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Indaial – 2020 Harmonia Prof. Gabriel Ferrão Moreira 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Gabriel Ferrão Moreira Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M838h Moreira, Gabriel Ferrão Harmonia. / Gabriel Ferrão Moreira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 202 p.; il. ISBN 978-65-5663-338-1 ISBN Digital 978-65-5663-334-3 1. Harmonia (Música). - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 781.3 apresentação Prezado acadêmico, seja bem-vindo ao livro didático da disciplina de Harmonia. O objetivo do livro é apresentar os conteúdos fundamentais da harmonia tonal – tríades, campo harmônico, funções harmônicas, tétrades e condução de vozes – numa abordagem prática e contemporânea, em que peças de diversos estilos musicais são utilizadas, visando dar ampla contex- tualização ao conteúdo. Na Unidade 1, estudaremos como se formam e se organizam os acor- des básicos da música tonal. Veremos a relação entre esses acordes e a escala diatônica, bem como a formação dos campos harmônicos das tonalidades maiores e menores. Trabalharemos também a função de cada acorde do cam- po harmônico, em exemplos de música popular e erudita. Na Unidade 2, veremos como a harmonia se desenvolve com o uso de notas estranhas à tonalidade principal das músicas, gerando novos recur- sos expressivos. Estudaremos, por meio de diversos exemplos, a modulação (mudança de tonalidade) e a tonicização (uso breve de acordes de outras tonalidades relacionadas ao tom principal). Discutiremos o uso de acordes do modo menor em músicas do modo maior – o chamado empréstimo mo- dal – bem como o uso de acordes cromáticos mais complexos como o acorde napolitano e o acorde de sexta aumentada. Na Unidade 3, estudaremos a formação das tétrades e o uso das ten- sões disponíveis que podem ser adicionadas a elas. Estudaremos categorias de acordes com terça suspensa (acordes sus) e tétrades com tensões adicionadas. Veremos, também, acordes cromáticos derivados do uso das notas das escalas menores e acordes de função dominante derivados de escalas não diatônicas. Todo o conteúdo do livro será apresentado utilizando exemplos va- riados e exercícios que visam desenvolver raciocínio e percepção apropria- dos para o estudo dessa e de outras matérias teóricas relacionadas. Desejo que possamos ter um tempo agradável nessa jornada pelo inesgotável mundo da harmonia musical! Prof. Gabriel Ferrão Moreira Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL ............................... 1 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À HARMONIA DIATÔNICA ...................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 INTERVALOS CONSONANTES E DISSONANTES ................................................................. 4 3 TRÍADES BÁSICAS E FUNÇÕES HARMÔNICAS ..................................................................... 7 3.1 TRÍADE PERFEITA MAIOR ......................................................................................................... 7 3.2 TRÍADE PERFEITA MENOR ........................................................................................................ 8 3.3 TRÍADE DIMINUTA ...................................................................................................................... 9 4 INVERSÃO E POSIÇÃO DAS TRÍADES ..................................................................................... 10 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 14 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 15 TÓPICO 2 — CAMPO HARMÔNICO TRIÁDICO....................................................................... 17 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 17 2 TRÍADES DO CAMPO HARMÔNICO MAIOR ........................................................................ 19 3 TRÍADES DO CAMPO HARMÔNICO MENOR ...................................................................... 21 4 DICIONÁRIO DE ACORDES ......................................................................................................... 23 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 26 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 27 TÓPICO 3 — ANÁLISE HARMÔNICA ........................................................................................... 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 29 2 FUNÇÕES HARMÔNICAS ............................................................................................................. 29 2.1 PROGRESSÕES HARMÔNICAS BÁSICAS ............................................................................. 36 2.2 CONDUÇÃO DE VOZES ............................................................................................................38 3 FRASES HARMÔNICAS, QUADRATURA E CADÊNCIAS ................................................... 43 3.1 CADÊNCIAS ................................................................................................................................. 47 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 50 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 56 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 58 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 60 UNIDADE 2 — HARMONIA CROMÁTICA ................................................................................. 63 TÓPICO 1 — TRANSPOSIÇÃO, TONICIZAÇÃO E MODULAÇÃO ...................................... 65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 65 2 TRANSPOSIÇÃO .............................................................................................................................. 66 3 TONICIZAÇÃO OU TONICALIZAÇÃO ..................................................................................... 68 4 DOMINANTE SECUNDÁRIAS ..................................................................................................... 82 5 DOMINANTE ESTENDIDA ........................................................................................................... 89 6 ACORDES-PIVÔ................................................................................................................................ 90 7 MODULAÇÃO ................................................................................................................................... 90 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 92 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 93 TÓPICO 2 — EMPRÉSTIMO MODAL ............................................................................................ 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 EXEMPLO DE PROGRESSÕES COM EMPRÉSTIMO MODAL ............................................ 97 3 O ACORDE NAPOLITANO OU bII .............................................................................................. 98 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 102 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 103 TÓPICO 3 — OUTROS ACORDES COM FUNÇÃO DOMINANTE ...................................... 105 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 105 2 RESOLUÇÃO DE ACORDES DA FUNÇÃO DOMINANTE ................................................. 105 3 TÉTRADE DIMINUTA ................................................................................................................... 109 4 O ACORDE DE SEXTA AUMENTADA OU “SUBV7” ............................................................ 115 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 119 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 122 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 123 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 124 UNIDADE 3 — TÉTRADES, TENSÕES DISPONÍVEIS, ESCALAS CROMÁTICAS E OUTROS ACORDES ......................................................................................... 125 TÓPICO 1 — TÉTRADES BÁSICAS .............................................................................................. 127 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 127 2 AS CINCO TÉTRADES BÁSICAS ............................................................................................... 127 2.1 MAIOR COM SÉTIMA MAIOR – X7M ................................................................................... 128 2.2 MENOR COM SÉTIMA MENOR – Xm7 ................................................................................ 128 2.3 MAIOR COM SÉTIMA MENOR – X7 ..................................................................................... 129 2.4 MEIO-DIMINUTO – Xm7(b5) ................................................................................................... 129 2.5 DIMINUTO – X° .......................................................................................................................... 130 3 INVERSÕES DAS TÉTRADES ..................................................................................................... 132 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 139 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 140 TÓPICO 2 — CAMPO HARMÔNICO TETRÁDICO ................................................................. 