencia e responsabilidade das organizações para os profissionais. Allis, muitas vezes, esse planejamento é conduzido de forma dissonante e divorciada da natural vocação de seus colaboradores. Portanto, quanto ao planejamento de carreira a maior responsabilidade é dos profissionais. Neste atual cenário, as relações entre empresas e profissionais estão passando por uma revolução. "A dependência torna-se parceria" (FRANCO, 2002 b, p. 11). 14 Para tirar vantagem das oportunidades que hoje existem, é necessário procurar construir a carreira em tomo de uma estratégia para encontrar o trabalho que tem de ser feito, a fun de fornecer aquilo que um cliente deseja. Diante deste contexto, é importante conhecer qual o papel do planejamento de carreira no desenvolvimento profissional diante das transformações dos empregos no mercado atual? Neste trabalho, foram apresentadas as mudanças ocorridas no presente mercado de trabalho, a definiçlo de carreira e a necessidade de um planejamento estratégico tanto das organizações como dos próprios profissionais para gerenciar carreiras. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Este estudo tem como objetivo geral analisar o papel do planejamento de carreira no desenvolvimento profissional, diante das transfonnações do mercado de trabalho atual. 1.2.2 Objetivos especificos - Estudar as mudanças no mercado de trabalho; - Analisar a mudança de paradigma na carreira atual; - Analisar o planejamento estratégico de carreira realizado pelas organizações; - Analisar o planejamento estratégico de carreira realizado pelos próprios indivíduos. 15 1.3 Justificativa 1.3.1 Importância A presente pesquisa é de grande importância, pois aqueles que estão ingressando no mercado de trabalho, tanto os que procuram recolocação profissional quanto os trabalhadores que já possuem um emprego, todos se deparam com as mudanças ocorridas coin o mercado de trabalho e as mudanças ocorridas nas carreiras e na vida do indivíduo. Segundo Bridges (1998), quando os empregos eram para a vida toda e raramente as pessoas desligavam-se das determinações corporativas, as carreiras profissionais seguiam naturalmente por si s6. A idéia de administrar realmente sua carreira era remota para a maior parte dos indivíduos. Hoje, como afirma Chanlat (1996), com o crescente nâmero de desempregados, do trabalho informal, das subcontratações, constantes cortes de pessoal e terceirização, os profissionais têm buscado através do planejamento de carreira eficaz um meio de evitar estas mazelas. Particularmente, tratando-se do curso de Administração, a falta de conhecimento e reflexão por parte dos alunos/professores sobre o planejamento de carreira (sua missão, importância e suas conseqüências) faz com que este assunto tome-se relevante. Esta pesquisa proporcionou a graduanda o desenvolvimento pessoal através da reflexão e da realização de um planejamento próprio de carreira. 16 1.12 Oportunidade A pesquisa 6 oportuna para o momento, visto que o tema a ser abordado 6 atual, e tem relacao direta com os profissionais, principalmente os ream-formados. Por ser um tema original no curso de AdministraçAb da Universidade Federal de Santa Catarina, pode vir a somar As pessoas que têm algum interesse na compreenslo deste assunto. 1.3.3 Viabilidade 0 trabalho realizado foi viável devido à disponibilidade de recursos suficientes para fazer uma boa análise do tema em questão, como: interact, biblioteca central, setorial, teses, dissertações e artigos. 17 2 CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO Em busca do desenvolvimento de unia carreira, os profissionais atualmente vêem-se frente do complexo mercado de trabalho. Desta forma é fundamental ter o conhecimento sobre o mercado de trabalho, suas transformações e as conseqüências nas carreiras profissionais. Chiavenato (1999) define mercado como um espaço de transações, onde há o contexto de trocas e intercâmbio. A característica principal de todo mercado é o mecanismo de oferta e procura (grifo nosso). Portanto, para o autor acima, o mercado de trabalho é composto pelas ofertas de oportunidades de trabalho oferecidas pelas diversas organizações e pela procura dos indivíduos que disputam trabalho no mercado. Porém Dutra (2002) afirma que esta significação para o mercado de trabalho pode ocasionar equívocos. Para o mesmo autor, a análise do mercado de trabalho deve ser mais ampla, considerando os seguintes aspectos: a) compreender o mercado de trabalho como um espaço de negociação e de troca, em que, de um lado, temos alguém oferecendo seu talento e sua capacidade, com necessidades sociais, psicológicase fisicas a serem satisfeitas, e de outro uma organização que necessita desse talento e dessa capacidade, a que está disposta a oferecer as condições para satisfação das necessidades e expectativas das pessoas. Cada negociação estabelecida nesse mercado faz parte de um processo de conciliação de interesses complexos; 18 b) compreender o mercado como constituído não só pelas oportunidades de trabalho oferecidas pelas organizações, mas também pelos espaços criados pelas próprias pessoas e pela dinâmica do próprio mercado. Logo, Dutra (2002) parte das seguintes premissas para definir o mercado de trabalho: a) as organizações estão tornando-se cada vez mais complexas, tanto em termos tecnológicos, quanto em termos de relações organizacionais; b) as pessoas estão cada vez mais capacitadas e, portanto, cada vez mais aptas a lidar com níveis crescentes de complexidade; c) as relações de trabalho vêm assumindo diferentes formas além da tradicional, com vinculo empregaticio e dominação política e econômica da organização sobre as pessoas. As novas relações desenham-se baseadas na idéia de agregação mútua de valor. Portanto, verifica-se que o mercado de trabalho, assim como as relações de trabalho estão cada vez mais dificeis de serem compreendidas. Uma peça fundamental para entender o mercado de trabalho — a organização — é descrita por Chiavenato (1997) como sendo um conjunto de duas ou mais pessoas que interagem entre si, através de relações reciprocas, para atingir objetivos comuns. Dentre as organizações existem aquelas moldadas explicitamente para atingir objetivos de lucro, como meio de se auto-sustentarem através do excedente de resultados financeiros e de proporcionarem retorno de investimentos ou de capital, como também organizações que não incluem obrigatoriamente o lucro como um de seus principais objetivos. 19 As empresas constituem exemplos típicos de organizações lucrativas. Desta forma as empresas podem ser de finidas como: empresa é todo empreendimento humano que procura reunir e integrar recursos humanos e nao-humanos (recursos fmanceiros, flsicos e tecnológicos, mercadol6gico, etc.), no sentido de alcançar objetivos de auto-sustentado e de lucratividade, através da produdo e comercializado de bens ou serviços (CHIAVENATO, 2002, p. 51). Apesar de possuírem significados diferentes, os termos organização e empresa sera() utilizados nesta pesquisa para descrever o ambiente onde o profissional desenvolve tarefas remuneradas. Contanto, toda organização é constituída de pessoas e delas dependem para seu sucesso e continuidade. Desta forma, o mercado de trabalho é constituído basicamente por organizações e pessoas. A integração entre o indivíduo e a organização não é uma tarefa fácil. Isto ocorre pois tanto os indivíduos quanto is organizações possuem objetivos a alcançar. De acordo com Chiavenato (1997) as organizações recrutam e selecionam seus recursos humanos para, com eles e por meio deles, alcançarem seus objetivos organizacionais (produção, rentabilidade, redução de custos, satisfação dos clientes, etc.). Todavia, os indivíduos, uma vez recrutados e selecionados, tem objetivos pessoais (salários, beneficios, condições adequadas de trabalho, oportunidade de desenvolvimento de carreira, etc.) que lutam para atingir e, muitas vezes, servem-se da organização para consegui-los. Desta forma, há um processo de reciprocidade entre o indivíduo e a organização. De um lado a organização espera que o empregado obedeça i sua autoridade, e, por sua vez, o empregado espera que a organização se comporte corretamente com ele e opere com justiça. 