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Aula PEC III Resumo

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Resumo e Exercícios da Primeira Parte do Curso de PEC III
Prof. Emmanoel Boff
24.04.2012
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Onde começamos em PEC III?
Em PEC I vimos que, na segunda metade do século XVIII, na França e na Escócia, algo de novo surgiu no pensamento sobre a economia. 
Pode-se dizer que, pela 1ª vez, foi possível para o pensamento ocidental pensar a economia como um domínio de saber separado da ética e da política. 
Mais precisamente: através dos escritos dos fisiocratas e de Adam Smith, ganhou curso na intelectualidade europeia a ideia de que havia um domínio do saber que lidava especificamente com a produção, circulação e distribuição da riqueza. 
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Esquematicamente: pré-século XVIII na Europa Ocidental: 
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Economia 
Ética e Política 
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Pós-Século XVIII na Europa Ocidental: “eticonolítica”
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Economia
Ética
Política
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O problema: como delimitar a área de cada saber se eles se misturam? 
A partir da ideia de Ricardo, J. S. Mill e William Nassau Senior, tentaram separar um domínio especificamente científico para a Economia Política.
Na visão de Nassau Senior (1836), existiria algo como uma ciência da economia política pura, 100% dedutiva, e que não poderia dar conselhos éticos ou políticos, pois se ocupava unicamente do estudo da riqueza.
E existira uma “ciência da legislação”, que levaria em conta problemas éticos e políticos, podendo, desta forma, aconselhar o soberano ou o Governo sobre que atitude prática tomar. 
Ou seja, haveria um ramo teórico e outro prático para a economia política. 
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A visão de J. S. Mill (1836, 1843)
J. S. Mill criou o conceito de “homem econômico” (embora ele mesmo não usasse esta expressão).
Para ele, a economia científica deveria ser baseada na parte do comportamento humano que visa buscar riqueza com o menor esforço possível. 
Entende-se riqueza como o conjunto de bens materiais que dão prazer e afastam o risco e a dor.
A partir deste comportamento poderíamos deduzir leis gerais 100% sérias e rigorosas, mas que nem sempre acertavam o alvo.
Ou seja, a economia política seria ciência inexata e separada das outras ciências sociais. 
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A Etologia Política
Mas, como os seres humanos visam muito mais do que a simples busca da riqueza na sua vida concreta, a ciência da economia política deveria ser complementada com outra ciência: a ciência da etologia.
A etologia estudaria, com base na psicologia associacionista, as causas das diferenças de caráter entre indivíduos e nações diferentes. 
Enquanto a economia política seria dedutiva, a etologia seria indutiva. 
Alguém lembra do exemplo que demos? 
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Mas havia outra tradição de pensamento...
Em PEC II foi estudado o livro I do Capital, de Marx. 
O subtítulo da obra é “Crítica à Economia Política”.
Quando Marx fala em Economia Política, tem em mente este saber que foi desenvolvido por Smith, Ricardo, Malthus, Senior, J. S. Mill etc. 
Pode-se dizer que, para Marx, este saber falha em chegar à essência do modo de produção capitalista. Este saber fica no nível da aparência, apenas. 
É por isso que ele faz sua “Crítica à Economia Política”. 
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Mas havia outra tradição de pensamento...
Marx é cuidadoso ao dizer que estuda um modo de produção específico: o capitalismo, que surgiu em sua completude na Inglaterra no século XVIII. 
Podemos interpretar Marx como dizendo que, ao focar nas relações de mercado e na determinação de preços relativos, a Economia Política não atenta à essência do capitalismo. Ela fica apenas na aparência.
Na essência deste modo de produção estariam relações de produção e de exploração historicamente determinadas.
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Mas havia outra tradição de pensamento...
Ou seja, na essência do sistema capitalista estavam envolvidas relações sociais de poder historicamente determinadas, que adotavam implicitamente uma ideia do que era “bom”. 
Em outras palavras, pode-se dizer que para Marx, a essência do sistema de produção capitalista envolvia fatores sociais, políticos e éticos determinados na história. 