143 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 143 2 CAMPO HARMÔNICO MAIOR TETRÁDICO ....................................................................... 143 3 CAMPO HARMÔNICO MENOR TETRÁDICO ...................................................................... 149 4 EMPRÉSTIMOS MODAIS EM CONTEXTO DE TÉTRADES ............................................... 159 4.1 O bVII7M ..................................................................................................................................... 161 5 CONDUÇÃO DE VOZES .............................................................................................................. 165 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 172 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 173 TÓPICO 3 — TENSÕES DISPONÍVEIS ........................................................................................ 175 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 175 2 NOTA DO ACORDE, DISSONÂNCIA E TENSÃO DISPONÍVEL ...................................... 175 3 TENSÕES DISPONÍVEIS POR GRAUS DOS CAMPOS HARMÔNICOS ........................ 178 3.1 TENSÕES DISPONÍVEIS POR GRAUS DO CAMPO HARMÔNICO MAIOR ................ 180 3.2 TENSÕES DISPONÍVEIS POR GRAUS DO CAMPO HARMÔNICO MENOR NATURAL ................................................................................................................................... 181 3.3 TENSÕES DISPONÍVEIS POR GRAUS DO CAMPO HARMÔNICO DA ESCALA MENOR HARMÔNICA ........................................................................................... 182 3.4 TENSÕES DISPONÍVEIS POR GRAUS DO CAMPO HARMÔNICO DA ESCALA MENOR MELÓDICA ................................................................................................184 4 ESCALAS DOMINANTES NÃO DIATÔNICAS ..................................................................... 185 4.1 ESCALA LIDIO B7 ...................................................................................................................... 186 4.2 ESCALA ALTERADA ................................................................................................................ 188 4.3 TONS INTEIROS (HEXAFÔNICA) .......................................................................................... 189 4.4 ESCALA DOMINANTE DIMINUTA (OCTATÔNICA) ....................................................... 190 5 TENSÕES DISPONÍVEIS POR ACORDE.................................................................................. 191 6 OUTROS ACORDES ....................................................................................................................... 193 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 196 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 199 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 200 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 202 1 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • associar as notas musicais as suas cifras alfabéticas; • montar as tríades das escalas diatônicas maiores e menores em posição fundamental, 1ª e 2ª inversões; • escrever as tríades em posição fechada e aberta; • reconhecer as tríades em posição de terça, quinta e oitava; • montar os campos harmônicos triádicos das tonalidades maiores e menores; • reconhecer a função harmônica dos acordes; • conduzir corretamente as vozes melódicas de um acorde para outro em uma progressão; • usar as cifras analíticas em algarismos romanos. 2 PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À HARMONIA DIATÔNICA TÓPICO 2 – CAMPO HARMÔNICO TRIÁDICO TÓPICO 3 – ANÁLISE HARMÔNICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HARMONIA DIATÔNICA 1 INTRODUÇÃO A harmonia é a parte do estudo de teoria musical que se dedica a siste- matizar as simultaneidades que governam a estrutura musical, do ponto de vista das alturas (notas) – numa perspectiva teórica e prática. A harmonia descreve as principais formas de organização de intervalos simultâneos entre notas nos distintos sistemas musicais. Neste livro nos dedicaremos ao chamado sistema to- nal, que deriva de relações bem estabelecidas entre intervalos presentes na escala diatônica. Tecnicamente, todo sistema musical possui relações harmônicas, que podem ser sistematizadas e estudadas. Entretanto, as relações harmônicas, que são desenvolvidas a partir da escala diatônica, perpassam a maior parte de reper- tórios que encontramos na música ocidental, desde a música de concerto (música clássica) ao repertório da música popular. Estudaremos essas relações embarcadas no termo mais amplo de "tonalida- de" ou “música tonal”. Essa chamada harmonia tonal foi desenvolvida a partir da prática musical, que amadureceu nos centros de importância política e cultural na Europa do início do século XVII (Florença, Nápoles), durante o século XVIII (com as estruturas musicais do período barroco espalhadas pela Europa Central) e consolida- da no século XIX (com a predominância de gêneros instrumentais de toda a Europa e, com centralidade sobre o que se configurava como Alemanha). Esse modo de fazer música foi o fundamento sobre o qual se construiu toda a música erudita dos perí- odos barroco, clássico e romântico, a chamada prática comum, do início do século XVII ao fim do século XIX. Essa prática musical foi trazida para as colônias europeias durante a expansão marítima e conquista da América, tornando-se importante nos diversos gêneros de música popular que surgiram desta interação. O fundamento do sistema tonal é a construção de unidades harmônicas (chamadas acordes), que dão suporte a melodias, segundo regras específicas de combinação e estruturação linear que exploraremos aqui. Neste primeiro tópi- co do livro, começaremos por categorizar os tipos de intervalos que constituem as relações mais importantes que formam as estruturas da harmonia tonal: as tríades. Posteriormente, verificaremos as funções de cada um desses acordes na estruturação do discurso tonal, as funções harmônicas. Então, falaremos mais es- pecificamente do comportamento de cada nota que compõe os acordes no con- texto de uma sequência de acordes, na condução de vozes. Por fim, falaremos das diversas formas que esses acordes podem ser escritos, de acordo com uma série de parâmetros que verificaremos na inversão e posição das tríades. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL 4 2 INTERVALOS CONSONANTES E DISSONANTES Na Grécia Antiga, quando um construtor de barcos precisava unir duas tábuas distintas para conseguir o comprimento do casco, estava, segundo os gregos, fazendo harmônio. A palavra que apresentamos aqui é a origem etimológica da palavra har- monia e, tem o significado de unir coisas distintas para construir um todo, um inteiro. A harmonia diatônica – lembremos que a palavra diatônica também advém da cul- tura grega – também é feita de partes distintas, que se articulam para a construção do discurso musical. Muito embora os princípios que apresentamos aqui não sejam os mesmos da música feita na Grécia Antiga, esse fundamento – de oposições que se complementam para formar o todo – permaneceu na estruturação da harmonia tonal. Classificamos os intervalos da escala diatônica em dois tipos: intervalos consonantes e intervalos dissonantes. Longe de ser uma nomenclatura que va- lorize os primeiros e desvalorize os últimos, pensamos aqui no mesmo contex- to do nosso hipotético construtor de barcos grego. Os intervalos consonantes e dissonantes se articulam para construir o discurso musical, em especial, quando falamos das melodias diatônicas. Melodias compostas apenas por intervalos con- sonantes seriam monótonas e pouco características. Entretanto, quando falamos de harmonia – ou seja, de intervalos simultâ- neos – priorizamos as estruturas consonantes pela estabilidade, que é necessária para o suporte harmônico de melodias. É importante levarmos em consideração que essas regras são relativas aos diversos sistemas particulares de harmonia to- nal: o uso de dissonâncias que temos na música do período barroco é distinto do uso que observamos no jazz. Aqui, apresentaremos as regras mais gerais para depois, nas unidades seguintes, falarmos de usos mais contemporâneos. Em termos gerais, consideramos terças e sextas diatônicas consoantes, além das oitavas e das quintas. Isso significa dizer que, em um contexto diatônico – em que todas as notas pertençam a uma mesma escala diatônica, maior ou me- nor – as terças (maiores e menores), sextas (maiores e menores), oitavas e quintas justas são intervalos preferenciais para a construção de harmonias estáveis. A inversão de um intervalo consonante gera outro intervalo consonante: as ter- ças invertidas geram sextas, as sextas geram terças; e as oitavas invertidas geram oita- vas. A exceção é o intervalo de quinta justa, que gera a quarta justa; intervalo que pode ser consonância ou dissonância, dependendo de fatores que estudaremos posterior- mente. A quinta diminuta é intervalo dissonante e sua importância será exploradaem outro momento. Os intervalos restantes, segundas e sétimas, são dissonâncias. O seu uso demanda cuidados particulares, aos quais nos dedicaremos nos próximos tópicos. De qualquer forma, as principais estruturas harmônicas do sistema tonal – as tríades – são formadas apenas por consonâncias. As consonâncias que par- ticipam da maioria dos acordes são chamadas consonâncias perfeitas (oitavas e quintas justas). As terças e sextas são maiores ou menores dependendo do acorde em questão; são chamadas consonâncias imperfeitas. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À HARMONIA DIATÔNICA 5 QUADRO 1 – TIPOLOGIA DOS INTERVALOS HARMÔNICOS Intervalo Harmônico Tipo Segundas (M, m) Dissonância Terças (M, m) Consonâncias Imperfeitas Quartas Justas Consonância Perfeita Quarta Aumentada/Quinta Diminuta Trítono - Dissonância Quintas Justas Consonância Perfeita Sextas (M, m) Consonâncias Imperfeitas Sétimas (M, m) Dissonância Oitavas Consonâncias Perfeitas FONTE: O autor QUADRO 2 – TIPOS DE INTERVALOS HARMÔNICOS Tipos de intervalos harmônicos Intervalos Diatônicos Consonância Perfeita (Intervalos Justos) 8ªs, 5ªs, 4ºs (como inversão da 5ª) Consonância Imperfeita 3ª, 6ªs Dissonância 2ªs, 7ªs, Trítono (4ªaum/5ªdim) FONTE: O autor Vejamos agora a extensão em semitons dos intervalos harmônicos dia- tônicos e seu reconhecimento na escala diatônica de Dó, em cada um dos seus sete modos. Posteriormente, vamos abreviar intervalos maiores, menores, justos, diminutos e aumentados como (M), (m), (J), (d), (A), respectivamente. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL 6 QUADRO 3 – INTERVALOS DIATÔNICOS EM SEMITONS FONTE: O autor FIGURA 1 – INTERVALOS HARMÔNICOS NOS SETE MODOS DE DÓ FONTE: O autor TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À HARMONIA DIATÔNICA 7 3 TRÍADES BÁSICAS E FUNÇÕES HARMÔNICAS As estruturas básicas da harmonia tonal são as tríades. Para formá-las, partiremos de uma nota escolhida da escala diatônica – que chamaremos funda- mental – erigindo esse acorde de três notas adicionando a terça e a quinta diatôni- cas da fundamental escolhida. Outra maneira de descrever a tríade é reconhecê-la como a sobreposição de duas terças diatônicas à nota fundamental. A tríade pode ser montada de diversas formas, mantendo sempre as suas três notas principais, o que garante sua identidade nas diversas formas que existem de executá-las (as inversões e posições que veremos a seguir são exemplos dessa propriedade). FIGURA 2 - EXEMPLO DA MONTAGEM DE TRÍADE FONTE: O autor As tríades são estabelecidas em cada uma das sete notas da escala e, re- sumem-se, no caso diatônico, a três tipos principais: tríades perfeitas maiores, tríades perfeitas menores e tríade diminuta (GUEST, 2006). Cada acorde – desde as tríades aos mais complexos – será nomeado pela nota fundamental. Aqui, utilizaremos as letras do alfabeto correspondentes às sete notas musicais na língua inglesa: A para Lá, B para Si, C para Dó, D para Ré, E para Mi, F para Fá, e G para Sol. 3.1 TRÍADE PERFEITA MAIOR A tríade perfeita maior é formada pelos intervalos: uma terça maior e uma quinta justa, sobrepostos à determinada fundamental. É chamada tríade perfeita por ter a quinta justa – também chamada quinta perfeita (sete semitons); é chama- da tríade maior por ter a terça maior (quatro semitons). Geralmente é chamada apenas de tríade maior ou acorde maior. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL 8 FIGURA 3 – A TRÍADE PERFEITA MAIOR FONTE: O autor Dentre as sete tríades da escala diatônica, três são maiores: as que são montadas sobre o primeiro, quarto e quinto graus da escala. Numeraremos as tríades utilizando algarismos romanos. Assim, as tríades I, IV e V são maiores. No caso da tonalidade de Dó, são os acordes de Dó, Fá e Sol, que veremos a seguir. FIGURA 4 – AS TRÍADES MAIORES DE UMA ESCALA MAIOR FONTE: O autor 3.2 TRÍADE PERFEITA MENOR A tríade perfeita menor ocorre em graus da escala diatônica, onde se formam intervalos de terça menor (três semitons) entre fundamental e terça. A tríade perfeita menor, assim como a perfeita maior, possui a quinta justa (intervalo de sete semitons com a fundamental). É comumente chamada de tríade menor ou acorde menor. Em sua cifra adicionamos a letra m após o grau que indica a fundamental do acorde. FIGURA 5 – A TRÍADE DE MI MENOR FONTE: O autor TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À HARMONIA DIATÔNICA 9 Encontramos a tríade menor sobre os graus II, III e VI da escala. Na tona- lidade de Dó, são os acordes de Ré, Mi e Lá, que veremos a seguir. FIGURA 6 – TRÍADES MENORES DE UMA ESCALA DIATÔNICA DE DÓ FONTE: O autor 3.3 TRÍADE DIMINUTA A tríade diminuta possui terça menor e quinta diminuta (seis semitons). É um acorde que acontece apenas no sétimo grau da escala. FIGURA 7 – TRÍADE DIMINUTA FONTE: O autor As relações estabelecidas entre as tríades de uma mesma escala diatônica ense- jam aquilo que chamamos tonalidade e que discutiremos com mais detalhe posterior- mente. Apresentamos aqui as sete tríades da tonalidade de Dó Maior em sequência. FIGURA 8 – TRÍADES DE DÓ MAIOR FONTE: O autor UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL 10 4 INVERSÃO E POSIÇÃO DAS TRÍADES A sonoridade própria das tríades é constituída pela relação intervalar da sua nota mais grave com as demais. As tríades podem ser invertidas, tendo como nota mais grave sua terça ou quinta no lugar da fundamental, como apresentado anteriormente. A mudança da posição das notas de uma tríade não modifica sua tipologia (maior, menor ou diminuta), mas gera diferenças de sonoridade pelo arranjo distinto entre suas notas. A inversão das tríades gera outros intervalos e dinamiza a relação entre elas, criando possibilidades de sonoridade para a com- binação de acordes. Nas cifras musicais, representamos a inversão inserindo uma barra inclinada após a qual a cifra indica a nota mais grave do acorde. Vejamos: FIGURA 9 – INVERSÕES DA TRÍADE DE DÓ MAIOR FONTE: O autor Os acordes que têm a sua fundamental como nota mais grave serão chamados de acordes em posição fundamental. Quando uma tríade tiver sua terça ou quinta como no- tas mais graves, dizemos que estão em primeira ou segunda inversão, respectivamente. Outra maneira de nos referirmos às inversões é levando em conta os no- vos intervalos que se estabelecem entre as notas mais graves e as demais. Nesse tipo de notação de cifras – chamado baixo cifrado – apenas os intervalos novos são anotados, portanto as terças são ignoradas. FIGURA 10 – BAIXO CIFRADO DAS TRÍADES FONTE: O autor O sistema de cifras do baixo cifrado é comumente associado à música eru- dita (MANNIS, 2005), enquanto o sistema das cifras com letras do alfabeto é o de uso predominante na música popular. Enquanto há trabalhos de teoria da música erudita que utilizam a cifragem em letras para acordes, são raros os trabalhos que utilizam o baixo cifrado para a música popular. Portanto, utilizaremos o sistema mais flexível e corrente para nosso trabalho: o sistema das cifras com letras. 11 Podemos comparar uma tríade à água: esteja em estado sólido, líquido ou ga- soso, a água continua sendo composta pela mesma estrutura molecular, porém, em arranjo diferenciado. Geralmente, pensamos que o estado fundamental da água é o líquido; nesse caso, o estado sólido da água (gelo) e o gasoso (vapor) seriam suas “inversões” mantendo a propriedade principal do acorde (seu tipo, suas notas), mas modificando sua apresentação. NOTA A seguir apresentamos as sete tríades de Dó Maior e suas inversões. FIGURA 11 – TRÍADES DA TONALIDADE DE DÓ MAIOR E SUAS INVERSÕES FONTE: O autor 12 Toque os acordes apresentados no teclado ou escreva-os em seu programa de edição de partituras preferido. É um excelente exercício de percepção para o reconhe- cimento das inversões dos acordes. DICAS Se a inversão se refere à nota mais grave das tríades, a posição se refere à nota mais aguda, que, em geral, é percebida como a “ponta” do acorde. Junto à nota mais grave, são as mais facilmentepercebidas em determinado acorde; são chamadas de vozes externas. Podemos pensar que a inversão e a posição do acor- de o delineiam, definem, como se fossem suas “molduras”. A tríade pode ser apresentada em posição de 8ª, com a fundamental como nota mais aguda do acorde; posição de 3ª, onde a terça sendo a nota mais aguda ou posição de 5ª, justamente a quinta como nota mais aguda. Vejamos alguns exemplos: FIGURA 12 – ACORDES EM DIFERENTES POSIÇÕES FONTE: O autor Outra classificação relacionada à posição dos acordes é se esta é fechada ou aberta. Uma tríade em posição fechada apresenta as notas da tríade sempre em ordem ascendente – sem deixar espaço para nenhuma nota do acorde entre elas. Já a tríade em posição aberta “pula” uma das notas da tríade em posição fechada, gerando uma textura mais espaçosa e com distintos intervalos. FIGURA 13 – TRÍADES EM POSIÇÃO FECHADA E ABERTA FONTE: O autor 13 Quando relacionamos as inversões e as posições temos um número ainda maior de possibilidades sonoras derivadas das tríades: FIGURA 14 – TRÍADE DE DÓ MAIOR EM POSIÇÃO FECHADA E ABERTA E INVERSÕES FONTE: O autor Nos exemplos a seguir utilizamos a pauta dupla de piano, bastante comum em nosso material. Aqui, a inversão diz respeito à nota grave usada no baixo (mão es- querda), e a posição fechada ou aberta ao arranjo das notas na mão direita. Vejamos. FIGURA 15 – INTERAÇÕES ENTRE INVERSÕES E POSIÇÃO DE TRÍADES FONTE: O autor O sistema de cifras alfabéticas para os acordes (uso de letras para as tría- des e demais acordes) não informa a posição de cada acorde, apenas suas inver- sões. O contexto em que são utilizados e a maneira como cada uma das notas de um acorde se relaciona às do acorde seguinte acaba por delimitar as melhores posições para cada harmonia. É o que veremos na seção sobre condução de vozes. 