20 Assim ... o contrato psicológico refere-se A expectativa reciproca do indivíduo e da organização estender-se muito além de qualquer contrato formal de emprego que estabeleça o trabalho a ser realizado e a recompensa a ser recebida (CHIAVENATO, 1997, p. 121). Este é um elemento importante pois está em qualquer relação de trabalho e que influencia o comportamento de ambas as partes (indivíduo e organização). Cabe salientar que todos os esforços das organizações e conseqüentemente de seus colaboradores convergem para um único alvo: os clientes. A busca do atendimento dos desejos e necessidades dos clientes vem sendo uma procura constante das atuais organizações. Melhores produtos, melhor atendimento, mais qualidade, prep competitivo, novas tecnologias, entre outros objetivos, são ações para conquistar ou fidelizar clientes. Para Kotler (2000) pode-se afirmar que com o mercado globalizado e os avanços tecnológicos tern criado novos comportamentos dos clientes. Estes estão exigindo cada vez mais qualidade e serviço superiores, além de mostrarem maior sensibilidade em relação ao preço em sua busca por valor. Desta forma, os clientes também influenciam diretamente o mercado de trabalho. Portanto, o mercado de trabalho pode ser caracterizado resumidamente pelos seguintes elementos: organizações e profissionais ambos voltados aos clientes. Este ambiente de trabalho é dinâmico e sofre continuas mudanças. Desta forma todos os elementos do mercado de trabalho interagem entre si. Assim, uma mudança sobre uma das variáveis pode acarretar significativas transformações neste cenário. 21 2.1 As transformações no mercado de trabalho 0 paradigma "emprego para a vida toda" que norteou a vida de várias gerações acabou. 0 mercado de trabalho está sofrendo continuas mudanças principalmente sobre os empregos e para se construir uma carreira atualmente há a necessidade de compreendê-las. "A reengenharia do trabalho está eliminando cargos de todos os tipos e em quantidades maiores do que em qualquer época de que se tenha noticia", delineando, desta forma, uma nova ordem no mercado de trabalho (RIFKIN, 1995, p. 112). Mas, durante dois séculos, o ambiente de trabalho onde os empregados obtinham empregos se manteve com certa estabilidade. Reinert (2001) define o emprego como o elo de ligação formal entre o trabalhador e a organização. Ele exige uma relação de subordinação, dependência e vinculo entre empresa e os indivíduos. Porém, no atual mercado, o emprego - definido como aquela atividade fisica e de tempo integral em um organograma corporativo - torna-se obsoleto, e em que emergem diversos arranjos mais flexíveis, segundo Bridges (1998). Minarelli (1995), que também compartilha desta forma de pensar, a firma que as formas de trabalho adquirem novas feições e o emprego passa por redefinições profundas. Portanto, o conceito de trabalho, ao invés de emprego, torna-se mais adequado para o atual cenário do mercado de trabalho. Para Marx ( apud, CATTANI, 1999) o trabalho é uma atividade resultante do dispêndio de energia fisica e mental, direta ou indiretamente voltada produção de bens ou serviços, contribuindo para a sociedade. Outra definição é a de que o trabalho significa a "aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim" (SAMPAIO, 1998, p. 9). 22 Ainda para Sampaio, a conotação da palavra emprego (grifo nosso) associa-se com a sensação de "cabide", onde a pessoa se "pendura" para ganhar a vida. Já a palavra trabalho (grifo nosso) adquire sentido mais nobre, ou sej a, está associado cada vez mais A. colaboração e ao compromisso comum. Contudo, pode-se afirmar que "além da escala do emprego, também a natureza do trabalho está mudando, exigindo maior velocidade nos processos de transição dos trabalhadores para a nova situação" (CHIAVENATO, 1999, p. 83). Desta forma, constata-se que o mercado de trabalho vem sofrendo transformações nas relações de trabalho, estasincidem diretamente no modo como os profissionais atuam em suas carreiras. Ressalta-se que nesta pesquisa serão descritas as mudanças ocorridas no mercado de trabalho a partir dos anos 70. Isto se deve ao fato de que "a carreira como um todo começa a receber maior atenção apenas nos anos setenta" (BOERLIJST apud BASTOS, 1997, P. 29). O cenário no mercado de trabalho após a Segunda Guerra Mundial era promissor tanto para as empresas como para as organizações. Este foi descrito da seguinte forma: após a Segunda Guerra Mundial, as sociedades industrializadas tiveram cerca de 30 anos marcados por um enriquecimento, um crescimento ininterrupto e urna melhoria nas condições de vida sem precedentes na História (CHANLAT, 1996, p. 14). Logo, os empregos eram abundantes e estáveis, e as carreiras lineares e continuas. Para Chanlat (1996) esta época foi caracterizada por uma taxa de desemprego pequena, uma melhoria continua dos beneficios sociais (assistência à saúde, aposentadoria, seguro social etc), um nível de economia elevado e um Estado sem endividamento. 23 Este contexto começou a ser alterado, segundo Chanlat (1996), a partir dos anos 70, onde o ritmo e o tamanho destas transformações aumentaram bruscamente, mudando significativamente a humanidade. Franco (2002 b) vai de encontro com as idéias de Chanlat, assegurando que durante os anos 60 e 70 as grandes corporações dominavam o mercado. Estas baseavam sua produção em poucos países e exportavam para algumas outras partes do mundo. A produção de mercadorias estava orientada de acordo com suas próprias estruturas, idéias e limitações. Possuíam uma concorrência relativamente pequena em relação à existente hoje. Neste cenário, tanto para o mercado quanto para os profissionais, havia estreita dependência da empresa. Como ilustra a figura 1: Figura 1 Cenário do mercado de trabalho nos anos 60 e 70 Fonte: FRANCO (2002 b, p. 26). Ainda para o mesmo autor, durante os anos 80 e 90, a internacionalização acelerada na busca de novos mercados abriu espaço para o surgimento das multinacionais. Com freqüência, essas empresas eram compostas por capitais de diferentes nacionalidades e montaram partes de sua produção em diferentes lugares do mundo. Ocorreram grandes mudanças nos processos, o que resultou no barateamento dos custos e na aceleração da criação de um mercado mundial. As grandes multinacionais passaram a se preocupar com os desejos e necessidades dos clientes espalhados por diversos lugares e por diferentes culturas. 24 Para Kotler (2000) a conseqüência destas mudanças é o deslocamento do poder econômico de quem vende para quem compra. Logo, o processo de preocupação com o mercado consumidor tornou-se indispensável. Porém as formas de relação entre as empresas e funcionário pouco variaram. A relação entre organização e indivíduo era de grande dependência. Bardwick (1998) afirma que em troca de lealdade constante e um nível de empenho satisfatório a empresa investia no funcionário, cuidava dele e dava-lhe aumento de salário anualmente. Porém, a empresa era o mais importante na vida do trabalhador, ela estava acima da família ou de si próprio. Desta forma o funcionário obtinha emprego vitalício. A figura 2 explica este cenário. Mercado dependõnciaï Empresa dependênci a Profissional Figura 2 Cenário do mercado de trabalho nos anos 70 e 80. Fonte: FRANCO (2002 b, p. 28). Mas nos anos 90, de acordo com Franco (2002 b), ocorreu a consolidação da globalização. Uma das principais características da globalização foi o imenso crescimento do fluxo de informações, aumento da tecnologia e a aceleração dos processos de produção e de comercialização. Um dos muitos efeitos da nova situação foi um acirramento enorme da concorrência, o que obrigou as empresas a buscar cada vez mais soluções inovadoras, criativas, capazes de garantir um lugar no mercado mundial. 