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NEFROLOGIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA LESÃO RENAL AGUDA (LRA) Perda da função renal de maneira súbita. Independentemente da etiologia ou mecanismos, com acúmulo de substâncias nitrogenadas. Acompanhada ou não da diminuição da diurese (oligúria). Relação creatinina X RFG na LRA: o A creatinina é um marcador lento, demorando alguns dias para refletir na real taxa de filtração glomerular do paciente. Num caso de nefrotoxicidade ela é um bom marcador, mas no caso de uma isquemia renal por uma parada cardíaca a diminuição é na hora e a creatinina não mostra. CLASSIFICAÇÃO CRITÉRIO DE RIFLE (2002) Leva em consideração a TFG e o débito urinário. 1. Risco: Elevação de 1,5x da creatinina basal do paciente ou declínio na TFG > 25% e débito urinário > 0,5 ml/kg/h (é a definição de oligúria) por mais de 6h. 2. Injúria: Elevação da creatinina 2x o valor basal ou TFG > 50% e débito urinário < 0,5 ml/kg/h por mais de 12h. 3. Falência: Teoricamente indicaria terapia de substituição renal. Elevação da creatinina 3x o valor basal ou declínio de 75% da TFG ou creatinina ≥ 4 mg/dl ou um aumento agudo ≥ 0,5 mg/dl. O débito urinário < 3 ml/kg/h ou anúria (ausência de diurese) por 12 h 4. Perda: A lesão renal aguda persistente que dura mais de 4 semanas. 5. Doença em estágio terminal: A perda da função renal dura mais do que 3 meses. Obs.: Não é mais utilizada, porém ainda cai em provas. Na imagem: o Morbidade muito alta associada a mortalidade. Risco: A mortalidade não é tão alta. Injúria e falência: Elevação importante na mortalidade dos pacientes. AKIN (2005) Foi retirada a TFG já que ela não vai refletir os valores reais na lesão renal aguda. o AKIN 1: Aumento de 1,5 na creatinina ou > 0,3 mg/dl da creatina basal ou débito urinário < 5ml/kg/h em 6h. o AKIN 2: Aumento de 2x na creatinina ou débito urinário < 5ml/kg/h em 12h. o AKIN 3: Aumento de 3x da creatinina ou ≥ 4mg/dl ou débito urinário < 0,3 ml/kg/h em 24 ou anúria por 12h. Recomenda a RRT (terapia substitutiva renal – hemodiálise, diálise peritoneal). KDIGO 2012 Obs.: É o utilizado. NEFROLOGIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA Epidemiologia: o 5% das internações hospitalares. o 30% das internações em UTI. o LRA não complicada: Mortalidade <10%. o LRA grave dialítica: Mortalidade 50 a 70%. Na imagem: o Estudo realizado para avaliar a duração da internação hospitalar baseado nos sistemas cardíaco, neurológico, hepático, respiratório e renal. Mostrou que a insuficiência renal era responsável por maior prolongamento da internação. Fatores de risco: o Idade avançada. o Doença renal prévia. o Cirurgias extensas: Cardíacas, oncológicas, vasculares o Diabetes. o Insuficiência cardíaca congestiva. o Hepatopatia. Etiologias: o LRA pré- renal: Não há dano estrutural ao parênquima renal. O que vai ter é uma queda do fluxo sanguíneo e da TFG. Revertendo o fluxo já resolve. o LRA intra-renal ou intrínseca: Há dano renal, lesão direta ao parênquima renal. Causas: Inflamação. Isquemia. Toxina. Infecção. o LRA pós-renal: Obstrução no fluxo de urina bilateral. Locais: Uretra bilateral. Meato na bexiga: Tumor. Hiperplasia prostática, câncer de próstata. Estenose de uretra. PRÉ-RENAL Não há lesão parenquimatosa definida. Existe um estado de baixa perfusão. É rapidamente reversível se corrigida a causa. Causas: 1. Hipovolemia: o Perda de líquidos gastrointestinais: Diarreia. o Hemorragias. o Perdas renais: Uso de diuréticos. o Sequestro extra vascular: Queimaduras, pancreatite, dengue hemorrágica. 