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ALTERIDADE COM RELAÇÃO À FORMAÇÃO MILENAR DA TERRITORIALIDADE NATIVA

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ALTERIDADE COM 
RELAÇÃO À 
FORMAÇÃO 
MILENAR DA 
TERRITORIALIDADE 
NATIVA
AOERGS
José Roberto de Oliveira
02.09.2021
1
Alteridade do latim alteritas ('outro') é a 
concepção que parte do pressuposto 
básico de que todo o ser humano social 
interage e é interdependente do outro. 
Assim, como muitos antropólogos e 
cientistas sociais afirmam, a existência 
do "eu-individual" só é permitida 
mediante um contato com o outro (que 
em uma visão expandida se torna o 
Outro, ou seja, a própria sociedade 
diferente do indivíduo). 
2
Assim, pode também se dizer que a 
alteridade é a capacidade de se colocar 
no lugar do outro na relação 
interpessoal (relação com grupos, 
família, trabalho, lazer e a relação que 
temos com os outros, etc...), com 
consideração, identificação e dialogar 
com o outro. Por fim, alteridade não 
significa que tenha de haver uma 
concordância, mas sim uma aceitação 
de ambas as partes.
3
4
A importância da alteridade numa 
perspectiva antropológica, quando 
qualquer pessoa entra em contato com 
outra de cultura diferente, ela deve 
entender, e compreender esta cultura sem 
fazer o juízo de valor ou com 
preconceitos, assim é possível entender, 
não só a cultura do outro, como também 
a nossa de forma mais ampla, a 
antropologia é conhecida como a ciência 
da alteridade, porque tem como objetivo o 
estudo do Homem na sua plenitude e dos 
fenômenos que o envolvem. 5
Com um objeto de estudo tão 
vasto e complexo, é imperativo 
poder estudar as diferenças entre 
várias culturas e etnias. Como a 
alteridade é o estudo das 
diferenças e o estudo do outro, 
ela assume um papel essencial na 
antropologia. A alteridade é 
importante nas relações sociais e 
no combate ao racismo, etc...
6
Em 2008, quando aprontava o Livro PEDIDO 
DE PERDÃO AO TRIUNFO DA HUMANIDADE 
pedi ao Irmão Antônio Cechin que 
escrevesse uma apresentação ao meu texto 
e ele, após ler o que eu havia escrito, 
escreveu UM PEDIDO DE PERDÃO AO 
POVO-RAIZ, onde aprofunda a ideia de que 
temos heranças com relação aos milhares 
de anos da presença humana entre nós e o 
que fizemos com aqueles povos para 
estarmos hoje nos locais onde eles viviam.
8
Em 1978, em preparação ao encontro de 
Puebla, Cechin, escreveu um livrinho 
sobre Sepé Tiaraju, o qual ele sempre 
pensou como o representante da 
história dos índios martirizados.
“devia-se celebrar, além dos mártires 
tradicionais, a morte de milhares de 
índios sacrificados pelos Impérios 
Cristãos da Espanha e Portugal” 
afirmava textualmente nosso 
bispo-profeta Casaldáliga.
9
Casaldáliga cria a ‘Missa da Terra Sem 
Males’, que é também profundamente 
ecológica, consagrou-se oficialmente, 
como o primeiro grande pedido de perdão 
que os cristãos de nossa Ameríndia fazem 
a seus irmãos índios. Por isso mesmo, 
mais do que uma missa indígena é missa 
para ‘branco’ e com razão, encerra com um 
Compromisso Final em torno de uma 
trilogia de sentimentos: 
Memória / Remorso / Compromisso!
10
Sobre as comunidades ainda em estado nativo 
[escreve Cechin]: 
“Saindo de Porto Alegre por qualquer estrada 
que se tome, rumo a Pelotas pela BR 116, ou 
pela BR 390 no caminho da fronteira, ou ainda 
pela BR 101, costeando o litoral de sul para 
norte, nossos olhares darão, a toda hora, com 
gente acampada às margens das grandes 
rodovias, oferecendo um artesanato próprio, 
caracterizado por cestas multicoloridas e por 
animais esculpidos à força de canivete, tais 
como miniaturas de onças, tigres, tamanduás, 
capivaras, araras, jacus, lebres, etc”. 
12
Em seus traços fisionômicos e pela 
cultura que exibem, não é preciso fazer 
muito esforço para identificá-los. São 
comunidades sobrantes das nações 
indígenas guarani, kaingang e charrua. A 
situação atual em que se encontram, de 
carência absoluta, de maneira nenhuma 
consegue nos remeter ao passado tribal 
em que viviam durante os milhares de 
anos que antecederam à “descoberta” do 
Brasil pelos europeus, no ano de 1500 e 
mais adiante, nos séculos 17 e 18, sob a 
influência das Missões dos Jesuítas. 13
No Prólogo do Livro, mostro que sou um dos 
herdeiros da raça nativa:
Durante a infância passava as férias nas 
terras da avó Olinda Luis de Oliveira, uma 
verdadeira herdeira da genética guarani, em 
uma localidade chamada Carajazinho, que, 
em língua nativa se diz carajá mirim, ou seja, 
bugio pequeno. 
Estando no Carajazinho, lembra 
perfeitamente de ir a cavalo até as casas dos 
parentes, construídas de pau-a-pique, 
modelo herdado dos guaranis.
15
Na introdução do Livro cito que com o texto:
Pretendo contextualizar as diversas forças que 
levaram a montagem do projeto, analisando o 
crescimento, o apogeu e o desaparecimento. 
Também mostrar que o Guarani não 
desapareceu, apesar do extermínio de parte da 
gente daquele período, sua genética e cultura 
continuam vivas no meio regional e estadual, e 
nos países do Mercosul (Brasil, Argentina, 
Paraguai e Uruguai).
16
O povo nativo não desapareceu. Está vivo nas 
aldeias, mas também geneticamente no povo 
atual. Pretende mostrar esse lado histórico de 
forma clara para que a gente de nosso tempo 
compreenda melhor o jeito de ser de nossos 
contemporâneos e com isto busque soluções 
para a caminhada futura. 
Que o livro, de alguma forma, possa abrir o 
coração dos herdeiros dos mandantes das 
atrocidades contra os povos nativos daquele 
período histórico e que, de alguma forma, 
possam ajudar a reconstruir uma vida completa 
para os herdeiros que estão vivos.