25 Com estas transformações, as estruturas de cargos tornaram-se obsoletas. Para Pontes (2002) cargo é o conjunto de funções substancialmente idênticas quanto A natureza das tarefas executadas e As especificações exigidas dos ocupantes. Destaca-se que: a estrutura de cargos que acompanhava a velha estrutura organizacional tradicional e burocrática ou a homogeneização das práticas de RH que era necessária para padronizar comportamentos em uma organização rígida e inflexível - foram válidos e até eficientes para uma época que já passou. Hoje, as necessidades organizacionais são totalmente diferentes (CHIAVENATO, 2004). Diante da modificação nas necessidades da organização, os cargos inflexíveis e burocráticos tornaram-se dispensáveis. Bridges (1998) aponta os seguintes fatores para as transformações ocorridas no mercado de trabalho nas últimas décadas: a) o trabalho envolvido nas funções intelectuais e de serviços é bem mais difícil de ser desmembrado em descrição de cargo distinto, como no trabalho industrial e o de escritório; b) a tecnologia da comunicação aumenta nosso contato com novas situações, ao destruir os intermediários de tempo e espaço que limitavam a exposição As mudanças que ocorriam em outros lugares; c) para atingir o trabalhar com eficácia, neste volátil e complexo ambiente de negócios é necessário criar uma nova arquitetura empresarial, suficientemente flexível para se adaptar A mudança; d) a redução das estruturas de cargos nas empresas torna-se essencial para o fluxo atual dos esforços gerenciais para desenvolver mais flexibilidade, respostas rápidas, foco no cliente e a atribuição e cobrança individual de responsabilidade dentro da empresa; 26 e) o desejo de criar "uma arquitetura flexível" para se adaptar à mudança, o que conduz esforços de "desintegrar" ou "desmembrar" a empresa em elementos estanques. A empresa cria operações distintas, das quais pelos menos algumas são terceirizadas para fornecedores externos ou entregues a profissionais autônomos que ingressam na empresa para executar o que antes era feito por funcionários. Conseqüentemente houve um aprofundamento na dependência da empresa em relação As novas exigências do mercado. Para competir neste panorama, as empresas viram-se obrigadas a alterar seu modo de agir com os colaboradores. Estes passaram a não ser totalmente dependente das organizações, ou seja, o profissional mantém uma relação de parceria regida por negociação junto As corporações. Conseqüentemente "hoje, quem dá as cartas quanto ao perfil profissional é o mercado" (FRANCO, 2002 a, p. 30). De Masi (2001) corrobora com esta idéia afirmando que hoje as empresas são orientadas pelo mercado; portanto seus profissionais devem acompanhar o mercado e suas exigências. Com isto, segundo Chanlat (1996), surgiram nas empresas práticas de RH visando responder de maneira eficaz a demanda do mercado e maximizando os ganhos. Assim, a flexibilização exigida das empresas no mundo globalizado começou a atingir as formas de trabalho. Hoje o próprio vinculo empregaticio começa a ser colocado em questão. 0 profissional não precisa ser, necessariamente, um "empregado", este pode ser um fornecedor de habilidades e conhecimentos, auxiliado pela tecnologia da informação. Não obstante que suas atividades tragam a empresa valor agregado A. organização. Como esclarece a figura 3: Mercado negociação dependência Empresa dependência Profissional 27 Figura 3 Cenário atual do mercado de trabalho Fonte: FRANCO (2002 b, p. 31). A flexibilização do trabalho ocorre de forma tab intensa que Lancey (apud CHANLAT, 1996) declara que ter esperança de um emprego estável em longoprazo, com aumento de salário, e associado a uma gama de beneficios sociais, tornou-se ultrapassada. Kanter (1997) complementa afimiando que não se trata da perda da fé nos empregadores como indivíduos, mas sim uma perda mais fundamental de fé na própria noção do plano de carreira regular em uma única empresa. Conforme Maximiano (2002), o tradicional paradigma de emprego e carreira estáveis presentes na administração dá lugar neste terceiro milênio ao paradigma do desemprego, empregabilidade, terceirização, economia informal e ao empreendedorismo. Conseqüentemente, o mercado de trabalho sofre com escassez de oportunidades de emprego. "Trabalhar, atividade fundamental para o ser humano, tomou-se um desafio, um problema" (FRANCO a, 2002, p.15). Riflcin (1995) complementa afirmando que os novos arranjos no mundo do trabalho provocam diminuição dos postos de trabalho chegando a imaginar uma "sociedade sem empregos". 28 Dentre as grandes mudanças ocorridas nas últimas décadas, certamente "a mais radical e a que gerou maior impacto, inquietação, medo, estresse e sofrimento entre os profissionais de todos os níveis hierárquicos foi a quebra da estabilidade empregaticia" (MACEDO, 1999, p. 13). Diante destas transformações, as carreiras profissionais foram fortemente modificadas. Cabe destacar que a onda de cortes de pessoal ocorrido no mundo empresarial iniciou-se na década de 80, nos Estados Unidos de acordo com Caldas (2000). Esta onda espalhou-se pelo mundo em virtude da influência americana no comportamento empresarial internacional. Para Bardwick (1998) muitos empregados compreendem plenamente a razão das mudanças no antigo contrato de emprego que prometia quase completa estabilidade no serviço, porém para outros essas mudanças assemelham-se a uma traição de confiança. Estas alterações, afirma Caldas (2000), não tratam de um fenômeno transitório, provocado por mera oscilação no mercado. Pelo contrário, estamos frente a frente com alterações profundas e duradouras, fazendo indispensável que as empresas e as pessoas se preparem para um mundo diferente, onde as relações de trabalho, e não apenas de emprego, deverão ser reavaliadas e, quem sabe, administradas de maneira diferente da tradicional. Deste modo, "em todo o mundo há uma percepção de mudanças significativas ocorrendo [.. .]. A vida como a conhecemos está sendo alterada de modo fundamental" (RIFKIN, 1995, p. 5). 29 3 DEFININDO CARREIRA Diante das transformações no mercado de trabalho, as carreiras profissionais sofreram profundas modificações. Quando a carreira de um profissional 6 determinada por uma organização, da qual possui uma dependência e há uma estrutura de cargos tradicional, segundo Hughes, (apud CALDAS, 2000, P. 253) "a carreira consiste, objetivamente, em uma série de mudanças de status e cargos claramente definidos" (grifo nosso). Para Pontes (2002) a carreira individual é a sucessão de cargos (grifo nosso) ocupados por um indivíduo em sua vida profissional. Como Bridges (1998) afirma, os cargos deixaram de ser o modo mais eficaz de se realizar o trabalho. Logo, caracterizar a carreira somente como uma sucessão de cargos é uma visão reduzida sobre os caminhos profissionais. Assim, outros conceitos abordaram as perspectivas pessoais na de finição de carreira. "Carreira 6 o autoconhecimento de como as experiências pessoais e profissionais relacionam-se com seu trabalho atual e futuro para maximizar suas habilidades e comportamentos e atingir seus objetivos de vida" (SAVIOLI, 1999, p. 14). Já Bastos (1997) assegura que carreira abarcaria tanto as ocupações como as profissões e envolveria a noção de seqüência de trabalhos correlacionados a determinado campo, ao longo de uma dimensão temporal. Ainda para o autor, a palavra é originada do latim - carraria (caminho, estrada para carruagem) -, onde a carreira é entendida como "um curso da vida profissional ou de emprego que oferece oportunidade para progresso e avanço no mundo" (BASTOS, 1997, p. 30). 