14 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • As tríades são as harmonias (acordes) fundamentais do sistema tonal. São sete ao todo, uma para cada nota da escala. • As tríades são formadas por três notas, a fundamental, a terça e a quinta. • A partir da fundamental se adicionam duas terças sobrepostas para formar uma tríade. • As tríades podem ser maiores, menores ou diminutas. • As tríades podem ser invertidas: para isso, basta mudar a nota mais grave da fundamental para sua terça (1ª inversão) ou quinta (2ª inversão). • A posição se refere à nota mais aguda, que em geral é percebida como a “pon- ta” do acorde. 15 1 As tríades possuem sua sonoridade determinada pela sua relação de inter- valos com a nota mais grave. As tríades podem ser invertidas, gerando uma sonoridade distinta. No entanto, a sua tipologia permanece (maior, menor ou diminuta). Nas cifras, representamos a inversão inserindo uma barra inclinada após a qual a cifra indica a nota mais grave do acorde. Sobre o exposto, classifique os itens, utilizando o código a seguir: I- Para acorde de primeira inversão. II- Para o acorde de segunda inversão. ( ) Tríade com baixo na terça. ( ) Tríade com baixo na quinta. ( ) Chamado de acorde de sexta no baixo cifrado. ( ) Chamado de acorde de sexta e quarta no baixo cifrado. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I – I – II – I. b) ( ) I – II – I – II. c) ( ) II – I – II – I. d) ( ) II – II – I – II. 2 As tríades representam as principais estruturas harmônicas do sistema to- nal e são formadas apenas por consonâncias. As terças podem ser maiores ou menores, dependendo do acorde em questão. A respeito da formação das tríades, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As tríades maiores possuem terça menor seguida de terça maior. ( ) As tríades menores possuem terça menor seguida de terça maior. ( ) As tríades maiores possuem terça maior seguida de terça menor. ( ) As tríades diminutas possuem duas terças menores sobrepostas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – V. b) ( ) V – V – F – F. c) ( ) F – V – V – V. d) ( ) V – V – V – V. AUTOATIVIDADE 16 3 As tríades são formadas pela sobreposição de uma terça e uma quinta em relação a sua fundamental. O intervalo de terça determinará se a tríade é maior ou menor, caracterizando, assim, um acorde maior ou menor. Quan- to à tríade maior, basta escrever a letra que corresponde à cifra do acorde. Sobre os acordes maiores e menores, analise as tríades na figura a seguir: FONTE: O autor Assinale a alternativa que compreende CORRETAMENTE a sequência dos acordes mostrados na pauta: a) ( ) F – B – A – Em – G. b) ( ) F – Dm – Am – Em – G. c) ( ) Fm – Dm – Am – C – G. d) ( ) Fm – Bm – Am – Em – G. 17 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 CAMPO HARMÔNICO TRIÁDICO 1 INTRODUÇÃO Até aqui estudamos a base diatônica da harmonia tonal: como seus acordes fundamentais – as sete tríades – se estruturam individualmente e se organizam como tríades maiores, menores e diminutas. A partir deste momento, buscaremos relacionar as tríades entre si, a partir da estrutura chamada campo harmônico. Quando ordenamos ascendentemente as sete tríades de uma tonalidade qualquer, temos o chamado campo harmônico. Trata-se de uma apresentação esca- lar ascendente das tríades de uma tonalidade. Tanto o modo maior quanto o menor possuem campos harmônicos relacionados as suas escalas (GUEST, 2006). O campo harmônico derivado do modo maior é chamado campo harmônico maior e o deri- vado do menor é chamado campo harmônico menor. Vejamos o exemplo a seguir. FIGURA 16 – CAMPO HARMÔNICO DE DÓ MAIOR FONTE: O autor Os graus das tríades no campo harmônico, representados em algarismos romanos, expressam a distância entre a fundamental do acorde do I grau e as fun- damentais dos demais acordes, tendo como base a escala maior. Assim, no modo menor teremos a indicação dos intervalos menores característicos nos graus ter- ceiro, sexto e sétimo. Nestes graus, antes do algarismo romano, teremos a letra b (de bemol) indicando que se tratam de intervalos menores. Leremos os graus bIII, bVI e bVII como bemol três, bemol seis e bemol sete, respectivamente. 18 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL Lembrando que nem todo intervalo menor gera um bemol. Entretanto, usa-se o b para lembrar da redução de meio tom do intervalo maior. No campo harmônico menor, teremos um acorde maior sobre o V, por utilizarmos o modo menor harmônico do tom para a função dominante. Nos aprofundaremos nisso adiante. NOTA FIGURA 17 – CAMPO HARMÔNICO DE DÓ MENOR FONTE: O autor Cada tonalidade/escala possui seu campo harmônico. Entretanto, como derivam do mesmo modelo de escala – diatônica maior ou menor – as tríades que ocupam a mesma posição no campo harmônico (graus) sempre serão do mesmo tipo (maior, menor ou diminuta). Nas figuras mostradas anteriormente, os acor- des maiores estão em azul, os menores em verde e o diminuto em vermelho. A permanência da harmonia nos acordes de determinado campo harmônico e o compartilhamento de notas entre melodia e acorde é a garantia de um bom es- tabelecimento da tonalidade. As melodias e acordes concordam e se conectam por pertencerem a uma mesma escala, e esse é um dos pilares da tonalidade musical. FIGURA 18 – MELODIA DE “PIRULITO QUE BATE-BATE”. EM VERDE, NOTAS PERTENCENTES AOS ACORDES DO MOMENTO FONTE: O autor TÓPICO 2 — CAMPO HARMÔNICO TRIÁDICO 19 2 TRÍADES DO CAMPO HARMÔNICO MAIOR Os graus dos campos harmônicos maiores, formados da escala maior, terão sempre a seguinte organização das tríades: • tríade do I grau: acorde perfeito maior. • tríade do II grau: acorde perfeito menor. • tríade do III grau: acorde perfeito menor. • Tríade do IV grau: acorde perfeito maior. • Tríade do V grau: acorde perfeito maior. • Tríade do VI grau: acorde perfeito menor. • Tríade do VII grau: acorde diminuto. Uma outra maneira de apresentar o campo harmônico é organizar seus acordes pelo seu tipo. No campo harmônico maior os acordes se dispõem assim: • Acordes maiores: I, IV e V graus.• Acordes menores: II, III e VI graus. • Acorde diminuto: VII grau. Vejamos agora os campos harmônicos menores, seguindo o ciclo de quintas desde Lá menor, relativa de Dó maior (sem acidentes na armadura de clave). Mostra- remos também os campos harmônicos dos acordes em primeira e segunda inversões. Procure tocar esses acordes no teclado. Se conseguir cantá-los em arpejos, cantando a fundamental, a terça e a quinta em sequência, será melhor ainda para absorver o conteúdo. DICAS É uma interessante sugestão utilizarmos o solfejo fixo ampliado (sílabas pró- prias para cada nota da escala cromática) para reforçarmos a formação de cada tríade para além do seu contexto diatônico local (notas da armadura). Vejamos a seguir: 20 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL FIGURA 19 – SISTEMA DE SOLFEJO FIXO-AMPLIADO FONTE: Freire (2008, p. 124) Por conveniência, na escrita dos campos harmônicos a seguir, tomamos a liberda- de de mudar a oitava de escrita de alguns acordes, para evitar notas suplementares em excesso. Lembramos que o campo harmônico é apenas um sistema expositivo das tríades de uma tona- lidade de forma escalar e em posição fechada – grau por grau – e que, nos contextos musicais práticos, esses acordes podem aparecer nas mais diversas ordens, alturas e posições. NOTA Os campos harmônicos podem ser escritos utilizando a armadura de clave das suas respectivas escalas diatônicas. Entretanto, para fim de facilitar a memorização precisa das notas dos acordes, que podem aparecer repetidos em diferentes contextos diatônicos, escrevemos os campos harmônicos com armadura de clave sem alterações. Iniciemos verificando o campo harmônico de Dó maior e a inversão de suas tríades. FIGURA 20 – CAMPO HARMÔNICO DE DÓ MAIOR FONTE: O autor Os demais campos harmônicos maiores seguem possuindo o mesmo tipo de acordes para cada grau, partindo sempre da tônica da escala e obedecendo a armadura de clave (sustenidos ou bemóis). Vejamos, por exemplo, o campo har- mônico de Sol Maior: TÓPICO 2 — CAMPO HARMÔNICO TRIÁDICO 21 FIGURA 21 – CAMPO HARMÔNICO DE SOL MAIOR FONTE: O autor Como pudemos perceber, temos a mesma sequência de tríades que vimos em Dó maior (I: maior, II: menor, III: menor, IV: maior, V: maior, VI: menor, VII: diminuto) sendo construídas a partir da nota Sol e dentro de sua escala maior (com Fá#). Assim seguimos por todas as escalas maiores. O mesmo acontece no tom de Fá maior, com a diferença de possuirmos não um sustenido, mas um be- mol na sua escala, correspondendo ao quarto grau melódico da escala: FIGURA 22 – CAMPO HARMÔNICO DE FÁ MAIOR FONTE: O autor 3 TRÍADES DO CAMPO HARMÔNICO MENOR Os graus dos campos harmônicos menores são formados pelas notas do modo menor natural. A exceção é o V grau que será extraído da escala menor harmônica, configurando no V grau um acorde maior, condição básica para a existência da tonalidade no modo menor, o que discutiremos mais adiante. O campo harmônico menor terá sempre a seguinte organização das tríades: • Tríade do I grau: acorde perfeito menor. • Tríade do II grau: acorde diminuto. • Tríade do III grau: acorde perfeito maior. 22 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL • Tríade do IV grau: acorde perfeito menor. • Tríade do V grau: acorde perfeito maior. • Tríade do VI grau: acorde perfeito maior. • Tríade do VII grau: acorde perfeito maior. Organizados pela sua tipologia, os acordes do campo harmônico menor se dispõem assim: • Acordes menores: I, IV graus. • Acordes maiores: III, VI e VII graus. • Acorde diminuto: II grau. Vejamos agora os campos harmônicos menores no ciclo de quintas, ini- ciando pela relativa de Dó maior, Lá menor. Toque os campos harmônicos ao teclado ou no instrumento de sua preferência, para fixar a sonoridade do campo harmônico do modo menor e suas inversões. FIGURA 23 – CAMPO HARMÔNICO DE LÁ MENOR FONTE: O autor Assim como no caso do campo harmônico maior, teremos um campo har- mônico menor para cada tonalidade menor, com o mesmo tipo de tríades para cada grau. Vejamos o campo harmônico menor a seguir no ciclo de quintas: TÓPICO 2 — CAMPO HARMÔNICO TRIÁDICO 23 FIGURA 24 – CAMPO HARMÔNICO DE MI MENOR FONTE: O autor Mi menor é a tonalidade relativa de Sol maior, possuindo a mesma arma- dura de clave. Assim, as tríades do campo harmônico menor são montadas sobre a escala diatônica com Fá#. A tonalidade de Ré menor é a relativa de Fá Maior, ambas possuindo Sib em suas escalas diatônicas. Para montarmos seu campo harmônico basta construirmos as tríades diatônicas a partir de Ré, reconhecendo a presença de Sib no sexto grau da escala. FIGURA 25 – CAMPO HARMÔNICO DE RÉ MENOR FONTE: O autor 4 DICIONÁRIO DE ACORDES Vejamos agora diferentes tipos de tríades que são unidas pela mesma nota fundamental. Adicionaremos aqui, para fins de concluirmos o estudo das tríades, um quarto tipo de tríade que não ocorre na escala diatônica: a Tríade Aumentada. Ela consiste da sobreposição de duas terças maiores, o que aumenta a quinta em um semitom (gerando a quinta aumentada de 8 semitons a que se refere seu nome). 24 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL FIGURA 26 – TRÍADE AUMENTADA DE DÓ (COM INTERVALOS EM SEMITONS) FONTE: O autor Vejamos na figura a seguir o “dicionário” de tríades principais de algu- mas das notas da escala cromática. Repetiremos os acordes que tem o mesmo som, como G# maior e Ab maior, os chamados acordes enarmônicos, para fins de estudo. A fim de reconhecer os acordes por sua sonoridade, será muito importante executar esses acordes na sequência apresentada. Use seu instrumento ou software de edição de partituras. DICAS 25 FIGURA 27 – DICIONÁRIO DE TRÍADES FONTE: O autor 26 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O conjunto de sete tríades da escala diatônica forma seu campo harmônico. • Para a escala diatônica, nos modos maior e menor, cada qual possui o seu campo harmônico. • Utilizamos algarismos romanos para pontuar a posição de determinada tría- de no campo harmônico (o grau da tríade no campo harmônico). • Utilizamos a letra “m” após a cifra ou o algarismo romano para indicar que a tríade é menor. • Utilizamos a expressão “dim” (diminuto) após o algarismo romano ou a cifra para indicar que a tríade é diminuta. • A referência para a numeração dos graus é a distância da fundamental do acorde para a tônica, a primeira nota da escala no modo maior. • Os graus do modo menor que diferem do maior, terceiro, sexto e sétimo rece- bem o símbolo do bemol antes do grau, indicando o intervalo de tipo menor que existe entre suas fundamentais e a tônica da escala. • Especificamente no modo menor, a tríade do V grau é transformada cromatica- mente de menor para maior, pela derivação do modo harmônico da escala menor. • A ordem dos graus nos campos harmônicos maiores e menores é a seguinte: O Maior: I, IIm, IIIm, IV, V, VIm, VIIdim. O Menor: Im, IIdim, bIII, IVm, V, bVI, bVII. • O acorde aumentado é a tríade ausente nas escalas diatônicas do modo maior e menor. É formado pela sobreposição de duas terças maiores 27 1 As tonalidades maiores e menores possuem cada qual o seu campo harmô- nico, estabelecido pelas tríades de cada grau da escala. Desta forma, não importa qual a tonalidade, pois a escala diatônica terá sempre as mesmas configurações em seus graus. Sobre os campos harmônicos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O campo harmônico maior possui suas tríades na seguinte ordem: maior, menor, menor, maior, maior, menor e diminuto. ( ) O campo harmônico menor possui suas tríades na seguinte ordem: maior, menor, menor, maior, menor, diminuto. ( ) O campo harmônico menor possui suas tríades na seguinte ordem: maior, menor, menor, maior, menor, menor. ( ) O campo harmônico menor possui suas tríades na seguinte ordem: me- nor, diminuto, maior, menor, maior, maior, maior. Assinale a alternativa com a sequência CORRETA: a) ( ) V– F – F – V. b) ( ) V – V – F – V. c) ( ) F – V – V – F. d) ( ) F – F – F – V. 2 Os graus das tríades no campo harmônico são representados em algarismos ro- manos e mostram a distância entre a fundamental do acorde do I grau e as fun- damentais dos acordes seguintes. Cada uma das sete tríades possui uma destas características: tríade maior, tríade menor e tríade diminuta. Assinale a alternativa CORRETA de acordes que representa o campo harmônico da escala de dó maior: AUTOATIVIDADE FONTE: O autor a) ( ) Cm – Dm – Em – F – G – Am – Bº. b) ( ) C – Dm – E – F – G7 – Am – Bdim. c) ( ) C – Dm – Em – F – G – Am – Bdim. d) ( ) C – D – Em – F – G – Am – Bm(b5). 28 3 Os graus dos campos harmônicos menores são formados pelas notas da escala menor natural. No entanto, o V grau provém da escala menor harmônica, configurando, assim, um acorde maior. Acerca do campo harmônico menor, assinale a alternativa CORRETA que compreende os acordes da tonalidade de lá menor, tomando como base a figura a seguir: FONTE: O autor a) ( ) Am – Bm(b5) – C – Dm – E(aum) – F – G. b) ( ) Am – Bdim – C – Dm – E – F – G. c) ( ) Am – Bdim – Cm – Dm – E – F – Gdim. d) ( ) A – Bdim – C – Dm – E – F7 – G. 29 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 ANÁLISE HARMÔNICA 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, estudaremos as maneiras pelas quais os diferentes acordes de uma tonalidade se relacionam para a estruturação da harmonização de melo- dias. Verificaremos as relações chamadas “funcionais”, onde cada grau corres- ponde a uma função específica do discurso musical. Também falaremos de sequências específicas de acordes com importância par- ticular, as chamadas progressões harmônicas básicas; entre essas, também, estão as pro- gressões responsáveis por dar fechamento às seções musicais, as chamadas cadências. Além disso, exploraremos o comportamento de cada uma das notas das tríades nas sequências harmônicas por meio da condução das vozes. Por fim, ve- remos como a frase de quatro compassos se relaciona com a harmonia formando quadraturas, que estruturam trechos musicais. 2 FUNÇÕES HARMÔNICAS Os processos que envolvem os sons representam materiais artísticos geral- mente considerados mais abstratos que os das outras artes. Estes podem ser descritos por meio de metáforas, que facilitam sua visualização. Para simplificar sua compre- ensão é comum descrever a dinâmica da harmonia tonal fazendo uso de uma certa quantidade de comparações e analogias, usualmente relacionadas a movimento. A música tonal é como uma história onde um personagem principal – a me- lodia – prossegue em sua jornada por sobre um drama, uma história. Podemos com- parar a harmonia ao ambiente por onde trafega esse personagem. A harmonia gera um contexto que interage com a melodia e ambas compõem esta história musical. Veja os dois exemplos a seguir, nos quais a mesma melodia é “ambienta- da” com harmonia distinta: 30 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL FIGURA 28 – MELODIA COM HARMONIZAÇÃO EM MODO MAIOR FONTE: O autor FIGURA 29 – MESMA MELODIA COM HARMONIZAÇÃO EM MODO MENOR FONTE: O autor Como poderemos descrever a diferença que percebemos em ambos casos? Há uma série de formas de descrever as diferenças: a perspectiva emocional (soa mais triste, ou alegre), a tonalidade que está (se houve transposição e que transposi- ção houve) etc. Muitas dessas maneiras de descrever são subjetivas, algumas, obje- tivas. Entretanto, do ponto de vista do estudo sistemático da harmonia é necessário que busquemos um sistema objetivo com que permita que enquadremos composi- ções musicais muito distintas e percebamos relações gerais que as governam. O sistema funcional – da chamada Harmonia Funcional – é o mais uti- lizado para esse fim (KOELLREUTER, 1980; FREITAS, 1995; GUEST, 2006). Ele divide todos os acordes do campo harmônico em três funções relacionadas à per- cepção de movimento da harmonia: 1) função tônica (T), associada ao repouso; 2) função subdominante (S), movimento associado ao afastamento pleno do re- pouso (tônica); e 3) função dominante (D), associada ao movimento de reaproximação do repouso (tônica). TÓPICO 3 — ANÁLISE HARMÔNICA 31 A figura a seguir apresenta a metáfora do movimento: a função tônica é represen- tada pela figura da casa e o personagem representa o movimento harmônico. A função tônica é a permanência em repouso; a função subdominante o afastamento do repouso e a função dominante, a tensão que gera expectativa de retorno ao repouso (tônica). FIGURA 30 – METÁFORA DAS FUNÇÕES EM MOVIMENTO FONTE: O autor É importante observarmos que a harmonia funcional não é o único esque- ma explicativo das dinâmicas harmônicas da música tonal. Entretanto, é dos que mais tem se difundido tanto em ambiente vinculado à música de concerto (música clássica ou erudita) quanto na música popular – teoria do jazz e derivados (GUEST, 2006; CHEDIAK,1986). O pressuposto básico da harmonia funcional – de que as tríades possuem função harmônica – é remetido ao Tratado de Harmonia do ilumi- nista francês Jean Philippe Rameau, publicado em 1722 (RAMEAU, 1722). Em fins do século XIX, o musicólogo alemão Hugo Riemman cunha o ter- mo harmonia funcional para seu próprio sistema explicativo das funções tonais de cada acorde (RIEMANN, 1893). Seu sistema lidava com a música de concerto, mas foi se desenvolvendo e se difundindo com muita força desde o início do século XX, alcançando também as paragens da música popular. Portanto, hoje em dia, ao falarmos de estudo de harmonia na música popular estamos falan- do de harmonia funcional. A harmonia funcional que iremos estudar aqui busca permitir observações simultâneas em repertório de música de concerto e música popular, buscando um desenvolvimento mais pleno do estudante e a capacitação para compreender e se envolver com distintos repertórios. A figura a seguir, extraída do trabalho do professor Sérgio Freitas (1995), apresenta o mesmo esquema com maior detalhe. 32 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL FIGURA 31 – ESQUEMA EXPLICATIVO DA DINÂMICA HARMÔNICA TONAL COMO APRESENTA- DO PELA HARMONIA FUNCIONAL FONTE: Freitas (1995, p. 21) Para compreendermos as funções harmônicas e quais acordes correspon- dem a cada uma das três funções nos campos harmônicos, será necessário falar- mos sobre os fundamentos da escala diatônica e sua formação. É comum pensarmos a formação da escala diatônica como uma sucessão de 2ªs maiores e menores, no esquema Tom-Tom-Semitom-Tom-Tom-Semitom. Quando organizamos as notas da escala diatônica por graus conjuntos, temos essa partição da oitava em dois tetracordes Tom-Tom-Semitom divididos por um tom. FIGURA 32 – PARTIÇÃO DA ESCALA DIATÔNICA EM DOIS TETRACORDES FONTE: O autor Entretanto, sabemos que o intervalo de segunda é uma dissonância e que o esquema organizacional da escala diatônica tem como fundamento harmônico, não as segundas, mas a consonância perfeita da 5ª justa (sete semitons) (MIYARA, 2005). Assim, a escala diatônica se organiza pelo chamado ciclo de quintas. Par- tindo de Dó, temos as sete notas no ciclo de quintas: TÓPICO 3 — ANÁLISE HARMÔNICA 33 FIGURA 33 – CICLO DE QUINTAS A PARTIR DE DÓ FONTE: O autor A primeira coisa que percebemos ao organizar o ciclo de quintas a partir de Dó, é que uma nota estranha à escala diatônica de Dó surge (Fá#), ocasionando um intervalo dissonante de 4ª aumentada contra a nota fundamental e não for- mando, plenamente, a escala diatônica de Dó: FIGURA 34 – ORGANIZAÇÃO DO CICLO DE QUINTAS DE DÓ EM SEGUNDAS FONTE: O autor É necessário neutralizar o trítono Dó-Fá# (intervalo de três tons ou seis se- mitons) para obtermos a nota Fá que completaria a escala de Dó maior (gerando a consonância de 4ªJusta Dó-Fá no lugar do trítono). Para tal, será necessário ini- ciar o ciclo de quintas na 5ª justa anterior a Dó, a própria nota Fá. Fazendo assim, neutralizamos o trítono entre a fundamental e a quarta nota da escala (Dó-Fá#), o único intervalo de quinta dissonante do conjunto.FIGURA 35 – CICLO DE QUINTAS A PARTIR DE FÁ FONTE: O autor FIGURA 36 – ESCALA DE DÓ MAIOR FONTE: O autor Ao começarmos o ciclo de quintas a partir da nota Fá vemos que o interva- lo de trítono persiste, agora em notas diatônicas à escala de Dó (Fá e Si, 4ª e 7ª da escala de Dó). Esse trítono diatônico é o intervalo especial que acabará por definir as funções harmônicas das tríades. Quando Rameau definiu sua teoria funcional da harmonia, estabeleceu que as tríades principais do modo maior são as tríades maiores (RAMEAU,1722). A tríade do I grau chamou de Tônica, a do V de Dominante e a do IV de subdomi- nante. O fundamento para a escolha dessas tríades é a sua proximidade no ciclo de quintas à nota que dá origem à escala maior. 34 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL FIGURA 37 – TRÍADES PRINCIPAIS DAS FUNÇÕES HARMÔNICAS NO MODO MAIOR, NO CEN- TRO A TÔNICA FONTE: O autor Trata-se de tríades do mesmo tipo, ou seja, tríades maiores. Portanto, Rameau observa que cada uma delas recebe, no repertório, uma nota que as diferencia funcio- nalmente (RAMEAU, 1737). A relação simétrica que organiza a dominante e a subdo- minante (5ª acima e 5ª a seguir da tônica) é mantida para a inserção dessas notas dife- renciais. A função Tônica, por expressar conclusão, será a única Tríade que se manterá sem nota adicionada (costuma-se “dobrar”, duplicar, a nota fundamental); as demais receberão uma terça diatônica adicional. No caso da subdominante, uma terça a seguir, no da dominante, uma terça acima; mantendo a simetria que as organiza no ciclo de quintas (quinta a seguir da tônica, quinta acima da tônica, respectivamente). FIGURA 38 – TÔNICA, SUBDOMINANTE E DOMINANTE COM NOTAS DIFERENCIAIS FONTE: O autor Podemos perceber que a tríade da função tônica expressa a estabilidade de sua função sendo perfeitamente consonante, sem nota adicionada à tríade (Dó maior na figura anterior). Entretanto, com a inserção de uma terça adicional, a dominante recebeu a dissonância de 7ª menor com sua fundamental. Mais que isso, o V recebeu o intervalo de trítono si-fá, a única quinta dissonante da escala maior. A presença desse intervalo gera a tensão (expectativa de resolução) que será associada à função dominante na harmonia funcional. FIGURA 39 – TRÍTONO NA FUNÇÃO DOMINANTE FONTE: O autor TÓPICO 3 — ANÁLISE HARMÔNICA 35 Naturalmente, a tríade do primeiro grau (I), será a tônica principal. Normal- mente as músicas iniciarão e terminarão nesse acorde. Outros dois acordes exercem a função de tônica, embora com menos intensidade: são as tríades que comparti- lham duas notas com o I, o VIm e o IIIm. São espaços de repouso intermediário da harmonia entre a manifestação das outras funções ao longo da música. FIGURA 40 – ACORDES DE FUNÇÃO TÔNICA EM DÓ MAIOR, MOSTRANDO NOTAS COMPAR- TILHADAS COM A TRÍADE DO I FONTE: O autor Os acordes que possuem o trítono em sua composição são da função do- minante. O acorde principal é o V com sétima que vimos em Rameau (V7). Não se trata de uma tríade, mas sim de uma tétrade, acorde formado por três terças sobrepostas. Veremos mais sobre elas mais adiante neste livro didático. Mesmo em contextos diatônicos triádicos é comum que o V7 apareça na função dominan- te. O segundo acorde com função dominante é a tríade do sétimo grau (VIIdim), pois o trítono surge entre sua fundamental e sua 5ª diminuta (RAMEAU, 1787): FIGURA 41 – ACORDES DE FUNÇÃO DOMINANTE EM DÓ MAIOR (EM VERMELHO, INTERVALO DE TRÍTONO) FONTE: O autor Os acordes restantes – IV e IIm – não guardam semelhança suficiente à tríade do I para serem tônicas e não possuem a tensão do trítono para serem do- minantes. Classifica-se, assim, a função que indica movimento centrífugo – em direção contrária ao centro –, a função subdominante. FIGURA 42 – ACORDES DE FUNÇÃO SUBDOMINANTE EM DÓ MAIOR FONTE: O autor 36 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE HARMONIA TONAL No modo menor, boa parte das relações entre graus e funções do modo maior se mantém, ou seja, mantém-se os graus para mesmas funções, levando em consideração as alterações do modo menor. Entretanto, para que o quinto grau do modo menor possua trítono e desempenhe a função dominante é necessário trans- formar a tríade diatônica do modo menor (que é menor), em maior. Vejamos: FIGURA 43 – TRANSFORMAÇÃO DO QUINTO GRAU DO MODO MENOR FONTE: O autor As funções harmônicas são fixadas para cada grau do modo maior e menor. Assim, sabendo a função associada a cada grau e conhecendo os campos harmôni- cos, é possível reconhecer os aspectos funcionais das progressões harmônicas em cada tonalidade. A seguir, veja as funções harmônicas dos modos maior e menor: QUADRO 4 – FUNÇÕES NO MODO MAIOR E MENOR Modo Maior I IIm IIIm IV V VIm VIIdim Função T S T S D T D Modo Menor Im IIdim bIII IVm V bVI bVII Função T S T S D S S FONTE: O autor 2.1 PROGRESSÕES HARMÔNICAS BÁSICAS Conhecendo os campos harmônicos e as funções dos acordes podemos ima- ginar uma série de encadeamentos entre os diferentes acordes no estabelecimento de uma progressão. As progressões básicas iniciam na função tônica, chegam à domi- nante e retornam à tônica, geralmente passando pela subdominante. Uma progres- são harmônica básica poderia ser resumida, funcionalmente, da seguinte forma: T – S – D – T Devemos lembrar que para cada função temos mais de um acorde disponível, o que enriquece as possibilidades de expressão harmônica expressa