Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE CADERNO DE SAÚDE DO IDOSO 2 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA (AGA) 03/08/2021 GERIATRIA: Ramo da Medicina que se preocupa com: ✓ O processo de envelhecimento; ✓ Prevenção, diagnóstico e tratamento de problemas de saúde em idosos; ✓ Condições socioeconômicas e ambientais que afetam o estado de saúde dos idosos. QUEM É O IDOSO NO BRASIL? Segundo a OMS, o idoso é toda pessoa: AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA: A AGA pode também ser chamada de avaliação multidisciplinar ou avaliação global do idoso, a qual envolve todo processo diagnóstico multidimensional, geralmente interdisciplinar, visando avaliar o paciente em vários domínios (físico, mental, social, funcional e ambiental). Objetivos: ✓ Entender a importância e a utilidade da AGA no atendimento ao idoso, principalmente o frágil; ✓ Compreender como e quando aplicar a AGA; ✓ Reconhecer quais as intervenções que podem ser planejadas de acordo com as informações obtidas através da AGA. Onde pode ser aplicada? 1. ILPI – Instituições de longa permanência para idosos; 2. Ambulatórios; 3. Emergências; 4. Visita domiciliar. Quais são os parâmetros avaliados na AGA? ✓ Estado funcional: equilíbrio e mobilidade/atividade da vida diária/atividade instrumental da vida diária. 3 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ✓ Condições de saúde: lista ou mapa de problemas/comorbidades, gravidade das doenças/inventário de medicamentos, deficiências sensoriais, avaliação nutricional. ✓ Funcionamento social: disponibilidade e adequação social/condições ambientais. ✓ Cognição e humor: função cognitiva/rastreio depressão. AVALIAÇÃO FUNCIONAL: TIMED GET UP AND GO: Avalia o equilíbrio do paciente quando sentado, durante a marcha e na transferência. E de acordo com o tempo, o idoso pode ser classificado em independente ou dependente. 4 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE INSTRUMENTO DE AVD (ATIVIDADE DA VIDA DIÁRIA) – ÍNDICE DE KATZ: Outro instrumento que nos permite avaliar a funcionalidade do idoso, classificando-o em independente, dependente parcial e dependente total. **PONTUAR 1 PONTO PARA CADA RESPOSTA SIM** E, de acordo com o resultado temos a classificação do idoso: ✓ 6-5 pontos: independente. ✓ 4-3 pontos: dependente parcial. ✓ 2 pontos: dependente total. INSTRUMENTO DE AIVD (ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DA VIDA DIÁRIA) - ESCALA DE LAWTON: Outro instrumento que permite classificarmos o idoso, de acordo com a pontuação, em: ✓ 25-27 pontos: independente. ✓ 21-25 pontos: dependente leve. ✓ 16-20 pontos: dependente moderado. ✓ 10-15 pontos: dependente grave. ✓ 9 pontos: totalmente dependente. 5 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE CONDIÇÕES SÓCIO AMBIENTAIS: Diretamente relacionadas ao suporte familiar do idoso, ambiente em que vive e se tem ou não cuidador. 6 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN): Avaliação que permite classificarmos o idoso em estado nutricional normal, sob risco de desnutrição ou desnutrido. AVALIAÇÃO COGNITIVA/HUMOR: 7 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO COGNITIVA – MEEM: O Mini exame do estado mental (MEEM) permite avaliarmos a função cognitiva do idoso, permitindo realizar o score de uma possível demência de acordo com a pontuação do exame: ✓ <24 pontos: altamente escolarizado. ✓ <18 pontos: ginásio. ✓ <14 pontos: analfabeto. 8 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO COGNITIVA – FLUÊNCIA VERBAL: Instruções: Agora o Sr(a) vai me falar nomes de animais ou de frutas, o máximo de nomes possíveis. Pode ser qualquer tipo de animal ou de fruta. Fale o mais rápido que puder. Pode começar. **MARCAR 1 MINUTO NO RELÓGIO** Pontuação de acordo com a escolaridade: ✓ Analfabetos: 12 palavras. ✓ 1-4 anos: 13 palavras. ✓ 5-8 anos: 14 palavras. ✓ 9-11 anos: 16 palavras. ✓ >11 anos: 18 palavras. AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO COGNITIVA – TESTE DO DESENHO DO RELÓGIO: Instruções: Pede-se ao idoso que desenhe um mostrador de relógio com números. Em seguida, solicita-se que sejam acrescentados os ponteiros do relógio, de horas e minutos, representando ali um horário específico, por exemplo, 2 horas e 45 minutos. Pontuação: ✓ Desenho do círculo correto: 1 ponto. ✓ Números na posição correta: 1 ponto. ✓ Incluiu todos os 12 números: 1 ponto. ✓ Os ponteiros estão na posição certa: 1 ponto. RASTREIO DE DEPRESSÃO: O rastreio de depressão no idoso pode ser feito a partir da aplicação da escala de depressão geriátrica. E, de acordo com a sua pontuação, o idoso pode ser classificado com: ✓ > ou igual a 5 pontos: depressão leve. ✓ > ou igual a 8 pontos: depressão moderada. ✓ > ou igual a 12 pontos: depressão grave. 9 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA (AGA): 1. IDENTIFICAÇÃO: nome, data de nascimento, idade, sexo, etnia, estado civil, naturalidade, profissão, principal cuidador. 2. QUEIXA PRINCIPAL. 3. HPMA. 4. MEDICAMENTOS DE USO CONTÍNUO. 5. ANTECEDENTES PESSOAIS. 6. ANTECEDENTES CIRÚRGICOS. 7. HÁBITOS E VÍCIOS. 8. ANTECEDENTES FAMILIARES. 9. HISTÓRICO DE QUEDAS: caiu no último ano? Se sim, quantas vezes? 10. ALERGIAS. 11. VACINAÇÃO. 12. ISDA: visão, audição, deglutição/cavidade oral, alimentação, aparelho respiratório, aparelho cardiovascular, TGI, TGU, osteomuscular, musculoesquelético, neurológico. 13. DIMENSÃO AVALIADA: 10 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE 14. EXAME FÍSICO: altura, peso, FC, FR, saturação, PAS deitada, PAS sentada, PAD deitada, PAD sentada, PAS em pé, PAD em pé, AR, ACV, ABD, extremidades, neurológico, musculoesquelético, pele, outros. OBS: Hipotensão ortostático/postural é muito comum nos idosos, esperar de 1-2 min entre cada medida. DIAGNÓSTICOS: CASO CLÍNICO: MMK, 72 anos, viúva há 3 meses, natural do interior de SP, escolaridade 3 anos, costureira aposentada. Procurou atendimento para fazer check-up, porque sua vizinha insistiu. Conta que não procura médico há vários anos, mas não tem precisado porque nunca apresentou nenhuma doença, e não toma medicamento algum. Diz que já tentou fazer caminhadas, mas desistiu porque precisa cuidar do seu neto. Fuma 2 maços por dia há 50 anos, não faz nenhuma dieta, apesar de estar ganhando peso, e nunca tomou vacinas, porque tem medo de ficar doente e estragar o que está bom. Nesse último ano caiu 3x, tropeçou nos móveis e no cachorro. Pai e mãe falecidos de IAM aos 60 anos. Nega alergia. 11 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ISDA: ✓ Visão: pouco embaçada, refere não lembrar a última vez que foi ao oftalmologista. ✓ Audição: escuta até demais. ✓ Cavidade oral: diversos dentes moles, dificuldade para se alimentar com comidas mais consistentes. ✓ Alimentação: café da manhã (pão com manteiga e café), lanche da manhã (café), almoço (macarrão/polenta/frango – não come verduras/não come carne devido aos dentes), lanche da tarde (café + bolo), jantar (repete o almoço), ceia (não faz). ✓ Aparelho respiratório: sem alterações. ✓ TGI: constipada – evacua a cada 3-4 dias com uso de supositório às vezes. ✓ TGU: perde xixi quando tosse/faz esforço. ✓ Neurológico: tontura às vezes. ✓ Pele: seca. ✓ Sono: dificuldade para pegar no sono (insônia). ✓ Memória: um pouco esquecida. ✓ Sintomas depressivos: ansiosa, nervosa e chorosa. Resultados dos instrumentos de avaliação: EXAME FÍSICO: ✓ Peso: 82,8Kg. ✓ Altura: 1,69m. ✓ IMC: 28,9. ✓ PA: 140x90mmHg (3 posições). ✓ AR: MV + s/RA. ✓ ACV: BRNF em 2T s/s. ✓ ABD: globoso, flácido, sem massas ou visceromegalias.12 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ✓ Extremidades: discreto aumento de volume e crepitação em ambos os joelhos. ✓ Marcha: alterada – arrasta os pés para caminhar. HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS: PLANO TERAPÊUTICO: A AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA É O CORAÇÃO E A ALMA DA MEDICINA GERIÁTRICA. 13 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO NO ENVELHECIMENTO 04/08/2021 ENVELHECER SEM DOENÇA CRÔNICA É UMA EXCEÇÃO (IBGE-2008): OSSO MATA INDIRETAMENTE: Osso mata indiretamente, principalmente, nos primeiros 6 meses da fratura. Sendo a principal complicação da fratura o quadro de TEP (tromboembolismo pulmonar) devido a imobilidade a longo prazo. PRINCIPAIS COMPONENTES DO TECIDO ÓSSEO: 14 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE TECIDO ÓSSEO DO IDOSO: **80% da produção da vitamina D é feita pela pele e não pela ingestão** CARTILAGEM ARTICULAR: Com o envelhecimento, a cartilagem articular passa a apresentar: ✓ Uma menor agregação proteoglicana, ou seja, uma menor resistência mecânica; ✓ Colágeno (tipo II) menor hidratação, maior resistência a colágenos e maior afinidade pelo cálcio; ✓ Redução da função reparadora. DOENÇAS MAIS COMUNS NOS IDOSOS: As doenças mais comuns nos idosos são: ✓ Osteopenia; ✓ Osteoporose; ✓ Osteoartrose; ✓ Sarcopenia – síndrome geriátrica, não é classificada como doença. 