2. Hemodinâmicas: o Choque circulatório: Redução do inatropismo ou cronotropismo. Vasodilatação: Anafilaxia. Vasoconstrição renal: Uso de catecolaminas. Disfunção autorregulação renal: AINES. NEFROLOGIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA INTRA-RENAL (INTRÍNSECA) IRA renal: 25 a 40% dos casos. 1. Necrose tubular aguda (NTA) isquêmica e por toxinas (5 e 35%). 2. Glomerulares (22%). 3. Túbulo-intersticiais (6%): Nefrite intersticial aguda. 4. Vasculares (6%). Obs.: Nas lesões pré-renais, o clínico pode resolver, mas quando ocorre lesão no parênquima renal é necessário o nefrologista. NECROSE TUBULAR AGUDA Ocorre uma isquemia com perda de polaridade das células tubulares renais e elas vão sofre apoptose. Quando elas morrerem elas vão descamar e obstruir o túbulo renal. Curso clínico da NTA. o Fase de iniciação: Geralmente reversível = Depleção de ATP. o Fase de extensão: Isquemia-congestiva-hipóxia. o Fase de manutenção: A IRA não é imediatamente reversível. Oligúrica: 10 a 16 dias. Não oligúrica: 5 a 8 dias. o Fase de recuperação: Geralmente ocorre em 4 semanas mas pode ser incompleta. Pode haver fase poliúrica. Obs.: Na NTA é mais ou menos 28 dias para paciente se recuperar, podendo se recuperar 100% ou ficar com sequelas. NTA NA SEPSE / SIRS (SÍNDROME DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA SISTÊMICA). Vasodilatação sistêmica inapropriada. o Aumento de NO por toxinas pró-inflamatórias. Intensa vasoconstricção renal = isquemia renal. o Liberação de vasoconstrictores locais. o Ação nefrotóxica dos mediadores inflamatórios. Obs.: No choque séptico, além da resposta inflamatória tem a ausência de perfusão. LRA NA COVID-19. Lesão inflamatória no rim. Existem receptores da ECA que o vírus se acopla para fazer lesão renal. Existe o efeito direto e o efeito da cascata de inflamação. o Glomerulopatia colapsante. o Dano endotelial com microangiopatia trombótica. o Ativação sistema complemento. o Inflamação. o Lesão renal por hipovolemia. o Mecanismos ventilatório. Obs.: A lesão renal na COVID é multifatorial, geralmente acontece no pico da doença respiratória, por volta do oitavo ao décimo dia. NEFROLOGIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA NTA E AMINOGLICOSÍDEOS. Gentamicina, amicacina... Em média 7 dias após início do tratamento ocorre diminuição da TFG. Doses altas, mais de 1x/dia e por mais de 10 dias a incidência é maior. LRA não oligúrica: o Lesão no túbulo contorcido proximal. Hipocalemia e hipomagnesemia. Acidose metabólica é frequente. NEFRITE INTERSTICIAL AGUDA (NIA). Há infiltração do interstício por linfócitos, eosinófilos. Secundária a medicamento, infecção, desordem autoimune, entre outros. Paciente cursa com leucocitúria, hipertensão e alteração da função renal. Diagnóstico subestimado. Cerca de 2% dos casos de LRA. Alérgica: o Eosinofilia com ou sem eosinofilúria. o Acidose tubular distal. o Rash cutâneo. o Síndrome de DRESS (Drug Rash with eosinophilia and systemic symptoms): Rash + eosinofilia + lesão renal aguda + lesão hepática (por causa de alergia a medicamento). Obs¹.: Outra droga é omeprazol, existem relatos na literatura que associam o uso dessa medicação com lesão renal. Obs².: Se for uma lesão secundária a medicamento e não seja possível suspender ele de imediato, pode usar corticoterapia para diminuir a inflamação. ATEROEMBOLISMO POR COLESTEROL Paciente realiza procedimento vascular e durante ele são liberados pedacinhos de placa de gordura na corrente sanguínea do paciente e oclui. Dependendo do tamanho da placa pode precisar de terapia substitutiva renal. Oclusão das artérias renais, arteríolas e capilares glomerulares por placas de gordura advindas da aorta. É irreversível. Ocorre em até 2% dos cateterismos cardíacos. Fatores de risco: o Sexo masculino. o Raça branca. o > 60 anos. o DM, HAS. o