17
De Onde Veio o Povo Guarani?
De origem mongol, pela obviedade dos traços e de sua 
biotipologia. Foi muito estudado pelos antropólogos de 
vários locais do mundo. Lugon (p. 24), citando Dr. 
Rengger, diz que “os traços fisionômicos são os da raça 
mongol... As mulheres têm os cabelos longos e lisos. Nos 
dois sexos, os cabelos só se tornam grisalhos numa idade 
muita avançada.” 
Carll Zimer, em O Livro de Ouro da Evolução (p. 470), uma 
espécie de Darwin revisado, diz que na comparação de 53 
povos diferentes do planeta se chegou a conclusão que 
os Guarani são irmãos genéticos dos dois tipos de 
Japoneses e dos Inuites Siberianos. E muito próximos dos 
Chineses, Australianos e Indianos Asiáticos. 19
Palacios e Zofolli no Livro Glória e Tragédia das Missões 
Guaranis (p. 71), comenta que “O índio guarani parece ter 
ascendência do tronco asiático, mongólico, com possíveis 
componentes polinésios.”
Das descobertas particulares e que mais me impressionam 
são as relacionadas com os guaranis e os japoneses. O 
bambu é um ou o elemento mais importante em ambas às 
culturas. Usado como material construtivo e de artesanato, 
tem o nome muito parecido em ambos os povos: no japonês, 
chama-se take e no guarani, taqua. As palavras taquara, 
taquapi, taquaruçu e tantas outras se referem ao tipo de 
bambu grosso, fino, felpudo. Entre tantas questões que levam 
a crer que entre 15.000 e 20.000 anos os guaranis e os 
japoneses estiveram juntos, muito próximos, ou mesmo 
formando um só grupo, é a questão das letras que formam 
suas línguas: em ambos os casos não há a letra “L”, 
corriqueira nas outras nações.
20
A tese levantada sobre o aparecimento do 
guarani na América é que saindo da 
Mongólia, o povo passou pelas ilhas do 
Japão, depois pelo conjunto das ilhas da 
Polinésia, mais tarde navegou pelas 
correntes quentes do Pacífico, e chegou à 
América, na altura do Peru, subiu os 
Andes e desceu pelas nascentes do rio 
Madeira, margens essas onde se 
encontram datações arqueológicas de 
sua presença há 8.000 anos. 
21
Na época pré-colombiana e pré-cabralina, os 
protoMby’á e os protoCarios foram dois 
grupos humanos que se derivaram das 
grandes migrações iniciadas nos rios 
amazônicos e que, ao unirem-se, formaram o 
complexo étnico denominado “tupi-guarani”. 
O rio Araguaia foi possivelmente o mais 
utilizado para a saída da região amazônica. O 
ramo guarani chegou até o começo do rio 
Paraguai e afluentes, dirigindo-se, também, 
às bacias dosrios Paraná e Uruguai, até ao 
Atlântico.
23
Nas épocas anteriores das Missões, existiam 
grupos indígenas com diferentes níveis de 
desenvolvimento: nômades, seminômades, 
caçadores, pescadores, semi-sedentários e 
agricultores. Desses todos, o Guarani 
apresentava maior desenvolvimento e maior 
população. 
A ocupação do território pelos Guarani no Rio 
Grande do Sul se deu há mais de 2.000 anos, 
ocupando espaços tomados de outras 
nações indígenas como, por exemplo 
Kaingans, Charruas, Minuanos, Guenoas e 
outras. 24
O Mundo Nativo Americano e o Povo Guarani
Segundo cálculos difíceis de serem confirmados, 
viviam na América cerca de 40 milhões de pessoas 
quando Colombo desembarcou na ilha de Guanaani, 
em 1492. Calcula-se que falavam 2.000 línguas, pois a 
maioria vivia em pequenas aldeias isoladas, apesar 
da existência de grandes impérios, com cidades 
maiores que Lisboa e Madri.
Como todos sabem, antes do descobrimento da 
América o Guarani era uma língua somente falada e 
não escrita. Por isso a importância da linguagem nas 
tradições e nos hábitos. O ñande reko (modo de ser) 
tem como um dos elementos fundantes no povo 
Guarani a sua língua.
25
PORTUGAL
Conforme Arnaldo Bruxel (p. 10), “O guarani era de 
estatura média, compleição robusta, cabeça grande, 
rosto largo e ovalado, olhos pequenos e vivos, nariz 
levemente achatado, dentadura firme e sem cárie, 
tez bronzeada, barba rala, cabelos pretos e lisos, 
andar rápido.”
De acordo com André Luis R. Soares, em seu livro 
Guarani Organização Social e Arqueologia (p. 21), há 
uma unidade da família lingüística tupi-guarani 
anterior ao contato com o europeu. Há uma unidade 
lingüística comprovada pelos dicionários ao longo 
da conquista e da colonização, e há uma unidade da 
organização social entre os diferentes grupos de 
fala Guarani ao longo do contato e atualmente.
27
O povo Guarani habitava a região litorânea do 
sudeste ao sul do Brasil, entre os estados do 
Espírito Santo e Rio Grande do Sul, o estuário 
do Rio da Prata, às margens do Paraná, parte 
do território do Paraguai, Argentina, Uruguai e 
Bolívia. Lugon, na página 23, expõe “Grupos 
compactos de guaranis estavam escalonados 
até a Cordilheira dos Andes. Escreveu o Dr. 
Rengger: “Não é duvidoso que essa nação não 
tenha sido a mais numerosa da América do 
Sul”. Os guaranis formam uma raça de muitos 
milhões de almas, distribuídas de maneira 
mais ou menos densa sobre metade do 
continente.” 
28
29
Soares (p. 92), informa que havia casas com 300 ou 
400 pessoas, com prestígio do tuvichá, atraindo 
diversos vassalos a partir do prestígio do cacique. 
Esse, tradicionalmente, tinha muitas mulheres. A sua 
importância era dada pelo número de mulheres, pois 
essas trabalhavam e garantiam bens para 
distribuição a outros índios, aumentando assim o 
prestígio do cacique.
Na página 93, escreve que, “A busca pelo prestígio, 
enquanto um dos pilares fundamentais do ethos, é o 
elemento que reúne diversas qualidades para a 
continuidade e unidade cultural. É pelo prestígio que 
se realizarão grandes festas, que se convidarão 
todas as pessoas ligadas, próximas ou distantes, é 
pelo prestígio que participarão das guerras.”