15 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE SARCOPENIA 04/08/2021 CONCEITO: A sarcopenia corresponde a um quadro de perda da massa muscular, força e função muscular, relacionada com o envelhecimento. Sendo considerada uma síndrome geriátrica e não uma doença, uma vez que faz parte do processo de envelhecimento, podendo ser prevenida por ações que aumentem a mobilidade do idoso, permitindo que ele consiga realizas as AVD e AIVD. DEFINIÇÃO: A sarcopenia é uma síndrome caracterizada por progressiva e generalizada perda de massa e função muscular com risco de eventos adversos, como por exemplo, incapacidade física, perda da qualidade de vida e morte. PREVALÊNCIA: Tem uma prevalência de 5-13% nos idosos entre 60-70 anos e, de 11-50% nos acima de 80 anos de idade. CONSEQUÊNCIAS: As síndromes geriátricas são o resultado de interações não completamente compreendidas entre doenças e envelhecimento dos múltiplos sistemas, o que produz uma gama de sinais e sintomas com consequências desastrosas para o idoso. Tais como: incapacidade, dependência, institucionalização e morte. Elevada prevalência na população idosa, múltiplos fatores etiológicos e consequências ruins para a saúde do idoso, são fatores que justificam a inclusão da sarcopenia como uma síndrome geriátrica. ENVELHECIMENTO E MASSA MUSCULAR: A perda de massa muscular que ocorre durante o processo de envelhecimento não deve ser encarada como um problema que se inicia somente quando o indivíduo alcança a faixa etária avançada. A sarcopenia deve ser considerada sob a perspectiva de um modelo contínuo de vida, ou seja, deve ser observada desde o nascimento do indivíduo. Exemplo: Indivíduos com picos de massa muscular mais baixos na fase jovem têm maior probabilidade de apresentar sarcopenia, fragilidade e incapacidade à medida que a idade avança. O pico de massa muscular em um indivíduo saudável ocorre por volta dos 25 anos de idade. Assim como a força, a massa muscular é praticamente mantida entre os 25-30 anos de idade, com uma redução de apenas 5% no número de fibras musculares e cerca de 10% no tamanho das fibras. Contudo, é entre os 50-80 anos que ocorre a maior perda 16 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE da massa muscular, o número de fibras sofre uma redução de 35%, enquanto o tamanho das fibras é reduzido em cerca de 30%. OBS: A redução ocorre predominantemente nas fibras de contração rápido, ou seja, do tipo II. No gráfico abaixo, podemos ver a sarcopenia relacionada com as diferentes fases da vida: ETIOLOGIA E PATOGÊNESE: Múltiplos fatores de risco e vários mecanismos contribuem para o desenvolvimento da sarcopenia, entre os principais fatores estão: ✓ Falta de atividade física; ✓ Baixa ingesta calórica e proteica; ✓ Modificações hormonais; ✓ Alterações nos níveis de citocinas. 17 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE OBS: As principais interleucinas que se encontram alteradas (aumentadas) no idoso são a TNF alfa e a IL-6, ambas interleucinas que agem na área de inflamação, principalmente, óssea e muscular. O que justifica serem fatores de risco para a sarcopenia. Alterações no remodelamento muscular, perda de neurônios motores-alfa, além de alterações no recrutamento de células musculares e apoptose são mecanismos que contribuem para a patogênese da sarcopenia. E, fatores genéticos podem ter papel importante na explicação das diferenças entre força e desempenho muscular de cada indivíduo. FALTA DE ATIVIDADE FÍSICA: Idosos que fazem pouca atividade física apresentam fraqueza muscular e, consequentemente, redução maior na capacidade de realiza-la, além de perderem massa e força muscular. Atividades aeróbicas, como caminhar, correr, pedalar ou nadar, aumentam o consumo máximo de oxigênio, melhorando a adaptação neuromuscular e a função muscular, diminuindo a morbidade e mortalidade. A atividade física pode ser dividida em 2 tipos, com diferentes objetivos, são eles: 1. Atividade aeróbica: gera aumento da síntese proteica e diminuição da massa gordurosa. 2. Atividade de resistência: gera ganho de força e qualidade muscular. 18 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE BAIXA INGESTA CALÓRICA E PROTEICA: A taxa de síntese de proteína muscular sofre redução de aproximadamente 30% no idoso. Fatores nutricionais, doenças e inatividade são os principais fatores responsáveis por essa redução. Baixa ingesta calórica e proteica em pessoas idosas está associada ao desenvolvimento da fragilidade. Diversos mecanismos levam à diminuição da ingesta alimentar pelo idoso (anorexia do envelhecimento), tais como: ✓ Apetite/saciedade precoce: em decorrência do aumento da liberação de colecistocinina e elevação da leptina). ✓ Redução da função de órgãos sensoriais como paladar e olfato: vão sendo diminuídos ao longo dos anos, diminuindo mais ainda o apetite deles. ✓ Alteração na dentição: dificulta a ingesta de alimentos mais sólidos, como por exemplo, carne. Por isso, eles preferem, na maioria das vezes, comer uma sopa. MODIFICAÇÕES HORMONAIS: Há evidências de que alterações hormonais relacionadas com o envelhecimento estão ligadas à perda de massa e força muscular, tais como: ✓ Insulina: a sarcopenia pode ser acompanhada por aumento progressivo da gordura corporal total e da gordura intramiocelular, as quais estão associadas a risco elevado de resistência à insulina. ✓ GH e IGF-1: ambos declinam com a idade e são prováveis contribuintes para o desenvolvimento da sarcopenia, uma vez que, com isso, ocorre um aumento da gordura corporal, diminuição da massa magra e piora do perfil lipídico. Além da diminuição da síntese de proteínas nas fibras existentes. ✓ Testosterona: relacionada a perda de massa, de força e função muscular, entrando em declínio lentamente no homem idoso (1% ao ano). ✓ DHEA: diminui consideravelmente com a idade, colaborando coma perda da massa e força muscular também. ✓ Vitamina D e PTH: os níveis de vitamina D diminuem com a idade, exercendo provável efeito anabólico nos músculos. E, baixos níveis de vitamina D são frequentemente associados à sarcopenia e ao aumento no risco de quedas. OUTROS FATORES ASSOCIADOS À SARCOPENIA: E, outros fatores associados à sarcopenia são: ✓ Elevados níveis de citocinas (TNF alta e IL-6); ✓ Perda da função neuromuscular (perda de neurônios motores-alfa); ✓ Disfunção mitocondrial (dano cumulativoao DNA devido envelhecimento); ✓ Apoptose (apoptose acelerada dos miócitos, principalmente fibras do tipo II); ✓ Influência genética (variabilidade muscular de pessoa para pessoa). 19 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE CLASSIFICAÇÃO E ESTÁGIOS: Na maioria dos casos é difícil identificar uma causa única como responsável pelo processo de sarcopenia. Contudo, classificá-la como primária ou secundária pode ser útil na prática clínica. O estadiamento dessa enfermidade reflete a gravidade da condição. Essa informação pode ser útil na prática clínica, pois pode auxiliar na identificação precoce e no manejo preventivo e terapêutico da sarcopenia. O EWGSOP sugere três estágios para essa condição: A sarcopenia ainda pode ser dividida em 2 tipos, são eles: 1. Sarcopenia primária: relacionada à idade, sem outra causa identificada além do envelhecimento. 2. Sarcopenia secundária: ▪ Relacionada à atividade física – repouso no leito, sedentarismo ou descondicionamento físico; ▪ Relacionada a doenças – neoplásicas, inflamatórias, endócrinas ou falência grave de órgãos (coração, pulmão, fígado, rim e cérebro); ▪ Relacionada à nutrição – ingesta inadequada de calorias e/ou proteínas, doenças do TGI ou disarbsortivas, ou ainda por medicamentos anorexígenos. DIAGNÓSTICO: 20 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE A avaliação da massa magra pode ser feita de diversas formas, como por exemplo, bioimpedância, TC muscular, RN muscular, avaliação de pregas, densitometria musculas, avaliação de panturrilha, etc. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: A sarcopenia é encontrada em outras síndromes que cursam com grande perda de massa muscular. A diferenciação entre essas síndromes é importante para que se identifique a abordagem diagnóstica e terapêutica apropriada para cada condição. Os principais diagnósticos diferenciais que devemos ter em mente em relação à sarcopenia são: ✓ Caquexia: síndrome metabólica complexa, associada à doença crônica (Ex: câncer, IC, DPOC, etc) e caracterizada pela perda de músculo, com ou sem a perda de massa gorda. ✓ Obesidade sarcopênica: quadro de causas sistêmicas (em condições como CA, AR e o próprio envelhecimento), no qual o paciente se apresenta com baixa massa magra e com massa gordurosa preservada ou aumentada. ✓ Fragilidade: é uma síndrome biológica de diminuição da capacidade de reserva homeostática do organismo e de resistência aos estressores, cursando om um quadro em que ocorre queda das reservas e da resistência do paciente, declínio em múltiplos sistemas e aumento da vulnerabilidade. ✓ Osteoporose: manter ou aumentar a massa magra pode auxiliar a preservar a densidade mineral óssea dos idosos. TRATAMENTO: A abordagem terapêutica atual da sarcopenia baseia-se em intervenções não farmacológicas e farmacológicas. Estudos sugerem que a sarcopenia seja uma causa potencialmente reversível de incapacidade e que pode haver benefícios caso as intervenções sejam realizadas, especialmente, nos estágios mais precoces. A Sarcopenia é uma síndrome geriátrica que não tem cura, tendo em vista que não é uma doença, mas existem algumas atitudes que podem ajudar a preveni-la e evitar sua progressão, tais como: ✓ Atividade física de resistência associada com atividade física aeróbica; ✓ Aumento da exposição solar; ✓ Aumento da ingesta de vitamina D; ✓ Melhora do aporte nutricional de proteína. O PRINCIPAL TRATAMENTO É A MUDANÇA NO ESTILO DE VIDA! 21 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE SÍNDROME DA FRAGILIDADE DO IDOSO 04/08/2021 DEFINIÇÃO: É uma patologia, diferentemente da sarcopenia que é uma síndrome geriátrica. Tendo como fatores predisponentes: Os idosos portadores desta tríade estão propensos á redução acentuada da massa muscular e a um estado inflamatório crônico que, se associados a fatores extrínsecos como a incidência de doenças agudas ou crônicas, a imobilidade, a redução da ingestão alimentar e outros, levariam a um ciclo vicioso de redução de energia e aumento da dependência e susceptibilidade a agressores. EPIDEMIOLOGIA: Tem uma prevalência de 2,5% entre 65-70 anos e >30% acima dos 90 anos de idade. FISIOPATOLOGIA E FATORES PREDISPONENTES: O estudo da fisiopatologia da fragilidade é dificultado pela complexidade dos sistemas envolvidos e pela coexistência frequentes de doenças agudas, crônicas e incapacidades. Segundo a teoria proposta por Fried, a síndrome seria embasada na redução da atividade de eixos hormonais anabólicos, na instalação da sarcopenia e na presença de um estado inflamatório crônico. Estas três alterações, quando intensas o suficiente, interagem entre si de maneira deletéria, precipitando a ocorrência de um ciclo autossustentado de redução de energia, perda de peso, inatividade, baixa ingestão alimentar e sarcopenia. Diversos fatores, como doenças agudas e crônicas, alterações próprias do envelhecimento, efeito de medicamentos, quedas e outras condições mórbidas, contribuem para que uma pessoa idosa entre no ciclo de fragilidade. 