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DIREITO COMERCIAL 04 O Estabelecimento Empresarial Introdução Noções Gerais Conceito: O estabelecimento comercial, também chamado de “fundo de comércio”, é o instrumento da atividade do empresário. É o conjunto de bens corpóreos e incorpóreos que o empresário possui para o desenvolvimento de sua atividade econômica. Natureza Jurídica: O estabelecimento comercial não adquire a conceituação de universalidade de direitos, como a herança ou a massa falida, pois a lei brasileira não o assim classifica, mas é ele uma universalidade de fato, representando o complexo de bens do empresário. É assim objeto e não sujeito de direitos. Definição Legal: O Código Civil define o estabelecimento comercial como um complexo de bens organizados pelo empresário para o exercício da empresa. Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. Composição do Estabelecimento Comercial Noções Iniciais: Compõe-se o estabelecimento comercial de elementos corpóreos e incorpóreos, que o empresário comercial une para o exercício de sua atividade. Não perdem cada um deles sua individualidade singular, mas unidos integram um novo bem. Na categoria dos bens, por outro lado, é classificado como bem móvel, não é consumível nem fungível, malgrado a fungibilidade de muitos elementos que www.concursosjuridicos.com.br pág. 1 Copyright 2003 – Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. o integram. Sendo objeto de direito constitui propriedade do empresário, que é o seu dono, sujeito do direito. ! A empresa não tem bens porque não é sujeito de direitos, os bens podem ou não pertencer ao empresário. O Estabelecimento e o Patrimônio do Empresário: Muitas vezes o patrimônio do empresário resume-se no estabelecimento empresarial, porém, são institutos jurídicos distintos. Todo estabelecimento empresarial integra o patrimônio do empresário, mas este não se reduz àquele necessariamente. Os bens de propriedade do empresário, cuja exploração não está relacionada com o desenvolvimento da atividade econômica, integram o seu patrimônio, mas não o estabelecimento empresarial. ! Patrimônio: Conjunto de posições jurídicas atribuídas a uma determinada pessoa e possíveis de avaliação pecuniária. O patrimônio é do empresário e não do estabelecimento. O empresário pode ou não dispor do seu patrimônio para integrar o estabelecimento. Os débitos não pertencem ao empresário, mas ao seu patrimônio, que por eles responde. Bens Corpóreos: São bens Corpóreos do estabelecimento comercial: a) mercadorias: produtos destinados ao mercado e que estão preparados para o consumo; b) instalações: acomodações montadas no estabelecimento para apresentação da mercadoria e conforto de sua clientela; c) máquinas e utensílios: destinados à produção de coisas ou de serviços; Bens Incorpóreos: São bens incorpóreos do estabelecimento comercial: a) o ponto comercial: é o lugar em que o comerciante se estabelece e constitui um dos elementos incorpóreos do estabelecimento ou fundo de comércio (direito abstrato de localização); b) créditos e dívidas: prestações são representadas por títulos de crédito; c) título de estabelecimento: constitui título de estabelecimento e insígnia as denominações, emblemas ou quaisquer outros sinais que sirvam para distinguir o estabelecimento comercial; d) propriedade industrial: privilégios de invenção, modelos de utilidades e desenhos industriais; e) domínios da internet: são os endereços eletrônicos nos quais estão os sítios pelos quais o empresário muitas vezes o utiliza para exercer a sua atividade. " Contratos: Não são bens, não pertencem ao estabelecimento e sim ao exercício da empresa. Os contratos não integram o estabelecimento comercial porque são elementos da empresa. No exercício da empresa o empresário é levado a firmar diversos contratos. Os contratos só podem ser celebrados por sujeitos de direito, ele não faz parte do estado do estabelecimento. As dívidas, contratos e estabelecimento fazem parte do patrimônio. www.concursosjuridicos.com.br pág. 2 Copyright 2003 – Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Organizações Empresariais com Diversos Estabelecimentos Estabelecimento Principal ou Matriz: Não é necessariamente aquele com maiores dimensões físicas, mas aquele em que se situa a chefia da empresa, onde efetivamente atua o empresário no governo ou no comando de seus negócios. Nesse estabelecimento, contabilizam-se as suas contas e, por isso, aí se encontram os livros comerciais, sobretudo os livros obrigatórios e os livros fiscais. Assim, o domicílio fiscal da empresa, quando não for determinado pela sede estatutária, será pelo estabelecimento centralizador das atividades da empresa. Sucursal: Corresponde, geralmente, a estabelecimento secundário, cujo gerente tem certa autonomia, mas esta vinculado ao estabelecimento principal, pois dele recebe instruções sobre negócios de maior importância ou gravidade. Filial: É mais vinculada a matriz, onde o gerente não tem nenhuma autonomia. A Alienação do Estabelecimento Noções Gerais Noções Iniciais: O estabelecimento comercial é tratado nos artigos 1.142 a 1.149 do Código Civil que trazem as regras atinentes principalmente à alienação do estabelecimento. Pelo fato de o estabelecimento integrar o patrimônio do empresário e ser garantia dos credores, a sua alienação deve observar cautelas específicas existentes para proteger os interesses dos credores. Averbação do Contrato: Uma vez que o contrato de compra e venda do estabelecimento pode influenciar diretamente interesses de terceiros, sobretudo dos credores e devedores do empresário alienantes, é necessário que este contrato seja averbado no registro do empresário no órgão competente. A mesma exigência existe para os casos de arrendamento ou instituição de usufruto para o fundo de comércio. Esta averbação deverá ser publicada no órgão oficial de imprensa a fim de tornar público aos credores para que tenham conhecimento da negociação e do novo titular do estabelecimento. Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. www.concursosjuridicos.com.br pág. 3 Copyright 2003 – Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Proteção aos Credores: O Código Civil protege os interesses dos credores eivando de ineficácia a alienação do estabelecimento sem o pagamento de todos os credores, ou sem o seu o consentimento expresso ou tácito em 30 dias contados de sua notificação. Se o empresário mantiver bens suficientes para o pagamento dos credores, será válida a negociação. Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação. Alienação do Passivo: Anteriormente o passivo não se transferia com a alienação do estabelecimento comercial, permanecendo as suas dívidas com o alienante. Excetuava-se os casos de dívida trabalhista ou fiscal, quando passava o adquirente a responder, mas nas outras hipóteses o passivo não se transferia. O comprador, porém, poderia contrair as obrigações do alienante, se assim fosse estipuladoem cláusula contratual. Esse contrato tinha o nome de trespasse. Atualmente, segundo o Código Civil, o adquirente do estabelecimento sucede o alienante nas obrigações regularmente contabilizadas, como ocorre no direito italiano. O alienante continua, porém, solidariamente obrigado por um ano a contar da publicação no caso de obrigações vencidas, ou a contar do vencimento no caso de dívidas vincendas. Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento. Créditos: Os créditos são transferidos ao adquirente, pois são integrantes do estabelecimento. Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente. Cláusula de Não Restabelecimento: A cláusula de não-restabelecimento é implícita em qualquer contrato de alienação de estabelecimento empresarial. O alienante não poderá, nos 5 anos subseqüentes à transferência, restabelecer-se em idêntico ramo de atividade empresarial, concorrendo com o adquirente, salvo se devidamente autorizado em contrato. Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência. Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista neste artigo persistirá durante o prazo do contrato. www.concursosjuridicos.com.br pág. 4 Copyright 2003 – Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. O Ponto Empresarial Noções Gerais Noções Iniciais: Dentre os elementos do estabelecimento empresarial, figura o chamado “ponto”, que compreende o local onde o empresário desenvolve a sua atividade econômica. Se o imóvel for de propriedade do empresário, a proteção jurídica do ponto se encontra nas normas ordinárias de tutela da propriedade imobiliária do direito civil. Se, entretanto, o imóvel for locado de outrem, a proteção do ponto se encontra na Lei da Locação Imobiliária. A Locação Empresarial: A Lei 8.245, que trata da locação imobiliária, protege o ponto comercial, através da concessão do direito em favor do locatário de uma locação, poder renovar compulsoriamente, o contrato de locação. Assim, pretende-se proteger os atos de comércio praticados pelo empresário, sendo oponível contra terceiros que procuram o enriquecimento ilícito. Para que uma locação seja considerada empresarial deve atender aos seguintes requisitos: a) o locatário deve ser empresário (profissionais liberais, associações civis sem fins lucrativos e as fundações não se incluem no conceito de empresário); b) a locação deve ser contratada por tempo determinado de no mínimo 5 anos; c) o locatário deve se encontrar na exploração do mesmo ramo de atividade econômica pelo prazo mínimo e ininterrupto de 3 anos, à data da propositura da ação renovatória. Ação Renovatória: Esse direito será exercido por intermédio da chamada Ação Renovatória. Deve ser proposta no prazo de 1 ano a 6 meses anteriores ao término, do contrato a se renovar. Não sendo respeitado esse prazo, operar-se-á a decadência desse direito. Retomada do Imóvel pelo Proprietário: A lei prevê as hipóteses em que o locador poderá retomar o imóvel utilizado para fins comerciais. 