Mas esta visão ia de encontro à visão de J. S. Mill e Nassau Senior, que queria separar a ciência da economia política cuidadosamente de questões propriamente políticas e éticas. 
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Em linguagem popular: está “armado um barraco” intelectual
Não se pode dizer que Marx seja membro da EHA, mas ele certamente possuía algumas características em comuns com os membros desta Escola de pensamento.
Nos anos 1880, Menger, da EA, e Schmoller, da EHA, trocaram farpas no episódio que ficou conhecido como a “Batalha dos Métodos”. 
Pode-se dizer que esta “Batalha” é fruto das visões diferentes sobre qual era o papel da economia política desde sua incepção: era ela uma ciência dedutiva, descolada da prática, ou uma ciência indutiva, eminentemente prática? 
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A “Batalha dos Métodos”
Da perspectiva de hoje, vemos que a “Batalha” foi exagerada, pois Menger e Schmoller, se estivessem de cabeça fria, poderiam concordar com os pontos um do outro. 
Ou seja, tanto um lado como o outro acreditavam que dedução e indução eram importantes, e que teoria é importante para que possamos analisar os dados da experiência. 
Mesmo assim, podemos notar que havia diferenças importantes entre Schmoller e Menger: 
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A visão de Menger na “Batalha”
Devemos usar um princípio geral aistórico para entender o comportamento humano: a utilidade marginal (grenznutzen). Ele dá cientificidade à economia. 
Em primeiro lugar vem a dedução a partir de leis gerais do comportamento humano.
Em segundo lugar usamos a indução para verificar em que medida as leis gerais são aplicáveis. 
A economia deve ser uma ciência abstrata separada da ética e política (como J. S. Mill via). 
Logo, para a ciência econômica de Menger o problema da EHCS não existiria, embora, na prática econômica ele possa ser importante. 
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A visão de Schmoller na “Batalha”
Não dá pra usar um princípio geral aistórico de comportamento humano, já que este comportamento muda na história. Se há cientificidade na economia, ela deve ser buscada justamente na história. 
Em 1º lugar vem o estudo dos fatos concretos.
Somente a partir deles é que se pode começar a fazer teorias econômicas dedutivas.
É inviável separar a economia de fatores sociais, históricos, antropológicos, da ética e da política.
Exatamente porque a economia é vista como ciência histórica concreta, o problema da EHCS deve sempre ser levado em conta. 
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Tentando resolver essa “Batalha”...
A partir daí nós mesmos podemos ficar confusos: Quem teria razão? As duas escolas? Nenhuma delas? Um pouco cada uma? 
É por isso que demos uma pausa no curso para viajar um pouco pela filosofia da ciência do século XX. 
A importância dessa viagem está em investigar o que os filósofos fizeram para tentar achar uma metodologia de pesquisa que nos levasse a um conhecimento 100% sério e rigoroso. 
Se acharmos esta metodologia, talvez possamos resolver nossa “Batalha”...
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Os positivistas lógicos do “Círculo de Viena” (1920)
No século XX, eles foram os 1os a terem a coragem de buscar uma metodologia que levasse a conhecimento 100% sério e rigoroso – i.e., geral e universal. 
Sua principal preocupação era demarcar o que era ciência de não-ciência. 
Para eles, ciência consistiria de 1. sentenças analíticas a priori (como as da matemática e da lógica) e sentenças sintéticas a posteriori (que transmitem os dados atômicos dos sentidos através de frases-protocolo). 
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Os positivistas lógicos do “Círculo de Viena” (1920)
O que não caísse nisso, não seria considerado conhecimento: metafísica, ética, estética, religião...embora importantes, estes discursos não poderiam ser considerados conhecimento sério e rigoroso. 
No limite, o ser humano poderia unificar todo o conhecimento tendo por base a física, mapeando toda a realidade através de correspondência entre as teorias e o mundo (que eram vistos separadamente).
