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Relações Raciais e Políticas Públicas

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Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social – GPDES
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Disciplina - Relações Raciais e Políticas Públicas no Brasil 
Turma: 2021-1
Professor: Renato Emerson dos Santos
Aluna: Sofia Piscitelli Trindade
DRE: 120048299
1) Em que políticas públicas trabalhadas na disciplina é possível identificar o projeto de branqueamento da população? Descreva-as.
Ao longo da disciplina, trabalhamos diversos textos que apontam as principais medidas e políticas que sustentaram o projeto de branquemento da população. Podemos citar, primeiramente, o que foi provavelmente a primeira expressão desse projeto: a colonização do Brasil. Como sabemos, o processo incial de colonização do Brasil foi puramente extrativista e exploratório. Sendo assim, a questão do povoamento e da identidade brasileira apenas se tornou relevante no incío do século XIX, com a chegada da família real portuguesa. Como é detalhado no texto de Giralda Seyferth, todo o povoamento do território brasileiro a partir daí girou ao redor dos ideais da branquitude da época, evidenciando a influência do conceito de raça em todas as etapas desse processo. Sendo assim, o que vemos ao longo do texto é a descrição da luta dos colonizadores pela “nação pretendida”, nas palavras da autora: pessoas brancas, mas que ao mesmo tempo carregassem consigo os ideais culturais da américa latina e do Brasil. Essa luta foi baseada da migração de trabalhadores estrangeiros, muitas vezes vindos de povos escolhidos a dedo de acordo com os atrativos que sua genética poderia trazer para nosso país. 
Para além desse processo de colonização, podemos ver no texto de Clóvis Moura outra etapa da história do Brasil, também marcada por esse projeto de branqueamento: o fim do século XIX e os primeiros anos pós abolição da escravatura e início da República. Em seu texto, Clóvis expõe as diversas discriminações e preconceitos dirigidos ao trabalhador negro, que mesmo após o fim da escravidão, continuou preso aos esteriótipos de “negro preguiçoso”, sendo vítima de diversos mecanismos e políticas de exclusão do mercado de trabalha e obrigado a ocupar as posições menos valorizadas. O autor estende sua análise e trata também do tema explorado por Seyferth: o movimento imigrantista. Na realidade sobre a qual Moura discorre, o que se vê é um enorme contingente de trabalhadores negros livres sendo continuamente substituídos por imigrantes brancos, considerados mais aptos aos trabalhos de maior importância na época. Nesse cenário se deu a criação de uma enorme empresa imigratória, que lucrava bastante com esse projeto de branqueamento da população brasileira. 
Para finalizar, devemos citar um estudo ainda mais aprofundado sobre essas políticas e projetos de branqueamento, feito pelo autor Jerry D’Avila, retratando os impedimentos impostos ao longo do século XX aos homens negros em busca de uma carreira no magistério e o branqueamento das escolas brasileiras. Apesar de inicialmente ter sido bastante presente nesses ambientes escolares, o que se percebeu foi uma diminuição ao longo dos anos da presença negra nos colégios do Brasil. Essa mudança se deu mais ou menos nas décadas de 20 e 30, época onde os reformadores associavam a presença negra nas escolas com uma falta de profissionalismo e capacidade técnica, preferindo um corpo de professores brancos (idealmente, mulheres brancas) como ideal para ensinar a ideologia racista dominante da época. Sendo assim, entre as principais medidas e políticas tomadas no sentido de branquear o corpo brasileiro de professores, podemos citar a criação do chamado Instituto de Educação, na cidade do Rio de Janeiro. Toda a modelação desse instituto foi feita baseada em padrões estadunidenses, com o objetivo de elevar o nível da educação brasileira; em outros termos, de branqueá-la. 
Por fim, podemos concluir que os três autores mostram, cada um com seu foco e sua época, diversas políticas postas em prática em nome do projeto de branqueamento da população brasileira. Fica claro que os ideais racistas da branquitude acompanharam o Brasil em toda a sua história, trazendo consequências que reverberam até a atualidade. 
2) Do projeto do branqueamento da população à democracia racial podemos identificar racismos diferencialistas e universalistas. Explique tais tipos de racismos e como eles caracterizam os dois projetos.