22 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Outros fatores importantes envolvidos na gênese da fragilidade são: carga genética, estilo de vida e doenças ou lesões apresentadas pelo paciente. Portanto, trata-se de uma síndrome multissistêmica de instalação lenta, que causa vulnerabilidade da regulação homeostática, devido diferentes fatores envolvidos na sua patogênese. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: As manifestações da síndrome da fragilidade propostas por Fried são: ✓ Perda de peso não intencional; ✓ Fraqueza muscular; ✓ Fadiga; ✓ Redução da velocidade da marcha; ✓ Redução do nível de atividade física. E, ainda que não determinantes da fragilidade, são frequentes entre os seus portadores anormalidades da marcha e balanço, ocorrência de quedas, sintomas depressivos, redução da massa óssea, alterações cognitivas e déficits sensoriais. Como também, a vulnerabilidade a processos infecciosos ou traumáticos e a má resposta às terapêuticas instituídas. 23 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE OBS: A fragilidade é multissistêmica e de instalação lenta X A incapacidade pode ser aguda e comprometer um único sistema (EX: AVC gerando sequelas permanentes). **O PACIENTE PORTADOR DE INCAPACIDADE PODE NÃO SER PORTADOR DE FRAGILIDADE** CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: Os critérios mais frequentemente empregados em estudos internacionais são adaptados dos estudos de Fried e Walston, compondo cinco diferentes critérios, apresentados no quadro abaixo: CRITÉRIOS LABORATORIAIS: Mesmo que, dada a fisiopatologia da fragilidade, diversos exames laboratoriais possam estar alterados (marcadores de aumento da atividade inflamatória, redução da creatinina sérica, redução da albumina sérica, anemia, alterações hormonais), nenhum destes testes, empregados isolados ou em conjunto, possibilita o diagnóstico de fragilidade ou para ele contribui de modo definido. ABORDAGEM TERAPÊUTICA: Diversas modalidades de tratamento vêm sendo propostas para a síndrome da fragilidade, mas ainda não estão disponíveis tratamento específicos para a síndrome como um todo. As intervenções atualmente propostas se baseiam especificamente em: ✓ Atividade física para promover o aumento da massa muscular; ✓ Suplementação alimentar para reduzir a perda de massa magra e promover a melhoria do estado energético; ✓ Suplementações hormonais buscando quebrar o ciclo de fragilidade em seus componentes relacionados com a desregulação neuroendócrina; ✓ Medicações de diversas naturezas, com atuação em componentes da fisiopatologia da síndrome (anti-inflamatórios, miostáticos, anabolizantes, etc). 24 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE PREVENÇÃO: Uma vez que o tratamento da síndrome da fragilidade ainda éconsiderado limitado, a sua prevenção, quando possível, é primordial. A prevenção da fragilidade inclui mudanças no estilo de vida, suspensão do tabagismo, da ingestão excessiva de álcool e da ingestão de substância psicoativas, além do tratamento rigoroso de doenças crônicas e rápido de doenças agudas. Acrescendo a essas medidas, as recomendações próprias para a promoção do envelhecimento saudável, como alimentação balanceada e diversificada, manutenção de atividade física adequada e o uso correto de medicamentos. E, para prevenção secundária, além do que já foi citado, é importante a prevenção de quedas, a correção de perdas com órteses e a reposição de vitaminas e minerais quando apropriado. 25 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE PERDA DE PESO INVOLUNTÁRIA 04/08/2021 DEFINIÇÃO: A perda de peso involuntária define-se como uma perda de 5% ou mais em relação ao seu peso corporal, em 6 meses. Ou de 10% em 12 meses. ANAMNESE: Quando o paciente chega para nós com essa queixa, temos que investigar qual é a causa por meio de uma história clínica minuciosa, avaliar presença de problemas sociais, psiquiátricos, antecedentes mórbidos e medicamentos em uso. Além de um exame físico bem feito e detalhado. 26 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE POR QUE GERIATRIA? 05/08/2021 POR QUE GERIATRIA? ✓ Poucos profissionais e mercado aberto; ✓ População idosa é a que mais cresce; ✓ Lida com complexidade e desafios; ✓ Entusiasmo diante de resultado positivos. QUEM É O PACIENTE GERIÁTRICO? As principais características do paciente geriátrico são: 27 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE 28 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE FARMACOLOGIA, POLIFARMÁCIA E IATROGENIA NO PACIENTE IDOSO 05/08/2021 ENVELHECIMENTO: O processo do envelhecimento possui particularidades capazes de modificar as etapas da farmacocinética e a farmacodinâmica de um medicamento, predispondo o idoso às reações adversas a medicamentos (RAM), cascata iatrogênica, uso de medicamentos potencialmente inapropriados (MPI) e polifarmácia, processo do adoecimento, quedas e fraturas, delirium, hospitalização, institucionalização e até à morte. Não tratar o idoso como um adulto mais velho, principalmente no quesito de medicação, devido aos diversos efeitos colaterais. A terapêutica medicamentosa em idosos é altamente influenciada pelas alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas próprias do envelhecimento, que alteram a sensibilidade e o efeito de vários fármacos. Além disso, a elevada prevalência de multimorbidades nessa população aumenta a chance de eventos adversos, levando à necessidade por parte do geriatra do conhecimento de determinadas particularidades associadas ao uso de medicamentos. É importante considerar que medicamentos têm a propriedade de melhorar extremamente a qualidade de vida e de curar ou aliviar doenças, desde que seu emprego seja adequado, cuidadoso e seguro. FARMACOLOGIA: • Os idosos correspondem a aproximadamente 10% da população total e recebem 30% das medicações prescritas. • As medicações não prescritas mais usadas por idosos são os analgésicos, ansiolíticos, sedativos, laxativos, polivitamínicos, dentre outros. • Mais de 80% dos idosos tomam ao menos 1 medicação. • Idosos tem 2-3x mais chance de reação adversas a medicamentos do que jovens, uma vez que na maioria das vezes usam vários medicamentos, os quais apresentam grande potencial de interação. Por isso, acabam sofrendo mais com as consequências das iatrogenias. • 28% das internações em idosos são devidas a problemas relacionados à fármacos. Em idosos as prescrições medicamentosas devem ser receitadas com cautela, considerando as alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas do envelhecimento, sob pena de provocar iatrogenias. 29 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE FARMACOCINÉTICA – o que o organismo faz com a medicação: Define-se farmacocinética como o conjunto de processos sofridos pelos fármacos no corpo humano a partir de sua administração, ou seja, abrange absorção, distribuição, metabolismo e excreção dos medicamentos. ABSORÇÃO: Atentando-se inicialmente à VO, forma de administração usual de medicamentos, o envelhecimento influencia a absorção de medicamentos. Merecendo atenção particularmente quando o resultado esperado não ocorrer e/ou o paciente apresentar outras peculiaridades passíveis de interferir na absorção do fármaco indicado. A biodisponibilidade medicamentosa pela VO depende basicamente da absorção pelo TGI e da primeira passagem hepática do fármaco. A absorção oral de medicamentos sofre interferências quando ocorre: ✓ Aumento do pH gástrico – menor produção de HCl, o que faz com que a ionização e solubilidade de alguns fármacos sofram alterações; ✓ Retardo no esvaziamento do estômago – retada a absorção e, consequentemente, retarda o início da ação do medicamento, que fica mais tempo no organismo; ✓ Redução na mobilidade e no fluxo do sistema digestório – diminuição do pico na concentração sanguínea e uma demora no início do efeito; Essas alterações interferem mais em substâncias e fármacos que dependem de transporte ativo para absorção intestinal como a glicose e vitamina B12. Felizmente, a maioria dos medicamentos é absorvida nessa via por difusão passiva que apresenta baixo grau de evidências quanto a alterações relacionadas com o envelhecimento. 