30 Outro conceito que concilia a dinâmica das expectativas entre a pessoa e A empresa é apresentado por Dutra (1996), afirmando que a carreira envolve uma série de estágios e a ocorrência de transições que refletem necessidades, motivos e aspirações individuais e expectativas e imposições da organização e da sociedade. Esta abordagem considera as influências das organizações e do ambiente em que a carreira profissional está inserida. Para Bruhn (apud BASTOS, 1997) o trabalho pode ser visto pelo indivíduo como um emprego ou uma carreira. Quando o indivíduo encara o trabalho com a visão de carreira, ele é percebido como um processo para o curso de vida mais do que um fim em si mesmo; o trabalho passa a fazer parte de um plano de vida, sendo o indivíduo forçado a fixar objetivos, a estabelecer prioridades, a definir um curso para seguir. Colarelli e Bishop (apud BASTOS, 1997) acreditam que o comprometimento com qualquer que seja a natureza da carreira pode transcender o compromisso com conjunto especifico de tarefas de um posto de trabalho e envolver diversos trabalhos em perspectiva de longo prazo. Conforme Blau (apud BASTOS, 1997) o indivíduo trabalha com mais comprometimento quando possui motivação sobre três aspectos: persistência na carreira ou grau de resistência do indivíduo As barreiras e dificuldades que afetam seu trabalho e o quanto ele se sente competente para controlar esses eventos, mantendo a direção de finida para seu trabalho; compreensão da carreira ou grau em que a pessoa possui percepções realísticas de sua carreira e como relaciona tais percepções com os seus objetivos e identidade da carreira ou grau de envolvimento pessoal com seu trabalho, carreira ou profissão. Sendo assim, salienta-se que "pouquíssimas pessoas terão a "sorte" de progredir sem planejamento, mas "sorte" não é um fator que possa ser considerado, quando se fala de carreira" (CASE e BOTELHO, 2001, p. 46). 31 Ao contrário, a carreira de sucesso se baseia em escolhas certas. Mussalc (2004) afirma que em todas as areas da vida tem-se mais chance de sucesso se elaborarmos um planejamento. Dai a importância da elaboração de um planejamento de carreira. No entanto, Dutra (2001) afirma que a carreira não deve ser entendida como um caminho rígido, mas como uma seqüência de posições e trabalhos realizados pelo indivíduo. Tal seqüência, articulada de forma a conciliar desenvolvimento pessoal com desenvolvimento organizacional, é o que se denomina de carreira. 3.1 0 que é administração de carreira? A administração de carreira nasceu com a escola da Administração Cientifica, a partir do estabelecimento de cargos ligados a postos de trabalho e dos sistemas de diferenciação entre eles, como afirma Dutra (1996). "A administração de carreira caracteriza-se por estabelecer os princípios que irão nortear as relações entre a empresa e as pessoas que nela trabalham" (DUTRA, 1996, p. 66). A partir das influências da escola cientifica, a administração de carreira foi considerada como competência exclusiva da empresa, cabendo As pessoas submeterem-se aos desígnios da mesma, conforme Dutra (1996). Segundo Crainer et al (2000) antes a idéia de "homem corporativo", defendidos por Taylor, Ford e Sloan, era do trabalhador dedicado, leal, incapaz de fazer perguntas, este foi o paradigma da administração racional. Nele o relacionamento entre o funcionário e a corporação era definido de forma limitada e praticado de forma ainda mais restrita. 0 homem 32 corporativo se manteve em razoável segurança até o inicio da década de 80. Neste ambiente era comum o trabalhadorseguir o plano de carreira determinado pela organização Cabe demonstrar quais são as características da administração de carreira conforme Dutra (1996): a) ela não consegue atuar de forma desvinculada das demais políticas e práticas de gestão de RH; b) estimula um processo de diálogo entre a pessoa e a organização, o compartilhamento de valores e objetivos, a transparência e a sinceridade de intenções; c) o estimulo a que a pessoa participe mais ativamente do planejamento de sua carreira a toma mais responsável por sua capacitação e por seu desenvolvimento; d) os processos de mobilidade interna e de sucessão são decisões amadurecidas nas negociações cotidianas entre as pessoas e a empresa. Para Dutra (1996) a carreira é entendida como vinculada A. estrutura organizacional. Por esta razão, nas empresas que, ainda hoje, possuem estruturas mais hierarquizadas e com maior rigidez organizacional, a carreira é estabelecida pela organização de forma unilateral, de acordo com suas necessidades de quadro e oportunidades de organização. Porém com a modernização das estruturas empresariais, e a extinção dos cargos tradicionais, como afirma Bridges (1998), a tendência é que as carreiras sejam planejadas de forma com que os indivíduos possam aliar seus desejos com os interesses da empresa, não havendo total subordinação da carreira do profissional A. estrutura da organização. 33 Kanter (1997) acredita que as carreiras profissionais podem ser descritas em três tipos principais, sendo elas: a) carreiras "corpocráticas" ou "burocráticas": neste tipo de carreira é defendida pela lógica da promoção. Onde o padrão burocrático de carreira envolve uma seqüência de cargos numa hierarquia de posições definidas. Na típica carreira corpocrática, todos os elementos de oportunidades de carreira — responsabilidades, desafios, influência, treinamento formal e desenvolvimento — estão intimamente ligados ao cargo que se ocupa na empresa; b) carreiras profissionais: nesta a estrutura 6 defendida por habilidades ou ocupação, sendo a posse de conhecimentos valiosos um fator-chave na determinação do status ocupacional e a reputação o recurso básico do indivíduo. 0 "crescimento" da carreira de profissionais não consiste necessariamente na ascensão funcional. Assim, as oportunidades do formato profissional, envolvem a chance de ter tarefas cada vez mais exigentes, ou desafiadoras, que exigem um exercício maior das habilidades que são o que o profissional tem a oferecer. Logo, as carreiras profissionais não se desenvolvem necessariamente dentro de uma única empresa — como funcionário da empresa X c) carreiras empresariais: É aquela na qual o crescimento ocorre através da criação de novo valor ou nova capacidade organizacional. Nesta carreira, o recurso-chave é a capacidade de criar um produto ou serviço de valor. Liberdade, independência e controles próprios estão associados a esta. Porém na carreira empresarial o risco maior do que nos outros tipos de carreiras. Ocorre uma grande incerteza a respeito do futuro e do desenvolvimento de carreira. Em geral, o padrão de carreira empresarial ocorre associada à motivação para alta produtividade; o controle sobre o próprio trabalho, a capacidade de estabelecer o próprio trabalho; a capacidade de estabelecer o 34 próprio ritmo, com recompensas monetárias vinculadas diretamente As realizações. Kanter (1997) acredita que as empresas podem ser amplamente beneficiadas se oferecerem este tipo de carreira. Dutra (2001) também afirma que as carreiras podem ter diferentes naturezas. Sendo que para cada tipo de carreira profissional há exigências requeridas diferentes pelas organizações e pelo mercado. Sendo que o autor as classifica em: a)carreiras operacionais: ligadas As atividades-fim da empresa; exigem o uso do corpo ou um alto grau de estruturação. Geralmente encerram-se em si mesmas, sendo importante que a organização defina critérios de mobilidade para outras carreiras ou para o mercado. b) carreiras profissionais: ligadas a atividades especificas, geralmente exigem pessoas com formação técnica ou superior.Essas carreiras são definidas por processos fundamentais da organização, tais como: administração, finanças, sistemas de informação, RH, jurídico, marketing entre outras. c)carreiras gerenciais: ligadas As atividades de gestão da empresa. Normalmente são que ao longo do seu processo de crescimento, demonstram vocação e competência para gerenciar. No entanto, Ulrich (2000) complementa afirmando que a tendência atual das carreiras em geral, é criar um novo contrato sob o qual o empregador e o funcionário dividam a responsabilidade de manter — e até mesmo reforçar — a empregabilidade. Assim verifica-se que tanto a organização quanto os indivíduos têm responsabilidades quanto A administração de carreiras. 