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RESUMO ANTIJURICIDADE

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ILICITUDE 
A ilicitude é o segundo elemento do conceito analítico de crime. 
É a relação de contrariedade entre um fato e o ordenamento jurídico como um todo. 
É um conceito jurídico e, por isso, válido para todo o direito, e não só para o direito penal. 
Diz-se ilícita a ação sempre que for praticada contrariamente ao direito, isto é, sem o amparo 
de uma causa de exclusão da ilicitude, como a legítima defesa, o estado de necessidade, o 
estrito cumprimento do dever legal ou o exercício regular de direito. 
O CP prevê quatro excludentes de ilicitude (causas de justificação): 
1-LEGÍTIMA DEFESA 
2-ESTADO DE NECESSIDADE 
3-ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL 
4-EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO 
 
1-LEGÍTIMA DEFESA 
Trata-se da autodefesa necessária à preservação de direito individual ou de terceiro 
injustamente violado ou sob séria e grave ameaça de violação. 
FUNDAMENTO DA LEGÍTIMA DEFESA 
1-Proteção individual de ataques ou ameaça de violação a bens jurídicos; 
2-Afirmação do próprio direito, eis que a defesa privada colabora na manutenção da ordem 
jurídica; 
DOS REQUISITOS DA LEGÍTIMA DEFESA 
Da definição da legítima defesa 
1-Agressão injusta; 
2-Atualidade ou iminência da agressão; 
3-Defesa de direito próprio ou de terceiro; 
4-Uso moderado dos meios empregados; 
A agressão que enseja a legítima defesa deve ser atual, isto é, que está se consumando, ou 
iminente, que está por se consumar. 
Tratando-se de agressão passada não se configura a legítima defesa, situação em que haverá 
vingança pura e simples, não amparada pelo direito. 
Por igual, se se cuidar de agressão futura – logo, nem atual nem iminente; incerta, enfim -, não 
será admitida a excludente, pois, como dizia Magalhães Noronha, a legítima defesa não se 
funda no temor de ser agredido, nem no revide de quem já foi. 
A reação da legítima defesa é, portanto, sempre preventiva; preventiva no começo de ofensa 
ou preventiva de maior ofensa, não sendo cabível contra agressão que já cessou ou contra 
simples ameaça desacompanhada de perigo concreto e imediato. 
Já os meios necessários são os meios reputados eficazes e suficientes para repelir a agressão, 
segundo as circunstâncias concretas do caso, devendo levar-se em conta a natureza e 
intensidade do ataque. 
Magalhães de Noronha exemplifica: “se um homem é atacado pelo campeão mundial de boxe 
e defende-se com um revólver, não há negar-lhe a legítima defesa. Estranho seria que lhe 
fôssemos exigir a troca de golpes com ele”. 
Havendo flagrante desproporção entre a ofensa e a reação, desnatura-se a legítima defesa. 
Haverá excesso na hipótese de responder-se a um tapa com um golpe mortal, ou no matar-se 
uma criança porque penetrou no pomar e apanhou algumas frutas. 
O excesso praticado encontra reprovação legal no art. 23, parágrafo único. 
A repulsa ao excesso denomina-se legítima defesa sucessiva. Suponha-se que Atanagildo 
agridiu Chico fisicamente, fazendo com que este puxasse sua arma para alvejar Atanagildo, em 
flagrante desproporção à agressão injusta inicialmente praticada por ele. Atanagildo, então, 
poderia defender-se do excesso cometido, agindo em legítima defesa sucessiva. 
Obs.: O Pacote Anticrime incluiu o parágrafo único ao art. 25 do CP. O referido parágrafo 
estabelece que, observados os requisitos de toda e qualquer legítima defesa (reação 
proporcional, agressão injusta atual ou iminente, etc.), considera-se em legítima defesa o 
agente de segurança pública que atua para repelir agressão atual ou iminente a vítima mantida 
refém durante a prática de crimes. 
 
2- ESTADO DE NECESSIDADE 
Trata-se de uma causa excludente de ilicitude representada em circunstância que há uma 
colisão de interesses entre titulares de bens jurídicos, reconhecendo-se o direito de qualquer 
deles sacrificar interesse alheio, de forma a preservar interesse próprio, quando tal sacrifício 
seja inevitável. 
Pode ter como causa um ato humano, fato de animais, força da natureza, acidentes, etc. Como 
exemplos, podemos citar o furto famélico (furtar para saciar a fome extrema); o dos náufragos 
lutando por uma única tábua que sustenta o peso de apenas um deles (exemplo clássico da 
“tábua da salvação”); das práticas de antropofagia (canibalismo) daqueles que se encontram 
em locais sem nenhum recurso alimentar; o aborto necessário (art. 128, I, do CPB), etc. 
Da própria definição do estado de necessidade, previsto no artigo 24, do CP, pode-se retirar 
seus requisitos: 
1-Existência de perigo atual e inevitável; 
2-Perigo não provocado pelo agente; 
3-Inexistência de dever legal de enfrentar o perigo; 
4-Inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado; 
5-Ameaça a direito próprio ou alheio; 
O Código Penal, ao disciplinar o estado de necessidade previu a Teoria Unitária, de modo que 
o instituto receberá o mesmo tratamento jurídico-penal, se o bem jurídico sacrificado for de 
igual valor àquele ameaçado ou de valor inferior. Isto é, nos dois casos, não haverá crime. 
Se, todavia o interesse sacrificado for superior ao preservado, tanto que era razoável exigir -se 
o sacrifício do direito ameaçado (artigo 24, §2, do CP), subsiste o crime, autorizando, a 
diminuição da pena, de 1/3 a 2/3. 
É também imprescindível à configuração do estado de necessidade que o perigo não tenha 
sido voluntariamente provocado pelo agente que a invoca. 
Isto é, não pode suscitar o estado de necessidade a pessoa que dolosamente produziu a 
situação perigosa. 
A doutrina interpreta a expressão “voluntariamente” como abrangente do perigo provocado 
dolosamente e culposamente. 
Segundo o texto legal, o fato praticado em estado de necessidade deve ter sido consequência 
de um perigo atual, embora hoje prevaleça o entendimento de que seja possível fazer -se uma 
interpretação extensiva, é dizer, que o perigo que autoriza invocar o estado de necessidade 
pode se configurar também como iminente. 
O art. 24, § 1º, impõe que não poderá invocar o estado de necessidade aquele que tem o 
dever legal (proveniente de lei, regulamento, etc.) de enfrentar o perigo. Como exemplo desses 
indivíduos, temos: bombeiros, policiais, tripulantes de aeronaves e embarcações, etc. 
DIFERENÇAS ENTRE ESTADO DE NECESSIDADE E LEGÍTIMA DEFESA 
O estado de necessidade caracteriza-se por uma situação de perigo, enquanto a legítima defesa 
é caracterizada por uma agressão injusta. 
Entretanto, a diferença fundamental entre essas duas excludentes de ilicitude reside no fato de 
que no estado de necessidade há um conflito de interesses lícitos, ou seja, os titulares dos 
bens jurídicos são possuidores de interesses legítimos; na legítima defesa, ao revés, há o 
choque entre um interesse ilegítimo (do agressor injusto) e um interesse legítimo (agredido). 
QUADRO COMPARATIVO 
ESTADO DE NECESSIDADE LEGÍTIMA DEFESA 
Situação de perigo Agressão injusta 
Conflito de interesses lícitos Choque entre um interesse lícito (agredido) e outro 
ilegítimo (agressor). 
 
ESTADO DE NECESSIDADE E LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVOS 
O estado de necessidade e a legítima defesa putativos caracterizam-se por uma situação de 
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. São, em verdade, hipóteses imaginárias, não 
configurando excludente de antijuridicidade, e sim erro de tipo (erro sobre descriminantes 
putativas – aplicação da teoria limitada da culpabilidade). 
É o caso, por exemplo, daquele que está no cinema quando, de repente, alguém grita “fogo!”. 
Imaginando em situação de perigo atual, o indivíduo, evadindo-se do local, provoca lesões 
corporais em algumas pessoas (estado de necessidade putativo). Também ocorrerá na hipótese 
de um indivíduo que, ao encontrar seu inimigo e vê-lo levar a mão ao bolso, puxa sua arma e 
efetua disparos contra o mesmo, verificando, posteriormente, que o inimigo apenas estava 
pegando um lenço (legítima defesa putativa). 
Não há excludente de antijuridicidade nestas hipóteses, não há causa justificativa.Por tratar -
se de erro de tipo (art. 20, § 1), poderá, ou não, excluir a conduta dolosa ou culposa. 
 
ESTRITO CUMPRIMENTO DE UM DEVER LEGAL 
Trata-se de causa excludente de ilicitude que consiste na prática de um fato típico, em razão 
de cumprir o agente uma obrigação imposta por lei, de natureza penal ou não. 
Seu executor deve ser agente do poder público ou particular quando se encontrar no exercício 
de função pública. (jurado, perito, mesário da Justiça Eleitoral, etc) 
O estrito cumprimento do dever legal também se estende ao particular, quando atua no 
cumprimento de um dever imposto por lei. 
Júlio Fabbrini Mirabete salienta: “quem cumpre regularmente um dever não pode, ao mesmo 
tempo, praticar um ilícito penal”. Assim, o policial que produz lesões corporais no delinquente, 
na tentativa de fazer cessar a sua resistência à prisão, por exemplo, não age ilicitamente. A 
conduta não é antijurídica, porque abarcada pela excludente do estrito cumprimento do dever 
legal. 
Deve a conduta, para estar excluída a sua ilicitude, ser praticada na observância de norma 
jurídica. 
Não age sob o amparo da excludente em tela aquele policial que obriga o passageiro do ônibus 
a sair de seu assento para que uma senhora possa sentar-se. Nesse caso, não há norma jurídica, 
apenas moral. 
 
EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO 
Trata-se de uma espécie de excludente de ilicitude que o autor simplesmente faz valer um 
poder ou uma faculdade legal. 
Em certas hipóteses, o ordenamento jurídico permite que o cidadão aja para defender um 
direito seu ou coletivo, como, por exemplo, nos casos de correção dos filhos pelos pais, defesa 
em esbulho possessório, etc. 
Outras hipóteses de exercício regular de direito são citadas pela doutrina: lesões ocorridas 
estritamente no exercício normal da prática de esportes, transportador que retém a bagagem 
do passageiro até o pagamento do transporte (art. 742 do CC/02, c/c o art. 23, III, do CPB), 
intervenções médicas e cirúrgicas (com o consentimento do paciente) e os chamados 
ofendículos. 
Quanto aos ofendículos (ofendicula agendi), ou seja, aqueles aparelhos predispostos para a 
defesa de propriedade (pregos, arames farpados, cercas eletrificadas, etc.), Damásio de Jesus 
entende estar caracterizada hipótese de legítima defesa. Entretanto, prevalece o entendimento 
de que, sendo a propriedade um direito, qualquer ato praticado em sua defesa será abarcado 
pelo exercício regular de direito, não havendo margem para se falar em legítima defesa. 
DIFERENÇA ENTRE EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO E ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER 
LEGAL 
O estrito cumprimento do dever legal é excludente de ilicitude de natureza compulsória, de 
modo que o agente está obrigado a cumprir o mandamento legal, sob pena de incorrer em 
ilícito administrativo ou mesmo crime contra a Administração Pública (exemplo: prevaricação – 
artigo 319, do CP). 
Já o exercício regular do direito é excludente de ilicitude de natureza facultativa, de modo que 
o agente está autorizado pelo ordenamento jurídico a agir, mas a ele pertence a opção entre 
exercer ou não o direito assegurado. 
 
TEORIA DA TIPICIDADE CONGLOBANTE 
Criada pelo penalista argentino Eugênio Raúl Zaffaroni, procura corrigir o que entende ser um 
equívoco na atual teoria do injusto penal (lembre-se: injusto penal = fato típico + antijurídico). 
Exemplifica o autor argentino com a situação do oficial de justiça que entra em determinada 
residência, munido de ordem judicial, para o cumprimento de ordem de busca e apreensão. A 
doutrina tradicional tem entendido que tal situação configura fato típico de violação de 
domicílio e furto, embora o injusto deixe de se caracterizar em virtude de agir o funcionário 
público dentro do estrito cumprimento de um dever legal (excludente de antijuridicidade – art. 
23, III, CPB). 
A teoria da tipicidade conglobante, tentando corrigir o problema, demonstra ser incoerente 
caracterizar a conduta do oficial de justiça como violadora da norma penal (conduta típica), 
ainda que justificada, depois, por excludente de ilicitude. Como dizer, então, que o oficial de 
justiça praticou um fato típico, se o próprio ordenamento jurídico impôs a ação ao referido 
funcionário (cumprimento do mandado)? Note-se, ainda, que a omissão do funcionário poderia 
levá-lo à prática de infração contra a Administração Pública (prevaricação – art. 319, CPB). 
A tipicidade conglobante, assim, adiciona ao conceito de tipicidade formal (mera adequação 
da conduta ao tipo) a ideia de antinormatividade (tipicidade conglobante = tipicidade formal 
+ antinormatividade). 
Para a teoria em exposição, não há antinormatividade, sob pena de antinomia, se o 
ordenamento jurídico impõe ou incentiva uma conduta a alguém. Note-se que essa teoria 
praticamente acaba com o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito 
como causas de exclusão da ilicitude, entendendo que, por faltar neles antinormatividade, ter -
se-ia fato atípico.

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