30 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Em contrapartida, a primeira passagem hepática – importante em processos de biodisponibilidade farmacológica – encontra-se geralmente reduzida em idosos. Devido a redução do parênquima e do fluxo sanguíneo hepático durante o envelhecer. DISTRIBUIÇÃO: Significativas alterações da composição corporal ocorrem durante o envelhecimento, interferindo na distribuição de determinados medicamentos. Atenção especial deve ser dedicada quanto ao aumento do tecido adiposo entre 20-40% e à redução da água corporal total em até 15%. Assim, fármacos hidrofílicos como a gentamicina, lítio e digoxina tendem a apresentar menor volume de distribuição em idosos, com consequente aumento da concentração plasmática. A redução do volume de distribuição de medicamentos hidrossolúveis é contrabalanceada pela significativa perda do clearance renal durante o envelhecimento, resultando em baixo efeito sobre a meia-vida de eliminação desses fármacos. Observando-se situação oposta em fármacos lipofílicos, como benzodiazepínicos, morfina e amiodarona, cujo volume de distribuição eleva-se progressivamente com a idade. Então, se o volume de distribuição aumenta, a meia-vida de eliminação medicamentosa também se prolonga. Essa associação entre volume de distribuição e meia-vida de eliminação maiores em fármacos lipossolúveis provoca em idosos, maior tempo de ação medicamentosa e risco de efeitos colaterais, mesmo após o encerramento da tomada de fármacos como Diazepam e tiopental. O principal fator que determina os efeitos medicamentosos é a concentração livre do fármaco, a qual está diretamente relacionada com a capacidade de ligação entre o medicamento e a proteína carreadora dele (albumina ou alfa-1 glicoproteína ácida) e modula as interações medicamentosas e os efeitos fisiológicos dos fármacos. As principais alterações que ocorrem em relação à distribuição, durante o envelhecimento são: 31 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ✓ Hipoalbuminemia: altera a relação do fármaco ligado ao fármaco livre, podendo aumentar o efeito do fármaco, podendo causar até dose tóxica. Como por exemplo, em casos de fármacos com alta taxa de ligação coma albumina – Diazepam e warfarina. ✓ Redução da massa muscular; ✓ Redução da água corporal: fármacos hidrossolúveis diminuem o volume de distribuição. ✓ Aumento na produção de gordura corporal: aumento de depósito de fármacos lipossolúveis, aumentando o volume de distribuição. METABOLISMO: A depuração hepática dos fármacos depende da capacidade do fígado em metabolizar os medicamentos e do fluxo sanguíneo hepático. Lembrando que estados de fragilidade, desnutrição, multimorbidades e tabagismo também influenciam o metabolismo hepático. As principais alterações relacionadas ao metabolismo que acontecem com o envelhecimento são: ✓ Redução do tamanho do fígado; ✓ Redução de 35% do fluxo sanguíneo hepático; ✓ Diminuição da taxa de metabolismo dos fármacos pelo citocromo P450, em aproximadamente, 40%; ✓ Declínio das atividades das enzimas microssomais hepáticas. Existem diversas variáveis em relação ao indivíduo e ao fármaco. EXCREÇÃO: A redução da TFG provocada pelo envelhecimento afeta a depuração de vários medicamentos, como por exemplo, os AINES, anticoagulantes orais, diuréticos, digoxina, betabloqueadores hidrossolúveis, ATB hidrossolúveis e lítio. 32 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE A importância clínica dessa redução relaciona-se ao risco potencial de toxicidade do fármaco. Medicamentos com doses terapêuticas estreitas como lítio, aminoglicosídeos e digoxina tornam-se altamente susceptíveis a efeitos colaterais graves, mesmo em concentrações séricas minimamente superiores ao ideal em idosos. Recomenda-se o cálculo do clearance de creatinina sérica em todo paciente nessa faixa etária. Em geral, utilizando a fórmula de Cockcroft Gault: Portanto, as principais alterações na excreção relacionadas ao envelhecimento são: ✓ Redução do fluxo sanguíneo renal; ✓ Diminuição do tamanho dos rins; ✓ Diminuição do córtex renal; ✓ Redução do número de néfrons funcionais; ✓ Hialinização dos glomérulos; ✓ Redução da TFG; ✓ Diminuição da secreção tubular. 33 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE FARMACODINÂMICA: Define-se farmacodinâmica como o(s) efeito(s) do fármaco no organismo, que, no paciente idoso, depende de alterações em mecanismos homeostáticos e de modificações em receptores e sítios de ação. ALTERAÇÕES EM MECANISMOS HOMEOSTÁTICOS: A maior sensibilidade observada em idosos a várias classes de medicamentos decorre do declínio de certas funções orgânicas. Desse modo, a redução do fluxo sanguíneo cerebral secundária à doença ateromatosa interfere na sensibilidade a fármacos de ação central, como antidepressivos e benzodiazepínicos. Observam-se assim, quadros de confusão mental e/ou disfunção cognitiva em usuários desses fármacos, particularmente quando tomados por longos períodos. Outro exemplo comum na prática clínica, é a hipotensão ortostática por anti- hipertensivos, devido a menor reatividade do reflexo barorreceptor associada ao envelhecimento. Igualmente, a associação das alterações da termorregulação em idosos com medicamentos como psicofármacos apresenta potencial de gerar quadros de hipotermia nessa faixa etária. MODIFICAÇÕES EM RECEPTORES E SÍTIOS DE AÇÃO: O envelhecimento influencia a interação de medicamentos e receptores, alterando consequentemente o padrão de resposta orgânica aos fármacos. CRITÉRIOS DE BEERS: O critério original foi elaborado em 1991, a fim de detectar o uso de medicamentos inapropriados em idosos residentes em uma instituição de longa permanência e era composto de 19 medicamentos inadequados e 11 medicamentos cuja dose, frequência de uso e duração do tratamento eram inadequadas para pessoas com 65 anos ou mais. 34 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE A versão mais atual do critério é dividida em 5 listas: CRITÉRIOS BRASILEIROS – Consenso brasileiro de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos: 35 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE 36 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA NO IDOSO: Os idosos são mais susceptíveis as reações adversas aos medicamentos (RAM), devido: ✓ Uso de múltiplos fármacos; ✓ Função reduzida de vários sistemas fisiológicos; ✓ Excreção e o metabolismo alterados; ✓ Mudança na composição corporal; 37 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE POLIFARMÁCIA: Com o aumento da expectativa de vida da população, aumenta o contingente de portadores de doenças crônicas não transmissíveis, que demandam assistência contínua e na qual os medicamentos têm um papel importante. O uso de vários medicamentos pode causar problemas tais como o aumento do risco do uso de medicamentos inadequados (incluindo interações medicamentosas e duplicação da terapia), a não adesão ao tratamento e a ocorrência de efeitos adversos. Polifarmácia pode ser definida como uso de 5 ou mais medicamentos de uso contínuo, uso de pelo menos um medicamento potencialmente inapropriado, ou ainda, mais medicamentos usados do que clinicamente indicados. O uso simultâneo de vários medicamentos deve ser sempre avaliado com cautela na população idosa, pois ao mesmo tempo que podem contribuir para a manutenção da capacidade funcional e da qualidade de vida, se utilizados de forma incorreta, podem comprometê-las. Assim, ao prescrever medicamentos a idosos, devemos estar atentos a essa relação de risco-benefício. 38 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE As principais consequências da polifarmácia são: ✓ Maior risco de reações adversas; ✓ Maior risco de interação medicamentosa; ✓ Interação medicação X Doença (descompensação de doença crônica); ✓ Falta de aderência à um tratamento adequado; ✓ Aumentar risco de queda (sonolência, desequilíbrio); ✓ Cascata iatrogênica medicamentosa; ✓ Elevação de custos. MEDICAMENTOS MAIS COMUMENTE INCLUÍDOS EM FATALIDADES POR INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA EM IDOSOS: IMPORTANTE LEMBRAR: CASCATA IATROGÊNICA: Consideram-se como afecções iatrogênicas aquelas decorrentes da intervenção do médico e/ou de seus auxiliares, que resultem em consequências ruins para a saúde do paciente. 39 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE No Brasil, o processo conhecido como cascata iatrogênica é utilizado para descrever a situação em que o efeito adverso de um fármaco é interpretado incorretamente como nova condição médica que exige nova prescrição, sendo o paciente exposto ao risco de desenvolver efeitos prejudiciais adicionais relacionados ao tratamento potencialmente desnecessário. O número de medicamentos é o principal fator de risco para iatrogenia e reações adversas, havendo relação exponencial entre a polifarmácia e a probabilidade de RAM, interações medicamentosas e medicamentos inapropriados para idosos. Os pacientes idosos estão especialmente sujeitos à ocorrência de eventos iatrogênicos. Muitas vezes são tratados como qualquer outro paciente adulto, sem que se leve em consideração a singularidade do processo de senescência e senilidade. Desta forma, a prevalência dos eventos iatrogênicos na população idosa pode ser elevada, posto que as pessoas não estão recebendo um tratamento caracterizado para sua idade e assim ficam mais susceptíveis aos erros dos profissionais da saúde. Diante do exposto, é possível constatar que a ocorrência de eventos iatrogênicos adquire maior importância nos idosos, uma vez que tanto a incidência quanto a intensidade das manifestações e complicações provocadas são maiores nessa população. NÃO ESQUECER! 40 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE DISCUSSÃO DE CASO CLÍNICO 05/08/2021 CLASSIFICAÇÃO DO GRAU DE DEPENDÊNCIA DO IDOSO: ➔ Grau de dependência 1: idosos independentes, mesmo que requeiram uso de equipamentode autoajuda. ➔ Grau de dependência 2: idosos com dependência em até 3 atividades de auto cuidado da vida diária, como alimentação, mobilidade e higiene. Porém, sem comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada. ➔ Grau de dependência 3: idosos com dependência que requeiram assistência em todas as atividades da vida diária e/ou comprometimento cognitivo. CASO CLÍNICO 1: J.S.A, do sexo feminino, 82 anos, acompanhada do filho, católica, casada, professora, aposentada, mora em um sobrado com esposo e filho, vai ao consultório com história de quedas recorrentes (06 episódios nesse último ano), além de declínio funcional e cognitivo ao longo dos últimos 4 meses. Nesse período, vem cursando com hiporexia (sem fome), perda ponderal (Cerca de 5Kg) e insônia. Nos finais da tarde, tem apresentado frequentemente agitação psicomotora. AP: DM, DRC, depressão, demência mista (Alzheimer + vascular) em fase moderada, AVCi há 2 anos. MEDICAMENTOS EM USO: HÁBITOS E VÍCIOS: nega tabagismo e etilismo, sedentária. ANTECEDENTES CIRÚRGICOS: nada digno de nota. ISDA: ✓ Visão: foi ao oftalmo há 6 meses, fez novos óculos. ✓ Audição prejudicada. ✓ Alimentação: pouca, apresentando perda ponderal importante (5Kg). ✓ Aparelho respiratório: nada digno de nota. 41 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ✓ Aparelho cardiovascular: nada digno de nota. ✓ Abdômen: nada digno de nota. ✓ Aparelho urogenital: incontinência urinária/fecal, faz uso de fralda ou absorvente há 4 meses. ✓ Sono: apresenta insônia. ✓ Vacinação: em dia. ✓ Faz uso de prótese em joelho direito. ✓ Memória esquecida, filho refere mão ter se perdido na própria rua da casa que mora a vida inteira. DIMENSÃO FUNCIONAL: • GDS: 10 – depressão moderada. • Teste get up and GO: 25 segundos – dependente em várias atividades da vida diária e na mobilidade, alto risco de quedas. • AVDs: Katz 03/06 pontos – dependente parcial e Lawton 9 pontos – totalmente dependente. • MEEM: 16 pontos. • Teste do relógio: não conseguiu realizar, apenas desenhou um círculo. EXAME FÍSICO: • REG, hipocorada, AAA, confusa, eupneica em AA. • P: 45Kg, IMC: 20Kg/m², circunferência da panturrilha 29cm (VR > ou = 31cm). • PA deitado 120x85mmHg, PA sentado 100x70mmHg – hipotensão postural (2 ou mais pontos de diferença na medida da PA). • FC 62bpm. • AR: MV + s/RA. • ACV: RNF em 2T s/s. • Abdômen: globoso, flácido, indolor à palpação, DB -, sem visceromegalias. • Extremidades: pulsos palpáveis e simétricos, TEC <3s. • Neurológico: Gasglow 15, pupilas isofoto, mantendo quadro neurológico. EXAMES LABORATORIAIS: • Hb 9,2mg/dL – provável anemia normo normo, devido doença crônica. • Leucócitos 9.299 sem desvio à E. • Sódio 122mEq/L - delirium hipoativo por hiponatremia é muito comum em idosos. • Potássio 4,7mEq/L. • TSH 4,5. • Glicemia em jejum 68mg/dL – hipoglicemia. • HbA1c 7,2%. • Creatinina 1,7 - levemente aumentada. • Ureia 76 – levemente aumentada. • Sumário de urina normal. 42 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS: Mora em um sobrado (maior risco de quedas), declínio funcional, sarcopenia, quadro depressivo, medicação, agitação psicomotora, rever glibenclamida devido hipoglicemia, rever clonazepam (tentar desmame), olanzapina aumentar a dose ou adicionar quetiapina e retirar o uso de nimesulida. PLANEJAMENTO TERAPÊUTICO: Envolve toda a equipe: médico, psicólogo, terapeuta, enfermeiro, gerente de caso, terapeuta ocupacional, nutricionista e educador físico. 43 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO 06/08/2021 AUMENTO DA POPULAÇÃO IDOSA E SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE: -Diminuição da população em idade ativa (muitos idosos vivendo muito e poucas pessoas na faixa etária de trabalhar). -Impacto nos gastos com a saúde, dentre outros impactos dentro da sociedade como um todo. -Educar e capacitar a população mais velha, para que eles tenham sua capacidade de trabalho garantida. -Garantir a questão da mobilidade é uma das responsabilidades do profissional da saúde que cuida dos idosos. Eles precisam conseguir realizar as AVD e AIVD. -Trabalhar nos níveis de prevenção. -É revolucionária a proporção de aumento da população idosa, da longevidade. -Intervenção a nível individual e/ou em grupo com o objetivo de manter a qualidade de vida por mais tempo, se afastando do limiar da dependência. -Saúde + Conhecimentos + Relações + Financeiro = Capital do envelhecimento saudável, começar o quanto antes. Atuam como alicerces para a construção da resiliência, para suportar e crescer com os impactos e desafios que a vida impõe. -Manter capacidades à longo prazo, para que esses idosos tenham um envelhecimento com menor perda funcional. -Importância de ter uma qualidade de vida mínima, não apenas a questão trabalhista. POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE VOLTADA PARA A POPULAÇÃO IDOSA: • Quem participa dessas políticas públicas voltada para os idosos? R: Poder Legislativo, Judiciário e Executivo. • Como os profissionais de Saúde se colocam nesse contexto de políticas públicas? R: A partir da realização de intervenções no nível individual e/ou em grupo, trabalhando nos níveis de prevenção, em suas respectivas especialidades médicas. Tendo em vista que todas as especialidades tratam idosos. Garantindo um envelhecimento com menor perda funcional e uma qualidade de vida melhor para eles. -Temos que nos preocupar, especialmente, com a questão da mobilidade. -Importância das políticas de promoção à saúde. 44 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ESTATUTO DO IDOSO: O Estatuto do Idoso envolve questões familiares, questões referentes à saúde, discriminação e violência contra o idoso. OBS: Uma das síndromes geriátricas é a insuficiência familiar, a qual devemos estar atentos. ESTATUTO DO IDOSO E SUAS DISPOSIÇÕES: L10741 (planalto.gov.br) CONSELHO MUNICIPAL DO IDOSO: **Tem que saber que a responsabilidade do conselho é de formular diretrizes que visam a defesa dos direitos dos Idosos e acompanhar a elaboração de programas do poder com objetivo de defender direitos e interesses da pessoa idosa, fiscalizar e tomar providências para o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm 45 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE cumprimento de legislação favorável aos direitos dos idosos e receber sugestões e denúncias e opinar sobre as denúncias que lhe são encaminhadas** **Importante fórum democrático de discussão, deliberação e formulação da política social de proteção integral do idoso** Link: O Conselho (piracicaba.sp.gov.br) O NOVO PADRÃO ETÁRIO DA POPULAÇÃO PAULISTA: Link: padrao-etario-populacao-paulista.pdf http://conselhos.piracicaba.sp.gov.br/cmi/o-conselho/ file:///C:/Users/letic/Downloads/padrao-etario-populacao-paulista.pdf 46 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE 47 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE 48 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE LONGEVIDADE – QUALIDADE DE VIDA – ENVELHECER (PREJUÍZOS X BENEFÍCIOS) 09/08/2021 SINASOFIA – LEMBRANÇAS E ESQUECIMENTOS: ✓ Enquanto lembrança valorizadora a memória é um tesouro para o presente porque é fonte de identidade. ✓ A memória presente no idoso é a de longo prazo, majoritariamente. Mas, ambas são muitos importantes na construção do Eu. ✓ O idoso é um livro de memórias e experiências, incluindo memória física e mental. ✓ Como a longevidade se relaciona com a memória? ✓ A lembrança pode ser uma dádiva ou um fardo. ✓ Não seja alguém que passe pela vida dormindo. ✓ Devido ao alto fluxo de informações no mundo de hoje, as demências estãoficando cada dia mais comuns. ARIANO SUASSURA DISCORRE SOBRE DEUS E O SENTIDO DA VIDA: ✓ Problema filosófico mais grave da humanidade: O mal e o sofrimento. ✓ ´Se eu não acreditasse em Deus eu seria um desesperado´. AMADURECER LUMINOSO: ✓ A questão é de se saber o que poderá ser feito com toda esta população de idosos, é desde agora um quebra cabeça para sociólogos – esse envelhecimento da população e essa longevidade é um desafio para a humanidade. O HOMEM TEM A IDADE DE SUAS ARTÉRIAS: ✓ Declínio da capacidade reprodutiva; ✓ Encarar o amadurecimento de uma maneira diferente; ✓ Não como indesejável, deprimente ou inaceitável; ✓ Valorização do amadurecer em toda a sua condição. Por isso as muitas questões de medicalização no processo de envelhecimento, por conta de as pessoas não saberem encarar o amadurecimento de uma maneira diferente, sempre justificando tudo pela idade. CIDADES SUSTENTÁVEIS – IBGE EXPLICA: ✓ A resiliência é um fator crucial, ninguém deve ser deixado para trás, atentando as necessidades das pessoas em situações de vulnerabilidade (mulheres, crianças, idosos, pessoas em situações de rua, etc). ✓ A qualidade de vida está diretamente relacionada aos espaços urbanos, por isso a importância das políticas públicas. 49 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE PROGRAMA DIFERENTE N°99 – CIDADES SAUDÁVEIS E SUSTENTÁVEIS: ✓ Virada da saúde – projeto com o objetivo de aproximar os cidadãos dos temas da saúde, por meio de brincadeiras. Apresentando a saúde de uma forma lúdica. ✓ A promoção da saúde é possível e extremamente necessária. ✓ Os efeitos da urbanização em saúde – as principais causas de morte hoje estão relacionadas com a urbanização (doenças cardiovasculares, diabetes, câncer de pulmão, dentre outras). ✓ 4 eixos da virada da saúde – assistencial (assistência, diagnóstico, tratamento), cultural (mostrar saúde através da cultura), educacional e de bem-estar. ✓ Identificar qualidade de vida pelo espaço que o idoso está inserido é muito importante, por isso na hora da anamnese, é crucial sabermos de onde o paciente vem. ✓ A mudança de estilo de vida é crucial, antes de qualquer tipo de medicalização desnecessária. ✓ Diferença entre contemplar e ruminar um pensamento. A ruminação está relacionada a um pensamento que não vai embora, enquanto a contemplação está relacionada a pensamento que surgem, mas que não persistem na mente. QUESTIONANDO: 1) Como eu vejo minha biografia em toda a sua totalidade? 2) O que consegui realizar? Há ainda tarefas que eu gostaria de completar, ou há outras a realizar? 3) Como eu lido com os empecilhos físicos ou doenças? 4) Como estou cuidando do corpo, da memória, dos órgãos dos sentidos? 5) Existem relacionamentos que não foram absorvidos, onde tenham ficado questões em aberto? 6) Como está a questão dos meus bens? 7) Como está a questão da aposentadoria? 8) Tenho momentos de graça, sentimento de gratidão e alegria? Sou capaz de perdoar? QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO NA COMUNIDADE – APLICAÇÃO DA ESCALA DE FLANAGAN: As dimensões da qualidade de vida apontadas na escala de Flanagan foram: desenvolvimento pessoal e realização; relações com familiares; participação social; bem-estar físico e material; amizade e aprendizagem 50 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE 51 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE SENESCÊNCIA 09/08/2021 ENVELHECER: Com o envelhecer ocorrem mudanças graduais e inevitáveis, independentemente de termos uma boa saúde e um estilo de vida ativo e saudável. Segundo a OMS, o envelhecer é um processo sequencial, individual, cumulativo, irreversível e universal. Não patológico de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie. OBS: Doença não tem nada haver com o processo de envelhecimento. Existem 7 processos vitais do ser humano (respiração, nutrição, digestão, absorção, manutenção, regeneração e reprodução) os quais vão sofrendo um processo de deterioração e morte ao longo dos anos. E, com o tempo, portanto, temos menos capacidade portanto de nos expor a diferentes doenças e não adoecermos. O tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte. E, ainda para a OMS, o indivíduo é classificado como idoso a partir dos 60 anos ou mais em países emergentes e, a partir dos 65 anos em países desenvolvidos. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PELE E ANEXOS COM O ENVELHECER: Algumas das alterações são: perda da elasticidade, queda, flacidez, facilidade de machucar. Todo processo de envelhecimento que ocorre na pele, também ocorre internamente, independentemente de doença ou não, faz parte do processo fisiológico do envelhecimento. 52 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Durante o envelhecimento, portanto, ocorre uma deterioração dos 7 processos vitais do nosso organismo. O envelhecimento cutâneo é bastante pronunciado. A hereditariedade e, principalmente, a exposição solar são responsáveis pelas alterações da epiderme (redução de potencial proliferativo, melanócitos, células de Langerhans e da adesão dermoepidérmica), derme (redução da espessura, da celularidade e vascularização, degeneração do colágeno), subcutâneo e anexos. A pele do idoso torna-se ressecada e descamativa (xerodermia), precipitando o prurido (localizado ou generalizado), que, por sua vez, predispõe a fissuras, escoriações e infecções cutâneas. O prurido senil deve ser diferenciado daquele resultante de doenças sistêmicas, como colestase hepática, gota, diabetes, escabiose, entre outras. Observa-se, ainda, pele fina, lisa, com pouca elasticidade e distensibilidade. A fragilidade capilar favorece o surgimento de equimoses e da púrpura senil nas regiões mais expostas a traumas (mãos e antebraços). A leucodermia puntiforme (“pontinhos brancos nas mãos”), secundária às alterações dos melanócitos, mais localizada nas mãos e antebraços, pode trazer bastante desconforto estético, principalmente às mulheres. Em locais expostos à radiação solar podem ocorrer a ceratose actínica (lesão pré- maligna) e epiteliomas basocelular e espinocelular (lesões malignas). A ceratose seborréica, também comum, é considerada neoplasia benigna da epiderme. Úlceras em membros inferiores, devido à insuficiência vascular crônica (venosa e/ou arterial), devem ser pesquisadas, assim como as úlceras por pressão (escaras), mais comuns na região sacra, trocantérica e calcâneo, e em pacientes acamados. Também merecem atenção as alterações dos pelos, que se tornam mais finos, rarefeitos e quebradiços. As unhas se tornam frágeis, opacas, de crescimento mais lento, espessas e encurvadas nos pés (onicogrifose). Deve ser diferenciada da onicomicose ou infecção fúngica do leito ungueal (unha), cujo tratamento específico é discutível no idoso. Micoses interdigitais são mais frequentes e devem ser tratadas rotineiramente, pois representam porta de entrada para infecções bacterianas mais graves. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE: O envelhecimento é algo que ocorre paulatinamente, uma vez que o indivíduo começa a envelhecer ao nascer. 1) Segunda década: embora de forma imperceptível. 2) Terceira década: surgem as primeiras alterações funcionais e estruturais. 3) Quarta década, há perda de aproximadamente 1% da função/ano, nos diferentes sistemas orgânicos – fase importantíssima de mudança de hábitos de vida, antes da perda pronunciada que ocorre aos 50 anos de idade. 53 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE FORMAS DE ENVELHECIMENTO: O envelhecimento biológico pode ser fisiológico (senescência) ou patológico (senilidade). O envelhecimento fisiológico pode ser subdividido em dois tipos: ✓ No envelhecimento bem-sucedido, o organismo mantém todas as funções fisiológicas de formarobusta, semelhante à idade adulta. ✓ No envelhecimento usual, observa-se uma perda funcional lentamente progressiva, que não provoca incapacidade, mas que traz alguma limitação à pessoa. Ainda dentro do envelhecimento fisiológico, podemos encontrar idosos com alterações fisiológicas mais expressivas, o que caracteriza a síndrome da fragilidade ou frailty. Este tipo de envelhecimento é difícil de ser diferenciado do envelhecimento patológico. Há forte sobreposição entre eles. Todavia, não há doenças aparentes capazes de justificar o grau de fragilidade apresentado pelo idoso. Provavelmente, deve-se a alterações fisiológicas mais acentuadas, de causa desconhecida ou não diagnosticada. Os principais fatores de risco para a síndrome de fragilidade são hereditariedade, sexo feminino, baixo nível socioeconômico, má nutrição, sedentarismo, senescência, sarcopenia (perda muscular), anorexia e, obviamente, a presença de múltiplas comorbidades ou doenças incapacitantes, como acidente vascular cerebral (AVC), doença de Alzheimer, doença de Parkinson e depressão. A hereditariedade, os hábitos de vida e as doenças são os principais determinantes das alterações moleculares causadoras da desregulação dos sistemas homeostáticos, capazes de comprometer o funcionamento harmonioso do organismo, gerando perda da autonomia e independência, hospitalização, institucionalização e óbito. PRINCIPAIS SISTEMAS FISIOLÓGICOS: O envelhecimento dos principais sistemas fisiológicos é caracterizado pelas alterações apresentadas no quadro abaixo: 54 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE O envelhecimento e a doença não podem ser tratados como fatores intimamente dependentes ou interligados. 55 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Vimos, então, que o envelhecimento do organismo é natural, progressivo e irreversível. Todavia, não está, necessariamente, associado a incapacidades, perda da autonomia e independência. Tudo dependerá dos hábitos de vida de cada um, das doenças adquiridas e de fatores hereditários. A ASSISTÊNCIA AO IDOSO: Tem como objetivo a manutenção da qualidade de vida, considerando os processos de perdas próprias do envelhecimento. DOCUMENTÁRIO ENVELHESCÊNCIA: Link: https://www.youtube.com/watch?v=i4cLyLdK5EA CASO CLÍNICO: Dona Conceição tem 91 anos, Índice de Massa Corporal (IMC) 19, mede cerca de 1,58m e é independente nas Atividades de Vida Diária (AVD) básicas e instrumentais. Mora na rua Sergipe, n. 15, há 10 anos, com sua irmã Ofélia, 85 anos, portadora de doença de Alzheimer. Ambas são viúvas. Dona Conceição gerencia todo o funcionamento da casa e cuida da irmã. Tem dois filhos, Paulo e Antônio que, apesar de morarem em outra cidade, dão muita assistência. A sobrinha, filha de Ofélia, é bastante presente e está sempre disponível para ajudar nos afazeres da casa ou para resolver problemas em bancos, fazer compras mais pesadas, levar ao médico e a alguns passeios. Tem 5 netos e 2 bisnetos, que a visitam com frequência. Adora crianças e gosta quando os bisnetos passam a tarde com ela. Nestes dias, ela prepara o lanche, bolo, biscoitos, enfim, faz tudo o que os bisnetos mais gostam. Às vezes a irmã, Ofélia, fica mais irritada com a bagunça das crianças, mas Dona Conceição consegue contornar o problema, brincando com as crianças no quintal da casa, ao qual a irmã tem pouco acesso. -Primeiro responsável é a família (filhos). -Tem uma boa rede familiar, não tem insuficiência familiar. Dona Conceição está sempre de bom humor e se diz satisfeita com a vida. Ninguém nunca a viu reclamar de nada. Sorridente o tempo todo, mesmo quando a irmã insiste em discordar das suas atitudes ou quando afirma que a empregada está roubando o seu dinheiro (“delírio de roubo”). Nestas horas, conversa com tanta tranquilidade que a irmã Ofélia fica mais calma, conseguindo mudar de assunto. Dona Conceição, há cerca de oito anos, teve diagnóstico de câncer de intestino grosso, graças ao exame de pesquisa de sangue oculto nas fezes. Após a confirmação da doença, foi realizada a hemicolectomia (retirada parcial do intestino) e a evolução foi ótima. Atualmente, nega qualquer alteração do hábito intestinal. É portadora de osteoporose densitométrica não complicada e osteoartrose no joelho direito, que não trazem nenhuma limitação na sua mobilidade. Faz uso regular de paracetamol quando a dor fica mais intensa, com boa resposta. https://www.youtube.com/watch?v=i4cLyLdK5EA 56 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE SENESCÊNCIA, SENILIDADE E COGNIÇÃO 10/08/2021 SENESCÊNCIA X SENILIDADE: • SENESCÊNCIA: alterações fisiológicas que ocorrem no organismo humano na linha do tempo. Não configura doença. • SENILIDADE: efeitos da senescência associados a fatores de risco que configuram mecanismos fisiopatológicos. Na Geriatria, o médico tem que saber um pouco de cada área da Medicina conseguindo fazer os diagnósticos e tratamentos adequados e, quando necessário encaminhar ao especialista. OBS: É muito importante não centrarmos na doença, mas sim, na pessoa. CAPACIDADE FUNCIONAL E SAÚDE: A nossa capacidade funcional é 25% geneticamente determinada e 75% de acordo com os nossos comportamentos e privações ao longo da vida. A população idosa apresenta multimorbidades, polifarmácia, alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas. No entanto, apresentam apenas 1% da população presente em ensaios clínicos. Por isso, devemos nos atentar as medicações que prescrevemos. Está havendo um aumento das doenças crônicas não transmissíveis, de acordo com o envelhecimento da população. SÍNDROMES GERIÁTRICAS: Uma síndrome é um conjunto de sinais e sintomas. E, quando vamos abordar um idoso temos que nos atentar, portanto, as mudanças fisiológicas, presença de doenças crônicas e/ou estressores funcionais. Determinando assim, as síndromes geriátricas que ele pode apresentar ou não. ENVELHECIMENTO CEREBRAL NORMAL: Ocorre uma redução da capacidade de homeostase cerebral mediante sobrecarga funcional. Como por exemplo, em casos de sepse e hipovolemia. A principal fase de trabalharmos o amadurecimento cerebral é na primeira infância, por isso quando estamos avaliando um idoso, precisamos saber como foi sua primeira infância. Oferecendo o melhor tratamento para essa pessoa. SENESCÊNCIA: Não acarreta prejuízo significativo a autonomia e independência do indivíduo. 57 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE O declínio é discreto e constante, é fisiológico. Atenção, concentração, velocidade de processamento e memória episódica. Não há prejuízo ocupacional ou social. SENILIDADE: Apresenta alterações decorrentes de doenças neurodegenerativas, com isso os idosos passam a apresentar sintomas neurolóigocos, motores, cognitivos e comportamentais. Logo, traz prejuízo da autonomia e independência do indivíduo. Em primeiro lugar, por ser idoso ou velho, pode ter algum tipo de doença degenerativa, desde pequenos déficits – que, também, podem não interferir nas suas atividades da vida diária (AVD) – até variados graus de sintomas importantes, que devem ser valorizados e pesquisados, como esquecimento, distração, desorientação ou mesmo confusões. Esses sintomas, seguramente, irão interferir nas suas AVD e podem estar revelando um possível declínio mental, devendo ser avaliados para detectar formas reversíveis e irreversíveis de demência. Dentre as situações potencialmente reversíveis estão, por exemplo, depressão, hipo ou hipertireoidismo e outros quadros endócrinos (hiper ou hipoparatireoidismo, doenças de Cushing e Addison, entre outras), mal nutrição e deficiências vitamínicas (principalmente B12 , ácido fólico e tiamina), anemia, desidratação e distúrbios eletrolíticos, medicações, infecções, embolias, insuficiências metabólicas (hepática, cardíaca, renal, respiratória),problemas de visão e audição, hidrocefalia de pressão normal, tumores, traumas etc., que podem provocar quadros confusionais agudos (delirium), que, na prática, podem ser confundidos com demência. É justamente nessa fase, para distinguir o reversível do irreversível, que se pode e deve atuar de uma maneira ampla, recorrendo a uma anamnese bem detalhada, ao concurso de informações de familiares próximos e/ou amigos e a métodos complementares de diagnósticos (exames laboratoriais, radiografia de tórax, neuroimagem cerebral, eletroencefalograma etc.). PROCESSO HETEROGÊNEO: Cada pessoa tem um fenótipo, cada pessoa se apresenta de uma maneira diferente. Existindo, portanto, indivíduos da mesma idade com fenótipos completamente distintos. Ex: Existem pacientes com pouca ou nenhuma agressão cerebral e assintomáticos X existem pacientes com quadro de agressão cerebral intensa grave, com importante prejuízo para a vida diária – entre esses dois extremos tudo pode acontecer, em termos motores, cognitivos e comportamentais. Um paciente varia muito do outro. MODIFICAÇÕES CEREBRAIS: Massa cerebral: ✓ 20 anos de idade: pico da massa cerebral. 58 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ✓ 50 anos de idade: redução progressiva e natural – a principal queixa nessa faixa etária é a memória. ✓ 100 anos de idade: perda de 20% do encéfalo – existem paciente com atrofia cerebral sem perda cognitiva e com perda cognitiva importante. ✓ Mais precoce entre as mulheres. ✓ Mais rapidamente em pacientes com doença neurodegenerativa. ESTUDOS DE NEUROIMAGEM: Permite avaliarmos a massa e volume cerebral, assim como, a chance de um indivíduo desenvolver algum comprometimento cognitivo. As condições socioeconômicas no período pré-natal e na primeira infância são determinantes que o encéfalo atinja seu potencial máximo de massa e volume. O eletroencefalograma (EEG) é potencialmente importante na avaliação do envelhecimento cerebral para reconhecimento de alterações estruturais ou funcionais, com expressão clínica ou subclínica. DEPÓSITO AMILOIDE: Muito frequente, depósito de proteína amiloide em regiões corticais normais, placas extracelulares e placas amiloides. Podendo haver angiopatia amiloide. No caso de neuritos distróficos, ocorre um quadro clínico de maior perda cognitiva. Quando falamos sobre deposito amiloide, é muito importante lembrarmos da doença de Alzheimer, uma vez que este é um dos biomarcadores da doença. DOENÇA DE ALZHEIMER: A doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa de causa e patogênese incertas, que afeta principalmente idosos e corresponde a aproximadamente 60% de todas as demências, sendo, portanto, a principal e mais prevalente dentre todas as causas. Apresenta curso clínico tipicamente de início insidioso e deterioração progressiva. A sobrevida após o diagnóstico varia entre 3 e 20 anos, com uma expectativa de vida média de 8 a 10 anos. A manifestação clínica mais precoce e essencial da DA é o comprometimento da memória episódica, inicialmente para eventos recentes, embora existam exceções em formas atípicas da doença. Déficits em outros domínios cognitivos podem aparecer de forma concomitante ou subsequente ao déficit de memória. A disfunção executiva e o comprometimento visuoespacial geralmente estão presentes em fases iniciais, enquanto as alterações da linguagem (afasia), apraxia e distúrbios comportamentais se manifestam mais tardiamente no curso da doença. 59 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Ocasionalmente, a apresentação inicial da doença pode incluir distúrbios comportamentais; porém, a proeminência dessas alterações em relação às alterações cognitivas no início do curso da doença é incomum e deve motivar a busca por outras etiologias. As características adicionais que diminuem a probabilidade de doença de Alzheimer incluem um início súbito, a presença de sinais neurológicos focais (hemiparesia, perda sensorial, déficits de campo visual, perda de coordenação) e a presença de alterações da marcha ou convulsões de início precoce. Nas fases iniciais da DA, o exame neurológico é normal. Quando sinais motores piramidais, extrapiramidais, mioclonias e convulsões estão presentes, estes tipicamente ocorrem nas fases avançadas da doença. O diagnóstico definitivo da doença de Alzheimer requer o exame histopatológico, o que raramente é realizado em vida. Portanto, o diagnóstico na prática é realizado a partir de critérios clínicos (DSM5, NINCDSADRDA), que permitem um diagnóstico preciso em mais de 90% dos casos. A DA deve ser suspeitada em qualquer idoso que se apresente com um declínio insidioso e progressivo da memória e de pelo menos alguma outra função cognitiva. O papel dos exames laboratoriais e da neuroimagem é principalmente o de excluir outros diagnósticos. Existe uma série de biomarcadores para apoiar o diagnóstico de DA, mas que em sua maioria ainda não tem aplicabilidade à prática clínica. No entanto, são recursos disponíveis que podem acrescentar confiabilidade adicional ao diagnóstico clínico e podem ser úteis em certas circunstâncias, como na investigação de pacientes com apresentações atípicas ou na doença de início precoce. 60 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE EMARANHADOS NEUROFIBRILARES: Presentes em pacientes com cognição normal, mas quanto mais extensa maior a probabildiade de doença. EVOLUÇÃO DAS TECNOLOGIAS EM SAÚDE: Com a evolução das tecnologias em saúde, o diagnóstico precoce ficou mais viável. Cada vez menos indivíduos são considerados como senescentes, no que tange o envelhecimento cerebral. COMPROMETIMENTO COGNITIVO LEVE (CCL): 1999: alterações subjetivas e objetivas da cognição, sem os critérios de demência e sem comprovação para iniciar medicação. DMSV – incluiu o CCL. Para ser considerado doente, o indivíduo não precisa mais apresentar preuízo funcional, apenas o cognitivo, mesmo em grau leve. A síndrome do declínio mental relacionado com a idade, atualmente, comprometimento cognitivo leve (CCL), indica que pacientes podem sofrer de distúrbios subjetivos e objetivos, manifestados mais tipicamente por: ✓ Disfunção intelectual ou cognitiva: ausências, distúrbios de memória e, na evolução, alteração na orientação tempo espacial e dificuldade de linguagem; ✓ Alteração de humor e sensação de bem estar: falta de interesse, grosseria no tratamento, ansiedade, labilidade de humor e tendência à depressão; ✓ Comportamento: apatia, irritabilidade e agressividade. A característica clínica essencial da doença degenerativa primária é a deterioração intelectual progressiva, lenta e gradual, que avança tipicamente por meio dos seguintes estágios: ✓ Dano de memória e distúrbios de orientação nos primeiros 2 a 3 anos; ✓ Distúrbio da fala (afasia), da capacidade de reconhecer objetos (agnosia) e incapacidade de executar movimentos dirigidos, gestos ou manipular objetos (apraxia) nos anos subsequentes; ✓ Incontinências e imobilidade total (que leva ao acamamento) na sua fase terminal. 61 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE **O geriatra deverá atuar como um coordenador, procurando dar à família e/ou responsável todos os subsídios necessários sobre a situação do paciente no momento, para, em conjunto, decidirem em consenso sobre a validade das diferentes possibilidades dos procedimentos propedêuticos e das propostas terapêuticas. É também de sua competência preservar o paciente, mantendo por mais tempo possível a sua qualidade de vida, sua integridade física, dignidade humana e respeito** BIOMARCADORES: Proteína amiloide de LCR e TC por emissão de positrons (PET-CT). Até o momento não há estratégias terapêuticas farmacológicas específicas para qualquer uma das principais etiologias de demência. O diagnóstico por biomarcadores não traz benefíciosterapêuticos. Portanto, atualmente, usamos drogas com efeito sintomático e medidas não farmacológicas, independente da etiologia. OBS: Tratamos muito mais o sintoma do que a causa. 62 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE GERONTOLOGIA 11/08/2021 DEFINIÇÃO DE GERONTOLOGIA: É o estudo do envelhecimento nos aspectos – biológicos, psicológicos, sociais e outros. Os profissionais da Gerontologia têm formação diversificada, interagem entre si e com os geriatras. Campo científico e profissional dedicado às questões multidimensionais do envelhecimento e da velhice, tendo por objetivo a descrição e a explicação do processo de envelhecimento nos seus mais variados aspectos. Na área profissional, visa a prevenção e a intervenção para garantir a melhor qualidade de vida possível dos idosos até o momento final da sua vida. QUEM É O ESPECIALISTA EM GERONTOLOGIA? É o profissional com formação de nível superior nas diversas áreas de conhecimento (psicologia, serviço social, nutrição, TO, fisioterapia, direito, etc). Apto para lidar com questões do envelhecimento e da velhice, com um olhar interdisciplinar a partir da sua área original de conhecimento. ATUAÇÃO DO ESPECIALISTA EM GERONTOLOGIA: • Prevenção: orientando condições adequadas para um envelhecimento com qualidade. • Ambientação: criando condições ambientais favoráveis, focando na qualidade da velhice naquele ambiente com pessoas idosas. • Reabilitação: propondo intervenções para os casos reversíveis e quando irreversíveis, orienta a criação de condições individuais e ambientais para uma vida digna. • Cuidados paliativos: visando o bem estar e dignidade do idoso, propondo intervenções abrangendo aspectos físicos, psíquicos, sociais e espirituais, ampliando atendimento aos familiares. ÁREAS DE ATUAÇÃO: Atuação em diversas áreas, de maneira interdisciplinar, sempre em equipe. Prolongar a juventude é desejo de todos, desfrutar de uma velhice sadia é sabedoria de poucos. 63 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE MOBILIDADE DO IDOSO 11/08/2021 PROGRESSO DO MOBILISMO: Para o idoso ter um bom progresso em relação à sua mobilidade, ele precisa ter: ✓ Controle postural; ✓ Capacidade de adaptações; ✓ Condições ambientais. MOBILISMO: É a capacidade de movimentação de forma independente e segura, sendo capaz de realizar transferências, deambulações, trocas posturais, deambulação e AVDs. Permitindo assim uma independência funcional e diferentes níveis de participação – desde o momento do banho, se vestir, dentre outras atividades. Às vezes falta participação por parte do idoso, por ele não acreditar que vai conseguir, porque, por exemplo, algum conhecido seu não conseguiu também. Sendo crucial o estímulo. Idosos com prejuízo de mobilidade são mais vulneráveis à eventos adversos de saúde como quedas, fragilidade e incontinências e, consequentemente, risco de dependência e institucionalização. Institucionalizar um idoso hoje é bem diferente do que antigamente, que tinha o conceito de asilo, significando deixar a pessoa de lado, tendo uma carga emocional muito grande e um viés muito ruim dentro da sociedade. **Hoje a proposta é mostrar que existem situações que se faz necessária a institucionalização, mas que isso é para ajudar na melhora de qualidade de vida do idoso, ocupando-o com atividades e atenção 24 horas por parte de uma equipe multidisciplinar** ENVELHECIMENTO: O processo de envelhecimento apresenta mudanças físicas, psíquicas e sociais, interferindo diretamente na qualidade de vida. SENESCÊNCIA: Diz respeito as alterações naturais e esperadas do envelhecimento, tais como: cabelo branco, diminuição da flexibilidade, redução da estatura e perda da massa muscular. 64 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE SENILIDADE: Diz respeito as alterações patológicas, tais como: alterações decorrentes de doenças crônicas, diabetes, hipertensão, interferências ambientais e medicamentos. CAPACIDADE: É aquilo que uma pessoa pode fazer em seu ambiente padrão, tais como: ✓ Tomar banho de forma independente; ✓ Alimentar-se sem ajuda de terceiros; ✓ Transferência cama/cadeira; ✓ Colocar sapatos; ✓ Ortostatismo. DESEMPENHO: O que o indivíduo realmente faz em seu ambientais usual, como por exemplo: não mantêm ortostatismo devido alterações posturais e déficit de equilíbrio, toma banho com independência, mas não faz devido as condições desfavoráveis no ambiente. 65 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE AUTONOMIA X INDEPENDÊNCIA 11/08/2021 CAPACIDADE FUNCIONAL: Conceito: diz respeito a capacidade de realizar, por si mesmo, uma atividade ou processo. E, de acordo com a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006): O principal problema que pode afetar o idoso é a perda de sua capacidade funcional, isto é, a perda das habilidades físicas e mentais necessárias para a realização de atividades básicas e instrumentais da vida diária. Está relacionada a: ✓ Função física: AVD e AIVD. ✓ Função cognitiva: funcionamento mental e emocional. ✓ Função social: relações com o meio, pessoas e outras atividades. Para avaliarmos a capacidade funcional do idoso, precisamos identificar possíveis perdas e, para isso, temos alguns instrumentos que nos ajuda no dia a dia na prática clínica, são eles: ✓ Rastreio cognitivo; ✓ Rastreio para risco de depressão; ✓ Mobilidade e equilíbrio; ✓ Escaldas de AAVD e AIVD; ✓ Nutrição e alimentação; ✓ Fala e comunicação; ✓ Investigação familiar e social. Por exemplo: -Idoso com HAS e DM controlado = capacidade funcional presente. -Idoso com HAS e DM sem controle = capacidade funcional ausente. A capacidade funcional, portanto, está relacionada a: ✓ Demandas específicas do indivíduo, identificando quais as particularidades de cada um; ✓ Nortear os planos de cuidados individuais para cada um, de acordo com suas respectivas demandas; ✓ Identificação de riscos do idoso; ✓ Realizar a prevenção de prejuízos, com foco na qualidade de vida do idoso. 66 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Quando o paciente apresenta diminuição da capacidade funcional, o primeiro sinal de alerta é o prejuízo nas AVDs e de maior dependência nas atividades. O que interfere diretamente na autonomia do idoso. AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA: Autonomia: capacidade do indivíduo de tomar decisões e gerenciar sua própria vida. Porém, para as AVDS, ele depende de alguém, necessitando de ajuda. Toma decisões/escolhe as coisas que prefere, mas nem sempre consegue executar. Definição de autonomia: é a capacidade individual de decisão e comando sobre as ações, estabelecendo e seguindo as próprias convicções. Conseguindo tomar decisões, ter controle (Auto controle) sobre sua própria vida – paciente lúcido e esclarecido. Definição de Independência: capacidade de realizar atividades sem precisar de ajuda dos outros. Relaciona-se com a habilidade de realizar, sem auxílio de outras pessoas, as AVDs. A atenção ao idoso, em todos os seus níveis, deve contemplar como uma das metas a manutenção e/ou a melhoria da independência e da autonomia, pelo maior tempo possível, ainda que com adaptações. 67 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE OBS: Capacidade funcional = autonomia + independência do indivíduo. CIF: CIF ou Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, tem como objetivo codificar e identificar mundialmente as diversas condições funcionais do indivíduo. INCAPACIDADE: Definição: diz respeito à incapacidade funcional é a inabilidade ou a limitação/dificuldade para execução de papéis sociais e de atividades cotidianas, laborais, de entretenimento e familiares
Compartilhar