30
Soares (P. 209 e 210), esclarece que, o 
cuñadazgo “Consiste na prática de 
transformar uma pessoa sem laço sangüíneo 
num parente político por afinidade, o 
cunhado.”
Sobre a base cultural do povo Guarani, Melià, 
na página 126, escreve: “Hoje sabemos que o 
máximo valor cultural dos guaranis é sua 
religião, uma religião da palavra inspirada, 
“sonhada”, pelos Xamãs e “rezada” em 
prolongadas danças rituais... A missão 
jesuítica não realizou, pois, uma conversão da 
religião guarani, senão uma substituição.” 31
No atual território do Rio Grande do Sul, habitavam 
diversas tribos indígenas antes da entrada dos 
conquistadores guaranis, que, ao chegarem 
trouxeram uma nova cultura. Eram agricultores e 
com isso puderam mudar as condições do território 
na relação com as outras tribos e nações indígenas 
pré-existentes. Os Guarani guerreavam com arco, 
flecha e tacapes. Como eram cultivadores, podiam 
acumular alimentos para executar operações 
militares. Também foram auxiliados com a 
antropofagia que permitia obter proteína durante as 
guerras, sem necessitar perder tempo na caça. 
Abaixo, as tribos que viviam no atual território 
gaúcho e que, de alguma forma, conviveram com a 
entrada do Guarani.
33
O povo Tupi, que tinha o mesmo tronco lingüístico 
do Guarani, possuía uma profunda crença na 
imortalidade da alma; em verdade como as outras 
tribos. Dizia que a alma dos bons, depois de morrer, 
iria habitar além das Montanhas Azuis, em lugar 
maravilhoso, vedado a traidores. 
Os Kaingang encontravam-se localizados na região 
central, entre os estados de São Paulo, Paraná, 
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ocupando os 
planaltos destes estados. Falam a língua do tronco 
Jê. Sempre fugiram do processo de colonização. 
Acreditavam que a alma dos bons e dos bravos ia 
para o Paiquerê, campos paradisíacos que nem eles 
mesmos sabiam determinar. 
34
Os Carijó ocupavam o albardão entre a Lagoa dos 
Patos e o Atlântico, a região de Osório e Torres, 
penetrando em Santa Catarina.
Os Caaguá dominaram o planalto campestre e o 
nordeste do Rio Grande do Sul, tronco originário dos 
Coroado. Povo que o Padre Cristóvão de Mendoza 
tentou missionar, sendo morto em 1635.
Os Guananá situavam-se nas matas campestres do 
Alto Uruguai, sob a denominação de Ibirajara, 
confrontavam-se com os Tape.
Os Tape situavam-se entre as bacias do Taquari e 
Jacuí, no centro do Rio Grande do Sul.
35
Os Arachane ou Pato localizavam-se na região 
ocidental da Lagoa dos Patos, de forma diferente 
dos outros índios da vasta região, tinham os 
cabelos encaracolados, todavia também foram 
guaranizados e com muita facilidade foram se 
mesclando com os brancos.
Os Minuano estiveram arrinconados junto à Lagoa 
Mirim. Sempre tiveram boa relação com os 
portugueses que os contratavam para lutar contra 
os guarani. Pela pressão colonizadora, 
transferiram-se para a Serra do Jarau.
Os Guenoa localizavam-se nas terras entre o sul do 
Ibicuí e o rio Negro, Camaquã e o Vacacaí. Eram 
muito belicosos e causaram muito medo aos 
primeiros jesuítas. 36
Os Charrua foram um importante povo na 
formação do Estado. Estiveram presentes na 
redução de São Borja e ajudaram os guarani nas 
suas estâncias. Cavalarianos temíveis, lanceiros, 
laçadores e boleadores excelentes. Foram 
auxiliares históricos na formação estancieira e 
fronteiriça do Rio Grande do Sul.
Obviamente que os Guarani ocuparam este vasto 
território da América do Sul a partir de muita luta. 
No entanto, ao chegar o povo europeu, as relações 
neste vasto território estavam bem reguladas e 
estabilizadas, como a natureza das relações 
nativas permitia. Muitas tribos foram guaranizadas 
por força dessas lutas.
37
Entre 1568 e 1768, foram 200 anos de trabalhos 
apostólicos dos jesuítas entre os índios da 
América. É indubitável que sua presença e seu 
modo exemplar de evangelizar mudou o 
continente americano, especialmente no 
momento em que assumiram o lado dos 
nativos, como no caso dos guaranis que 
estavam pressionados pela busca portuguesa 
de escravos para suas lavouras, especialmente 
nas de São Paulo, ou pelos espanhóis que 
buscavam índios para suas encomendas, que, 
a bem da verdade, não eram nada diferentes 
que a escravização. 
38
Sobre a implantação das Reduções 
Jesuíticas 
Palacios observa (p. 130): “Conseguida a 
comunidade agrícola, favorecida pela boa seleção 
de terras com alta fertilidade e adiantando-se a 
seu entorno colonial e a sua época, os jesuítas 
criaram uma sociedade que foi durante século e 
meio um modelo de desenvolvimento social, 
econômico, cultural e cristão. E nunca estará 
demais repetir que essas transformações 
lograram com grupos indígenas em um estado de 
desenvolvimento neolítico.”
39
A cerca das reduções, Melià (p. 242), escreve:“As reduções eram povos de índios nos quais 
congregavam de fato vários cacicados. O novo 
espaço colonial urbanizado a modo dos povos 
de espanhóis, porém sem espanhóis morando 
neles, devia facilitar a instrução religiosa, a 
vida “política e humana” e a agricultura. Os 
missioneiros eram de fato os representantes 
da administração colonial, sendo os principais 
responsáveis da programação da vida cristã e 
política.” 
40
Na Primeira fase, onde hoje é o Estado do Paraná foram 13 
reduções, no Mato Grosso do Sul, cerca de 8 reduções e no atual 
Rio Grande do Sul estava a Região do Tape e sobre ela os jesuítas 
fundaram 18 reduções.
A primeira foi São Nicolau, no dia 3 de maio de 1626, pelo Padre 
Roque Gonzales de Santa Cruz, em local bem próximo à atual 
Cidade de São Nicolau. Essa fundação marcou o início da 
colonização do Estado. Em seqüência fundaram-se:
São Francisco Xavier, em 1626, ao lado do rio Uruguai, abaixo da foz 
do rio Piratini, fundada por Roque Gonzáles.
Nossa Senhora Candelária do Ibicuí, em 1627, próxima a Cidade de 
Alegrete.
Assunção do Ijuí, em 1628, fundada por Roque Gonzales, ao lado do 
rio Ijuí, hoje no município de Roque Gonzales.
Nossa Senhora Candelária do Piratini ou Caçapaa-mini, em 1628, 
entre os rios Piratini e o Ijuí, fundada pelo Padre Roque Gonzales. 
41
Nossa Senhora dos Santos Mártires do Caaró, em 1628, pelo Padre 
Roque Gonzales e Afonso Rodrigues, local onde foram 
martirizados, nesse mesmo ano.
Apóstolos, em 1631, próximo ao rio Ijuizinho,
São Carlos, em 1631, nas nascentes do rio ijuí, próximo a cidade 
de Panambi.
São Tomé, em 1632, fundada pelo Padre Pedro Romero, Manuel 
Bertot e Luís Ernot, próximo à cidade de Jaguari.
São José, em 1632, assumida pelo Padre José Cataldino, próximo 
à Cidade de São Vicente do Sul.
Natividade, em 1632, próximo a Cidade de Júlio de Castilhos. 
São Cosme e Damião, em 1632, dirigida pelo Padre Adriano 
Formoso, próximo a Cidade de Santa Maria.
Jesus Maria, em 1632, entre a cidade de Candelária e Botocaraí. 
Sant’Ana, em 1632, próximo à cidade de Candelária.
São Miguel Arcanjo, em 1632, fundada por Cristóvão de Mendoza e 
Pedro Romero, próximo a São Martinho.
São Cristóvão, em 1634, próximo à Vera Cruz.
São Joaquim, em 1634, próximo à cidade de Arroio do Tigre.
Santa Tereza, em 1634, próximo à cidade de Passo Fundo.
42
Sobre o bandeirantismo e a necessidade de tornar os 
índios escravos Solera (p.314), escreve: “O pretexto de 
submetê-los, garantia indispensável de sobrevivência 
para os núcleos populacionais recém-criados, logo 
deu origem a prática criminosa já citada, que visava 
apresar o nativo para o trabalho escravo. Neste caso 
não existe o tão decantado heroísmo bandeirante que 
a história consagrou, mas sim uma iniciativa 
aventureira e economista cujo objetivo eram lucros 
fáceis ainda que a qualquer preço. Esta fase foi de um 
aniquilamento sem precedentes na vida dos 
autóctones e amparavam-se na utopia de que 
“vendiam o serviço escravo e não a pessoa; mas como 
tinham que vender o serviço, o que fazer com a 
pessoa? ia junto!”
43
Fontes, como Montoya, Charlevoix, 
Pastells, Bruxel e outros, apontam o 
número de trezentos mil índios levados 
como escravos, sem esquecer que um 
número não contado é o dos mortos e 
feridos com os ataques e especialmente 
com a transmigração do Guairá, hoje 
Estado do Paraná, até o sul, em que os 
documentos contam milhares de mortos 
durante a viagem.
44
Em 1636, chegou à região do Tape a primeira bandeira 
paulista com intenções de escravizar os índios reduzidos. 
O comandante foi Antonio Raposo Tavares. Apesar da 
contraposição dos jesuítas, começaram o apresamento 
pela redução de Jesus Maria, de onde levaram milhares de 
índios como escravos. Em 1638, chegaram outros 
bandeirantes que se apoderaram dos povos de Santa 
Teresa e Apóstoles, também chamada de Caazapa-Guaçu. 
Nessa oportunidade, o superior Diego de Alfaro conseguiu 
que o Governador de Asunción Pedro de Lugo y Navarra o 
auxiliasse enviando 60 arcabuzeros, que se somaram aos 
2.000 guaranis missioneiros relativamente instruídos 
militarmente, comandados pelo irmão Torres. A força 
integrada, no dia 17 de janeiro de 1639, derrotou a 
bandeira que tinha como chefe Fernão Dias Pais Leme. 
Nesse episódio, foram libertados outros 200 índios que já 
estavam aprisionados. Nessa batalha, foi morto com um 
tiro de arcabus o superior padre Diego de Alfaro.
45
À morte do superior, somada às milhares de índios 
escravizados e aos saques sofridos desde a bandeira 
de Raposo Tavares, decidiram-se os jesuítas a 
abandonar o Tape, assim como já havia ocorrido com 
Guairá. Desde 1626, quando ocorreu a primeira 
fundação em terras do Tape, hoje Rio Grande do Sul, 
até o momento da retirada do último índio 
cristianizado no ano 1640, passaram-se 14 anos. 
Migraram 18.500 almas, conforme Larguia (p. 19).
Santos Missioneiros...
Deixaram para traz o gado que havia sido introduzido 
em 1634 e que se multiplicou maravilhosamente. Esse 
gado é que fez a base da economia para as reduções 
no seu retorno a partir de 1682 e também depois 
formou o gado do tropeirismo, das charqueadas e 
fazendas do Rio Grande do Sul. 46
A Batalha de M’Bororé
Cansados de serem atacados pelos Bandeirantes, os 
Jesuítas conseguem autorização para uso de armas de 
fogo e treinam os Guaranis para a Guerra.
4.200 indígenas se preparam para combater contra 
6.800 pessoas das forças paulistas. 
A Batalha ocorreu no rio Uruguai e a vitória Missioneira 
foi tão importante que mudou a história do Brasil, pois 
os bandeirantes mudaram a partir deste fato a sua 
política expansionista para encontrar ouro e pedras 
preciosas no Oeste brasileiro, especialmente as minas 
de Minas Gerais.
48
Moacyr Flores comenta (p. 47): “Em 1680 os 
portugueses se estabeleceram na Colônia do 
Santíssimo Sacramento com finalidades militares de 
estender a fronteira do império luso até o Rio da Prata e 
de criar um entreposto de contrabando, conforme se 
pode ler no regulamento trazido por D. Manuel Lobo e se 
deduz pelas atividades dos comerciantes ali 
estabelecidos. Esse contrabando inverteu o fluxo 
comercial dos produtos da região platina, que antes 
seguiam para os portos do Pacífico, para o porto de 
Buenos Aires, através da Colônia do Santíssimo 
Sacramento. A Espanha não conseguiu estancar essa 
sangria em sua economia, pois o contrabando contava 
com o apoio de autoridades rio-platenses. Só há 
corrupção quando as autoridades são coniventes.”