pela sequência de funções. Vejamos a seguir algumas possíveis realizações da Progressão T-S-D-T: 37 QUADRO 5 – REALIZAÇÕES HARMÔNICAS DA PROGRESSÃO T – S – D – T, EM MODO MAIOR T S D T I IV V I I IIm V I I IV V VIm IIIm IV V I FONTE: O autor QUADRO 6 – REALIZAÇÕES HARMÔNICAS DA PROGRESSÃO T – S – D – T EM MODO MENOR T S D T Im IVm V Im Im IIdim V Im Im bVI V bIII bIII bVII V Im FONTE: O autor Experimente exercitar o seu domínio dos campos harmônicos maiores e me- nores executando as progressões descritas em diversos tons diferentes. Use seu instrumen- to de trabalho (capaz de executar harmonia), software de edição ou solfeje as notas das tríades correspondentes. DICAS Naturalmente, cada uma dessas progressões soa diferente. Entretanto o postulado funcional reforça que, independente das escolhas harmônicas particu- lares, a progressão T – S – D – T, enquanto conceito, unifica todas as possibilida- des de acordes que podem ser conectados respeitando seu pertencimento a essas funções. Para além desta progressão, que apresenta as três funções harmônicas – resumindo, de certa forma, o jogo harmônico – temos mais duas progressões que, ainda mais sintéticas, trabalham com a saída e chegada ao repouso passando apenas por uma das funções de movimento: T – D – T e T – S – T. As progressões T – S – D – T, T – D – T e T – S – T são as chamadas progressões harmônicas básicas. Cada uma delas, por pequena que seja, encerra sentido musical claro e suficiente. Por meio de suas repetições e variações vai se criando o discurso linear da harmonia musical que organiza as músicas tonais completas. Vejamos como essa progressão estrutura a canção “Pirulito que bate- -bate” apresentada no tópico 2: 38 FIGURA 44 – PROGRESSÃO T-S-D-T EM “PIRULITO QUE BATE-BATE” FONTE: O autor Tais variações envolvem, também, a maneira como os acordes são escritos no pentagrama, na inversão e na posição e como cada uma das suas notas se enca- deia com as notas do próximo acorde. O nome desse estudo é condução de vozes ou voicing e é uma modernização do antigo estudo do contraponto visando sua aplicabilidade para o repertório da música popular. É o que veremos agora. 2.2 CONDUÇÃO DE VOZES Ao escrevermos na pauta musical determinada progressão de acordes de- vemos observar algumas regras que procuram garantir o equilíbrio sonoro dos acordes e da progressão. Antes de tudo, devemos buscar manter o número de notas (vozes) para cada acorde, balanceando a densidade média da progressão. A inserção de mais vozes busca a quebra desseequilíbrio, o que deve ser feito so- mente quando necessário, por exemplo, em pontos específicos das composições para os quais deve se chamar atenção. Assim, o adequado é trabalhar como pelo menos quatro vozes – que podem expressar as três notas principais das tríades, mais a 7ª do V na função dominante. Em geral, quando não é informado o ins- trumento para o qual é escrita a harmonia, parte-se do pressuposto de que ela é escrita para o coro à quatro vozes – SATB (Soprano, Contralto, Tenor e Baixo) e respeitam-se os limites de tessitura e registro vocal dessas vozes. 39 FIGURA 45 – REGISTRO E TESSITURA DAS VOZES FONTE: Almada (2000, p. 197) Quando trabalhamos com quatro vozes – quatro notas por acorde – será necessário “dobrar” uma das notas das tríades. Para fazê-lo da melhor forma devemos observar as orientações a seguir: • Não dobrar a terça do acorde. • Priorizar a dobra da fundamental. • A quinta pode ser dobrada. • Em certos contextos a quinta poderá ser omitida (especialmente nas tétrades, como o V7). Vejamos possíveis escritas da tríade de Dó maior em quatro vozes: FIGURA 46 – DIFERENTES ABERTURAS, POSIÇÕES E INVERSÕES DA TRÍADE DE DÓ MAIOR À QUATRO VOZES FONTE: O autor 40 Para a condução de vozes entre dois acordes a regra do menor movimento entre notas da mesma voz deverá ser observada. O princípio é que cada nota de um acorde se desloque o mínimo possível para o acorde seguinte, mantendo-se na mesma altura se for nota comum, ou dirigindo-se para a nota mais próxima no acorde seguin- te, evitando saltos melódicos sempre que possível, especialmente os maiores que a ter- ça (preferindo sempre o movimento por grau conjunto), especialmente na voz mais aguda (soprano). O movimento por grau conjunto descendente deverá ser a primeira opção, especialmente no soprano. A ideia é evitar que a linha mais aguda dos acordes “roube a cena” da melodia que será acompanhada pela harmonia. O baixo tem a liber- dade de seguir essa regra ou de saltar entre as fundamentais dos acordes. Lembramos que não é apenas a escolha dos acordes no preenchimento das progressões básicas que define a sonoridade final da progressão, mas também a escolha na condução de vozes. Vejamos um exemplo de condução de vozes do acorde de Dó maior para Fá Maior: FIGURA 47 – CONDUÇÃO DE VOZES FONTE: O autor No exemplo, as vozes estão com cores para reforçar seu movimento linear (melódico) de uma tríade para a outra. Ambos acordes estão em posição funda- mental: o baixo saltou da fundamental de Dó Maior para a de Fá Maior. O sopra- no possuía nota comum (dó) e, portanto, não houve movimento. O contralto (em laranja) ascendeu meio tom, dirigindo-se da terça de Dó Maior (mi) para a funda- mental de Fá Maior. O tenor (azul) ascendeu da quinta de Dó maior (sol) para a terça de Fá (lá). Nessa progressão todos os acordes estavam completos (com sua Fundamental, 3ª e 5ª). Esse será o nosso objetivo, sempre que possível. É importante reconhecermos que a relação entre a voz mais grave (baixo) e a mais aguda (soprano) é determinante para o equilíbrio da harmonia. Baixo e so- prano são as vozes que mais se escutam, definem inversão e posição e precisam ser tratadas com cuidado. Existem três tipos de movimento que pode haver entre elas, sendo o primeiro e o segundo desejáveis e o terceiro evitado sempre que possível, especialmente em música que trabalha com as tríades como harmonia básica: 41 • Movimento contrário: quando baixo e soprano se movem em direções opostas. • Movimento oblíquo: quando uma das vozes não se move enquanto a outra se direciona ascendentemente ou descendentemente. • Movimento paralelo: quando as vozes se dirigem para a mesma direção. Vejamos alguns exemplos: FIGURA 48 – MOVIMENTO CONTRÁRIO ENTRE BAIXO E SOPRANO FONTE: O autor FIGURA 49 – MOVIMENTO OBLÍQUO ENTRE BAIXO E SOPRANO FONTE: O autor FIGURA 50 – MOVIMENTO PARALELO ENTRE BAIXO E SOPRANO FONTE: O autor 42 A condução do acorde V7 (acorde no qual há o trítono) é bastante particu- lar e mais regulada: a 7ª do V7 resolve na 3ª do I e a 3ª do V na Fundamental do I, ou seja, as notas o trítono – 3ª e 7ª do V – resolvem nos semitons diatônicos mais próximos – Fundamental e 3ª da Tônica, respectivamente. FIGURA 51 – RESOLUÇÃO NORMATIVA DO ACORDE V7 FONTE: O autor Vejamos algumas progressões harmônicas básicas com sua condução de vozes: FIGURA 52 – PROGRESSÃO T S D T EM DÓ MAIOR FONTE: O autor FONTE: O autor FIGURA 53 – PROGRESSÃO T S D T EM DÓ MAIOR (COM INVERSÕES) 43 FONTE: O autor FONTE: O autor FONTE: O autor FIGURA 54 – PROGRESSÃO T S D T EM LÁb MAIOR (COM INVERSÕES) FIGURA 55 – PROGRESSÃO T - S -D -T ELABORADA COM MAIS ACORDES EM MI MAIOR FIGURA 56 – PROGRESSÃO T S D T EM SOL MENOR (COM INVERSÕES) 3 FRASES HARMÔNICAS, QUADRATURA E CADÊNCIAS O número quatro é muito importante para se compreender a forma mu- sical e sua relação com a harmonia tonal. Em geral, as estruturas musicais são construídas sobre múltiplos do número quatro, tendo as peças mais simples 8, 12, 16 ou 32 compassos de extensão tendo cada frase individual quatro compassos. Mesmo desconsiderando distintos aspectos particulares de cada gênero musical, a observação de quatro compassos para cada frase musical tende a ser dominante na maior parte do repertório tonal (CAPLIN, 1998). Essa organização está presente em toda música instrumental erudita do chamado período da prá- tica comum (séculos XVII-XIX) e na música popular de danças e cantigas popula- res. Vejamos um exemplo bastante simples. 44 FIGURA 57 – “PIRULITO QUE BATE BATE” FONTE: O autor A cantiga “Pirulito que bate, bate” possui oito compassos divididos em duas frases (início em anacruse). Cada uma das frases está estruturada sobre uma mesma harmonia: a da progressão básica I - IV - V - I, que, como vimos, expressa cada uma das funções harmônicas. Podemos ver, pela letra e melodia, que a cesura (fechamen- to) das frases é bastante evidente, pela pausa de colcheia. A seta será utilizada para sinalizar o importante movimento de Dominante - Tônica na análise gráfica. A inversão de um acorde não modifica sua função principal, de acordo com a teoria funcional da harmonia. As inversões dos acordes apresentados no exemplo anterior foram inseridas como variação, para compensar a repetição das mesmas tríades. NOTA Vejamos o exemplo a seguir, da cantiga “Se essa rua fosse minha”: 45 FIGURA 58 – “SE ESSA RUA FOSSE MINHA” FONTE: O autor Nesta canção de oito compassos em modo menor, temos novamente, a or- ganização em duas frases de quatro compassos. Neste exemplo, entretanto, a me- lodia da segunda frase é ligeiramente distinta e reforça mais a chegada na tônica final (último acorde). Enquanto a primeira frase se estrutura sobre a progressão I - V e seu retorno V - I, com sua simplicidade característica, a frase dois utiliza a pro- gressão I - IV - V - I em modo menor, reforçando o movimento de afastamento da tônica (I) com a subdominante (IV) e o conseguinte retorno (V - I). Essa progressão de quatro estágios (I - IV - V - I) cumpre um papel importante para sinalizar fim de formas musicais: apresenta todas as funções ao retornar para a tônica final. As frases de quatro compassos geralmente se agrupam também em múlti- plos de quatro: 4, 8, 12, 16 ou 32 compassos. Esta forma de organização se assemelha à quadra poética e é chamada, na música, de quadratura. Nos exemplos de peque- nas cantigas é comum termos formas menores que a quadratura padrão, como nos exemplos recém apresentados. Observemos agora a quadratura de uma canção de 16 compassos, Pela luz dos olhos teus, de Tom Jobim com letra de Vinícius de Moraes. Em Pela luz dos olhos teus cada uma das frases tem uma estrutura harmô- nica distinta. Na primeira frase (compassos 1-4) temos uma harmonia que parte da tônica nos primeiros compassos e se dirige à subdominante (I - IIm). Já na segunda frase (c. 5-8), há um retorno para a tônica, a partir da dominante. Estas primeiras duas frases sãoorganizadas na progressão harmônica I - IIm - V - I, uma das variações possíveis da progressão de quatro estágios (T-S-D-T). Na terceira frase (c. 9-12) temos uma partida da tônica para uma sub- dominante (IV), utilizando recursos que discutiremos mais adiante. Nessa frase 46 a harmonia mais importante é o IV. Na frase final (c. 13-16) temos o retorno e confirmação da tônica por meio da harmonia V-I dos compassos finais. O ritmo harmônico – ritmo de troca de acordes medido pela duração, em compassos, de cada acorde – é de dois compassos por acorde. A única alteração está na quarta frase, onde o acorde de tônica é seguido, no compasso posterior, pela dominante e a dominante é seguida pela tônica final, que permanece por mais um compasso. Esse procedimento destaca a última frase como fim do trecho musical. A progres- são I - V - I funciona como uma confirmação da chegada da tônica nessa peça. FIGURA 59 – PELA LUZ DOS OLHOS TEUS FONTE: O autor 47 3.1 CADÊNCIAS Ao fim das peças ou das frases musicais, em geral no compasso final de uma quadratura, há algumas progressões harmônicas típicas que servem para fina- lizar os trechos musicais, como acabamos de ver nos compassos finais de Pela luz dos olhos teus. Essas progressões são chamadas cadências. Boa parte da literatura musical concorda com a existência de três tipos de cadência: a cadência que termina na tônica, antecedida pela dominante (V7 -> I), chamada autêntica; a que termina a frase musical na dominante (V), chamada semicadência ou meia cadência; e a ca- dência que chega à tônica por meio da subdominante (IV – I), a chamada cadência plagal. Há ainda uma quarta cadência, chamada cadência de engano, que resulta da ida da dominante para outro grau que não a tônica. Em todo o caso, essas pro- gressões devem soar como pontuações da progressão harmônica, como seu alvo. QUADRO 7 – CADÊNCIAS TÍPICAS Cadência Autêntica V- I Semicadência V Cadência Plagal IV – I Cadência de engano V -> (acorde que não seja o I) FONTE: O autor Ouça o trecho de Obladi-Oblada, seguindo a cifra a seguir em https://bit.ly/3k- gihHl. Reconheça auditivamente as cadências de engano analisadas na cifra. DICAS FIGURA 60 – CIFRA DO CÔRO DE OBLADI-OBLADA FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/34fqG8j>. Acesso em: 29 set. 2020. 48 No trecho a seguir do Minueto em Sol de Johann Sebastian Bach (1685- 1750) temos uma frase de oito compassos que encontra seu fim sobre um V, ca- racterizando, assim, uma semicadência: Ouça trecho do Minueto em Sol Maior de J.S.Bach em https://bit.ly/3kjFZ5m, seguindo a partitura a seguir. DICAS FIGURA 61 – TRECHO DO MINUETO EM SOL MAIOR DE J.S.BACH FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3oaGjpy>. Acesso em: 5 out. 2020. O último “aleluia” do famoso Aleluia de George Friedrich Händel (1685- 1759) nos apresenta uma cadência plagal. Ouça o trecho do Aleluia de Handel em https://bit.ly/35kmxz4 e perceba a grandiosa cadência plagal ao fim da peça. DICAS 49 FIGURA 62 – TRECHO DO “ALELUIA” DE HANDEL FONTE: <https://bit.ly/2HiGE8T>. Acesso em: 5 out. 2020. 50 LEITURA COMPLEMENTAR TRÍADES DO MODO MENOR CAPÍTULO 2 DO LIVRO “HARMONIA: UMA ABORDAGEM PRÁTICA Maria Ramires Rosa de Lima A escala menor pode ser apresentada em três formas diferentes: escala menor antiga, escala menor harmônica e escala menor melódica. Estas denomi- nações são apenas termos usados para nomear as alterações possíveis no modo menor. Numa mesma peça, podem ser encontradas passagens que utilizam a es- cala menor harmônica seguida pelo emprego da escala melódica etc. A apresentação das tríades diatônicas resultantes em cada uma das três formas da escala menor tem como objetivo mostrar as semelhanças e ressaltar as diferenças geradas a partir das alterações provenientes de cada uma delas. Sob o título "Tríades diatônicas usuais no modo menor" serão apresentadas e contextu- alizadas as tríades e as alterações que frequentemente figuram no modo menor. Tríades diatônicas da escala menor antiga A escala menor antiga ou natural tem sete notas e, consequentemente, são sete as tríades obtidas. Exemplo 2-1 – Escala de Lá menor antiga e suas tríades: Tríades construídas sobre cada uma de suas notas: O exemplo 2-2 traz, a partir de Lá menor antiga, um quadro com o nome da tríade, sua tipologia e cifragem. 51 Exemplo 2-2 – As tríades diatônicas de Lá menor antiga, sua classificação e cifragem: Tríade construída sobre: Tipo de tríade Nome Cifragem a primeira nota da escala menor Lá menor i a segunda nota da escala diminuta Si diminuto ii° a terceira nota da escala maior Dó Maior III a quarta nota da escala menor Ré Menor iv a quinta nota da escala menor Mi menor v a sexta nota da escala maior Fá Maior VI a sétima nota da escala maior Sol Maior VII Compare as tríades do exemplo 2-2 (em Lá menor antiga) com as do exemplo 1-1 (em Dó Maior), no capítulo 1. Observe que a escala menor antiga traz como tríades resultantes as mesmas sete tríades diatônicas presentes na to- nalidade maior da qual ela é relativa (Dó Maior). Tríades diatônicas da escala menor harmônica A escala menor harmônica traz sua sétima nota alterada em um semitom acima da armadura de clave. Tal alteração é muito importante para a harmonia, pois se constitui na modificação necessária à obtenção da sensível, isto é, um inter- valo de semitom entre a sétima e a oitava nota da escala. Assim, a tríade construída sobre a quinta nota da escala passa a ser maior e a assumir o papel de dominante do tom (V), o mesmo papel e tipologia apresentada pelo V no modo maior. Exemplo 2-3 – Escala de Lá menor harmônica e suas tríades: Tríades construídas a partir de cada uma de suas notas: 52 O exemplo 2-4 traz, a partir de Lá menor harmônica, um quadro com o nome da tríade, sua Tipologia e cifragem. Exemplo 2-4 – as tríades diatônicas de Lá menor harmônica, sua classifi- cação e cifragem Tríade construída sobre: Tipo de tríade Nome Cifragem a primeira nota da escala menor Lá Menor i a segunda nota da escala diminuta Si diminuto ii° a terceira nota da escala aumentada Dó Aumentado III+ a quarta nota da escala menor Ré Menor iv a quinta nota da escala maior Mi Maior V a sexta nota da escala maior Fá Maior VI a sérima nota da escala diminuta Sol# diminuto vii° Observe que na escala menor harmônica existe um intervalo de segunda au- mentada entre a sexta e a sétima notas. Embora considerado dissonante do ponto de vista melódico, as duas notas envolvidas são fundamentais ao modo menor. A sétima nota (nota sol#, em Lá menor) cumpre o papel de sensível, terça da tríade sobre o V grau e a sexta nota da escala menor harmônica (nota fá, em Lá menor) assegura que, na descida da escala, a expectativa da terça menor seja atendida (nota dó, em Lá menor). Tríades diatônicas da escala menor melódica A escala menor melódica traz em sua forma ascendente as alterações, em um semitom acima, de suas sexta e sétima notas. Na descida, estas notas voltam conforme a armadura de clave. Tais alterações se justificam por questões muito mais melódicas do que harmônicas. Aliás, tal argumento é reforçado pelo próprio nome da escala. Ao adotar cada uma das notas da escala menor melódica como uma pos- sível fundamental na construção das tríades, obtêm-se treze tríades diferentes. Exemplo 2-5 – Escala de Lá menor melódica e suas treze tríades Tríades construídas a partir de cada uma de suas notas: 53 O exemplo 2-6 traz, a partir de Lá menor melódica, um quadro com o nome da tríade, sua tipologia e cifragem. Exemplo 2-6 – As treze tríades de Lá menor melódica, sua classificação e cifragem: Tríade construída sobre: Tipo de Tríade Nome Cifragem a primeira nota da escala menor Lá menor i a segunda nota da escala diminuta menor Si diminuto Si menor ii° ii a terceira nota da escala maioraumentada Dó Maior Dó Aumentada III III+ a quarta nota da escala menormaior Ré menor Ré Maior iv IV a quinta nota da escala menormaior Mi menor Mi Maior v V a sexta nota da escala maiordiminuta
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