Em sua análise acerca das relações raciais, o filósofo Pierre-André Taguieff evidencia o equívoco de caracterizar o racismo como algo único e singular e, dessa forma, ele nos expõe a dois sentidos diferentes do racismo. Primeiramente, o sentido baseado na rejeição da identidade outro grupo, não reconhecendo suas características e individualidades e desvalidando-o. Esse é o chamado racismo universalista, descrito pelo autor Jacques D’Adesky como “denegação da identidade”, e característico do mito da democracia racial, ideal altamente difundido pelos brancos da elite brasileira que sustentava uma posição de que todas as inequidades entre negros e brancos foram resolvidas com a abolição da escvradião. Nesse espírito, o ideal de uma “democracia racial” era sustentado pela falsa percepção de que não havia racismo no Brasil, uma vez que os brancos e negros vivam em harmonia e sob as mesmas condições. Isso é o que o autor Florestan Fernandes chama de “consciência falsa da realidade racial”, uma vez que essas opiniões eram sustentadas por uma profunda ignorância e falta de interesse acerca das verdadeiras condições do negro na sociedade pós-abolição. 
Além disso, temos também o sentido baseado no desprezo e inferiorização de outro grupo, excluindo-o da dinâmica social e entendendo-o como algo que faz mal ao conjunto da comunidade, devendo ser eliminado, caracterizado ainda por D’Adesky como “denegação da humanidade”. Esse racismo por sua vez, é o que estava por trás das políticas de branqueamento, que por muitos anos caracterizaram as relações sociais no Brasil. A elite branca via os negros como um grupo que poluia a sociedade da época, e a partir daí se envolveram em diversos esforços com objetivos de cada vez mais eliminá-los do quadro social brasileiro, como pode ser evidenciado no livro Diploma de Brancura, de Jerry Dávila, onde ele expõe as controvérsias raciais que existiram no Brasil a partir do início do século XX. Nesse livro por exemplo, o autor fala sobre como as políticas de branqueamento foram responsáveis pelo apagamento do quadro de profissionais negros das escolas do Brasil.
	É importante lembrar, ainda, que, cada tipo de racismo é também dividido em outras duas características, sendo elas a espiritualista e a bioevolucionista, formando assim os 4 grandes tipos de racismo do modelo quadripartito de Pierre-André Taguieff. Esse segundo par de características diz respeito à origem do racismo: o desprezo pelo negro devido à ideais eugenistas e leis genéticas está dentro da característica espiritualista, e o desprezo pelo negro devido a considerações equivocadas em relação a sua inaptude mental e falta de evolução civilizatória do mesmo se dá dentro da característica bioevolucionista ou biomaterialista. Sendo assim, esses 4 grandes tipos de racismo são: racismo universalista espiritualista, racismo diferencialista espiritualista, racismo universalista bioevolucionista e racismo diferencialista bioevolucionista. 
3) Explique “integracionismo” e “nacionalismo” como tendências do Movimento Negro na mudança de projeto nacional do branqueamento para a democracia racial, relacionando aos tipos de anti-racismo do modelo quadripartito de Pierre-André Taguieff.
O mito da democracia racial, adotado de forma ampla pelas elites brancas brasileiros após a abolição da escravidão, era um ideal que pregava a existência de uma democracia que abraçava igualmente todas as raças. Esse mito foi dominante por muitos anos, desprezando a verdadeira realidade de opressão e discriminação do povo negro e funcionando como uma barreia para sua liberdade e autonomia. Dessa forma, surgiram diversos movimentos e organizações do MovimentoNegro ao longo do século XX para lutar contra essa realidade.
No Brasil, esse movimento tinha duas vertentes. A vertente integracionalista e a nacionalista. A primeira delas pregava principalmente, como o nome já diz, a integração do povo negro à sociedade brasileira da época, lutando principalmente por ideais de igualdade e defesa de seus dos negros. A luta tinha como foco os preconceitos e discrimações aos negros, pregando pela harmonia entre as raças, sem desafiar os ideais racistas que sustentavam a sociedade da época. Já a segunda vertente tinha como principal objetivo de luta a recuperação cultural das raízes negro-africanas dos negros brasileiros. Essa vertente identificava o racismo naquela sociedade como advindo dos sentimentos de inferiorização dos brancos para com o povo negro, centrando nesse ponto suas principais reivindicações, exigindo respeito, valorização e exaltação da herança cultural trazida pelos negros. 
E, como nos mostra o modelo quadripatite de Pierre-Anré Taguieff, para cada tipo de racismo existe um anti-racismo correspondente. Apesar de o racismo estruturalmente imposto à sociedade ser o universal, o Movimento Negro lutava com dois tipos de antiracismo diferente. Sendo assim, o antirracismo praticado pela vertente integracionalista, representada aqui principalmente pela Frente Negra Brasileira, era o antirracismo universal, respeitando as estruturas da sociedade da época e reinvindicando apenas a integração e inclusão do negro e o fim das discriminações. Já a vertente nacionalista, representada pelo Teatro Experimental do Negro, era guiada pelo antirracismo diferencialista, sendo mais revolucionária e demandando a preservação das especificidades e individualidade da cultura negra, respeitando-a, mas reconhecendo e valorizando as diferenças entre o povo negro e o branco.

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