35 4 ADMINISTRAÇÃO DE CARREIRAS: 0 PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES 0 paradigma de carreira onde somente as corporações ditavam qual o caminho que o profissional deve seguir está ultrapassado. Porém verifica-se que no mercado ainda há muitas organizações que atuam desta maneira sem levar em consideração as alterações do mercado. Serão apresentadas novas formas de gerenciar carreiras, estas centradas nas pessoas considerando desta forma o conjunto de capacidades dos indivíduos. "No antigo mundo dos empregos, [...], os cargos eram "compartimentos" cabia aos trabalhadores ajustar-se a eles" (BRIDGES, 1998, P. 33). Neste ambiente o plano de cargos e salários ajustava-se perfeitamente. De maneira geral, o plano de cargos e salários das organizações fazem a definição e descrição de cargos e salários deforma estática e inflexível. Por melhor que seja o posicionamento da estrutura salarial em relação ao mercado, tem limitações em função da falta de perspectiva de crescimento do profissional na organização e podendo ser administrado de forma isolada dos demais programas de recursos humanos, conforme afirma Pontes (2002). No entanto, diferentemente do ambiente onde os empregos tradicionais funcionavam — assim como o plano de cargos e salários estáticos -, hoje se exige a flexibilidade e uma pronta resposta As ameaças e oportunidades de um mercado rapidamente mutante. Assim, a proposta mais adequada As corporações é aliar práticas mais competitivas de administrar recursos humanos. Já que não é possível pensar na administração de carreiras de forma isolada das demais funções de gestão de recursos humanos como: captação, desenvolvimento, 36 remuneração, entre outras. Por esta razão, é interessante para as empresas trabalhar a gestão de pessoas incluindo o planejamento de carreiras. "0 plano de carreiras é o instrumento que define as trajetórias de carreiras existentes na empresa" (PONTES, 2002, p. 323). Nele são definidas as exigências crescentes de conhecimento (desenvolvimento profissional) pois esclarece qual a condição para a permanência das pessoas que estejam preocupadas com o aumento crescente de seus conhecimentos na organização. Outro aspecto relevante apontado por Pontes (2002), é que o plano de carreira possui uma integração indispensável com os demais programas de recursos humanos. Neste, a definição dos cargos ocorre de maneira mais genérica, permitindo maior flexibilidade na execução de tarefas por parte de seus ocupantes. Conseqüentemente o plano de carreira pode motivar mais as pessoas, pelas expectativas de crescimento profissional oferecidas e a autonomia em suas atividades. Porém, para Pontes (2002) dificilmente um colaborador conhece suas possibilidades de ascensão profissional. Pois na tradicional administração de cargose salários é privilegiada a visão do cargo e não do homem. Portanto, os programas não são feitos com os colaboradores, mas simplesmente para os cargos. Portanto, o indivíduo fica "engessado" nas rotinas preestabelecidas, dificultando a expressão de criatividade e autonomia. Contanto, Chiavenato (1999) afirma que a gestão de pessoas é uma área muito sensível A mentalidade que predomina nas organizações. Ela depende de vários aspectos como: estrutura organizacional adotada, do contexto ambiental, do negócio da empresa, dos processos internos, da tecnologia adotada, entre outras variáveis importantes. "Toda e qualquer empresa tem, de forma explicitada ou não, linhas de conduta para a gestão de recursos humanos" (DUTRA, 1996, p. 101). 37 As organizações que desejam reter seus talentos possuem a necessidade de focar as pessoas não mais como recursos organizacionais padronizados, provedores de mão-de-obra e que precisam ser monitorados com controles externos, como destaca Chiavenato (1999). Precisam focar as pessoas como seres humanos heterogêneos dotados de personalidade, inteligência, competências, habilidades, motivações, emoções, expectativas. JA que cada pessoa é um universo no mundo organizacional e que precisa ser orientada com especificidade para uma carreira, para metas e resultados, para agregar valor e riqueza A organização. Assim "cabe as empresas criar o espaço, estimular o desenvolvimento e oferecer o suporte e as condições para uma relação de alavancagem mútua das expectativas e necessidades" (DUTRA, 2002, p. 48). Ainda para o mesmo autor, os planos e política de RH devem propiciar as carreiras profissionais. Para tanto, o plano deve ser de pleno conhecimento dos colaboradores, isto 6, estes devem ter acesso as descrições e especificações, à hierarquia dos cargos, podendo conhecer as faixas salariais, uma vez que servirá até como incentivo ao seu crescimento profissional. 0 desenvolvimento do profissional e, conseqüentemente, a sua melhor integração na empresa, dependem de como a organização define seu plano de carreiras. Portanto ... cabe A organização a responsabilidade pela definição de um plano de carreiras, que, através de trajetórias diversas, possibilite o crescimento e ascensão do colaborador. No entanto, a carreira é decisão do colaborador; somente a ele cabe a escolha da sua trajetória (PONTES, 2002, p.329). Com isto, afirma-se que os empregadores podem ter um impacto significativo na carreira e, portanto, na satisfação e no sucesso de seus funcionários. "Recrutamento, seleção, 38 colocação, treinamento, recompensas, promoções e desligamento — tudo isso afeta a satisfação e o sucesso profissional de uma pessoa" (DESSLER, 2003, p. 264). Portanto, torna-se essencial que a empresa adote o planejamento estratégico de RH. Onde o planejamento estratégico de RH "6 o processo de decisão quanto aos recursos humanos necessários para atingir os objetivos organizacionais dentro de um determinado período de tempo" (CHIAVENATO, 1999, p. 61). Trata-se de defmir antecipadamente qual a força de trabalho e os talentos necessários para a realização das futuras ações organizacionais. No desenvolvimento de um plano de carreiras, a empresa pode definir a estrutura e tipo de carreira a ser aplicada adequada a seu ambiente organizacional. Para enfrentar o ambiente tão volátil onde estão inseridas, tanto empresas quanto os colaboradores precisam encontrar referenciais estiveis para delimitar seu desenvolvimento. 0 desenvolvimento do colaborador nas carreiras 6, segundo Pontes (2002), resultado da conjugação dos principais fatores — disposição do profissional para se qualificar e oportunidades que the são oferecidas. Assim, o colaborador pode delinear sua carreira com base nas trajetórias, requisitos e critérios estabelecidos. Sendo que ... para uma empresa com centenas, milhares ou dezenas de milhares de profissionais, seria impossível conciliar as diferentes expectativas de carreira das pessoas com as necessidades organizacionais, caso não fossem disponibilizadas diretrizes, estruturas de carreira, instrumento de gestão etc, que chamamos de sistema de administração de carreiras (DUTRA, 2002, p. 103). Segundo Dutra (2002) o sistema de administração de carreira deve estruturar as opções de carreira, buscando organizar possibilidades para que as pessoas possam planejar suas 39 carreiras dentro da empresa. Desta forma, o "planejamento de carreira é o estabelecimento das metas e da trajetória de carreira dos colaboradores" (PONTES, 2002, p. 323). A estrutura de carreira, é capaz de definir qual a sucessão de posições, sua valorização e os requisitos de acesso a elas. Pontes (2002) define duas estruturas possíveis na construção de um plano de carreira. Uma através de cargos compondo trajetórias de carreiras e outra através de segmentos de carreira, em que o enfoque principal é o indivíduo. A estrutura através de cargos advém do próprio plano de cargos e salários. Nesta concepção o colaborador tem seu crescimento através do exercício crescente de cargos, conforme a hierarquização preestabelecida. Todavia, a estrutura através do delineamento em segmentos de carreira, o cargo é visto de forma ampla e portanto mais genérico. Nessa concepção o cargo é referencial podendo ser denominado "segmento de carreira" ou "cargo amplo". Neste conceito o importante não é o cargo em si ocupado pelo colaborador, mas sim, a capa.citaçã'o do indivíduo. Esta estrutura é baseada em níveis com graus crescentes de exigência de escolaridade, conhecimentos, experiência e habilidades. "Esta estrutura de carreira é a que mais combina com as necessidades atuais das organizações que perseguem melliorias na qualidade, produtividade e flexibilidade e que combinam com os preceitos modernos empresariais" (PONTES, 2002, p. 332). Já Dutra (1996) desenvolve as estruturas de carreira através: de um sistema de valorização ou diferenciação e através do desenho de carreira. Os sistemas de diferenciação podem ser centrados no traballio (grifo nosso) executado pelas pessoas, que levam em conta apenas as características do cargo. Estes sistemas, de acordo com Dutra (1996), estimulam a burocracia, despersonalizam as pessoas, 40 especificam implicitamente o que não fazer, desestimulam a mudança organizacional uma vez que o cargo é o que importa neste sistema de diferenciação, ou seja, a pessoa é valorizada em função do cargo que ocupa. JA os sistemas centrados nas pessoas (grifo nosso) consideram: o conjunto de capacidades que a pessoa possui, usualmente expressão pela qualidade da experiência e da formação da pessoa; o conjunto de realização da pessoa, trabalhos desenvolvidos, desafios profissionais enfrentados, resultados obtidos e maturidade pessoal, que pode ser caracterizada pela facilidade de comunicação, capacidade de formar pessoas, resistência à pressão, etc. A definição da estrutura da carreira influencia diretamente o tipo de desenho de carreira. 0 desenho de carreira é definido por Dutra (1996) como as seqüências lógicas de cargos ou de posições, quando o sistema de diferenciação está centrado no trabalho. De outro modo, quando a diferenciação está centrada na pessoa, o desenho de carreira traduz os diferentes patamares de exigências sobre as pessoas. As carreiras podem ser classificadas em diversos tipos, assumindo desta forma desenhos diferentes. 4.1.1 Tipo de carreira por linha hierárquica A carreira por linha hierárquica, segundo Pontes (2002), é a mais comum nas organizações. É também a mais rígida, e esta concepção está perdendo espaço para outros tipos de concepções nas empresasmodernas. Para Dutra (1996), sua característica principal a de que a seqüência de posições está alinhada em uma ilnica direção, não oferecendo is pessoas outras alternativas. 41 Portanto, dentro da carreira, a pessoa não tem opções para outras trajetórias, devendo subordinar-se As determinações da empresa. Pontes (2002) afirma que a premissa, nesse tipo de carreira, é a de que os cargos gerenciais são mais importantes do que os cargos técnicos, e, conseqüentemente, é natural que o profissional, no topo de sua carreira, ocupe um cargo gerencial. Não levam em conta as metas ou desejos individuais. Assim, podem ocorrer problemas nas promoções, uma vez que um profissional bem-sucedido tecnicamente não obtenha um bom desempenho no cargo gerencial. Logo, não restará outra alternativa sendo a demissão do colaborador da empresa. Como a carreira é inflexível, de acordo com Pontes (2002), qualquer mudança na estrutura da empresa gera grandes problemas de alocação das pessoas que ocupam cargos gerenciais, uma vez que não há possibilidade de retorno a cargos técnicos. Outra limitação deste tipo de carreira é que ela pode gerar desmotivação em seus colaboradores já que as posições gerenciais são em menor número de vagas, existindo este fator inibidor do desenvolvimento profissional. Um exemplo de carreira por linha hierárquica está representado no quadro 1. CARGOS GRAUS 5 6 7 8 9 Auxiliar de pessoal I X Auxiliar de pessoal II X Analista de RH I X Analista de RH II X Gerente de RH .___ .. _. . .. X s.: x ca o enquadramento do cargo no grau. Quadro 1 — Exemplo de carreira por linha hierárquica Fonte: PONTES (2002, p. 330). BRACO GERENCIAL Diretor de Laboratório Gerente de Projetos Lider de Grupo BRACO TECNICO Pesquisador Associado Pesquisador Cientista de Pesquisa sr. cientista de Pesquisa Cientista de Projeto Cientista Cientista Junior Cientista Trainee BASE 42 4.1.2 Tipo de carreira em Y Pontes (2002) diz que a carreira Y tem como pressuposto a mobilidade e a ascensão profissional do colaborador pelo exercício de funções gerenciais ou de ocupações na sua área de especialidade. Sendo que "os níveis iniciais são básicos, e, a partir de certo patamar da estrutura da carreira, o profissional pode optar pelo prosseguimento através de cargos gerenciais ou tipicamente técnicos" (PONTES, 2002, p. 333). 0 lado esquerdo contempla cargos ou segmentos de carreiras gerenciais, e o lado direito, os cargos ou segmentos técnicos. A figura 4 representa a carreira em forma de Y. Figura 4 Carreira em Y Fonte: DUTRA (1996, p. 88). 43 A base do desenho em forma de Y pode ser caracterizada, de acordo com Dutra (1996), da seguinte forma: a) sua natureza é técnica e compreende o período de inicio da carreira do profissional técnico na empresa até sua opção pelo bravo técnico ou gerencial da carreira; b) a extensão da carreira neste período varia em função da estratégia da empresa para a gestão de seus recursos humanos ou do desenho organizacional adotado para as áreas onde estão alocados os profissionais técnicos; c) o número de posições existentes na base está vinculado As pressões de mercado sobre os profissionais técnicos ou A necessidade de sua compatibilização aos instrumentos de carreira adotados para as demais categorias profissionais existentes na empresa. 0 braço técnico do desenho em forma de Y pode ser caracterizado, de acordo com Dutra (1996) da seguinte forma: a) as posições existentes no braço técnico devem guardar a mesma relação com a política de remuneração e beneficios que guarda o braço gerencial; b) as posições do braço técnico não precisam ser necessariamente simétricas com o braço gerencial, como ilustra a figura 4; c) o braço técnico deve oferecer o horizonte profissional necessário para estimular a permanência do indivíduo na carreira técnica até o final de sua vida ativa, sob pena de o mesmo visualizar uma posição gerencial como sendo seu fim de carreira. 0 braço gerencial do desenho em forma de Y pode ser caracterizado, de acordo com Dutra (1996), da seguinte forma: 44 a) as posições do braço gerencial devem ser compatíveis A forma como os espaços organizacionais estão arrumados nas unidades onde estão alocados os profissionais técnicos; b) estas posições devem estar compatíveis As demais posições gerenciais da empresa em termos de remuneração e benefícios; c) os níveis de exigência, o horizonte profissional e os níveis de remuneração e beneficios devem estar tão bem definidos quanto para o brag() técnico, sob pena de que os profissionais relutem em optar pelo braço gerencial. Desta forma a carreira em Y permite que sejam colocadas lado a lado trajetórias de diferentes naturezas, como: técnica, gerencial, administrativa, de apoio técnico ou logístico entre outras. A carreira com desenho em forma de Y apresenta as seguintes vantagens, para As pessoas, segundo Dutra (1996): ampliação do leque de opções profissionais; maior segurança para investir em sua trajetória de carreira e traz a opção de mudança da trajetória de carreira a qualquer tempo. Já As empresas, este tipo de carreira gera: flexibilidade para compor e organizar várias trajetórias profissionais em uma única estrutura de carreira; abre espaço para ascensão dos diferentes grupos profissionais da empresa; mantém eqüidade entre as diferentes trajetórias de carreira, de forma que as pessoas em determinada trajetória não se sintam diminuídas em relação As demais. Através desta eqüidade é possível ter o concurso de pessoas com diferentes habilidades e especialidades, pois todos se sentem igualmente valorizados na empresa. 45 Este tipo de carreira é mais complexo de ser administrado pela empresa do que a carreiras de linha hierárquica. Por esta razão 6 dificil que as organizações abandonem as estruturas tradicionais onde as perspectivas de carreira são impostas aos colaboradores. 4.1.3 Tipo de carreira por linha de especialização A escolha pelo tipo de carreira por linha de especialização fornece ao colaborador urn plano de desenvolvimento em sua área de atuação. Para Pontes (2002) é uma forma amplamente empregada. 0 colaborador inicia o trabalho em certa Area e nela vai se especializando até chegar ao topo da area. Este tipo de carreira para um administrador pode ocorrer em sua Area de especialização, podendo ser: marketing, finanças, recursos humanos, produção, etc. 0 colaborador, por exemplo, inicia sua carreira como auxiliar de analista de produtos, na area de marketing, e poderá alcançar a superintendência da área, assim como em outras áreas. Este tipo de carreira propicia o desenvolvimento do colaborador, dentro de sua area de especialidade, mais rapidamente; porém, não permite maior conhecimento e entrosamento com outras drew. Um exemplo de carreira por linha de especialização está representado na figura 5. 4 ( , VICE-PRESIDENTE ADMINISTRATIVO SUPERINTENDENTE DE MARKETING GERENTE DE PRODUTO ANALISTA DE PRODUTO SR. ANALISTA DE PRODUTO PL ANALISTA DE PRODUTO JR . AUXILIAR DE PRODUTO SUPERINTENDENTE DE RH GERENTE DE REMUNERAÇÃO ANALISTA DE CARGOS SR ANALISTA DE CARGOS PL ANALISTA DE CARGOS JR AUXILIAR DE ANALISE DE CARGOS SUPERINTENDENTE DE FINANÇAS GERENTE DE CONTAS IL IDADE ANALISTA CONTÁBIL SR ANALISTA CONTÁBIL PL ANALISTA CONTAB IL JR AUXILIAR DE CONTABILIDADE TRAJETÓRIA DE CARREIRA - LINHA DE ESPECIALIZAÇÃO Figura 5 —Exemplo de carreira por linha de especialização Fonte: PONTES (2002, p. 336). 4.1.4 Tipo de carreira por linha de polivalência Esta carreira propicia o crescimento do profissional através do conhecimento profundo em áreas diferentes. Nesse caso, as promoções verticais são mais lentas e a integração entre as diversas áreas é maior. Algumas organizações adotam, parcialmente, a carreira polivalente para profissionais de nivel superior, no inicio de suas carreiras, normalmente nos primeiros dois anos de trabalho após a formatura. Outra forma de adoção parcial de carreira polivalente é o rodízio dos ocupantes de cargos gerenciais em períodos preestabelecidos. 47 4.1.5 Tipo de carreira por linha generalista A carreira por linha generalista propicia ao profissional crescimento através do conhecimento profundo de uma área especifica agregado ao conhecimento geral e menos profundo de outras Areas da organização. Por exemplo, o profissional galga graus superiores na carreira à medida que aprofunda seus conhecimentos e experiências em áreas especificas da empresa e ao mesmo tempo adquire conhecimentos de outras áreas correlatas nesta. 4.1.6 Tipo de carreira mista a adoção de vários tipos de carreira, simultaneamente, que melhor se adaptarem necessidade da organização, por exemplo, tipo em Y com tipo em linha generalista, tipo em Y com tipo em linha por especialização, entre outras formas. Cabe ressaltar que, além do desenho e estrutura de carreira, existem outras ferramentas que podem ser utilizadas pelas empresas para o desenvolvimento de carreiras, segundo Chiavenato (1999). Sendo elas: a) centros de avaliação: estes proporcionam retroação sobre as forças e fraquezas dos candidatos e a compreensão de suas habilidades, ajudando-os a desenvolver objetivos e planos de carreira adequados; b) testes psicológicos: servem para ajudar os funcionários a compreender melhor seus interesses e habilidades; c) avaliação de desempenho: é uma informação valiosa para o desenvolvimento de carreira; 48 d) projeções de promoção: são julgamentos feitos pelos gerentes quanto ao avanço potencial de seus subordinados; e) planejamento de sucessão focaliza o preparo das pessoas para preencher posições mais complexas. Estas ações visam orientar o funcionário sobre quais são as habilidades que devem ser desenvolvidas e avaliam se o indivíduo possui o perfil para que possa desempenhar nova tarefa. Contudo, cria-se condições e suportes possíveis para que tanto os trabalhadores quanto as empresas façam escolhas acertadas quanto ao planejamento de carreira. Apesar de trazer inúmeros beneficios, as empresas possuem resistência quanto ao planejamento de carreira. Segundo Hall e Gutteridge (apud DUTRA, 1996) a resistência quanto ao planejamento de carreira por parte da empresa ocorre pelos seguintes fatores: resistência dos gestores em assumir o papel de mediador ente as necessidades da empresa e as expectativas de seus subordinados. 0 gerente ao invés de somente avaliar o funcionário, pode apontar as forças e fraquezas da pessoa, determinando ações necessárias para o desenvolvimento da carreira do empregado e baixa vontade de realizar mudanças. Não obstante, Dutra (1996) destaca que é raro encontrar a prática da administração de carreira nas empresas. Cabe ressaltar que, ao deixar de administrar carreiras, as empresas perdem os beneficios que esta atividade gera. As principais vantagens de se obter um planejamento de carreira, para Pontes (2002), são: a) contribuir, mediante o crescimento dos colaboradores, para que a organização atinja níveis mais elevados de qualidade e produtividade no trabalho que realiza; 49 b) motivar os colaboradores, na busca de maior competência técnica (instrução, conhecimento, experiência prática e habilidades); c) encorajar os colaboradores na exploração de suas capacidades potenciais; d) propiciar a ascensão do colaborador na empresa; ) atender as necessidades internas do preenchimento de vagas, através do recrutamento interno; O proporcionar maior integração do colaborador na empresa, através da perspectiva do crescimento profissional, provocando maior motivação e produtividade e, ainda, diminuição do turn-over; g) criar condições para que os colaboradores atinjam seus objetivos profissionais, em consonância com o alcance dos objetivos organizacionais; h) estabelecer trajetórias de carreira, assegurando que os colaboradores tenham perspectivas de desenvolvimento e ascensão profissional. Constata-se que são muitos os beneficios que o planejamento de carreira propicia as organizações. Mas esta preocupação com as carreiras profissionais ainda é uma atividade desconhecida pela maior parte das corporações. Desta forma, ao ignorar esta atividade, as empresas deixam de alcançarem um diferencial competitivo em sua gestão. Contudo, Ulrich (2000) afirma que é responsabilidade da empresa fornecer ferramentas e oportunidades para que os colaboradores possam avaliar e desenvolver suas habilidades, contribuindo desta forma, para a carreira profissional. 50 A diferença esta em se a empresa mostra a própria preocupação com seu pessoal tratando-o de forma justa em fases de transição, dando-lhe informaçÕes completas sobre mudanças para que possam ajustar-se gradualmente, investindo em seu aprendizado e crescimento, dando-lhe oportunidades de contribuir inovadoramente e recompensando diretamente o desempenho (KANTER, 1997, p. 337). Logo, ao planejarem as carreiras, as empresas devem prender sua atenção as habilidades que as pessoas trazem ao trabalho, pois é isto que garante perspectivas de carreira e sucesso. Uma vez que o ambiente onde as empresas são expostas a pressões concorrenciais cada vez mais acirradas, há a necessidade de compartilhar a responsabilidade da administração de carreira entre a empresa e os colaboradores. Pois "...engajamento e comprometimento não podem ser obtidos apenas pela vontade da empresa, ou sei a, não pode ser decretado ou imposto ao trabalhador" (DUTRA, 1996, p. 19). Porém, os funcionários não devem mais confiar as decisões primordiais relacionadas As próprias carreiras a uma organização isto devido A ruptura da estabilidade do emprego. Assim é responsabilidade dos próprios indivíduos gerenciar a carreira. 