1) Insuficiência da proposta apresentada pelo locatário, ou seja, este poderá renovar o contrato, desde que, o aluguel corresponda ao valor de mercado. 2) Havendo proposta de terceiros em melhores condições, não pode-se obrigar o locador com a proposta menos vantajosa, porém: a) o terceiro proponente não poderá realizar no imóvel o mesmo ramo de atividade econômica que era exercida pelo locatário, pois estaria auferindo enriquecimento ilícito; b) o locatário que deixar o imóvel terá direito a uma indenização, devido a perda do ponto. 3) Se o locador precisar realizar obras no imóvel, por determinação do Poder Público, ou, para obter valorização imobiliária, deverá esta implicar numa real, tangível e efetiva modificação no imóvel. Caso as obras não se iniciarem no prazo de 3 meses a contar da data da desocupação do imóvel, caberá ao locatário direito a indenização, em virtude dos prejuízos que sofreu devido a perda do ponto. www.concursosjuridicos.com.br pág. 5 Copyright 2003 – Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. 4) O locador poderá retomar o imóvel para uso próprio, ou, para transferência do fundo de comércio de sua titularidade à cônjuge, ascendente, descendente, ou sociedade por estes controlada, porém com a seguinte ressalva: a) deverá o fundo de comércio estar em atividade no mínimo há um ano; b) não poderá ser exercida no imóvel retomado, a mesma atividade econômica que era desenvolvida pelo locatário. Locação em Shopping Centers Noções Iniciais: O shopping center possui regras diferenciadas da locação comum, por ser uma atividade peculiar, com características próprias. O shopping center não é um empreendimento imobiliário comum, pois é organizado de forma a haver uma oferta de produtos e serviços centralizados em seu complexo. Esta organização é chamada de “tenant mix”. A idéia básica do negócio é por à disposição dos consumidores, em um mesmo local, a mais ampla gama de produtos e serviços. O Contrato de Locação: O contrato de locação em shopping center assume características bastante peculiares: a) o aluguel é desdobrado em parcelas fixas, reajustáveis de acordo com o índice e a periodicidade definidos no instrumento contratual, e em parcelas variáveis, geralmente um percentual do faturamento obtido pelo locatário no estabelecimento locado; b) para mensurar o valor da parcela variável do aluguel, o locador pode auditar as contas do locatário, bem como vistoriar as suas instalações ou fiscalizar o seu movimento econômico; c) além do aluguel, há outras obrigações pecuniárias assumidas pelo locatário da loja como a “res sperata”, retributiva das vantagens de se estabelecer em um complexo comercial que já possui clientela própria; d) deve o locatário também filiar-se à associação dos lojistas, pagando a mensalidade correspondente; e) pode haver a cobrança do aluguel em dobro no mês de dezembro. O Título de Estabelecimento O título de estabelecimento é elemento de identificação do estabelecimento empresarial. Não se confunde com o nome empresarial, nem com a marca. O título de estabelecimento não precisa, necessariamente, compor-se dos mesmos elementos lingüísticos presentes no nome empresarial e na marca. A proteção do título de estabelecimento se faz, atualmente, por regras de responsabilidade civil e penal, na medida em que caracteriza concorrência desleal. O empresário que imitar ou utilizar o título de estabelecimento que outro havia adotado anteriormente deve indenizar este último pelo desvio eficaz de clientela. www.concursosjuridicos.com.br pág. 6 Copyright 2003 – Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Questões de Concursos 01 - (Advogado Geral da União/1998) Estabelecimento e fundo de comércio como institutos jurídicos são, respectivamente: ( ) a) coisa móvel e coisa imaterial ( ) b) coisa imóvel e clientela ( ) c) universalidade de direito e direito sobre o título do estabelecimento ( ) d) coisa compostae valor que acresce ao patrimônio social ( ) e) universalidade de fato e mais-valia comercial 02 - (Magistratura/SP – 171) Assinale a alternativa incorreta: ( ) a) A empresa tem natureza jurídica de sujeito de direito. ( ) b) A empresa é a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. ( ) c) Sujeito de direito na empresa é o empresário. ( ) d) O estabelecimento empresarial não se confunde com a empresa. www.concursosjuridicos.com.br pág. 7 Copyright 2003 – Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Gabarito 01. A 02. A Bibliografia • Curso de Direito Comercial Rubens Requião São Paulo: Editora Saraiva, 1998 • Curso de Direito Comercial Fran Martins Rio de Janeiro: Editora Forense, 1998 • Direito Comercial Waldirio Bulgarelli São Paulo: Editora Atlas, 1999 • Manual de Direito Comercial Fábio Ulhoa Coelho São Paulo: Editora Saraiva, 2002 www.concursosjuridicos.com.br pág. 8 Copyright 2003 – Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico.
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