Tabagismo. NEFROLOGIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO –MEDICINA Obs.: Quanto mais aterosclerose tiver nas artérias, maior é a probabilidade de rompimento de placas. Não é erro médico, é uma complicação inerente ao exame. Na imagem: o Livedo: Aspecto rendilhado da pele. É decorrente de diminuição de fluxo sanguíneo nos vasos cutâneos. o Síndrome do dedo azul: Paciente que tem cianose fixa de um dedo só ou alguns dedos. Placa de colesterol que chegou em algum vaso que nutria o dedo e ocorreu o êmbolo. Obs.: Se fosse do pé inteiro, o paciente poderia está mal perfundido por algum motivo. SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA Obs¹.: Esquizócitos são hemácias rompidas que têm aspecto de meia lua, encontrada na lâmina do sangue periférico dos pacientes. Obs².: Anemia hemolítica é quando tem elevação do VHL, bilirrubina indireta e a hemoglobina baixa. Pode ser classificada como uma glomerulopatia porque ela acontece dentro do glomérulo. É chamada de microangiopatia trombótica, existem várias. É mais comum em crianças. Anatomia patológica (SHU): Na imagem: o O normal seria no interior está branco, porém está com trombos (placas de gordura). Ou seja, vai existir uma inflamação endotelial, levando adesão plaquetária formando trombo, obstruindo os capilares e não consegue filtrar. Obs.: O paciente tende a se recuperar da síndrome urêmica pelo menos parcialmente. NEFROPATIA POR CONTRASTE IODADO 9% das LRA são induzidas por contraste. 3° causa de LRA em pacientes internados. 23% das LRA por drogas são por contraste iodado. Elevação creatina 48 a 72h após seu uso. O pico é com 5 dias e a tendência é melhorar depois. LRA caracteristicamente não-oligúrica. Fatores de risco: o Doença renal prévia. o DM. o Desidratação. o Altas doses de contraste. NEFROLOGIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA Obs¹.: Tanto o contraste iodado quanto o gadolínio (usado na ressonância) eles causam vasoconstrição e podem fazer isquemia renal. Obs².: Geralmente vai desenvolver nefropatia por contraste quem apresenta fatores de risco. Prevenção: o Geralmente é feita se o paciente tem alguma doença renal prévia. o Suspender diuréticos: A hipovolemia aumenta o risco - Evidência A. o Hidratação com salina 0,9% ou solução de bicarbonato de sódio – Evidência A. o N-acetilcisteína: 1000mg, VO, 12/12h (no dia anterior e no procedimento). o Contrastes de isosmolares e não iônicos. o Menos volume de contraste possível. SÍNDROME DE LISE TUMORAL: Prevenção e tratamento: o Hidratação vigorosa com cristaloide. o Agentes hipouricemiantes: Alopurinol. o Alcalinização da urina não é indicado. o Rasburicase: Medicamento que quebra os cristais de ácido úrico transformando em alantoína que é diluída na urina e eliminada, serve de tratamento. o Terapia substitutiva renal: Dialisar o paciente e esperar até recuperar a função renal. Na imagem: o Linfoma de Burkitt que pode apresentar lise tumoral espontânea. Algumas leucemias que também fazem lise sem quimioterapia. RABDOMIÓLISE: Lesão muscular extensa (CPK (mioglobina) > 10.000). Além da isquemia vai ter obstrução. Isquemia + toxicidade. Liberação: o Enzimas musculares: CPK, TGO, LDH e aldolase. o Eletrólitos. o Ácido lático. o Mioglobina. Tratamento: o Hidratação vigorosa + alcalinização urinária. Obs.: Alcalinização da urina não tem evidência tão forte. NEFROLOGIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA PÓS-RENAL Etiologia: 1. Pelve renal ou ureteres (intrínseca ou extrínseca). Fibrose retroperitoneal, algumas doenças autoimunes, câncer de colo de útero avançado causando fibrose, entrando nas lesões extrínsecas. 2. Vesical (tumores, cálculos, HPB, neuropatias). 