51 5 PLANEJAMENTO DE CARREIRA: PAPEL DO INDIVÍDUO A crença de fixar-se em um único emprego de longo prazo em uma finica empresa tornou-se perigosa no mercado de trabalho atual. Isto se deve a mudança na lógica das carreiras, onde anteriormente o indivíduo seguia o padrão burocrático de uma progressão ordenada de cargos cada vez mais altos e fmanceiramente melhores. Gostando ou não, mais e mais pessoas verão suas carreiras delineadas de acordo com a maneira como elas se desenvolvem e colocam no mercado suas habilidades e suas idéias — e não pela seqUência de empregos oferecidos por uma corporacão (KANTER, 1997, p. 329). Assim sendo, Mariaca (2003) a tendência hoje é o profissional fazer cada vez mais mudanças de rota em sua carreira. Pois a qualquer instante, pessoas fisicas ou jurídicas podem ser demitidas por seus patrões ou clientes respectivamente. Logo, o importante é o profissional possuir habilidades competitivas exigidas para encontrar trabalho quando for necessário. Para isto é preciso flexibilidade para mudar, objetivando obter segurança com a "empregabilidade". Como Kanter (1997) afirma empregabilidade implica em saber se o trabalho de hoje vai aumentar o valor pessoal em termos de oportunidades futuras. Já ao realizar planejamento de carreira os profissionais conquistam um diferencial competitivo. Pois esteprocesso tem como característica básica antecipar cenários futuros e compará-los com os pontos fortes que o indivíduo possui e aqueles que precisa desenvolver para atuar no mercado de trabalho. "0 planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas As implicações futuras de decisões presentes" (DRUCKER, 1992, p. 42). 52 Deste modo, a carreira não deve ser tratada no improviso por parte dos profissionais. Conforme menciona Pereira (2002), improvisar significa agir ao acaso, preparar algo as pressas no momento que acontece. Salienta-se que em qualquer atividade humana realizada sem nenhum tipo de preparo, é uma atividade aleatória que conduz, em geral, o indivíduo a destinos não esperados. Constata-se que há por parte das pessoas, uma natural resistência ao planejamento de suas vidas profissionais, tanto pelo fato de encararem a trilha profissional como algo dado, quanto pelo fato de não terem tido qualquer tipo de estimulo ao longo de suas vidas. "Surpreendentemente, muitos empregados pouco sabem a respeito do planejamento de carreira. Freqüentemente não estão conscientes da necessidade e das vantagens desse planejamento" (PONTES, 2002, p. 317). Hall e Gutteridge (apud DUTRA, 1996) comentam que a resistência quanto o planejamento de carreira por parte dos indivíduos ocorre pelos seguintes fatores: a) algumas pessoas percebem o desenvolvimento de carreira como uma responsabilidade primária ou exclusiva da empresa; b) alguns acham que a ascensão na carreira é uma questão de sorte, bastando estar no lugar certo na hora certa; c) outros acreditam que, para fazer carreira, devem trocar constantemente de empresa; d) há os que acham que não hi sentido em pensar no planejamento de carreira, uma vez que não da para prever o futuro; e e) há aqueles que não têm coragem para encarar a si próprios ou relutam em efetuar as mudanças necessárias a seu plano de carreira. 53 Esta ausência de um projeto profissional consciente coloca as pessoas em situação de risco. Dutra (2002) aponta os riscos mais freqüentes àqueles que não possuem planejamento de carreira, sendo eles: armadilhas profissionais, isto acontece quando se executa um trabalho que demanda pouco de seus pontos fortes e muito de seus pontos fracos. Esse trabalho, na maior parte do tempo, gera grande desgaste e pouca satisfação, podendo conduzir a uma situação de estresse e inibindo o desenvolvimento do profissional. Com há falta de foco as pessoas se incomodam com a carreira e sentem desconforto profissional. 0 processo que envolve a instalação do desconforto profissional, percepção, ação de mudança e saída da situação de desconforto demora de dois a cinco anos. A visão restrita das alternativas de desenvolvimento profissional, ocasiona a falta de oportunidades tanto na empresa onde se atua quando no mercado. Para evitar situações de risco e que o acaso prevaleça durante suas escolhas, o profissional pode utilizar-se de um planejamento de carreira. Segundo Drucker (apud PEREIRA, 2002) o processo de planejamento é muito mais importante do que seu produto final. Pois o planejamento contempla ações alternativas em relação a estados futuros e escolhe as ações alternativas. importante ressaltar que por meio do planejamento as pessoas trabalham para fazer acontecer uma situação que não resultaria da evolução dos acontecimentos, conforme Maximiano (2002). Este é uma forma de lidar com o futuro que contrasta com o comportamento de não fazer nada. Onde os profissionais conservadores e os acomodados apostam na estabilidade, na fatalidade dos eventos e na manutenção do status quo. Processam de forma negativa os sinais da necessidade de mudança, as ameaças e as oportunidades que vêm do ambiente. Sendo assim, nada fazem para se preparar e esperam que o futuro venha a seu encontro. 54 Desta forma, é fundamental que o profissional ser responsável pela administração de sua carreira, buscando empregar seu talento em atividades que the proporcione prazer, uma vez que o profissional não depende somente da organização para decidir seus caminhos profissionais. Portanto, as pessoas precisam ter consciência de seu papel para fazer a gestão de sua carreira. Onde, "você é o dono da sua carreira e responsável por ela. Trate-a bem. Ninguém é capaz de administrá-la melhor do que você" (MINARELLI, 1995, p. 22). Portanto, "no planejamento de carreira torna-se imprescindível a reflexão do indivíduo sobre sua relação com as organizações e as atitudes que pode efetivamente tomar em busca da sua própria "autonomia"" (CALDAS, 2000, p.267). 0 planejamento de carreira indica que o futuro começa a ser inventado e construido com ações do presente, onde é preciso agir na direção daquilo que se deseja em termos de caminhos profissionais ou de ações necessárias. Para antever o perigo precisa-se planejar, o que significa estudar o cenário e traçar metas para o futuro. Apesar de existir vários modelos, manuais, na literatura existente indicando como fazer o planejamento de carreira, este estudo aborda os procedimentos indicados por London e Stumf (apud DUTRA, 1996), sendo eles: analisar mercado de trabalho e identificar as oportunidades de carreira; realizar uma auto-avaliação em busca do autoconhecimento; estabelecer os objetivos da carreira aliado com os objetivos de vida e elaborar um plano de ação. A figura 6 demonstra as etapas do processo de planejamento de carreira, segundo London e Stumf. Estabelecimento de Objetivos de Carreira Plana de Ação Identificação de Oportunidades de Carreira Auto-Avaliação Figura 6: Etapas do processo de planejamento de carreira Fonte: DUTRA (1996, p. 25). Estas etapas serão abordadas individualmente a seguir. 5.1.1 Analisar o mercado e as oportunidades de carreira Constata-se que o mercado de trabalho está em constante modificação. Sendo que uma das principais mudanças dos últimos tempos, foi à mudança nas relações de trabalho que acarretou o rompimento da estabilidade nos empregos. Esta mudança aliada à globalização, ao aumento do uso de tecnologias, redução organizacional, flexibilização do trabalho, entre outras; extinguiu certas profissões e gerou diversas oportunidades aos profissionais. Segundo Franco (2002 a), uma pessoa de sucesso no antigo mercado de trabalho, marcado pela segurança e por carreira estáveis, poderia ser identificada por algumas características apresentadas na figura 7. 56 Perfil profissional antigo Seguidor Leal Paciente Executor Especializado Figura 7 Antigo perfil profissional Fonte: FRANCO (2002 a, p. 38). Ainda para o mesmo autor, até hoje muitas empresas e indivíduos acreditam que essas são as qualidades exigidas para o sucesso. Porém, atualmente nas empresas competitivas as qualidades exigidas parecem ser o contrário destas apresentadas. Logo, o profissional que deseja se manter competitivo e assegurar sua permanência no mercado deve orientar-se em um novo perfil de profissional bem sucedido, apresentado na figura 8. Figura 8 Moderno perfil profissional Fonte: FRANCO (2002 a, p. 39). neste cenário junto aos novos padrões de carreira que profissionais, assim como as organizações, encontram-se frente a oportunidades e perigos, conforme Kanter (1997). Novo perfil Iniciativa Liderança Criatividade Autodesenvolvimento Agilidade Flexibilidade Gerenciar o risco Educador Lógica de raciocínio Trabalho em equipe Conhecimento de línguas Informática Resistência emocional 57 As conseqüências são aos profissionais deste novo mercado maior autonomia, liberdade e criatividade para determinar seus próprios destinos. Isto gera uma força
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