49
Segunda Fase Missioneira
Depois da expulsão estabelecida pelos 
Bandeirantes e o estabelecimento das reduções do 
lado direito do rio Uruguai, retornaram a partir de 
1682.
Voltaram por estas duas razões básicas: primeira, a 
econômica, pelo gado que estava espalhado por 
todo o território que depois foi chamado Rio 
Grande do Sul; e segunda pelas questões de 
ocupação territorial, pois os portugueses davam 
sinal de avanço, especialmente com a fundação da 
Colônia de Sacramento.
50
Os Sete Povos das Missões
-São Francisco de Borja: Fundado em 1682
-São Nicolau: Transmigrou no ano de 1687 
-São Luiz Gonzaga: Fundado em 1687
-São Miguel Arcanjo: Transmigrou em 1687
-São Lourenço Mártir: Fundado em 1690 
-São João Batista: Fundado em 1697
-Santo Ângelo Custódio: Fundado em 1706
Onde ficou mais tarde território do Brasil 
ficaram 7 Povos mais as estâncias ervateiras e 
de gado. Na Argentina 15 Reduções e no 
Paraguai 8. 52
Quanto às oficinas, escreve Bruxel (p. 44) que: “Em cada 
Redução havia umas 30 ou 40 oficinas: de escultura, 
pintores, ferreiros, tecelões, chapeleiros, curtidores, 
carpinteiros, oleiros, etc. Enquanto o permitia o volume 
das matérias-primas, localizavam-se as oficinas no 
segundo pátio. Outras se situavam fora do povoado, 
como as olarias que, além de grandes fornos, exigiam 
extensos galpões para a secagem dos adobes, ladrilhos 
e telhas. Também se encontravam fora do povoado as 
carpintarias, onde a madeira de construção, depois de 
desbastada do mato, eratrabalhada com traçador, 
machado e enxó. Os matadouros, por razões de higiene 
e comodidade, só poderiam estar fora do povoado, e não 
no segundo pátio... Ali no segundo pátio estavam 
certamente os açougues, em que se cortava e repartia a 
carne para cada família.”
Exportação... 53
As casas dos índios, no tempo anterior às reduções, 
eram de pau-a-pique, herança comum ainda no interior 
desta região da América. Quando da entrada dos 
primeiros padres no início dos anos 1600, construíram 
com mesmo material (palha, taquara, madeiras e barro). 
Só depois é que os materiais foram sendo a pedra e o 
tijolo.
Após a liberdade inicial, que permitia várias famílias em 
uma grande casa, os padres muniram as casas com 
paredes divisórias para cada núcleo familiar. Por volta de 
1725, as casas já eram cobertas de telhas e as paredes, 
ao menos até uns 85 centímetros acima do chão, eram 
de pedra. O restante das paredes eram formadas de 
adobe, um tijolo não queimado e com adequado 
acabamento, pode durar muito tempo. Havia casos que 
as casas eram toda de pedra. Exemplos as de São Inácio 
e Trinidad. 54
As casas estavam próximas umas das outras 
porque, desde o início, os padres observaram a 
cultura dos índios de estarem no coletivo e nunca 
agindo ou estando separados. A mobília da casa era 
simples. Havia algumas prateleiras embutidas na 
parede para guardar as panelas de barro, os 
porongos de água potável e recipientes para 
guardar as sobras. Alguns ganchos para guardar a 
roupa e nos cantos alguma caixa para guardar os 
produtos frescos vindos da roça. Não havia mesa 
nem cadeiras. Fundamental era a lareira, feita de 
pedras e sem chaminés, que tornava preta a cor do 
interior das casas.
55
O cotiguaçu, um dos locais mais interessantes das 
reduções jesuíticas, era o símbolo da fraternidade 
com que a sociedade cuidava dos necessitados. 
Local que servia de asilo e orfanato. Além de viúvas 
e órfãs desamparadas, acolhia mulheres 
abandonadas, servia também de reformatório de 
mulheres. Cotiguaçu, em Português, significa casa 
grande. Situava-se ao lado do cemitério, com altos 
muros, fechado em quadrilátero. A sala das 
recolhidas comunicava com o jardim interno por um 
largo corredor coberto, onde as inquilinas faziam 
seus trabalhos manuais e recreações. A 
coordenação era feita por uma anciã superior. Havia 
autorização para algumas saídas diárias: ir às 
missas e ao rosário.
57
Sobre a organização política das reduções, Lugon, 
(p. 87), apresenta a apreciação feita na revista Lês 
Jésuites et lê Secret de leur Puissance: “Esse 
Estado índio respondia às exigências democráticas 
mais modernas, visto que, longe de formar uma 
massa oprimida por funcionários todo-poderosos, os 
cidadãos não viam suas liberdades entravadas 
senão na medida em que o interesse geral o 
exigisse; nessa república, o funcionário indígena 
livremente escolhido era apenas um órgão da 
prosperidade pública, privada de preocupações 
egoístas.”
Os corregedores e todos os funcionários eram 
escolhidos pelo próprio povo em eleições anuais. A 
eleição tinha lugar nos últimos dias de dezembro ou 
no primeiro dia do ano, conforme os documentos de 
Muratori.
58
59
Bruxel, na página 83, “O uso da erva-mate (Ilex Paraguarienses) 
tem origem feiticeira, sendo ritualmente sorvida pelos 
médicos-feiticeiros (“pajés”), em suas adivinhações e 
diagnósticos. Por isso os espanhóis, inicialmente, consideraram 
seu uso um vício infamante, proibido pelo governo e punido pela 
igreja com a excomunhão. Tais restrições foram finalmente 
levantadas... O preparo da erva-mate era, essencialmente , o 
mesmo de hoje em dia. Os ramos, sapecados à noite, eram logo 
amontoados num jirau (grade de varas), com fogo lento por 
baixo, até estalarem de seco. Para sua melhor conservação, a 
erva, depois de moída, era bem socada em sacos de couro cru 
(“tércios”), que a comprimiam mais e mais, à medida que 
ressecavam... Vendia-se muita erva de Povo a Povo, ou antes, 
trocava-se erva por gado ou lã e algodão, sem possibilidades de 
exploração, porque tudo era tabelado por consenso comum.”