Ou seja, verificando experimentalmente quando as teorias correspondiam à realidade,
chegaríamos a um conhecimento 100% sério e rigoroso. Veja: 
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Os positivistas lógicos do “Círculo de Viena” (1920)
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Teorias
Mundo
Correspondência
Frases-protocolo (sentenças
Sintéticas)
Termos teóricos (sentenças
Analíticas)
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Problemas com o Positivismo Lógico
Mas logo vimos uma série de problemas com o positivismo lógico: 
Embora quisessem eliminar a metafísica (i.e., o estudo da essência das coisas, como a “cadeiridade” das cadeiras), eles mesmos eram metafísicos, pois queriam fornecer uma “cientificidade” para a ciência. 
Nem sempre se pode garantir que uma dedução teórica forneça uma explicação causal para um fenômeno (o caso do professor grávido).
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Problemas com o Positivismo Lógico
Apesar de verificarmos experimentalmente uma teoria, nada nos garante que ela valerá na próxima vez (problema da indução de Hume);
Na verdade, os próprios fatos descritos pelas frases-protocolo já vem carregados de teoria – lembre-se sempre do caso do “desemprego involuntário” que, grosso modo, só pode ser visto por keynesianos. 
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Daí entram em cena os “empiristas lógicos” (anos 1940-1960)
Eles já aceitavam que metafísica era inevitável, que fatos eram carregados de teoria e que verificação não garantia 100% de conhecimento sério e rigoroso. 
Hempel e Oppenheimer (1948) formalizaram o método nomotético-dedutivo (N-D). 
Alguns apostaram na ideia de confirmacionismo (havia uma probabilidade de a teoria estar certa após confirmação empírica), ou instrumentalismo (que veremos com o Friedman, na economia). 
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Fatos carregados de teoria + confirmacionismo
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Teorias
Mundo
Há apenas probabilidade de
A teoria ser verdadeira 
Mundo e teoria
Se misturam
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Modelo N-D: tentativa de criar um algoritmo gerador de conhecimento
Este modelo supõe que funciona a tese da simetria entre previsão e explicação: 
Leis Gerais +
Condições iniciais (ou hipóteses auxiliares 
Explanandum
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Mas a tese da simetria nem sempre funciona...
Os exemplos de Darwin e de Newton mostram isso.
Logo, tanto o positivismo lógico quanto seus descendentes, os empiristas lógicos, não conseguiram, apesar de sua bravura, achar uma metodologia que levasse a conhecimento 100% sério e rigoroso. 
Daí, esta “visão adquirida” de ciência foi criticada por filósofos como Popper. 
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O falsificacionismo de Popper
Popper, por sua vez, apostava que a divisão entre ciência e não-ciência se dava pela capacidade de uma teoria ser falsificada. 
Daí Popper implicar com Marx e Freud...
Definir ciência pela ausência de metafísica é inútil, porque metafísica é inevitável...
Uma boa teoria, para Popper, é ousada e capaz de resistir aos mais duros testes empíricos. 
Neste caso, Popper não diz que uma teoria é verdadeira, mas bem corroborada. 
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O falsificacionismo de Popper
A verdade, para Popper, existe, mas não chegamos a ela com 100% de certeza...ela funciona mais como um guia para nossas pesquisas. 
Podemos chegar no máximo à veros-similhança das teorias – elas parecem com algo verdadeiro (podem até ser verdadeiras, na verdade), mas se são verdadeiras não saberemos nunca com 100% de certeza. 
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O falsificacionismo de Popper
Pelo falsificacionismo, Popper achou que tivesse achado uma resposta para o “problema da indução” de Hume.
Diz ele que, embora não tenhamos uma lógica da verificação, podemos ter uma lógica da refutação. 
Ou seja, se não podemos ter certeza que uma teoria é 100% correta, pelo menos podemos ter certeza de que ela é 100% falsa. 
Mas a tese de Duhem-Quine atrapalha o sonho de Popper de achar essa lógica da refutação. 
