Buscar

Fichamento - A prescrição e a decadência no Direito do Trabalho

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB
JOÃO PAULO MACHADO DOS SANTOS 
 
 
 
A PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO
 
 
PAULO AFONSO-BA
2021
Direito do Trabalho II
Fichamento sobre “A prescrição e decadência no Direito do Trabalho”, para obtenção de nota, na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus VIII, curso Bacharelado em Direito, período 2021.2, como avaliação para a disciplina “Direito do Trabalho II”, professor José Ivaldo. 
 
Paulo Afonso, 15 de setembro de 2021.
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO
Noções gerais: A prescrição tem suas raízes históricas no direito romano, com registros indicando o seu surgimento na época da Lei das XII Tábuas. A prescrição seria justamente o efeito que o decurso do tempo tem sobre as relações jurídicas. Dentre as suas espécies temos: a prescrição aquisitiva (ou usucapião) e a prescrição liberatória (ou extintiva, ou simplesmente prescrição). É um instituto presente em todos os ramos do direito, com o intuito de garantir a estabilidade das relações jurídicas e a paz social, de forma a impedir a eternalização dos conflitos. O instituto pode ser usado pelo devedor que tem em vista à extinção da pretensão relativa à obrigação de pagar. 
A lei civil nacional de 1916 não distinguia a prescrição e a decadência, isso muda, contudo, quando a doutrina adotou dois critérios científicos para a sua distinção: uma vertente determinando a origem da ação como critério; enquanto uma outra vertente acreditava que a prescrição tem início com uma violação de direito, com este atrelado a uma ação correspondente. Aplicados os dois critérios simultaneamente, a doutrina chegou em um consenso: a) as ações de cunho condenatório se submetem à prescrição; b) são imprescritíveis as ações de natureza declaratória; c) as ações constitutivas se submetem à decadência. 
O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) reconheceu a diferenciação entre os institutos da prescrição e decadência[footnoteRef:1]. E com o Código Civil de 2002, os institutos da prescrição e decadência receberam tratamentos normativos próprios. [1: Em seus arts. 26 e 27. ] 
Da prescrição: Como mencionado no subtítulo “Noções gerais”, a prescrição pode ser dividida (quanto à natureza dos efeitos) em duas espécies: aquisitiva ou liberatória. A prescrição aquisitiva produz o efeito de direito de aquisição de propriedade, o que pode ser facilmente ilustrado com o exemplo da usucapião. A prescrição liberatória produz a perda da pretensão, vale ressaltar, da exigibilidade judicial. 
Está disposto no art. 189 do CC: “Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição (...)”. A prescrição atinge a pretensão do titular de um direito violado, acarretando na extinção da pretensão, mas não do direito em si. O caput do art. 11 da Consolidação das Leis Trabalhistas[footnoteRef:2] seguiu essa orientação doutrinária. [2: Art. 11 - A pretensão quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve em cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho.] 
Dentre outras regras que aludem à prescrição[footnoteRef:3] temos: a) a renúncia da prescrição pode ser feita tácita ou expressamente, sem prejuízo de terceiros e após a consumação da prescrição; b) os prazos de prescrição não podem ser alterados, nem por acordo entre as partes; c) a prescrição pode ser alegada (pelo beneficiado) em qualquer grau da jurisdição; d) os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas tem ação contra os seus assistentes e representante legais, quando dão causa à prescrição ou não alegarem no momento oportuno; e) a prescrição iniciada contra uma pessoa continuará contra o seu sucessor. [3: Presentes nos arts. 190 ao 196 do CC. ] 
O Código Civil dispõe as causas que impedem ou suspendem a prescrição[footnoteRef:4]: a) entre cônjuges (durante a constância da sociedade conjugal); b) entre ascendentes e descendentes (durante o poder familiar); c) entre tutores e tutelados, e curadores e curatelados (durante o exercício da tutela e curatela); entre outros. [4: Em seus arts. 197 ao 199. ] 
A interrupção da prescrição[footnoteRef:5] só ocorre uma vez, seja: a) por despacho do juiz; b) por protesto cambial; c) pela apresentação de do titulo de crédito em juízo de inventário ou concurso de credores; d) por ato judicial que constitua em mora ao devedor; e) por ato inequívoco que acarrete em reconhecimento do direito pelo devedor. [5: Prevista no art. 202 do CC. ] 