3. Uretral (estenose, válvulas). Quadro clínico: o 5% LRA. o Mais comum: Homens idosos. o Anúria aguda: Não é obrigatório, pode apresentar urina por transbordamento. o Presença de “bexigoma”. HIPERTROFIA PROSTÁTICA BENIGNA Causa mais comum de LRA pós-renal. NEFROLITÍASE É necessário ser bilateral. É uma urgência. QUADRO CLÍNICO NA LRA Distúrbios hidroeletrolíticos e ácidos básicos: o Formas oligoanúricas: Hipercalemia. Hiponatremia: Retenção de água. Acidose metabólica: Retenção de ácidos. Hiperfosfatenemia e hipocalcemia. Hipermagnesemia. Hiperuricemia. o Formas não-oligoanúricas: Hipocalemia e/ou hipomagnesemia. Vai perder urina e junto potássio e magnésio. Gastrointestinais: o Sintomas iniciais da uremia aguda: Anorexia: Perda de apetite, hálito com cheiro de urina. Náuseas e vômitos (gastroparesia). Diarreia. Íleo metabólico: Pseudo-obstrução intestinal. Neurológicas: o Encefalopatia urêmica: Alterações sensoriais (neuropatia periférica). Motoras: Asterixes – mais comum, tremores, mioclonias. Quadros convulsivos. Torpor, coma e óbito: Pode ter parada. Soluços incoercíveis. Hematológicas: o Anemia: Multifatorial. o Disfunção plaquetária. Aumento do tempo de sangramento. Fator de Von Willebrand disfuncionante. Cardiovasculares: o Pericardite urêmica: Atrito pericárdico. Derrame pericárdico. Tamponamento. NEFROLOGIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA Obs.: É mais comum no paciente crônico que está urêmico do que no agudo urêmico. o Insuficiência cardíaca congestiva. o Hipertensão. o Arritmias: Desencadeada principalmente por acidose ou hiperpotassemia. MANEJO E PROPEDÊUTICA NA LRA História clínica bem colhida. Checar balanço hídrico. Checar prescrição: Saber se tem alguma droga nefrotóxica. Sumário de urina. US/tomografia abdome: Para descartar lesão pós-renal. Biópsia renal: o IRA sem causa definida. o Suspeita de doença glomerular. Na imagem: o Biópsia guiada por US. o Pega o polo inferior no rim, geralmente no lado direto (por causa do baço). Obs.: Geralmente não é possível usar essa tabela porque os pacientes quando chegam no nefrologista já passaram pelo clínico e fizeram uso de diurético, o que vai causar excreção de sódio não sendo o real do paciente. Caso não tenha feito uso (muito difícil), na IRA pré-renal a excreção de sódio <1% porque o túbulo está funcionando. Já na necrose tubular a excreção de sódio é mais alta, a concentração urinária e a concentração e densidade são mais baixas porque não tem a reabsorção de água tão intensa como na pré-renal. Tratamento: o LRA pré-renal: Otimização do fluxo sanguíneo renal: Cristalóides – Soro, albumina, sangue. Suspensão de diuréticos e IECA ou BRA. o LRA pós-renal: Desobstrução: Cateter de Foley. Cistostomia: Se a obstrução for no ureter. Cateter duplo J: Se for obstrução no ureter. Nefrostomia: Se for obstrução proximal. o LRA intrínseca – NTA: Resolver a causa. Controle hidroeletrolítico e ácido-básico. Dieta hipoprotéica 0,6 kg/kg/dia com alto valor nutricional. No paciente fora de diálise. Correção de distúrbios hidroeletrolíticos e ácidos básicos. Diuréticos: Manejar o líquido. Terapia substitutiva renal. Indicações: São clínicas. o Síndrome urêmica (SNC, pericardite, TGI). o Hipovolemia refratária: Paciente congesto e não urina. o Hipercalemia refratária. o Acidose metabólica refratária. NEFROLOGIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA o Azotemia grave: Ureia > 200 ou creatinina > 8-10. NÃO USA ESSE PARÂMETRO PARA INICIAR A DIÁLISE, NÃO PRECISA ESPERAR CHEGAR NESSE PONTO. Tipos: o Diálise peritoneal. o Hemodiálise convencional. o Hemodiálise contínua de baixa eficiência: Mais fisiológica, consegue usar no paciente mais grave.
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