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Os TCCs: Kuhn, Lakatos e Feyerabend
Depois da “visão adquirida” e de Popper, os filósofos da ciência que prescreviam metodologias aistóricas e agressivas não conseguiram achar o tal conhecimento 100% sério e rigoroso. 
Daí, os TCCs foram atrás da história para tentar achar na prática como os cientistas tentaram chegar ao conhecimento sério e rigoroso? 
Será que eles conseguem? 
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Os TCCs: Kuhn, Lakatos e Feyerabend
Já que não conseguimos achar uma lógica da justificação, quem sabe conseguimos achar na história uma lógica da descoberta...
Esta é a proposta de Kuhn: olhar não apenas o contexto da justificação (ou seja, a coerência e lógica internas das teorias), mas também o ambiente social em que elas surgem: os procedimentos, práticas, crenças, visão de mundo de diferentes grupos de pesquisadores na história. 
Deste modo, Kuhn propõe a ideia de que as teorias científicas evoluem de modo revolucionário na história. 
Mas como isso ocorre? 
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Os TCCs: Kuhn, Lakatos e Feyerabend
Para Kuhn, existe a chamada “ciência normal” e “ciência revolucionária”.
Durante o período de “ciência normal”, a atividade de resolver problemas da ciência segue mais ou menos aquilo que a “visão adquirida” de ciência fala: formação de hipótese, experimentos e retenção de hipóteses que resistem a testes. 
No entanto, quando surge uma anomalia (ou um conjunto de anomalias) que não consegue ser explicado pelo paradigma dominante, a ciência normal entra em crise. 
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Os TCCs: Kuhn, Lakatos e Feyerabend
A partir daí, surgem diferentes grupos que possuem visões de mundo distintas: uma “jovem guarda” e uma “velha guarda” que se aferram mais às suas visões de mundo que a alguma metodologia verificacionista ou falsificacionista. 
Depois de um tempo, um dos grupos vence a briga.
Se o grupo jovem vence a briga, surge um novo paradigma, com uma nova visão de mundo, novos procedimentos, técnicas, vocabulário etc. 
Não necessariamente o novo e o velho paradigma são comensuráveis, e isto pode levar ao relativismo das teorias: a ideia de que a verdade depende, de algum modo, do contexto social onde é produzida. 
Ou seja, o sonho de termos uma verdade geral e universal se enfraquece. 
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Os TCCs: Kuhn, Lakatos e Feyerabend
Lakatos critica Kuhn por colocar a evolução da ciência em fatores psicossociais: parece que a evolução das teorias é mais irracional que racional...
Apesar disso, Lakatos aceita a ideia de Kuhn de que teorias mudam na história.
Contudo, elas mudariam de um modo racional, seguindo a ideia de Popper de que teorias que não resistem a falsificações acabam sendo jogadas fora. 
Deste modo, poderemos fazer reconstruções racionais de como uma teoria (ou conjunto delas) domina as demais. 
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Os TCCs: Kuhn, Lakatos e Feyerabend
Lakatos não se fixa em uma teoria, mas num conjunto delas. 
Este conjunto é mantido unido por um “núcleo duro” (um “hard core”), de crenças e valores dos cientistas. Este núcleo duro é inevitavelmente metafísico.
O conjunto de “núcleo duro” mais as teorias e hipóteses testáveis que o cercam é chamado de PPC (programa de pesquisa científico), por Lakatos. 
Se as teorias de um PPC, com o tempo, conseguirem prever fatos novos (seja teoricamente, seja experimentalmente), o PPC é dito progressivo. 
Por outro lado, se elas não conseguirem prever fatos novos, ele é dito degenerativo. 
O que é testado é sempre um conjunto de teorias de um PPC, nunca uma teoria isolada. 
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Os TCCs: Kuhn, Lakatos e Feyerabend
Feyerabend é considerado “anarquista metodológico”: sua ideia é de que pode haver incomensurabilidade radical do conhecimento entre diferentes épocas e lugares. 
Por isso, ele valoriza não apenas o conhecimento científico ocidental tradicional, mas também outras formas de conhecimento, como budismo, xamanismo, astrologia etc. 
Mas atenção: o ponto de Feyerabend, quando ele diz que “vale tudo” em metodologia científica, não é dizer que não existe nenhum método de pesquisa. 
O que existe são vários métodos diferentes e noções de conhecimento diferentes. 
Assim, se você for estudar com Don Juan, um brujo mexicano dos livros de Castañeda, você seguirá um método de conhecimento radicalmente diferente do nosso...
Mesmo assim é um método de gerar conhecimento válido, para Feyerabend. 
Este método tem suas próprias regras, procedimentos etc. 
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A metodologia em economia: Friedman, Lawson, Arida
Embora esse papo de filosofia da ciência
pareça, às vezes, “viajante”, a influência da filosofia da ciência na metodologia da ciência é clara: veja os debates Keynes vs. Tinbergen sobre a aplicabilidade da econometria, a crítica de Haavelmo à negligência dos fatores potenciais nos modelos, e o debate Koopmans vs. NBER (Burns e Mitchell) sobre a medição de dados sem teoria. 
De fato, os problemas na metodologia da economia vêm muito do fato de sermos bastante influenciados pelo ideário lógico positivista de ciência...
Quando o positivismo lógico começou a ruir, alguns autores, como vimos, apelaram para o instrumentalismo.
Friedman pode ser interpretado assim (embora não seja a única interpretação possível). 
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A metodologia em economia: Friedman, Lawson, Arida
Friedman se diz positivista e quer separar o que é positivo (o que é de fato) do que é normativo (o que deve ser) na ciência econômica. 
Para ele, a ciência econômica deve ser exclusivamente positiva. 
O papel da teoria é captar regularidades empíricas pra fazer boas previsões. 
As teorias consistem de uma linguagem e de hipóteses substantivas.
Estas hipóteses devem ser simples (ser baseadas em poucos dados observáveis) e fecundas (serem capaz de prever muitos dados). 
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A metodologia em economia: Friedman, Lawson, Arida
Logo, as hipóteses, para Friedman, devem ser irrealistas – funcionam “como se” fossem de verdade. 
Isto, contudo, não quer dizer que uma teoria não possa explicar...
Para que elas possam explicar, devemos determinar seu domínio de aplicabilidade e os fatores que estamos negligenciando.
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A metodologia em economia: Friedman, Lawson, Arida
Lawson, por sua vez, apela mais para o lado explicativo das teorias. 
Para ele, devemos nos preocupar com a ontologia da economia. Alguém lembra o que é isso concretamente? 
Insiparado em Roy Bhaskar, ele afirma que a realidade possui 3 domínios ontológicos: o real, o efetivo e o empírico.
O mal dos positivistas (e de Friedman) é ficar apenas no empírico, sem tentar explicar as leis e mecanismos reais que causam os fenômenos empíricos. 
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A metodologia em economia: Friedman, Lawson, Arida
Para ele, a sociedade (e com ela a economia) surgem como propriedade emergente de outros estratos da realidade. 
O sistema econômico é aberto, o que dificulta (e muito!) as previsões. 
Assim, deveríamos focar nas explicações e nas prevenções de possíveis acidentes econômicos (como fazem os geólogos com tsunamis, p. ex.). 
O modelo ideal para estudar o agente econômico é o modelo transformacional da ação social (MTAS), que leva em conta tanto a ação do agente como a estrutura institucional em que ele se insere, em forma de processo causal. 
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A metodologia em economia: Friedman, Lawson, Arida
Por fim, Arida também critica, assim como Lawson, a influência positivista na economia.
Contudo, a ênfase dele é em como a retórica pode resolver as controvérsias teóricas na economia. 
Ele observa que existem 2 modelos de aprender economia: como ciência hard, tipo física (nos EUA) e como ciência soft, mais pra história (na Europa). 
Mas os 2 modelos têm problemas: 
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A metodologia em economia: Friedman, Lawson, Arida
O modelo hard esquece que não é por falsificação ou verificação que as controvérsias são resolvidas: devido à tese de Duhem-Quine e aos fatos serem carregados de teoria, muitas vezes as brigas acabam por cansaço e desinteresse.
Já o modelo soft se esquece que as teorias são contextuais e dependem de fatores extra-científicos para se desenvolver (é a lição de Kuhn e Feyerabend). 
Para sair dessa bagunça, podemos apelar para a retórica, a arte de convencer e persuadir. 
Neste caso, a e-vidência passa a ser a conformidade do discurso às regras da boa retórica – disposição em aceitar a evidência empírica inequívoca. 
E a nossa boa verdade como referência, onde fica? 
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A metodologia em economia: Friedman, Lawson, Arida
Então Arida nos dá suas 8 regras de retórica para resolver conflitos em economia: 
1. coerência;
2. simplicidade (tipo Friedman);
3. abrangência (tipo fecundidade de Friedman);
4. generalidade (incluir o rival como caso particular da sua teoria);
5. pouco uso de metáforas;
6. Formalização matemática;
7. Reinvenção da tradição (se colocar numa linha evolutiva da ciência);
8. Ignorar interesses práticos. 
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Exercícios – questões tipo 1:
1. Lakatos afirma que as teorias que compõem um mesmo PPC possuem um núcleo duro e um paradigma PORQUE segundo Kuhn, alguns paradigmas são incomensuráveis.
2. Feyerabend é um “anarquista” metodológico que supõe que “vale tudo” na produção de teorias científicas PORQUE, para ele, os cientistas historicamente violaram todos os princípios de metodologia científica. 
3. A teoria da evolução de Darwin comprova que a tese da simetria está correta PORQUE Arida afirmava que cada modelo gera sua própria evidência. 
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Resposta da questão tipo 1: 
1. F; V. Lakatos afirmava que as teorias científicas de um mesmo PPC possuíam um mesmo núcleo duro cercado por um cinturão protetor (e não paradigma) formado por hipóteses auxiliares que devem ser testadas (Blaug, p. 75; Cavalcante, p. 9). Para Kuhn, a mudança de paradigmas pode produzir incomensurabilidade (ver Blaug, p. 70; Cavalcante, p. 8). Não há relação de causalidade, já que incomensurabilidade de paradigmas não causa a existência núcleos duros e cinturões protetores 
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Exemplo de questão tipo 3? 
QUESTÃO 4: (4 pontos)______________________
No último dia 16 de abril, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou os juros em 0.5%, elevando a taxa Selic a 11.75% ao ano, a maior taxa de juros do mundo. Logo após a decisão, uma série de economistas se posicionou a favor e outra se posicionou contra tal aumento. Isto sugere que o conhecimento em economia não é totalmente factual, mas que depende em parte do poder de convencimento dos argumentos usados pelos economistas. 
Com base nas idéias de Arida, discuta: 
a importância da retórica para a economia (a economia é ciência hard? Soft?); 
a importância da evidência empírica para resolver controvérsias em economia (como a provocada pela atitude do Copom), tanto na visão de Popper quanto na de Arida; e 
o papel da noção de Verdade para Arida e para Popper. 
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Resposta da questão tipo 1:
2.V; V. Feyerabend mostrou que a produção de ciência, quando analisada historicamente, viola todas as metodologias (veja o caso de Galileu, discutido em sala). Exatamente porque verificou na história que grandes cientistas violaram todos os métodos, Feyerabend propõe o “vale tudo” para fazer ciência. Assim, pode-se dizer que a consequência de verificar a violação das regras metodológicas na história é adotar uma metodologia anarquista onde “vale tudo” (Blaug, p. 82). 
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Resposta da questão tipo 1:
3. F; V. A teoria de Darwin mostra que a tese da simetria está incorreta, ou seja, que explicação (modelo N-D) e previsão (modelo H-D) não são “dois lados da mesma moeda” (Blaug, p. 45). Arida realamente afirmava que os PPCs em economia produzem sua própria evidência (Arida, p. 26), mas isso não causa a correção da tese da simetria

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