60
A pecuária fez a base da 
economia das reduções. Era o 
principal elemento de 
consumo interno. O couro era 
um elemento essencial de 
exportação.
Inesquecível neste item a 
formação do principal prato 
gastronômico do Sul do 
Brasil, o CHURRASCO
62
Quanto ao trabalho, os guaranis, durante o 
período reducional, tinham uma jornada 
diária de seis horas, diferente e muito à dos 
países Europeus que chegavam a ter, no 
mesmo período, dez horas ou mais. Uma 
outra informação importante é que todos 
trabalhavam, mesmo os caciques. Às 
mulheres competia zelar pelo arranjo 
doméstico, executar trabalhos de costura, 
jardinagem e lavagem das roupas nos 
lavadouros públicos. Trabalhavam em 
grupos nas varandas. As obras depois de 
terminadas eram remetidas ao armazém no 
fim de cada dia. 
63
Montesquieu em o Espírito das Leis 
disse que a República Guarani foi 
na época o único estado industrial 
da América do Sul. Sendo verdade 
tudo o que o grande escritor como 
Montesquieu diz, e também uma 
plêiade como Voltaire, Kautski, Paul 
Lafargue, Lugon, Desroches, 
Charlevoix, Muratori e tantos 
outros.
64
Um dos fatos levantado pelos 
historiadores das Missões é justamente o 
que Lugon, na página 210, descrevendo os 
escritos do Padre Cardiel, diz que “O jogo 
de bola recebia todos os favores. Os 
guaranis foram, de resto, inventores do 
futebol. Cardiel observa que suas bolas 
eram de borracha e muito mais elásticas 
do que as da Europa. Em vez de lançarem 
a bola com as mãos, jogavam-na com os 
pés. Até os velhos se apaixonavam pelos 
espetáculos esportivos”. 
65
A educação foi um dos 
elementos fundamentais para 
o desenvolvimento do projeto, 
exemplo que hoje se deveria 
tomar daquele período, pois 
retirar um povo do Neolítico e 
colocá-lo no Barroco em tão 
curto espaço de tempo foi 
realmente uma das maiores 
façanhas da humanidade. 66
Escreve o Padre Cardiel, concedia-se uma atenção 
muito especial à educação das crianças de ambos os 
sexos, pois de sua educação dependia a prosperidade 
da República Guarani. A pedagogia escolar dos jesuítas 
era inspirada pelas condições da vida do povo. A escola 
era totalmente dirigida para a vida prática, profissional 
e utilitária. Enquanto certas crianças se especializavam 
nos trabalhos de madeira ou tecelagem, outras 
aprendiam a contabilidade, pois a redução tinha 
necessidade de fiscais, controladores e contadores. 
Para as meninas, tinham-se criado escolas de costura e 
bordados, onde se aprendia a confeccionar os 
ornamentos de igreja e roupas de festas.
Havia duas séries completas de classes, meninos e 
meninas, com uma média de dois mil alunos em cada 
redução. A frequência era obrigatória dos sete aos doze 
anos. 
67
O Tratado de Madri, de 13 de janeiro de 1750, 
no seu Artigo 16, diz: “Quanto aos burgos e 
aldeias que Sua Majestade Católica cede na 
margem oriental do rio Uruguai, os 
missionários abandoná-los-ão com seus 
móveis e bagagens, levando consigo os índios 
para que se estabeleçam em outras terras 
pertencentes à Espanha. Os ditos índios 
poderão igualmente levar seus bens, móveis e 
gados, as armas, pólvora e munições que 
possuam. Os burgos e aldeias serão 
entregues na forma prescrita à Coroa de 
Portugal, com todas as suas casas e edifícios, 
e a propriedade imóvel do terreno.”
68
Herói Guarani, Missioneiro e Rio–grandense – Lei 12.366/2005.
Herói da Pátria brasileira – Lei 12.032/2009.
Pedido de Canonização – 10 de Novembro de 2015.
Reconhecimento como ‘Servo de Deus’ pelo Vaticano – 24 de abril 2017. 
Com a reação dos guaranis ao terrível 
Tratado de Madri de 1750, que previa a 
retirada dos Sete Povos Missioneiros para a 
outra banda do rio Uruguai, iniciou-se as 
tratativas para retirada à força da população 
guarani. 
Sobre a Guerra Guaranítica e a construção da 
educação dos guaranis reduzidos, Padre 
Melià na página 128, escreve: “Porsorte está 
a Guerra Guaranítica que vem a desmentir em 
grande parte a excessiva submissão dos 
índios à vontade dos padres; isto sim é um 
excelente fruto da educação.”
70
No momento da expulsão, havia 
setenta e sete missioneiros 
jesuítas nos Trinta Povos. 42 
espanhóis, 13 alemães, 11 
argentinos, 8 italianos, 2 húngaros 
e um francês. Nove tinham mais 
de 70 anos, e vinte e quatro mais 
de sessenta, a maioria entre 40 e 
59 anos. 
71
Os Anos 1768 a 1801
Com a brusca expulsão dos jesuítas, iniciou-se o 
processo final de destruição dos 30 Povos 
Missioneiros.
Imediatamente, uma nova organização administrativa 
tomou conta dos 30 Povos, com uma forma muito 
parecida à anterior, porém com mais pessoas, 
salários e burocracia. 
Pelo total desconhecimento do mundo guarani e pela 
exploração do guarani em piores condições que nas 
encomendas, aos poucos os índios foram 
deserdando, cada vez em maior número.
Neste período os moradores foram se empregando 
como peões nas áreas espanholas e especialmente 
nas terras em que os portugueses começaram a 
ocupar. Outros profissionais, como os das indústrias 
foram para as principais cidades. 72
A tomada portuguesa de 1801
Maneco Pedrozo, Borges do Canto e 
seus companheiros sublevaram os 
milicianos guaranis que revistavam na 
guarda espanhola de San Martin. Não 
lhes resultou difícil sublevar seus 
vizinhos e parentes, os milicianos 
guaranis, quem depois de 34 anos de 
sofrimentos pela administração civil 
espanhola, estavam fartos dos maus 
tratos e da exploração a que eram 
submetidos. 74
Tomada Espanhola de 1828
No dia 26 de agosto, se leu na Convenção 
de Santa Fé o comunicado do Ministro da 
Guerra, dando comunicação à 
correspondência do Brigadeiro Rivera, 
Segundo General da Divisão do Norte. 
Nesses dias, começaram a chegar a 
Itaqui correspondências de chefes 
argentinos, felicitando o General pela 
conquista. 
75
Como era de se prever, as negociações foram 
levadas para a entrega das Missões Orientais 
a fim de que a guerra cessasse. O Lord 
Ponsomby, interlocutor inglês, advertiu que 
sem a devolução das Missões ao Brasil seria 
impossível conseguir a paz. As negociações 
finalmente chegaram a um acordo sobre a 
base da independência absoluta da Província 
Oriental ou ex-Cisplatina, que passaria a 
constituir uma nação independente do Brasil e 
Argentina. Em 27 de agosto, no Rio de 
Janeiro, se firmou o tratado preliminar de paz 
entre a Argentina e o Império do Brasil.
Rivera leva muitos Guaranis ao Uruguai, os 
quais muitos retornaram a partir de 1832.
76
O Povo Atual e Reflexo Antropológico
O povo nativo Guarani, que chegou há 
cerca de 2.500 anos, continua vivo. 
Alguns como índios em suas aldeias, 
como a Tekoá Koenjú, em São Miguel 
das Missões e em tantas outras, 
distribuídas pelos países da área 
fronteiriça do Mercosul. 
Insistir-se-á forte quanto aos milhões de 
descendentes desse povo miscigenados 
nas vilas, bairros, no interior, nas 
pequenas e grandes cidades. 78
Depois da invasão de 1801, Larguia 
insiste que os portugueses repetiram 
nos povos orientais o processo 
iniciado em 1754, que era o de 
distribuir, geograficamente, e mesclar 
os guaranis com a população crioula. 
Das almas que habitavam os Sete 
Povos, em 1828, estavam somente 
2.000 como índios. O restante estava 
se miscigenando no amplo território.
79
O Frei Luiz Carlos Susin, no livro Sepé Tiaraju, 250 
Anos Depois, no capítulo 4, Sepé Tiaraju e a 
Identidade Gaúcha, escreve que:
“... Não é, propriamente, nas lendas e nos causos, 
nas figuras míticas e nos gemidos que ainda se 
escutariam nas regiões das charqueadas ou das 
Missões que estão as assombrações a nos gelar a 
espinha. Estão nos rostos indiáticos, mestiços e 
caboclos, que jazem vivos como esfinges nas 
periferias, nas vilas e nos ônibus da área 
metropolitana, arranchados por todo canto nas 
periferias das grandes e das pequenas cidades, 
identidades desgarradas. Esses rostos e esses 
corpos não visíveis para a aristocracia acadêmica e 
política, a cavalo com vidro fumê, que não circula 
pelas periferias ou de ônibus de vila.”
80
E continua dizendo que “Se 
culturalmente e socialmente, em 
nosso meio “quem passa de branco, 
negro é”, então o mesmo se pode 
dizer dos descendentes indígenas 
mestiçados e acaboclados: há 
multidões ao nosso redor. 
Desmemoriadas por um lado, mas 
continuando a contar suas narrativas 
por outro, sem mesmo saber bem 
por quê.
82
Os vazios de suas memórias e a baixa 
auto-estima de seus rostos e sotaques 
são ingredientes perigosos para a 
violência indomada do gaúcho, mas 
suas narrativas e sabedoria, como bem 
percebeu Simões Lopes, são a 
resistência de uma anterioridade a todo 
dualismo fronteiriço, a possibilidade de 
uma hospitalidade que tem o segredo 
da remissão e da reconciliação – as 
vítimas sobreviventes que têm o poder 
de resgatar os vencedores manchados 
de sangue... 83
Na vida real continuam gaúchos peões e 
usuários de coletivos, de periferia e beira de 
estrada, que se reúnem em “gauchada” ou 
“indiada”, em torno de algum “índio velho”, ou, 
ainda melhor, “qüera velho”: são todos indícios 
de uma identidade mais antiga, mais ancestral 
e mais enraizada do que a identidade gaúcha 
forjada mais ou menos oficialmente no 
entrevero dos confrontos de interesses 
resolvidos na degola e na necessidade de 
domar pela estética e pelo ritual a violência e 
as suas assombrações”. Encerra com a frase 
certa: “índio é nobre”.
84
Para quem tem “olhos de ver”, olhe para os pobres 
desta vasta região. Ande pelas ruas e vilas.
Muitos dirão que hoje a maioria dessas cidades é de 
brancos portugueses, espanhóis, alemães, italianos 
e de tantas outras etnias que vieram depois. 
Não esqueçam, que a base genética do povo e a 
cultura dominante são da ancestralidade nativa. 
Reconhecer isso é dar oportunidade desta grande 
região ao seu autoconhecimento. E se “somos 
diferentes” como povo nativo, expressão que todos 
que nos conhecem dizem, é importante, valorizar e 
trabalhar para encontrar o nosso caminho próprio 
no desenvolvimento sonhado e esperado.
85
86* Veja que o gado entrou em 1634
Quanto aos nativos estarem vivos além das aldeias, 
nas pessoas que não reconhecem em si mesmas o fato 
de serem descendentes da genética e cultura, é 
importante verificar que isso ocorre não só com os 
guaranis, mas praticamente com todos os nativos do 
Brasil e da América.
Entender a presença nativa é entender o jeito de ser e 
as diferenças existentes dentro do continente chamado 
Brasil e também as diferenças existentes nos vizinhos 
países da América. 
Tem-se um perfil socioeconômico muito diferente do 
restante do mundo. Estudar a base antropológica 
formadora desses povos é dar uma oportunidade de se 
conhecer e projetar os melhores caminhos para o 
futuro. Nenhuma nação indígena terminou, apenas se 
mesclou com outros povos. A genética continua viva 
nos corpos que ainda andam pelas nossas terras. 
87
No livro “O Índio no Rio Grande do Sul, Perspectivas”, de 
1975:
“Manoel Bonfim afirma, com base na historiografia clássica 
relativa ao Brasil, que noventa por cento dos operários e 
soldados, infantes, e canoeiros, abridores de picada, 
vaqueiros e lavradores e, ainda, guias insubstituíveis, assim 
como curandeiros de posse de um herbário riquíssimo, foram 
índios aliados aos colonizadores lusos”. 
“A plasticidade somática, a receptividade antropológica do 
indígena brasílico ou rio-grandense ao homem europeu, foi 
um fator fundamental na caracterização da nacionalidade 
brasileira nos dois primeiros séculos. E essa caracterização 
vincou o seu fácies antropológico, social e psíquico, em 
todos os quadrantes do território nacional. Serviu de traço de 
união basilar às outras etnias europeias, africanas ou 
asiáticas, que se foram acrescentando ao glomerado racial.” 88
Arnaldo Bruxel (p. 83 a 87):
Diziam os padres que todos os anos fugiam alguns, 
com mulher própria ou alheia, em geral para as 
cidadesespanholas, mas às vezes para bandos 
nômades formados por Charrua e ou Minuanos, os 
primeiros gaudério, sementes dos futuros gaúchos.
Depois de 1750, e especificamente em 1757, uns 3.000 
guaranis acompanharam Gomes Freire para Rio Pardo. 
Depois, espalhados para vários lugares, levaram seus 
vícios e tradições, especialmente o uso da erva-mate. 
Entre 1757 e 1801, a fuga para os campos portugueses 
ia continuando. Bruxel, diz que em 1801, depois da 
conquista portuguesa, muitos dos guaranis se 
espalharam pelas estâncias portuguesas. Escreve que 
“Tanto mais que em parte nem saíram de suas terras, 
já que os portugueses as iam pedindo em mercê às 
suas autoridades, empregando os índios, sobretudo 
como posteiros de estâncias.” 
89
Temos a impressão de que todos estes 
índios bem depressa desapareceram, 
quanto a seus nomes, debaixo dos 
nomes de seus patrões”. Afirma que 
entre 1757 e 1830 devem ter integrado a 
população luso-brasileira milhares e 
milhares de índios, enchendo a 
campanha de mestiços, que, depois de 
uma ou duas gerações, desapareciam 
debaixo dos nomes brasileiros. 
90
O Governador Marcelino de Figueiredo, 
secundando o Alvará Régio, publicou em 31 
de julho de 1773 um edital sobre a repartição 
das terras aos moradores da Capitania, no 
qual ordenou: “Toda pessoa militar ou 
particular de bom procedimento e de sangue 
limpo que casar com alguma índia que tenha 
as mesmas circunstâncias, será preferido 
nestas mesmas datas de terras e se lhe dará 
ferramenta para cultura e dote e será em 
iguais circunstâncias preferido para todos os 
empregos e cargos nobres na forma das 
Reais Ordens de El-Rei Nosso Senhor, para 
cuja execução todos devemos concorrer...” 91
Sentia o Governador a necessidade de apressar a 
incorporação dos índios ao mundo português. Em 
11 de agosto de 1777, é criado o regulamento da 
Escola da Aldeia dos Anjos, com regime de meia 
clausura dos meninos índios, permitindo que o 
contato de seus alunos com os pais índios fosse 
feito do meio-dia às 2 horas. Exigiu-se que falassem 
em Português, “cuja língua devem sempre e 
somente falar os meninos para perderem o 
Guarani”. Proibidos de falar e escrever em Guarani, 
esses meninos acabavam por se incorporar ao meio 
luso-brasileiro que os cercava e delimitava. 
Tornaram-se, espiritual e culturalmente, brancos. Os 
índios integrantes desse projeto se integraram ao 
caudal demográfico do Rio Grande do Sul.
92
A 2 de fevereiro de 1778, surgiu a escola das 
meninas: o Recolhimento das Servas de Maria 
Santíssima. O regulamento determinava que a 
idade para a matrícula seria de 6 a 12 anos. Entre 
tantas observações, referia-se a quando 
houvesse brancos interessados em desposá-las, 
o Comandante deveria examinar a condição e 
seriedade do candidato, de tudo dando ciência ao 
Governador, para que fossem providenciados o 
enxoval e o dote. Condição sine qua non dessa e 
de outras opções de conduta: domínio da Língua 
Portuguesa.
O Governo determinou o rebatismo dessas 
criaturas com nomes portugueses. 
93
O modo de ser (ñande reko):
Não é difícil observar um povo mais contemplativo e 
de forma de agir mais relacionado com os ritmos da 
natureza.
As aceitações de novidades religiosas são 
tradicionalmente adaptadas ao meio das 
comunidades.
A verdadeira história do cooperativismo começaria 
nas Missões. Escutando o presidente da Organização 
das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul, 
Vergílio Périus, defende as idéias do estudioso Rafael 
Carbonell de Masy, de que é chegada a hora de 
resgatar a verdade sobre a origem da primeira 
cooperativa, surgida em 1627.
94
O povo nativo tem um potencial imenso. O gênio 
das missões, Sepp, escreveu sobre os nativos, na 
página 245 e 246 isto:
“Para os serviços mecânicos, porém, têm olhos de 
lince. O que viram uma só vez pode-se estar 
convencidíssimo que o imitarão. Não precisam 
absolutamente de mestre nenhum, nem de dirigente 
que lhes indique e os esclareça sobre as regras das 
proporções, nem mesmo de professor que lhes 
explique o pé geométrico. Se lhes puser nas mãos 
alguma figura ou desenho, verás daí a pouco 
executada uma obra de arte, como na Europa não 
pode haver igual”. Os pensadores sobre o 
desenvolvimento precisam se aperceber desses 
perfis.
96
Os guaranis e outros 
indígenas, definitivo e 
felizmente, não foram todos 
mortos na Guerra 
Guaranítica. 
Foram espalhados e hoje a 
genética nativa está 
completamente viva nos 
bairros, interior e nas 
cidades desta macrorregião 
da América do Sul. 98
 
EM TERMOS DE ALTERIDADE:
** Antes**
... Quem foram suas tataravós? 
Geneticamente e culturalmente quem Eu sou?
Eu respeito as diferenças e viabilizo uma 
educação diferenciada para estes diferentes?
Como eu olho meus alunos que não sabem 
que são descendentes dos povos nativos?
Como eu trato estas diferenças 
antropológicas?
Como oriento meus professores para estas 
realidades? 100

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