A lei civil nacional estabelece regras a respeito da interrupção da prescrição: a) “A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper”[footnoteRef:6]; b) qualquer interessado pode interromper a prescrição; c) a interrupção por um credor não beneficia os outros; d) a interrupção realizada contra um codevedor (ou seu herdeiro) não acarreta em prejuízo para os demais; e) no caso do credores ou devedores solidários, a interrupção realizada ou sofrida envolve os demais (e nos caso dos devedores, também os herdeiros); f) se uma interrupção for realizada contra um dos herdeiros de um dos devedores solidários, os outros herdeiros e devedores não sofrem prejuízo[footnoteRef:7]; g) se uma interrupção for realizada contra o devedor principal, o fiador também é prejudicado. [6: Parágrafo único do art. 202. ] [7: Salvo caso os direitos e obrigações sejam indivisíveis. ] 
Por força da Lei nº 13.467/17, foi inserido o §3º no art. 11 da CLT que dispõe: “A interrupção da prescrição somente ocorrerá pelo ajuizamento de reclamação trabalhista,
mesmo que em juízo incompetente, ainda que venha a ser extinta sem resolução do mérito, produzindo efeitos apenas em relação aos pedidos idênticos”. Ao utilizar o termo “somente” no dispositivo legal, o legislador parece querer afastar a incidência das demais causas de interrupção de prescrição elencadas no Código Civil, no entanto, é possível pela interpretação do §1º do art. 8º da CLT[footnoteRef:8], achar uma lacuna que permita aplicação subsidiária das regras do CC. [8: O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho. ] 
Prescrição trabalhista e a Constituição de 1988: A Emenda Constitucional nº 28/2000 modificou o art. 7º, XXIX da Constituição Federal, havendo uma unificação dos prazos prescricionais das ações propostas por trabalhadores urbanos e rurais[footnoteRef:9]. Seguindo a mesma lógica, a Lei nº 13.467/2017 alterou o caput do art. 11 da CLT: “A pretensão quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve em cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho”. [9: Antes da Emenda, o prazo para trabalhadores rurais era de apenas 2 anos. ] 
É possível afirmar que, em se tratando de pretensão deduzida em demanda decorrente de relação de emprego a prescrição extintiva divide-se (quanto à extensão dos efeitos) em: a) prescrição bienal total - 2 anos contados desde a extinção do contrato de trabalho; b) prescrição quinquenal total - 5 anos anteriores ao ajuizamento da ação trabalhista, quando o crédito decorre de ato único do empregador ou não tem previsão legal; c) prescrição quinquenal parcial - 5 anos anteriores ao ajuizamento da ação trabalhista, quando o crédito é de trato sucessivo e tenha previsão legal. 
Também foi inserido na CLT o art. 11-A, que reconhece a prescrição intercorrente no processo do trabalho no prazo de 2 anos, nas seguintes hipóteses: “§ 1º A fluência do prazo prescricional intercorrente inicia-se quando o exequente deixa de cumprir determinação judicial no curso da execução. § 2º A declaração da prescrição intercorrente pode ser requerida ou declarada de ofício em qualquer grau de jurisdição”. 
Da decadência: A decadência não extingue a pretensão de natureza condenatória, e sim o próprio direito material, mais especificamente,o direito potestativo, este é o que não se contrapõe a um dever, mas sim a uma sujeição. O direito potestativo não se confunde com direito subjetivo, visto que, apenas o primeiro implica em um dever de prestação, enquanto o segundo é sempre facultativo. 
A decadência, por força do art. 207 do CC (salvo disposição ao contrário), não se aplica as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição. O art. 209 do CC expressa o seguinte: “É nula a renúncia à decadência fixada em lei”. É possível determinar que essa decadência possui duas espécies: legal e convencional[footnoteRef:10]. A decadência legal é irrenunciável, o juiz pronunciará ex officio[footnoteRef:11]. A decadência convencional pode ser alegada pela parte em qualquer grau de jurisdição[footnoteRef:12]. O juiz não pode suprimir a alegação e nem a declarar de ofício. [10: Ou contratual, vide Martinez. ] [11: Por iniciativa própria, sem necessidade de provocação pela parte ou Ministério Público (art. 210, CC).] [12: Art. 211, CC. ] 
A decadência também pode se dividir (quanto ao tempo de vigência) em outras duas espécies: definitiva e temporal. Entende-se como decadência definitiva a perda de direito de o empregado estável solicitar a reintegração depois de exaurido o período correspondente à estabilidade, seguindo o entendimento da Súmula 396, I do Tribunal Superior do Trabalho. A decadência temporária produz a perda provisória de direito, situação essa que permite ao empregador reclamar perante a Justiça do Trabalho. 
REFERÊNCIAS:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>
MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 11. Edição. São Paulo, Saraiva Educação, 2020.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito do trabalho. 12. Edição. São Paulo, Saraiva Educação, 2020.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes